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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O Papa: o matrimônio é um bem de valor extraordinário para todos

O Papa Francisco na audiência de inauguração do Ano Judiciário
do Tribunal da Rota Romana  (Vatican Media)

Francisco partilhou algumas reflexões sobre o matrimônio, "pois na Igreja e no mundo existe uma grande necessidade de redescobrir o significado e o valor da união conjugal entre homem e mulher, sobre a qual se funda a família. Um aspecto certamente não secundário da crise que afeta muitas famílias é o desconhecimento prático, pessoal e coletivo sobre o matrimônio".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (27/01), na Sala Clementina, no Vaticano, o Colégio dos Prelados Auditores para a inauguração do Ano Judiciário do Tribunal da Rota Romana.

O Pontífice partilhou com as cerca de 250 pessoas presentes, algumas reflexões sobre o matrimônio, "pois na Igreja e no mundo existe uma grande necessidade de redescobrir o significado e o valor da união conjugal entre homem e mulher, sobre a qual se funda a família. Um aspecto certamente não secundário da crise que afeta muitas famílias é o desconhecimento prático, pessoal e coletivo sobre o matrimônio".

"O matrimônio, segundo a Revelação cristã, não é uma cerimônia nem um evento social, nem uma formalidade e nem mesmo um ideal abstrato: é uma realidade com a sua consistência precisa, não «uma mera forma de gratificação afetiva que se pode constituir de qualquer maneira e modificar-se de acordo com a sensibilidade de cada um»", disse o Papa.

A seguir, Francisco convidou a todos a se perguntarem: "Como é possível que entre um homem e uma mulher se realize uma união tão cativante, uma união fiel e para sempre e da qual nasce uma nova família? Como isso é possível, diante das limitações e fragilidades dos seres humanos?" "Devemos nos fazer estas perguntas e nos deixar surpreender pela realidade do matrimônio", reiterou.

Os esposos dão vida à sua união, com livre consentimento, mas somente o Espírito Santo tem o poder de fazer de um homem e de uma mulher uma única existência. O matrimônio é sempre um dom! A fidelidade conjugal repousa na fidelidade divina, a fecundidade conjugal se funda na fecundidade divina. O homem e a mulher são chamados a acolher este dom e a corresponder livremente a ale com o dom recíproco de si.

A seguir, o Pontífice falou a propósito da indissolubilidade que "é muitas vezes entendida como um ideal, e tende a prevalecer a mentalidade segundo a qual o matrimônio dura enquanto houver amor". Segundo Francisco, "muitas vezes se desconhece o verdadeiro amor conjugal, reduzido a um nível sentimental ou a meras satisfações egoístas. Ao contrário, o amor conjugal é inseparável do próprio matrimônio, no qual o amor humano, frágil e limitado, encontra o amor divino, sempre fiel e misericordioso". "Mas pode haver um amor “devido”?", perguntou o Papa. Segundo ele, "a resposta se encontra no mandamento do amor, dado por Cristo: «Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Assim como eu vos amei, também vós vos ameis uns aos outros.»"

De acordo com o Papa, "podemos aplicar este mandamento ao amor conjugal, que é também um dom de Deus. Este mandamento pode ser cumprido porque é Ele mesmo que sustenta os esposos com a sua graça: "Assim como eu vos amei, amai-vos uns aos outros". É um dom confiado à sua liberdade com os seus limites e as suas falhas, pelo qual o amor entre marido e mulher precisa continuamente de purificação e amadurecimento, de compreensão recíproca e de perdão".

A seguir, o Papa falou sobre o matrimônio como um bem.

Um bem de valor extraordinário para todos: para os esposos e seus filhos, para todas as famílias com as quais se relacionam, para toda a Igreja, para toda a humanidade. Um bem difundido, que atrai os jovens a responderem com alegria à vocação matrimonial, que conforta e anima continuamente os esposos, que produz muitos e variados frutos na comunhão eclesial e na sociedade civil.

Segundo Francisco, "na economia cristã da salvação, o matrimônio é sobretudo o caminho principal para a santidade dos cônjuges, uma santidade vivida na vida quotidiana: este é um aspecto essencial do Evangelho da família". O Papa recordou que hoje a Igreja propõe "alguns casais como exemplos de santidade" e que muitos cônjuges "se santificam e edificam a Igreja" com aquela santidade que ele chamou de "santidade da porta ao lado".

Por fim, entre os muitos desafios que afetam a pastoral familiar em sua resposta aos problemas, feridas e sofrimentos de cada um, estão os casais em crise. A Igreja "os acompanha com amor e esperança, procurando apoiá-los", frisou ele. "A resposta pastoral da Igreja pretende transmitir com vitalidade o Evangelho da família. Neste sentido, um recurso fundamental para enfrentar e superar as crises é renovar a consciência do dom recebido no sacramento do matrimônio, um dom irrevogável, uma fonte de graça com a qual podemos sempre contar", concluiu.

Santa Ângela de Mérici

Santa Ângela de Mérici | Aleteia
27 de janeiro
Santa Ângela de Mérici

Ângela nasceu no dia 21 de março de 1474, em Desenzano del Garda, no norte da Itália, no seio de uma família de classe média.

A vida provou-a duramente. Aos 10 anos ficou órfã de pai e, pouco depois, de mãe. Ela e sua irmã mais velha foram entregues, então, a um tio que vivia na cidade vizinha de Salò, também na Lombardia, que as criou num ambiente abastado. Nessa cidade, mesmo ainda muito jovem, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco.

A irmã mais velha não resistiu muito tempo e, infelizmente, acabou morrendo. Após a morte da irmã e do tio, Ângela, já em plena juventude, voltou para Desenzano, com o desejo de fazer algo  para educar meninas e jovens, sobretudo as expostas a perigos morais. Foi neste período que Ângela teve uma visão ou um sonho muito marcante. Viu uma multidão de donzelas, rodeadas de luz celeste e ao mesmo tempo ouviu uma voz dizendo: “Ângela, não deixarás a terra enquanto não tiveres fundado uma união de mulheres igual àquela que acabas de admirar”. Ângela viu nisto um sinal do alto.

Em 1516, a convite, Ângela mudou-se para Bréscia, para uma missão de consolo na casa de Caterina Patengola, que tinha perdido seu marido e dois filhos. Nesta cidade encontrou com Giovan Antonio Romano e logo formou um grupo de pessoas interessadas no seu ideal. Com elas visitava prisões, hospitais e cuidava dos pobres e abandonados. Impressionada com a decadência dos costumes familiares, consequência do espírito pagão, oriundo da Renascença, começou a concentrar suas atenções na educação de meninas e moças, de quem dependeria, em larga escala, a saúde moral das famílias.

Em 1524 Ângela fez uma peregrinação à Terra Santa. Durante a viagem Ângela adoeceu e perdeu a visão, de modo que não viu nada, a não ser com os olhos da fé. Na viagem de volta o navio aportou na Ilha de Cândia. Perto do porto havia um santuário que conservava um crucifixo milagroso. Ela dirigiu-se para lá, pedindo a Jesus que lhe restituísse a vista. Sua oração foi ouvida e ela se levantou curada. Para demonstrar sua gratidão fez uma romaria a Roma, por ocasião do Jubileu de 1525. O Papa Clemente VII recebeu-a em audiência, examinou seus projetos e abençoou a obra, que parecia ter sido imposta pela Divina Providência.

Em 25 de novembro de 1535, no dia de Santa Catarina, Ângela e 28 jovens mulheres formaram a Ordem da Ursulinas, em honra de Santa Úrsula. Em 1536 as regras da nova ordem foram estabelecidas, clarificando seu plano de restaurar os valores familiares e o cristianismo através da educação de meninas. Em 1537 foi eleita superiora por unanimidade.

Santa Ângela morreu no dia 27 de janeiro de 1540 em Bréscia e foi sepultada na antiga Igreja de Santa Afra e Deus permitiu muitos milagres no túmulo de sua serva. O corpo da Santa ficou incorrupto.

Em 1580, São Carlos Borromeu, Bispo de Milão, inspirado pelo trabalho das Ursulinas em Bréscia, incentivou a fundação das casas Ursulinas em toda a diocese no norte da Itália. Carlos também incentivou as Ursulinas a viverem em comunidades e não em suas próprias casas. São Carlos Borromeu iniciou o processo de beatificação que foi concluído em 1768 e no dia 30 de abril deste mesmo ano foi beatificada pelo Papa Clemente XII.

O Papa Pio VII canonizou-a em 24 de maio de1807.

Em 1861, Pio IX estendeu sua veneração para a Igreja Universal.

Em 1903, as várias comunidades ursulinas constituíram uma federação. Sua finalidade apostólica continuou sendo aquela que fora dada pela própria santa Ângela: a educação de juventude feminina, sobretudo das futuras mães de família, a assistência aos pobres e enfermos e a conservação dos bons costumes.

Em 1962 Santa Ângela Merici foi proclamada a principal padroeira de Desenzano por um decreto da Sagrada Congregação dos Ritos.

Ângela nasceu no dia 21 de março de 1474, em Desenzano del Garda, no norte da Itália, no seio de uma família de classe média.
A vida provou-a duramente. Aos 10 anos ficou órfã de pai e, pouco depois, de mãe. Ela e sua irmã mais velha foram entregues, então, a um tio que vivia na cidade vizinha de Salò, também na Lombardia, que as criou num ambiente abastado. Nessa cidade, mesmo ainda muito jovem, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco.
A irmã mais velha não resistiu muito tempo e, infelizmente, acabou morrendo. Após a morte da irmã e do tio, Ângela, já em plena juventude, voltou para Desenzano, com o desejo de fazer algo  para educar meninas e jovens, sobretudo as expostas a perigos morais. Foi neste período que Ângela teve uma visão ou um sonho muito marcante. Viu uma multidão de donzelas, rodeadas de luz celeste e ao mesmo tempo ouviu uma voz dizendo: “Ângela, não deixarás a terra enquanto não tiveres fundado uma união de mulheres igual àquela que acabas de admirar”. Ângela viu nisto um sinal do alto.
Em 1516, a convite, Ângela mudou-se para Bréscia, para uma missão de consolo na casa de Caterina Patengola, que tinha perdido seu marido e dois filhos. Nesta cidade encontrou com Giovan Antonio Romano e logo formou um grupo de pessoas interessadas no seu ideal. Com elas visitava prisões, hospitais e cuidava dos pobres e abandonados. Impressionada com a decadência dos costumes familiares, consequência do espírito pagão, oriundo da Renascença, começou a concentrar suas atenções na educação de meninas e moças, de quem dependeria, em larga escala, a saúde moral das famílias.
Em 1524 Ângela fez uma peregrinação à Terra Santa. Durante a viagem Ângela adoeceu e perdeu a visão, de modo que não viu nada, a não ser com os olhos da fé. Na viagem de volta o navio aportou na Ilha de Cândia. Perto do porto havia um santuário que conservava um crucifixo milagroso. Ela dirigiu-se para lá, pedindo a Jesus que lhe restituísse a vista. Sua oração foi ouvida e ela se levantou curada. Para demonstrar sua gratidão fez uma romaria a Roma, por ocasião do Jubileu de 1525. O Papa Clemente VII recebeu-a em audiência, examinou seus projetos e abençoou a obra, que parecia ter sido imposta pela Divina Providência.
Em 25 de novembro de 1535, no dia de Santa Catarina, Ângela e 28 jovens mulheres formaram a Ordem da Ursulinas, em honra de Santa Úrsula. Em 1536 as regras da nova ordem foram estabelecidas, clarificando seu plano de restaurar os valores familiares e o cristianismo através da educação de meninas. Em 1537 foi eleita superiora por unanimidade.
Santa Ângela morreu no dia 27 de janeiro de 1540 em Bréscia e foi sepultada na antiga Igreja de Santa Afra e Deus permitiu muitos milagres no túmulo de sua serva. O corpo da Santa ficou incorrupto.
Em 1580, São Carlos Borromeu, Bispo de Milão, inspirado pelo trabalho das Ursulinas em Bréscia, incentivou a fundação das casas Ursulinas em toda a diocese no norte da Itália. Carlos também incentivou as Ursulinas a viverem em comunidades e não em suas próprias casas. São Carlos Borromeu iniciou o processo de beatificação que foi concluído em 1768 e no dia 30 de abril deste mesmo ano foi beatificada pelo Papa Clemente XII.
O Papa Pio VII canonizou-a em 24 de maio de1807.
Em 1861, Pio IX estendeu sua veneração para a Igreja Universal.
Em 1903, as várias comunidades ursulinas constituíram uma federação. Sua finalidade apostólica continuou sendo aquela que fora dada pela própria santa Ângela: a educação de juventude feminina, sobretudo das futuras mães de família, a assistência aos pobres e enfermos e a conservação dos bons costumes.
Em 1962 Santa Ângela Merici foi proclamada a principal padroeira de Desenzano por um decreto da Sagrada Congregação dos Ritos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo

liturgiadashoras

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo

(Hom. 2 de laudibus sancti Pauli: PG 50, 480-484)                 (Séc.IV)

Combati o bom combate

Na estreiteza do cárcere, Paulo parecia habitar no céu. Recebia os açoites e feridas com mais alegria do que outros que recebem coroas de triunfo; e não apreciava menos as dores do que os prêmios, porque considerava estas mesmas dores como prêmios que desejava, e até as chamava de graças. Considerai com atenção o significado disto: prêmio, para ele, era partir, para estar com Cristo (cf. Fl 1,23), ao passo que viver na carne significava o combate. Mas, por causa de Cristo, sobrepunha ao desejo do prêmio a vontade de prosseguir o combate, pois considerava ser isto mais necessário.

Estar longe de Cristo representava para ele o combate e o sofrimento, mais ainda, o máximo combate e a mais intensa dor. Pelo contrário, estar com Cristo era um prêmio único. Paulo, porém, por amor de Cristo, prefere o combate ao prêmio.

Talvez algum de vós afirme: Mas ele sempre dizia que tudo lhe era suave por amor de Cristo! Isso também eu afirmo, pois as coisas que são para nós causa de tristeza eram para ele enorme prazer. E por que me refiro aos perigos e tribulações que sofreu? Na verdade, seu profundo desgosto o levava a dizer: Quem é fraco, que eu também não seja fraco com ele? Quem é escandalizado, que eu não fique ardendo de indignação? (2Cor 11,29).

Rogo-vos, pois, que não vos limiteis a admirar este tão ilustre exemplo de virtude, mas, imitai-o. Só assim poderemos ser participantes da sua glória.

E se algum de vós se admira por eu dizer que quem imita os méritos de Paulo participará da sua recompensa, ouça o que ele mesmo afirma: Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa (2Tm 4,7-8).

Por conseguinte, já que é oferecida a todos a mesma coroa de glória, esforcemo-nos todos por ser dignos dos bens prometidos.

Não devemos considerar em Paulo apenas a grandeza e a excelência das virtudes, a prontidão de espírito e o propósito firme, pelos quais mereceu tão grande graça; mas pensemos também que a sua natureza era em tudo igual à nossa; e assim, também a nós, as coisas que são muito difíceis parecerão fáceis e leves. Suportando-as valorosamente neste breve espaço de tempo em que vivemos, ganharemos aquela coroa incorruptível e imortal, pela graça e misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo. A ele a glória e o poder, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.

O que o Papa Francisco realmente disse sobre a homossexualidade

Antoine Mekary | ALETEIA | I.Media
Por Agnès Pinard Legry

“Ser homossexual não é crime”, disse o Papa em entrevista à Associated Press, transmitida neste 25 de janeiro. "[O ato homossexual] é pecado, mas vamos distinguir entre um pecado e um crime. Também é pecado não ter caridade para com o próximo”.

As declarações do Papa Francisco sobre a homossexualidade, durante entrevista à agência Associated Press publicada nesta quarta-feira, 25 de janeiro, repercutiram mundialmente. “Ser homossexual não é crime”, afirmou ele. “Não é crime. Mas [o ato homossexual] é um pecado, sim. Pois bem, mas vamos primeiro distinguir entre um pecado e um crime”.

Ele fez as suas declarações ao ser questionado sobre as leis que criminalizam a homossexualidade em cerca de 67 países, entre os quais há onze que preveem até a pena de morte para homossexuais. O Papa descreveu essas leis como “injustas”, lembrando que Deus ama todos os seus filhos do jeito que eles são. Francisco também observou que alguns bispos católicos apoiam essas leis e pediu que eles passem a receber na Igreja as pessoas homossexuais, testemunhando “ternura, como Deus faz por cada um de nós”. Para isso, o Papa considera que esses bispos devem “entrar num processo de conversão”.

“Somos todos filhos de Deus. E Deus nos ama como somos e dá a cada um de nós a força para lutar pela nossa dignidade”.

O Catecismo da Igreja Católica esclarece que a homossexualidade como tal não é pecado, ou seja, o fato de uma pessoa ser homossexual não a torna automaticamente uma pecadora simplesmente em decorrência do fato da sua orientação sexual. Mas a prática de atos homossexuais é pecado, e o Papa fez menção a essa diferença.

Francisco destacou, aliás, que a prática dos atos homossexuais continua sendo pecado, mas acrescentou que “não ter caridade para com o próximo” também é pecado.

Os atos homossexuais constituem pecado porque esta “orientação permanece intrinsecamente desordenada”, recordou o Papa durante a entrevista. Trata-se de palavras do Catecismo, em seu número 2357. O texto explica que os atos homossexuais são inerentemente desordenados porque são contrários à lei natural: fecham o ato sexual ao dom da vida e não procedem de uma genuína complementaridade afetiva e sexual. Entretanto, prossegue o catecismo, as pessoas homossexuais devem ser acolhidas com respeito, compaixão e sensibilidade – e isto é parte essencial da mensagem da Igreja. O Papa reforça na entrevista: “As pessoas homossexuais devem ser tratadas com respeito como todo filho de Deus”.

Ao longo do seu pontificado, Francisco nunca deixou de recordar com precisão e humanidade a mensagem da Igreja sobre a homossexualidade.

“Se uma pessoa é gay e busca o Senhor de boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, questionou ele em 2013, ao voltar da JMJ do Rio, em resposta a um jornalista que lhe perguntava sobre a existência de um lobby gay dentro do Vaticano.

Aos cerca de quarenta pais de crianças assim chamadas “LGBT”, aos quais recebeu em audiência no mês de setembro de 2020, Francisco havia assegurado o mesmo:

“A Igreja ama seus filhos como eles são, porque são filhos de Deus”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Dom Edson Oriolo: gestão de mudanças, aceleração e "mindset" digital

Mundo | Vatican News

A sociedade é complexa. As decisões a serem tomadas devem ser muito bem analisadas. Quando mexemos num fator, o resultado pode chegar em um outro lugar. Está cada vez mais difícil explicar o mundo de forma linear.

Dom Edson Oriolo - bispo Igreja particular de Leopoldina MG

Acredito que três desafios vêm impactando a sociedade contemporânea, nos últimos anos, causando transformações, incertezas e rupturas globais: as revoluções tecnológicas, a crise econômica de 2008 e a crise sanitária Covid 19. Como não poderia ser diferente, esses abalos são frutos de cenários instáveis de conflitos políticoideológicos que repercutem em todos os ambientes da sociedade hodierna, e também na vida eclesial. Eles estão alterando a maneira de ser e de agir das pessoas. Necessitamos conhecer essa nova lógica para lançar as “sementes do Verbo” com convicção.

Esses desafios rompem o cotidiano e a normalidade das pessoas, afetando todos os tipos de organização. De maneira sistêmica, causam mudanças nos processos das organizações. Assim, não podemos repetir receitas antigas para desafios novos. Temos que sair do imobilismo. Papa Francisco, na Evangelli Gaudium, n.33, comenta essa realidade quando afirma: “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral ‘fez-se sempre assim’”. Isto é um veneno para a Igreja e também para a sociedade. Faz-se necessário conhecer para mudar e construir uma arquitetura organizacional, uma nova performance da vida eclesial. Uma evangelização que atinja todos os setores.

Os abalos sísmicos ou mais conhecidos terremotos são o resultado de movimentos de gases, choques de placas rochosas ou erupções vulcânicas. São abalos e tremores de terra. Eles iniciam no interior da terra, onde acontecem os choques de placas rochosas, liberando energia sob a forma de ondas sísmicas e expandindo em longas distâncias.

Atualmente, a realidade vivencia uma transposição sísmica entre dois mundos: o mundo VUCA e o BANI. Esses abalos de maneira sísmica estão expandindo por causa do mindset e da aceleração digital.

O termo “VUCA” é um acrônimo, que surgiu na década de 90, no exército militar americano, para produzir cenários instáveis e complexos dos militares nos campos de guerra. Após a Guerra Fria, os Estados Unidos começaram a utilizar o termo VUCA para demonstrar as características que deveriam enfrentar, após o conflito e para tentar resolver algumas possíveis respostas para continuar sua caminhada, isto é, seguir adiante.

O termo VUCA significa que tudo é volátil (volatile), incerto (uncertain), complexo (complex) e ambíguo (ambiguous). Vivemos numa sociedade líquida e volátil. Não conseguimos acompanhar as mudanças. As coisas mudam sem parar. Não temos condições de acompanhar as transformações. Está se tornando difícil para as organizações e as instituições acompanharem o mercado. O nosso futuro está ameaçado. Não temos condições de prever resultados futuros e a imprevisibilidade é o principal elemento que vem dificultando as novas soluções.

A sociedade é complexa. As decisões a serem tomadas devem ser muito bem analisadas. Quando mexemos num fator, o resultado pode chegar em um outro lugar. Está cada vez mais difícil explicar o mundo de forma linear. Nesse mundo há uma falta de clareza das coisas. Há uma interpretação dúbia dos fatos que prejudicam a capacidade de encontrar uma solução para determinado fenômeno. Para sobreviver temos que ter um olhar mais humano.

No entanto, devido ao mindset e à aceleração digital vem se solidificando um outro mundo: o BANI. Esse acrônimo foi apresentado pelo futurista e antropólogo americano Jamais Cascio e significa frágil (brittle), ansioso (anxious), não linear (nonlinear) e incompreensível (incomprehensible). As coisas são frágeis e os nossos sistemas são vulneráveis e suscetíveis a falhas. As estruturas se rompem com facilidade. Assim, a fragilidade nos leva à ansiedade. O imprevisível e o desconhecido geram ansiedade, prejudicando o foco. Em um mundo ansioso, todas as escolhas têm chances de trazer resultados não desejados e até mesmo desastrosos.

Estamos num mundo não-linear. Não existe linha reta. A não-linearidade se refere às perturbações e desequilíbrios que estamos vivendo, seja a questão das mudanças climáticas ou o surgimento de novo vírus. Precisamos de clareza, pois as coisas acontecem. Resultados brotam de resultados derivados de eventos inesperados e não programados. Essa situação nos leva a uma realidade incompreensível. As múltiplas fontes de informações nos deixam sem entender as coisas. A alta volatilidade caracteriza a fragilidade dos sistemas que mudam constantemente. Com isso, as incertezas crescentes culminam em grande ansiedade, enquanto a complexidade evolui para a não-linearidade e o ambíguo se torna incompreensível.

No entanto, essa transição do mundo VUCA para o BANI devido ao mindset e à aceleração digital, numa realidade sísmica, exige construir relações de confiança com as equipes que trabalhamos, melhorar nossa performance, alinhar expectativa, ter pensamento crítico, adequar as novas tecnologias com criatividade e atualização e, principalmente, desenvolver uma visão de mundo dinâmico e reflexivo. Isso vai ajudar a entender as mudanças que vêm acontecendo em todos os setores da sociedade.

Mindset: o mesmo que mentalidade, isto é, maneira como pensamos, julgamos, compreendemos, tomamos decisões e enfrentamos situações cotidianas.

São Paulo, a maior cidade do mundo dedicada a um santo

RealityIllusion, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

Em circunstâncias de fé, educação e encontro de povos, o privilegiado nascimento do "pequeno povoado em torno ao pátio do colégio".

lista das maiores cidades do planeta apresenta variações com base no critério que se utilize, pois os conceitos de cidade, município, área urbana e região metropolitana também sofrem variações de acordo com os países.

Qualquer que seja o quesito, porém, Tóquio é reconhecida de modo unânime como a maior do mundo na atualidade. A lista, no entanto, sofrerá mudanças drásticas nas próximas décadas, a tal ponto que, em 2100, surpreendentemente, a capital japonesa não aparecerá mais nem sequer na lista das 20 maiores cidades do planeta. Para aquele ano, prevê-se que o primeiro posto entre as megalópoles seja ocupado pela nigeriana Lagos, com mais de 80 milhões de habitantes, seguida por outras 19 cidades exclusivamente da África e da Ásia. Os continentes americano e europeu não terão mais nenhuma representante no topo da lista.

Atualmente, São Paulo aparece entre as cinco maiores cidades do mundo – e não há nenhuma cidade maior do que ela, em todo o planeta, cujo nome também seja dedicado a um santo!

25 de janeiro, dia de São Paulo Apóstolo

A homenagem paulistana ao Apóstolo das Gentes se deve à providencial festa litúrgica celebrada no dia da fundação do pequeno povoado que veio a se tornar, atualmente, a maior cidade não só do Brasil ou da América do Sul, mas de todo o hemisfério Sul do planeta Terra.

Era 25 de janeiro de 1554 quando nasceu formalmente aquele povoado em torno a um pátio de colégio dos padres jesuítas. Foram os missionários quem batizaram o povoado em honra ao santo do dia, o gigantesco Apóstolo São Paulo, que, de feroz perseguidor dos cristãos, se tornou um dos mais fervorosos propagadores da fé em Cristo.

Um pouco de história

Antes de se falar da cidade de São Paulo, é preciso falar da vila criada pouco antes em homenagem a outro santo: São Vicente, a primeira vila brasileira, fundada no litoral paulista em 1532 por Martim Afonso de Sousa. Na ocasião, fazia só 32 anos que Pedro Álvares Cabral tinha chegado à Bahia. Estava começando, na costa paulista, a criação de outras vilas, como Itanhaém e Santos.

Ainda iria demorar alguns anos até que a grande “muralha” representada pela Serra do Mar fosse vencida pelos colonizadores. Quando eles superaram aquela inóspita barreira natural, avançaram pelo planalto paulista e continuaram a estabelecer povoações. Foi o caso, em 1553, da vila de Santo André da Borda do Campo, no chamado “Caminho do Mar”, atual região do ABC Paulista. O fundador foi o explorador português João Ramalho, casado com a índia Bartira, filha do cacique Tibiriçá, chefe da tribo dos guaianases. A miscigenação já era um processo em plena ação desde os primórdios daquela que é hoje a mais cosmopolita das regiões metropolitanas do Brasil.

Naqueles mesmos anos, a Serra do Mar foi vencida por mais uma expedição, formada por um grupo de padres da Companhia de Jesus. Entre eles estavam São José de Anchieta e o então superior dos jesuítas no Brasil, o pe. Manoel da Nóbrega.

Chegados ao planalto de Piratininga, eles encontraram “ares frios e temperados como os de Espanha” e “uma terra mui sadia, fresca e de boas águas”. O local era adequado para o seu propósito de catequizar os indígenas longe da influência dos homens brancos. Em 29 de agosto de 1553, o pe. Nóbrega começou a catequizar um grupo de cinquenta nativos, fato que aumentou a necessidade de fundar o primeiro colégio jesuíta no Brasil, numa região que facilitasse as condições para a alimentação dos indígenas. A localização perfeita foi encontrada numa colina alta e plana, cercada por dois rios: o Tamanduateí e o Anhangabaú.

Um nascimento privilegiado

Manoel da Nóbrega e José de Anchieta celebraram então a primeira Missa no local de fundação do Colégio São Paulo de Piratininga, a instituição que daria origem a um pequeno povoado ao seu redor. O Pátio do Colégio é hoje um local histórico bem preservado na região central de uma das maiores megalópoles do planeta.

Foi um nascimento certamente abençoado – basta ver os elementos que compuseram as circunstâncias: missa, fé, educação, escola, encontro de povos, diálogo, inculturação, paz, boa localização, perspectivas de prosperidade. E, é claro, São Paulo, o improvável Apóstolo que, sob a casca de um sanguinário perseguidor de cristãos, guardava uma alma aberta à conversão de si próprio e de milhares de almas para Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

DOM MÁRIO SOBRE OS YANOMAMIS

Dom Mário Antônio - Arcebispo de Cuiabá (MT) | cnbb

DOM MÁRIO SOBRE OS YANOMAMIS: “EXISTEM MUITOS DISCURSOS DE DEFESA DA VIDA, MAS POUCA PRÁTICA EM DEFESA DA VIDA FRAGILIZADA”

Durante quase seis anos, de 2016 a 2022, o atual arcebispo de Cuiabá (MT) e segundo vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Mário Antônio da Silva, foi o bispo da diocese de Roraima (RR). Para ele, este tempo foi de aprendizado e partilha com as comunidades, também com os povos indígenas.

De acordo com ele, a diocese de Roraima sempre teve ao longo de sua história, sobretudo com os bispos anteriores, grande preocupação com os povos indígenas e também específica com o Povo Yanomami, com a presença dos missionários e as missionárias Consolata. Ele descreve, o trabalho como uma presença heroica de defesa, de respeito à sua cultura e religião e fomento de valores e da sabedoria deles. “A defesa se dá frente a omissão das autoridades, que têm a competência de cuidar dos povos indígenas”, reforça.

Diante desse momento de tristeza e de luto, dom Mário Antônio chama a Igreja ao compromisso de assumir uma verdadeira ecologia integral. O segundo vice-presidente da CNBB faz um chamado a que “como católicos nos unamos em defesa da vida e da vida concreta”. Segundo ele, hoje existem muitos discursos de defesa da vida, da fecundação até a morte natural, mas pouca prática em defesa da vida concreta existente diante dos nossos olhos, sobretudo quando ela está fragilizada. Confira, abaixo, a íntegra da entrevista que ele concedeu ao padre Luiz Modino, assessor de comunicação do regional Norte 1 da CNBB.

O senhor foi bispo da diocese de Roraima durante quase seis anos. Por todos os lugares onde passamos, vai ficando um pedaço do nosso coração. O que o senhor deixou na diocese de Roraima?

Meu período em Roraima, quase seis anos, foi um período de muitos desafios, mas também de muito aprendizado, aprendizado com as comunidades, sobretudo daquelas que estavam mais distantes do grande centro, que é a capital. Mas um aprendizado ímpar com os povos e comunidades indígenas.

Das muitas coisas que eu aprendi lá e procurei retribuir é a proximidade com as pessoas, a proximidade no aspecto de estar junto, não só para celebrar a missa, mas também para a convivência. E a convivência se dava nos arraiais, se dava nas quermesses, se dava até nos momentos de comensalidade, eram momentos muito bonitos.

O que eu procurei também partilhar com as comunidades da diocese de Roraima é que nós precisamos ter uma fé que é mais do que normas, sejam católicas ou bíblicas. Mas a nossa fé é adesão a Jesus Cristo e essa adesão é visibilizada pelo seguimento a Ele, na prática da paz, da justiça e da solidariedade. Foi isso que eu procurei partilhar com as pessoas, recebendo deles impulso e motivação para uma missão diante de tantos desafios.

O senhor fala da importância da convivência com o povo. Entre os Yanomami, a diocese de Roraima se faz presente através dos missionários e missionárias da Consolata, na missão Catrimani. Qual a importância dessa presença como Igreja no meio do Povo Yanomami e esse jeito de anunciar o Evangelho?

A diocese de Roraima sempre teve na sua história, sobretudo com os bispos anteriores, grande preocupação com os povos indígenas e também específica com o Povo Yanomami, com a presença dos missionários e as missionárias Consolata, uma presença heroica, de mulheres e homens na convivência com as comunidades do Povo Yanomami, no respeito à cultura, no respeito à religião, na convivência, no fomentar os valores e em valorizar a sabedoria do Povo Yanomami. No seu cuidado com a própria cultura, com a própria humanidade, com os membros de cada maloca, de cada comunidade, como também no cuidado da natureza, com o cuidado da floresta, dos rios, da obra do Criador.

É um jeito de conviver muito respeitoso e que tem sementes do Evangelho, que realmente revela o que o ser humano tem de mais humano e divino, no estar, na interlocução e no confronto. Por isso, a diocese de Roraima tem uma contribuição sem igual em toda a Igreja, para todo mundo, através do testemunho dos missionários e missionárias da Consolata, essa presença de respeito, de valorização, e digna de ser chamada também do Reino de Deus à luz daquilo que nos fala São Paulo, da graça, paz e justiça do Espírito Santo.

Uma presença que também foi de defesa diante de tantos ataques que os povos indígenas e sobretudo o Povo Yanomami têm sofrido nas últimas décadas. Por que é importante essa atitude de defesa da Igreja assumida pela diocese de Roraima em favor dos povos indígenas, do Povo Yanomami?

A gente gostaria que todo ser humano tivesse sua dignidade humana respeitada, seus valores reconhecidos, seus direitos cumpridos para que pudessem também seus deveres serem executados, sem traumas, sem sacrifícios, sem opressão e sem injustiça. Mas infelizmente é fantasia achar que a Igreja não precise estar na luta pelos mais empobrecidos. A Igreja de Roraima, como toda a Igreja católica, quando se coloca ao lado dos indefesos, dos mais pobres, tem sido a grande testemunha de Jesus Cristo.

No caso do Povo Yanomami, os missionários e missionárias da Consolata abrem portas e abrem os nossos olhos para uma atitude fundamental, mesmo que específica, diante dos desafios dos povos Yanomami, de lutar pela dignidade da sua vida, da sua saúde, de sua própria religião, conservando e escutando a sua própria sabedoria.

A defesa da Igreja se dá por algo que a gente fica muito triste, se dá por omissão das autoridades, que têm a competência de cuidar dos povos indígenas, da omissão do Governo Federal, do Governo Estadual e de outras instituições que têm a competência de cuidar dos povos indígenas. Esse abandono, esse descaso, esse desmonte de direitos fez com que o povo Yanomami entrasse ainda em uma escuridão maior, em uma treva que não mereciam. Parece-me que agora vem aí uma nova luz, tem novas luzes que surgem. Uma luz que a Igreja sempre procurou manter, mesmo que de maneira limitada, com as suas forças e com a sua missão lá com o Povo Yanomami.

Uma atitude que não é exclusiva da Igreja de Roraima, mas que poderíamos dizer que é assumida pela Igreja do Brasil e inclusive da Igreja universal com o apoio expresso do Papa Francisco aos povos indígenas. Como segundo vice-presidente da CNBB, como o senhor pensa que a Igreja do Brasil está impulsando essa defesa e como o que está acontecendo com o Povo Yanomami desafia a Igreja católica do Brasil nessa missão com os povos indígenas?

De fato, toda a atividade da diocese de Roraima, sempre foi acompanhada pela Igreja do Brasil, como também dioceses de outros países, inclusive da Europa. Instituições afins à defesa da causa indígena e à causa dos mais pobres, sempre colaboraram com esse protagonismo da Igreja de Roraima. Na CNBB temos acompanhado muito de perto toda essa questão dos povos yanomami. Inclusive várias entidades ligadas à nossa Conferência, como a Rede Eclesial Pan-Amazônica, em comunhão com a REPAM-Brasil, se manifestam nesse momento crucial para os povos yanomami.

Um grande desafio com este caso é que nós abramos mais os olhos, que nós estendamos mais a mão, que a gente se exercite um pouco mais na sensibilidade para com a realidade dos povos indígenas. Nessa sensibilidade, não apenas de compaixão no momento de sofrimento, mas também de promoção, de reconhecimento em todos os outros momentos, nos momentos também de conquistas e de vitórias dos povos indígenas.

É preciso transformar esse momento de tristeza, esse momento até de luto por tantas crianças indígenas que morreram em consequência dessa devastação de direitos, devastação da natureza, como também o envenenamento dos rios e tudo aquilo que têm causado destruição do meio ambiente, mas consequentemente pela bebida, pelas drogas, pela prostituição, pela invasão do garimpo ilegal, a devastação total do ser humano, das pessoas.

Cuidar através de uma ecologia integral, o grande desafio está em implantar aquilo que nos fala o Papa Francisco na Laudato si´, uma verdadeira ecologia integral, que promove a vida como um todo, prioritariamente o ser humano mais necessitado.

A Igreja do Brasil tem recebido críticas e desqualificações nos últimos dias, nas últimas horas, inclusive de pessoas que se dizem católicas. O que dizer para essas pessoas e como mostrar para elas que a defesa que a Igreja está fazendo do Povo Yanomami, dos povos indígenas, é algo que nasce da fé, do Evangelho, como uma exigência diante daquilo que Jesus Cristo nos pede como discípulos missionários?

O próprio Jesus Cristo, quando se coloca no início da sua missão, além de nos convidar à conversão aos valores do Reino de Deus, Ele diz claramente que veio para evangelizar os pobres, anunciar o ano da graça do Senhor, a libertar os cativos e prisioneiros, enfim a fazer o bem aos doentes e necessitados. Infelizmente, causa estranheza em muitos quando a Igreja abraça essa causa. Deveria ser o normal, mas parece que quando uma Igreja defende a causa dos mais pobres é algo extraordinário, como se fosse algo anormal. Isso simboliza que nós estamos fugindo um pouco da nossa missão.

Mas é importante, não obstante as críticas que vem, até de católicos de nome e renome, às vezes até influentes, de que nós estamos dando um testemunho de coerência aquilo que é o Evangelho de Jesus Cristo, sobretudo Jesus no seu programa missionário. Abandonar o programa missionário de Jesus, conforme Lucas 4, seria uma loucura da nossa parte e algo que não combinaria com a Igreja de Jesus Cristo. As críticas não deixarão de serem feitas, mas que também o pessoal que critica possa se sensibilizar pela vida humana diante dos seus olhos.

É importante que como católicos nos unamos em defesa da vida e da vida concreta. Hoje existem muitos discursos de defesa da vida, da fecundação até a morte natural, mas pouca prática em defesa da vida concreta existente diante dos nossos olhos, sobretudo quando ela está fragilizada. As críticas nos fazem perceber que o cuidado com a vida humana ainda está longe do Evangelho de Jesus Cristo.

Qual é a sua palavra de esperança para os povos indígenas de Roraima, especialmente para o Povo Yanomami neste momento de tanta dor?

A minha palavra de esperança vai naquilo que o profeta Isaías escreve em uma de suas passagens, o povo indígena merece uma luz, merece uma grande luz. Na verdade, os povos indígenas nos oferecem essa grande luz na sua maneira de ser e que precisam ser respeitados. A minha mensagem é de respeito, de valorização e de gratidão pela perseverança das comunidades indígenas em suas lutas, em suas causas nobres.

Inclusive de Roraima, nesses 50 anos do Conselho Indígena de Roraima, o CIR, juntamente com o Cimi, também em todo o Brasil, 50 anos de existência e testemunho na luta pelas causas dos povos indígenas. A minha palavra não é de muita coisa, senão de motivação para que prossigam com nosso reconhecimento e a nossa comunhão. Oxalá que a gente consiga como Igreja católica exercitar um passo de sinodalidade verdadeira com os povos indígenas em direção do Reino de Deus.

S. PAULA, MATRONA ROMANA

S. Paula, Maestro della Madonna di Strauss  (© Musei Vaticani)
26 de janeiro
Santa Paula

Nobre romana

Nascida em 347 d.C. no seio de uma ilustre família romana, - com laços de parentela com Cornélia, até remontar às origens do próprio Agamenon, - Paula casou-se, com a idade de dezesseis anos, com o senador Toxócio, do qual teve quatro filhas e um filho. Até aos 32 anos, viveu na riqueza e no luxo, vestindo-se de seda e carregada por escravos eunucos pelas ruas da cidade.

Com a morte do seu marido, Paula começou a frequentar um grupo de viúvas guiado por Santa Marcela: com elas, dedicou-se à oração e à penitência, hospedando, na sua grande mansão romana, no bairro do Aventino, esta Ordem semi-monacal. Santa Marcela, em 382, apresentou-lhe São Jerônimo, quando veio a Roma com os Bispos Epifânio de Salamina e Paulino de Antioquia. Ao hospedar em sua casa os três peregrinos, Paula ficou profundamente comovida. Jerônimo causou uma profunda influência em Paula, despertando nela o desejo de abraçar a vida monacal no Oriente.

Na Terra Santa

Em setembro de 385, após a morte da filha Belsila, Paula decidiu partir para a Terra Santa, acompanhada pela filha Eustóquia, para seguir a vida monacal. Jerônimo, que as havia precedido de cerca um mês, encontrou com elas em Antioquia e, juntos, fizeram uma peregrinação pelos lugares santos da Palestina. A seguir, foram ao Egito para frequentar as lições dos eremitas e cenobitas; enfim, estabeleceram-se em Belém, onde fundaram dois mosteiros: um masculino e outro feminino. Todos os dias, as monjas cantavam todo o Saltério, que deviam saber de cor. Além do mais, Paula era particularmente fiel ao jejum e às obras de caridade, chegando a doar aos pobres até o necessário para a subsistência da sua comunidade. Tanto Paula como Eustóquia participaram ativamente da pregação de Jerônimo, do qual foram devotas colaboradoras, conformando-se, sempre mais, com a sua direção espiritual. Jerônimo tinha um temperamento irascível, mas Paula o ajudou, sobretudo no contraste com os seguidores de Orígenes, a manter um confronto fundado na humildade e na paciência.

Um claro exemplo do seu estilo de vida foi testemunhado em uma carta que Paula escreveu a Marcela, que tinha ficado em Roma, procurando convencê-la a deixar a Cidade e ir morar com elas em Belém.

Tradução da Bíblia em latim

Entre as contribuições mais significativas de Paula para as pregações de Jerônimo encontra-se a tradução da Bíblia do grego e hebraico para o latim. Foi ela quem sugeriu a necessidade de tal tradução, dedicando-se, com a filha Eustóquia, à compilação da obra, para que fosse divulgada.

A morte

Em 406, com 56 anos, Paula percebeu que o dia da sua morte estava se aproximando, tendo o pressentimento de ouvir a voz de Jesus, que se dirigia a ela com as palavras do Cântico dos Cânticos: “Levante-se, meu amor, minha formosa e vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou e se foi; mostre-me seu rosto, faça-me ouvir sua voz, porque a sua voz é doce e o seu rosto gracioso”. E ela respondeu-lhe com as palavras do Salmo 27: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei? Pereceria, sem dúvida, se não cresse que veria a bondade do Senhor na terra dos viventes”, e adormeceu para sempre.

Participaram do seu funeral, não apenas os monges e as monjas dos dois mosteiros por ela fundados, mas também muitos pobres, que tinham sido ajudados por ela, durante anos, e que a consideravam mãe e benfeitora.

Santa Paulo foi sepultada em Belém, na igreja da Natividade. São Jerônimo lhe dedicou o Epitaphium sanctae Paulae. Quando ele também morreu, foi sepultado ao lado dos túmulos de Paula e Eustóquia.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Pedro e o Papado

Christ's Charge to Peter (Victoria and Albert Meseum)

Pedro e o Papado 

No Novo Testamento podemos encontrar ampla evidência de que Pedro foi o primeiro em autoridade entre os apóstolos. Cada vez que os apóstolos são nomeados, Pedro encabeça a lista (Mt 10,1-4; Mc 3,16-19; Lc 6,14-16; At 1,13); algumas vezes aparece somente “Pedro e aqueles que estavam com ele” (Lc 9,32). Pedro era o primeiro que geralmente falava em nome dos apóstolos (Mt 18,21; Mc 8,29; Lc 12,41; Jo 6,69), e aparece em muitas cenas dramáticas (Mt 14,28-32; Mt 17,24, Mc 10,28).

Em Pentecostes, Pedro foi o primeiro que predicou à multidão (At 2,14-40), e foi Pedro que realizou a primeira cura milagrosa na nascente Igreja (At 3,6-7). Também foi a Pedro a quem veio a revelação de que os Gentis foram batizados e aceitos como cristãos (At 10,46-48).

Sua preeminente posição entre os apóstolos estava simbolizada no próprio princípio de sua relação com Cristo. Em seu primeiro encontro, Cristo disse a Simão que seu nome seria mudado para Pedro, que é traduzido como Rocha (Jo 1,42).

O fato é que – além da única vez que Abraão é chamado “rocha” (Hebraico: sur; aramaico: Kefa) em Isaías 51,1-2 – no Antigo Testamento somente Deus era chamado de rocha. Na antigüidade, a palavra rocha não era usada como nome próprio. Se você se dirige a um companheiro e lhe diz: “De agora em diante teu nome é Aspargo”, as pessoas se surpreenderão. Por que Aspargo? Qual é a intenção disto? Que é que isto significa? Então, por que chamar “Rocha” a Simão, o pescador? Cristo não estava fazendo isto sem sentido, e tampouco os judeus, quando davam um nome.

Dar um novo nome é mudar a situação da pessoa, como quando o nome de Abrão foi mudado a Abraão (Gn 17,5), o de Jacó a Israel (Gn 32,28), o de Eliaquim a Joaquim (2Rs 23,34), os nomes dos quatro jovens hebreus – Daniel, Ananias Misael e Azarias – para Baltazar, Sidrak, Misak e Abdênago (Dn 1,6-8). Mas nenhum judeu tinha sido chamado de Rocha. Os judeus davam outros nomes tomados da natureza, como Barak (“relâmpago”, Jz 4,6), Débora (“abelha”, Gn 35,8) e Raquel (“ovelha”, Gn 29,16), mas não Rocha.

No Novo Testamento, Tiago e João foram chamados por Cristo com o sobrenome de Boanerges, que significa “Filhos do Trovão”, mas este nome nunca foi regularmente usado no lugar de seu nome original, e certamente não era tomado como um novo nome. Mas no caso de Simão-bar-Jonas, seu novo nome Kefas (em grego: Petrus) definitivamente substituiu o nome velho.

Como se deram as coisas

Não somente foi significante para Simão receber um novo e inusual nome, mas também foi importante o lugar onde Jesus solenemente mudou seu nome para Pedro. Isto sucedeu quando “Jesus veio à cidade de Cesaréia de Filipo” (Mt 16,13), uma cidade que Felipe, o Tetrarca, construiu em honra de César Augusto, que tinha morrido no ano 14 d.C.

A cidade estava situada perto das cascatas do rio Jordão e perto de um gigantesco muro de rocha de cerca de 60 metros de altura e 150 metros de largura, que é parte da parte sul do Monte Hermon. A cidade não existe atualmente, mas suas ruínas estão próximas a Banias, uma pequena cidade árabe, e na base do muro de rocha pode ser encontrada a sua esquerda um dos afluentes que alimentam o Jordão. Foi aqui onde Jesus se dirigiu a Simão e lhe disse: “Tu és Pedro” (Mt 16,18).

O significado deste fato ficou bem claro aos outros apóstolos. Como judeus devotos, eles sabiam que o lugar era verdadeiramente importante para o que estava sendo feito – mudar o nome de Simão. Ninguém acusou Simão por ter recebido somente ele esta honra, e no resto do Novo Testamento é chamado por seu novo nome, enquanto Tiago e João continuaram se chamando Tiago e João, e não Boanerges.

Promessas a Pedro

Quando Ele encontrou pela primeira vez Simão, “Jesus lhe fixou o olhar, e disse, ‘tu és Simão, o filho de João? Chamar-te-ás Kefas (que significa Pedro)'” (Jo 1,42). A palavra “Kefas” em grego é meramente a tradução literal da palavra “Kefas” em aramaico. Então, depois que Pedro e os outros discípulos estavam com Cristo, eles regressaram outra vez a Cesaréia de Filipo, onde Pedro fez sua profissão de fé: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo” (Mt 16,16). Jesus lhe disse que aquilo era uma verdade especialmente revelada a ele e então solenemente reiterou: “E eu te digo: tu és Pedro” (Mt 16,18). E a isto acrescentou a promessa de fundar a Igreja, de algum modo, fundada sobre Pedro (Mt 16,18).

Então duas coisas muito importantes foram dadas aos apóstolos: “Tudo o que ates na terra, será atado no céu, e tudo o que desates na terra, será desatado nos céus” (Mt 16,19). Aqui, Pedro foi distinguindo com a autoridade de perdoar os pecados e elaborar as regras disciplinares. Logo os apóstolos receberam similar poder, mas, neste caso, particularmente aqui recebe Pedro de modo singular. Também foi somente a Pedro que foi prometido: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus” (Mt 16,19).

Naqueles tempos, a chave era sinal de autoridade. Uma cidade cercada de muralhas tinha uma grande porta, e essa porta tinha uma grande fechadura que funcionava com uma grande chave. Dar a chave da cidade (uma honra que ainda existe hoje em dia, ainda que não haja portas) é também dar livre acesso e autoridade sobre a cidade. A cidade da qual Pedro estava recebendo a chave era nada mais e nada menos que a própria Cidade Celestial. Este mesmo simbolismo para a autoridade é usado em outra parte da Bíblia (Is 22,22; Ap 1,18).

Finalmente, após a Ressurreição, Jesus apareceu para os seus discípulos e perguntou três vezes a Pedro: “Tu me amas?” (Jo 21,15-17). Em arrependimento por suas três negações, Pedro fez uma tríplice afirmação de amor. Então, Cristo, o Bom Pastor (Jo 10,11.14), deu a Pedro a autoridade que havia prometido: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,17).

Isto especificamente incluía os outros apóstolos, já que Jesus perguntou a Pedro, “Tu me amas mais do que estes?” (Jo 21,15) – a palavra “estes” se refere aos outros apóstolos que estavam presentes (Jo 21,2) -. Isto aconteceu para que se cumprisse a profecia feita antes de Jesus e seus discípulos estarem pela última vez no Monte das Oliveiras. Antes de sua negação Jesus disse a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, [depois de sua negação] confirma teus irmãos.” (Lc 22,31s). Foi por Pedro que Cristo rezou para que não lhe faltasse a fé e para que fosse o guia dos outros, e sua oração, sendo perfeitamente eficaz, seria cumprida certamente.

Quem é a rocha? Voltemos nossa atenção para o verso-chave: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” (Mt 16,18). A discussão sobre este verso sempre se voltou para o significado da palavra “pedra” ou “rocha”. A quem Jesus se refere? Visto que o novo nome de Simão, Pedro, por si só significa “rocha”, a frase pode ser reescrita como “Tu és Rocha e sobre esta rocha edificarei minha Igreja”. O jogo de palavras é óbvio, mas muitos comentaristas, desejando evitar o que segue (a instituição do papado), têm insinuado que a palavra rocha não pode referir-se a Pedro, mas sim à sua profissão de fé ou ao próprio Cristo. Do ponto de vista gramatical, a frase “esta rocha” deve referir-se ao substantivo mais próximo. A profissão de fé de Pedro (“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”), é feita a dois versículos do termo em análise, enquanto que seu nome, um nome próprio, está precedendo imediatamente a cláusula. Consideremos como analogia esta paráfrase: “Eu tenho um carro e um caminhão, e este é azul.” Qual é o azul? O caminhão, porque é o substantivo mais próximo ao pronome “este”. Tudo isto seria mais claro se a referência ao carro fosse a duas frases da que contém o adjetivo “azul”, como a referência à profissão de fé de Pedro está a duas frases do termo “rocha”.

Outra alternativa

O mesmo tipo de argumentação considera que a palavra rocha pode fazer referência ao próprio Cristo, já que ele está mencionado na profissão de fé. O fato de que em outra parte da Escritura, em uma metáfora diferente, Cristo seja chamado “pedra angular” (Ef 2,20; 1Pe 2,4-8) não desaprova que aqui a fundação seja Pedro. Naturalmente, Cristo é o principal e, já que ele está regressando aos céus, a invisível fundação da Igreja que ele estabelecerá, Pedro é nomeado por ele como o secundário, porque ele e seus sucessores permanecerão sobre a terra, a visível fundação. Pedro pode ser a fundação somente porque Cristo é o Primeiro.

Consideremos outra analogia: Às vezes pedimos a nossos amigos que rezem por nós e oramos por eles. Nossas orações pedem a Deus especial ajuda para um e outro. Que estamos fazendo quando rezamos? Estamos agindo como mediadores, como intercessores. Estamos suplicando a Deus em favor de outro. Seria isto contra a declaração de Paulo que Cristo é o único mediador (1Tm 2,5)? Não, porque nossa mediação é inteiramente secundária e depende da mediação de Cristo. Ele é o único Deus-Homem, a única pessoa que é ponte entre Deus e o homem, mas nossa intercessão por outra pessoa não interfere na mediação de Cristo. Na realidade, nos quatro versos anteriores a 1Tm 2,5, Paulo manda os cristãos orarem uns pelos outros. Cristo poderia ter estabelecido sua mediação da forma que quisesse, mas decidiu que nós também participaríamos quando Ele próprio nos mandou rezar uns pelos outros (Mt 5,44; 1Tm 2,14; Rm 15,30; At 12,50). Assim, como pode haver intercessores secundários e um principal, também pode haver uma fundação secundária e uma principal.

Um olhar para o Aramaico

Os que se opõe à interpretação católica de Mt 16,18 algumas vezes argumentam que no texto grego o nome do apóstolo é “Petros”, enquanto “rocha” é traduzida como “pedra” (petra). Eles dizem que a primeira palavra (petros) significa uma pequena pedra e que a segunda (petra) é uma grande massa de rocha, então, se Pedro foi pensado para ser uma grande rocha, por que seu nome não é “Petra”? Mas, observe que Cristo não falou para os seus discípulos em grego.

Ele falou em aramaico, uma linguagem popular na Palestina de então. Nessa língua a palavra para “rocha” era “Kepha”, que é a utilizada por Jesus em sua linguagem comum (repare que em Jo 1,42 Ele disse: “chamar-te-ás Cefas”). O que Jesus disse em Mt 16,18 foi isto: “Tu és Kepha, e sobre esta kepha edificarei minha Igreja.”

Quando o evangelho segundo São Mateus foi traduzido do aramaico original para o grego surgiu um problema que o evangelista não enfrentou quando compôs este compêndio da vida de Cristo. Em aramaico, a palavra kepha tinha o mesmo sentido final para se referir a uma grande rocha ou a um nome pessoal masculino. Em grego, a palavra para traduzir rocha, petra, é do gênero feminino. O tradutor poderia usá-la na segunda vez em que aparece a palavra na oração, mas não na primeira porque seria inapropriado dar a um homem um nome feminino. Por isso o tradutor pôs um final masculino nele, e este foi Petros.

Além disso, a premissa do argumento contra Pedro como rocha é simplesmente equivocada, pois no século primeiro as palavras gregas “petros” e “petra” eram sinônimos. Possuíram o significado de “pequena pedra” e “rocha grande”, respectivamente, nos primórdios da poesia grega, mas no século primeiro essa distinção já havia se perdido, assim admitem alguns protestantes estudiosos da Bíblia (Ver os comentários de D. A. Carson em, “Expositor’s Bible Commentary” [Grand Rapids: Zondervan Books]).

Alguns dos efeitos do jogo de palavras de Cristo perderam-se na tradução do aramaico para o grego, mas foi o melhor que pôde ser feito em grego. Em inglês, como em aramaico, não existem problemas com as finais, porque na tradução para o inglês poderia ser lido: “Tu és Rocha, e sobre esta rocha edificarei minha Igreja”. [Pode-se dizer o mesmo em português. Assim como em aramaico, a frase não gera nenhuma confusão, tal como se lê na tradução hoje em dia: “Tu és Pedro (nome próprio masculino que significa pedra), e sobre esta pedra (substantivo comum que faz referência ao substantivo próprio anterior) edificarei minha Igreja.” Nota do tradutor.]

Considerando outro ponto de vista; se a palavra rocha se refere diretamente a Cristo (como dizem alguns anticatólicos, baseando-se em 1Cor 10,4 “e essa rocha era Cristo” – ainda que a rocha fosse literalmente uma rocha física que viajava com os israelitas no deserto durante o êxodo; cf. Ex 17,6; Nm 20,8), por que Mateus deixou a passagem como estava? No aramaico original, e no inglês que é mais parecido com o aramaico do que o grego, a passagem é clara. Mateus acreditava que seus leitores entenderiam o óbvio sentido de “Pedro … pedra”.

Se Mateus referia-se a Cristo como a rocha, por que não o fez claramente? Por que deu a oportunidade e deixou Paulo escrever esclarecendo o texto (pressupondo, naturalmente, que 1 Coríntios foi escrito depois do evangelho segundo Mateus, e se foi primeiro, por que não escreveu para esclarecer o assunto?).?

A razão, certamente, é que Mateus sabia muito bem que a frase queria dizer o que realmente está dizendo. E foi Simão, fraco como era, o escolhido para ser a rocha, o primeiro elo na cadeira do papado.

Fonte: ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF