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domingo, 29 de outubro de 2023

Reflexão para o XXX Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho do domingo (Vatican Media)

Não existe outra forma para amar e reverenciar o Senhor do que amar e servir seus filhos queridos, criados à sua própria imagem e semelhança.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A primeira leitura deste domingo, tirada do livro do Êxodo, nos anuncia o relacionamento fraterno que deverá reinar entre os homens, fruto da justiça e do amor.

Nas sociedades vizinhas a Israel e, também nas nossas, o pequeno, o derrotado, o fraco, o empobrecido, os sem oportunidades são embrutecidos pelos poderosos, pelos ricos, pelos vitoriosos, pelos que tiveram tudo isso. Deus diz a Israel e também a nós, que nosso modo de proceder em relação ao pequeno não deverá ser assim, pelo contrário. O empobrecido deverá ser ocasião de nossa demonstração de amor a Deus e de abertura para os ditames de seu coração.

No Evangelho de Mateus, mas em um capítulo anterior ao que a liturgia de hoje nos propõe, Jesus repete de forma positiva o que o rabino Hilel ensinou: “O que não te agrada, não o farás a teu próximo! Esta é toda a lei: o restante é comentário”. Jesus disse: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles: nisto estão toda a Lei e os Profetas”.

A passagem escolhida para hoje fala que o maior mandamento da Lei é amar o Senhor de todo o coração e com toda alma e todo entendimento e o segundo é amar o próximo como a si mesmo. Na verdade esse mandamento é um só. Amar a Deus sobre todas as coisas é mais do que reservar um tempo para atividades piedosas de oração, é amar com toda intensidade seus filhos, é venerá-lo em cada ser humano, especialmente nos mais pequenos. Ele disse que aquilo que fizermos ao menor de seus irmãos, será a Ele que estamos fazendo.

Portanto não existe outra forma para amar e reverenciar o Senhor do que amar e servir seus filhos queridos, criados à sua própria imagem e semelhança.

E aí vem a questão dos desafortunados pela sorte. Jesus se fez homem pobre, sofredor, humilhado e, também em seus discursos, se assemelhou a eles. Na celebração do amor, na última ceia, fez o papel de escravo, lavando os pés de seus discípulos.

Morreu em um suplício abominável, humilhado e nu, no meio de dois bandidos, como malfeitor.

O Senhor, quando foi tentado no deserto, rejeitou Satanás com suas pompas e suas obras.

Que nosso batismo seja recordado em cada momento de nossa vida, ao abandonarmos os falsos deuses do egocentrismo, do poder e da soberba, ao assumirmos o serviço de Deus único e verdadeiro no relacionamento fraterno, que nos foi proposto desde o Antigo Testamento.

Adorar e servir o Senhor é amar e servir o próximo!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O Relatório de Síntese: uma Igreja que envolve todos e está próxima das feridas do mundo (PARTE III)

A assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade reunida na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Foi publicado o Relatório de Síntese na conclusão da XVI Assembleia Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Em vista da segunda sessão em 2024, são oferecidas reflexões e propostas sobre temáticas como o papel das mulheres e dos leigos, o ministério dos bispos, o sacerdócio e o diaconato, a importância dos pobres e migrantes, a missão digital, o ecumenismo e os abusos.

Salvatore Cernuzio - Vatican News

Formação (PARTE III)

Em seguida, pede-se uma "abordagem sinodal" para a formação, recomendando, antes de tudo, "aprofundar o tema da educação afetiva e sexual, acompanhar os jovens em seu caminho de crescimento e apoiar o amadurecimento afetivo daqueles que são chamados ao celibato e à castidade consagrada" (14 g). Pede-se que aprofunde o diálogo com as ciências humanas (14 h) de modo a desenvolver "questões que são controversas até mesmo dentro da Igreja" (15 b).

Ou seja, questões "relacionadas à identidade de gênero e à orientação sexual, ao fim da vida, a situações matrimoniais difíceis e a problemas éticos relacionados à inteligência artificial". Para a Igreja, essas "colocam questões novas" (15 g). "É importante dedicar o tempo necessário para essa reflexão e investir nela as melhores energias, sem ceder a julgamentos simplificadores que ferem as pessoas e o Corpo da Igreja", lembrando que "muitas indicações já são oferecidas pelo Magistério e estão esperando para serem traduzidas em iniciativas pastorais apropriadas".

Um dos Círculos Menores (Vatican Media)

A escuta

Com a mesma preocupação, o convite é renovado para uma escuta "autêntica" das "pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja, por causa de sua situação conjugal, identidade e sexualidade" e que "pedem para serem ouvidas e acompanhadas, e que sua dignidade seja defendida". Seu desejo é "voltar para 'casa'", na Igreja, e "ser ouvido e respeitado, sem medo de se sentir julgado", afirma a Assembleia, reafirmando que "os cristãos não podem deixar de respeitar a dignidade de qualquer pessoa" (16 h).

Poligamia

À luz das experiências relatadas na assembleia por alguns membros do Sínodo da África, o SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar) é incentivado a promover "um discernimento teológico e pastoral" sobre a questão da poligamia e "o acompanhamento de pessoas em uniões poligâmicas que estão chegando à fé" (16 q)

Cultura digital

Por fim, o Relatório de Síntese fala sobre o ambiente digital. O incentivo é para "alcançar a cultura atual em todos os espaços onde as pessoas buscam significado e amor, incluindo seus celulares e tablets" (17 c), tendo em mente que a Internet "também pode causar danos e lesões, por exemplo, por meio de bullying, desinformação, exploração sexual e dependência". É urgente, portanto, "refletir sobre como a comunidade cristã pode apoiar as famílias para garantir que o espaço on-line não seja apenas seguro, mas também espiritualmente vivificante" (17 f).

Um pausa nos trabalhos do Sínodo (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Dia de Finados 2023: Horários das Missas nos cemitérios (Distrito Federal)

Cemitério (arqbrasilia)

Dia de Finados 2023: Horários das Missas nos cemitérios

Para acolher e dar conforto espiritual aos visitantes que forem prestar homenagens a amigos e familiares que já não estão entre nós, no próximo dia 02 de novembro, os seis cemitérios do Distrito Federal, localizados na Asa Sul, Brazlândia, Gama, Planaltina, Taguatinga Norte e em Sobradinho, vão receber as tradicionais missas promovidas pela Comissão Arquidiocesana de Finados. As cerimônias serão realizadas ao longo do dia e o acesso aos cemitérios será permitido somente pelos portões principais.

Segundo a empresa Campo da Esperança, responsável pela administração dos cemitérios, os portões abrem uma hora mais cedo, às 7h, e fecham às 19h.

Confira os horários das missas:

Cemitério da Asa Sul

08h (Dom Marcony), 09h30, 10h30 (Dom Raymundo Damasceno), 12h (Dom Paulo), 14h (Dom Ricardo Hoeprs), 15h30, 17h

Cemitério do Gama

08h (Dom Paulo), 09h30, 11h, 12h30, 14h, 15h30, 17h

Cemitério de Sobradinho

08h, 9h30 (Dom Antonio), 11h, 12h30, 15h, 16h30

Cemitério de Planaltina:

08h, 9h30, 11h, 12h30 (Dom Antonio), 14h, 15h30, 17h

Cemitério de Taguatinga

08h (Dom Denilson), 9h30, 11h, 12h30, 14h, 15h30, 17h

Cemitério de Brazlândia

07h, 09h, 11h (Dom Denilson), 15h, 17h

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

O Relatório de Síntese: uma Igreja que envolve todos e está próxima das feridas do mundo (PARTE II)

A assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade reunida na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Foi publicado o Relatório de Síntese na conclusão da XVI Assembleia Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Em vista da segunda sessão em 2024, são oferecidas reflexões e propostas sobre temáticas como o papel das mulheres e dos leigos, o ministério dos bispos, o sacerdócio e o diaconato, a importância dos pobres e migrantes, a missão digital, o ecumenismo e os abusos.

Salvatore Cernuzio - Vatican News

Leigos e famílias (PARTE II)

"Os leigos e as leigas, os consagrados e as consagradas, e os ministros ordenados têm igual dignidade" (8 b): esse pressuposto é reiterado com força no Relatório de Síntese, que lembra como os fiéis leigos "estão cada vez mais presentes e ativos também no serviço dentro das comunidades cristãs" (8 e). Educadores na fé, teólogos, formadores, animadores espirituais e catequistas, ativos na salvaguarda e na administração: sua contribuição é "indispensável para a missão da Igreja" (8 e). Os diferentes carismas devem, portanto, ser "evidenciados, reconhecidos e plenamente valorizados" (8 f), e não menosprezados, apenas suprindo a falta de sacerdotes, ou pior, ignorados, subutilizados e "clericalizados" (8 f).

Mulheres

Forte é o compromisso pedido à Igreja, então, para o acompanhamento e a compreensão das mulheres em todos os aspectos de suas vidas, incluindo os pastorais e sacramentais. As mulheres, diz o documento, "exigem justiça em uma sociedade marcada pela violência sexual e desigualdades econômicas, e pela tendência de tratá-las como objetos" (9 c). "O acompanhamento e a forte promoção das mulheres andam de mãos dadas".

O Papa com algumas das mulheres que participaram do Sínodo (Vatican Media)

Clericalismo e machismo

Muitas mulheres presentes no Sínodo "expressaram profunda gratidão pelo trabalho dos padres e bispos, mas também falaram de uma Igreja que fere" (9f). "O clericalismo, o machismo e o uso inadequado da autoridade continuam a marcar a face da Igreja e a prejudicar a comunhão". É necessária uma "profunda conversão espiritual e mudanças estruturais", bem como "um diálogo entre homens e mulheres sem subordinação, exclusão ou competição" (9 h).

Diaconato feminino

As opiniões variam sobre o acesso das mulheres ao diaconato (9 j): para alguns, é um passo "inaceitável", "em descontinuidade com a Tradição"; para outros, restauraria uma prática da Igreja primitiva; outros ainda o veem como "uma resposta apropriada e necessária aos sinais dos tempos" para "renovar a vitalidade e a energia da Igreja". Há ainda aqueles que expressam "o temor de que esse pedido seja a expressão de uma perigosa confusão antropológica, aceitando que a Igreja se alinhe com o espírito dos tempos".

Os padres e as mães do Sínodo pedem para continuar "a pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconato", usando os resultados das comissões especialmente criadas pelo Papa e a pesquisa teológica, histórica e exegética já realizada: "se possível, os resultados devem ser apresentados na próxima sessão da Assembleia" (9 n).

Discriminação e abusos

Enquanto isso, a urgência de "garantir que as mulheres participem dos processos de tomada de decisão e assumam papéis de responsabilidade no cuidado pastoral e no ministério" é reiterada, e o Direito Canônico deve ser adaptado de acordo (9m). Os casos de discriminação no emprego e remuneração injusta também devem ser abordados, inclusive na Igreja, onde "as mulheres consagradas são frequentemente consideradas mão de obra barata" (9 o). Em vez disso, o acesso das mulheres à educação teológica e aos programas de formação deve ser ampliado (9 p), incluindo a promoção do uso de linguagem inclusiva em textos litúrgicos e documentos da Igreja (9 q).

Papa Francisco com Madre Ignazia Angelini (Vatican Media)

Vida Consagrada

Observando a riqueza e a variedade das diferentes formas de Vida Consagrada, se adverte contra a "persistência de um estilo autoritário, que não abre espaço para o diálogo fraterno". É aqui que se geram casos de abusos de vários tipos contra pessoas consagradas e membros de agregações leigas, especialmente mulheres. O problema "requer intervenções decisivas e apropriadas" (10 d).

Diáconos e formação

A gratidão é então expressa aos diáconos "chamados a viver seu serviço ao Povo de Deus em uma atitude de proximidade com as pessoas, de acolhimento e de escuta de todos" (11 b). O perigo é sempre o clericalismo, uma "deformação do sacerdócio" a ser combatida "desde as primeiras etapas da formação", graças a "um contato vivo" com o povo e com os necessitados (11 c). Nessa linha, pede-se também que os seminários ou outros cursos de formação dos candidatos ao ministério estejam ligados à vida cotidiana das comunidades (11 e), a fim de evitar "os riscos do formalismo e da ideologia que levam a atitudes autoritárias e impedem o verdadeiro crescimento vocacional".

Celibato

Foi mencionado o tema do celibato, que recebeu diferentes avaliações durante a assembleia. "Todos", pode-se ser no Relatório, "apreciam seu valor profético e o testemunho de conformação a Cristo; alguns se perguntam se sua adequação teológica com o ministério sacerdotal deve necessariamente se traduzir na Igreja latina em uma obrigação disciplinar, especialmente onde os contextos eclesiais e culturais o tornam mais difícil. Esse não é um tema novo, que precisa ser aprofundado".

Bispos

Há uma ampla reflexão sobre a figura e o papel do bispo, que é chamado a ser "um exemplo de sinodalidade" (12 c) ao exercer a "corresponsabilidade", entendida como o envolvimento de outros atores dentro da diocese e do clero, de modo a aliviar a "sobrecarga de compromissos administrativos e jurídicos" que muitas vezes atrapalham sua missão (12 e). Juntamente com isso, o bispo "nem sempre encontra apoio humano e espiritual" e "a experiência dolorosa de certa solidão não é incomum" (12 e).

Os trabalhos do Sínodo (Vatican Medeia)

Casos de abusos

Sobre a questão dos abusos, que "coloca muitos bispos na dificuldade de conciliar o papel de pai e o de juiz" (12 i), sugere-se "considerar a possibilidade de confiar a tarefa judicial a outro órgão, a ser especificado canonicamente" (12 i).

https://www.vaticannews.va/pt

A verdade sobre o Papa Inocêncio III

Fregonese Daniele | Vatican Secret Archives | AFP

Por Vanderlei de Lima - publicado em 20/06/18

A quem esse tema distorcido sobre Inocêncio III favorece?

Em 2015, saiu o livro de Olavo de Carvalho intitulado O Jardim das aflições. De Epicuro à ressurreição de César: ensaio sobre o materialismo e a religião civil. 3ª edição com posfácio inédito, de 464 páginas (Vide Editorial).

Interessa-nos, no presente artigo, a página 290, pois nela se lê que “César, afinal, era bisneto de Vênus, mas ninguém pôde recorrer a este exemplo porque a nova concepção era inexpressável no velho linguajar astrológico, onde a autoridade espiritual era o Sol, e o poder temporal a Lua” (sic!).

Na nota de rodapé 164, nessa mesma página, é que o autor se mostra um tanto desinformado ao escrever o seguinte: “Inocêncio III, numa bula cujo título não me ocorre, usara explicitamente essa imagem, consagrando-a como expressão por assim dizer oficializada da doutrina”.

Notemos, desde logo, que a astrologia é incompatível com a fé católica, conforme o Catecismo da Igreja Católica n. 2116. Constata ainda a propósito Dom Estêvão Bettencourt, OSB, que “a astrologia ou o horóscopo admite que se possa ter o destino de alguém a partir da posição que os astros ocupavam quando esta pessoa nasceu. Tal arte, como é praticada hoje, supõe um sistema cosmológico ultrapassado, de modo que é refutado não só pela fé católica, mas também pela ciência” (Curso de Teologia Moral. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1986, p. 73).

Vê-se, assim, que nem Inocêncio III, nem outros Papas sequer se aproximaram da astrologia enquanto tal na doutrina da Igreja. Ele usa o sol e a lua como mera figura de linguagem, com os condicionamentos da época (pensava-se que a lua tinha luz própria e não a fornecida pelo sol), para mostrar que a luz mais forte simboliza o poder espiritual e a mais fraca, o temporal.

O autor do livro, portanto, se engana, pois o Papa Inocêncio III não escreveu a suposta Bula (do latim Bullae, documento que contem as leis pontifícias e são assim chamadas pelo sinete de chumbo que traz, mas é frequentemente substituído por um carimbo vermelho – cf. Giorgio Feliciani. As bases do direito na Igreja: comentários ao Código de Direito Canônico. São Paulo: Paulinas, 1994, p. 54) sobre o tema “Igreja e Estado” ou o poder temporal e espiritual, mas uma carta, a Solitas Benignitatis, em 1201, a Aleixo, Imperador do Oriente. Nela, sim, ele afirmava que a esfera espiritual (a da Igreja) é superior à temporal (do Estado), do mesmo modo como a alma é superior ao corpo. Depois, a título de ilustração, e não de doutrina – frisemos bem –, acrescentava que o âmbito espiritual é como o dia iluminado pelo sol (a Igreja) e a esfera temporal é como a noite iluminada pela lua (o Estado).

A doutrina sobre o temporal e o espiritual só foi tratada mais detalhadamente pelo Papa Bonifácio VIII na (aqui sim) Bula Unan Sanctam, de 18/11/1302, mas 100 anos depois da carta de Inocêncio III que o autor em foco confunde com Bula. Contudo, Bonifácio não fala de sol e lua (se fosse doutrina e não mera figura de linguagem, ele, obrigatoriamente, falaria, dado que trata do mesmo tema de Inocêncio III), mas ilustra a doutrina recorrendo a outro expediente literário, a imagem das duas espadas: “As palavras do Evangelho nos ensinam: esta potência comporta duas espadas, todas as duas estão em poder da Igreja: a espada espiritual e a espada temporal. Mas esta última deve ser usada para a Igreja enquanto que a primeira deve ser usada pela Igreja. O espiritual deve ser manuseado pela mão do padre; o temporal, pela mão dos reis e cavaleiros, com o consenso e segundo a vontade do padre. Uma espada deve estar subordinada à outra espada; a autoridade temporal deve ser submissa à autoridade espiritual”.

Note-se ainda um erro de português: a expressão “no velho linguajar astrológico, onde a autoridade espiritual…” (Destaque nosso), deveria ser reformulada assim: “no velho linguajar astrológico, em que a autoridade espiritual…”, pois o onde indica lugar físico, o que não é o caso de “linguajar astrológico”.

Eis uma brevíssima reflexão que leva toda pessoa de bom-senso a perguntar com seriedade decisiva: a quem esse tema distorcido sobre Inocêncio III favorece?

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Relatório de Síntese: uma Igreja que envolve todos e está próxima das feridas do mundo (PARTE I)

A assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade reunida na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Foi publicado o Relatório de Síntese na conclusão da XVI Assembleia Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Em vista da segunda sessão em 2024, são oferecidas reflexões e propostas sobre temáticas como o papel das mulheres e dos leigos, o ministério dos bispos, o sacerdócio e o diaconato, a importância dos pobres e migrantes, a missão digital, o ecumenismo e os abusos.

Salvatore Cernuzio - Vatican News

Mulheres e leigos, diaconato, ministério e magistério, paz e meio ambiente, pobres e migrantes, ecumenismo e identidade, novas linguagens e estruturas renovadas, antigas e novas missões (também digitais), ouvir todos e aprofundar - não superficialmente - sobretudo, mesmo as questões mais "polêmicas". Há um olhar renovado sobre o mundo e a Igreja e às suas instâncias, no Relatório de Síntese aprovado e publicado neste sábado (28) pela XVI Assembleia Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade. Após quatro semanas de trabalho, que começaram em 4 de outubro na Sala Paulo VI, o evento eclesial conclui neste sábado (28), no Vaticano, a sua primeira sessão.

Cerca de 40 as páginas do documento, fruto do trabalho da assembleia que "se realizou enquanto velhas e novas guerras assolam o mundo, com o drama absurdo de inúmeras vítimas". "O grito dos pobres, dos que são obrigados a migrar, dos que sofrem violência ou sofrem as consequências devastadoras das mudanças climáticas ressoou entre nós, não só através da mídia, mas também das vozes de muitos, pessoalmente envolvidos com suas famílias e povos nesses trágicos acontecimentos", diz o documento (Premissa).

A esse desafio e a muitos outros, a Igreja universal tentou oferecer uma resposta nos Círculos Menores e nas intervenções. Tudo foi reunido no Relatório de Síntese, dividido em três partes, que traça o caminho para o trabalho a ser realizado na segunda sessão em 2024.

Os trabalhos na Sala Paulo VI (Vatican Media)

Ouvir todos, começando pelas vítimas de abusos

Como na Carta ao Povo de Deus, a assembleia sinodal reafirmou "a abertura para ouvir e acompanhar todos, inclusive aqueles que sofreram abusos e ferimentos na Igreja" (1 e). Ao longo do caminho a ser percorrido "rumo à reconciliação e à justiça", "é preciso abordar as condições estruturais que permitiram tais abusos e fazer gestos concretos de penitência".

O rosto de uma Igreja sinodal

A sinodalidade é um primeiro passo. Um termo que os próprios participantes do Sínodo admitem ser "desconhecido para muitos membros do Povo de Deus" e "desperta confusão e preocupação em alguns" (1 f), entre aqueles que temem um afastamento da tradição, um rebaixamento da natureza hierárquica da Igreja (1 g), uma perda de poder ou, ao contrário, imobilidade e falta de coragem para mudar. Em vez disso, "sinodal" e "sinodalidade" são termos que "indicam um modo de ser Igreja que articula comunhão, missão e participação". Portanto, uma maneira de viver a Igreja, valorizando as diferenças e desenvolvendo o envolvimento ativo de todos. Começando pelos presbíteros e bispos: "uma Igreja sinodal não pode prescindir de suas vozes" (1 n), se lê no documento. "Precisamos entender as razões da resistência à sinodalidade por parte de alguns deles".

Missão

A sinodalidade anda de mãos dadas com a missão, portanto, é necessário que "as comunidades cristãs compartilhem a fraternidade com homens e mulheres de outras religiões, convicções e culturas, evitando, por um lado, o risco da autorreferencialidade e da autopreservação e, por outro, o da perda de identidade" (2 e). Nesse novo "estilo pastoral", parece importante para muitos tornar "a linguagem litúrgica mais acessível aos fiéis e mais incorporada à diversidade de culturas" (3 l).

Alguns participantes do Sínodo (Vatican Media)

Os pobres ao centro

Um amplo espaço no Relatório é dedicado aos pobres, que pedem à Igreja "amor" entendido como "respeito, acolhimento e reconhecimento" (4 a). "Para a Igreja, a opção pelos pobres e descartados é uma categoria teológica antes de ser cultural, sociológica, política ou filosófica" (4 b), reitera o documento, identificando como pobres também os migrantes, os indígenas, as vítimas de violência, de abusos (especialmente mulheres), de racismo e tráfico, pessoas com vícios, minorias, idosos abandonados, trabalhadores explorados (4 c). "Os mais vulneráveis dos vulneráveis, para os quais é necessária uma defesa constante, são as crianças no ventre materno e suas mães", diz o texto da assembleia, que afirma estar "ciente do grito dos 'novos pobres' produzido pelas guerras e pelo terrorismo, também causado por 'sistemas políticos e econômicos corruptos'".

Compromisso dos crentes com a política e o bem comum

Nesse sentido, exorta-se um comprometimento da Igreja tanto com a "denúncia pública das injustiças" perpetradas por indivíduos, governos e empresas quanto com o engajamento ativo na política, nas associações, nos sindicatos e nos movimentos populares (4g). Sem descuidar da ação consolidada da Igreja nos campos da educação, da saúde e da assistência social, "sem qualquer discriminação ou exclusão de quem quer que seja" (4 k).

Uma pausa nos trabalhos do Sínodo (Vatican Media)

Migrantes

O foco se concentra nos migrantes e refugiados, "muitos dos quais carregam as feridas do desenraizamento, da guerra e da violência". Eles "se tornam uma fonte de renovação e enriquecimento para as comunidades que os acolhem e uma oportunidade de estabelecer um vínculo direto com Igrejas geograficamente distantes" (5d). Diante de atitudes cada vez mais hostis em relação a eles, o Sínodo convida "a praticar uma acolhida aberta, a acompanhá-los na construção de um novo projeto de vida e a construir uma verdadeira comunhão intercultural entre os povos". Fundamental nesse sentido é o "respeito às tradições litúrgicas e às práticas religiosas", bem como à linguagem.

Por exemplo, uma palavra como "missão", nos contextos em que "a proclamação do Evangelho tem sido associada à colonização e até mesmo ao genocídio", está carregada de "um doloroso legado histórico" e dificulta a comunhão (5 e). "Evangelizar nesses contextos requer o reconhecimento dos erros cometidos, aprendendo uma nova sensibilidade para essas questões", afirma o documento.

Combater o racismo e a xenofobia

Pede-se igual empenho e cuidado da Igreja "em educar para uma cultura do diálogo e do encontro, combatendo o racismo e a xenofobia, especialmente nos programas de formação pastoral" (5 p). Também é urgente "identificar os sistemas que criam ou mantêm a injustiça racial dentro da Igreja e combatê-los" (5 q).

Igrejas Orientais

Ainda sobre o tema da migração, o olhar vai para a Europa Oriental e os recentes conflitos que causaram o fluxo de numerosos fiéis do Oriente católico para territórios de maioria latina. "É necessário", diz o pedido dos padres, "que as Igrejas locais de rito latino, em nome da sinodalidade, ajudem os fiéis orientais que emigraram a preservar a sua identidade", sem passar por "processos de assimilação" (6c).

Alguns participantes da assembleia sinodal (Vatican Media)

No caminho da unidade dos cristãos 

No que diz respeito ao ecumenismo, fala-se de uma "renovação espiritual" que requer "processos de arrependimento" e "cura da memória" (7c); em seguida, cita a expressão do Papa de um "ecumenismo do sangue", ou seja, "cristãos de diferentes pertenças que juntos dão a vida pela fé em Cristo" (7d) e se relança a proposta de um martirológio ecumênico (7o). O Relatório também reitera que a "colaboração entre todos os cristãos" é um recurso "para curar a cultura do ódio, da divisão e da guerra que coloca grupos, povos e nações uns contra os outros". Ele não esquece a questão dos chamados casamentos mistos, que são realidades nas quais "podemos evangelizar uns aos outros" (7 f).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 28 de outubro de 2023

Adão e Eva existiram mesmo?

Jardim do Éden (Cléofas)

Adão e Eva existiram mesmo?

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Adão e Eva existiram de fato; foram os primeiros humanos, não se pode negar isso. Não sabemos onde foram criados e nem quando, mas são tão reais quanto é real o gênero humano. Deus se apresentou ao homem nas suas origens, ao homem real e não a um ser fictício. Adão e Eva são nomes de origem hebraica; representam os primeiros seres humanos.

A ciência, e não a Igreja, é quem deve dizer onde eles existiram e quando. Uma notícia publicada esta semana na famosa revista científica Science diz que os paleontólogos descobriram em 2005, na Geórgia, próximo do Mar Negro, um crânio humano de 1,8 milhões de anos. Com base nos estudos dessa descoberta esses cientistas disseram que se reforça a hipótese de que a humanidade surgiu de uma única espécie. Com o avanço da ciência saberemos um dia onde surgiu o primeiro casal humano, isto é, os primeiros que receberam de Deus uma alma imortal, ou seja, Adão e Eva.

Não há necessidade de admitir que Adão tenha sido fisicamente mais belo e mais evoluído do que os homens da pré-história. O primeiro casal de que fala o Gênesis, pode ter tido uma configuração grosseira como mostram os fósseis. O que a Igreja ensina é que o primeiro casal vivia na amizade e comunhão com Deus (estado de santidade); é o que expressa a sua presença no jardim de Deus, o Éden. Adão tinha também o que se chama de estado de “justiça original”, que significa plena harmonia consigo mesmo (não tinha traumas, tristezas, problemas…), harmonia com a mulher, com Deus, com os animais e com a natureza. Com a desobediência a Deus, o pecado, perdeu a amizade de Deus a plena harmonia com a mulher, com Deus e com a natureza. A morte entrou na história humana pelo pecado (Rm 6,3). Jesus Cristo, o novo Adão, pela sua Encarnação e Paixão, veio recuperar o que o primeiro Adão perdeu, e nos dar a oportunidade de voltar ao Paraíso.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

O Sínodo, "um novo modo de ser Igreja"

Os trabalhos do Sínodo sobre a Sinodalidade na Sala Paulo VI, no Vaticano (Vatican Media)

No penúltimo encontro com a mídia na Sala de Imprensa do Vaticano, as intervenções do Irmão Alois de Taizé, do Padre Radcliffe e da Madre Angelini, que acompanharam os trabalhos da assembleia com as suas meditações.

L'Osservatore Romano

"Não nos cansamos de rezar incessantemente pela paz": com essas palavras o secretário geral do Sínodo dos Bispos, cardeal Mario Grech, abriu os trabalhos da Assembleia da manhã desta sexta-feira (27), recordando que o dia é de jejum e oração pela paz. O compromisso de toda a Assembleia foi justamente às 18h, na Basílica de São Pedro, para o terço e a adoração eucarística com o Papa Francisco.

Foi o que anunciou Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação e presidente da Comissão de Informação, na coletiva de imprensa desta sexta (27), que começou às 14h20, na Sala de Imprensa da Santa Sé, e foi apresentada pela vice-diretora, a brasileira Cristiane Murray.

Ruffini: rumo à votação do "Relatório de Síntese"

Na Congregação Geral da manhã, 320 membros estavam presentes devido a compromissos concomitantes na Cúria Romana e em outras reuniões, disse Ruffini ao relatar o andamento dos trabalhos sinodais: "depois da oração e antes da discussão nos Círculos e das intervenções livres - dedicadas a receber perguntas, sugestões e propostas sobre a próxima fase do processo sinodal que nos acompanhará até outubro do próximo ano - foram dadas algumas informações sobre o esboço final do Relatório de Síntese".

No final da discussão de quinta-feira (26) sobre a primeira versão do Relatório, explicou o prefeito, "foram coletados 1125 'modos' coletivos dos Círculos e 126 'modos' individuais. Todos os 'modos' foram e serão levados em consideração. Isso é por respeito àqueles que os enviaram. O trabalho de recepção ainda está em andamento. Os redatores e especialistas - a quem a Assembleia aplaudiu - estão trabalhando, inclusive durante a noite, para preparar a versão atualizada do texto".

Ruffini explicou que "a intenção é, em primeiro lugar, acolher os 'modos' que foram amplamente aceitos, para que possam encontrar seu lugar no texto atualizado". Depois de aceitar os "modos" entregues pelos Círculos menores, o texto será examinado" na noite de sexta (27) na reunião da Comissão do Relatório de Síntese.

"De acordo com o artigo 33 § 2 da Instrução sobre a Celebração das Assembleias Sinodais, a Comissão será chamada a aprovar o texto por maioria absoluta", apontou o prefeito. Posteriormente, entre a noite de sexta (27) e manhã de sábado (28) "será preparada a versão final do texto". Portanto, neste sábado (28) de manhã "não se realizará a Congregação Geral prevista no calendário". Os membros terão o texto no meio da manhã deste sábado (28) "e as versões oficiais serão em inglês e italiano".

"Dessa forma", insistiu Ruffini, "tentamos dar a todos tempo suficiente para que possam ler o relatório resumido em sua versão final com antecedência, para que possam se preparar melhor para a votação da tarde". O texto entregue aos membros deve ser considerado estritamente confidencial e não pode ser divulgado de forma alguma".

Na tarde deste sábado (28), a Congregação Geral começará meia hora mais cedo, ou seja, às 15h30, continuou o prefeito, explicando: na primeira parte da Congregação Geral da tarde deste sábado (28), "o Relatório de Síntese será lido na íntegra, de modo que o texto, após a leitura individual de cada membro, será relido colegialmente pela Assembleia. Isso será seguido pela votação eletrônica, que permitirá que as pessoas votem em cada parágrafo individual do texto. Para tornar o processo de votação mais claro, durante a manhã desta sexta (27), no final da congregação geral, foi realizada uma simulação de votação. Também foi reafirmado o sigilo do voto. O sistema, de fato, criptografa os dados coletados, impedindo o reconhecimento de quem votou".

Entrando nos detalhes da votação deste sábado (28), Ruffini disse que "na tela de cada tablet disponibilizado aos membros do Sínodo aparecerá o número de cada capítulo do Relatório e, abaixo, todos os parágrafos marcados pelas letras do alfabeto. Cada membro terá que dar seu voto - "sim" ou "não" - para cada parágrafo. Com base no Artigo 35 § 3 da Instrução sobre a celebração das Assembleias Sinodais, a abstenção não é permitida. De acordo com o § 4 do mesmo Artigo 35 da Instrução, os parágrafos individuais são considerados aprovados com uma maioria de dois terços dos membros presentes na votação".

Ruffini também anunciou que nesta sexta (27), "as meditações oferecidas pelo Padre Timothy Radcliffe - presente na coletiva de imprensa - no retiro espiritual em Sacrofano, reunidas em um livro disponível em italiano e inglês, foram distribuídas aos membros do Sínodo". E, "por desejo expresso do Santo Padre, como presente para os participantes do Sínodo", foi entregue outro livro (disponível em quatro idiomas: italiano, inglês, francês e espanhol) que recolhe as quatro cartas que o Padre Radcliffe dirigiu à Ordem Dominicana durante os anos em que foi Mestre Geral.

No domingo (29), recordou o prefeito, "a celebração eucarística de encerramento do Sínodo será às 10 horas na Basílica de São Pedro" (6h no horário de Brasília).  Para concluir, Ruffini anunciou que os trabalhos da manhã desta sexta (27) "foram introduzidos pelo presidente delegado, Ibrahim Isaac Sedrak, Patriarca de Alexandria dos Coptas".

Pires: por um maior envolvimento sinodal

Sheila Pires, secretária da Comissão de Informação, apresentou a estrutura e o conteúdo das intervenções dentro dos Círculos menores, todos focados na fase posterior a outubro de 2024. O tema do dia, de fato, foi o compartilhamento de ideias e propostas sobre métodos e etapas para a próxima fase do processo sinodal, antes da segunda sessão.

Muitos participantes, disse ela, "sugeriram que a duração da próxima Assembleia fosse de três semanas e não de quatro. E que houvesse mais tempo para reflexão e meditação pessoal, permitindo também uma melhor participação com intervenções dentro da Assembleia. Também houve pedidos para que houvesse mais reuniões de grupo, baseadas não tanto no idioma, mas no histórico de cada pessoa".

As propostas incluíram um breve resumo do Relatório de Síntese em uma linguagem mais compreensível para todos, especialmente para os jovens. A importância de levar "conversas no Espírito" às comunidades para evitar o risco de as discussões serem desconectadas da vida concreta do povo de Deus" foi então enfatizada. Além disso, "foi sugerido o envolvimento das comunidades locais em todos os níveis, seguindo um caminho sinodal". Finalmente, concluiu Pires, "foram feitas propostas para aplicar a sinodalidade e a corresponsabilidade, fazendo bom uso das possibilidades já previstas no Direito Canônico, para envolver os jovens, as mulheres e os diáconos".

Madre Angelini: a experiência beneditina na Sala Paulo VI

Madre Maria Ignazia Angelini, beneditina do Mosteiro de Viboldone, atuou como assistente espiritual no Sínodo. Um papel, confidenciou ela, "que me convinha profundamente, participando da escuta e da oração e da interação com os membros do Sínodo, nos vários intervalos entre os Círculos Menores, partindo de uma experiência de monaquismo dentro da Igreja, uma experiência marginal desde o início, mas com uma carga profética, e assim penso em São Bento".

Foi significativo, continuou Madre Angelini, "poder representar a minha absoluta irrelevância nesse fio contínuo de significado na história da Igreja, que se esconde na raiz das questões que foram abordadas, a raiz que se expressa no olhar monástico sobre a vida da Igreja no estudo das Escrituras, na oração e no relacionamento fraterno, que se torna hospitaleiro".

Desse ponto de vista, a monja beneditina enfatizou novamente o caráter "revolucionário" do Sínodo, "uma mudança de ritmo na vida da Igreja, no sentido da inclusividade nas presenças", com "um raio de abertura na capacidade de escutar as diferenças, na capacidade de olhar a realidade, em um momento complexo da história, indecifrável, que pede à fé uma visão a partir da perspectiva mais elevada, na qual a presença de Deus se torna carne".

"A Escritura nos dá critérios profundos e luminosos para interpretar momentos históricos tão terríveis", continuou Madre Angelini, que continuou elogiando a maneira "profundamente inovadora" com que cardeais, bispos, teólogos e leigos se reuniram, com todas as suas diferenças, para rezar juntos e ouvir uns aos outros. Será importante "ver como avançaremos a partir dessa experiência", concluiu.

Padre Radcliffe: com o estilo de aprender juntos

Em seguida, tomou a palavra o Padre Timothy Peter Joseph Radcliffe, dominicano do mosteiro britânico de Oxford. Ele também participou do Sínodo como assistente espiritual. A sinodalidade faz parte do modo de ser de sua ordem, fundada há 800 anos, onde as decisões são tomadas em conjunto, disse ele. Sendo seu quarto Sínodo, ele observou que este é de fato diferente dos outros. E "esta é uma mudança extraordinária na forma como somos Igreja juntos: acho que o fato de ver cardeais, jovens mulheres da América Latina e da Ásia sentados juntos para falar já é transformador do ponto de vista da experiência das pessoas e também de ser Igreja".

No entanto, ele garantiu, "certamente ainda é um Sínodo de Bispos, porque revela muito claramente o que significa ser representantes do colégio de bispos não como indivíduos solitários, mas como bispos imersos na conversa de seu povo" por meio de "ouvir, falar e aprender juntos". O Padre Radcliffe também falou sobre as mudanças que muitos esperam para o futuro da Igreja:

"Isso significa que talvez eles não estejam procurando a coisa certa, porque estamos reunidos para descobrir como ser Igreja de uma nova maneira, em vez de tomar decisões específicas; como podemos ser uma Igreja que ouve e cujos membros ouvem uns aos outros em diferentes culturas e ouvem a tradição ao longo do tempo. Estamos aprendendo a tomar decisões juntos, a ouvir uns aos outros: estamos no início de um processo de aprendizado, portanto, haverá obstáculos e erros, mas tudo bem, pois estamos no caminho".

De fato, ele reiterou que esse "processo de aprendizado é de extraordinária importância hoje em dia. Vivemos em um mundo cheio de violência, com o colapso da comunicação entre as pessoas, como no Oriente Médio, na Ucrânia e em muitas partes da África, mas também em nossos próprios países, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, onde vemos a polarização e, de alguma forma, temos que aprender a falar uns com os outros e a ouvir uns aos outros". Portanto, a esperança é que este Sínodo não seja apenas "útil para curar as feridas da Igreja, mas também para a humanidade".

Irmão Alois: uma nova maneira de ser Igreja

O Irmão Alois, prior da Comunidade de Taizé desde 2005, após o falecimento do Irmão Roger (em 3 de dezembro ele deixará o cargo para o Irmão Matthew) - que está participando do Sínodo como "convidado especial" - começou citando uma expressão que lhe foi confiada por um pastor reformado presente na sala como delegado fraterno: "este Sínodo é uma profunda experiência de comunhão". Essas são palavras significativas que testemunham como a assembleia sinodal foi verdadeiramente "aberta a todos os cristãos e ao mundo".

A esse respeito, o Ir. Alois recordou a vigília ecumênica realizada na Praça de São Pedro, no dia 30 de setembro, com a presença de representantes de diferentes Igrejas e comunidades cristãs: "é uma imagem", disse ele, "do que estamos vivendo atualmente no ecumenismo, é um kairos, uma abertura, um momento que nos permite avançar no ecumenismo espiritual", partindo da consciência de que "todos somos batizados em Cristo" e "fazemos parte de um único corpo". Isso, acrescentou, "foi palpável em todo o Sínodo", especialmente na escuta, na simplicidade, na vontade de dialogar, na alegria de estarmos juntos. Espero sinceramente que esse estilo", desejou ele, "possa se espalhar por muitos lugares do mundo", porque o processo sinodal "está nos levando a uma nova maneira de ser Igreja".

Sem medo do método sinodal

À primeira pergunta dos jornalistas - que lhe perguntaram se, de alguma forma, devido aos seus livros sobre comunicação que o Papa Francisco tem apreciado muito, ele se considerava um dos "construtores" deste Sínodo - o Padre Radcliffe respondeu que não tinha um papel específico nisso, mas que tinha participado do diálogo comum. Perguntado mais tarde sobre a capacidade do Sínodo de levar a Igreja a uma nova fase, apesar do ceticismo de alguns, o Ir. Alois reiterou que havia percebido, no trabalho dessas semanas, uma certa evolução no diálogo entre pessoas de diferentes origens culturais que procuraram se entender, dizendo que estava certo de que o Sínodo havia provocado uma transformação em suas almas, de acordo com "o caminho que todos nós devemos seguir juntos".

Ele foi repetido pelo Padre Radcliffe, que argumentou que muitas pessoas temem o método sinodal porque não o entendem, temendo que o debate sinodal seja de natureza política e cause cismas, quando na verdade está acontecendo o contrário. "O sínodo é um evento de oração e fé", observou ele.

Perguntado sobre quais sugestões práticas ele daria a um pároco para implementar os conceitos desse Sínodo, o Padre Radcliffe disse que o tema recorrente do Sínodo foi a crítica ao clericalismo; no entanto, isso não deve alarmar os padres, mas também destacar todos os aspectos positivos do sacerdócio diocesano, sua beleza, apoiando o trabalho daqueles que evangelizam.

Perguntado sobre possíveis leituras políticas do Sínodo, o Padre Radcliffe enfatizou que não acreditava que um conflito ideológico tivesse surgido dos procedimentos. O que surgiu foram diferenças culturais. E a beleza do catolicismo é acolher pessoas de todo o mundo, porque as culturas têm uma bela diversidade que enriquece. O que pode ser uma preocupação para um ambiente cultural não é uma preocupação para aqueles que vivem em outro lugar. Aprender a respeitar as preocupações dos outros, disse ele, é, portanto, uma questão muito mais importante do que as questões ideológicas que não foram encontradas no Sínodo.

A esse respeito, o Irmão Alois observou que vivemos em um mundo onde há cada vez mais medos e ansiedades. Existe a tentação de nos fecharmos em ideologias, mas na Igreja podemos realmente ir contra a maré, cruzar fronteiras. Isso pode ser visto, disse ele, com os jovens de Taizé, que querem ser mais compreensivos, respeitando as diferentes formas de expressar a fé. Na Igreja, concluiu ele, é preciso encontrar uma maneira ainda mais clara de viver a beleza da diversidade.

Mais uma vez, o Padre Radcliffe, em resposta a uma pergunta sobre a admissão de homossexuais no seminário, salientou que a questão não é a exclusão, mas o fato de que há pessoas que tornaram a homossexualidade "central em sua identidade", o que levanta dúvidas sobre sua adequação ao sacerdócio. Questionado posteriormente sobre os frutos que o Sínodo pode dar, o teólogo dominicano reiterou que não se trata apenas de um exercício de diálogo, mas sobretudo de compartilhamento, valorizando a abertura de todos "às vidas e experiências de pessoas que vêm de lugares diferentes". Na mesma linha estava o prior de Taizé, que enfatizou que o método de escuta "foi frutífero", mesmo que seja necessário tempo para ver os frutos do que foi semeado, e ele apreciou o fato de que "nesta assembleia esse espaço de escuta foi dado seguindo um método profundamente evangélico".

Respondendo a uma pergunta sobre os jovens, Madre Angelini disse que não tendo participado dos Círculos Menores - definidos como um momento frutífero em que se pode experimentar a "passagem do 'eu' para o 'nós'" - o seu ponto de vista é parcial, mas pelo menos lhe permitiu compreender a seriedade do problema. É uma questão, explicou ela, da necessidade de a Igreja encontrar uma linguagem apropriada, especialmente no mundo digital e na comunicação das novas mídias, mas também na linguagem litúrgica, que é absolutamente obsoleta para as novas gerações. E sobre isso, acrescentou, surgiu no Sínodo uma necessidade de conversão.

Nesse sentido, a presença dos irmãos de Taizé na oração ecumênica de 30 de setembro foi um momento poderoso. "Tudo depende agora da capacidade dos membros do Sínodo de levar esses pedidos às Igrejas locais", identificando lugares de escuta mútua para levar esse grande problema da ausência dos jovens na vida da Igreja. Portanto, se tal necessidade se manifestou no Sínodo, continuou Madre Angelini, agora é necessário mediar e também rezar para que haja lugares onde os jovens se sintam chamados, atraídos e envolvidos em um processo de conversão eclesial, e não simplesmente de diálogo pessoal, porque eles precisam contar suas histórias e devem também ser incluídos nos caminhos de discernimento, de leitura da história, de decisões em nível prático nas Igrejas locais".

Em seguida, o prefeito Ruffini reiterou que na votação não será possível se abster e se referiu às propostas que cada Círculo foi convidado a discutir. Na prática, o caminho entre agora e a próxima assembleia está todo em fluxo e o discernimento subsequente nas dioceses é necessário. De forma significativa, foi levantada a questão de como envolver o povo de Deus - que vive em lugares muito diferentes, que podem ser lugares de guerra ou sofrimento - em uma jornada na qual eles estão envolvidos. No entanto, concluiu, até a noite desta sexta (27) os comentários deveriam chegar à comissão, que então os processará, para torná-los seus ou para fazer propostas. O Padre Radcliffe interveio para acrescentar "que esta é a primeira vez que os não-bispos têm o direito de votar".

Em resposta a uma pergunta sobre a importância de curar as feridas da humanidade, Radcliffe disse que é necessário "estender a mão para as pessoas que estão feridas, cuidando delas". E mencionou a experiência do participante do Sínodo, Luca Casarini, que está envolvido no resgate de migrantes no mar. "Cuidar do nosso próximo nos permite curar as feridas dos outros, assim como ouvir a voz das pessoas feridas é muito importante e isso nos permite ajudá-las em sua cura", concluiu.

Quanto a uma possível relação direta entre a reflexão do Sínodo e o comunicado da manhã desta sexta (27) sobre o Padre Rupnik - com a decisão do Papa de renunciar ao estatuto de limitações para permitir a realização de um julgamento - o prefeito Ruffini disse: "não acredito que haja uma relação com o que o Sínodo disse repetidamente e com o que a Igreja vem fazendo há anos para enfrentar o flagelo do abuso e fazer um caminho de penitência, que não começou hoje, e trabalhar para as novas normas que foram aprovadas. O Sínodo, no entanto, não trata de casos individuais", acrescentou Ruffini, lembrando a importância do trabalho do Papa Francisco na luta contra o abuso.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF