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segunda-feira, 31 de julho de 2023

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (13/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

CARD. Alfons M. Stickler

        2. Fundamento histórico doutrinal

Um olhar para trás na Tradição da Igreja pode nos informar, também nesta ocasião, o desenvolvimento desta Teologia. O que se pode dizer, em síntese, sobre este aspecto já dissemos, em parte, ao analisar os testemunhos da Igreja primitiva sobre a continência dos ministros sagrados. Continuar com as referências históricas sobre o celibato, as referências à Sagrada Escritura e sua interpretação é certamente uma ajuda que pode ser fornecida à argumentação teológica dos Padres sinodais e do Santo Padre, porque na Exortação Apostólica abunda as referências à Sagrada Escritura. A visão do celibato, do ponto de vista das Escrituras adquiriu, por outro lado, uma crescente importância na literatura recente sobre o assunto. 

Já na primeira lei escrita que conhecemos, no cânon 33 do Concílio de Elvira, estão obrigados à continência os clérigos positi in ministerio, ou seja, aqueles que servem ao altar. Também os cânones africanos falam continuamente dos que servem ao altar e, por ser responsável pelo seu serviço, tocam os sacramentos; estes estão obrigados, por causa da consagração recebida, à castidade, o que, por sua vez, garante a eficácia da oração de petição (impetratória) diante de Deus. 

A este respeito, são particularmente importantes e instrutivos os documentos do Romano Pontífice que tratam da continência celibatária. São constantemente consideradas e refutadas nos textos deles, a partir da Sagrada Escritura, duas objeções. A primeira é a norma que indica São Paulo a Timóteo (1 Tim 3, 2 e 3, 12) e Tito (1, 6): os candidatos casados devem ser só unius uxoris, ou seja, ter sido casado apenas uma vez e também com uma mulher virgem. Tanto o Papa Sirício como Inocêncio I insistiram repetidamente em que esta expressão não significa que eles possam continuar com o desejo de gerar filhos, mas, pelo contrário, foi estabelecida propter continentiam futuram, ou seja, devido à continência que deveria ser vivida desde então. 

Esta interpretação feita pelos Pontífices da conhecida passagem da Escritura, que foi assumida pelos Concílios, diz que quem tivesse a necessidade de se casar novamente, demonstrava com isso que não era capaz de viver a continência exigida aos ministros sagrados e não podia, portanto, ser ordenado. Assim, essa norma da Escritura, em vez de uma prova contrária ao celibato, era uma demonstração a favor da continência celibatária e ainda uma exigência dos Apóstolos. Essa disposição se manteve viva no futuro. Na Glossa ordinária ao decreto de Graciano, isto é, no comentário comumente aceito desta passagem (princípio da Dist. 26), explica que existem quatro razões para que um que foi casado duas vezes não pode ser ordenados. Depois de assinalar três razões espirituais, a quarta, de caráter prático, diz que seria um sinal de incontinência que um homem passasse de uma mulher para outra. E o grande cheio de autoridade decretalista Hostiensis, o Cardeal decano Henrique de Susa, explica no seu comentário às decretais de Gregório IX (X, I, 21, 3 à palavra alienum), que a terceira razão das quatro dessa proibição foi “porque se deve temer (neste caso) a incontinência”. 

Esta interpretação do unius uxoris vir também era aceita no Oriente; isso é provado pelo grande historiador da Igreja antiga Eusébio de Cesaréia, que deve ser considerado bem informado, já que, como já afirmamos, participou no Concílio de Nicéia e, como amigo dos arianos, tinha defendido o uso do matrimônio por parte dos padres já casados. No entanto diz expressamente que, comparando o sacerdote do Antigo Testamento com o do Novo, se confronta a geração corporal com a espiritual, e que nisso consiste o sentido do unius uxoris vir: em que aqueles que foram consagrados e dedicados ao culto divino devem abster-se convenientemente, do momento da Ordenação em adiante das relações sexuais com a esposa. 

A proibição apostólica de que nenhum casado duas vezes devia ser admitido às Sagradas Ordens tem sido observada, com todo rigor, através dos séculos e se encontrava entre as irregularidades no Código de 1917 (cân. 984, 4). Na canonística clássica se ensinava que a dispensa desta proibição não era possível nem pelo Sumo Pontífice, pois nem sequer ele poderia dispensar contra apostolum, isto é, contra a Sagrada Escritura. 

Deve-se notar que também a legislação do Concílio de Trullo mantém no seu cânon 3 a mesma proibição para sacerdotes, diáconos e sub-diáconos, ou seja, que os candidatos à estas ordens não podiam estar casados com uma viúva ou com uma mulher que havia sido casada. Só se queria – diziam os padres trullanos – atenuar a gravidade da Igreja romana neste ponto, concedendo àqueles que tinham pecado contra dita proibição a possibilidade de arrependimento e penitência. Se antes de uma data posterior ao Sínodo tivessem renunciado a esse (segundo) casamento, poderiam permanecer no exercício do ministério. 

A falta de lógica nesta disposição do cânon 3, em comparação com o cânon 13 que permite aos sacerdotes e diáconos o uso do matrimônio contraído antes da Ordenação, só pode ser explicado pelo fato de que aquela proibição apostólica estava também profundamente enraizada na tradição oriental, mas sem que se perceba já o seu sentido original. Daí surge outra prova tácita do autêntico significado original, como garantia da total continência após a Ordenação, tal como permaneceu vivo no Ocidente, sempre aceito com fiel observância por parte de Roma. 

Deve-se mencionar neste contexto de duas outras passagens das Escrituras que não se encontram explicitamente nos testemunhos antigos, a segunda das quais vem hoje invocada contra a continência dos mesmos Apóstolos. 

Entre as qualidades que São Paulo exigia ao ministro da Igreja se encontra também a de ser “Encratés“, ou seja, continente. Este termo significa a continência sexual, como se deduz do texto paralelo no qual São Paulo exorta os fiéis casados continência a necessária abstinência para dedicar-se à oração, e também dos posteriores textos gregos sobre o celibato, reunidos, por exemplo, na coleção oficial do Pedalion.

A segunda passagem da Escritura é encontrada em 1 Coríntios 9, 5, onde São Paulo diz que também ele tem o direito de levar consigo uma mulher, como fazem os outros apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas. Muitos interpretaram a expressão “mulher” como a “esposa” dos Apóstolos, que no caso de Pedro poderia ser verdade. Mas é preciso se ter claramente presente o fato do texto original grego não falar simplesmente de “Ginaika“, que podia perfeitamente significar também esposa. Certamente não sem intenção, São Paulo acrescenta a palavra “adelfén“, ou seja, mulher “irmã”, o que exclui qualquer confuso mal-entendido com esposa. 

Somos convencidos facilmente deste sentido retificador que, de aqui em adiante, os testemunhos mais importantes da continência dos ministros sagrados mostram que ao falar da esposa de tais ministros, no contexto da posterior continência sexual, sempre se usa a palavra “sóror“, irmã. Do mesmo modo, a relação entre marido e mulher depois da Ordenação do marido é visto como o de um irmão com sua irmã. São Gregório Magno, por exemplo, diz: “Desde sua Ordenação, o sacerdote amará sua sacerdotisa (ou seja, sua esposa) como a uma irmã”. O Concílio de Gerona (ano 517) decidiu que “se tiverem sido ordenados aqueles que antes estiveram casados, não devem viver junto com a que de esposa se se tornou irmã”. E o Concílio de Auvergne (ano 535), por sua vez, dispôs que: “quando um sacerdote ou um diácono recebeu a Ordenação ao serviço divino passa imediatamente de ser marido a ser irmão da sua esposa”. Este uso das palavras é encontrado em muitos textos patrísticos e conciliares. 

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Nossa Senhora Peregrina - Parte I

Ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani, um dos símbolos da JMJ, chega a Portugal para a JMJ Lisboa 2023

"A Lumen Gentium, número 58, nos aponta Maria no “caminho da fé”. Toda sua vida é um caminho, uma peregrinação da fé. "

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Peço-lhes que me acompanhem com a oração na Viagem a Portugal, que farei a partir da próxima quarta-feira, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Tantos jovens, de todos os continentes, experimentarão a alegria do encontro com Deus e com os irmãos, guiados pela Virgem Maria, que, após a anunciação, "levantou-se e partiu apressadamente". A Ela, estrela luminosa do caminho cristão, tão venerada em Portugal, confio os peregrinos da JMJ e todos os jovens do mundo.”

No Angelus que precede a 42ª Viagem Apostólica de seu Pontificado, o Papa Francisco confiou a Virgem Maria os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude e todos os jovens do mundo. De fato, ao lado de cada um desses jovens peregrinos, estará Nossa Senhora Peregrina, que é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt:

"A Igreja Católica no mundo vive uma grande festa e peregrinação dos Jovens com a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa neste período com pré-Jornada, Jornada e pós-jornada. Milhões de jovens peregrinos para ouvir a Palavra do Papa Francisco, para mostrar o rosto e dinamismo jovem da Igreja. Achamos por bem, em nossa abordagem Mariana, aprofundar uma das faces de Nossa Senhora como peregrina, unindo-nos à essa caminhada juvenil da JMJ.

Depois do anuncio do Anjo Gabriel, Maria poderia ter se acomodado em sua casa, pois carregava em seu ventre o Verbo da Vida. Mas, logo ela se põe a caminho para visitar sua prima Santa Isabel. Maria, portanto, também faz sua jornada, sua peregrinação, sua caminhada à longínqua casa de Isabel. Ela é mãe peregrina. Ela é protótipo também da Igreja que peregrina, nesse vale de lágrimas, a caminho da casa Paterna.

São João Paulo II, iniciador das JMJ, em sua Carta Encíclica Redemptoris Mater, escreve assim, sobre esse episódio da Visita de Maria à sua prima Santa Isabel: “Logo depois de ter narrado a Anunciação, o Evangelista São Lucas faz-nos de guia, seguindo os passos da Virgem em direção a «uma cidade de Judá» (Lc 1, 39). Segundo os estudiosos, esta cidade devia ser a «Ain-Karim» de hoje, situada entre as montanhas, não distante de Jerusalém. Maria dirigiu-se para lá «apressadamente», para visitar Isabel, sua parente. O motivo desta visita há-de ser procurado também no fato de Gabriel, durante a Anunciação, ter nomeado de maneira significativa Isabel, que em idade avançada tinha concebido do marido Zacarias um filho, pelo poder de Deus: «Isabel, tua parente, concebeu um filho, na sua velhice; e está já no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus» (Lc 1, 36-37). O mensageiro divino tinha feito recurso ao evento, que se realizara em Isabel, para responder à pergunta de Maria: «Como se realizará isso, pois eu não conheço homem?» (Lc 1, 34). Sim, será possível exatamente pelo «poder do Altíssimo», como e ainda mais do que no caso de Isabel.

Maria dirige-se, pois, impelida pela caridade, a casa da sua parente. Quando aí entrou, Isabel, ao responder à sua saudação, tendo sentido o menino estremecer de alegria no próprio seio, «cheia do Espírito Santo», saúda por sua vez Maria em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre» (cf. Lc 1, 40-42). Esta proclamação e aclamação de Isabel deveria vir a entrar na Ave Maria, como continuação da saudação do Anjo, tornando-se assim uma das orações mais frequentes da Igreja. Mas são ainda mais significativas as palavras de Isabel, na pergunta que se segue: «E donde me é dada a dita que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?» (Lc 1, 43). Isabel dá testemunho acerca de Maria: reconhece e proclama que diante de si está a Mãe do Senhor, a Mãe do Messias. Neste testemunho participa também o filho que Isabel traz no seio: «estremeceu de alegria o menino no meu seio» (Lc 1, 44). O menino é o futuro João Batista, que, nas margens do Jordão, indicará em Jesus o Messias.

Todas as palavras, nesta saudação de Isabel, são densas de significado; no entanto, parece ser algo de importância fundamental o que ela diz no final: «Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor» (Lc 1, 45). [28] Estas palavras podem ser postas ao lado do apelativo «cheia de graça» da saudação do Anjo. Em ambos os textos se revela um conteúdo mariológico essencial, isto é, a verdade acerca de Maria, cuja presença se tornou real no mistério de Cristo, precisamente porque ela «acreditou». A plenitude de graça, anunciada pelo Anjo, significa o dom de Deus mesmo; a fé de Maria, proclamada por Isabel aquando da Visitação, mostra como a Virgem de Nazaré tinha correspondido a este dom” (RM, 12).

LG número 58 nos aponta Maria no “caminho da fé”. Toda sua vida é um caminho, uma peregrinação da fé. Escreve assim, Ir. Maria Ko Ha Fong, da congregação salesiana, num aprofundamento teológico[1]: “A imagem de Maria a caminho emerge com nitidez nos evangelhos e foi sempre rica de reflexão ao longo da história da Igreja. Maria encontra-se com frequência a caminho: sai, caminha, desloca-se mais do que as mulheres do seu tempo. As suas viagens entre Nazaré, Ain Karim, Belém, Jerusalém, Egito são acompanhadas de um dinamismo interior muito intenso. Toda a sua vida é um caminho, uma «peregrinação da fé» (cf. Lumen Gentium, 58). A mariologia conciliar realça esta «peregrinação» de Maria, vendo nela um modelo permanente para toda a Igreja. Não só. Maria mesma é caminho, caminho que conduz a Cristo, caminho que conduz «ao Caminho»”. Jesus diz: Eu sou O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
____________________

[1] https://donboscosalesianportal.org/wp-content/uploads/GFS_2016_MariaKo_pt.pdf

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

Santo Inácio de Loyola: Soldado de Cristo

Santo Inácio de Loyola (Guadium Press)

Muito já se escreveu sobre as vaidades do jovem Inácio de Loyola, anteriores à sua conversão. Menos apregoadas e de maior utilidade para nossos dias são as maravilhas que Deus operou nele e por ele.

Redação (31/07/2023 07:18, Gaudium Press) Nascido em 1491, época em que as grandes navegações alargavam as fronteiras do mundo, o espírito irrequieto e turbulento de Inácio preferia os riscos da guerra a uma vida ociosa na corte.

Em combate na defesa de Pamplona, teve uma perna fraturada por um projétil. Submeteu-se a penoso tratamento, findo o qual notou que a perna ficara deformada. Ordenou, então, aos médicos que a quebrassem e consertassem. Não lhe sendo satisfatório o resultado dessa cirurgia, mandou fazer outra, pois não queria aparecer manco ante as donzelas da corte.

Essa têmpera de caráter e força de vontade, seu espírito insaciável de grandezas, tudo deve ser visto na perspectiva da grandiosa missão que a Providência lhe reservara de Fundador da Companhia de Jesus.

No período de convalescença, ocupou-se em ler os dois únicos livros existentes no castelo: a Vida de Cristo e a Vida dos Santos. Tocado pela graça divina, ele perguntou-se: “Por que não faço eu o que fizeram São Francisco e São Domingos? Se eles realizaram tão grandes feitos, por que não posso realizá-los também?”

Mudança de vida 

Santo Inácio de Loyola (Guadium Press)

Uma vez recuperado, o jovem guerreiro estava decidido a penitenciar-se de seus pecados, pôr-se ao serviço de Deus e fazer por Ele grandes coisas, seguindo os exemplos dos Santos.

Uma noite, ele se prostrou diante de uma imagem da Virgem Maria e ofereceu-se a Jesus como seu fiel soldado. Ao concluir esta “consagração”, ouviu-se um grande estrondo no interior do castelo de Loyola, o qual foi abalado até os fundamentos.

O quarto de Inácio foi mais violentamente atingido. Em suas altas paredes, produziu-se uma larga rachadura, existente até hoje. Era o demônio a manifestar sua fúria, na previsão dos terríveis golpes que sua malfazeja obra receberia da Companhia de Jesus.

Ante esta manifestação extraordinária do espírito das trevas, ele tomou a resolução definitiva: “O que os santos fizeram, eu prometo, com a graça de Deus, fazê-lo também”. Não são mais as proezas da cavalaria profana que o atraem, mas esta santa emulação com os santos, no anseio de realizar grandes feitos “para a máxima glória de Deus”.

Naquela noite, apareceu-lhe a Santa Virgem com o Menino Jesus, durante um notável espaço de tempo. Após essa visão, ele sentiu que todas as imagens de sua vida passada lhe foram apagadas da alma. Desde então, jamais consentiu em qualquer tentação contra a virtude da pureza.

Iniciando sua nova vida, partiu em peregrinação para o Santuário de Nossa Senhora de Montserrat, onde fez uma confissão geral, após a qual trocou suas preciosas vestes pelas de um mendigo e depositou sua espada no altar de Nossa Senhora. A partir de então, só se ocuparia do serviço de Deus.

Comunicações divinas

O próprio Divino Redentor se ocupou, por vias extraordinárias, de sua formação religiosa.

Certo dia, Santo Inácio estava na escadaria da igreja dos Dominicanos e recitava o ofício da Santíssima Virgem. De repente, o seu espírito foi arrebatado até ao seio de Deus, e lhe foi dado compreender o incompreensível mistério de um Deus único em três pessoas distintas.

Ao sair da igreja, falou aos religiosos sobre este mistério numa linguagem sublime. Ninguém duvidava de que ele havia recebido luzes sobrenaturais. “Jamais algum doutor da Igreja falou tão eloquentemente e com tanta clareza sobre este mistério!” — exclamavam admirados.

Durante um êxtase, Deus lhe infundiu um tal conhecimento das Sagradas Escrituras que, mesmo se elas desaparecessem, ele não hesitaria em sustentá-las à custa do seu sangue!

Voltando a si de outro êxtase — que durou oito dias, durante os quais não tomou alimento algum nem mudou de posição — exclamava embevecido: “Oh Jesus! Oh Jesus!” A quem lhe perguntava sobre este colóquio com Deus, limitava-se a responder: “É inexprimível!” Seus biógrafos são de opinião que nesse êxtase Deus revelou ao Santo os Exercícios Espirituais e o plano da Companhia de Jesus.

Nasce a Companhia de Jesus

Ele sabia que Deus o destinava à fundação de uma Companhia de Apóstolos. Para isto, queria recrutar discípulos entre estudantes jovens e de valor. Pôs-se, então, a estudar as ciências humanas, passando pelas Universidades de Barcelona, Alcalá, Salamanca e Paris.

Em breve, o Santo reuniu em torno de si um grupo de escol: Pedro Fabro, Francisco Xavier, Diogo Laynes, Afonso Salmerón, Simão Rodrigues e Nicolau Bobadilha. Feitos os Exercícios Espirituais, todos mostraram-se dispostos a sacrificar tudo pela máxima glória de Deus.

A 15 de agosto de 1534, pronunciaram os votos religiosos na igreja de Montmartre. Após esse solene ato, os novos apóstolos sentiam-se tão felizes que não mais podiam separar-se. Constituía-se assim o primeiro esboço da Companhia de Jesus.

A 8 de janeiro de 1537, Santo Inácio achava-se em Veneza, com seus discípulos, de onde os enviou a Roma. Pedro Ortiz, ex-professor em Paris, era embaixador do Imperador Carlos V junto ao Papa.

Sabendo que os jovens professores da Universidade de Paris vinham pedir a bênção apostólica ao Soberano Pontífice, encarregou-se de lhes obter a audiência, elogiando suas virtudes e ciência pouco comuns. O Papa logo quis vê-los durante o jantar, ocasião em que foram convidados a tomar parte numa discussão.

Eles trataram com tão grande ciência e talento as questões propostas, e apresentaram os argumentos com tanta humildade, que Paulo III, não podendo conter sua admiração, abraçou-os dizendo: “Alegro-me de ver unida a tanta ciência tamanha modéstia”.

Em seguida abençoou-os e deu aos que ainda não eram sacerdotes autorização para receberem as sagradas Ordens.

Atividade apostólica baseada na santidade de vida

Santo Inácio de Loyola (Guadium Press)

Decidiram, a partir daí, fazer apostolado nas cidades onde as universidades atraíam os jovens. Francisco Xavier e Bobadilha foram para Bolonha, Simão Rodrigues e Lejay para Ferrara, Broet e Salmerón para Siena, Codure e Hoces para Pádua. Santo Inácio dirigiu-se a Roma com Fabro e Laynez.

Pedro Ortiz obteve para Santo Inácio uma audiência com o Sumo Pontífice, que acolheu com alegria a proposta dos novos apóstolos, cujo zelo e ciência já haviam adquirido tanta reputação. O Papa quis lançá-los em atividade sem demora.

Ao Pe. Laynez confiou a cadeira de Escolástica no Colégio Sapiência, e ao Pe. Fabro a de Escritura Sagrada. Quanto ao Pe. Inácio, encarregou-o do ministério apostólico em Roma, cujos costumes tinham grande necessidade de reforma.

Santo Inácio pregava os Exercícios Espirituais em público, obtendo em pouco tempo uma reforma geral dos costumes. Os novos apóstolos eram estimados e procurados por grandes e pequenos, graças à unção de sua palavra e santidade de suas vidas.

Virtudes próprias de Fundador e Superior Geral

Na quaresma de 1538, Santo Inácio convocou seus filhos a Roma para a ereção definitiva da Companhia em Ordem Religiosa. Todos se apressaram a obedecer-lhe.

Apresentada a Paulo III as Constituições, o Papa as acolheu com estas palavras: “O dedo de Deus está aí”. A nova Ordem foi erigida por uma bula de 27 de setembro de 1540. Em 19 de abril de 1541, Santo Inácio foi aclamado Superior Geral da Companhia.

Ele tudo vigiava e orientava. Estava ao corrente de tudo o que interessava a cada uma das casas da Ordem. Informava-se até dos progressos dos alunos de todos os colégios da Companhia. Os professores prestavam-lhe contas todas as semanas. Os trabalhos dos alunos eram vistos por ele. Lia tudo e fazia examinar esses escritos por outros.

Dirigia a casa de Roma, correspondia-se com os superiores das casas espalhadas pelo mundo, ocupava-se dos colégios, tratava os negócios da Igreja com o Papa e os Cardeais, mantinha correspondência com os soberanos da Europa, dirigia novas fundações, tudo isso sem interromper suas obras de misericórdia na Cidade Eterna, de que sempre dava exemplo aos seus discípulos.

Em Santo Inácio, conjugavam-se a flexibilidade com a firmeza, a sensibilidade com a disciplina, o arrojo com a prudência; a humildade não se opunha ao destemor na defesa da Santa Igreja; o despojamento de si mesmo era irmão do amor ao próximo.

Todos estes aparentes antagonismos brilhavam na vida do Fundador. Requisitos, aliás, indispensáveis a uma instituição jovem que se desenvolvia com grande pujança em oposição à onda libertária que tudo procurava arrastar em sentido contrário.

Um seu discípulo narra que qualquer pessoa triste ou angustiada, ao aproximar-se dele, logo recobrava a paz de espírito e a verdadeira alegria.

Sabia quando algum discípulo seu estava passando por dificuldade ou provação, e o confortava. Tinha o discernimento certeiro para a seleção dos candidatos a membros da Companhia. Era inflexível quanto à disciplina. Num dia de Pentecostes, chegou a expulsar doze noviços.

Mas estava longe de ser uma pessoa impulsiva. Pelo contrário, tinha tudo medido, pesado e contado. Às vezes adiava a execução de uma penalidade, ponderando: “Convém dormir sobre o caso”. Outras vezes dizia: “É preciso acomodar-nos aos negócios que não podem acomodar-se a nós; é necessário sabermos entrar pela porta de certas pessoas, a fim de fazê-las sair pela nossa”.

Método pessoal de cativar e conduzir as almas

Um noviço japonês, enviado a Roma por São Francisco Xavier, era tratado com extrema indulgência por Santo Inácio. Deu-lhe os encargos mais suaves, recomendando-lhe que o avisasse quando estivesse muito fatigado.

A um noviço italiano, de olhar muito vivo e aberto, o Santo disse: “Irmão Domenico, por que não procura fazer ler nos seus olhos a modéstia com que Deus aprouve adornar-lhe a alma?” Com estas poucas palavras, Domenico se corrigiu.

Às vezes o Santo era de uma severidade espantosa com alguns Padres veteranos, que ele estimava de todo o coração, querendo aperfeiçoá-los ainda mais pelo exercício da humildade.

Certo dia encontrou-se, no corredor do Colégio, com um jovem sorridente e alegre. O Santo perguntou-lhe:

— Por que andas sempre sorrindo?

— Sou feliz por estar em vossa Companhia! — respondeu ele.

— Continua sempre assim, pois a tristeza não cabe no serviço de Deus — disse o Santo, após abençoá-lo.

Tal jeito inaciano de cativar e atrair as gentes para a Igreja de Cristo era um eficaz instrumento de que se servia a graça divina para reaquecer no amor de Deus as almas que a heresia protestante havia esfriado na Fé.

É talvez por isso que, apenas com 16 anos de fundação, a Companhia de Jesus contava já com mais de 1000 membros, ocupando 100 casas, em 10 províncias.

Pronunciou pela última vez o santo Nome de Jesus e voou para Deus

Chegou o ano de 1556. O grande combatente havia travado nesta terra, com argúcia e energia admiráveis, a gloriosa luta em defesa da Fé.

Na Europa, seus filhos espirituais reconquistavam para a Igreja milhões de almas desgarradas pela heresia. Nos outros continentes, os missionários jesuítas, sempre infatigáveis e insaciáveis de almas a salvar, levavam a luz da Fé a mi­lhões de infelizes pagãos.

Sua obra estava consolidada, Deus resolveu chamá-lo a Si, para dar-lhe a “recompensa demasiadamente grande”.

No dia 30 de julho, Santo Inácio chamou o Padre Polanco e lhe disse:

— Chegou o momento de mandar dizer a Sua Santidade que estou prestes a morrer, e lhe peço humildemente sua bênção, para mim e para um dos nossos Padres, que não tardará a falecer também. Diga ainda a Sua Santidade que, depois de ter orado muito por ele neste mundo, continuarei a fazê-lo no Céu, se lá a divina Bondade se dignar receber-me.

— Os médicos não vos julgam tão mal como pensa… Posso adiar a incumbência para amanhã? — perguntou o Pe. Polanco.

— Faça como quiser, abandono-me à sua vontade — respondeu o Santo.

No dia 31, após receber a bênção apostólica, Santo Inácio pronunciou pela última vez o santo Nome de Jesus e sua alma voou para Deus. Foi canonizado em 12 de março de 1622.

A bula de canonização menciona duzentos milagres operados por sua intercessão.

Este é Santo Inácio de Loyola!

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 31, julho 2004.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

domingo, 30 de julho de 2023

Brasil envia 30 bispos, 900 padres, 300 voluntários e 10.000 peregrinos à JMJ em Lisboa

JMJ LISBOA 2023 (cnbb)

10 mil peregrinos brasileiros e 30 bispos estão confirmados na JMJ 2023, informa a Comissão para a Juventude 

Faltando 2 dias para o início da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a ser realizada de 1º a 6 de agosto, em Lisboa, Portugal, a delegação brasileira embarcou para se encontrar com o Papa Francisco. Segundo a Comissão Episcopal para a Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) cerca de 10 mil peregrinos do país efetivaram as inscrições para participar do evento.

Do Brasil também irão 30 bispos, 900 padres e 300 voluntários brasileiros que vão trabalhar nos eventos centrais. Ademais, 6 bolsistas e 9 voluntários de longa duração já estão em Lisboa desde o ano passado para ajudar na organização da JMJ.

Momento especial de encontro com jovens do mundo

O bispo da diocese de Imperatriz, no Maranhão, e presidente da Comissão Episcopal para a Juventude, dom Vilsom Basso, é um dos que vão embarcar nos próximos dias. Ele destaca que é um momento especial de encontro dos jovens do mundo inteiro com o Papa Francisco.

“É onde recebemos mensagens e orientações de como criar uma cultura mundial, em 2023, no âmbito do cuidado com a Casa Comum. Inspirados na Laudato Si’ levaremos às juventudes do mundo inteiro essa consciência, preocupação e ação para preservar o planeta, a Casa Comum”.

A JMJ também será inspirada na Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, na qual, segundo dom Vilsom, o pontífice convoca todos os jovens a serem uma “onda de paz, de entendimento, de construção de pontes, de diálogo que possibilite a humanidade ser uma só”.

“A partir das juventudes, acolhendo as diferenças e vivendo unidos um só corpo em diferentes membros, animados pelo espírito de Deus e inspirados em nosso Senhor Jesus Cristo é o que me anima a ir participar do serviço do catequista nessa Jornada Mundial da Juventude”, disse dom Vilsom.

“Aprender com o entusiasmo dos jovens”

Outro bispo que também já está de malas prontas e prestes a partir para a JMJ é o arcebispo de Palmas, no Tocantins, dom Pedro Brito Guimarães. Ele vê o evento como mais uma oportunidade de evangelização da juventude. “Quero entender a dinâmica, me empoderar, me tornar esperto na questão de como convencer, evangelizar a juventude. Sei que é uma festa de massa, mas lá poderei aprender também com o entusiasmo dos jovens, a alegria, o comprometimento”, disse.

“Eu irei por me encantar com a juventude. Sou preocupado, sou responsabilizado pela juventude. Vou para aprender, para participar, para dar o meu crédito, contribuir, dar catequese, ajudar o Papa e a Igreja a superar essa fase depressiva, adoentada em que a juventude está”, salientou.

A Comissão Episcopal para a Juventude da CNBB tem apoiado toda a delegação brasileira no processo de preparação com o fornecimento de informações e também no acompanhamento de um grupo que representará as diversas realidades juvenis do país. Além do acompanhamento, a Comissão apoiou a preparação com momentos de espiritualidade e na oferta de informações práticas sobre a viagem, por meio de lives mensais desde o final do ano passado.

CNBB Nacional

Fonte: https://www.cnbbleste2.org.br/

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos (12/15)

Celibato eclesiástico (Presbíteros)

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

CARD. Alfons M. Stickler

V. FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS DA DISCIPLINA DO CELIBATO: 

 No atual debate sobre celibato, se dá maior ênfase na necessidade de aprofundar teologicamente no sacerdócio, a fim de deduzir a verdade e apreciar a verdade única e completa da teologia do celibato da Igreja Católica Latina. 

Temos, portanto, por este motivo, a tarefa atual e importante de analisar os elementos teológicos tanto do sacerdócio do Novo Testamento como, a partir destes, o celibato dos ministros sagrados. Ambos têm suas raízes nas Escrituras – a principal fonte de Teologia católica – e na Tradição da Igreja, que revela e interpreta o testemunho escriturístico. 

O sacerdócio de Jesus Cristo é um profundo mistério da nossa fé. Para compreender isto, o homem deve se abrir para uma visão sobrenatural e submeter a sua razão a um modo transcendente de pensar. Em tempos de fé viva, que incentiva e orienta não só a cada fiel como pessoa única, mas também permeia a vida e dá forma à vida de toda a comunidade crente, Cristo Sacerdote constitui na consciência de todos o centro da vida de fé pessoal e comunitária. Em tempos de declínio do sentido da fé, pelo contrário, a figura de Cristo Sacerdote desbota e desaparece cada vez mais da consciência dos homens e da sociedade, e não está mais no centro da vida cristã. 

Esta mesma imagem é também aplicável no caso de um sacerdote de Cristo. Em tempos de fé viva, na verdade, não é difícil ao sacerdote reconhecer-se em Cristo, identificar-se com Ele, contemplar e viver a essência do próprio sacerdócio em íntima união com Cristo Sacerdote, ver nele “a única fonte” e o “modelo insubstituível” da própria condição sacerdotal. 

Mas, em meio a uma atmosfera racionalista que desvia cada vez mais a mente humana do sobrenatural, em uma época de materialismo que obscurece cada vem mais a realidade espiritual, torna-se cada vez mais difícil para o sacerdote resistir à pressão da mentalidade secularizante. A identidade espiritual e transcendente de seu sacerdócio tende a desvanecer se ele não se esforça, conscientemente, em aprofundar nela e em mantê-la viva, por meio de uma íntima união pessoal com Cristo. 

Esta crítica situação torna ainda mais indispensável a ajuda para os sacerdotes de uma ascética e de uma mística, adequadas ao estado das coisas. É preciso que lhes revelem a tempo os perigos que ameaçam ao seu sacerdócio, mostrando-lhes as necessidades e que se ponham à disposição os meios que a sua vida sacerdotal requerem. A atual crise de identidade do sacerdócio católico se manifesta toda sua crueza através da renúncia de milhares de sacerdotes ao seu ministério, através também da profunda secularização de muitos outros que continuam em um serviço puramente formal, e enfim, através da escassez de vocações causadas pela rejeição a seguir ao chamado de Cristo. Numa situação deste tipo é uma necessidade fundamental para desenvolver uma pastoral sacerdotal nova, que seja consciente das circunstâncias e das exigências atuais e que responda, em uma palavra, ao “contexto presente”.

  1. A relação sacerdotal com Cristo

Temos de fazer brilhar com nova luz, sobre o fundamento da tradição, a essência do sacerdócio católico. O Concílio de Trento, em um momento de crise semelhante ao nosso, estabeleceu com os seus ensinamentos e definições sobre os sacramentos da Eucaristia e da Ordem, as bases de uma espiritualidade sacerdotal fortemente referida a Cristo. Um teólogo como M. J. Scheeben soube explicar, frente ao racionalismo do século passado, que a Ordenação eleva a quem a recebe a uma orgânica unidade sobrenatural com Cristo, e que o caráter indelével impresso pelo sacramento da Ordem habilita ao ordenado para participar nas funções sacerdotais de Cristo. 

 Nos últimos tempos, especialmente desde o Vaticano II em diante, esta relação do sacerdote com Cristo tem sido cada vez mais posta no centro da essência do sacerdócio, e se pôde aprofundar e alargar desde essa perspectiva os ensinamentos bíblicos e as doutrinas teológicas e canônicas sobre o assunto. Tem, assim, adquirido uma nova iluminação teológica, a doutrina tradicional do sacerdos alter Christus

Se São Paulo escreve aos coríntios: “Temos de ser considerado pelos homens como ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus” (1 Cor 4, 1); ou então: “Agimos como embaixadores de Cristo, como se Deus mesmo vos exortasse através de nós. Suplicamos-vos pois, em nome de Cristo, deixai-vos reconciliar com Deus” (2 Cor 5, 20), essas expressões podem ser consideradas como autênticas ilustrações bíblicas da identificação do sacerdote com Cristo. 

No Concílio Vaticano II é continuamente expressa a mesma idéia: “Os bispos, de modo eminente e visível, façam as vezes de Cristo Mestre, Pastor e Pontífice, e atuem em sua pessoa” (Lumen Gentium n º 21, com a nota 22, onde se documenta sobre a Igreja antiga). “Os sacerdotes a eles unidos são partícipes do ofício de Cristo, único Mediador, e exercitam o seu sagrado ministério agindo in persona Christi (Lumen Gentium n. 28 com a nota 67; Christus Dominus n. 28). Através do sacramento da Ordem e do caráter por ele impresso, são configurados a Cristo e atuam em seu nome (Presbyterorum Ordinis nn. 2, 6, 12; Optatam totius n. 8; Sacrosanctum Concilium, n. º 7). 

Após o Concílio aumentou essas formas de expressão, também por parte da Cúria Romana. A Congregação para a Educação Católica, nas normas fundamentais para a formação dos sacerdotes de 1970, acentuou em uma afirmação de princípio que o sacerdote se faz, através da Ordem Sagrada, um “alter Christus“. E o novo Código de Direito Canônico de 1983 diz no cânon 1008: “Com o sacramento da Ordem e com o caráter indelével com o que ficam marcados aqueles que o recebem, os ministros da Igreja são consagrados e destinados a reunir-se, cada um no seu próprio nível, os cargos de ensinar, santificar e governar in persona Christi e de pastorear o povo de Deus.” 

De uma forma ainda mais intensa, tem se ocupado do sacerdócio e do ministério dos sacerdotes, desde o início do seu pontificado, o atual pontífice, João Paulo II. Desde 1979, nas Quintas-Feiras Santas de cada ano, dirige uma mensagem aos sacerdotes. Em repetidas vezes utiliza ocasiões especialmente adequadas – audiências, discursos e, especialmente, as freqüentes ordenações sacerdotais – para posicionar na sua justa luz teológica e pastoral atual, a natureza e a essência do sacerdócio católico, bem como a aprofundar o seu significado. 

O mais importante ato oficial do Papa, com referência ao sacerdócio foi, sem dúvida, a convocação e a realização do oitavo Sínodo dos Bispos, que teve por objetivo a formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais. Um dos pontos centrais das discussões dos Padres sinodais foi a noção justa da identidade sacerdotal, vistas as coisas no mundo de hoje e em meio a grave crise em que se encontra o sacerdócio católico. Síntese e coroação dos trabalhos sinodais foi a Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, publicado em 25 de março de 1992, dedicada, precisamente, à formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais. 

No segundo capítulo da Exortação Apostólica o Papa aborda a “natureza e a missão do sacerdócio ministerial”, e informa expressamente que as intervenções dos Padres na aula sinodal “mostrou a consciência do vínculo ontológico específico que liga o sacerdote a Cristo, Sumo Sacerdote e Bom Pastor” (n. 11). O Papa conclui essa exposição com uma afirmação verdadeiramente clássica: “O presbítero encontra a plena verdade da sua identidade no ser uma derivação, uma participação específica e uma continuação do mesmo Cristo, sumo e eterno Sumo Sacerdote da eterna aliança; Ele é uma imagem viva e transparente de Cristo sacerdote. O sacerdócio de Cristo, expressão da sua absoluta “novidade” na história da salvação, é a única fonte e o paradigma insubstituível do sacerdócio do cristão, e especialmente, do presbítero. A referência a Cristo, então, é a chave essencial para a compreensão das realidades sacerdotais” (n. 12, ao final). 

Sobre a base desta afinidade natural entre Cristo e os seus sacerdotes não será difícil anunciar a teologia do sacerdócio ministerial. O mesmo João Paulo II oferece-nos novamente a chave: “É particularmente importante que o sacerdote compreenda a motivação teológica da lei eclesiástica sobre o celibato. Enquanto lei, ela expressa a vontade da Igreja, antes mesmo da vontade que o sujeito manifesta com a sua disponibilidade. Mas essa vontade da Igreja encontra sua motivação última na relação que o celibato tem com a ordenação sagrada, que configura ao sacerdote com Jesus Cristo, Cabeça e Esposo da Igreja. A Igreja, como esposa de Jesus Cristo, quer ser amada pelo sacerdote de modo total e exclusivo como Jesus Cristo Cabeça e esposo a tem amado. Assim o celibato sacerdotal é um dom de si em e com Cristo à sua Igreja, e manifesta o serviço do sacerdote à Igreja em e com o Senhor “(n. 29, até o final). 

Alfons M. Stickler
Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro
CIDADE DO VATICANO 

Tradução para o português:

Pe. Anderson Alves.
Contato: 
amralves_filo@yahoo.com.br

Fonte: https://presbiteros.org.br/

A presença de Jesus no mundo (1/2)

Alain Elkann (30Giorni)

Arquivo 30Dias – 11/2005mero 11 - 2005

A presença de Jesus no mundo

A conferência do jornalista e escritor judeu Alain Elkann no congresso sobre o “Rosto dos rostos. Cristo”, realizado em outubro, em Roma, cujas atas acabam de ser publicadas.

de Alain Elkann

Sua eminência o cardeal Angelini me pede que reflita e escreva sobre Jesus Cristo, e devo dizer que é a primeira vez que tenho de fazê-lo em primeira pessoa.

Nunca havia escrito sobre o assunto porque tenho respeito demais pela religião de vocês, sendo eu judeu, para me dar a liberdade de julgar ou simplesmente dar minha opinião sobre um tema tão delicado.

Delicado no sentido de que, enquanto os judeus ainda esperam por seu Messias, para os cristãos Jesus de Nazaré representa Deus que se faz homem e, portanto, o cristão já está vivendo a sua era messiânica.
Jesus morre crucificado e logo depois nascem os apóstolos, os Evangelhos, a Igreja, o culto religioso e, assim, a aplicação da vida cristã, que pouco a pouco se difunde pelo mundo como uma mancha de óleo, graças precisamente ao trabalho da Igreja e de suas missões, até se tornar um grandíssimo exemplo de globalização religioso-cultural.

O Cristo está presente hoje em todos os continentes do mundo. Às vezes a religião cristã é hegemônica, às vezes é minoria. Em certos casos, é quase a religião oficial de um país, em outros sofre e vive quase na marginalidade; e, em sua longa história bimilenar, foi também muitas vezes objeto de duras discriminações e perseguições.

Não posso certamente entrar no mérito de uma longa reflexão sobre as diversas denominações religiosas cristãs, sobre os cismas, os particularismos, as divisões que ainda existem, entre mundo católico, mundo ortodoxo e mundo, por assim dizer, protestante.

Todas essas religiões, porém, são cristãs e assumem que o Cristo é o filho de Deus.

O que foi Jesus Cristo quando em vida, por que morreu na cruz, por que ressuscitou são também questões nas quais creio que não seja o caso de entrar hoje. Já o que posso dizer é que no mundo ocidental, na Europa e nas Américas, sobretudo, a presença do Cristo é parte natural da vida de qualquer um.

Nas cidades, nos campos, nos pequenos vilarejos ainda soam os sinos que chamam para a missa; em muitos hospitais, escolas, lugares públicos, o Cristo na cruz está fixado nas paredes, e milhões de pessoas carregam no pescoço uma corrente com um crucifixo ou imagem de Cristo.

Além disso, sempre houve muitíssimos livros, e, no mundo moderno, discos, filmes, espetáculos que têm como protagonista Jesus de Nazaré.

Jesus se manifesta por meio dos homens e das mulheres, religiosos e às vezes leigos, que são a Igreja e suas ordens religiosas. Sendo assim, por meio deles e de suas tarefas, vive certamente um Cristo que se transforma em gestos de culto, de caridade, de auxílio na área da saúde, iniciativas de escola, de pesquisa, de assistência social, de voluntariado.

Certamente, é em nome de Jesus e do Evangelho que muitíssimos homens e mulheres de fé traba­lham para ajudar os outros, para aplicar a caridade cristã, para confessar quem precisa, para socorrer quem está mal, para estar perto de quem tem medo porque está doente ou à beira da morte, para penetrar nos cárceres e falar com quem quer ou procura se arrepender.

Depois de Jesus surgiu a Igreja, que, acredito, tenha a tarefa de fazer encontrar a presença de Deus e de seu filho em cada ponto da vida cotidiana.

É claro que na história de uma organização tão antiga como a Igreja existem, no meu modo de ver, momentos obscuros, como o período da Inquisição, períodos históricos mais turvos do que outros, mas eu prefiro pensar na Igreja de hoje e não na de ontem. Nos papas que vi trabalharem durante a minha vida: João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI. Era muito pequeno quando Pio XII ainda vivia, e dele só lembro imagens televisivas ou fotografias em preto e branco.

Mas acredito que sob esses papas se fez um grande caminho, e eu não tive medo de perder minha identidade judaica ao buscar encontrar muitas vezes ao longo de mi­nha vida o mundo católico. O Cristo, assim, de certa forma é parte da minha vida desde a infância.

Irmã Paolina vinha me dar injeções quando eu era um menino pequeno, mais tarde foi irmã Giuliana que me fez conhecer por meio de sua alma profunda e serena as realidades do Cottolengo de Turim.

Irmã Germana me ajudou, por sua vez, a trabalhar com sua eminência o cardeal Carlo Maria Martini na redação do nosso livro, Cambiar il cuore (Mudar o coração, ndt.).

Fonte: http://www.30giorni.it/

O Papa: reconhecer as joias preciosas da vida e distingui-las das quinquilharias

O Papa Francisco no Angelus deste domingo  (Vatican Media)

No Angelus deste domingo, Francisco convidou a "não perder tempo e liberdade com coisas triviais, passatempos que nos deixam vazios por dentro, enquanto a vida nos oferece todos os dias a pérola preciosa de um encontro com Deus e com os outros! É necessário saber reconhecê-la: discernir para encontrá-la". Jesus "é a pérola preciosa da vida".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Fiéis de várias partes do mundo se reuniram, na Praça São Pedro, neste domingo (30/07), para a oração mariana do Angelus conduzida pelo Papa Francisco.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice falou sobre o Evangelho, deste domingo, que "conta a parábola de um negociante que procurava pedras preciosas". Segundo Jesus, o negociante «ao encontrar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra». Então, o Papa se deteve "nos gestos deste negociante, que primeiro procura, depois encontra e, por fim, compra".

"Primeiro passo: procurar. Trata-se de um negociante empreendedor que não fica parado, mas sai de casa e começa a procurar pérolas preciosas. Ele não diz: "Estou satisfeito com as que tenho", mas procura outras mais bonitas", disse o Papa, acrescentando:

Este é um convite a não nos fecharmos na rotina, na mediocridade de quem se contenta, mas a reavivar o desejo, para que o desejo de procurar, ir adiante não se apague, cultivar sonhos de bem, buscar a novidade do Senhor, porque o Senhor não é repetitivo, ele sempre traz novidade, a novidade do Espírito sempre faz novas as realidades da vida. Nós devemos ter sempre a atitude de buscar.

"O segundo gesto do negociante é encontrar. Ele é uma pessoa arguta que "tem olho" e sabe reconhecer uma pérola de grande valor. Isso não é fácil", disse o Papa. Francisco convidou a pensar, "nos fascinantes bazares orientais, onde as barracas, cheias de mercadorias, se amontoam ao longo dos muros das ruas cheias de pessoas; ou em algumas barracas que se veem em muitas cidades, cheias de livros e vários objetos. Às vezes, nesses mercados, se pararmos para olhar bem, podemos descobrir tesouros: coisas preciosas, volumes raros que, misturados com todo o resto, passam despercebidos à primeira vista. Mas o negociante da parábola tem um olho aguçado e sabe encontrar, sabe "discernir" para encontrar a pérola".

Isso é um ensinamento para nós: todos os dias, em casa, na rua, no trabalho, nas férias, temos a oportunidade de ver o bem. É importante ser capaz de encontrar o que importa: treinar-nos para reconhecer as joias preciosas da vida e distingui-las das quinquilharias. Não percamos tempo e liberdade com coisas triviais, passatempos que nos deixam vazios por dentro, enquanto a vida nos oferece todos os dias a pérola preciosa de um encontro com Deus e com os outros! É necessário saber reconhecê-la: discernir para encontrá-la

O último gesto do negociante: compra a pérola. "Percebendo seu imenso valor, ele vende tudo, sacrifica todos os bens para tê-la. Muda radicalmente o inventário do seu depósito; não há mais nada além daquela pérola: é a sua única riqueza, o sentido do seu presente e do seu futuro", disse o Papa, acrescentando:

Isso também é um convite para nós. Mas o que é esta pérola pela qual tudo se pode renunciar, aquela de que nos fala o Senhor? Essa pérola é Ele mesmo. É o Senhor! Procurar o Senhor e achar o Senhor, encontrar o Senhor, viver com o Senhor. A pérola é Jesus: Ele é a pérola preciosa da vida, a ser procurada, encontrada e adquirida. Vale a pena investir tudo Nele porque, quando se encontra Cristo, a vida muda. Quando você encontra Crista a sua vida muda.

A seguir, o Papa retomou "os três gestos do negociante - procurar, encontrar e comprar", e convidou cada um a se fazer as seguintes perguntas:

Procurar: estou, em minha vida, buscando? Sinto-me no lugar, tranquilo, satisfeito ou treino meu desejo de bem? Estou aposentado espiritualmente? Quantos jovens estão aposentados! Segundo gesto, encontrar: pratico o discernimento do que é bom e vem de Deus, sabendo renunciar ao que, ao contrário, me deixa com pouco ou nada? Por fim, comprar: sei como me gastar por Jesus? Ele está em primeiro lugar para mim? Ele é o maior bem da vida? Seria bom dizer a Ele hoje: "Jesus, você é meu maior bem". Que cada um diga em seu coração:  "Jesus, você é meu maior bem".

"Que Maria nos ajude a procurar, encontrar e abraçar Jesus com toda a nossa força", concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF