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sexta-feira, 28 de abril de 2023

São Luís Maria Grignion de Montfort: o precursor dos apóstolos dos últimos tempos

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)
A Igreja Católica celebra no dia de hoje, 28 de abril, a memória de São Luís Maria Grignion de Montfort.

Redação (Sexta-feira, 28-04-2021, Gaudium Press) Puro como um Anjo, zeloso como um Apóstolo, sofredor como um penitente, foi ele o incansável missionário do amor a Jesus, por meio de Maria, na previsão de uma plêiade de almas abrasadas que viriam em tempos futuros. A Igreja comemora a festa deste Herói da Fé no dia 28 de abril.

Estamos falando de São Luís Maria Grignion de Montfort

Corria o ano de 1716. A missão em Saint-Laurent-sur-Sèvre – que seria a última! – começara em princípios de abril. Consumido pelo trabalho, o dedicado pregador foi São Luís Maria Grignion de Montfort acometido por uma pleurisia aguda, mas não cancelou o sermão prometido para a tarde da visita do Bispo de La Rochelle, Dom Étienne de Champflour, em 22 de abril, no qual falou sobre a doçura de Jesus. Contudo, teve de ser levado do púlpito quase agonizante…

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Passados alguns dias, pressentindo a morte que já previra para aquele ano, ele pediu que, quando o pusessem no ataúde, lhe fossem mantidas no pescoço, nos braços e nos pés as cadeias que usava como sinal de escravidão de amor à Santíssima Virgem. Em 27 de abril, o enfermo ditou seu testamento e legou sua obra missionária ao padre René Mulot.

A manhã seguinte parecia anunciar o momento derradeiro. Na mão direita segurava o Crucifixo indulgenciado pelo Papa Clemente XI e na esquerda, uma imagenzinha de Maria que sempre o acompanhara, os quais osculava e contemplava com enorme piedade. Pela tarde, o moribundo parecia travar sua luta extrema contra um inimigo invisível: “É em vão que tu me atacas. Eu estou entre Jesus e Maria. Deo gratias et Mariæ. Cheguei ao fim da minha carreira: pronto, não pecarei mais!”. Ao anoitecer, entregou sua alma a Deus, com apenas 43 anos de idade. Milhares de pessoas vieram venerar os restos mortais de seu apóstolo e Dom Champflour afirmou haver perdido “o melhor sacerdote da diocese”. Este era São Luís Maria Grignion de Montfort, um “padre que vivera com a pureza dum Anjo, trabalhara com o zelo dum Apóstolo e sofrera com o rigor dum penitente”.

Muito difundida é sua doutrina mariana. Sem embargo, menos conhecida é sua vida, tão fecunda apesar de curta, da qual poderemos contemplar alguns breves traços.

Escolhido desde a infância

Nasceu ele a 31 de janeiro de 1673, na cidade bretã de Montfort-La-Cane – hoje Montfort-sur-Meu -, no seio de uma numerosa família com 18 filhos. “O povo de Bretanha entrega-se por completo; é uma raça duma só peça”,4 e Luís herdou este vigor de espírito. Seus pais, Jean-Baptiste Grignion e Jeanne Robert, o levaram à pia batismal no dia seguinte de ter visto a luz, na Igreja paroquial de Saint-Jean.

 

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Quando ainda muito menino, a família se instalou na propriedade do Bois-Marquer, em Iffendic. A velha igreja desta cidade foi o cenário de suas primeiras orações e o berço de sua ardorosa devoção ao Santíssimo Sacramento. Ali fez a Primeira Comunhão e passava horas em recolhimento.

Seu espírito apostólico manifestava-se desde a infância, ao encorajar a mãe nas dificuldades domésticas ou na atenção a seus irmãos, em especial à pequena Luísa, que veio a ser religiosa beneditina do Santíssimo Sacramento, com sua ajuda.

Conheceu o amor a Maria Santíssima no coração de sua mãe, e este amor se tornou a via montfortiana por excelência. Na verdade, “a Santíssima Virgem foi a primeira a escolhê-lo e a elegê-lo um dos seus maiores favoritos, e gravara na sua jovem alma a ternura tão singular que ele sempre Lhe votara”.

No colégio dos jesuítas de Rennes

Aos 12 anos, seus pais o enviaram a Rennes, para estudar no Colégio São Tomás Becket, dirigido pelos jesuítas, famoso por seu curso de humanidades e por formar seus educandos no autêntico espírito cristão. O ensino era gratuito e seus mais de mil estudantes não eram internos, por isso Luís Maria hospedou-se com um tio, o Abade Alain Robert de la Vizuele.

Excelente aluno, dedicava-se ao estudo com afinco, compreendendo sua importância para a vida espiritual e o futuro ministério que tinha em vista. Seu espírito recolhido o afastava do bulício da multidão ruidosa dos rapazes e sua distração era visitar as igrejas da cidade onde havia belas e atraentes imagens de Maria Santíssima. Não há dúvida de que esta terna e sincera devoção foi a salvaguarda de sua pureza e abrigo seguro contra as solicitações do mundo.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Ali conheceu Jean-Baptiste Blain e Claude-François Poullart des Places, dos quais tornou-se grande amigo. Mais tarde, eles lhe serão valiosos apoios em suas fundações. Pertencia à Congregação Mariana do colégio e, com Poullart des Places, organizou uma associação em honra da Santíssima Virgem, visando fazer crescer a dedicação a Ela, “encorajar os seus colegas ao fervor e fazer brilhar aos olhos das almas jovens as belezas do sacerdócio e do apostolado”. Blain, depois da morte do Santo, escreveu suas recordações pessoais e memórias, tornando-se uma das principais fontes históricas da vida dele.

Muito caritativo, inúmeras vezes se fez esmoler para ajudar algum condiscípulo mais pobre do que ele; atitude que se repetiu, com frequência, ao longo de sua vida missionária. “Só falava de Deus e das coisas de Deus; só respirava o zelo pela salvação das almas; e, não podendo conter o seu coração inflamado no amor de Deus, só procurava aliviá-lo, através de testemunhos efetivos de caridade em relação ao próximo”.

Apesar do intenso trabalho ao qual se dedicava, São Luís encontrava tempo para desenvolver seu veio artístico: esculpia com talento, em especial imagens de Maria, pintava, compunha melodias e poemas.

Em Rennes sentiu o chamado definitivo ao estado eclesiástico. Conta um de seus companheiros – a quem ele confidenciara esta graça – ter sido aos pés de Nossa Senhora da Paz, na igreja dos carmelitas, que conheceu sua vocação sacerdotal, “a única que Deus lhe indicava, por intermédio da Virgem Maria”.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Em Paris, o seminário

Em 1693 dirigiu-se a Paris, a fim de preparar-se para o sacerdócio. Deixava para trás a terra natal e a família, e quis percorrer a pé os mais de 300 km que o separavam da capital francesa. Este será invariavelmente seu modo de viajar, seja em peregrinação, seja em missão.

Já nesse remoto século XVII, Paris exercia sobre seus visitantes fascinante atração. Ao entrar na cidade, o primeiro sacrifício feito por Luís foi o da mortificação da curiosidade: estabeleceu um pacto com seus olhos, negando-lhes o lícito prazer de contemplar as incomparáveis obras de arte parisienses. Assim, quando partiu, dez anos depois, nada havia visto que satisfizesse seus sentidos.

Começou os estudos no seminário do padre Claude de la Barmondière, destinado a receber jovens pouco afortunados. Com a morte deste religioso, Montfort se transferiu para o Colégio Montaigu, dirigido pelo padre Boucher. A alimentação ali era muito deficiente e suas penitências tão austeras que lhe abalaram a saúde e o levaram ao hospital. Todos acreditavam que morreria, tão grave era seu estado, mas ele nunca duvidou da cura, pois sentia não haver chegado sua hora. E, de fato, logo se restabeleceu.

Quis a Divina Providência obter-lhe os meios para terminar os estudos no Pequeno Seminário de Saint-Sulpice. O diretor daquela instituição, conhecedor da fama de santidade do seminarista, “encarou como uma grande graça de Deus a entrada deste jovem eclesiástico na sua casa. Para prestar a Deus ações de graças, mandou rezar o Te Deum”. Entretanto, tratava-o com muito rigor, para pôr à prova suas virtudes; começou então para nosso Santo uma via de humilhações, que se prolongou ao longo de toda a sua vida.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Por fim, sacerdote!

Executava com a maior perfeição possível as funções que lhe eram designadas, quer nos serviços mais humildes ou nos estudos, quer na ornamentação da igreja do seminário ou como Cerimoniário litúrgico, no serviço do altar.

Suas primeiras missões remontam a esta época. Algumas eram feitas internamente, para aumentar a devoção de seus confrades; outras consistiam em aulas de catecismo ou pregações, para pessoas de fora do seminário. “Possuía um raro talento para tocar os corações”: às crianças falava de Deus, da bondade de Maria, dos Sacramentos que precisavam receber; aos adultos pedia que santificassem seu labor com as mentes postas no Céu.

Esforçava-se por comunicar a prática da escravidão de amor a Nossa Senhora a seus condiscípulos e estabeleceu no seminário uma associação dos escravos de Maria. Todavia, não faltaram opositores que o taxaram de exagerado. Aconselhado pelo padre Louis Tronson, superior de Saint-Sulpice, passou a designar esses devotos como “escravos de Jesus em Maria”, e vai ser esta expressão que mais tarde ficará consignada no seu Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem.

“À medida que a aurora do sacerdócio despontava no horizonte, Luís Maria sentia mais do que nunca a necessidade de separar-se da Terra a fim de se recolher completamente em Deus”. Foi ordenado em 5 de junho de 1700, dia de Pentecostes, e quis celebrar sua primeira Missa na capela de Maria Santíssima, situada atrás do coro da Igreja de Saint-Sulpice, tantas vezes ornada por ele durante os anos passados no seminário. Blain, seu amigo e biógrafo, resumiu em quatro palavras suas impressões sobre aquele espetáculo sobrenatural: era “um anjo no altar”.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

De Nantes a Poitiers

O espírito sacerdotal do padre Luís Maria sentia insaciável sede de almas e as missões em terras distantes o atraíam sobremaneira. Perguntava-se: “Que fazemos nós aqui […] enquanto há tantas almas que perecem no Japão e na Índia, por falta de pregadores e catequistas?”.

No entanto, tinha Deus outros planos para seu missionário naquele momento. Designado para exercer o ministério na comunidade de eclesiásticos Saint-Clément, em Nantes, na qual se pregavam retiros anuais e conferências dominicais para o clero da região, dirigiu-se para onde o mandava a obediência. Seu coração, porém, se dividia entre o desejo da vida oculta e recolhida e o apelo às missões populares, que tanto o atraíam.

Uma feliz experiência missionária em Grandchamps, nos arredores de Nantes, foi decisiva para tornar patentes seus dotes como evangelizador. Algum tempo depois, o Bispo de Poitiers o chamou para trabalhar no hospital desta cidade, pois uma curta permanência sua anterior por lá deixara tal rastro sobrenatural, que os pobres internos o solicitavam para capelão. Foi também nesta cidade que conheceu Catherine Brunet e Maria Luísa Trichet, com quem fundaria mais tarde, em Saint-Laurent-sur-Sèvre, as Filhas da Sabedoria.

Bênção papal: missionário apostólico

A ação missionária de São Luís Grignion acabou por despertar ciúmes, intrigas e até perseguições por parte dos que o deveriam defender, obrigando-o a regressar a Paris. Iniciava-se, assim, um longo caminho de dor que haveria de continuar nas subsequentes missões por ele empreendidas. A autenticidade de suas palavras e de seu exemplo despertavam tantas incompreensões e calúnias que o missionário decidiu peregrinar a Roma, a pé, a fim de procurar junto ao Papa uma luz que desse o rumo de sua vida. “Tanta dificuldade em fazer o bem em França e tanta oposição de todos os lados” o levaram a pensar se não seria mesmo o caso de exercer seu ministério num outro país.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Recebido com extrema bondade por Clemente XI, este o encorajou a continuar exercendo seu trabalho missionário na própria França. E para “lhe conferir mais autoridade, deu ao padre Montfort o título de Missionário apostólico”. 16 A pedido do Santo, concedeu o Pontífice indulgência plenária a todos os que osculassem seu Crucifixo de marfim, na hora da morte, “pronunciando os nomes de Jesus e Maria com contrição dos seus pecados”.

Fortalecido pela bênção papal e com o Crucifixo afixado no alto do cajado que o acompanhava nas missões, Grignion voltou às terras gaulesas e, impertérrito, sem nada temer das perseguições ou contrariedades, continuou semeando por toda parte o amor à Sabedoria Eterna e a Nossa Senhora, e a excelência do Santo Rosário. Converteu populações inteiras, mudou costumes licenciosos no campo, nas cidades e aldeias, levantou Calvários, restaurou capelas e combateu o espírito jansenista, tão disseminado na época.

No entanto, foi pouco compreendido por muitos eclesiásticos seus contemporâneos e viu desencadear-se sobre si uma onda de interdições. Prosseguia sua missão, sem desanimar, sendo acolhido pelos Bispos das Dioceses de Luçon e La Rochelle, na Vandeia, região que reagirá, no fim daquele século, à impiedade difundida pela Revolução Francesa, sem dúvida como fruto de sua semeadura.

Olhar posto no futuro…

Seria um erro, contudo, considerar São Luís Grignion apenas como um excelente missionário na França do século XVIII. Com o olhar posto no futuro, sua fogosa alma tinha por meta estender o Reino de Cristo, por meio de Maria, e para isto servia-se de uma forma de evangelização que hoje não poderia ser mais atual: “ir de paróquia em paróquia, catequizar os pequeninos, converter os pecadores, pregar o amor a Jesus, a devoção à Santíssima Virgem e reclamar, em voz alta, uma Companhia de missionários a fim de abalar o mundo através
do seu apostolado”.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Num élan profético, previu ele a vinda de missionários que, por seu inteiro abandono nas mãos da Virgem Maria, satisfariam os mais íntimos anseios do Coração de seu Divino Filho: “Deus quer que sua Santíssima Mãe seja agora mais conhecida, mais amada, mais honrada, como jamais o foi”. Não obstante, se perguntava: “Quem serão estes servidores, escravos e filhos de Maria?”. Serão eles, afirmava, “os verdadeiros apóstolos dos últimos tempos, aos quais o Senhor das virtudes dará a palavra e a força para operar maravilhas”. Antevia que seriam inteiramente abrasados pelo fogo do amor divino: “sacerdotes livres de vossa liberdade, desapegados de tudo, sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem irmãs, sem parentes segundo a carne, sem amigos segundo o mundo, sem bens, sem obstáculos, sem cuidados, e até mesmo sem vontade própria”.

São Luís Maria Grignion de Montfort não foi senão o precursor desses apóstolos dos últimos tempos. Modelo vivo dos ardorosos missionários que prognosticava, manteve a certeza inabalável de que, quando se conhecesse e se praticasse tudo quanto ele ensinava, chegariam indefectivelmente os tempos que previa: “Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariæ” – Para vir o Reino de Cristo, venha o Reino de Maria. Reino este que, em germe, já habitava em sua alma, tornando-o o primeiro apóstolo dos últimos tempos.

Por Irmã Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Nós, os Católicos

Católicos | Canção Nova

NÓS, OS CATÓLICOS

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Dizem muitas coisas sobre nós, mas a verdade é que somos seguidores de Cristo. Nossa história começou há muito tempo, quando, vagando pela beira do lago de Genesaré, o Senhor chamou doze de nós, formou-nos como um grupo e nos deu uma missão: ir pelo mundo anunciando a esperança e o amor.

Não temos muitas leis ou normas, como lembrou mais tarde um de nós: “Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns” (1Cor 9,22). Essa coragem não brotou nem teve sua origem no coração daqueles que a testemunharam mais tarde, mas no coração do próprio Deus Encarnado, enquanto caminhava neste mundo.

Lembramos ainda de um dia memorável, quando, juntos com nosso Senhor, encontramos uma mulher que estava prestes a ser apedrejada por causa de seus pecados. Éramos submissos à lei, mas Ele nos ensinou que não há nada superior ao amor; por isso, diante de olhos escandalizados, Ele a tomou pela mão e a perdoou. E para aqueles que continuaram apostando no pecado e não na Graça, fez daquela que perdoou a primeira testemunha de sua Ressurreição.

Outra vez, o Senhor também nos ensinou que não devemos ter pressa. O bem e o mal continuarão juntos, o joio e o trigo crescendo no mesmo campo, testemunham a autonomia do mundo, e que deveríamos ser a alma no corpo, o sal que dá gosto à vida e a lente que faz refletir as cores do mundo.

À medida que convivíamos com Ele, fomos nos transformando Nele; ou melhor, fomos nos cristoformando. A identificação cresceu a tal ponto que, certa vez, um grupo abandonou o Senhor e quando Ele perguntou aos que já se tinham conformado à sua vida se eles também não queriam ir, aquele que seria o seu representante na missão de nos confirmar disse: “Aonde iremos, só o Senhor tem a palavra de vida eterna” (Jo 6,68).

Essa profissão de fé existencial é o que define a natureza do católico. Não temos aonde ir. Só temos o Senhor como garantia. Por Ele, aprendemos a doar a própria vida, pois, como Ele mesmo nos ensinou, é preciso perder esta vida para que a própria vida funcione plenamente. Exemplo que Ele nos deu em primeiro lugar.

Ficamos apaixonados por Ele, o coração nos ardeu, mesmo quando pensamos havê-lo perdido por três dias. Mas, depois que Ele apareceu vivo, Senhor da igreja e da história, nos reuniu ainda mais. Sua presença foi sentida em todo canto e, por onde quer que andássemos, éramos sempre precedidos por Sua presença. A Esperança cresceu dentre nós e começamos a crer que sempre se podia esperar.

Ficando cada vez mais forte na Esperança e na Caridade, Deus quis que estivéssemos em todo o mundo! Ressuscitado e reassumindo plenamente a sua condição e lugar divinos, Jesus acompanha de um lado a outro do mundo a comunidade e finalmente a constituiu naquilo que somos agora: Católicos.

Ao desejar ardentemente, ver em nós, o mesmo amor que tinha pela humanidade o Senhor disse a Pedro: “Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos” (Lc 22,31-32).

O mesmo Simão, que havia dito tempos antes, não temos aonde ir, foi posto à nossa frente. Como emissário do Senhor ele assumiu a responsabilidade de nos guiar e declarou: “Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte”. E, de fato, quando chegou a hora ele foi!

Porque a nossa missão é não deixar apagar no mundo a chama da esperança e acender o fogo do amor, que tudo aquece, o Senhor mandou que fossemos aos ermos e confins da terra, que nos tornássemos universais, e na língua antiga isso queria dizer, Católicos.

Nós, os Católicos, fomos por toda parte e o Senhor nunca nos abandonou. Ele continua, ainda hoje, indicando novos Pedros, que com coragem o segue até a morte. Do meio de nós Pedro nos confirma e nós repetimos seguidamente quando somos desafiados: não temos e não queremos ir a nenhum outro lugar, que não a ti, Senhor.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Teólogo diz que a Igreja se tornou insignificante e irrelevante no Brasil

Shutterstock

Por Pe. José Eduardo

A resposta do pe. José Eduardo de Oliveira.

Lia há pouco a interessante análise de um teólogo sobre o que ele mesmo define como “a insignificância e a irrelevância da Igreja no Brasil”. O interesse do texto é justamente provocado porque ele parte de um presumível fato. Segundo o autor, a Igreja se tornou insignificante e irrelevante.

O problema verdadeiro, ao meu ver, está no rastreio da causa desse fenômeno por ele excogitado. O teólogo, no caso, utiliza dois instrumentos analíticos forjados por Metz e Moltmann para traçar a linha de causalidade que explicaria o porquê do problema: “significado” – uma religião, para ter importância, precisaria responder a questões existenciais reais do indivíduo e, portanto, dar um significado aos seus dramas; “relevância” – do mesmo modo, precisaria tratar de questões que interferem no “nós” da sociedade; e fazê-lo é necessário, sob a pena de se tornar tão insignificante quanto irrelevante.

Até aqui, estou plenamente de acordo.

É então que o autor afirma que, no fundo, a teologia da libertação (TL) teria sido uma reflexão teológica que deu significado à luta do povo e, por isso, forneceu relevância à Igreja, por tratar de grandes questões que impactaram a sociedade. E, também neste sentido, o autor tem certa razão… Explico.

Não é possível entender o grande sucesso da TL descontextualizando-a da circunstância histórica concreta que, então, se vivia. No contexto global da guerra-fria, os regimes políticos da América Latina, além de utilizarem a repressão, usurparam a representação democrática para muito além do que era devido para controlar os atos de terrorismo das guerrilhas comunistas patrocinadas por Cuba e pela URSS, gerando o apelo generalizado pela redemocratização. Essa música de fundo é como que a trilha sonora que toca incessantemente no coração de toda aquela geração. E eles são incapazes de dissociá-la emocionalmente de qualquer coisa que lhe pareça contrastar, ainda que seja de maneira meramente simbólica.

Há outra camada na interpretação daquele período. Quando Raymundo Faoro mostrou que a história do Brasil é a de um povo que se tenta libertar de uma elite patrimonialista que se serve do Estado como propriedade privada, ele descreveu uma realidade que permanece até o momento presente.

Qual é o problema? É que aquilo que Faoro chamava de “Revolução brasileira” é um fenômeno que transcende as correntes políticas e, de certo modo, as usa apenas de maneira utilitária: quando uma bandeira coincide com a “Revolução brasileira”, esta a absorve; quando não, a despreza.

Quando nós nos perguntamos sobre de que lado da “Revolução brasileira” estava a Igreja das décadas de 70-80, a resposta é evidente: naquele contexto, estava do lado do povo que queria a redemocratização para poder exercer novamente o controle sobre as autoridades políticas. A “Revolução brasileira” foi lida e interpretada corretamente pela TL. Ali, ambas coincidiram.

Contudo, a realidade mudou muito.

Quando o PT conquistou o poder, ungido inclusive por nossos líderes, todos os seus maiores representantes se comportaram exatamente como a elite à qual o povo se opõe de modo tão obstinado ao longo de sua história: os escândalos de corrupção, dos quais hoje se pretende fingir a inexistência, demonstraram que a utilização do Estado como propriedade privada de um grupo é a constante que se manteve.

Ademais, a elitização da esquerda através da hegemonia dos meios de produção cultural (universidades e mídia) fez com que a mesma passasse a agir não mais em defesa dos operários, mas em defesa de pautas francamente burguesas, como a agenda verde e a agenda da revolução sexual, temas solenemente ignorados pela esquerda tradicional porque ignorados pelo próprio povo, que é moralmente conservador.

Por fim, quando essa mesma esquerda legitima atos não democráticos como a restrição à liberdade de expressão, a ilegítima invenção de crimes ao arrepio da lei, o abuso de autoridade – que faz coincidirem a vítima, o investigador, o promotor, o juiz e o executor na mesma pessoa –, o controle abusivo sobre a sociedade pela ditadura sanitária, quando essa mesma esquerda se serve da falta de isonomia como meio de se favorecer num teatro miserável de poder, à despeito do povo real e na defesa abstrata de uma democracia boicotada pela sua simultânea infração…, então, o ciclo se fecha! Trata-se de uma esquerda que se tornou, ela mesma, parte do estamento burocrático.

Com esta mudança de cenário, poderia um discurso religioso vendido para validar o que está aí ter alguma relevância?… É óbvio que não!

Acontece que a esquerda eclesiástica é tão enamorada de seu idealismo político que não percebe mais o mundo concreto, está completamente à serviço dessa mesma elite que diz combater. As pessoas percebem-no, e percebem, inclusive, que eles não percebem isso, pois estão encurralados psicologicamente naquele ambiente que não existe mais.

E o povo, perdido e desorientado, procura refugiar-se onde se encontram as respostas mais adequadas para os seus dramas pessoais e para a sua luta histórica. E garanto que se encontra muito mais representado pelos pentecostais, que não apenas reproduzem os seus valores morais conservadores, mas colocam-nos à serviço de um tipo de civilização que este mesmo povo gostaria de protagonizar, povo esnobado por essa elite, povo humilhado pelos seus discursos tão arrogantes quanto depravados.

Quando a crítica aos novos movimentos e comunidades, feita pelo autor, é vista fora da sua matriz ideológica e exposta à realidade nua e crua, então, percebe-se o quanto é risível, e ela mesma insignificante e irrelevante.

Para isso, não é preciso muita inteligência. Basta olhar ao redor e se perguntar: onde pulsa a vitalidade da Igreja? Pois bem! É justamente aí que o povo está!

Não seria a hora de se começar uma reflexão humilde, que escute todos os lados e procure enriquecer as perspectivas, ao invés de ocuparmo-nos com críticas tão amarguradas quanto esnobistas e com a reprodução de um discurso não apenas incoerente com o momento histórico, mas que se tornou hermético e exclusivo de iniciados, esotérico, portanto? Não é possível continuar fingindo que a realidade não existe e que estamos naquele cenário que não existe mais.

A única saída para esse impasse histórico, ao meu ver, é levar as tendências do povo à sério e começar a entender que esse discurso de sinodalidade que o Santo Padre requer de nós não pode ser como o jogo político brasileiro, que é uma encenação para que um grupo continue fazendo exatamente aquilo que sempre fez.

Se não revisarmos as nossas posições, consagrar-nos-emos na mais completa insignificância e irrelevância. E é justamente aí que os nossos irmãos evangélicos encontram o fértil espaço para continuarem a crescer.

That’all folks!

Pe. José Eduardo Oliveira, via Facebook

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Mitos litúrgicos (6/16)

Basílica de Santo Agostinho em Roma | Presbíteros

Mitos litúrgicos

Mito 14. “A comunhão tem que ser em duas espécies”

Não tem.

Embora a Comunhão sob duas espécies tenha um significado simbólico expressivo (Redemptionis Sacramentum, n.100), a Santa Igreja tem a justa preocupação de evitar heresias e profanações, e por isso só permite a Comunhão sob duas espécies em casos particulares e sob rígidas determinações.

Por isso que o Sagrado Magistério, no Concílio de Trento (séc. XVI), definiu alguns princípios dogmáticos á respeito da Comunhão Eucarística sob as duas espécies; princípios estes que foram expressamente relembrados na Redemptionis Sacramentum (n. 100). Assim definiu o Concílio de Trento (n. 930-932): “Por nenhum preceito divino [os fiéis] estão obrigados a receber o sacramento da Eucaristia sob ambas as espécies, e que, salva a fé, de nenhum modo se pode duvidar que a comunhão debaixo de uma [só] das espécies lhes baste para a salvação. (…) Nosso Redentor, como ficou dito, instituiu na última ceia este sacramento e o deu aos Apóstolos sob as duas espécies, contudo devemos confessar que debaixo de cada uma delas se recebe Cristo todo inteiro e como verdadeiro sacramento.”

Partindo desses princípios, e da justa preocupação de evitar profanações, a Santa Igreja estabeleceu que somente em casos particulares seria ministrada a Sagrada Comunhão aos féis sob a aparência do vinho. Nesse sentido, afirma a Instrução Redemptionis Sacramentum (n. 101) que “para administrar aos fiéis leigos a sagrada Comunhão sob as duas espécies, devem-se ter em conhecimento, convenientemente, as circunstâncias, sobre as que devem julgar, em primeiro lugar, os Bispos diocesanos. Deve-se excluir totalmente quando exista perigo, inclusive pequeno, de profanação das sagradas espécies.”

A seguir, a mesma Instrução aponta as formas pela qual a Sagrada Comunhão sob duas espécies pode ser administrada (n. 103): “As normas do Missal Romano admitem o princípio de que, nos casos em que se administra a sagrada Comunhão sob as duas espécies, o Sangue do Senhor pode ser bebido diretamente do cálice, ou por intinção, ou com uma palheta, ou uma colher pequenina.”

Em públicos maiores, tenho presenciado que normalmente a Comunhão Eucarística se por dá intinção, isto é, tomando-se o Corpo de Nosso Senhor na aparência do pão e intingindo-se na aparência do vinho. A mesma Instrução ordena que, para se ministrar a Sagrada Comunhão desta forma, “usam-se hóstias que não sejam nem demasiadamente delgadas nem demasiadamente pequenas e o comungante receba do sacerdote o sacramento, somente na boca.” (n.103) E ainda: “Não se permita ao comungante molhar por si mesmo a hóstia no cálice, nem receber na mão a hóstia molhada. No que se refere à hóstia que se deve molhar, esta deve ser de matéria válida e estar consagrada; estando absolutamente proibido o uso de pão não consagrado ou de outra matéria.” (n. 104) Infelizmente, tem se tornado “moda” uma espécie da Comunhão “self-service”, onde, com o Corpo de Nosso Senhor na aparência do pão na mão, o próprio fiel comungante faz a intinção na aparência do vinho. Pelas normas litúrgicas, em toda a preocupação que a Santa Igreja tem pelo manuseio do Corpo de Deus, esta prática é absolutamente ilícita, como fica claro no parágrafo acima. Mais ainda: esta irregularidade é apontada na mesma Instrução dentro da listagens dos “atos sempre objetivamente graves” por atentar contra a dignidade do Santíssimo Sacramento (n. 173).

 Fonte: https://presbiteros.org.br/

Como confiar a São José nossos sonhos e nossas angústias profissionais

Public domain
Por Hozana

Ninguém dorme bem quando a preocupação é o trabalho e, sobretudo, a falta dele. As contas a pagar, as despesas da casa, a saúde da família, e por aí vai... Imagina então se o chefe da família tem por missão cuidar de Jesus e Maria. Dá pra dormir em paz com uma família desta pra cuidar? Pois para São José dormia. Por quê? A resposta é simples.

Ao longo do Antigo Testamento diversas pessoas foram visitadas por Deus (ou seus anjos) em sonhos: Jacó, José (filho de Jacó), Moisés, Salomão, dentre outros. No Novo Testamento ninguém teve tanto a Santíssima visita em sonhos como São José, pai adotivo de Jesus.

Dos sonhos de São José, dentre tantos ensinamentos, três se destacam:

1. Oração. Em nenhum momento há uma palavra sequer proferida por São José no Novo Testamento. Apesar do silencio exterior, era um homem de profunda intimidade com Deus. Nele prefiguram as palavras de Jesus: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará” (Mt 6,6). No oculto, isto é, no silêncio. Sobre a recompensa… Patrono da Igreja, Pai nutrício de Jesus, Esposo castíssimo de Maria, dentre tantos outros títulos que lhe foram conferidos.

2. Ação. São José não sonhava por sonhar. Quando o Anjo Gabriel lhe apareceu em sonhos, sabia quem ele era intimamente e, por isto, tinha certeza das atitudes que tomaria ao acordar, o que lhe rendeu o título de fiel protetor de Jesus e Maria.

3. Trabalho. Trouxe em si a regra de São Bento: “ora et labora” (ora e trabalha). Sejamos sinceros. Ninguém dorme bem quando a preocupação é o trabalho e, sobretudo, a falta dele. As contas a pagar, as despesas da casa, a saúde da família, e por aí se vai. Imagina então se o chefe da família tem por missão cuidar de Jesus e Maria. Dá pra dormir em paz com uma família desta pra cuidar? Pois para São José dormia. Por quê? A resposta é simples. Confiança em Deus. Ele já tinha no seu coração as palavras que um dia seu Filho diria: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6,33s). São José, ao ver e receber sonhos, demonstrou a plena obediência a esses sonhos, e tornou os sonhos uma realidade de vida e para vida.

Entregar nossos sonhos a São José

Por tudo isto podemos nos voltar a este pai amorosíssimo e a ele entregar nossos sonhos, e porque não, também nossas angústias, doenças, dores, esperança de emprego. Ainda que não tenhamos uma imagem de São José dormindo, façamos como o Santo Padre, Papa Francisco:

“Eu gostaria de dizer a vocês também uma coisa muito pessoal. Eu gosto muito de São José porque é um homem forte e de silêncio. No meu escritório, eu tenho uma imagem de São José dormindo, e dormindo ele cuida da Igreja. Quando eu tenho um problema ou uma dificuldade, eu o escrevo em um papelzinho e o coloco embaixo da imagem de São José, para que ele sonhe sobre isso. Isso significa: para que ele reze por este problema” (encontro com as famílias Filipinas em Manila, em janeiro de 2015).

Assim, certos e seguros da proteção deste pai, com confiança entreguemos a ele nossos sonhos e angústias profissionais, rezando a belíssima oração do Papa Leão XIII.

Oração

A vós, SÃO JOSÉ, recorremos em nossa tribulação, e depois de termos implorado o auxílio de vossa SANTÍSSIMA ESPOSA e cheios de confiança, solicitamos também o vosso patrocínio. Por esse laço sagrado de caridade que vos uniu à VIRGEM IMACULADA, MÃE de DEUS, e pelo amor paternal que tivestes ao MENINO JESUS, ardentemente vos suplicamos que lanceis um olhar benigno sobre a herança que JESUS CRISTO conquistou com Seu Sangue, e nos socorrais nas nossas necessidades com o vosso auxílio e poder.

Protegei, ó guarda providente da SAGRADA FAMÍLIA, o povo eleito de JESUS CRISTO. Afastai para longe de nós, ó Pai Amantíssimo, a peste, o erro e o vício que aflige o mundo. Assisti-nos do alto do Céu, ó nosso Fortíssimo Sustentáculo, na luta contra o poder das trevas, e assim, como outrora salvastes da morte a vida ameaçada do MENINO JESUS, defendei também agora a Santa IGREJA de DEUS, conta as ciladas dos seus inimigos e contra toda a adversidade.

Amparai a cada um de nós com o vosso constante patrocínio, a fim de que, a vosso exemplo e sustentados com o vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, piedosamente morrer e obter no Céu a eterna bem-aventurança. Amém.

São José, rogai por nós.

Reze conosco essa novena de São José Operário e confie a ele todos os seus sonhos e angústias profissionais (clique aqui para se inscrever).

Wellington de Almeida Alkmin, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa em Budapeste: cidade de história, de pontes e de santos

Papa Francisco cumprimenta a Presidente Katalin Novák em sua segunda visita à Hungria  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

No primeiro dia de sua viagem à capital da Hungria, Papa Francisco ressaltou os valores cristãos testemunhados pelo povo até os dias de hoje. Em seu discurso às autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, relembrou a história, o simbolismo das pontes e a vida dos santos, da cidade "chamada a ser protagonista do presente e do futuro".

Irmã Grazielle Rigotti, ascj - Vatican News

É o primeiro dia da visita do Papa Francisco à "pérola do Danúbio". O Pontífice partiu esta manhã para a capital da Hungria, Budapeste, cidade que fica às margens do rio Danúbio, que divide a cidade em duas partes.

A acolhida

Ao chegar à capital, o Papa foi acolhido por algumas autoridades civis e locais e duas crianças com trajes típicos e lhe foi oferecido pão e sal, como símbolos de acolhida. Na Europa Central costuma-se acolher o Sucessor de Pedro com este presente, como aconteceu também em 2021 em Bratislava durante a visita do Papa Francisco à Eslováquia. O pão em sinal do trabalho partilhado do homem e o sal, símbolo da hospitalidade como o sal do evangelho. Formando ainda um corredor, acenando com bandeiras com as cores da Hungria e do Vaticano, havia um grupo de crianças e adolescentes. Após o breve momento de apresentação e de acolhida, dirigiu-se para o Palácio Sándor, residência oficial do Presidente da República da Hungria desde janeiro 2003.

Neste local, após a cerimônia de acolhida no ingresso do palácio, houve um momento de encontro privado, troca de presentes e apresentação da família da presidente Katalin Novák ao Santo Padre. Logo após, encontraram-se com o Primeiro Ministro da República da Hungria, Victor Orbán, e se dirigiram ao antigo Mosteiro Carmelita, onde hoje funciona a sede do governo húngaro. 

Deus o trouxe até nós

Na Sala Maria Teresa, do palácio Sándor, estavam reunidas cerca de 200 pessoas, entre autoridades políticas, religiosas, corpo diplomático, e representantes da sociedade civil e da cultura. Ali, palavras de acolhida foram proferidas pela presidente húngara: "Bem-vindo! em húngaro diz: Isten hozta!  O que significa literalmente: Deus o trouxe até nós!", disse a presidente, que iniciou sua saudação expressando seu contentamento e desejo pela paz, vendo na visita do Santo Padre um momento de graça. "A visita de Vossa Santidade a Budapeste é "kairos”. A hora e o lugar certo para se encontrar, para tocar os sinos, para proclamar uma paz justa. Deus reúne na hora certa e infunde força naqueles que confiam no poder do amor, da unidade e da paz."

Presidente Novák relembrou com gratidão a visita de São João Paulo II no momento em que o país passava por grandes dificuldades, após a queda do comunismo, bem como neste momento, a visita de Francisco vem em um momento difícil para a Hungria e para a Europa. "Nós, húngaros, podemos tocar quase com as mãos a devastadora realidade da guerra", afirmou a presidente quando apresentava, em seu discurso, a realidade do país que tem acolhido mais de um milhão e meio de refugiados da guerra na Ucrânia. 

"Quando estas rosas florescerem nos jardins do Vaticano, pedimos-lhe que pense com bondade em todos aqueles, incluindo os pobres, pessoas que procuram apoio, e também em nós, húngaros, a quem Vossa Santidade oferece alimento espiritual, traz alegria e esperança com a vossa visita e com o vosso serviço", agradeceu a presidente húngara, comentando o presente que foi entregue ao Santo Padre: mudas de rosas que recordam a história de Santa Isabel da Hungria.

Um lugar central na história

O Papa iniciou seu discurso aos presentes na sala do Mosteiro Carmelita ressaltando as qualidades históricas da capital: Budapeste, "não é apenas uma capital elegante e viva, mas ocupou também um lugar central na história: testemunha de significativas viradas ao longo dos séculos, é chamada a ser protagonista do presente e do futuro", sublinhou Francisco.

Ressaltando pontos importantes e significativos da capital, o Pontífice ressaltou particularmente três aspectos marcantes: o fato de ser uma cidade com uma rica em história, simbolicamente marcada por pontes, e terra de muitos santos.

"Como esquecer 1956? E, durante a II Guerra Mundial, a deportação de dezenas e dezenas de milhares de habitantes, com a restante população de origem judaica encerrada no gueto e sujeita a numerosos massacres. Num tal contexto, houve muitos justos valorosos – penso no Núncio Angelo Rotta –, muita resiliência e grande empenho na reconstrução, de modo que hoje Budapeste é uma das cidades europeias com maior percentagem de população judaica, o centro dum país que conhece o valor da liberdade e que, depois de ter pago um alto preço às ditaduras, traz consigo a missão de guardar o tesouro da democracia e o sonho da paz", destacou o Papa relembrando os dolorosos conflitos ocorridos no país.

Sendo um de seus objetivos na viagem a promoção da paz, deu ênfase também a este apelo em seu discurso: "ora a paz não virá jamais da prossecução dos próprios interesses estratégicos, mas de políticas capazes de olhar ao conjunto, ao desenvolvimento de todos: atentas às pessoas, aos pobres e ao amanhã; e não apenas ao poder, aos lucros e às oportunidades do presente", e questionou: "pensando também na martirizada Ucrânia, onde estão os esforços criativos de paz?"

Como um segundo ponto de destaque, o fato de a cidade ter como símbolo as pontes que contém, Francisco apresentou a harmonia e a unidade que daí podem derivar. Citando a própria Constituição húngara, que afirma que «A liberdade individual só se pode desenvolver na colaboração com os outros», alertou sobre o perigo dos populismos autorreferenciais: "tal é o caminho nefasto das «colonizações ideológicas», que eliminam as diferenças, como no caso da chamada cultura do género, ou então antepõem à realidade da vida conceitos redutores de liberdade, quando por exemplo se alardeia como conquista um insensato «direito ao aborto», que é sempre uma trágica derrota."

“É a prática do amor que leva à felicidade suprema. (Santo Estêvão)”

Por fim, o Papa fez memória de tantos santos que nasceram em terras húngaras e inspiram a cidade "marcada pela santidade". "É a prática do amor que leva à felicidade suprema", dizia Santo Estêvão, rei da Hungria, e um dos baluartes da fé católica no país. 

"É um grande ensinamento de fé: os valores cristãos não podem ser testemunhados com rigidez e isolamento, porque a verdade de Cristo inclui mansidão e gentileza segundo o espírito das Bem-aventuranças. Aqui se radica aquela bondade popular húngara, subjacente a certas expressões da linguagem comum, tais como «jónak lenni jó [é bom ser bom]» e «jobb adni mint kapni [é melhor dar do que receber]», destacou Papa Francisco.

Por fim, o Papa alertou sobre a necessidade de uma profícua colaboração entre Estado e Igreja, mas que "para ser fecunda, necessita de salvaguardar bem as devidas distinções", e pediu a proteção dos santos e beatos, filhos de terras húngaras, confiando a eles o futuro do país: "a eles quero confiar o futuro deste país, que me é tão querido. E enquanto vos agradeço por terdes escutado tudo o que tinha em ânimo partilhar, asseguro a minha solidariedade e a minha oração por todos os húngaros, com um pensamento especial para todos aqueles que vivem fora da pátria e quantos encontrei na vida e me fizeram muito bem. Isten, áldd meg a magyart [ó Deus, abençoai os húngaros]!"

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Ele se deixa ver e tocar para que reconheçam a realidade de sua carne

A Incredulidade de Thomas, Caravaggio, Bildergalerie, Potsdam-Sanssouci (30Giorni)

Arquivo 30Dias - 04/2009

Ele se deixa ver e tocar para que reconheçam a realidade de Sua carne

Nos sermões do tempo Pascal Agostinho repete muitas vezes que tu és o próprio Cristo que quis eliminar qualquer dúvida dos apóstolos em resposta à realidade da Sua ressurreição. Entrevista com Nello Cipriani, professor do Instituto Patrístico Augustinianum.

Entrevista com Nello Cipriani de Lorenzo Cappelletti

“Resurrexit tertia die
sicut apostoli,
suis etiam sensibus,
probaverunt”
(Agostinho, De civitate Dei XVIII, 54, 1) Nestes dias de Páscoa, conversamos com Padre Nello Cipriani a respeito de como Jesus, deixando-se ver e tocar, quis dar Ele mesmo testemunho aos apóstolos da realidade de sua ressurreição. 

Em que obra de Agostinho se comenta mais amplamente a ressurreição do Senhor em seu corpo verde?

CIPRIANI: Agostinho fala do tema em vários textos, mas sobretudo nos muitos sermões do tempo pascal, em que Agostinho rezava todos os dias. Nesses sermões são tratados diferentes aspectos do mistério da ressurreição dos mortos. O que mais impressiona é que Agostinho procura fazer entender aos fiéis que é o próprio Cristo que quis tirar as dúvidas dos apóstolos, que pensavam que vendíamos um fantasma: “Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em teu coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e vede”, diz o Senhor ( Lc 24, 38s). E Agostinho, quase in persona Christi , comenta, no Sermão 237: “Se vos parece pouco observar-me, estende-me à mão. Se você parece capaz de me observar e também não de você, apenas me toque, apalpai-me. Ele realmente não disse só que tocou, mas contou-os a apalpá-lo e a tateá-lo. Que vossas mãos verificam, se vossos olhos vos enganam. Toque-me e veja. Que as mãos vos sirvam de olhos. Mas apalpar e ver o quê? Que um fantasma não tem carne e osso, como você vê. Incorreste [Agostinho usa aqui um “tu” genérico] no mesmo erro dos discípulos: emenda-te com eles! Errar é humano, é verdadeiro. Até mesmo Pedro e os apóstolos o fizeram: acreditavam estar vendo um fantasma. Mas não persistiram nesse erro. Para que tu saibas que era totalmente falso o que não tinhas coração, o médico não os deixou ir embora assim, mas, aproximar-se, aplicado-lhes ou remédio. Afaste-se das feridas do coração e, com a finalidade de curar as feridas do coração, trate o seu corpo enquanto ele se cura”.

São palavras que nos permitem compreender, melhor do que muitos raciocínios, qual é o vosso próprio Senhor, a quem deixais ver e tocar, que constituem os apóstolos testemunhas da sua ressurreição.

CIPRIANI: Outro sermão ( Sermão 242 ), Agostinho responde a uma crítica de Porfírio, filósofo neoplatônico do século III autor do Contra os cristãos. Este, entre muitos argumentos contra o cristianismo, também defendia um discurso contra a ressurreição dos corpos, o que, para um neoplatônico, é algo absolutamente inaceitável. Porfírio tentou criticar o relato evangélico de Lucas, apresentando um dilema específico: ou Cristo ressuscitado pediu de comer porque especificou como e, então, não tinha um corruptível, ou, se não especificou comer, por que teria pedido? Agostinho responde citando em primeiro lugar as palavras de Jesus ressuscitado: “'Tendes o que comer? Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado e um favo de mel. Tomou-os, então, e comeu-os, e desejo-lhes o que sobrou [assim soava o texto latino que Agostinho tinha nas mãos]' (cf. Lc24, 41s). Eis a objeção que nos fazem: se o corpo resscita incorruptível, por que Cristo Senhor pos-se a comer? De fato, lestes que ele comeu. Mas talvez o mínimo que você tem fome? Comer foi um gesto demonstrativo de seu poder, não de uma necessidade que tinha”. Um pouco mais adiante, Agostinho responde a outra objeção, que diz que, se ressuscitamos sem defeitos, não é possível entender por que o Senhor preserva as cicatrizes das feridas; Agostinho disse que o gesto de Senhor também neste caso, “foi um gesto de poder, não de necessidade. Quis ressuscitar assim, quis demonstrar-se assim a alguns que duvidavam [ sic resurgere voluit, sic se voluit quibusdam dubitantibus exhibere]. A cicatriz do ferimento permanece em sua carne, eu sirvo para curar a ferida da descrença".

Agostinho refuta os hereges. Episódio das “Histórias agostinianas” de Ottaviano Nelli, afresco da segunda metade do século XIV, igreja de Santo Agostinho, Gubbio, Perugia (30Giorni)

Ele assume as razões já expostas no Sermão 237 . Não é, portanto, uma falta, não é uma necessidade que o Senhor tira para pedir qualquer coisa por vir, mas a sua vontade de atestar isso mesmo, podemos dizer, a sua ressurreição.

CIPRIANI: É claro que o corpo ressuscitado não especifica como: é espiritual; o ressuscitado não tem mais fome. Mas Cristo quis dar a prova para convencer os discípulos da realidade da ressurreição. Um outro sermão, o Sermão 246 , se assemelha um pouco ao Sermão 237 . Como já vimos, no Evangelho de Lucas ( Lc24, 38s) Cristo disse: “Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em seu coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e vejo”. E Agostinho comenta: “Acaso já tinha ascendido ao Pai quando ele diz: 'Apalpai-me e vede'? Deixa-se tocar por seus discípulos, ou melhor, não apenas tocar, mas apalpar, para dar um fundamento à fé na realidade de sua carne, na realidade de seu corpo [ut fides fiat verae carnis veri corporis . De fato, o fundamento da realidade desvia evidenciar-se também por meio do tato do homem [ ut exhibeatur etiam tactibus humanis solidas veritatis]. Deixa-se, então, toque pelas mãos dos discípulos”. Depois, nenhuma referência da mulher a esse Senhor mandou que não tocasse, porque não tinha ascendido a isto, Agostinho disse: “Que incongruência é essa? Os homens só podiam tocá-lo aqui na terra, enquanto as mulheres o poderiam tocar depois que ascendesse ao céu? Mas o que significa tocar, sem criar? Com a fe, tocamos Cristo. E é melhor não tocá-lo com as mãos e tocá-lo com a fé que se sente com as mãos e não me faz lembrar os parágrafos da Cidade de Deus , não finais do livro XVIII, em que Agostinho examina a fabula, sábios de cabelo adotados (ironizados por Agostinho), que dizem que foram as artes mágicas de Pedro que permitem o desenvolvimento e progresso do cristianismo.

CIPRIANI: Diante da objeção de que o cristianismo nada mais é do que fruto da magia, Agostinho rebate dizendo que o cristianismo nasceu e se desenvolveu pela graça divina: o superna gratia factum esse (cf. De civitate Dei XVIII, 53, 2). A propósito disso, no Sermão 247 , também do período Pascal, em que comenta a aparição do Senhor aos discípulos na noite da Páscoa, com as portas fechadas (cf. Jo 20, 19ss), Agostinho escreve: “Alguns ficam tão perturbados com esse fato, que vacilam, ou quase, levantando, contra os milagres realizados por Deus, os preconceitos de suas argumentações [ aferentes contra miracula divina praeiudicia ratiocinationum suarum]. Nós raciocinamos assim: se fosse corpo, se fosse carne e ossos, se o que ressuscitou do sepulcro nada mais era senão o mesmo que tinha sido suspenso ao patíbulo, como pode passar através de portas fechadas? Se fosse impossível, é preciso concluir que não aconteceu. Se, pelo contrário, o cabelo pudesse fazê-lo, como foi possível? Se compreendemos a forma, não é mais um milagre; por outro lado, se você não se considera um milagre, está prestes a negar a ressurreição do sepulcro. Dirige o pensamento aos milagres realizados por teu Senhor desde o início; explica-me o porquê de cada um. O homem não interfere e uma Virgem concebe. Explica-me como uma virgem pode experimentar sem o concurso do elemento masculino. Onde falha a razão, é aí que a fé foi construída. Vês, portanto, um milagre na concepção do Senhor, mas ouves outro, ainda, no parte: dá à luz como virgem e continua virgem. Desde aí, portanto, bem antes que ressuscitasse, o Senhor, ao nascer, já passou por portas fechadas”. Enfim, o poder divino é a verdadeira causa da ressurreição. Se deixarmos de lado o poder e a ação de Deus, qualquer milagre é inconcebível, mas nunca uma ressurreição do Senhor.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF