A conversão de Paulo, Catedral de Monreale,
Palermo
Arquivo 30Dias – 06/07 – 2009
“A graça de Deus salvador:
livre, suficiente, necessária para nós”
Com essas palavras, Giovanni Battista Montini, em
suas notas sobre as Cartas de São Paulo, escritas quando ainda jovem sacerdote,
sublinha a experiência e a mensagem do Apóstolo.
de padre Giacomo Tantardini
1. . “... pela
fé no Filho de Deus, que me amou...”
Leiamos Gl 1, 15, em que o próprio Paulo descreve a passagem
da sua iniciativa para a iniciativa de Deus.
“Quando, porém, Aquele que me separou desde o seio materno [a graça da fé nasce
de um mistério, que é o da escolha de Deus, da eleição de Deus. Nós não podemos
julgar esse mistério: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos
escolhi” (Jo 15, 16)]... quando Aquele que me separou desde o seio
materno e me chamou por sua graça [como é bonito esse me chamou por sua
graça! Não basta a voz, nem mesmo a voz de Jesus, se a atração de Jesus não
toca o coração. É a Sua graça, é a Sua atração que comove o coração], houve por
bem revelar a mim o seu Filho...”. Houve por bem revelar-me Seu Filho. Essa é a
conversão de Paulo. Aquele que me escolheu e me chamou por Sua graça me fez
reconhecer Seu Filho.
Gl 2, 20: “Minha vida presente na carne [na condição humana,
marcada pelo pecado original, mesmo depois do batismo. O batismo tira o pecado,
mas deixa a fragilidade que vem do pecado e inclina para o pecado], eu a vivo
pela fé no Filho de Deus [no reconhecimento do Filho de Deus], que me amou e se
entregou a si mesmo por mim”.
Leio-lhes como o papa Bento XVI comentou essa frase: “A sua fé [a fé de Paulo]
é a experiência de ser amado por Jesus Cristo de modo muito pessoal. [...]
Cristo enfrentou a morte [...] por amor a ele — a Paulo — e, como Ressuscitado,
ainda o ama. [...] A sua fé não é uma teoria, uma opinião sobre Deus e sobre o
mundo. A sua fé é o impacto do amor de Deus sobre o seu coração”.
A fé de Paulo nasce do impacto do amor de Jesus com seu coração. A fé é a
iniciativa do amor de Jesus Cristo sobre o seu coração.
Permitam-me ler a vocês uma frase que descobri indo a Cássia rezar a Santa Rita
(Santa Rita era casada e tinha dois filhos. O marido é assassinado e ela perdoa
publicamente o assassino e pede que seus dois filhos não vinguem o pai. Depois,
entra no mosteiro das monjas agostinianas de Cássia). A frase que vou ler para
vocês é de um monge agostiniano beato, cujo escrito sobre a paixão de Jesus era
conhecido por Santa Rita: “A amizade é uma virtude, mas sermos amados não é uma
virtude, é a felicidade”.
Parece-me que essas palavras indicam de onde vem a
caridade e o que é a caridade. A amizade é uma virtude, é o ponto mais alto da
virtude. Santo Tomás de Aquino diz que a caridade é amizade. Mas sermos amados
não é uma virtude, é a felicidade. Sermos amados vem antes (cf. 1Jo 4,
19). Para amar, é preciso que sejamos amados. É preciso primeiro que estejamos
contentes por ser amados.
Santo Agostinho, na passagem fantástica em que, comparando os apóstolos Pedro e
João um com o outro, questiona-se quem é melhor entre os dois, responde que
Pedro é melhor, pois quando Jesus lhe pergunta: “Simão, filho de João, tu me
amas [agapás] mais do que estes?” (Jo 21, 15), Pedro
responde: “Sim, Senhor, tu sabes que te quero bem [filéo]” (Jo 21,
15). Portanto, Pedro é melhor que João.
Comparando a condição de Pedro, que
quer mais bem a Jesus, com a condição de João, que é mais amado por Jesus,
Agostinho diz: “Facile responderem meliorem Petrum, feliciorem Ioannem /
É fácil para mim responder que Pedro é melhor [porque quer mais bem a Jesus],
mas João é mais feliz [porque é mais amado por Jesus]”. Sermos felizes depende
de sermos amados. Não depende do nosso pobre amor. Pedro é melhor porque quer
mais bem a Jesus, mas João é mais feliz porque é mais amado por Jesus.
O Papa diz que a fé de Paulo é o impacto do amor de Jesus sobre seu coração, e
assim a própria fé, justamente porque é o impacto do amor de Jesus sobre seu
coração, desperta e é também o pobre amor de Paulo a Jesus.
Essa atração amorosa de Jesus, enchendo de contentamento o coração de Paulo,
desperta também o pobre amor de Paulo a Jesus, pobre como o de Pedro.
O papa Bento XVI, numa audiência de quarta-feira, comentando a pergunta de
Jesus a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?”, insistiu na diferença entre
os verbos gregos que Jesus e Pedro empregam. Jesus usa um verbo que indica um
amor totalizante (“... tu me amas [agapás]?”). Pedro usa um verbo que
expressa o pobre amor humano (“sabes que te quero bem [filéo]”). “Eu te
quero bem tal como é possível a um pobre homem”. Então, na terceira vez (é
belíssimo como o Papa descreve isto!), Jesus se adapta ao pobre amor humano de
Pedro e pergunta-lhe simplesmente se lhe quer bem, tal como um pobre homem pode
querer bem.
Lerei agora 1Cor 15, 8ss. Paulo descreve mais uma vez, aqui, o
encontro com Jesus no caminho para Damasco: “Em último lugar, apareceu também a
mim...”. Como é bonito esse último lugar! Na liturgia ambrosiana, o
sacerdote que celebra a missa diz: “Nobis quoque minimis et peccatoribus”.
Na liturgia romana, diz apenas: “Nobis quoque peccatoribus”. Na liturgia
ambrosiana, aquele que celebra a santa missa, quer seja o bispo, quer seja o
último dos padres, diz: “Também a nós que somos os menores e pecadores”. Da
mesma forma, Paulo diz ser o último, o menor.
“Em último lugar, apareceu também a mim como a um abortivo. Pois sou o menor
dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja
de Deus. Mas pela graça de Deus sou o que sou: e sua graça a mim dispensada não
foi estéril. Ao contrário, trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a
graça de Deus que está comigo”.
Fonte: http://www.30giorni.it/