NAQUELE TEMPO…
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
Os textos bíblicos do penúltimo domingo do Tempo Comum
(Daniel 12,1-3, Salmo 15, Hebreus 10,11-14.18 e Marcos 13,24-32) estão escritos
no gênero literário apocalíptico. Na literatura e no cinema ele é um dos
gêneros preferidos para descrever as catástrofes passadas e aquelas que se
espera. O senso comum captou o aspecto exterior e somente a parte destrutiva.
Se está presente nos textos bíblicos este aspecto, porém não é o fundamental e
nem o mais importante. O gênero apocalíptico quer despertar as consciências da
letargia e incutir a esperança numa nova criação. O Livro do Apocalipse começa
assim: “Revelação de Jesus Cristo”, portanto apocalipse quer dizer revelação. É
Jesus Cristo que a faz e se refere a ele mesmo. Ele tira o véu para poder
compreender o sentido do mundo e da história.
O texto de Daniel e de Marcos começam com uma fórmula quase
idêntica: “naquele tempo”, “naqueles dias”. Eles não estão se referindo a um
tempo passado, mas um tempo que está diante de nós. Entre nós e aquele tempo,
tem algo muito sério: “um tempo de angústia” e uma “grande tribulação”. Este
presente é lido à luz da meta definitiva. O apocalipse diz antes de tudo ao
homem que a história vai ser avaliada e julgada pela meta futura, pela sua
chegada ao final.
Uma segunda característica do apocalipse é reconhecer os
sinais dos tempos. “Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus
ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está
perto”. O que significa que a figueira começa a ficar verde e brotar, num
contexto tenebroso de escuridão, morte e angústia? A figueira sem folhas e sem
frutas aparentemente está morta e infrutífera, porém esta não é a situação
definitiva. A última palavra cabe a Deus que transforma definitivamente as situações.
É preciso ver além das aparências.
Uma terceira característica do apocalipse é levar a suscitar
a virtude teologal da esperança. A forma como o autor desenvolve o gênero
apocalíptico é levar o leitor ao futuro, à meta final e depois transportá-lo
novamente para a vida atual e cotidiana. É verdade que a vitória definitiva
está num futuro indeterminado, por outro lado chama o homem a viver
responsavelmente o dia a dia.
Os textos bíblicos nos fazem olhar para o tempo presente no
qual está presente a angústia dum futuro incerto, tribulações de toda espécie,
ações humanas que fazem escurecer o sol, tirar o brilho da lua e abalar os
fundamentos do universo. Se ficarmos somente com esta perspectiva sobre o mundo
presente podemos ser levados ao pessimismo e a perda da esperança. Parece que o
mal e a morte têm a última palavra.
Porém, o mais importante é que os textos apocalípticos
afirmam que a história do mundo não é a história da perdição, mas de salvação.
“O presente está grávido do futuro para o qual caminhamos e esse futuro é
decidido na fidelidade à sua palavra. A nossa vida já não está mais fechada
sobre esta terra e esta terra não é mais a nossa prisão de morte. Ela está
agora aberta ao céu. Mas esta abertura não nos tira das responsabilidades
terrestres, porque exatamente nesta terra e neste momento presente que se lança
a nossa vida futura, situada entre aquilo que “já” aconteceu em Cristo, e
aquilo que “ainda não” aconteceu para nós. Mas certamente acontecerá” (Uma
comunidade lê o Evangelho de Marcos, p.699).
Voltemos a ouvir os textos bíblicos. Do livro de Daniel:
“Naquele tempo […] será um tempo de angústia, como nunca houve até então, […]
mas, neste tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem inscritos no
Livro. […] brilharão como estrelas, por toda a eternidade”. O evangelista
Marcos escreve: “Naqueles dias, depois da grande tribulação […] Então vereis o
filho do Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. […] Os céus
e terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.
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