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sexta-feira, 21 de junho de 2024

O Papa aos jovens da Ásia: não à discriminação, sim à proximidade

Um momento do encontro "Construindo Pontes Ásia-Pacífico" (Vatican Media)

Francisco conversou on-line com os estudantes universitários da iniciativa “Construindo Pontes na Ásia-Pacífico”, organizada na tarde da última quinta-feira, pela Universidade Loyola de Chicago, junto com a Pontifícia Comissão para a América Latina. “Devemos ter sempre esperança”, foram as palavras do Papa no final de uma série de perguntas e reflexões propostas pelos jovens.

Deborah Castellano Lubov – Vatican News

Permaneçam sempre fiéis às suas convicções (...) e mesmo que vocês sejam tentados a viver uma fé morna porque os outros os atormentam, permaneçam fiéis à sua identidade e permaneçam fortes como os mártires cristãos que foram perseguidos.

Estas foram as palavras centrais do diálogo do Papa Francisco com os estudantes universitários da região Ásia-Pacífico que quinta-feira, 20 de junho, participaram do evento "Building Bridges Across Asia Pacific" (Construindo pontes na Ásia-Pacífico), organizado pela Universidade Loyola de Chicago e pela Pontifícia Comissão para a América Latina, do qual o Pontífice participou on-line em transmissão ao vivo.

A iniciativa "Construindo pontes na Ásia-Pacífico" foi lançada pela Universidade Loyola de Chicago. Trata-se de uma série de eventos organizados pelos estudantes e pela universidade, inspirados no apelo de Francisco à sinodalidade. O primeiro encontro realizou-se em fevereiro de 2022, intitulado "Building Bridges North-South" (Construindo Pontes Norte-Sul). O segundo, "Building Bridges Across África" (Construindo Pontes na África), realizou-se em novembro do mesmo ano e envolveu estudantes de toda a África Subsariana.

Entre os presentes neste último encontro sinodal estavam estudantes universitários, engajados em diversas áreas, da Universidade Ateneu de Manila (Manila, Filipinas), da Universidade Católica Australiana (Brisbane, Austrália), da Universidade Católica Fu Jen (Taipei, Taiwan), da Universidade Sogang (Seul, Coreia do Sul), da Universidade Sophia (Tóquio, Japão) e da Universitas Sanata Dharma (Yogyakarta, Indonésia). Participaram também estudantes de Singapura, Timor-Leste e Papua Nova Guiné, nações que o Santo Padre visitará durante a sua viagem apostólica à Ásia e à Oceania em setembro próximo.

Papa Francisco em conversa com estudantes universitários (Vatican Media)

O Papa: pedir aos outros que os ajudem em sua vulnerabilidade

Francisco se uniu ao encontro, cumprimentando calorosamente os presentes em espanhol e pedindo desculpas por ter chegado um pouco atrasado. Os estudantes foram apresentados ao Papa e fizeram perguntas, às quais ele respondeu com conselhos, preocupações e sugestões. O Santo Padre falou ao primeiro grupo de jovens sobre o sentimento de "pertença" à sociedade e como isso aumenta nossa segurança em nós mesmos e em nossa dignidade humana. Todos esses fatores, observou ele, "nos salvam da vulnerabilidade, porque os jovens de hoje são muito vulneráveis. Devemos sempre defender esse sentido de pertença para evitar a vulnerabilidade". "Vejam", disse ele, "onde vocês são mais vulneráveis e peçam ajuda a alguém".

A grandeza das mulheres nunca deve ser esquecida

O Papa também falou sobre saúde mental, discriminação, estigmatização e identidade, convidando a testemunhar e a seguir em frente.

"Concentrem-se na sua identidade", disse ele, incentivando todos os presentes a sempre colaborarem entre si e a permanecerem unidos. O Papa denunciou todos os estigmas que diminuem a dignidade das pessoas. Lamentou o fato de as mulheres serem por vezes consideradas cidadãs de segunda classe, o que, lembrou ele, não é verdade. "A grandeza das mulheres não deve ser esquecida. As mulheres são melhores que os homens em termos de intuição e capacidade de construir comunidades", disse o Papa, elogiando as qualidades e competências específicas das mulheres.

Não à exclusão e à estigmatização

Ele então convidou os estudantes a demonstrarem proximidade e amor uns pelos outros e a nunca excluírem ninguém. Recordando as palavras de um estudante que falou sobre gênero e ao mesmo tempo mencionou a elevada taxa de HIV nas Filipinas, o Papa disse: "Devemos garantir que a assistência à saúde esteja preparada para tratar e ajudar todas as pessoas, sem exclusões". Francisco falou também de uma educação eficaz que, na sua opinião, exige “educar” e “coordenar” os nossos “corações, as nossas mentes e as nossas mãos”. É assim que devemos educar os jovens, observou, sublinhando que esta dinâmica nunca deve ser esquecida.

Um grupo de jovens conversando com Francisco (Vatican Media)

Corações ligados à oração e aos outros

O Papa também reconheceu quão difícil pode ser para os jovens cristãos participarem e “pertencerem” à sociedade. À luz desta realidade, ele os exortou a manterem a sua fé e a manterem os seus corações ligados à oração. Isso, disse ele, irá ajudá-los nesse aspecto e permitirá que vocês se comprometam sempre de forma mais eficaz com os outros.

Rejeitar o Cristianismo diluído e permanecer fiel à fé

O Santo Padre abordou então o fato de, em algumas ocasiões, os jovens serem ridicularizados ou questionados por sua fé. “Sejam sempre firmes nas suas convicções”, aconselhou, alertando contra o isolamento, que pode levar a maus hábitos e problemas.

Por esta razão, o Papa sublinhou a importância de serem educados na fé e de serem cristãos autênticos e “verdadeiros”. “O fato é este: os cristãos foram perseguidos desde o início”, acrescentou, destacando que este fenômeno não é, portanto, novo. “Embora possa ser tentador ter um cristianismo diluído e morno”, disse novamente o Papa, não podemos ceder a isso. Pelo contrário, "devemos ser sólidos e viver uma espécie de martírio, neste sentido".

A "doença" da ideologia

Por fim, o Papa pediu uma maior consciência das tragédias do passado, a fim de tirar lições para o futuro e trabalhar pela paz. “A ideologia é uma doença”, alertou, exortando todos a construir a harmonia e a promover o diálogo com outras culturas. “Não à guerra”, disse ele, pedindo paz. “Num mundo desesperado e sem esperança, devemos apelar aos nossos valores”, explicou, convidando os estudantes presentes a trabalharem este aspecto antes de lhes agradecer pelo seu compromisso. Francisco concluiu agradecendo aos estudantes pelas suas partilhas, dizendo-lhes que o ajudaram a compreendê-los, especialmente enquanto se prepara para a sua próxima viagem à região. Depois, deu a sua bênção.

Outro momento do encontro (Vatican Media)

Construir pontes começa com cada um de nós

Vários organismos do Vaticano colaboraram na iniciativa, incluindo a Secretaria Geral do Sínodo, o Dicastério para a Comunicação, o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, o Dicastério para a Educação e Cultura e a Seção para a Primeira Evangelização e as novas Igrejas particulares do Dicastério para a Evangelização.

Antes de o Papa Francisco se unir ao diálogo, o evento contou com as introduções dos organizadores, incluindo a da Secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, dra. Emilce Cuda, e através de mensagens de vídeo do cardeal Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, e do monsenhor Luis Marín de San Martín, O.S.A., subsecretário do Sínodo dos Bispos.

O cardeal Farrell convidou os estudantes a seguirem o exemplo de Jesus na construção de pontes e lembrou-lhes que, embora vivam a realidade privilegiada de ser um estudante universitário, existe um mundo marcado pelo ódio, pela guerra e pelo sofrimento. Por isso, convidou os presentes a praticarem a gentileza, o cuidado e a compreensão a nível pessoal, porque caso contrário, sublinhou, não podemos esperar que os que se encontram em níveis superiores façam o mesmo.

Dom Marín pronunciou palavras encorajadoras, convidando, em sinal de esperança e renovação, a “criar vínculos, abater muros e construir pontes”. Enquanto os participantes aguardavam a chegada do Papa, a dra. Cuda leu uma carta do prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação do Vaticano, cardeal José Tolentino de Mendonça, que reconheceu que construir pontes pode ser um desafio e pode encontrar lutas e resistências, mas sempre vale a pena, porque vivemos o amor que Jesus nos ensinou.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pastoral Juvenil: educar e evangelizar através da dimensão lúdica

Educar e evangelizar através da dimensão lúdica (CNBB Norte 2)

PASTORAL JUVENIL: EDUCAR E EVANGELIZAR ATRAVÉS DA DIMENSÃO LÚDICA

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

Na Exortação Apostólica, Pós-sinodal, Christus Vivit, o Papa Francisco provocou a Igreja a promover uma profunda renovação da Pastoral Juvenil. Ela não deve estar fechada na dimensão religiosa, mas ser aberta para experiências socioeducativas também explorando a dimensão lúdica dos jovens. Os jovens precisam de espaços de convivência, onde possam se encontrar como amigos com liberdade, confiança e segurança. 

É necessário que a pastoral juvenil, na paróquia ou em outros ambientes, seja capaz de ir ao encontro da psicologia juvenil.  Adolescentes e jovens têm desejos, sonhos, interesses, energias e necessidades próprias da idade: gostam de esportes, da música, dança, diversão, aventuras, novidades e desafios. Tudo isso que brota naturalmente do físico, do coração e da mente dos adolescentes e jovens pode constituir um significativo gancho para a promoção da educação e da evangelização (cf. Christus Vvit, N. 218, 226).  

No atual contexto sociocultural, profundamente tentado pela idolatria das telas digitais que aprisionam milhões de adolescentes e jovens no anonimato virtual, é uma urgência que a pastoral catequética e a pastoral juvenil promovam atividades educativo-pastorais caracterizadas pela interação socioafetiva e a experiência da solidariedade. 

 A importância da dimensão lúdica  

Há quem pense que há um abismo entre a dimensão religiosa e aquela lúdica. Todavia, para o respeito à justa e saudável compreensão do ser humano, nenhuma dimensão está separada das outras; elas têm a mesma raiz e por isso estão vinculadas, são complementares e interdependentes.  

O princípio da “totalidade unificada de corpo  e alma” se expressa através da unidade de todas as dimensões humanas. A alma abraça a totalidade da realidade física e, esta por sua vez, se dinamiza na totalidade das dimensões humanas, ou seja, através da afetividade, da sexualidade, da sociabilidade, da vontade, da liberdade, da consciência, da espiritualidade… Enfim, também através da ludicidade.  

A dimensão lúdica é aquela que nos faz desejar o prazer, lazer, diversão, festa! Todos esses fenômenos humanos, para quem tem fé, é uma seta que aponta para o paraíso, a plenitude da nossa realização, bem-estar perfeito, felicidade total. Nessa perspectiva, o lúdico pode ser uma pista estratégica e pedagógica para a formação humana, cívica e religiosa de adolescentes e jovens. 

Para que a formação humana e a evangelização sejam autênticas e profundas, é imprescindível o cultivo de uma visão holística do ser humano. A ausência da visão da totalidade das dimensões humanas gera um enorme prejuízo para a realização da pessoa oportunizando um grave reducionismo que, por sua vez, prescinde da diversidade de seus recursos e necessidades naturais.  

A dimensão religiosa cristã tem uma relação com a dimensão lúdica; na plenitude dos tempos messiânicos Deus festivamente sacia  seu povo (cf. Is 25,6); diversas vezes para falar do Paraíso Jesus o comparou a um grande e abundante banquete (cf. Lc 14,14-26); a celebração da misericórdia se conclui com uma grande festa (cf. Lc 15,23); o Reino de Deus é como um banquetes ao qual a humanidade é convidada a tomar parte (cf. Mt 22,4-10). O Apóstolo São Paulo também relacionou a dimensão lúdica à Salvação (cf. 1Cor 9,24). 

 A beleza do oratório festivo  

A dimensão lúdica é profundamente viva e dinâmica nos jovens e por ela são induzidos a aceitarem grandes desafios e a fazerem muitas aventuras. Em geral, adolescentes e jovens que nada desejam na dimensão lúdica é porque estão doentes. Jovens e adolescentes saudáveis gostam ardentemente de esportes, música, dança, aventuras, festa, diversão, entretenimento.  

Dizia São João Bosco (Turim, Itália 1815-1888) que é preciso gostar do que os jovens gostam para que, aos poucos, passem a desejar o que nós lhes propomos. O santo educador, sem exageros pedagógicos, nos ensina a importância da experiência da empatia no processo de educação e evangelização dos jovens. São Francisco de Sales (Saboia, França 1567-1622), pastor e doutor da Igreja, refletiu sobre a importância da dimensão lúdica aprofundando o sentido dos jogos e da diversão para quem trilha o caminho da santidade. São Felipe Neri (Florença, Italia1515-1595) foi quem pela primeira vez viu no entretenimento lúdico um canal para a formação cristã e estímulo à fidelização de crianças, adolescentes e jovens nas atividades paroquiais. A essa experiência de entretenimento dominical ele chamou de “Oratório”, pois para ele a diversão sadia era vista como um prolongamento da oração. Merece aplausos!  

Essa experiência pedagógica de pleno sucesso pastoral, ganhou seguidores, espalhou-se pela Itália e atingiu o mundo. Em meados do século XIX, precisamente a partir de 1841, Dom Bosco, sacerdote diocesano recém-ordenado, vai usar exatamente a estratégia do Oratório para entrar em diálogo com centenas de adolescentes e jovens que perambulavam pelas ruas de Turim. A experiência foi de grande sucesso e gerou a fundação da Congregação dos Salesianos de Dom Bosco. 

A partir da experiência de Dom Bosco, o Oratório ganhou novas fronteiras indo além das paredes dos ambientes paroquiais, realizando-se nas praças e em outros ambientes públicos. Até mesmo no Cemitério levou os meninos para brincar!  

Através do lazer vinha a proximidade, nascia a confiança, brotava a amizade, lançava-se os rudimentos da evangelização, promovia-se a formação humana, e percebia-se transformação dos Oratorianos. Tudo acontecia através de um clima de acolhida universal, sem exigências, de envolvimento e participação de todos, favorecendo a experiência da amizade. Considerando a experiência de São Felipe Nery, Dom Bosco afirmou que o oratório é festivo, seja por realizar-se em dias festivos (feriados, dias sem trabalho) como também pela beleza do clima festivo: ambiente animado com músicas, alegria, amizade, respeito, bem-querer. 

 A experiência do acampamento  

Nos últimos anos no Brasil vem crescendo em ambientes neopentecostais e católicos uma grande atenção para com a dimensão lúdica como estratégia de evangelização.  Há uma enorme lista de experiências de atividades relacionadas à dimensão lúdica, tais como: festas, festivais, concursos, gincanas, arraiais, torneios, campeonatos, manhãs e tarde de lazer, trilhas, corridas, passeios, rolês (variados), discoteca e bar gospel, cristoteca, colônia de férias etc. Nessa lista de atividades lúdicas entra também a promoção dos acampamentos. 

Seja por carisma como também estimulado pelo espírito infanto-juvenil, já organizei e participei de diversos acampamentos e posso testemunhar como essa atividade é exigente, mas também contagiosa e frutuosa. Essa paixão pelo acampamento, por parte do público infanto-juvenil, tem muitos efeitos positivos: oportuniza a saída das estruturas do cotidiano, estimula a aventura, promove a adaptabilidade, favorece a criatividade, oportuniza a experiência da diversão, educa para a experiência da interação com os outros e a solidariedade etc.  

Não há um padrão de acampamento. Os estilos e ambientes são variados e, em geral, dependem do público participante, dos objetivos desejados e da mentalidade (ou carisma) dos seus organizadores. Todavia, há sempre algumas características constantes, como por exemplo, um programa variado de atividades campestres (em sítios, fazendas, parques), atenção para com a dimensão educativa e evangelizadora, envolvimento e participação, clima de descontração, equipe organizadora madura com forte sensibilidade pedagógica e educativa (assistência, senso de responsabilidade, capacidade de escuta e orientação, equilíbrio afetivo e sexual, capacidade de intervenção, visão preventiva…), regulamento claro, conteúdos ou mensagens a serem passadas. 

Para garantir a segurança e a sustentabilidade de um acampamento envolvendo dezenas ou centenas de participantes (já participei de um com cerca de 1700 jovens), por diversos dias, é necessária uma séria estrutura organizativa com equipes de trabalho bem definidas. Por suas exigências técnicas, educativas e disciplinares, não se pode tolerar a improvisação de um evento como esse. Isso significa que, muitas vezes, o sucesso do acampamento está vinculado à seriedade do processo de preparação, clareza e firmeza dos coordenadores. Na próxima matéria compartilharei a experiência do Acampamento Juvenil Arquidiocesano de Belém. 

PARA A REFLEXÃO PESSOAL: 

Por que muitas vezes as preocupações pastorais nas paróquias estão demasiadamente concentradas na dimensão religiosa? 

Por que em muitas paróquias pouco se explora a dimensão lúdica como estratégia de educação e evangelização dos adolescentes e jovens? 

Você já participou ou participa de algum Oratório Festivo? O que pensa sobre isso?

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A comovente carta de São Luís Gonzaga à sua mãe

São Luís Gonzaga (Vatican News)

Hoje celebramos a memória de São Luís Gonzaga, nascido em 1568 em Castiglione (Itália).

Padre Bruno Franguelli, SJ – Vatican News

Desde o nascimento, Luiz estava destinado a herdar, com sua primogenitura, os títulos de honra e poder de seus familiares. Quando criança, conheceu de perto a violência gerada pela disputa de poder entre os parentes. Sofreu de perto o resultado de tal violência, testemunhando o assassinato de seus próprios irmãos. Aos 17 anos renunciou a todas as honrarias para ingressar na Companhia de Jesus. Mesmo com a saúde fragilizada, diante de uma epidemia em Roma ocorrida na última década do século XVI, colocou-se a serviço dos contaminados. Contraindo ele mesmo a doença, com apenas 23 anos, morreu vítima de sua caridade e zelo pelos sofredores. Luís Gonzaga, além de ser o padroeiro da juventude e dos seminaristas, São João Paulo II o declarou também patrono das pessoas contaminadas por vírus e epidemias.

É comovente a carta que envia à sua mãe, pouco antes de falecer. É uma carta de despedida, mas cheia de amor e revela, além do carinho e a devoção pela mãe, a profunda união com Deus que manteve o jovem jesuíta até os últimos instantes de sua vida. A Igreja, no dia de hoje, propõe a leitura orante desta carta no ofício das leituras da Liturgia das horas:

Da Carta escrita por São Luís Gonzaga à sua mãe.

(Acta Sanctorum, Iuni, 5,578)            (Séc. XVI)

Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor

            Ilustríssima senhora, peço que recebas a graça do Espírito Santo e a sua perpétua consolação. Quando recebi tua carta, ainda me encontrava nesta região dos mortos. Mas agora, espero ir em breve louvar a Deus para sempre na terra dos vivos. Pensava mesmo que a esta hora já teria dado esse passo. Se é caridade, como diz São Paulo, chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram (cf. Rm 12,15), é preciso, mãe ilustríssima, que te alegres profundamente porque, por teus méritos, Deus me chama à verdadeira felicidade e me dá a certeza de jamais me afastar do seu temor.

            Na verdade, ilustríssima senhora, confesso-te que me perco e arrebato quando considero, na sua profundeza, a bondade divina. Ela é semelhante a um mar sem fundo nem limites, que me chama ao descanso eterno por um tão breve e pequeno trabalho; que me convida e chama ao céu para aí me dar àquele bem supremo que tão negligentemente procurei, e me promete o fruto daquelas lágrimas que tão parcamente derramei.

            Por conseguinte, ilustríssima senhora, considera bem e toma cuidado em não ofender a infinita bondade de Deus. Isto aconteceria se chorasses como morto aquele que vai viver perante a face de Deus e que, com sua intercessão, poderá auxiliar-te incomparavelmente mais do que nesta vida. Esta separação não será longa; no céu nos tornaremos a ver. Lá, unidos ao autor da nossa salvação, seremos repletos das alegrias imortais, louvando-o com todas as forças da nossa alma e cantando eternamente as suas misericórdias. Se Deus toma de nós aquilo que havia emprestado, assim procede com a única intenção de colocá-lo em lugar mais seguro e fora de perigo, e nos dar aqueles bens que desejamos dele receber.

            Disse tudo isto, ilustríssima senhora, para ceder ao desejo que tenho de que tu e toda a minha família considereis minha partida como um feliz benefício. Que a tua bênção materna me acompanhe na travessia deste mar, até alcançar a margem onde estão todas as minhas esperanças. Escrevo isto com alegria para dar-te a conhecer que nada me é bastante para manifestar com mais evidência o amor e a reverência que te devo, como um filho à sua mãe.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Luís Gonzaga

São Luís Gonzaga (Cruz Terra Santa)
21 de junho
São Luís Gonzaga

Padroeiro da Juventude e dos Estudantes

Seu nome de batismo era Castiglione delle Stiviere. Nasceu em 9 de março de 1568, em Roma, Itália. Primogênito, filho de um príncipe do Sacro Império chamado Ferrante Gonzaga. Seu pai era um nobre comandante do exército imperial, que detinha o título de "Marquês de Castiglione". Este era irmão do Duque de Mântua e herdeiro do feudo de Castiglione.

Perto dos militares e da nobreza

O desejo natural de seu pai era que seu filho mais velho seguisse seus passos, tornando-se soldado e comandante no exército imperial. Por isso, tendo apenas cinco anos, o pequeno Castiglione já marchava seguindo o exército do pai, habituando-se à crueza da vida militar ao lado de soldados rudes. Por outro lado, sua mãe lhe deu uma educação primorosa e sólida formação cristã. Além disso, frequentava os ambientes ricos e aristocráticos da nobreza italiana.

Um chamado diferente

Aquele menino, porém, surpreenderia a família Gonzaga de maneira muito diferente. Quando tinha apenas dez anos, ele foi enviado à cidade de Florença para servir como pajem do grão-duque da Toscana. A partir desse momento, Castiglione decidiu fazer um voto perpétuo de virgindade. Serviu como pajem do filho do rei dom Filipe II, na Espanha durante alguns anos. Nesse tempo, procurou e conseguiu estudar filosofia na Universidade de Alcalá. Nas horas vagas, dedicava-se à oração e às leituras espirituais.

Primeira comunhão - uma reviravolta em sua vida

Estando com 14 anos e ainda na Espanha, Luis recebeu a primeira comunhão das mãos de um santo: São Carlos Borromeu. Tocado pelas palavras do santo e pela força da Eucaristia, Luis sentiu o grande chamado de sua vida. Neste momento ele decidiu se tornar religioso ingressando na Ordem dos Jesuítas. A surpresa foi geral.

Seu pai, mesmo de longe, sentiu que todos os planos que tinha para o filho foram por água abaixo.

Provação por parte do pai

Quando seu pai soube que Luis desejava se tornar padre, chamou-o de volta a Roma e tentou desaconselhá-lo de todas as maneiras. Vendo que o filho não mudava de ideia, começou a leva-lo em festas e banquetes cheios de ofertas de os tipos de prazeres mundanos. Mas, ao perceber que essas coisas não preenchiam o coração do filho, perguntou a ele se mesmo depois de tudo isso, ainda queria ser padre. Luis Gonzaga respondeu: "É nisso que penso noite e dia." Então o pai autorizou-o a entrar para a Companhia de Jesus.

Vivendo a aventura da humildade

Castiglione delle Stiviere entrou no noviciado da Companhia de Jesus em Roma. Neste ato, assumiu o nome de Luiz Gonzaga, renunciou ao seu título de nobreza e à herança a que tinha direito. Seu mestre nesse tempo foi São Roberto Belarmino. Luis Gonzaga deixou de lado sua origem nobre, escolhendo sempre os serviços mais humildes. Nesta aventura da humildade, ele sabiamente constatou: 'Também os príncipes são pó como os pobres: talvez, cinzas mais fétidas'.

De que serve isto para a Eternidade?

São Luis Gonzaga tinha uma pergunta que norteou totalmente a sua vida e lhe serviu de discernimento nas grandes e pequenas decisões da vida. Sempre, diante de algo a fazer ou decidir, ele se perguntava: 'De que serve isto para a Eternidade?' Ou, de forma diferente: "Isso que estou prestes a fazer tem alguma coisa a ver com a eternidade? Vai contribuir para que eu conquiste a vida eterna?" Se compreendia que tal coisa ou atividade não ajudaria a leva-lo para a vida eterna, ele não fazia. Este seu "modelo de discernimento" já ajudou a muita gente ao longo de séculos.

Sentido na vida

Por essas decisões, perseverança amor e fé, São Luis Gonzaga se tornou modelo para os jovens. Ele encontrou o verdadeiro sentido da vida, que é conhecer, amar e servir a Deus. Quem procura isso, vive uma vida cheia de sentido. Por isso, na cidade de Coimbra, onde ele também estudou, há uma estátua em sua homenagem, pois ele se tornou um modelo e exemplo de pureza de coração, de discernimento e de busca do verdadeiro sentido da vida para todos os jovens.

Morte

Por motivos de estudo, São Luís Gonzaga precisou ir para Roma. Era o ano 1590. Ao chegar lá, deparou-se com as vítimas de uma doença contagiosa chamada tifo. Ao ver o sofrimento do povo, compadeceu-se de tal forma que passou a ajudar os doentes. Depois de um tempo cuidando dos doentes como podia, ele próprio contraiu a doença e veio a falecer. Era o dia 21 de junho de 1591. São Luís Gonzaga tinha apenas 23 anos e entregou sua vida em favor da caridade e da pureza de coração. Por isso, São Luís Gonzaga é o padroeiro da juventude e dos estudantes. Seus restos mortais foram sepultados na Igreja de Santo Inácio, fundador da ordem Jesuíta, em Roma.

Oração a São Luís Gonzaga

"Ó Luís Santo, adornado de angélicos costumes, eu, vosso indigníssimo devoto, vos recomendo singularmente a castidade da minha alma e do meu corpo. Rogo-vos por vossa angélica pureza, que intercedais por mim ante ao Cordeiro Imaculado, Cristo Jesus e sua santíssima Mãe, a Virgens das virgens, e me preserveis de todo o pecado. Não permitais que eu seja manchado com a mínima nódoa de impureza; mas quando me virdes em tentação ou perigo de pecar, afastai do meu coração todos os pensamentos e afetos impuros e, despertando em mim a lembrança da eternidade e de Jesus crucificado, imprime profundamente no meu coração o sentimento do santo temor de Deus e inflamai-me no amor divino, para que, imitando-vos cá na terra, mereça gozar a Deus convosco lá no céu. Amém."

 Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Arquidiocese de Brasília inaugura casa de acolhida para gestantes em situação de vulnerabilidade

Dom Paulo Cezar inaugura casa de acolhida para gestantes (arqbrasilia)

Arquidiocese de Brasília inaugura casa de acolhida para gestantes em situação de vulnerabilidade

O Centro de Ajuda à Mulher Casa Berçário Nossa Senhora de Guadalupe, localizado na Cidade Estrutural, foi inaugurado no último domingo (16/06). O Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, abençoou o espaço e salientou que será um lugar seguro de acolhida às gestantes que estão em situação de vulnerabilidade.

  • junho 20, 2024

A inauguração da Casa Berçário é resultado de um amplo trabalho desenvolvido, desde 2004, pela Paróquia Nossa Senhora do Encontro com Deus e a Associação Benéfica Cristã Promotora do Desenvolvimento Integral (ABC Prodein). O novo espaço de promoção à vida vai oferecer conforto e os cuidados necessários para as gestantes que não têm nenhum apoio familiar, em casos de extrema vulnerabilidade.

“Estamos inaugurando esta casa que acolherá tantas mães, tantas crianças e dignificará a gestação. Essa casa é providente, um sinal do amor misericordioso de Deus que, através da dedicação do padre Miguel e das Irmãs, quer encontrar tantas mulheres. Este vai ser um grande centro de salvação e promoção da vida humana”, frisou o Cardeal Dom Paulo Cezar Costa. 

Sendo um lar temporário, com capacidade para acolher 14 grávidas, o espaço vai garantir que as mulheres e os bebês tenham acesso ao atendimento médico pré-natal especializado, atendimento social e psicológico, além dos itens necessários de higiene pessoal, alimentação e o enxoval. O abrigo será um porto seguro, onde as mães e os bebês, poderão morar até que as crianças completem um ano de nascidas. Durante este período, as gestantes terão um quarto individual com banheiro, e será oferecido todo apoio para que tenham subsídios para terminarem a formação escolar e serem encaminhadas a cursos de formação profissional.

“Queremos que essas mulheres passem pelo período de gestação de forma tranquila. Nós apostamos na vida, porque ela é valiosa sempre. A saída não é o aborto, mas dar a ajuda necessária que possibilite que essas mães reconheçam a sua dignidade como mulher e o dom de gerar a vida em seu ventre. Assim, elas terão o apoio necessário para que possam encontrar outros caminhos, onde o aborto nunca será uma possibilidade”, destacou a Irmã Omarys Ayala, presidente da ABC Prodein no Brasil.

A Irmã salientou que muitas mulheres acolhidas pelo trabalho de evangelização foram vítimas de violência física, mental ou de estupro, e que este acolhimento em favor da vida proporcionou que mais de 300 crianças não fossem vítimas do aborto.

“Uma moça de 26 anos chegou até nós em uma situação triste. Grávida de gêmeos, ela não sabia quem era o pai. Chegou aqui sem dentes, parecia muito mais velha do que realmente é. Quando encontrou braços que a acolheram, pessoas que falaram para ela sobre o quanto é valiosa, o quanto é amada pelo Senhor e que não é um objeto de prazer, essa menina chorou muito e começou a pensar que ela certamente tinha algo para contribuir e para receber. Graças a Deus, os gêmeos nasceram e ela está se capacitando e mudando a sua realidade. Talvez alguém possa pensar que é muito pouco dar abrigo a apenas 14 gestantes, mas pensamos como Santa Teresa de Calcutá, certamente uma gota de água não faria um mar, mas sem essa gota de água o mar ficaria incompleto”, contou a Irmã.

O Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Encontro com Deus, padre Miguel Ángel Díaz Meléndez, explicou que com o passar dos anos, ficou evidente a necessidade de construir um espaço para oferecer moradia às gestantes, a fim de evitar que, em momentos de desespero ou de solidão, acabassem recorrendo ao aborto como se fosse a solução.

“Essa casa é uma resposta concreta e eficaz da Igreja, que destaca o que nos diz o Evangelho de Cristo sobre o quanto a vida é sagrada. Precisamos proteger a pessoa humana em todas as etapas da vida. Tenho testemunhado, de forma muito concreta, como as mulheres que chegaram até aqui desesperadas, encontraram nesse afeto espiritual e humano um caminho de esperança para transformação de suas vidas”, revelou o padre.

 Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Hoje é o dia de Nossa Senhora da Consolata, que devolveu a vista a um cego

Nossa Senhora da Consolata | Santuário da Consolata em Turim (ACI Digital)

A Igreja comemora hoje (20) Nossa Senhora da Consolata, que devolveu a visão a um cego que encontrou sua imagem.

No século IV santo Eusébio de Vercelli, Itália, foi exilado na Palestina por não seguir a heresia do arianismo, doutrina que considerava que Cristo não era Deus. Quando foi libertado do exílio, trouxe consigo uma imagem de Nossa Senhora e depois a deu a são Máximo de Turim.

O ícone teria sido pintado pelo próprio são Lucas. Desde então os fiéis a chamavam de "Consolata" (Consolada, em italiano), porque é ela quem consola nos momentos de dificuldade.

São Máximo colocou a imagem em uma capela ao lado da igreja de Santo André, mas o templo do apóstolo foi destruído em uma guerra e o ícone foi enterrado.

Ele foi encontrado mais tarde e uma capela foi construída para ele. Também essa capela foi destruída e mais uma vez o ícone se perdeu, até que a Mãe de Deus interveio.

Na cidade francesa de Briançon havia um cego chamado Jean Ravais. Em 1104, a Virgem apareceu a ele em uma visão e prometeu que ele recuperaria a visão ao encontrar seu quadro perdido em Turim.

O jovem cego foi até os arredores do santuário de Santo André, vasculhou os escombros e encontrou a pintura sagrada. De repente, milagrosamente, ele começou a ver.

Essa imagem milagrosa da Consolata original não existe mais hoje, segundo o site do santuário da Consolata. A imagem venerada no altar-mor hoje foi pintada no século XV.

O santuário também diz que provavelmente foi pintado a pedido do bispo Domenico della Rovere, que se tornou comendador de Santo André em 1480.

Os santos da Consolata

Sobre os alicerces da igreja de Santo André foi construído o imponente Santuário da Consolata, local que ao longo dos séculos foi fonte de santidade.

São João Paulo II, o papa peregrino, são Carlos Borromeu, padroeiro dos catequistas, são Francisco de Borja, terceiro superior dos jesuítas, são Luís Gonzaga, padroeiro da juventude cristã, são Francisco de Sales, Doutor da Igreja, foram lá para rezar.

Outros santos devotos da Consolata foram são José Cafasso, padroeiro das prisões, são João Bosco, mestre da juventude, são Domingos Sávio, padroeiro das mulheres grávidas.

Também tiveram um amor especial pela Consolata santa Francisca de Chantal, são José Labre, santa Maria Domingas Mazzarello, são José Cottolengo, são Leonardo Murialdo, beato Giuseppe Allamano, beato Pier Giorgio Frassati entre outros.

*Abel Camasca é comunicador social. Foi produtor do telejornal EWTN Noticias por muitos anos e do programa “Más que Noticias” na Radio Católica Mundial.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Caminhar para Jesus Cristo (2)

Jesus caminha sobre as águas (Opus Dei)

Caminhar para Jesus Cristo

Seguindo o ensinamento de São Josemaria, contemplamos nesse artigo, a passagem do Evangelho em que Jesus caminha sobre as águas. Entrando na cena, como se fôssemos um personagem a mais, compreenderemos que, junto dEle, superam-se as dificuldades, inseguranças e temores.

12/04/2017

Inseguranças

Pedro já tinha dado uns quantos passos quando, redobrando a violência do vento, teve medo. Começou a afundar e pediu ajuda ao Senhor. Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e lhe disse: Homem de pouca fé, por que duvidaste?[11].

Homem de pouca fé. Quem lê o Evangelho fica surpreendido perante estas palavras. Inclusive, é possível que se sinta entristecido e se pergunte: se o Senhor recrimina pela sua falta de fé a quem, vencendo medo, desceu da barca e começou a caminhar com Ele, o que poderia dizer de mim?; resta-me alguma esperança de que um dia Cristo veja em mim um homem ou uma mulher de fé? Porém, se continua meditando, também surgirão outros questionamentos: será que Jesus esperava que Pedro caminhasse sobre o mar com toda tranquilidade, como se o tivesse feito sobre terra firme, num dia aprazível e ensolarado? Por acaso as palavras do Senhor significam que temos que ser impassíveis ou indiferentes perante os problemas? Não, porque o próprio Jesus Cristo se angustiou no horto perante algo objetivamente temível.

A luta por viver de fé não tem como meta sentir-se seguro diante das dificuldades; não é a tentativa de que as coisas não nos afetem, de que não nos importe o que é importante, de que não nos doa o que é doloroso ou de que não nos preocupe o que é preocupante. Na verdade, é o empenho de não se esquecer de que Deus nunca nos deixa e de aproveitar essas circunstâncias difíceis para aproximarmo-nos ainda mais dele. Verdadeiramente a vida – que já de per si é estreita e insegura – às vezes se torna difícil. Mas isso contribuirá para fazer-te mais sobrenatural, para te fazer ver a mão de Deus: e assim serás mais humano e compreensivo com os que te rodeiam[12].

É lógico que Pedro sentisse inquietação e é lógico que a sentisse desde os seus primeiros passos, porque o que estava fazendo superava as suas capacidades humanas, quer houvesse vento e ondas, quer não os houvesse: não é mais fácil caminhar sobre a água sem vento e ondas que com eles. Onde esteve, então, a falta de fé de Pedro? Talvez nem tanto na insegurança que sentiu, mas em duvidar de Cristo. Até esse instante, o seu olhar estava posto nEle; sentia-se inseguro, certamente, mas não reparava demais nisso, porque o que era crucial, o que requeria a sua atenção eram os seus passos em direção ao Mestre. De repente, tomou consciência da sua insegurança e não se fiou de Jesus. A insegurança natural, razoável, degenerou-se em medo.

Temores

O medo oprime e torna reais problemas que, inicialmente, estavam só na imaginação. Algumas coisas nos acontecem porque temos medo de que nos aconteçam: medo de ter uma tentação, medo de ficarmos nervosos, medo de ficar mal perante os demais, medo de não conseguir explicar algo com a firmeza suficiente, medo de não saber enfocar um problema…

Como lutar? Procuremos aceitar essa insegurança, porque só assim evitaremos que se converta em objeto da nossa atenção. Não nos deve importar como nos sentimos enquanto o fazemos. Assim, poderemos caminhar em direção a Jesus Cristo entre as ondas e o vento, sem que nos angustiemos com a dificuldade que isso supõe.

São João escreve numa de suas epístolas que no amor não há temor; antes, o perfeito amor lança fora o temor (...) e quem teme não é perfeito no amor[13]. São Josemaria gostava de resumi-lo do seguinte modo: quem tem medo não sabe amar[14]. O amor e o medo pertencem a ordens diversas, que se excluem. Somente podem conviver quando o amor não é perfeito.

O medo é um sentimento de inquietação perante a possibilidade de perder algo que se tem ou que se deseja possuir no futuro. Pois bem, a insegurança forma parte da condição humana, do fato de que não temos um domínio perfeito nem sequer sobre nós mesmos. Por isso, não podemos excluir totalmente a insegurança nesta vida. De outro modo, a esperança não existiria como virtude, porque onde há certeza absoluta a não cabe a esperança[15].

A ordem do amor tem de excluir, portanto, o temor, mas não forçosamente a insegurança. Viver na ordem do amor supõe, então, que a insegurança não se degenere em medo, supõe aceitá-la, assumi-la integrando-a numa visão mais ampla, dentro da confiança em Deus, sem pretender ilusoriamente excluí-la de todo. Não podemos aspirar a uma segurança total. A insegurança que podemos sentir diante das nossas poucas forças é ocasião de fomentar o abandono em Deus.

Deste modo, a fé não é vista como um peso, mas como uma luz, como algo que indica um caminho, que ensina a aproveitar a própria miséria para abrir a alma a Deus. O cristão não espera de Deus que o faça sentir-se seguro em si mesmo; espera que a confiança nEle o ajude a ver para além da sua insegurança. Se o nosso olhar não se fixa na própria limitação, mas, sem rejeitá-la, a transcende, podemos realmente excluir o temor e viver na ordem do amor.

Um homem ou uma mulher de fé experimenta a inquietação, a dúvida, fica nervoso, sente vergonha, teme ficar mal diante dos outros, vê-se incapaz… Porém, aceita esses sentimentos sem atribuir-lhes mais importância da que têm, sem permitir que absorvam o seu olhar e o paralisem; não se revolta contra eles, não os vê como uma prova da sua falta de fé, nem deixa que o fato de senti-los o desanime; e segue adiante, ainda que descubra pontos da doutrina que necessita entender melhor, ainda que se sinta superado ou fora de lugar… ou ainda que a voz lhe trema. Aprendeu a não dar especial atenção a essas inquietações. Aprendeu a caminhar em direção a Cristo entre as ondas. E se a força do vento ou do mar o impedisse de vê-lO, sabe que é criança. Não tens visto as mães da terra, de braços estendidos, seguirem os seus meninos quando se aventuram, temerosos, a dar os primeiros passos sem ajuda de ninguém? – Não estás só; Maria está junto de ti [16].

Com Ela, a alma aprendeu a confiar em Deus.

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[11] Mt 14, 29-31.

[12] São Josemaria, Sulco, n. 762.

[13] 1 Jo 4, 18.

[14] São Josemaria, Forja, n. 260.

[15] Cf. Rm 8, 24.

[16] São Josemaria, Caminho, n. 900

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF