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quarta-feira, 7 de junho de 2023

“A graça de Deus salvador: livre, suficiente, necessária para nós” (3/6)

A conversão de Paulo, Catedral de Monreale, Palermo

Arquivo 30Dias – 06/07 – 2009

“A graça de Deus salvador: livre, suficiente, necessária para nós”

Com essas palavras, Giovanni Battista Montini, em suas notas sobre as Cartas de São Paulo, escritas quando ainda jovem sacerdote, sublinha a experiência e a mensagem do Apóstolo.

de padre Giacomo Tantardini

1. . “... pela fé no Filho de Deus, que me amou...”
Leiamos Gl 1, 15, em que o próprio Paulo descreve a passagem da sua iniciativa para a iniciativa de Deus.

“Quando, porém, Aquele que me separou desde o seio materno [a graça da fé nasce de um mistério, que é o da escolha de Deus, da eleição de Deus. Nós não podemos julgar esse mistério: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16)]... quando Aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça [como é bonito esse me chamou por sua graça! Não basta a voz, nem mesmo a voz de Jesus, se a atração de Jesus não toca o coração. É a Sua graça, é a Sua atração que comove o coração], houve por bem revelar a mim o seu Filho...”. Houve por bem revelar-me Seu Filho. Essa é a conversão de Paulo. Aquele que me escolheu e me chamou por Sua graça me fez reconhecer Seu Filho.

Gl 2, 20: “Minha vida presente na carne [na condição humana, marcada pelo pecado original, mesmo depois do batismo. O batismo tira o pecado, mas deixa a fragilidade que vem do pecado e inclina para o pecado], eu a vivo pela fé no Filho de Deus [no reconhecimento do Filho de Deus], que me amou e se entregou a si mesmo por mim”.

Leio-lhes como o papa Bento XVI comentou essa frase: “A sua fé [a fé de Paulo] é a experiência de ser amado por Jesus Cristo de modo muito pessoal. [...] Cristo enfrentou a morte [...] por amor a ele — a Paulo — e, como Ressuscitado, ainda o ama. [...] A sua fé não é uma teoria, uma opinião sobre Deus e sobre o mundo. A sua fé é o impacto do amor de Deus sobre o seu coração”.

A fé de Paulo nasce do impacto do amor de Jesus com seu coração. A fé é a iniciativa do amor de Jesus Cristo sobre o seu coração.

Permitam-me ler a vocês uma frase que descobri indo a Cássia rezar a Santa Rita (Santa Rita era casada e tinha dois filhos. O marido é assassinado e ela perdoa publicamente o assassino e pede que seus dois filhos não vinguem o pai. Depois, entra no mosteiro das monjas agostinianas de Cássia). A frase que vou ler para vocês é de um monge agostiniano beato, cujo escrito sobre a paixão de Jesus era conhecido por Santa Rita: “A amizade é uma virtude, mas sermos amados não é uma virtude, é a felicidade”.

 Parece-me que essas palavras indicam de onde vem a caridade e o que é a caridade. A amizade é uma virtude, é o ponto mais alto da virtude. Santo Tomás de Aquino diz que a caridade é amizade. Mas sermos amados não é uma virtude, é a felicidade. Sermos amados vem antes (cf. 1Jo 4, 19). Para amar, é preciso que sejamos amados. É preciso primeiro que estejamos contentes por ser amados.

Santo Agostinho, na passagem fantástica em que, comparando os apóstolos Pedro e João um com o outro, questiona-se quem é melhor entre os dois, responde que Pedro é melhor, pois quando Jesus lhe pergunta: “Simão, filho de João, tu me amas [agapás] mais do que estes?” (Jo 21, 15), Pedro responde: “Sim, Senhor, tu sabes que te quero bem [filéo]” (Jo 21, 15). Portanto, Pedro é melhor que João.

 Comparando a condição de Pedro, que quer mais bem a Jesus, com a condição de João, que é mais amado por Jesus, Agostinho diz: “Facile responderem meliorem Petrum, feliciorem Ioannem / É fácil para mim responder que Pedro é melhor [porque quer mais bem a Jesus], mas João é mais feliz [porque é mais amado por Jesus]”. Sermos felizes depende de sermos amados. Não depende do nosso pobre amor. Pedro é melhor porque quer mais bem a Jesus, mas João é mais feliz porque é mais amado por Jesus.

O Papa diz que a fé de Paulo é o impacto do amor de Jesus sobre seu coração, e assim a própria fé, justamente porque é o impacto do amor de Jesus sobre seu coração, desperta e é também o pobre amor de Paulo a Jesus. Essa atração amorosa de Jesus, enchendo de contentamento o coração de Paulo, desperta também o pobre amor de Paulo a Jesus, pobre como o de Pedro.

O papa Bento XVI, numa audiência de quarta-feira, comentando a pergunta de Jesus a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?”, insistiu na diferença entre os verbos gregos que Jesus e Pedro empregam. Jesus usa um verbo que indica um amor totalizante (“... tu me amas [agapás]?”). Pedro usa um verbo que expressa o pobre amor humano (“sabes que te quero bem [filéo]”). “Eu te quero bem tal como é possível a um pobre homem”. Então, na terceira vez (é belíssimo como o Papa descreve isto!), Jesus se adapta ao pobre amor humano de Pedro e pergunta-lhe simplesmente se lhe quer bem, tal como um pobre homem pode querer bem.

Lerei agora 1Cor 15, 8ss. Paulo descreve mais uma vez, aqui, o encontro com Jesus no caminho para Damasco: “Em último lugar, apareceu também a mim...”. Como é bonito esse último lugar! Na liturgia ambrosiana, o sacerdote que celebra a missa diz: “Nobis quoque minimis et peccatoribus”. Na liturgia romana, diz apenas: “Nobis quoque peccatoribus”. Na liturgia ambrosiana, aquele que celebra a santa missa, quer seja o bispo, quer seja o último dos padres, diz: “Também a nós que somos os menores e pecadores”. Da mesma forma, Paulo diz ser o último, o menor.

“Em último lugar, apareceu também a mim como a um abortivo. Pois sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou o que sou: e sua graça a mim dispensada não foi estéril. Ao contrário, trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo”.

Fonte: http://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF