Por Andrew Likoudis
1 de julho de 2025
O padre Ninian Doohan, de 44 anos, ergueu um cálice na missa
a 5.364 metros acima do nível do mar no acampamento base do monte Everest, no
vale do Khumbu, Nepal, usando uma pedra esculpida como altar.
A liturgia — Missa pro Pace ("Missa
pela Paz") — coroou uma escalada de oito dias desde Lukla, cumprindo a
promessa que ele fez ao guia sherpa Gele Bishokarma quando o
batizou na igreja de São Patrício em Edimburgo, Escócia, no Natal de 2023,
dizendo-lhe que o "encontraria em sua própria terra natal".
"Gostaria de ajudar a Igreja lá”, disse o padre. “Pelo
menos para ver nossa fé católica vivida no ponto mais alto da Terra".
O padre Doohan, padre de Dunkeld, Escócia, chegou ao Nepal
em 2 de maio, levando suprimentos médicos para a igreja de Santo Inácio, em
Katmandu, capital do país, e depois partiu com Bishokarma e uma pequena equipe
de carregadores para o acampamento base do Everest — 6,4 mil metros mais alto
que o Ben Nevis, o monte mais alto da Escócia.
"O céu desceu à Terra novamente em seu ponto mais
alto", disse ele aos outros alpinistas na missa no acampamento base.
"É certamente a primeira missa aqui no pontificado nascente do papa Leão
XIV".
O altar usado pelo padre Doohan foi esculpido por um dos
carregadores, que era hindu, então esse foi um momento evangelizador para o
carregador, que recebeu uma explicação de um de seus compatriotas sobre o
significado do altar.
Há cerca de 8 mil católicos no Nepal, 0,03% da população do
país, que tem 29 milhões de habitantes. No entanto, esse número está crescendo.
O padre Doohan também pôde abençoar as cerca de 20 pessoas
presentes na missa com relíquias que ele levou consigo até o cume.
A caminhada não foi nada fácil, disse o padre Doohan.
“Até os alpinistas mais aptos descobrem seus limites no
Everest”, disse ele. “Seu corpo é limitado por todos os elementos
possíveis".
Entre os limites, há o ar rarefeito, o frio brutal, dores
musculares e a constante ameaça do mal de altitude. Às vezes, é simplesmente
"um pé na frente do outro". Mas, disse o padre, há "um
sentimento de gratidão em meio à exaustão".
O padre Doohan usou sua batina por toda a escalada, um
lembrete de que a escalada era uma peregrinação, não só um feito esportivo.
Antes de sua chegada, os paroquianos em casa lançaram uma
página no site JustGiving para arrecadar £750 (cerca de R$ 5,6
mil) para a missão jesuíta de Santo Inácio, que administra clínicas móveis e
uma escola para crianças com necessidades especiais. As doações ultrapassaram £
5 mil (cerca de R$ 37,5 mil) antes mesmo do padre Doohan chegar ao "teto
do mundo".
O padre Doohan brinca dizendo que agradece a Deus, mas
também agradece à cadela que lhe deu filhotes, que ele conseguiu vender aos
seus paroquianos para pagar sua viagem, já que os padres na Escócia vivem uma
vida que um padre descreve como " pobreza distinta".
Enquanto Edmund Hillary, um dos primeiros escaladores do
monte Everest, enterrou um crucifixo abençoado pelo venerável papa Pio XII no
cume da montanha em 1953, a celebração da missa do padre Doohan é a missa mais
alta registrada no local atual do acampamento base do Everest.
Fundamento da fé
O padre Doohan cresceu em circunstâncias difíceis — o vício
do pai levou ao divórcio de seus pais e a mudanças frequentes, deixando-o
principalmente aos cuidados da mãe e dos avós —, mas o enclave católico unido
de Glasgow, Escócia, o enraizou na fé. Batizado na Igreja de St.
Margaret Mary, em Rutherglen, descobriu o amor pela Eucaristia desde cedo,
e a missa diária antes da escola tornou-se rotina depois que a família migrou
para a Austrália, quando ele tinha 12 anos de idade, onde sua vocação
finalmente floresceu.
Em 2002, enquanto participava da missa com os Padres do
Santíssimo Sacramento em Sydney, o celebrante pregou: "Talvez haja alguém
aqui hoje que seja chamado por Deus para ser padre. Ele só precisa dizer
sim".
Doohan — então o único jovem em uma congregação de
"mulheres idosas piedosas" — sabia que o convite "precisava ser
atendido", disse ele num vídeo sobre vocação.
O padre Doohan mergulhou de cabeça na vida paroquial depois
daquele "sim". Seu pároco scalabriniano o colocou para trabalhar
imediatamente: contando as coletas semanais, visitando famílias migrantes e
assumindo quaisquer tarefas apostólicas necessárias. As Missionárias da
Caridade então o instruíram no ministério de rua: servindo refeições quentes no
refeitório comunitário, lendo as Escrituras para os visitantes, combinando isso
com "homilias" curtas e práticas, e aprendendo, como ele diz, "a
não ser excessivamente piedoso em situações que exigem prudência
excepcional". Isso foi combinado com a leitura das obras do papa são João
Paulo II, internalizando seu chamado para levar Cristo ao mundo.
“Como qualquer relacionamento, leva tempo e esforço”, diz o
padre Doohan. “E certamente, num relacionamento com Deus, somos obrigados a
corresponder à graça que Ele já nos concede. Então, Ele dá o primeiro passo em
nossa direção. Deus é sempre fiel, mesmo quando não somos tão fiéis”.
“Muitas pessoas podem pensar que é como aqueles filmes antigos de Hollywood”, diz o padre com um toque de humor. “De algum modo, haverá uma instrução muito clara dada num momento muito específico, quase como um raio… Acho que muitas vezes acontece de Deus revelar um chamado gradualmente e ao longo do tempo”.
Inicialmente, ele considerou o sacerdócio diocesano em
oposição à vida agostiniana, atraído pela combinação de trabalho pastoral e
oração monástica. Seguiram-se 12 anos com os norbertinos. Entrou na casa deles
em Manchester, Inglaterra, e foi investido com o hábito branco de são Norberto
na festa de santo Agostinho. Sempre meticuloso, chegou a experimentar a vida
cisterciense e cartuxa antes de voltar aos norbertinos em Antuérpia, Bélgica.
Doohan foi ordenado diácono como norbertino da abadia de Tongerlo em 8 de
setembro de 2014. Ele foi ordenado sacerdote aos 34 anos de idade na catedral
de Santo André em Dundee, Dunkeld, Escócia.
Depois de sua primeira missa, ao oferecer bênçãos
tradicionais para um padre recém-ordenado, ele fez questão de pedir às pessoas
que rezassem por tudo o que lhes viesse à mente.
"Então, pedi que rezassem por coisas como: que eu
sempre ame os pobres e seja fiel ao celibato e à santa castidade, que eu seja
um bom confessor, que me dedique às escolas e às crianças — tudo o que me
viesse à mente", disse Doohan. Isso é algo pelo qual os fiéis
frequentemente o lembram que continuam a rezar.
Mesmo como padre diocesano, ele ainda valoriza o carisma
norbertino da reconciliação, dizendo: “É um dom maravilhoso poder restaurar a
amizade plena àqueles que se afastaram de Deus em pequenas ou até grandes
coisas”.
Atualmente, ele atende na igreja de St. Patrick's,
na área de Cowgate, no centro histórico de Edimburgo, e em dois hospitais da
cidade. Também está trabalhando e considerando a criação do primeiro oratório
de São Filipe Neri na Escócia.
*Andrew Likoudis formou-se em Comunicação Social pela Towson
University, EUA, e foi estagiário no verão de 2025 no jornal National Catholic
Register, da EWTN.
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