A IGREJA É MINHA CASA
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Teófilo Otoni (TO)
Casa é sempre uma referência para a vida humana. Estar em
casa é assumir uma identidade, desenvolver afetos, sentir-se seguro e não se
sentir perdido no mundo. É muito importante que se tenha uma casa para ir, para
morar, dela sair e para ela voltar. O ser humano sempre necessitou de uma casa,
de um chão, de um abrigo. Quando Deus criou o mundo, nos relatam as Sagradas
Escrituras, nossos primeiros pais Adão e Eva habitavam no Jardim do Éden. Sim,
aquele Jardim no meio do Paraíso era a casa deles.
Ao constituir o grupo dos seus discípulos, Jesus
informou-lhes que o Filho do Homem não tinha um lugar para morar, nem mesmo uma
pedra para reclinar a cabeça (cf. Lc 9,58). Mas Ele já havia feito, muitas
vezes, a experiência de uma casa. Por trinta anos viveu em casa com seus pais
em Nazaré. Quando ia a Cafarnaum, hospedava-se na casa de Pedro. Já em
Bethânia, tinha como referência uma família amiga, Lázaro, Maria e Marta, e
muitas vezes frequentava esse lar amigo. Quando, no exercício do seu ministério,
afirma aos seus seguidores que não tinha nem sequer um lugar para reclinar a
cabeça, está querendo dizer que a sua nova referência de casa é o grupo dos
Doze Apóstolos. Neste grupo Jesus sentia-se acolhido e nele vivia a sua
profunda realidade de Filho de Deus e irmão de todos os outros filhos e filhas
de Deus.
No Antigo Testamento podemos encontrar várias alusões a
pessoas que habitavam em suas casas e também a pessoas que habitavam em
tendas. No Novo Testamento, Simeão e Ana de Fanuel tinham por referência
em suas vidas o Templo de Jerusalém e foi naquela Casa Sagrada que encontraram
o Menino Deus. A casa é, assim, o lugar do encontro. Jesus disse que “onde está
o teu Tesouro aí estará também o teu coração” (Mt 6,21). Por tudo isso, é
importante descobrir que a Igreja é a nossa casa e nela está o tesouro de uma
comunidade reunida em torno de Jesus. Ele mesmo é o tesouro.
Se a casa é a referência saudável para todas as pessoas,
podemos perguntar: como entram nesta realidade as pessoas que não tem casa, não
tem onde morar e vivem na rua? Aqui entra um diálogo muito bonito e profundo
que alguém teve com um morador de rua. Um grupo de pessoas solidárias resolveu
dar-lhe um teto, mas ele não quis morar ali. Num dia chuvoso, uma mulher
daquele grupo conversou com o homem dizendo que queriam dar-lhe proteção, pois
naquele tempo instável ele precisava de uma casa. O homem pediu que ela olhasse
para o céu e lhe disse em seguida: “A senhora está vendo tudo isso? Foi Deus
quem criou e foi Ele quem nos deu essa casa”. Ele quis dizer que todos moram em
uma casa, mesmo que ela seja tão ampla do tamanho do universo, nossa casa
comum, mesmo que esteja dentro uma cidade com muitas casas. Porém, no meio de
tantas casas, é preciso se identificar com uma casa e essa não inclui apenas o
ambiente familiar, ou uma edificação, mas estende-se também à comunidade de fé,
pois a Igreja, uma das casas da cidade, é a casa da família dos filhos de Deus
e o lugar especial do relacionamento com o Divino, Nela precisamos nos sentir
realmente e intimamente em casa.
Sabemos que toda casa necessita, muitas vezes, passar por
ajustes, reformas, pinturas e manutenções. A Igreja, como comunidade que acolhe
os seus filhos, vive num constante processo de crescimento. Esta foi a
preocupação do Papa ao convocar o Sínodo, recentemente concluído. Espera-se que
as conclusões deste tempo de estudo, oração e conversa no Espírito ajude todos
os habitantes desta casa a melhorar a qualidade da vida na Igreja que, conforme
disse o Papa Francisco, é para todos, todos, todos. A Igreja é a minha casa.
Nela me sinto acolhido, vivo a experiência dignificante de ser filho de Deus e
me preparo para a moradia eterna no Reino dos Céus. A Igreja, como comunidade
de fé, tem como fundamento e fonte o mistério Divino da Santíssima Trindade e
da revelação máxima do Amor na pessoa de Jesus através dos mistérios da
Encarnação e Redenção. Vivamos felizes em nossa casa.
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