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segunda-feira, 3 de julho de 2023

A Conversão

A Conversão (carmelitas)

A Conversão

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa[1]

I. Introdução. Nossa intenção é apresentar uma reflexão à luz da fé sobre a conversão cristã. Nessa busca meditativa, a terceira parte ocupará um espaço mais amplo porque nela se deseja uma sistematização que abarque o que podemos chamar teologia da conversão.

Não é infrequente no Brasil e em outras partes do mundo ouvir que fulano ou ciclano se converteu ao catolicismo ou ao protestantismo. Graças a Deus, acontecem inúmeras conversões no mundo inteiro. Todo discípulo do Senhor, no qual arde o fogo do seu amor, deseja levar o maior número possível de pessoas ao encontro com ele, Cristo. Conta-se que quando um determinado casal participava de uma audiência com João Paulo II em Roma aconteceu o seguinte: o Papa passou por diante deles e a mulher disse-lhe em voz alta: “Santo Padre, diga alguma palavra ao meu marido que há dez anos está longe de Deus”. João Paulo II continuou a caminhar um pouco, depois se deteve, pôs a mão sobre o ombro do esposo daquela mulher suplicante e disse-lhe em voz baixa e profunda: “como se está mal longe de Deus!” Aquele homem ficou tão impressionado que naquele mesmo dia confessou-se e voltou à prática cristã.

Como se está mal longe de Deus! A vida não tem sentido real se não nos encontramos com Deus. Dizer isto pode causar admiração, mas é verdade. O ser humano ha sido projetado por Deus. Toda pessoa leva em seu coração um desejo tal de felicidade que não pode ser satisfeito a não ser na união com seu Criador e Redentor.

II. Sagrada Escritura. Na Biblia está claro: para que alguém se converta o mais importante é a ação de Deus, mas, ao mesmo tempo, ninguém se converte se não quer. No Antigo Testamento, Israel, o Povo da Aliança, é também o Povo da conversão. É um povo que volta a Deus que, por sua vez, acolhe o povo arrependido. No Novo Testamento, conversão e Reino são realidades intimamente relacionadas.

Nas línguas bíblicas, o hebreu utiliza sub – que significa voltar, regressar – e naham (arrepender-se, lamentar-se). O grego, utilizou epistréphein y metanoéîn para traduzir sub no sentido de conversão moral ou religiosa. No latim bíblico, convertere traduz sub e correspondentes gregos; poenitere é utilizado para traduzir metanoéîn com a consequente perda do significado mais pleno do vocábulo grego, já que poenitere significa uma das dimensões da conversão e enfatiza mais as obras de penitência.

Todos os términos mencionados são bastante significativos para que entendamos a noção bíblica de conversão já que todos eles, entrelaçados e em mútua compenetração, dão essa idéia de retorno, arrependimento, mudança de rumo; todos eles chamam à volta, à fidelidade e às exigências da própria pertença a Deus.

Na Sagrada Escritura, existem vários exemplos de conversão: Naaman (cf. 2 Re 5,15), Manassés (cf. 2 Cro 33,12-13), Zaqueu (cf. Lc 19,8-9), a Samaritana (cf. Jo 4,4-29), os três mil batizados no dia de Pentecostes (cf. At 2,38-41), o eunuco (cf. At 8, 30ss), Cornélio (cf. At 10,44ss), Paulo (cf. At 9,5ss), Lídia (cf. At 16,14-15). É certo: conversão, fé e arrependimento são inseparáveis. A verdadeira conversão – diz G. Piccolo – nasce de uma dor verdadeira pelo pecado cometido e se manifesta numa vida de devoção a Deus, surge daí um novo estilo de vida (cf. 2 Cor 5,17).

No Novo Testamento, a palavra epistrépho é utilizada uma única vez para indicar o regresso de um discípulo que caiu em pecado, Pedro (cf. Lc 22,32). Os cristãos que pecavam eram exortados à conversão e ao arrependimento, bem como às obras iniciais queridas por Cristo (cf. 2 Cor 12,21; Hb 6,1.6; Ap 2,5). Epistréfo e Metanoéîn referem-se à decisão de voltar a Deus mediante a qual um judeu ou um pagão se une a Deus em Cristo e recebe a benção escatológica e a remissão dos pecados (cf. Mt 18,3; At 3,19). Para os escritores do Novo Testamento a conversão representa uma experiência para ser vivida, a resposta afirmativa do convertido ao Evangelho e a disponibilidade do homem para  a união com Cristo no batismo. A conversão, segundo a Biblia, é, em primeiro lugar, obra de Dios.

Nessa perspectiva, a missão dos Apóstolos, anunciar a Palavra de Deus, acompanha a chamada à conversão já que ao anunciar Jesus cristo proclamam também a necessidade de converter-se e de crer. O batismo é o sacramento que faz com que o ser humano experimente essa nova realidade (cf. At 2,38). Conversão também é abandonar o fermento velho para celebrar a Páscoa  com os ázimos da sinceridade (Cf. 1 Cor 5,7s). De fato, na vida do cristão, que sempre está em processo de conversão, a escuta à Palavra e a recepção dos Sacramentos têm um papel insubstituível no caminho rumo à santidade. A esta conversão contínua chamamos “conversões segundas”.

III. Reflexão teológica. Na vida da Igreja é uma alegria receber novos conversos en seu seio, os novos filhos da Igreja. Quando a ela os introduz no Mistério de Cristo pelo Batismo se dá o que a teologia clássica chamou de “justificação”, conceito este muito próximo ao vocábulo “conversão”.

Para Lutero a justificação era algo que atingiria o homem de uma maneira externa enquanto que Deus não olharia mais os pecados do ser humano redimido graças à justiça de Cristo que os encobre; é como se Cristo estivesse entre o Pai Santo e o homem pecador, mas sem penetrar na interioridade do ser humano. A teologia católica, ao contrário, apresenta a justificação – de acordo com o Concilio de Trento – como uma realidade que toca o mais profundo do ser humano, já que o limpa interiormente do pecado e dá-lhe uma verdadeira renovação e santificação interior. A chamada “justificação primeira” seria a que acontece no batismo. Neste sentido, o Catecismo da Igreja Católica distingue a “conversão primeira”, que se dá no batismo, e a “segunda conversão”, ou seja, a continua mudança de vida com vistas à santificação que culmina na escatologia (cf. CEC 1426-1428).

Depois desse encontro inicial, poderíamos dizer que a vida cristã é uma conversão continuada. O cristão, chamado à santidade, busca a plenitude de vida, a santificação crescente. Mongillo chamaria esta conversão permanente de “docilidade ao Espírito que guia no caminho das bem-aventuranças”. Neste segundo momento, ainda que também naquele inicial (de pecador a justo), tem uma grande importância a Igreja como lugar donde se consegue a novidade de vida pela força da Palavra de Deus e dos Sacramentos.

Na mesma línea, Santo Tomás de Aquino fala de uma “tríplice conversão” ampliando desta maneira o significado do vocábulo em questão. A conversão inicial é aquela que não pede ainda a existência da graça santificante, mas somente uma operação de Deus que atrai o pecador a si. A segunda conversão é a que exige a graça santificante (ou habitual), princípio do mérito, com vistas à bem-aventurança. A terceira conversão é a do amor perfeito, a da criatura que já se encontra no céu, para esta terceira é necessária a graça consumada, ou seja, a glória. Santo Tomás vai ao núcleo da questão e às fases principais da conversão, mas poderíamos enumerar muitas outras fases se considerarmos, por exemplo, uma pessoa que passa do paganismo à glória do céu com diversas etapas religiosas: do paganismo ao monoteísmo, do monoteísmo ao cristianismo de tipo não católico, de um cristianismo não-católico ao catolicismo[2], de católico medíocre (e há tantos!) a católico fervoroso, de católico fervoroso – que busca a santidade – até a conversão ao céu.

Poder-se-ia afirmar que o homem se salva quando se converte, considerando a questão desde a liberdade do homem que aceita livremente o convite de Deus, ou quando é convertido. Conversão é graça de Deus e ele tem a iniciativa. Conversão e salvação vão juntas (cf. Mc 16,15; At 2,38-40). No que se refere à relação graça-liberdade na conversão, há a iniciativa de Deus e, ao mesmo tempo, ninguém se converse contra a sua vontade.

Na vida real, na da pessoa que se converte, devemos considerar tudo isso em diversas perspectivas entrelaçadas. Considerando a atuação da graça de Deus, podemos falar da conversão desde uma perspectiva dogmática; considerando as disposições da pessoa, será desde um perspectiva moral e psicológica; ao considerar a nova vida que se produz no homem podemos tratar a mesma realidade desde uma perspectiva dogmático-espiritual. Conversão e fé vão unidas, e contemporaneamente se enfatizou que no processo de conversão encontra-se a totalidade das dimensões da pessoa. Sendo assim, é preciso integrar em nossa consideração a dimensão intelectual, volitiva, espiritual, moral etc.

Não é necessário dizer muito mais para intuir uma possível classificação das conversões, segundo o elemento que mais esteja presente no processo que leva uma pessoa a decidir-se por responder afirmativamente ao chamado de Deus. Existem conversões intelectuais, enquanto que o elemento que mais se destaca é a busca da verdade por meio do estudo, principalmente; nas conversões morais, o que mais fica patente é o desejo de um ideal mais elevado na própria conduta; nas conversões emocionais, há uma forte sacudida emocional e eficaz ao mesmo tempo.

Há também os chamados itinerários de conversão ou caminhos de conversão, que considerados teologicamente levam-nos a sistematizar certos elementos presentes, de uma maneira ou outra, em todo itinerário rumo à fé. Para que a decisão de crer esteja arraigada na realidade, estão os preâmbulos da fé, que são verdades religiosas ou morais conhecidas pela razão natural: existência de Deus, imortalidade da alma etc. Já que ninguém pode crer sem um prévio conhecimento do que “deve” crer, está a pregação do Evangelho, à qual uma pessoa pode responder afirmativamente (fé) ou negativamente. Dado que o ser humano encontra-se aberto à transcendência e é um ser contingente (não necessário), dá-se o que podemos chamar pergunta pelo sentido da vida, que exige o interrogar-se sobre a questão “Deus”. Um momento fundamental do processo de conversão se dá na busca das razões para crer. Finalmente, a percepção pessoal da bondade e do dever de crer culmina este processo teológico da conversão já que aqui se da uma relação essencial entre fé e fim último do homem. Al falar do dever de crer não se pense, no entanto, em assentimento obrigatório, a pessoa sempre é livre para crer ou não, referimo-nos à percepção da necessidade de crer “para mim”.

Ao concluir, gostaria de ressaltar que, ainda que falemos de tantos processos, a conversão é, em definitiva, obra da graça de Deus e resposta livre do homem. Estas duas coordenadas nos dão os elementos para que façamos nossa reflexão, que foi que o que buscamos nas presentes considerações. Um elemento importantíssimo: cada conversão é uma história pessoal; daí a dificuldade para sistematizar os elementos da conversão.

IV. Conclusão. Como se está mal longe de Deus! As vezes as pessoas vão por aí como “Joãozinho feliz”, assim se expressava Joseph Ratzinger em sua “Introdução ao Cristianismo”. Joãozinho feliz, “como ele achasse por demais pesada e incômoda a barra de ouro que ganhara, trocou-a primeiro por um cavalo, depois trocou o cavalo por uma vaca, a vaca por um ganso e o ganso por uma pedra de amolar e mesmo esta ele acabou lançando na água, pois não se dava tento do prejuízo, pelo contrário: achava que tinha ganho, finalmente, o dom precioso da liberdade completa”[3]. Quantas pessoas trocam a barra de ouro do encontro com Deus e da vida nova em Cristo por uma suposta liberdade mal entendida! Essa historinha dá para pensar mais, deixo-a nas mãos do leitor.


[1] Para o presente estudo foram utilizados os seguintes artigos e dicionários (bibliografia resumida): D. MONGILLO, Dizionario di Omiletica 1998, 332-335; J. ALONSO, Diccionario de Teología 2006, 181-187; A. WENIN, Diccionario Akal Crítico de Teología 2007, 309-311; G. PICCOLO, Dizionario di teologia evangélica 2007, 147-148; L. M. FERNÁNDEZ, Diccionario Teológico del Catecismo de la Iglesia Católica 2004, 70-71; X. PIKAZA, Diccionario de la Biblia, Historia y Palabra 2007, 233.

[2] Neste caso se adverte que a palavra “conversão” não é a mais correta, já que é o batismo que introduz na Igreja de Cristo que subsite na Igreja Católica (cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium, nº 8); quando um cristão não-católico quer fazer-se católico a Igreja fala de “entrar em plena comunhão com a Igreja Católica”. Isso é muito importante para o ecumenismo e sem dúvida poderia ser matéria para uma futura reflexão.

[3] Joseph RATZINGER, Introdução ao Cristianismo, São Paulo: Loyola, 2005, p. 25.

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Documento Sinodal: Instrumentum Laboris

Instrumentum Laboris (Vatican News)

DOCUMENTO SINODAL: INSTRUMENTUM LABORIS

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Documento Sinodal: Instrumentum Laboris  

(Primeira sessão da Assembleia Sinodal) – outubro de 2023 

A Igreja vive o Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade na Igreja que terá a sua primeira sessão em outubro desse ano, em Roma. A palavra sínodo significa caminhar juntos, ou seja, todo o povo é chamado a caminhar junto com a Igreja, em vista de uma renovação. De tempos em tempos, a renovação é necessária, em todos os sentidos, seja na maneira de evangelizar, na formação dos novos padres, na catequese e até mesmo na celebração da missa.  

Assim, é necessário mudar a linguagem e de que maneira abordaremos certos assuntos a grupos de pessoas específicos. É preciso sair de nossas sacristias e ir ao encontro das pessoas. O Papa Francisco sempre insiste, desde o início de seu pontificado, que o pastor tem que sentir o cheio das ovelhas e é preciso estar junto delas. Mostrar aquilo que está no DNA da Igreja, que é ser misericordiosa, do mesmo modo que Deus é misericórdia. Isso também é uma forma da Igreja se renovar, é nessa tecla que o Papa insiste desde que assumiu o pontificado.  

Este sínodo teve seu início em 2021, quando o Papa o convoca em outubro daquele ano, iniciando nas Igrejas locais. A primeira pergunta que suscitou ao povo de Deus naquele momento era o que eles entendiam por Sínodo e se sabiam o que significa o termo “caminhar juntos”. O Espírito Santo é sempre o protagonista da missão, desde quando Jesus enviou os discípulos e deu início à Igreja primitiva. O Espírito Santo ilumina a vida de fé do cristão, desde o seu batismo até a vida adulta. Esse mesmo Espírito guia e conduz a Igreja e conduz os trabalhos do Sínodo dos Bispos.  

Os bispos e os demais membros sinodais, lembrando que o Papa Francisco abriu a possibilidade da participação de presbíteros, leigos, leigas, consagrados e até bispos eméritos, revisarão tudo aquilo que o povo de Deus escreveu na etapa diocesana e, na medida do possível, colocarão em prática. Por isso, o sínodo significa caminhar juntos. O cristão é aquele que traz consigo a alegria e deve irradiar essa alegria aos demais. A Igreja deve se encher dessa alegria para evangelizar e ser sal na terra e luz no mundo.  

Ainda na assembleia que acontecerá em Roma, em outubro, os bispos escutarão com atenção aquilo que foi trabalhado na fase diocesana. Volto a dizer, como já insistiu por diversas vezes o Papa Francisco que é preciso retomar a cultura do encontro, ou seja, ir ao encontro daqueles que foram batizados e que por algum motivo abandonaram a fé.  

Desde o Concílio Ecumênico Vaticano II, a participação dos leigos é de extrema importância na vida da Igreja e é preciso escutá-los para que a haja uma renovação. É claro que sempre na devida proporção e para que não percamos o mistério central na Eucaristia.  

O documento “Instrumentum Laboris” diz ainda que uma Igreja sinodal é aquela em que todos se reconhecem irmãos a partir do batismo, pois nos tornamos membros do Corpo de Cristo que é a Igreja. Ele é a cabeça e nós somos os membros, e ainda somos convidados a cuidar uns dos outros. Se um membro se desliga da cabeça e abandona o corpo, temos que ir atrás desse membro para que se junte ao corpo novamente e se reconecte à cabeça.  

Uma Igreja sinodal só pode existir se haver comunhão entre os membros, sejam eles clérigos ou leigos. No início da missa, aquele que preside diz: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco” E todo o povo responde: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. A Santíssima Trindade deve ser exemplo de comunhão para todos nós, e é em nome dela que nos reunimos não somente para celebrar a Missa, mas em vários outros momentos de oração e de reflexão. É em nome da Santíssima Trindade e em perfeita comunhão de amor com ela que a Igreja se reúne para realizar o Sínodo. É importante que a Igreja seja sempre sinodal, ou seja, que tenha sempre o desejo de caminhar junto, leigos e clérigos, e em suas estruturas e instituições.  

O documento ainda diz que uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, por isso, teve a fase diocesana, para poder ouvir o povo de Deus e a partir dos documentos que as dioceses enviaram para a Santa Sé, o Papa com os demais membros do Sínodo, estudarão para que na medida do possível, o que foi enviado seja colocado em prática. É preciso que a Igreja esteja próxima do povo e caminhem juntos para anunciar o Reino de Deus.  

Uma Igreja sinodal é uma Igreja do encontro e do diálogo, ou seja, uma Igreja que caminha junto com o povo. Quem suscita no coração de todos aquilo que de fato deve ser o Sínodo é o Espírito Santo, que é o protagonista da missão e aquele pelo qual acontecem os sacramentos.  

Uma Igreja sinodal é uma Igreja aberta e que acolhe a todos. Jesus não condenou ninguém, pelo contrário, perdoava e amava a todos, até os próprios inimigos. Jesus nos ensinou o mandamento do amor e a Igreja como testemunha de Cristo nos dias de hoje deve viver o amor e não condenar ninguém.  

Sejamos uma Igreja samaritana que acolhe a todos com amor e misericórdia, sejamos comunhão e não façamos nada da nossa cabeça, mas usemos aquilo que a Igreja nos ensina. Rezemos pelo Sínodo e caminhemos juntos com a Igreja para que o Evangelho continue a ser anunciado nos dias de hoje.  

Sejamos uma Igreja em saída, conforme nos pede o Papa Francisco, sejamos uma Igreja renovada e que cada um possa trazer de volta um fiel que tenha se afastado da Igreja. Peçamos ao Espírito Santo que suscite sempre “ventos novos” para a Igreja e que saibamos usar a linguagem adequada para nos comunicar com a sociedade de hoje.  

Segue abaixo a oração que podemos fazer pedindo a luz do Espírito Santo para o Sínodo:  

Espírito Santo! 

Eis-nos aqui, diante de Vós, reunidos em vosso Nome.
Nosso defensor,
Vinde,
ficai conosco;
tomai posse do nosso coração.
Mostrai-nos o destino,
caminhai conosco,
conservando-nos em comunhão.
Ai de nós, pecadores, se cairmos na confusão!
Não o permitais.
Iluminai a nossa ignorância,
libertai-nos da parcialidade.
Senhor que dais a vida,
em Vós, a unidade,
convosco, a verdade e a justiça;
em marcha até à vida sem ocaso: nós vos suplicamos.
Vós que soprais onde e como desejais,
a todos dando a possibilidade de passar, com Jesus, ao Pai: nós vos adoramos,
agora e sempre. Amém.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Amazônia, mulheres que fazem a Igreja

Uma mulher indígena da Amazônia (Tiago Miotto Cimi)   (@Cimi

Na edição de julho da revista mensal "Donne Chiesa Mondo" do jornal L'Osservatore Romano, que saiu no dia 1º de julho, o artigo sobre a contribuição das mulheres para a vida da Igreja católica na imensa região da América Latina. Com mais de 5.500 fiéis por sacerdote, são os leigos e leigas na Amazônia que impulsionam as comunidades e são muitas as ministras que presidem a liturgia, conduzem orações e cantos em funerais e vigílias, proferem homilias.

De Lucia Capuzzi

"Tão invisíveis quanto imprescindíveis". Esses são os dois adjetivos com os quais a Assembleia Eclesial da América Latina, experiência inédita realizada em Cidade do México, em novembro de 2021, sintetizou a condição da mulher na Igreja nesta região. Os números confirmam o papel importante do componente feminino: as catequistas são mais de 600 mil, as agentes pastorais engajadas apenas no campo educativo chegam quase a um milhão. A vida cotidiana, porém, evidencia o quanto as mulheres leigas e religiosas ainda são relegadas à periferia eclesial. Por isso, a Assembleia pediu fortemente para "incluir as mulheres de uma vez por todas na liturgia, nas decisões e na teologia".

Apesar da riqueza da reflexão teológica feminista e feminina, a esfera litúrgica é provavelmente aquela em que a presença das mulheres se tornou mais significativa. Na liturgia, o processo de encarnação do Concílio se revela na imensa região entre o Rio Bravo e a Terra do Fogo percorrida por seus bispos desde a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Medellín em 1968.

Dois pilares de renovação: a inculturação dos ritos e práticas e o dinamismo feminino. Em ambos os casos, mais que um projeto codificado, foi uma resposta à realidade latino-americana. Na região, os indígenas são 8% dos habitantes, os afro-americanos 20% e praticamente todos são resultado da mestiçagem, da mistura de etnias, povos e culturas após o Descobrimento-Conquista. Com, em média, mais de 5.500 fiéis por sacerdote, quase o triplo da Europa, os leigos e, sobretudo, as leigas sustentam as comunidades cristãs para as quais a Eucaristia dominical tem uma importância crucial. Como os padres são escassos, a Missa é frequentemente substituída pela celebração da Palavra.

"Nas aldeias de Belém do Alto Solimões, há muitas ministras. Elas presidem a liturgia, desde o sinal da cruz inicial até a despedida final. Mesmo quando consigo ir celebrar, deixo que elas guiem e também façam a homilia, enquanto me limito à consagração eucarística", disse o frei Paolo Maria Braghini, missionário capuchinho italiano há quase vinte anos na Amazônia brasileira. Lugar onde o peso laical na transmissão e cuidado da fé católica é decisivo. "É bom que os fiéis sejam protagonistas. De fato, as fiéis aqui como agentes pastorais são fundamentais. Não só pelo grande número. São dinâmicas, fortes, criativas, resistentes. É justo que tenham reconhecimento", sublinhou o religioso. Finalmente, estão tendo agora."

O divisor de águas foi o Sínodo da Amazônia realizado em outubro de 2019 e culminando com a Querida Amazônia. Já o documento final, assumido pela exortação, pedia a revisão do Motu proprio Ministeria quaedam para que as mulheres pudessem ter acesso aos ministérios de leitora e acólita. Um convite que o pontífice aceitou em janeiro de 2021. Duas amazonenses – as equatorianas Aurea Imerda Santi e Susana Martina Santi, do povo quéchua – foram as primeiras leitoras e acólitas oficiais da Igreja católica. "Foi um bonito presente. Entre nós Ticuna sempre foram a mulheres que mantiveram a fé católica. Agora, porém, sentimos que a Igreja nos reconhece e valoriza", disse Magnólia Parente Arambula, indígena e missionária de Nazaré, na Amazônia colombiana. Uma aldeia de 1.017 habitantes sobre a qual gravita uma galáxia de comunidades satélites de algumas dezenas de pessoas que, há dez anos, Magnólia evangeliza. "E sou evangelizada", disse ela.

A liturgia Ticuna tem traços marcadamente femininos. “Sobretudo nos funerais e na vigília que os precede, as mulheres dirigem as orações e os cantos. Quanto à Eucaristia, as fiéis são encarregadas do ofertório, no qual levam o seu trabalho como oferenda ao Senhor, representado por pequenos artefatos artesanais ou produtos agrícolas. Por fim, nos 'tempos altos' do ano litúrgico, como o Natal e a Semana Santa, muitos dos ritos são celebrados por mulheres".

Não é fácil falar de 'liturgia amazônica'. A floresta é a casa de 400 culturas e línguas diferentes na concepção da vida e da fé. Portanto, com diferentes modos de “entrar no olhar que Deus tem sobre nós”, como Romano Guardini definiu a liturgia. Por isso, a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), fruto do caminho pós-sinodal, lançou desde 2020 um processo de estudo para encontrar um significativo denominador comum para todos os povos originários da região. A base, real e não meramente teórica, para a elaboração de um rito amazônico que se somasse aos outros 23 que compõem a catolicidade.

"Rito não significa apenas celebrações. Ele reúne hábitos, costumes, visões cosmológicas e antropológicas. Por isso, não podemos ter pressa. O primeiro passo foi formar uma comissão de bispos, antropólogos, pastoralistas e iniciar os trabalhos no campo. A análise partiu de Manaus, no Brasil, no coração da Amazônia. Depois, vai se repetir nas dioceses antes de chegar a algo a ser proposto ad experimentum", explica Eugenio Coter, italiano que se mudou para Pando, na Bolívia, onde é vigário apostólico e representante dos bispos amazônicos na presidência da Ceama. O modelo é o do rito zairense. O mesmo que inspirou também o episcopado mexicano que, na última assembleia geral, decidiu apresentar à Santa Sé a proposta de incluir na missa alguns rituais típicos da cultura maia.

Foi formulado pela Diocese de San Cristóbal de las Casas, em Chiapas, onde mais de 70% da população é indígena. Três, em particular, as adaptações sugeridas: uma oração inicial conduzida pelo diretor, um indígena leigo de fé madura e cuja autoridade é reconhecida pela comunidade, uma dança típica após a comunhão e o serviço das 'incensadoras' para marcar o ritmo da celebração. “É principalmente um papel feminino. Incluí-lo de forma oficial – conclui o cardeal Felipe Arizmendi, um dos promotores da Missa maia – é um pequeno reconhecimento da ação de evangelização que dá vida às nossas comunidades”. Quase sessenta anos depois, a inculturação e a valorização da mulher são os dois caminhos pelos quais o Concílio continua caminhando pelo Continente.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Tomé e a relíquia do cinto de Nossa Senhora

O Santo cinto de Nossa Senhora (Guadium Press)

Depois de ser elevada aos céus de corpo e alma, reza uma piedosa e antiga tradição que a Virgem Maria teria deixado um presente ao apóstolo São Tomé.

Redação (03/07/2023 08:09, Gaudium Press) Quem, saindo de Florença, percorre vin­te quilômetros em direção ao noroeste, encontra às margens do rio Bisenzio uma cidade industrial cu­jas fábricas lhe valeram a alcunha de “Manchester da Itá­lia”. Trata-se de Prato. Essa cida­de, apesar da feiúra de suas indústrias e da simplicidade de seu nome, além de ter sido um pólo ar­tístico mui­to afamado da his­tó­ria da Tos­ca­na, abriga, em seu cen­tro velho, uma das relíquias mais tocantes da Mãe de Deus.

O ceticismo de São Tomé

É bem conhecida a história de São Tomé, um dos doze Apóstolos, que por estar ausente quando da aparição do Senhor após a Res­surreição, não quis nela acreditar, apesar do testemunho de seus com­panheiros. Só oito dias mais tarde, quando Jesus lhes apa­receu novamente, Tomé pôde constatar a verdade, colocando seus dedos na chaga do Salvador. Aí, sim, acreditou.

Passaram-se os anos e Tomé tor­nou-se um dos Apóstolos mais intrépidos, levando o Evangelho até os confins da Pérsia e da Índia. Segundo a bela tradição que chegou até nós, encontrava-se ele numa dessas longínquas regiões quando recebeu um recado de São Pedro, de que retornasse sem demora a Jerusalém, pois Maria, a Mãe do Senhor, iria deixá-los e desejava antes despedir-se de todos. Empreendeu Tomé a sua volta e mais uma vez chegou atrasado. A Mãe de Deus já havia su­bi­do aos céus.

São Tomé, mais uma vez levado pelo ceticismo, relutou em acreditar na Assunção da Santíssima Vir­gem e pediu a São Pedro que abris­se o sepulcro, para poder comprovar com os seus próprios olhos o ocorrido. Atendido o seu pedido, constatou que no túmulo vazio en­contravam-se apenas muitos lírios e rosas. Nesse mesmo momento, ao levantar suas vistas aos céus, Tomé viu Nossa Senhora na Glória, que, sorridente, desatou o cinto e lançou-o em suas mãos, co­mo símbolo de maternal bênção e proteção.

O cinto de Nossa Senhora
Relíquia do cinto de Nossa Senhora (Guadium Press)

O cinto de Nossa Senhora

Este cinto é a relíquia que se ve­nera na Catedral de Prato. Chegou de Jerusalém no ano de 1141, trazido por Michele Dagomari, ha­bitante da cidade que estivera na Terra Santa. No começo, nin­guém deu muita importância àque­la re­lí­quia de autenticidade não comprovada. Mas em 1173 a Providência valeu-se de um fato extraor­di­nário para que todos a reconhe­ces­sem como verdadeira.

No dia de Santo Estêvão, o pa­droeiro da cidade, era costume co­locarem-se todas as relíquias em ci­ma do altar para com elas aben­çoar os doentes e endemoniados. Na ocasião, foi exposta também a caixa contendo o cinto de Nossa Senhora. Aproximaram então uma possessa que, no momento em que tocou a caixa começou a afirmar com insistência que esse cinto era da Santíssima Virgem, e no mesmo instante viu-se liberada de seu mal.

Iniciou-se então o culto público à sagrada relíquia. O próprio São Francisco de Assis, em 1212, este­ve com seus primeiros frades em Prato para venerá-la. Porém, se esse culto já conta com mais de oito séculos de história, a devoção ao santo cinto de Nossa Senhora é ainda muito mais antiga: foi instituída por Santo Agostinho, que de­terminou a constituição de uma Confraria do Santo Cinto, até hoje existente entre os agostinianos.

A relíquia é exposta à venera­ção pública cinco vezes ao ano: na Páscoa, nos dias 1.º de maio, 15 de agosto, 8 de dezembro e no Natal. Nessas ocasiões, ela é colocada no púlpito externo, à direita da Catedral, defronte à bonita pra­ça medieval da cidade.

Um dos lugares de peregrinação mariana mais frequentados da Itália

Essa devoção faz com que Prato seja até hoje um dos lugares de peregrinação mariana mais frequentados da Itália. São Tomé tor­nou-se um dos Apóstolos mais intrépidos, levando o Evangelho até os confins da Pérsia e da Índia.

Se você, leitor, algum dia passar por Prato, não deixe de entrar na Catedral — aliás, uma linda rea­lização do estilo gótico toscano — e procure do lado esquerdo a Capella del Sacro Cingolo, onde poderá venerar tão extraordinária relíquia. Peça à Santíssima Vir­gem as graças de que necessita e não deixe de admirar os maravi­lhosos afrescos onde estão retra­tados, além da entrega do cinto a São Tomé, outros episódios da vida de Nossa Senhora.

Maria, mãe das misericórdias ini­magináveis, quis mostrar a São Tomé e a todos nós que, mesmo sendo teimosos em acreditar, e ainda que estejamos imersos em nossas misérias, Ela sempre esta­rá dis­posta a fazer milagres portentosos para nos confirmar na Fé e atar-nos a Ela com seu Cinto, protegendo-nos com sua maternal ter­nura.

Por Irmã Mariana Arráiz de Morazzani, EP.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

domingo, 2 de julho de 2023

O Papa ao novo prefeito: um Dicastério para dar razão à nossa esperança

Dom Víctor Manuel Fernández - Argentina (Vatican Media)

Carta de Francisco a dom Víctor Manuel Fernández, que dirigirá o Dicastério para a Doutrina da Fé.

Vatican News

Neste sábado (1°/07), o Papa Francisco agradeceu ao cardeal Luis Francisco Ladaria Ferrer, S.J., pela conclusão de seu mandato como prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé e como presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, e nomeou para sucedê-lo nos mesmos cargos dom Víctor Manuel Fernández, atual Arcebispo de La Plata, na Argentina. Ele assumirá suas funções em meados de setembro de 2023.

O Pontífice enviou uma carta ao novo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, dom Víctor Manuel Fernández, na qual recorda que como novo Prefeito do mesmo Dicastério, confia a ele uma tarefa que considera muito valiosa. O objetivo central do Dicastério é proteger o ensinamento que brota da fé a fim de dar razão à nossa esperança, mas não como inimigos que apontam e condenam.

Francisco recorda ainda que o Dicastério que dom Víctor Manuel presidirá, em outros tempos, chegou a usar métodos imorais, explicando que foram épocas em que, em vez de promover o conhecimento teológico, foram perseguidos possíveis erros doutrinários. O Santo Padre espera do novo prefeito algo diferente.

Sublinhando que para as questões disciplinares, ligadas ao abuso de menores foi recentemente criada uma Seção específica com profissionais competentes, Francisco pede a dom Víctor para dedicar seu compromisso pessoal à finalidade principal do Dicastério que é guardar a fé.

Para não limitar o significado dessa tarefa, Francisco acrescenta que se trata de aumentar a inteligência e a transmissão da fé a serviço da evangelização, para que sua luz seja um critério para compreender o sentido da existência, especialmente diante das questões levantadas pelo progresso da ciência e pelo desenvolvimento da sociedade.

No texto o Papa afirma ainda que a Igreja precisa crescer em sua interpretação da Palavra revelada e em sua compreensão da verdade, sem que isso implique a imposição de uma única maneira de expressá-la. Esse crescimento harmonioso preservará a doutrina cristã de forma mais eficaz do que qualquer mecanismo de controle.

Francisco, falando da tarefa do novo prefeito disse que é bom que a mesma expresse que a Igreja incentiva o carisma dos teólogos e seu esforço de pesquisa teológica, desde que eles não se contentem com uma teologia de escritório, com uma lógica fria e dura que busca dominar tudo. Sempre será verdade que a realidade é superior à ideia. Nesse sentido, é necessário que a teologia esteja atenta a um critério fundamental: considerar inadequada qualquer concepção teológica que, em última instância, ponha em dúvida a onipotência de Deus e, especialmente, sua misericórdia.

No contexto dessa riqueza – destaca ainda o Papa na sua carta - a tarefa de dom Victor também implica um cuidado especial para garantir que os documentos de seu Dicastério e dos outros tenham um fundamento teológico adequado, sejam coerentes com o rico húmus do ensinamento perene da Igreja e, ao mesmo tempo, levem em conta o Magistério recente. Concluindo, Francisco pede que a Santíssima Virgem o proteja e cuide dele na sua nova missão e que dom Víctor não deixe de rezar por ele.

Currículo

Dom Víctor Manuel Fernández nasceu em 18 de julho de 1962 em Alcira Gigena, Província de Córdoba (Argentina). Foi ordenado sacerdote em 15 de agosto de 1986 para a diocese de Villa de la Concepción del Río Cuarto (Argentina).

Obteve o Mestrado em teologia com especialização bíblica na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma) e posteriormente o doutorado em Teologia na Faculdade de Teologia de Buenos Aires.

De 1993 a 2000 foi pároco de Santa Teresita em Río Cuarto (Córdoba). Foi fundador e diretor do Instituto de Formação de Leigos e do Centro de Formação de Professores Jesús Buen Pastor na mesma cidade. Em sua diocese foi também formador do seminário, diretor de ecumenismo e diretor de catequese.

Em 2007 participou da V Conferência Episcopal Latino-Americana (Aparecida) como sacerdote representante da Argentina e, posteriormente, como membro do grupo de redação do documento final.

De 2008 a 2009 foi Decano da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica da Argentina e Presidente da Sociedade Teológica Argentina.

De 2009 a 2018 foi reitor da Pontifícia Universidade Católica da Argentina.

Em 13 de maio de 2013 foi nomeado Arcebispo pelo Papa Francisco.

Participou, como membro, nos Sínodos dos Bispos de 2014 e 2015 sobre a família, nos quais também fez parte dos grupos de redação.

Na Assembleia de 2017 da Conferência Episcopal Argentina foi eleito Presidente da Comissão Episcopal de Fé e Cultura (Comissão Doutrinal).

Em junho de 2018 assumiu o cargo de Arcebispo de La Plata.

Foi membro do Pontifício Conselho para a Cultura e Consultor da Congregação para a Educação Católica. Atualmente é membro do Dicastério para a Cultura e a Educação.

Entre livros e artigos científicos, tem mais de 300 publicações, muitas das quais traduzidas para várias línguas. Esses escritos mostram uma importante base bíblica e um esforço constante de diálogo da teologia com a cultura, a missão evangelizadora, a espiritualidade e as questões sociais.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Viva Pedro, viva o Papa!

São Pedro (Cléofas)

Viva Pedro, viva o Papa!

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Jesus instituiu a Igreja sobre São Pedro e os Apóstolos: “Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a Minha Igreja; Eu te darei as chaves do Reino dos céus; tudo o que ligares sobre a terra será ligado no céu; e as portas do inferno nunca prevalecerão sobre ela” (Mt 16,16-19).

É com base nessa promessa divina que a Igreja sabe que jamais será destruída ou vencida neste mundo. Não há e nem haverá força humana capaz de vencê-la. Jesus prometeu estar com ela todos os dias “até o fim do mundo” (Mt 28,20). Além disso, Jesus prometeu aos Apóstolos na Santa Ceia, que o Espírito Santo estaria com a Igreja sempre – “permanecerá convosco e estará em vós” e “ensinar-vos-á todas as coisas” (Jo 14,15.25;16,13).

Nenhuma instituição humana sobreviveu 2000 anos de história e teve 266 chefes ininterruptos.

Cristo concedeu ao papa o carisma da infalibilidade, dogma este que o Concílio Vaticano I (1870) proclamou solenemente com o Papa Pio IX. É por isso que nunca na história da Igreja um papa cancelou um ensinamento doutrinário de um seu antecessor. O Espírito Santo assiste o papa quando ele ensina e, de modo especial, quando pronuncia um dogma.

Na Revolução Francesa, Voltaire, o grande inimigo da Igreja, dizia que seria o fim do Papa e que Pio VI seria o último papa da Igreja. Ledo engano, a sanguinária revolução francesa se foi e os papas continuaram mais firmes do que nunca. Nem a perseguição romana, nem o nazismo, nem o comunismo, nem o ateísmo mais agressivo conseguiram deter os papas. Stalin mandou perguntar a Pio XII, “quantas legiões de soldados tinha o Papa”. É uma pena que ele não tenha sobrevivido para ver a derrocada do comunismo em 1989; e o Papa que continua.

Os trinta primeiros papas da Igreja (Pedro, Lino, Cleto, Clemente, Evaristo…) foram todos martirizados pelos imperadores romanos que perseguiram a Igreja (Nero, Trajano, Domiciano, Décio, Severo, Diocleciano…), mas sempre houve um sucessor para conduzir a Barca da Igreja. Filipe IV o Belo, da França, subjugou os papas por 70 anos em Avignon, mas Santa Catarina de Sena e Santa Brígida da Suécia, o fizeram voltar a Roma triunfante. O mesmo Filipe IV mandou o seu comparsa Nogaret esbofetear Bonifácio VIII, em Anine, mas foi vencido. Napoleão Bonaparte mandou prender e humilhar o Pio VII nas masmorras do seu palácio de Fontanebleau em Paris, mas nesse mesmo palácio teve de assinar a rendição aos ingleses quando perdeu a batalha de Waterloo; o castigo lhe veio rápido.

Todos os poderosos que se lançaram contra o Vigário de Cristo na terra, o “doce Cristo na terra”, como dizia Santa Catarina de Sena, se viram derrotados. Não se atrevam a levantar as mãos pecadoras contra o enviado do Senhor!

Um dia, Dom Bosco teve aquele famoso sonho onde viu a Barca da Igreja num mar tempestuoso, sendo atacada de todos os lados. No leme estava o papa, que foi ferido e morto; mas outro o sucedeu no timão da Barca. E quando esta ameaçava naufragar, Dom Bosco viu surgirem duas colunas, uma de cada lado, e de cada uma saia uma corrente que se ligava na Caravela e não a deixava afundar, até o fim da viagem. Em cima de uma das colunas estava a Sagrada Eucaristia no Ostensório, e na sua base a frase: Salus credencium – Salvação dos que creem. Sobre a outra coluna estava a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora, e na base a frase: “Auxilium Christianorum” – Auxiliadora dos Cristãos. Dom Bosco entendeu que Jesus garante a invencibilidade da Igreja pelo Papa, pela Virgem, e por Ele mesmo presente na Eucaristia.

Viva o Papa, viva a Igreja,

Viva Nossa Senhora e viva Cristo Rei!

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

De volta ao tema da evangelização

Antoine Mekary | ALETEIA | #image_title

Por Francisco Borba Ribeiro Neto

O ressentimento que nasce do cancelamento cultural sofrido pelos cristãos e a proliferação de ideologias que parecem ameaçar a fé e/ou a própria dignidade da pessoa humana tornam essa reflexão ainda mais importante.

Existem muitos temas recorrentes na doutrina católica, aos quais devemos voltar periodicamente. A evangelização é um desses temas. O Concílio Vaticano II produziu um documento especificamente dedicado a esse tema, a Evangelii Nuntiandi (EN), onde a evangelização é definida como “a missão própria da Igreja, uma vez que a Igreja existe para evangelizar” (EN 14). O ressentimento que nasce do cancelamento cultural sofrido pelos cristãos e a proliferação de ideologias que parecem ameaçar a fé e/ou a própria dignidade da pessoa humana tornam essa reflexão ainda mais importante.

Talvez nosso problema, quanto à evangelização, é pensá-la como uma tarefa específica de alguns “missionários” e não como uma dimensão de nosso cotidiano – uma vez que passa não só pelo anúncio formal, mas também pelo testemunho que damos com nossas vidas. Compreender o testemunho não quer dizer acrescentar uma obrigação a mais a nossa vida, mas sim darmo-nos conta do fascínio que nos encanta (ou, ao menos, deveria nos encantar).

O encontro com Cristo que atrai

Na homilia da missa de abertura da Conferência do CELAM em Aparecida (2007), Bento XVI declarou: “A Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por ‘atração’: como Cristo ‘atrai todos a si’ com a força do seu amor, que culminou no sacrifício da Cruz”.  A mesma ideia foi depois repetida várias vezes pelo Papa Francisco: “A Igreja cresce não por proselitismo mas por atração […] a fé transmite-se por atração, ou seja, por testemunho” (Meditação, 3/mai/2018, cf. também Evangelii gaudium, EG 14). 

Em outra passagem famosa, que também é frequentemente citada por Francisco, Bento XVI diz que “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus caritas est, DCE 1). A evangelização é o anuncio ao mundo do encontro com essa Pessoa, mas frequentemente nos envolvemos mais com as decisões éticas e as grandes ideias – que não estão “fora” do evento cristão, mas não são seu fundamento, nem podem ser absolutizadas, sob o risco de se impor aos demais uma visão particular do mundo e não o próprio Deus feito homem.

Presos às nossas ideias e armadilhas morais (pois é isto que são nossas éticas humanas, quando apenas revestidas de uma roupagem religiosa) podemos até atrair aos demais, mas apontamos apenas para nós mesmos, não para Cristo. E esse é um tempo de atrações fáceis… Vivemos na “sociedade do espetáculo”, cheia de ídolos e influenciadores que nos atraem até mesmo por sua superficialidade: apresentam um modelo de realização que parece acontecer sem esforço, um novo mundo paradisíaco, com o qual podemos sonhar ou no qual podemos simplesmente esquecermo-nos de nós mesmos. Até na Igreja, os mestres da fé, que orientam num caminho ascético e existencial, muitas vezes estão sendo substituídos por influenciadores que vendem ideias bonitas – até justas – mas não propõem um verdadeiro processo de conversão a Deus.

Mas voltemos aos aspectos positivos do anúncio cristãos…

A vida que é realmente saborosa de se viver

O que, nesse encontro, atrai tanto o ser humano? Fomos feitos para Deus e nosso coração só repousa em Deus, segundo a célebre passagem das Confissões de Santo Agostinho (Livro I, Capítulo 1). Mas essa afirmação pode parecer ainda um pouco distante. Talvez possamos entende-la melhor lendo o poema O convertido, escrito por G.K. Chesterton quando, já adulto, foi batizado. Em seus últimos versos diz: “E todas essas coisas são para mim menos que pó / Porque meu nome é Lázaro e estou vivo”.

Todas as coisas parecem, para Chesterton, “menos que pó”. Imaginaríamos uma comparação na qual ele diria ter encontrado agora o verdadeiro tesouro. Mas ele é, simultaneamente, mais singelo e mais radical: tudo é como pó porque ele é como Lázaro, o que estava morto, e agora está vivo. Mais do que nunca, somos parte de um mundo onde os seres humanos anseiam por viver. As redes de informação, as imagens que vem de todos os cantos, o conhecimento de uma infinidade de experiências individuais, nos apontam possibilidades aparentemente infinitas, enquanto a dura realidade mostra vidas amesquinhadas, reprimidas pelas expectativas e cobranças de outros, limitadas pela falta de recursos, humilhadas pela truculência e a injustiça dos poderosos. Nunca antes se viram tamanhas possibilidades e, ao mesmo tempo, se teve tanta consciência das próprias impossibilidades.

Voltemos a Chesterton: a vida que parecia murchar na mesmice de sempre ou chafurdar na desesperança, agora adquire o esplendor e o brilho que lhe faz afirmar “estou vivo”. Esse é o grande anúncio dos cristãos, desde as escuras catacumbas romanas até a virtualidade dos podcasts e das redes sociais. Não apenas estão biologicamente vivos, estão vivos porque descobriram algo que dá um verdadeiro sentido e gosto a suas vidas. Existe uma correspondência entre os anseios de nosso coração e o encontro com Cristo – e essa correspondência se manifesta como o encontro de uma vida que vale a pena ser vivida.

Por isso, o que muitas vezes imaginamos como testemunho cristão não corresponde ao testemunho que realmente devemos dar, aquele que corresponde ao anseio dos corações. Queremos testemunhar nossa coerência moral, mas o que o mundo espera que testemunhemos é que estamos vivos, que nossa vida tem aquele gosto, aquela realização, que todos os avanços tanto materiais quanto espirituais da sociedade moderna não conseguem garantir. A grande pergunta que somos chamados a responder todos os dias é “você é verdadeiramente feliz? sua vida realmente tem sentido?”. Importante entender que essa “felicidade” não quer dizer que tudo esteja dando certo, não se trata de um “jogo do contente”, mas sim uma felicidade que nasce da percepção de que o amor e o carinho de Deus recobre toda a nossa vida, mesmo nos momentos de dor, que nossa humanidade está se realizando apesar de todas as limitações.

Em conclusão

Por isso, não é exatamente que “queiramos ser evangelizadores”, como se esse fosse um projeto nosso – ainda que, devido à complexidade tanto da sociedade quanto da instituição eclesial, tenhamos que fazer projetos de evangelização. O problema é que, se somos verdadeiros conosco mesmo, não conseguimos não ser evangelizadores, pois o encontro com Cristo não sai do coração e da memória – é o critério de discernimento que tende a orientar todos os momentos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF