O EMPENHO CRISTÃO PELO JUSTO ORDENAMENTO DA SOCIEDADE
04/07/2025
Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
“O empenho pela defesa da vida e dos direitos da pessoa,
pelo justo ordenamento da sociedade, pela dignidade do trabalho, por uma
economia justa e solidária e pela ecologia integral fazem parte da missão
evangelizadora da Igreja”. Esta é uma das afirmações do Documento final do
Sínodo dos Bispos da Igreja Católica Romana, concluído em outubro de 2024,
depois de três anos de um intenso processo de escuta e reflexão.
Mesmo sem ser uma novidade, esta afirmação é importante,
dada a intensa atividade de alguns grupos que questionam a manifestação e a
intervenção dos cristãos no campo social, político e ambiental. Esquecem estes
que a primeira intervenção histórica de Deus foi o apoio ao movimento de
desobediência dos escravos hebreus ao poder do faraó e às lutas para conquistar
terras que antes pertenciam a reis de pequenas cidades-estados.
Não é possível esquecer o caráter político da condenação de
Jesus à morte na cruz, pois esta era a pena imposta pelo império romano a quem
se rebelasse contra seu domínio e aos escravos fugitivos. “Encontramos esse
homem agitando a nossa nação e proibindo pagar impostos a César” dizem os
chefes do judaísmo ao governador (cf. Lc 23,2). E o crime imputado a Jesus
ficou gravado no alto da cruz: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”.
Portanto, o pronunciamento das Igrejas cristãs sobre
questões políticas e econômicas faz parte da sua missão, e não caracteriza
ingerência em terreno alheio. O que é inaceitável é as igrejas atuarem na seara
política para assegurar privilégios para si mesmas ou para impor a todos os
cidadãos uma pauta moral que é própria de uma denominação religiosa, ou
orientar-se pela tática de apoiar incondicionalmente os grupos que exercem o
poder.
Ancorado nesta rocha firme da tradição cristã volto ao
debate sobre o aumento da carga tributária sobre as operações financeiras e
sobre a taxação dos grandes lucros, objeto de acirradas disputas no Congresso e
na grande imprensa. A rejeição do decreto do Executivo pelo Congresso se baseou
em meias-verdades ou mentiras inteiras, e foi celebrado como uma derrota
imposta ao governo, como se a política fosse um jogo.
O Congresso atual não está disposto a aceitar mudanças que
afetem privilégios da minoria, e o único ajuste que defende é o corte nos
gastos sociais, diz o economista Mauricio Weiss. Para o historiador e
economista Pedro Faria, os setores que propuseram e aprovaram a derrubada do
decreto sabem que o aumento da taxa do IOF não prejudica os pobres, e o que
eles querem mesmo é que o ajuste fiscal mantenha os juros altos e os subsídios
fiscais às empresas, e diminua o investimento do Estado nas políticas sociais.
O que fazer diante disso, além de gravar o nome dos que
deram seu voto para aprovar essa infame revogação? Informar-se bem; exercer o
nosso direito de eleger deputados, senadores, governadores e presidentes que
defendam leis e políticas que beneficiem os setores sociais mais vulneráveis; e
engajar-se na reflexão sobre a função social e cidadã dos impostos e sobre
passos e medidas viáveis para uma maior justiça tributária, que faça recair
sobre os mais ricos uma maior responsabilidade tributária. Isso é empenho pelo
justo ordenamento da sociedade e por uma economia justa e solidária.
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