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sábado, 18 de abril de 2020

O “Relato das duas Cidades”: a Semana Santa na Antiga Constantinopla


I.- INTRODUÇÃO
A Semana Santa tanto na Tradição Romana como na Bizantina é fruto de uma mescla de tradições; logo, se poderia afirmar com o Padre Robert Taft, que as duas tiveram uma grandíssima capacidade de absorver e sintetizar novas tendências e influxos externos e de adaptar-se a novas exigências.
Das duas, será Constantinopla a que adquirá, pouco a pouco, um poder dominante, já que era a capital do Império oriental, daí a rápida difusão dos costumes e dos ritos constantinopolitanos. Mas não somente é importante esta capital, senão que teríamos de acrescentar: Jerusalém e os monastérios da Palestina; os usos litúrgicos de Jerusalém se difundiram por todo o orbe graças aos peregrinos, como não destacar a Peregrina por excelência: Egeria.
Este intercâmbio, diz o Padre Taft, se intensifica após o primeiro período do iconoclasmo (726-775), durante a “restauração monástica” levada a cabo por São Teodoro Estudita (+826) que trouxe à capital monges do monastério palestinense de São Sabas para combater contra os hereges, isto é, contra os iconoclastas. Fruto disso foi a síntese litúrgica constantinopolitana-sabaítica, que mais tarde dará como resultado o chamado “rito bizantino”.
Sebastián Janeras expôs esta evolução mostrando a estrutura, as leituras e a hinografia que contêm os livros das duas tradições:
1.-Jerusalém: Lecionário hagiopolita armênio (s. V) e georgiano (s. V-VIII) e Ofícios da Semana Santa no Codex Stavrou 43, transcrito em 1122;
2.- Constantinopla: Typikon da Grande Igreja: manuscritos dos s. IX-X, Evangeliário e Prophetologion (Lecionário com as leituras do AT).
Estas fontes, prossegue o Padre Taft, parecem demostrar um triplo processo de empréstimo recíproco: 1.- Importância primária de Jerusalém como centro de peregrinação, sobretudo na Semana Santa; isto faz com que se infiltrem elementos hagiopolitas nos ritos constantinopolitanos. Ej: Lecionário do s. IX; o Orthros (Laudes) da Sexta- Feira Santa tem uma série de 11 Leituras do Evangelho, fruto da união das Leituras da antiga Vigília de Jerusalém da noite da Quinta- Feira Santa com as das Horas do dia da Sexta- Feira Santa hagiopolita. 2.- Influência constantinopolitana na “Cidade Santa”: esta série de Leituras segundo o Typicon da “Grande Igreja” chegam até Jerusalém e são incorporadas ao Ofício hagiopolita no final do primeiro milênio; assim se pode ver no Stavrou 43 (ant. 1009). 3.- “Triódion” bizantino: todo o anterior será codificado definitivamente neste livro litúrgico: Matinas da Sexta- Feira Santa de Jerusalém, 11 Leituras hagiopolitas-constantinopolitanas do Evangelho, Vésperas da Sexta- Feira Santa em Jerusalém e Matinas do Sábado Santo com as Leituras constantinopolitanas, mais as Horas do dia da Sexta- Feira Santa de Jerusalém.
II.- A SEMANA SANTA NA “ANTIGA CONSTANTINOPLA”
Na maior parte do primeiro milênio, Constantinopla permanece imune à influência dos novos Ofícios da Semana Santa de Jerusalém, mantendo assim uma Liturgia sóbria até o período do predomínio monástico posterior à luta contra o iconoclasmo, (726-775 / 815-843) na qual se enriquece de elementos hagiopolitas.
O Orthros do Sábado Santo no Typikon não tem nada de particular, exceto os dois estribilhos referidos aos soldados que montam guarda diante do túmulo de Jesus, sepultado por nossa salvação. O Evangelho deste dia narra a ordem que dá Pilatos para que montem guarda os soldados e assim não possam roubar os discípulos o corpo de Jesus dizendo que ressuscitou. A Profecia que se lê este dia é a dos “ossos secos” do profeta Ezequiel.
Salvador Aguilera López

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF