O mundo está vivendo momentos importantes para tomadas de
decisões que envolvem metas para o enfrentamento das questões climáticas que
têm afetado intensamente a humanidade nos últimos anos, mas especialmente neste
ano de 2024.
Adriana Rabelo - Província Franciscana da Imaculada
Conceição do Brasil
Líderes globais, representantes de governos, organizações
não governamentais e especialistas estão reunidos em Baku, Azerbaijão, desde o
dia 11 de novembro, para debater e apresentar soluções para o fortalecimento
dos compromissos climáticos nacionais (NDCs), o financiamento climático e a
busca por mecanismos de perdas e danos para apoiar comunidades afetadas pelas
mudanças climáticas.
Há também um foco em mercados de carbono e ações de
adaptação, como a ampliação de financiamento para projetos resilientes em
países em desenvolvimento. As atividades serão encerradas no próximo dia 22.
Organizado anualmente pela ONU como parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (UNFCCC), este é o principal fórum global para
negociações climáticas, tendo sido estabelecido na Cúpula da Terra de 1992, no
Rio de Janeiro, com a participação de mais de 190 países.
Já no Brasil, nesta segunda e terça-feira, 18 e 19 de
novembro, reúne-se o G20, Grupo dos Vinte, que é um fórum internacional formado
pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia. Ele foi criado em
1999 para promover a cooperação econômica e financeira global, sendo
considerado um dos principais espaços para discussão de questões econômicas e
políticas globais.
Na atualidade, o G20 desempenha papel fundamental no
enfrentamento de crises econômicas e ambientais. Este é o primeiro ano que o
país sedia a cúpula, com foco em sustentabilidade, mudanças climáticas e
cooperação para o desenvolvimento.
O fato é considerado uma oportunidade histórica para o Brasil, que assume um papel de destaque em discussões globais a partir de temas relevantes para o futuro da
humanidade.
Paralelo a esse evento, entre os dias 14 e 16 deste mês,
também ocorreu na capital carioca a Cúpula dos Povos Frente ao G20, com o tema:
“Vida acima do Lucro: Povos e Natureza não estão à venda!”. A iniciativa é de
organizações da sociedade civil e movimentos sociais, que desde 2012 ocorre no
mesmo período das grandes conferências globais, com o objetivo de ressaltar a
agenda popular e o compromisso com as necessidades dos mais vulneráveis.
Neste ano, o Sefras – Ação Social Franciscana – esteve
presente com o propósito de fortalecer a “agenda dos invisibilizados”,
abordando temas essenciais para as pessoas em situação de rua, idosos,
imigrantes e outros grupos em situação de vulnerabilidade.
Enquanto a COP29 e o G20 trabalham com mecanismos políticos
e econômicos, a Encíclica Laudato Si’ oferece uma base moral e espiritual para
as ações climáticas, incentivando governos e indivíduos a tomarem decisões que
beneficiem toda a criação e promovam a equidade global na luta pela preservação
da Casa Comum.
Nesses ambientes de debates e acordos, nos quais as
lideranças e células da sociedade estão envolvidos, a Igreja Católica também
ganha força com pautas que já estão sendo refletidas e levadas para o debate há
anos e fortalecidas pela Encíclica Laudato Si’, que foi publicada em 2015 pelo
Papa Francisco, tendo como inspiração as palavras de São Francisco de Assis
“Louvado sejas, meu Senhor”. Foi um documento nunca antes abordado por um Papa,
trazendo à tona importantes reflexões sobre o forte agravamento da crise
climática e a preocupação do Pontífice com uma conversão ecológica urgente de
“todas as pessoas de boa vontade”.
De acordo com o Movimento Laudato Si’, uma rede global
dedicada à promoção e mobilização dos princípios da Encíclica do Papa Francisco
sobre o cuidado com a nossa Casa Comum, as palavras de outros papas, bispos e
santos fizeram Francisco se conscientizar de que a Igreja precisava de um texto
sobre a ecologia integral. Seu objetivo era levar os católicos e todas as
pessoas ao redor do mundo a agirem para reduzir o impacto humano sobre o meio
ambiente e preservar nossa Casa Comum para as gerações presentes e futuras.
Próxima de completar 10 anos, a Encíclica continua sendo atual e fonte de
importantes reflexões para o futuro da humanidade.
Entrevista com Carlos Nobre
Em entrevista ao Site Franciscanos, o climatologista Carlos
Nobre, um dos cientistas brasileiros mais conhecidos mundialmente, falou sobre
a COP 29, a situação do Brasil e a importância da extensão dos debates sobre a
situação climática no mundo, com o propósito de evitar o que chama de “suicídio
ecológico”.
“Desde o acordo de Paris, em 2015, e depois quando foi
reformulado na COP 26, em 2021, na Escócia, quando foram colocadas metas muito
abrangentes e desafiadoras. No entanto, a ciência, naquela época, indicava que
não poderíamos deixar o aquecimento global passar de 1,5° C e, se chegasse a 2°
C, seria um desastre, o que significaria um suicídio ecológico para o planeta.
Na ocasião, todos os países assinaram e colocaram suas metas para não deixar a
temperatura passar de 1,5° C.
Segundo ele, a questão é que já chegamos na temperatura que
era para ser evitada e estamos assim há 16 meses. Entre janeiro e setembro
deste ano, o planeta está 1,54° C mais quente, explicou. Ele salientou que esse
aumento de temperatura estava sendo associado ao fenômeno El Niño,
acreditando que a situação passaria, mas isso não aconteceu com o final dessa
manifestação da natureza. O cientista ainda explicou que o aquecimento anormal
e a persistente da superfície do Oceano Pacífico na linha do Equador provocado
pelo El Niño induziram à seca recorde na Amazônia.
“Se a temperatura continuar subindo dessa forma até 2026, a
situação irá se agravar ainda mais, pois, na verdade, essa alta era esperada
para 2050. Diante disso, todas as metas relacionadas à emissão deverão ser
muito mais rápidas e, consequentemente, mais desafiadoras. Essa é uma das
realidades da COP”, salientou.
Carlos Nobre afirmou que, até o momento, não se discute
muito a necessidade de acelerar a redução das emissões. “Nas últimas COPs,
apenas deram continuidade às ideias das metas de 2023 para redução de emissão
em 43% até 2025 e zerar as emissões líquidas até 2050.
Como critério de esclarecimento, a redução de emissões
refere-se às ações e medidas tomadas para diminuir a quantidade de gases de
efeito estufa ou outros poluentes emitidos na atmosfera. Essas emissões podem
ser provenientes de diversas atividades humanas, como a queima de combustíveis
fósseis, desmatamento, agricultura, processos industriais e transporte.
Com a manutenção da alta da temperatura, o cientista
questiona: “Será que a COP29 vai acelerar? Vai buscar metas mais abrangentes?”
Ele ainda lembrou que os países têm até o primeiro semestre de 2025 para
colocarem suas novas metas.
De acordo com o site de notícias G1, no último dia 8 de
novembro o Brasil apresentou seu posicionamento. O vice-presidente Geraldo
Alckmin defendeu e classificou como “ambiciosa” a meta brasileira de redução de
gases do efeito estufa em até 67% antes de 2035.
Diante do cenário alarmante, Carlos Nobre citou as eleições
norte-americanas e a volta do presidente Donald Trump, e disse ser um momento
muito preocupante. “Ele já disse que fará novamente o que fez em 2017, quando
tirou os Estados Unidos do acordo de Paris. Desta vez, o presidente da
Argentina, Javier Milei, retirou sua delegação da COP. Ele disse que faria isso
quando foi eleito.”
Já no encontro do G20, o presidente argentino assinou, nesta
segunda-feira (18/11), a adesão formal à Aliança Global contra a Fome e a
Pobreza, proposta do Brasil e uma das prioridades do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para o grupo.
Voltando à questão do clima e à participação do Brasil, o
climatologista explicou que o país está progredindo em suas ações com a redução
do número de desmatamento na Amazônia e no Serrado. De acordo com ele, o
objetivo é zerar o desmatamento até 2030. Na COP28, o governo brasileiro lançou
a meta em suas Contribuições Nacionais Determinadas (NDCs, na sigla em inglês)
de restaurar 240 mil quilômetros quadrados na Amazônia brasileira. “Isso é
muito importante, assim como a transição energética que vai ajudar a reduzir a
queima de combustíveis fósseis.” No entanto, Carlos Nobre alertou que um ponto
mais complicado são as emissões da agropecuária.
Quando questionado sobre as questões climáticas, os impactos
na sociedade, especialmente entre a população mais carente e o posicionamento
da Igreja Católica diante das questões de preservação da Casa Comum, a partir
da encíclica Laudato Si’, o cientista foi esclarecedor. “Os extremos climáticos
que batemos em 2024, com as ondas de calor, seca, inundações, chuvas, rajadas
de vento, provocou uma enorme perturbação e um enorme desafio também para o
equilíbrio socioeconômico. As pessoas mais pobres são as mais afetadas por
esses eventos. Buscar uma solução para a emergência climática é também não
causar a destruição da vida das populações mais vulneráveis, pois são as que
mais sofrem”, afirmou.
De acordo com o cientista, não podemos permitir um suicídio
ecológico do planeta. “Precisamos reduzir drasticamente a emissão, assim como
um projeto de recuperação dos biomas que perturbamos por muitos séculos.”
Carlos Nobre considera a mensagem do Papa Francisco muito
interessante, porque de fato também representa um reconhecimento da cultura de
preservação dos povos indígenas que sempre mantiveram os biomas e conseguiram
lidar com a biodiversidade, fazendo uso dela, se alimentando, sem destruir.
“Por isso acredito que a ecologia integral é o caminho para que possamos
proteger e recuperar a biodiversidade.”
A citação 13 da Encíclica Laudato Si’, diz que: “ O urgente
desafio de proteger a nossa Casa Comum inclui a preocupação de unir toda a
família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois
sabemos que as coisas podem mudar”.
Solidariedade Global
Nesta segunda-feira, 18 de novembro, dia da abertura da
reunião do G20, no Rio de Janeiro, o Papa Francisco enviou uma mensagem, que
foi lida pelo Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, durante
o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.
De acordo com o site Vatican News, no texto endereçado ao
presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o Pontífice faz um apelo por
solidariedade global e coordenação entre as nações para enfrentar injustiças
sociais e econômicas, e sublinha que ações imediatas e conjuntas são
indispensáveis para erradicar a fome e a pobreza, com foco na dignidade humana,
no acesso aos bens essenciais e na redistribuição justa de recursos.
“A implementação de medidas eficazes requer um compromisso
concreto dos governos, das organizações internacionais e da sociedade como um
todo. A centralidade da dignidade humana, dada por Deus, de cada indivíduo, o
acesso aos bens essenciais e a justa distribuição de recursos devem ser
priorizados em todas as agendas políticas e sociais”, afirmou o Pontífice.
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