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sexta-feira, 10 de março de 2023

São José: o homem que se lança na Providência Divina

Sidney de Almeida | Shutterstock
Por Hozana

Como encontrar em São José um modelo para toda a sua vida.

São José foi contemplado por Deus para que colaborasse com sua obra de salvação. Edifica-nos ver nele, sua docilidade e entrega total aos desígnios do Senhor. São José, não possuía nenhuma segurança humana quando recebeu o encorajamento do anjo para acolher Maria como sua esposa ( Cf. Mt 1, 20), teve apenas um sonho. No entanto, seguiu adiante em total confiança, mesmo nos momentos mais difíceis. E dentre tantas maravilhas, nunca foi desamparado por Deus. O Senhor sempre providenciou e cuidou dele, de Maria e do Menino Deus.

Como está a sua confiança em Deus, sobretudo nos momentos de sofrimento? Quantas mortes, inseguranças, medos assolam o coração humano? Realmente estamos em tempos de provação! Porém, a Palavra de Deus nos é muito clara: “(…) buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia, bastam seus próprios problemas” (Mt 6, 33-34).

O Senhor nos convida hoje, a renovar mais uma vez nossa confiança n’Ele! Como São José, o Senhor quer manifestar sua Providência em nossas vidas, nas realidades mais diversas do nosso cotidiano. Porém, precisamos priorizar a busca do Reino de Deus em nossa vida. O Senhor coloca uma condição para que Ele possa agir e intervir em nossa história: buscar em primeiro lugar o Reino de Deus. Foi exatamente isso que fez São José! Aquele que busca em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, verá grandes manifestações do Senhor em sua vida.

Não importa o que você tem passado: “Se, em determinadas situações, parece que Deus não nos ajuda, isso não significa que nos tenha abandonado, mas que confia em nós com aquilo que podemos projetar, inventar, encontrar” (Cf. Carta Apostólica Patris Corde do Papa Francisco, n. 5). Basta olharmos para nossa história pessoal, familiar etc. nos momentos mais delicados, Deus se manifestou e nos deu a vitória (Cf. Rm 8, 37-39).

Firmemos nossa vida na Palavra de Deus como o fez São José. Olhemos para os santos, pois eles nos ajudam “a tender à santidade e perfeição do próprio estado. A sua vida é uma prova concreta de que é possível viver o Evangelho” (Cf. Carta Apostólica Patris Corde do Papa Francisco, n. 7). 

Em São José encontramos um modelo para toda a nossa vida. Pela confiança e fé, ele respondeu à fidelidade de Deus para com seu povo, ajudou Maria, participou na obra de salvação pela educação humana de Jesus, e foi fiel até a morte à sua humilde paternidade. Podemos e devemos confiar as nossas vidas, dores e angústias a este grande santo. Quero fazer um convite para você, na proximidade da Festa de São José escolha e faça com muita fé e confiança uma novena em sua honra.

Na rede social de oração Hozana, você encontrará a novena São José: modelo de vida, animada pelos padres Salvistas. Não perca tempo e inscreva-se agora mesmo clicando aqui! Confiemos no patrocínio de São José, o casto esposo de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Que se torne uma tradição irmos a ele como Nosso Pai e Protetor. 

Pe. Jucemar Maria da Cruz, sjs, superior geral dos Salvistas, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Existe um neo-hedonismo?

Hedonismo | grupoescolar

EXISTE UM NEO-HEDONISMO?

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)

O prazer pelo prazer ou a satisfação dos sentidos foi, desde sempre, a saída mais comum, seguida pelo vulgo, para responder a busca da felicidade ou do sentido último da vida. Contudo, tal solução tornou-se, nos tempos atuais, um verdadeiro “evangelho”, uma efetiva “mensagem de massa”. De fato, a sociedade pós-moderna faz do prazer pelo prazer o ideal de civilização. 

Trata-se de um ideal que se adequa bem à filosofia geral de nossa época: o subjetivismo e consequente relativismo, que tende normalmente ao hedonismo. Com efeito, quando não existem valores absolutos e só relativos, a decisão acerca dos valores fica entregue ao sujeito, quer isolado, quando se trata da vida privada, quer associado, quando se trata da vida pública. Ora, quando é o sujeito que somente decide, tenderá a fazê-lo em função do que for mais fácil e cômodo para ele. E essa é precisamente a tentação do neo-hedonismo. 

Em extrema síntese histórica, seguindo o pensador cristão, Clodovis Boff, poderíamos dizer que “a ‘cornucópia permissiva’ do neo-hedonismo começou pelos anos 20 nos Estados Unidos da América, lá chegou ao apogeu nos anos 60 e espalhou-se, em seguida, pelo mundo como way of life globalizante graças à expansão do capital e mercado livres. Nos dias de hoje, a economia do capital e do mercado, através das técnicas do marketing, divulga pelo mundo o ‘evangélico do capital e da mercadoria’, prometendo o paraíso das delícias”. É, no jargão dos jovens, a “era do barato” no duplo sentido: de que tudo é a baixo preço e de que tudo é “curtição”. 

Assim, o neo-hedonismo representa hoje a grande “boa-nova” que a propaganda dirige às massas, ou, mais precisamente ao “homem-massa”, segundo o pensador J. Ortega Y Gasset. O nome mais preciso do hedonismo atual seria “sensual-materialismo”, porque apela, quer para o ventre: é o consumismo; quer para o baixo-ventre: é o permissivismo sexual. 

Em tempos de “turbo”, acelerando freneticamente todos os processos, o prazer pelo prazer tem que ser “pra já”. Na análise do sociólogo, G. Schulze, vivemos uma “sociedade do prazer instantâneo e rápido”. 

Ademais, a busca do prazer pelo prazer é hoje mais refinada que no passado. Os objetos do desejo são mais estéticos e sofisticados. Graças às técnicas do design, a mercadoria torna-se um fetiche mais sedutor. Igualmente, o corpo ganha mais erotismo, em virtude dos mais variados meios de estetização. 

O neo-hedonismo acaba assim constituindo uma verdadeira ideologia, que vê a vida como fruição muito mais que como criação. Tal ideologia já penetrou e continua penetrando na nossa cultura hodierna. Mexe mesmo com o conceito de “felicidade”: felicidade torna-se sinônimo de “facilidade” – prazer pelo prazer. E felicidade não é isso! A felicidade sempre foi e sempre será a criação do sentido maior que alcance o prazer divino em nós. 

O neo-hedonismo existe, sim! Já não é hora de enfrentá-lo de frente, tirando-lhe a ilusão de nos proporcionar o sentido verdadeiro da vida?

II Pregação da Quaresma 2023 - texto integral

Segunda pregação de Quaresma | Vatican News

O pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap, propôs à Cúria Romana, nesta sexta-feira, 10 de março, a segunda pregação da Quaresma intitulada “O Evangelho é poder de Deus para todo aquele que crê”. (Rm 1,16)

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap

“O EVANGELHO É PODER DE DEUS PARA TODO AQUELE QUE CRÊ”

(Rm 1,16)

Segunda Pregação, Quaresma de 2023

Da Evangelii Nuntiandi de São Paulo VI à Evangelii gaudium do atual Sumo Pontífice, o tema da evangelização tem estado no centro das atenções do Magistério papal. A isso, têm contribuído as grandes encíclicas de São João Paulo II, como também a instituição do Pontifício Conselho para a Evangelização, promovido por Bento XVI. A mesma preocupação se nota no título dado à constituição para a reforma da Cúria Praedicate Evangelium e na denominação “Dicastério para a Evangelização”, dada à antiga Congregação de Propaganda Fide. A mesma finalidade é designada agora principalmente ao Sínodo da Igreja. A ela, isto é, à evangelização, gostaria de dedicar a presente meditação.

A definição mais sucinta e mais impregnante da evangelização é a que se lê na Primeira Carta de Pedro. Nela, os apóstolos são definidos: “aqueles que vos evangelizaram em virtude do Espírito Santo” (1Pd 1,12). Aí está expresso o essencial sobre a evangelização, isto é, o seu conteúdo – o Evangelho – e o seu método – no Espírito Santo.

Para saber o que se entende com a palavra “Evangelho”, a via mais segura é perguntar a quem usou por primeiro esta palavra grega e a tornou canônica na linguagem cristã, o apóstolo Paulo. Temos a felicidade de possuir uma exposição, de seu próprio punho, que explica o que ele entende por “Evangelho”, e é a Carta aos Romanos. O tema dela é anunciado com as palavras: “Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16).

Para o sucesso de todo novo esforço de evangelização, é vital ter claro o núcleo essencial do anúncio cristão, e isto ninguém trouxe à luz melhor do que o apóstolo nos primeiros três capítulos da Carta aos Romanos. Do entender e aplicar à situação atual a sua mensagem depende, estou convencido, se dos nossos esforços nascerem filhos de Deus, ou se se terá que repetir amargamente com Isaías: “Engravidamos e tivemos dores de parto, mas demos à luz o vento; não trouxemos melhoras à terra, e não nasceram novos habitantes para o mundo” (Is 26,18).

A mensagem do Apóstolo naqueles três primeiros capítulos da sua Carta pode ser resumida em dois pontos: primeiro, qual é a situação da humanidade diante de Deus em seguida ao pecado; segundo, como se sai dela, isto é, como nos salvamos pela fé e nos tornamos nova criatura.  Sigamos o Apóstolo em seu estreito raciocínio. Melhor, sigamos o Espírito que fala por meio dele. Quem já fez viagens de avião, terá escutado algumas vezes o aviso: “Afivelem os cintos, estamos passando por uma área de turbulência”. Seria preciso fazer ressoar o mesmo aviso a quem se presta a ler as seguintes palavras de Paulo.

Revela-se do céu a ira de Deus contra toda impiedade e injustiça dos homens que na injustiça impedem a verdade, pois o que de Deus se pode conhecer é entre eles manifesto, já que Deus o manifestou a eles. De fato, os atributos invisíveis de Deus, seu poder eterno e sua divindade, são compreendidos através das coisas feitas, desde a criação do mundo, a fim de que eles não tenham desculpa. Por isso, mesmo tendo conhecido a Deus, nem o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, perderam-se em seus pensamentos fúteis, e seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se tolos e trocaram a glória do Deus incorruptível pela aparência da imagem de um ser humano corruptível e de pássaros, quadrúpedes e répteis (Rm 1,18-23).

O pecado fundamental, o objeto primário da ira divina, é identificado, como se vê, na asebeia, isto é, na impiedade. Em que consiste, exatamente, tal impiedade, o Apóstolo explica imediatamente, afirmando que ela consiste na rejeição em “glorificar” e “agradecer” a Deus. Estranho! Este fato de não glorificar e agradecer a Deus o suficiente parece-nos, sim, um pecado, mas não tão terrível e mortal. É preciso entender o que se esconde por detrás disso: a rejeição em reconhecer Deus como Deus, o não lhe tributar a consideração que lhe é devida. Consiste, poderíamos dizer, em “ignorar” Deus, onde ignorar não significa tanto “não saber que existe”, mas “fazer como se não existisse”.

No Antigo Testamento, ouvimos Moisés que grita ao povo: “Reconhecei que Deus é Deus!” (cf. Dt 7,9) e um salmista retoma tal grito, dizendo: “Reconhecei que o Senhor é Deus; Ele nos fez, nós somos dele” (Sl 100,3). Reduzido ao seu núcleo germinativo, o pecado é negar este “reconhecimento”; é a tentativa, da parte da criatura, de cancelar, de iniciativa própria, quase por prepotência, a diferença infinita que há entre ela e Deus. O pecado ataca, de tal maneira, a própria raiz das coisas; é um “impedir a verdade na injustiça”. É algo de muito mais sombrio e terrível do que o homem possa imaginar ou dizer. Se os homens soubessem, enquanto vivos, como o saberão no momento da morte, o que significa a rejeição de Deus, morreriam de susto.

Tal rejeição tomou corpo, ouvimos, na idolatria, pela qual se adora a criatura no lugar do Criador. Na idolatria, o homem não “aceita” Deus, mas faz para si um deus; é ele a decidir por Deus, não vice-versa. Os papéis são invertidos: o homem se torna o oleiro e Deus o vaso que ele modela a seu bel-prazer (cf. Rm 9,20ss.). Hoje, esta antiga tentativa assumiu uma nova veste. Ela não consiste em pôr algo – nem mesmo a si mesmo – no lugar de Deus, mas em abolir, pura e simplesmente, o papel indicado pela palavra “Deus”. Niilismo! O Nada no lugar de Deus. Mas não é o caso de nos determos sobre isso neste momento; interromperia a escuta do Apóstolo, que, por sua vez, continua o seu firme raciocínio.

Paulo prossegue a sua acusação mostrando os frutos que brotam, no plano moral, da rejeição de Deus. Daí deriva uma dissolução geral dos costumes, uma verdadeira e própria “torrente de perdição” que arrasta a humanidade em ruína. E aqui, o Apóstolo traça um quadro impressionante dos vícios da sociedade pagã. A coisa mais importante a se considerar, em base a esta parte da mensagem paulina, não é, contudo, esta lista de vícios, presente, além do mais, também junto aos moralistas estoicos do tempo. A coisa mais desconcertante, à primeira vista, é que São Paulo faz de tudo isso desordem moral, não a causa, mas o efeito da ira divina. Por três vezes retorna a fórmula que afirma isso de modo inequívoco:

Por isso, os entregou à impureza (...). Por causa disso, Deus os entregou a paixões vergonhosas (...). E, porque não quiseram alcançar a Deus pelo conhecimento, Deus os entregou ao seu reprovado modo de pensar (Rm 1,24.26.28).

Deus, certamente, não “quer” tais coisas, mas ele as “permite” para fazer o homem compreender aonde leva a rejeição a Ele. “Estas ações – escreve Santo Agostinho – embora sejam castigo, são elas também pecados, pois a pena da iniquidade é ser, ela própria, iniquidade; Deus intervém para punir o mal e, da sua mesma punição, abundam outros pecados[1].

Não há distinções diante de Deus entre judeus e gregos, entre fiéis e pagãos: “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3,23). O Apóstolo faz tanta questão de nos esclarecer este ponto, que a ele dedica todo o capítulo segundo e parte do terceiro da sua Carta. É a humanidade inteira que se encontra nesta situação de perdição, não este ou aquele indivíduo ou povo.

Onde está, em tudo isso, a atualidade da mensagem do Apóstolo da qual eu falava? Está no remédio que o Evangelho propõe a esta situação. Ele não consiste em se empenhar em uma luta pela reforma moral da sociedade, para a correção dos seus vícios. Seria, para ele, como querer desenraizar uma árvore começando por lhe tirar as folhas ou os ramos mais expostos, ou então preocupar-se em eliminar a febre, ao invés de tratar a doença que a provoca.

Traduzido em linguagem atual, isto significa que a evangelização não começa com a moral, mas com o querigma; na linguagem do Novo Testamento, não com a Lei, mas com o Evangelho. E qual é o conteúdo, ou o núcleo central disso? O que Paulo quer dizer por “Evangelho” quando diz que ele “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”? Crer no quê? “Manifestou-se a justiça de Deus!” (Rm 3,21): eis a novidade. Não são os homens que, improvisamente, mudaram vida e costumes e se puseram a fazer o bem. O fato novo é que, na plenitude dos tempos, Deus agiu, rompeu o silêncio, estendeu a sua mão por primeiro ao homem pecador.

Mas ouçamos agora diretamente o Apóstolo, que nos explica em que consiste este “agir” de Deus. São palavras que temos lido ou escutado centenas de vezes, mas ama-se escutar sempre de nova as árias de uma bela sinfonia:

Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Esses são justificados gratuitamente pela graça de Deus, por meio da redenção em Cristo Jesus. É ele que Deus expôs como instrumento de expiação com o seu sangue, mediante a fé, para demonstrar sua justiça, deixando sem castigo os pecados outrora cometidos sob a tolerância de Deus; e para demonstrar sua justiça no tempo presente, a fim de ser justo e tornar justo aquele que tem fé em Jesus (Rm 3,23-26).

Gostaria logo de tranquilizar a todos: não tenho o intuito de fazer uma enésima pregação sobre a justificação mediante a fé. Há um perigo em insistir unicamente sobre este tema. Não é uma doutrina que Paulo nos apresenta, mas um evento, antes, uma pessoa. Nós não somos salvos genericamente “pela graça”: somos salvos pela graça de Cristo Jesus; não somos justificados genericamente “por meio da fé”: somos justificados por meio da fé em Cristo Jesus. Tudo mudou “por meio da redenção em Cristo Jesus”. O verdadeiro artigo com que está em pé ou cai a Igreja (o famoso Articulum stantis edt cadentis Ecclesiae) não é uma doutrina, mas uma pessoa.

Fico sem palavras cada vez que releio esta parte da Carta aos Romanos. Após ter descrito, com os tons que ouvimos, a situação desesperada da humanidade, o Apóstolo tem a coragem de dizer que ela mudou radicalmente por causa do que aconteceu poucos anos antes, em uma obscura parte do império romano, por obra de um só homem, ainda por cima, morto em uma cruz! Apenas uma “ponta” do Espírito Santo, um seu fulgor, podia dar a um homem a ousadia de crer e proclamar esta coisa inaudita. Ainda mais que este mesmo homem outrora se tornava “furioso” se alguém ousasse proclamar em sua presença uma coisa do gênero. O diácono Estêvão pagou tal preço...

Em nós, o choque é atenuado por vinte séculos de confirmações, mas pensemos sobre como deviam soar as palavras do Apóstolo a pessoas cultas do tempo. Ele mesmo se dava conta; por isso, sentiu a necessidade de dizer: “Eu não me envergonho do evangelho” (Rm 1,16). Poder-se-ia, de fato, envergonhar-se dele. Não consigo entender como historiadores honestos possam crer (como aconteceu por tanto tempo) que Paulo tenha tirado esta sua certeza dos cultos helenísticos, ou não sei de qual outra fonte. Quem teria imaginado, ou poderia humanamente imaginar, algo do gênero?

Mas voltemos ao nosso intuito específico, que é a evangelização. O que aprendemos da palavra de Deus que acabamos de ouvir? Aos pagãos, Paulo não diz que o remédio à sua idolatria está em voltar a interrogar o universo para das criaturas reportar-se a Deus; aos judeus, não diz que o remédio está em voltar a observar melhor a Lei de Moisés. O remédio não está no alto ou atrás; está adiante, está em acolher “a redenção em Cristo Jesus”.

Paulo, para dizer a verdade, não diz algo totalmente novo. Se fosse ele o autor desta mensagem inaudita, teriam razão aqueles que dizem que o verdadeiro fundador do cristianismo é Saulo de Tarso, não Jesus de Nazaré. Mas estão errados! Paulo não faz outra coisa senão retomar, adaptando-o à situação do momento, o anúncio inaugural da pregação de Jesus: “Cumpriu-se o tempo, e está próximo o Reino de Deus. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Em sua boca, “convertei-vos” não queria dizer, como nos antigos profetas e em João Batista: “Voltai atrás, observai a Lei e os mandamentos”; significa mais: “Dai um passo à frente; entrai no Reino que gratuitamente veio em vosso meio! Crede no Evangelho!”. Converter-se é crer. “A primeira conversão consiste em crer”, escreveu Santo Tomás de Aquino: Prima conversio fit per fidem[2].

Nem o discurso de Jesus, nem o de Paulo se detêm, naturalmente, neste ponto. Em sua pregação, Jesus exporá o que comporta acolher o Reino e Paulo dedicará toda a segunda parte da sua Carta a elencar as obras, ou as virtudes, que devem caracterizar quem se tornou criatura nova. Ao querigma, faz seguir a parênese, ao anúncio, a exortação. O importante é a ordem a ser seguida na vida e no anúncio, de onde começar, pois, já dizia São Gregório Magno “não se chega à fé partindo das virtudes, mas às virtudes partindo da fé”[3]. Toda iniciativa de evangelização que quisesse começar com reformar os costumes da sociedade, antes de buscar mudar o coração das pessoas, é fadada a cair no nada, ou, pior, na política.

Mas não é o caso de insistir nem mesmo sobre isso, neste momento. Devemos, antes, colher o ensinamento positivo do Apóstolo. O que diz a palavra de Deus a uma Igreja que – mesmo ferida em si mesma e comprometida aos olhos do mundo – tem um suspiro de esperança e quer retomar, com novo impulso, a sua missão evangelizadora? Diz que é preciso recomeçar a partir da pessoa de Cristo, falar dele “oportuna e inoportunamente”; jamais dar por certo, ou pressuposto, o discurso sobre ele. Jesus não deve estar no pano de fundo, mas no coração de todo anúncio.

O mundo secular faz de tudo (e infelizmente consegue!) para manter o nome de Jesus longe, ou silenciado, em todo discurso sobre a Igreja. Nós devemos fazer de tudo para mantê-lo sempre presente. Não para nos refugiarmos por detrás dele, mas porque é ele a força e a vida da Igreja. No início da Evangelii gaudium, lemos estas palavras:

Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito.

Que eu saiba, esta é a primeira vez que, em um documento oficial do Magistério, aparece a expressão “encontro pessoal com Cristo”. Apesar da sua aparente simplicidade, esta expressão contém uma novidade que devemos procurar entender.

Na pastoral e na espiritualidade católica, eram familiares, no passado, outros modos de conceber a nossa relação com Cristo. Falava-se de uma relação doutrinal, que consistia em crer em Cristo; de uma relação sacramental, que se realiza nos sacramentos; de uma relação eclesial, enquanto membros do corpo de Cristo, que é a Igreja; falava-se também de uma relação mística ou esponsal, reservada a algumas almas privilegiadas. Não se falava – ou ao menos não era comum falar – de uma relação pessoal – como entre um eu e um tu –, aberta a todo crente.

Durante os cinco séculos que temos às costas – que impropriamente são chamados “da Contrarreforma” –, a espiritualidade e a pastoral católica têm olhado com suspeita para este modo de conceber a salvação. Via-se aí o perigo (de resto, totalmente o contrário de remoto e hipotético) do subjetivismo, isto é, de conceber a fé e a salvação como um fato individual, sem uma verdadeira relação com a Tradição e com a fé do resto da Igreja. O multiplicar-se das correntes e das denominações no mundo Protestante não fazia outra coisa senão reforçar esta convicção.

Entramos agora, graças a Deus, em uma nova fase, na qual nos esforçamos em ver as diferenças, não necessariamente como incompatíveis entre si e, portanto, a serem combatidas, mas, até onde é possível, como riquezas a serem compartilhadas. Neste novo clima, entende-se a exortação para haver uma “relação pessoal com Cristo”. Este modo de conceber a fé nos parece, antes, o único possível desde quando a fé não é mais um fato pressuposto que se absorve quando crianças com a educação familiar e escolástica, mas é fruto de uma decisão pessoal. O sucesso de uma missão não pode ser medido pelo número das confissões ouvidas e das comunhões distribuídas, mas de quantas pessoas passaram de ser cristãos de nome a cristãos reais, isto é, convictos e ativos na comunidade.

Procuremos entender em que consiste, concretamente, este famoso “encontro pessoal” com Cristo. Eu digo que é como encontrar uma pessoa ao vivo, depois de tê-la conhecido por anos apenas por fotografia. Pode-se conhecer livros sobre Jesus, doutrinas, heresias sobre Jesus, conceitos sobre Jesus, mas não o conhecer vivo e presente (insisto sobretudo sobre estes dois adjetivos: um Jesus ressuscitado e vivo e um Jesus presente!). Para muitos, mesmo batizados e crentes, Jesus é um personagem do passado, não uma pessoa viva no presente.

Ajuda-nos a entender a diferença aquilo que acontece no âmbito humano, quando se passa do conhecer uma pessoa ao enamorar-se dela. Alguém pode conhecer tudo sobre uma mulher ou um homem: como se chama, quantos anos tem, que estudos fez, a qual família pertence... Depois, um dia acende uma fagulha e se enamora daquela mulher ou daquele homem. Tudo muda. Quer estar com aquela pessoa, agradá-la, tê-la para si, tem medo de desagradá-la e de não ser digno dela.

Como fazer para que se acenda em muitos aquela fagulha em relação à pessoa de Jesus?  Ela não se acenderá em quem escuta a mensagem do Evangelho, se não se acendeu antes – ao menos como desejo, como busca e como propósito – em quem o proclama. Houve e há exceções; a palavra de Deus tem uma força própria e pode agir, às vezes, mesmo se pronunciada por quem não a vive; mas é exceção.

Para consolação e encorajamento de quantos trabalham institucionalmente no campo da evangelização, gostaria de lhes dizer que nem tudo depende deles. Deles, depende criar as condições para que se acenda aquela fagulha e se difunda. Mas ela acende nas maneiras e nos momentos mais impensáveis. Na maioria dos casos que conheci em minha vida, a descoberta de Cristo que mudou a vida tinha sido ocasionada a partir do encontro com alguém que já tinha experimentado aquela graça, da participação de um encontro, da escuta de um testemunho, de ter experimentado a presença de Deus em um momento de grande sofrimento, e – não posso omiti-lo, pois assim aconteceu também para mim – de ter recebido o chamado batismo do Espírito.

Aqui se vê a necessidade de designar sempre mais os leigos, homens e mulheres, para a evangelização. Eles estão mais inseridos nas tramas da vida em que normalmente se realizam aquelas circunstâncias. Também pela escassez de número, a nós, do clero, torna-se mais fácil sermos pastores do que pescadores de almas: mais fácil apascentar com as palavras e os sacramentos aqueles que vêm à Igreja, do que partir ao alto-mar a pescar os distantes. Os leigos podem nos suprir na tarefa de pescadores. Muitos deles descobriram o que significa conhecer Jesus vivo e estão ansiosos para compartilhar com outros a sua descoberta.

Os movimentos eclesiais, surgidos após o Concílio, foram para muitos o lugar em que fizeram tal descoberta. Em sua homilia na Missa Crismal da Quinta-feira Santa de 2012, a última do seu pontificado, Bento XVI afirmou: “Quem observa a história do período pós-conciliar pode reconhecer a dinâmica da verdadeira renovação, que frequentemente assumiu formas inesperadas em movimentos cheios de vida e que tornam quase palpável a vivacidade inexaurível da santa Igreja, a presença e a ação eficaz do Espírito Santo”. Junto com os bons frutos, alguns desses movimentos produziram também frutos podres. É preciso recordar-se da expressão: “Não jogue o bebê fora junto com a água do banho”.

Termino com as palavras conclusivas do Itinerário da mente para Deus, de São Boaventura, porque elas nos sugerem de onde começar para realizar, ou renovar, a nossa “relação pessoal com Cristo” e nos tornarmos seus corajosos anunciadores:

É este um dom místico e secretíssimo – escreve – que ninguém conhece, senão quem o recebe. Nem o recebe, senão quem o deseja. Nem o deseja, senão quem está inflamado profundamente pelo fogo do Espírito Santo que Jesus Cristo enviou à terra[4].

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Tradução de Fr. Ricardo Farias, ofmcap

[1] Cf. Agostinho, De natura et gratia, 22,24.

[2] Cf. Tomás de Aquino, S.Th. I-IIae, q.113, a. 4.

[3] Cf. Gregório Magno, Homilias sobre Ezequiel, II,7 (PL 76, 1018).

[4] Cf. Boaventura de Bagnoregio, Itinerarium mentis in Deum, VII,4.

quinta-feira, 9 de março de 2023

Maior estudo já feito revela o impacto da caminhada na prevenção da morte precoce

Bignai | Shutterstock
Por Cerith Gardiner

Cientistas da Universidade de Cambridge revelam como apenas 11 minutos de caminhada por dia podem melhorar seriamente a expectativa de vida.

Um alerta para quem não gosta muito de se exercitar: um estudo feito por renomados cientistas comprovou os benefícios da caminhada e a importância da atividade na prevenção da morte prematura.

No estudo, que reuniu informações de 196 artigos revisados ​​​​e contou com 30 milhões de participantes divididos em 94 grupos, os pesquisadores conseguiram verificar que apenas 11 minutos de caminhada rápida por dia podem prevenir uma em cada 10 mortes precoces. A informação é do jornal The Guardian.

A pesquisa mostrou também que, se os indivíduos realizarem 75 minutos de exercícios moderados semanais, eles têm ainda mais chances de evitar a morte precoce. E a boa notícia: isso é metade dos 150 minutos de exercício recomendados pelo Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha.

“Se você é alguém que acha a ideia de 150 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana um pouco assustadora, então nossas descobertas devem ser boas notícias”, compartilhou o Dr. Søren Brage, da unidade de epidemiologia do Conselho de Pesquisa Médica de Cambridge. “Fazer alguma atividade física é melhor do que não fazer nada. Essa também é uma boa posição inicial – se você achar que 75 minutos por semana é administrável, tente intensificá-los gradualmente até a quantidade total recomendada”, afirmou o especialista.

A pesquisa descobriu que dançar, caminhar, andar de bicicleta ou jogar tênis – exercícios que aumentam a frequência cardíaca, mas ainda permitem que você fale – também podem contribuir para a longevidade.

Segundo o estudo, destinar 11 minutos do seu dia à atividade física pode reduzir o risco de alguns tipos de câncer em 7%, doenças cardiovasculares em 17% e diminuir as chances de morte precoce em até 23%. (Mais fatos e números estão disponíveis no British Journal of Sports Medicine.)

O professor James Woodcock, da Universidade de Cambridge, também acrescentou: “O que descobrimos é que há benefícios substanciais para a saúde do coração e redução do risco de câncer, mesmo que você consiga administrar apenas 10 minutos todos os dias”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Paulo VI e a memória dos mártires africanos

Papa Paulo VI em Namugongo,
2 de agosto de 1969 | 30Giorni

A homilia do Papa Montini por ocasião da elevação aos altares dos Mártires ugandenses

Paulo VI e a memória dos mártires africanos

de Davide Malacaria

Em 1964 o Papa Paulo VI canonizava 22 fiéis católicos martirizados na Uganda entre os anos de 1885 e 1887. O mais conhecido destes, Carlos Lwanga, foi queimado vivo, junto com outros doze católicos e dez ou onze cristãos de outras confissões em 3 de junho de 1886 em Namugongo. O Papa Paulo VI, na sua viagem à Uganda em 1969, fez questão de consagrar o altar maior do santuário de Namugongo construído no lugar do martírio de Carlos Lwanga e de seus companheiros. Publicamos um trecho da homilia realizada pelo Pontífice, em 18 de outubro de 1964, por ocasião da elevação aos altares dos Mártires ugandenses.


“Estes mártires africanos acrescentam à lista dos vitoriosos, como é o martirológio, uma página trágica e magnífica, realmente digna de ser acrescentada às maravilhosas já existentes da África antiga, que nós modernos, homens de pouca fé, pensávamos que jamais pudessem ter um segmento tão digno. Quem poderia supor, por exemplo, que às comovedoras histórias dos mártires xilitanos, dos mártires cártagineses, dos mártires da “Massa Candida” uticense dos quais Santo Agostinho e Prudêncio nos deixaram memória, dos mártires do Egito, dos quais conservamos o elogio de São João Crisóstomo, dos mártires da perseguição vandálica, poderiam ser acrescentadas novas histórias não menos heróicas, não menos fulgurantes, dos nossos tempos? Quem poderia prever que às grandes figuras históricas dos santos mártires e confessores africanos, como Cipriano, Felicitas e Perpétua e o sumo Agostinho teríamos um dia associado os caros nomes de Carlos Lwanga e de Matias Mulumba Kalemba, com seus vinte companheiros? E não podemos esquecer também os outros que, pertencendo à confissão anglicana, enfrentaram a morte em nome de Cristo.

Esses mártires africanos abrem uma nova época; oh! não queremos pensar em perseguições e contrastes religiosos, mas de regeneração cristã e civil. Que a África, banhada pelo sangue destes mártires, antes da era nova (oh, queira Deus que sejam os últimos, tão grande e precioso é o seu holocausto!), ressurja livre e redimida. A tragédia, que os devorou, é tão inaudita e expressiva, a ponto de oferecer elementos representativos suficientes para a formação moral de um povo novo, para a fundação de uma nova tradição espiritual, para simbolizar e para promover o traspasso, de uma civilização primitiva, não privada de ótimos valores humanos, mas poluída e enferma e quase escrava de si mesma, a uma civilização aberta às expressões superiores do espírito e às formas superiores da sociedade”.

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (14/16)

O cristianismo e as religiões | Lausanne Moviment

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

III. 3. A verdade como problema entre a teologia das religiões e a posição pluralista

93. O diálogo inter-religioso não é apenas um desejo que parte do Concílio Vaticano II, fomentado pelo atual Pontífice. É também uma necessidade na presente situação do mundo. Sabemos que esse diálogo é a preocupação central da teologia pluralista das religiões nos últimos tempos. Para torná-lo possível, os representantes dessas teologias pensam que se há de eliminar por parte dos cristãos toda pretensão de superioridade e de absolutez. Há de se considerar todas as religiões com igual valor. Pensam que é uma pretensão de superioridade a consideração de Jesus como salvador e mediador único para todos os homens.

94. O abandono dessa pretensão é considerado, portanto, como essencial para a realização do diálogo. Esse é sem dúvida o ponto mais importante com que temos de nos confrontar. Diante desses projetos, há de se mostrar que não significa absolutamente um menosprezo nem uma depreciação o fato de a teologia católica afirmar que tudo o que nas outras religiões é verdadeiro e digno de apreço vem de Cristo no Espírito Santo. Tal é o melhor modo que o cristão tem de expressar seu apreço por essas religiões.

95. Ao comparar algumas das opiniões teológicas expostas no capítulo I com as concepções magisteriais atuais e sua fundamentação na Escritura e na Tradição que foram objeto do capítulo II, constata-se que é comum a umas e outras a intenção fundamental de reconhecer com respeito e gratidão as verdades e valores das diversas religiões. Ambas buscam o diálogo com elas, sem preconceitos e sem afãs de polêmica.

96. Porém, a diferença básica entre as duas apresentações se encontra na posição que adotam diante do problema teológico da verdade, e ao mesmo tempo diante da fé cristã. O ensinamento da Igreja sobre a teologia das religiões argumenta a partir do centro da verdade da fé cristã. Leva em conta, de um lado, o ensinamento paulino do conhecimento natural de Deus e, de outro, expressa a confiança na atuação universal do Espírito. Vê ambas as linhas ancoradas na tradição teológica. Valoriza o verdadeiro, bom e belo das religiões a partir do pano de fundo da verdade da própria fé, porém não atribui em geral à pretensão de verdade das outras religiões uma mesma validez. Isso levaria à indiferença, isto é, a não tomar a sério a pretensão de verdade tanto própria como alheia.

97. A teologia das religiões que encontramos nos documentos oficiais argumenta a partir do centro da fé. Com relação ao modo de proceder das teologias pluralistas, e apesar das diferentes opiniões e das constantes mudanças que nelas se dão, pode-se afirmar que no fundo têm uma estratégia "ecumênica" do diálogo, isto é, preocupam-se por uma renovada unidade com as diferentes religiões. Tal unidade, porém, só se pode constituir eliminando aspectos da autocompreensão própria. Quer-se conseguir a unidade desvalorizando diferenças, vistas como ameaça; considera-se ao menos que hão de ser eliminadas como particularidades ou reduções próprias de uma cultura específica.

98. A modificação da compreensão da própria fé na teologia pluralista das religiões tem múltiplas faces. Notemos as mais importantes: a) no plano histórico sugere-se um esquema de três fases, que chega no pluralismo em seu ponto final: exclusivismo, inclusivismo; nele se pressupõe erroneamente que só a última posição conduz a prestar verdadeira atenção nas outras religiões e cora isso na paz religiosa; b) no plano da teoria do conhecimento, reduz-se a capacidade de verdade das afirmações teológicas (formas de expressão específicas de uma cultura), ou inclusive chega-se a suprimi-la (as afirmações teológicas se equiparam às mitológicas); e c) no plano teológico se busca a plataforma de unidade; a possibilidade do reconhecimento da igual dignidade se paga com a parcialização e redução metodológicas (do eclesiocentrismo ao cristocentrismo, e deste ao teocentrismo, enquanto se sugere um conceito subdeterminado de Deus), e com a modificação e redução dos conteúdos específicos da fé, especialmente na cristologia.

99. Numa época marcada pela idéia de um pluralismo de mercado, essa teologia adquire alto grau de plausibilidade, porém apenas enquanto não se a aplique conseqüentemente à posição do interlocutor nesse diálogo. No momento em que se dê uma destas possibilidades: a) que o interlocutor reconheça a tese da "igual dignidade" historicamente plural; b) que aceite para a religião própria a tese da limitação ou supressão da capacidade de verdade de todas as afirmações teológicas; c) ou modifique seu próprio método teológico e o conteúdo das próprias afirmações de fé de tal maneira que estas só tenham validez em relação com os cânones da religiosidade própria, neste instante termina o diálogo religioso. Com efeito, não resta nada a constatar senão essa pluralidade indistinta. Por isso a teologia pluralística, como estratégia de diálogo entre as religiões, não só não se justifica ante a pretensão de verdade da religião própria, mas dissolve ao mesmo tempo a pretensão de verdade da outra parte.

100. Perante a simplificação histórica, epistemológica ou teológica da relação entre o cristianismo e as outras religiões na teologia pluralista, é preciso partir da visão diferenciada das religiões da declaração Nostra Aetate do Concílio Vaticano II. Nela se descreve o que as religiões do mundo têm fundamentalmente em comum, a saber, o esforço "por responder de várias maneiras à inquietação do coração humano propondo para isso caminhos, isto é, doutrinas, preceitos de vida e ritos sagrados" (NA 2), porém sem que se apaguem as diferenças igualmente fundamentais: as diferentes formas do budismo indicam ao homem caminhos pelos quais este percebe o sentido do ser no reconhecimento da insuficiência radical deste mundo contingente; na riqueza de mitos do hinduísmo, em suas exigências ascéticas e suas profundas meditações se expressa a busca confiante de refúgio em Deus. Com o Islã a Igreja tem mais em comum, pois reconhece que seus adeptos "adoram o único Deus (...) criador do céu e da terra" (NA 3). Reconhecendo com toda clareza o que nos separa, não se pode passar por alto os elementos comuns na história e na doutrina. O cristianismo está unido ao judaísmo por sua origem e uma rica herança comum. A história da aliança com Israel, a confissão de um só e único Deus que se revela nessa história, a esperança em Deus que vem e em seu reino futuro, são comuns a judeus e cristãos (cf. NA 4). Uma teologia cristã das religiões deve ser capaz de expor teologicamente os elementos comuns e as diferenças entre a própria fé e as convicções dos diferentes grupos religiosos. O Concílio situa essa tarefa em uma tensão: por um lado contempla a unidade do gênero humano, fundada em uma origem comum (cf. NA 1). Por essa razão, ancorada na teologia da criação, "a Igreja católica não recusa nada do que nessas religiões há de verdadeiro e de santo" (NA 2). Porém, por outro lado, insiste na necessidade do anúncio da verdade que é o próprio Cristo: "Anuncia e tem a obrigação de anunciar constantemente a Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e em quem Deus reconciliou consigo todas as coisas [cf. 2Cor 5,18-19]" (ibid.).

101. Todo diálogo vive da pretensão de verdade dos que dele participam. No entanto, o diálogo entre as religiões se caracteriza, além disso, por aplicar a estrutura profunda da cultura de origem de cada um à pretensão de verdade de uma cultura estranha. É claro que esse diálogo é exigente e requer uma especial sensibilidade diante da outra cultura. Nos últimos decênios desenvolveu-se especialmente essa sensibilidade diante do contexto cultural tanto das diferentes religiões como do cristianismo e suas teologias. Basta recordar as "teologias em contexto" e a significação crescente do tema da inculturação no magistério e na teologia. A Comissão Teológica Internacional já tratou desses temas (2), de maneira que aqui parecem necessárias apenas duas indicações: (1). Uma teologia das religiões diferenciada, que se baseia na própria pretensão de verdade, é a base de qualquer diálogo sério e o pressuposto necessário para entender a diversidade das posições e seus meios culturais de expressão. (2). A contextualidade literária ou a sociocultural etc. são meios importantes de compreensão, às vezes os únicos, de textos e situações, são possível lugar da verdade, porém não se identificam com a própria verdade. Com isso se indicam a significação e os limites da contextualidade cultural. O diálogo inter-religioso trata com cautela e respeito as "coincidências e convergências" com as outras religiões. Para o trato das "diferenças" tem-se levar em conta que esse trato não deve anular as coincidências e elementos de convergência, e além disso que o diálogo sobre essas diferenças há de se inspirar na doutrina própria e sua ética correspondente; em outras palavras, a forma do diálogo não pode invalidar o conteúdo da fé própria e de sua ética.

102. A crescente inter-relação das culturas na atual sociedade mundial e sua constante interpenetração nos meios de comunicação fazem que a questão da verdade das religiões tenha passado ao centro da consciência cotidiana do homem de hoje. As presentes reflexões consideram alguns pressupostos dessa nova situação; nelas, porém, não se entra na discussão de conteúdos com as diferentes religiões. Esta deveria realizar-se na teologia dos diferentes lugares, ou seja, nos diferentes centros de estudo que estão era contato cultural direto com as outras religiões. Ante a situação de mudança da consciência do homem atual e a situação dos fiéis, é claro que a discussão com a pretensão de verdade das religiões não pode ser um aspecto marginal ou parcial da teologia. A confrontação respeitosa com essa pretensão deve representar um papel no centro do trabalho cotidiano da teologia, deve ser parte integral dessa mesma teologia. Com ela o cristianismo de hoje deve aprender a viver, no respeito pela diversidade das religiões, uma forma da comunhão que tem seu fundamento no amor de Deus pelos homens e se funda em seu respeito para com a liberdade do homem. Esse respeito pela "alteridade" das diferentes religiões está por sua vez condicionado pela própria pretensão de verdade.

103. O interesse pela verdade do outro compartilha com o amor o pressuposto estrutural do apreço de si mesmo. A base de toda comunicação, também do diálogo entre as religiões, é o reconhecimento da exigência de verdade. A fé cristã, porém, tem sua própria estrutura de verdade: as religiões falam "do" Santo, "de" Deus, "sobre" ele, "em seu lugar" ou "em seu nome". Apenas na religião cristã é Deus mesmo quem fala ao homem em sua Palavra. Só esse modo de falar possibilita ao homem seu ser pessoal em um sentido próprio, ao mesmo tempo que a comunhão com Deus e com todos os homens. O Deus tripessoal é o coração dessa fé. Apenas a fé cristã vive do Deus uno e trino. Do pano de fundo de sua cultura surgiu a diferenciação social que caracteriza a modernidade.

104.À única mediação salvífica de Cristo para todos os homens se lhe atribui, por parte da posição pluralista, uma pretensão de superioridade; por isso se pede que o cristocentrismo teológico, do qual se deduz necessariamente essa pretensão, seja substituído por um teocentrismo mais aceitável. Diante disso é preciso afirmar que a verdade da fé não está a nossa disposição. Perante uma estratégia de diálogo que pede uma redução do dogma cristológico para excluir essa pretensão de superioridade do cristianismo, optamos mais propriamente — com o fim de excluir uma "falsa" pretensão de superioridade — por uma aplicação radical da fé cristológica à forma de anúncio que lhe é própria. Toda forma de evangelização que não corresponde à mensagem, à vida, à morte e à ressurreição de Jesus Cristo compromete essa mensagem e, em última análise, ao próprio Jesus Cristo. A verdade como verdade é sempre "superior"; porém a verdade de Jesus Cristo, na clareza de sua exigência, é sempre serviço ao homem; é a verdade do que dá a vida pelos homens para fazê-los entrar definitivamente no amor de Deus. Toda forma de anúncio que procure antes de tudo e sobretudo se impor aos ouvintes ou dispor deles com os meios de uma racionalidade instrumental ou estratégica opõe-se a Cristo, evangelho do Pai, e à dignidade do homem da qual Ele mesmo fala.

Fonte: https://www.vatican.va/

As 7 armas espirituais contra o demônio

© Godong Photononstop AI
Por Maria Paola Daud

Santa Catarina era constantemente tentada pelo demônio. Ela usou estas 7 armas para vencê-lo.

Santa Catarina de Bolonha era de uma família nobre. Na corte, começou a receber aulas de artes e cultura desde muito jovem. Mas era muito notável sua tendência à vida de oração e piedade, além de sua grande compaixão para com os pobres.

Catarina ganhou a simpatia de todos por causa de seus dotes físicos e espirituais. Entretanto, a cada dia, ia crescendo nela o desejo de se consagrar ao Senhor.

Ela tinha só 14 anos quando decidiu abandonar a corte. E, depois da morte de seu pai, ficou sozinha com uma grande fortuna. Porém, embora tivesse muitos pretendentes, sentia que não tinha nascido para se casar.

Ela se juntou a um grupo de mulheres piedosas orientadas à espiritualidade agostiniana. Com isso, conseguiu aprofundar sua fé e a vida de oração.

Não foi nada fácil, já que ela era constantemente atentada pelo demônio, que a enchia de dúvidas quanto à sua vocação.

Porém, no fim, essas provas fortaleceram o seu espírito e iluminaram sua mente para que ela fosse capaz de diferenciar aquilo que vinha de Deus e o que era obra do demônio.

Desses sofrimentos surgiram vários escritos biográficos, entre eles “As sete armas espirituais”.

Bento XVI, em uma de suas ilustres catequeses sobre os santos, nos conta detalhadamente a vida de Santa Catarina e resume o tratado de “As sete armas espirituais”. Confira:

  1. Ter o cuidado e a solicitude em fazer sempre o bem;
  2. Acreditar que, sozinhos, nunca poderemos fazer algo verdadeiramente bom;
  3. Confiar em Deus e, por amor a Ele, não temer nunca a batalha contra o mal tanto no mundo quanto em nós mesmos;
  4. Sempre refletir sobre os fatos e as palavras da vida de Jesus, sobretudo sobre a Paixão e Morte;
  5. Lembrar que devemos morrer;
  6. Ter fixa na mente a memória dos bens do Paraíso;
  7. Ter familiaridade com a Santa Escritura, levando-a sempre ao coração para que ela oriente todos os nossos pensamentos e ações.

O Santo Padre também acrescentou uma recomendação:

 “Um bom programa de vida espiritual, também hoje, para cada um de nós!”

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa Francisco: amar e respeitar Jerusalém como uma mãe

O encontro do Pontífice com a delagação no Vaticano | Vatican News

O significado espiritual da Cidade Santa de Jesus foi tema de reflexão de um grupo de trabalho formado pelo Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso e pela Comissão Palestina para o Diálogo Inter-Religioso. Em audiência no Vaticano nesta quinta-feira (9), Francisco enalteceu aos participantes o valor universal de Jerusalém como cidade de paz, de amor, de diálogo, respeito e veneração, ao invés de projeção ideológica de qualquer dos lados.

Andressa Collet - Vatican News

A Cidade Santa de Jesus, onde Ele cumpriu a sua missão "com a paixão, a morte e a ressureição", direcionou o encontro desta quinta-feira (9), no Vaticano, entre o Papa Francisco e os participantes de uma reunião entre o Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso e a Comissão Palestina para o Diálogo Inter-Religioso. O intitulado "Grupo Conjunto de Trabalho para o Diálogo", criado pelo cardeal Jean-Louis Tauran e pelo Xeque Mahmoud Al-Habbash, ambos recordados pelo Pontífice, escolheu justamente o "significado espiritual de Jerusalém, cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos" como argumento de reflexão.

Na saudação, o Papa lembrou a declaração feita em 2019 sobre "o apelo para que Jerusalém seja considerada 'patrimônio comum da humanidade e especialmente para os fiéis das três religiões monoteístas, como lugar de encontro e símbolo de coexistência pacífica". No Evangelho, continuou Francisco, Jerusalém é "o coração da fé cristã", lugar onde acontecem vários episódios da vida de Jesus e onde "a Igreja nasceu".

Jerusalém, a Cidade da Paz

Jerusalém, assim, "tem um valor universal, já contido no significado do seu nome: 'Cidade da paz", disse o Papa, ao recordar o momento em que Jesus, poucos dias antes da sua paixão, próximo à Cidade Santa, chorou:

“Jesus chora sobre Jerusalém. Não devemos seguir em frente muito depressa. Esse choro de Jesus merece ser meditado, em silêncio. Irmãos e irmãs, quantos homens e mulheres, judeus, cristãos, muçulmanos, choraram e ainda choram por Jerusalém! Também para nós, às vezes, pensar na Cidade Santa nos leva às lágrimas, pois é como uma mãe cujo coração não consegue encontrar a paz por causa do sofrimento dos seus filhos.”

Ao final da saudação ao grupo e pegando essa passagem do Evangelho como referência, veio o encorajamento renovado do Papa Francisco pelo diálogo inter-religioso, "que é tanto importante":

"Este episódio evangélico lembra o valor da compaixão: a compaixão de Deus por Jerusalém, que deve tornar-se a nossa compaixão, mais forte do que qualquer ideologia, de que qualquer dos lados. Maior deve ser sempre o amor pela Cidade Santa, como por uma mãe, que merece o respeito e a veneração de todos."

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF