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quinta-feira, 27 de junho de 2024

CATEQUESE: Os Santos e a Eucaristia

Os Santos e a Eucaristia (Cléofas)

Os Santos e a Eucaristia

 POR PROF. FELIPE AQUINO

“A devoção à Eucaristia é a mais nobre de todas as devoções, porque tem o próprio Deus por objeto; é a mais salutar porque nos dá o próprio autor da graça; é a mais suave, pois suave é o Senhor. Se os anjos pudessem sentir inveja, nos invejariam porque podemos comungar” (Papa São Pio V).

A santa Missa e a sagrada Comunhão do Corpo de Cristo têm um valor extraordinário que todos os santos não se cansaram de exaltar. O Papa Bento XVI na Encíclica “Caritas in Veritate” nos lembra:

“Amados irmãos e irmãs, a Eucaristia está na origem de toda a forma de santidade, sendo cada um de nós chamado à plenitude de vida no Espírito Santo. Quantos santos tornaram autêntica a própria vida, graças à sua piedade eucarística! De Santo Inácio de Antioquia a Santo Agostinho, de Santo Antão Abade a São Bento, de São Francisco de Assis a São Tomás de Aquino, de Santa Clara de Assis a Santa Catarina de Sena, de São Pascoal Bailão a São Pedro Julião Eymard, de Santo Afonso Maria de Ligório ao Beato Carlos de Foucauld, de São João Maria Vianey a Santa Teresa de Lisieux, de São Pio de Pietrelcina à Beata Teresa de Calcutá, do Beato Pedro Jorge Frassati ao Beato Ivan Mertz, para mencionar apenas alguns de tantos nomes, a santidade sempre encontrou o seu centro no sacramento da Eucaristia”.

Vamos recordar as memoráveis palavras de alguns desses gigantes da Igreja que hoje participam no céu da eterna liturgia celeste. O Concílio de Trento (1545-1563) ensinou que a Eucaristia é “remédio pelo qual somos livres das falhas cotidianas e preservados dos pecados mortais”.

“As almas do purgatório são aliviadas pelas orações e sufrágio dos fiéis, principalmente pelo Sacrifício do Altar” (Sessão 25).

São Jerônimo (348-420), doutor da Igreja:

“Nosso Senhor nos concede tudo o que lhe pedimos na Santa Missa: o que mais vale é que nos dá ainda o que nem se quer cogitamos pedir-lhe e que, entretanto, nos é necessário”.

São João Maria Vianney, patrono dos párocos:

“Se conhecêssemos o valor do Santo Sacrifício da Missa que zelo não teríamos em assistir a ela” (Cura d’Ars).

“Cada Hóstia consagrada é feita para se consumir de amor em um coração humano”.

São Francisco de Sales (1567-1622), doutor da Igreja:

“A Missa é o sol da Igreja”.

“Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos para se conservarem na perfeição, e os imperfeitos para chegarem à perfeição”.

São Bernardo de Claraval (1090-1153), doutor da Igreja:

“Fica sabendo, ó cristão, que mais merece ouvir devotamente uma só missa do que distribuir todas as riquezas aos pobres e peregrinar toda a terra”.

“A comunhão reprime as nossas paixões: ira e sensualidade principalmente”.

“Quando Jesus está presente corporalmente em nós, ao redor de nós, montam guarda de amor os anjos”.

Santa Teresa D’Ávila (1515-1582), doutora da Igreja:

“Não há meio melhor para se chegar à perfeição”.

“Não percamos tão grande oportunidade para negociar com Deus. Ele [Jesus] não costuma pagar mal a hospedagem se o recebemos bem”.

“Devemos estar na presença de Jesus Sacramentado, como os Santos no céu, diante da Essência Divina”.

São Tomás de Aquino (1225-1274):

“A Comunhão destrói a tentação do demônio”.

São Vicente Ferrer:

“Há mais proveito na Eucaristia que em uma semana de jejum a pão e água”.

São João Crisóstomo (349-407), doutor da Igreja:

“A Eucaristia dá-nos uma grande inclinação para a virtude, uma grande paz e torna mais fácil o caminho para a santificação”.

“Deu-se todo não reservando nada para si”.

“Não comungar seria o maior desprezo a Jesus que se sente ‘doente de amor’” (Ct 2,4-5).

Santo Ambrósio (340-397), doutor da Igreja:

“Eu que sempre peco, preciso sempre do remédio ao meu alcance”.

São Gregório Nazianzeno (330-379), doutor da Igreja:

“Este pão do céu requer-se que se tenha fome. Ele quer ser desejado”.

“O Santíssimo Sacramento é fogo que nos inflama de modo que, retirando-nos do altar, espargimos tais chamas de amor que nos tornam terríveis ao inferno”.

Santo Agostinho (354-430), doutor da Igreja:

“Ele se esconde porque quer ser procurado”.

“Não somos nós que transformamos Jesus Cristo em nós, como fazemos com os outros alimentos que tomamos, mas é Jesus Cristo que nos transforma nele”.

“Sendo Deus onipotente, não pôde dar mais; sendo sapientíssimo, não soube dar mais; e sendo riquíssimo, não teve mais o que dar”.

“A Eucaristia é o pão de cada dia que se toma como remédio para a nossa fraqueza de cada dia”.

“Na Eucaristia Maria perpetua e estende a sua maternidade”.

Santo Afonso de Ligório (1696-1787), doutor da Igreja:

“A comunhão diária não pode conviver com o desejo de aparecer, vaidade no vestir, prazeres da gula, comodidades, conversas frívolas e maldosas. Exige oração, mortificação, recolhimento”.

“Ficai certos de que todos os instantes da vossa vida, o tempo que passardes diante do Divino Sacramento será o que vos dará mais força durante a vida, mais consolação na hora da morte e durante a eternidade”.

São João de Ávila:

“Tempo de ganhar muitas graças”.

Santa Maria Madalena de Pazzi:

“Tempo mais apropriado para crescer no amor de Deus”.

“Os minutos que vêm depois da comunhão – dizia a santa – São os mais preciosos que temos em nossa vida; os mais apropriados de nossa parte para entender-nos com Deus e, da parte de Deus, para comunicar-nos o seu amor”.

São Gregório de Nissa:

“Nosso corpo unido ao corpo de Cristo, adquire um princípio de imortalidade, porque se une ao Imortal”.

Santa Teresinha de Lisieux (1873-1897), doutora da Igreja:

“Não é para ficar numa âmbula de ouro, que Jesus desce cada dia do céu, mas para encontrar um outro céu, o da nossa alma, onde ele encontra as sua delícias”.

“Quando o demônio não pode entrar com o pecado no santuário de uma alma, quer pelo menos que ela fique vazia, sem dono e afastada da comunhão”.

Santa Margarida Maria Alacoque:

“Nós não saberíamos dar maior alegria ao nosso inimigo, o demônio, do que afastando-nos de Jesus, o qual lhe tira o poder que ele tem sobre nós”.

São Filipe Néri:

“A devoção ao Santíssimo Sacramento e a devoção à Santíssima Virgem são, não o melhor, mas o único meio para se conservar a pureza. Somente a comunhão é capaz de conservar um coração puro aos 20 anos. Não pode haver castidade sem a Eucaristia”.

Santa Catarina de Gênova:

“O tempo passado diante do Sacrário é o tempo mais bem empregado da minha vida”.

São João Bosco:

“Não omitais nunca a visita a cada dia ao Santíssimo Sacramento, ainda que seja muito breve, mas contanto que seja constante”.

“Quereis que o Senhor vos dê muitas graças? Visitai-o muitas vezes. Quereis que Ele vos dê poucas graças? Visitai-o poucas vezes. Quereis que o demônio vos assalte? Visitai raramente a Jesus Sacramentado. Quereis que o demônio fuja de vós? Visitai a Jesus muitas vezes. Quereis vencer ao demônio? Refugiai-vos sempre aos pés de Jesus. Quereis ser vencidos? Deixai de visitar Jesus (…)”.

Imitação de Cristo (Tomás de Kempis):

“Ao sacerdote na consagração é dado ao que aos anjos não foi concedido”.

“Não há oblação mais digna, nem maior satisfação para expiar os pecados, que oferecer-se a si mesmo a Deus, pura e inteiramente, unido à oblação do Corpo de Cristo, na missa e na comunhão”.

“A Eucaristia é a saúde da alma e do corpo, remédio de toda enfermidade espiritual, cura os vícios, reprime as paixões, vence ou enfraquece as tentações, comunica maior graça, confirma a virtude nascente, confirma a fé, fortalece a esperança, inflama e dilata a caridade”.

São Cirilo de Jerusalém:

“Quando te aproximares para receber o Senhor não o faças com os braços soltos e com os dedos abertos, mas faça da tua mão esquerda o Trono para a sua mão direita, pois nesta receberás o Rei, e na alma recebes o Corpo de Cristo dizendo Amém. Então, com todo cuidado, santifica teus olhos pelo Santo Corpo e em seguida toma-O e cuida para que nada se perca”.

São Josemaria Escrivá de Balaguer:

“É preciso adorar devotamente este Deus escondido. Ele é o mesmo Jesus Cristo, que nasceu da Virgem Maria; o mesmo que padeceu e foi imolado na cruz; o mesmo, enfim, de cujo peito trespassado jorrou água e sangue” (Cristo que Passa).

“Dir-vos-ei que, para mim, o Sacrário foi sempre Betânia, o lugar tranquilo e aprazível onde está Cristo, onde Lhe podemos contar as nossas preocupações, os nossos sofrimentos, as nossas aspirações e as nossas alegrias, com a mesma simplicidade e naturalidade com que aqueles amigos seus, Marta, Maria e Lázaro, lhe falavam. Por isso, ao percorrer as ruas de alguma cidade ou de alguma aldeia, alegra-me descobrir, ainda que ao longe, a silhueta duma igreja: é um novo Sacrário, mais uma ocasião para deixar a alma escapar-se para estar com o desejo junto do Senhor Sacramentado” (Cristo que Passa).

Chiara Lubic, fundadora dos Focolarinos, disse certa vez: “Enquanto existir a Eucaristia eu nunca estarei só. Enquanto existir um sacrário, não terei solidão”.

É preciso preparar-se para receber Jesus. E a melhor preparação, na hora de recebê-lo, é entregar o coração a Nossa Senhora, para que ela o prepare com as disposições necessárias. Já que não somos dignos de receber o seu Filho, deixemos que ela cubra o nosso coração com a sua presença tão amável.

“É pelo preparo do aposento que se conhece o amor de quem acolhe o seu amado”, dizia Santa Teresa D’Ávila.

Retirado do livro: “Como preparar-se bem para comungar”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

Fonte: https://cleofas.com.br/

NAZARENO: "Ama o teu próximo como a ti mesmo" (o tributo a César e o óbolo da viúva) - (47)

Nazareno (Vatican News)

Cap. 47 - "Ama o teu próximo como a ti mesmo" (o tributo a César e o óbolo da viúva)

Depois dessa entrada triunfal, à noite, Jesus e seus seguidores voltam para Betânia, para a casa de seus amigos. Mas retornam a Jerusalém nos dias seguintes. O Nazareno continua as suas catequeses, explica que Deus Pai havia enviado os profetas, mas não foram acolhidos nem ouvidos. Havia enviado seu Filho, mas ele também estava prestes a ser rejeitado e morto. Chega a dizer, aos homens que tinham transformado a fé em poder e regras: “Os publicanos e as prostitutas estão vos precedendo no Reino de Deus.

Publicanos e as prostitutas, pecadores públicos e pecadoras públicas, precederiam os sacerdotes, os homens da lei e da reta doutrina, no reino dos céus? Os apóstolos olham uns para os outros. Pedro se dirige ao seu irmão André: "Afinal, ele sempre fez assim...

Os chefes dos sacerdotes se retiraram, mas pediram que outros se apresentassem para desafiar Jesus.

Mandaram-lhe alguns fariseus e herodianos para apanhá-lo por alguma palavra... “Mestre, é lícito pagar imposto a César ou não?”.

Tinham começado a falar de maneira bajuladora, reconhecendo a autoridade de Jesus e, em seguida, colocando-o em dificuldade.

Jesus, porém, percebendo a sua malícia disse: “Hipócritas! Por que me pondes à prova? Mostrai-me a moeda do imposto”. Apresentaram-lhe um denário. É uma moeda romana de prata, cunhada fora do país, com a efígie do imperador e que serve como moeda para o pagamento de impostos.

Então Jesus disse-lhes: De quem é esta imagem e a inscrição?”. Responderam: “É de César”.

A discussão foi testemunhada, ao fundo, apoiado em um pilar, por um escriba. Seu nome é Set. Ele se aproxima do Nazareno, com uma pergunta que brotava em seu coração.

Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”. Jesus respondeu: “O primeiro é: Ouve ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento, e com toda a tua força. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior do que esses”.

Naquele momento, sentado em frente ao Tesouro do Templo, Jesus observava como a multidão lançava moedas neleMuitos ricos lançavam muitas moedas. E o faziam, em muitos casos, com ostentação, certos de que seriam apreciados pelos sacerdotes que supervisionavam os cofres.

Vindo uma pobre viúva, lançou duas moedinhas, isto é, um quadrante.

Vendo-a chegar curvada sob o peso dos anos e das tristezas, Jesus se comove.

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Com os braços abertos a todos. A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil (1)

A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil | Flickr-Photos/Opus Dei

Com os braços abertos a todos. A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil

1974. São Josemaria Escrivá esteve 15 dias no Brasil. Que mensagem deixou aos brasileiros? Qual foi a sua impressão sobre o país? Este artigo inédito descreve como foram organizados os encontros com o fundador do Opus Dei em São Paulo, e resume a sua mensagem.

29/08/2017

Studia et Documenta é uma publicação anual do Istituto Storico San Josemaría Escrivá dedicada à história do Opus Dei e de seu Fundador. O tema monográfico da décima primeira edição, que ocupa a primeira parte do volume, são as viagens de São Josemaria Escrivá à América Latina entre os anos 1974-1975. Oferecemos a seguir o Artigo de Alexandre Antosz sobre a visita de São Josemaria ao Brasil (Studia et Documenta vol.11, pág 65-99, 2017).

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INTRODUÇÃO. A VIAGEM AO BRASIL

Este artigo trata do conteúdo da mensagem de São Josemaria Escrivá no Brasil, particularmente do que transmitiu nos dois encontros gerais, nos dias 1o e 2 de junho de 1974, oferecendo, na medida das possibilidades, informações sobre as circunstâncias desses eventos. O estudo pretende contribuir para aprofundar o conhecimento de sua catequese na América e ser um estímulo para futuros trabalhos, que possam explorar o abundante material existente sobre essa viagem. Em 2007 foi publicado um primeiro texto sobre o tema[1]; mas não se trata de um relato histórico, apenas de alguns traços da santidade cristã presentes na vida do fundador do Opus Dei, tomando como exemplo, principalmente, seus dias no Brasil, como o próprio autor adverte[2]. Embora as atuais biografias sejam muito parcas em informações sobre a estadia de São Josemaria no Brasil[3], não faltam documentos que possibilitam um conhecimento detalhado desta viagem[4]. O presente trabalho está apoiado na transcrição fiel das tertúlias[5], nos diários escritos durante a estadia de São Josemaria, entre os dias 22 de maio e 7 de junho de 1974[6], além dos testemunhos de algumas pessoas que presenciaram os acontecimentos[7]. Todos esses documentos se conservam nas sedes da Comissão Regional e da Assessoria Regional[8] do Opus Dei no Brasil, em São Paulo. Também tem em conta que as duas tertúlias, como quase todas as suas palavras no Brasil, foram registradas e parcialmente reproduzidas em Catequesis en América.

O avião que trouxe São Josemaria à América, o DC-8 da Ibéria, procedente de Madri com escala nas Ilhas Canárias, aterrissou no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, às 18h18 do dia 22 de maio de 1974[9]. Aguardavam-no o conselheiro regional, pe. Francisco Javier de Ayala Delgado (1922- 1994)[10], conhecido em Portugal e no Brasil como dr. Xavier de Ayala, Emérico da Gama (1931-2014) e Alfredo Canteli. O Brasil foi o primeiro país que visitou na sua viagem pela América do Sul, na qual pretendia realizar uma autêntica catequese[11]. Acompanhavam-no o beato Álvaro del Portillo (1914- 1994), o pe. Javier Echevarría (1932-2016)[12] e Alejandro Cantero, médico. Enquanto estes últimos, ajudados por Alfredo Canteli, pegavam as bagagens, mons. Escrivá encaminhou-se com os outros para o Bandeirantes, um avião menor de 15 lugares que os levaria a São Paulo[13].

O Brasil vivia um acelerado desenvolvimento econômico e, apesar da ditadura política imposta pelos militares desde 1964, os cidadãos comuns gozavam de uma relativa tranquilidade. A ditadura brasileira não era de cunho pessoal: os presidentes alternaram-se, sempre escolhidos de dentro das Forças Armadas. Não faltaram alguns acontecimentos violentos de repressão aos movimentos de oposição e restrições às liberdades civis. Contudo, o governo alcançava êxitos na área econômica. Em 1968 e 1969, o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescera respectivamente 11,2% e 10%, começando o que foi chamado de “milagre econômico”, que atingiu o seu pico em 1973, quando o PIB teve uma variação de 13%. Apesar das condições externas terem mudado muito com a crise internacional do petróleo iniciada em outubro de 1973, no ano seguinte, quando São Josemaria Escrivá chegou, o país ainda vivia a euforia com os resultados satisfatórios na economia. Não podemos desdenhar ainda a alegria que permanecia pela terceira conquista da Copa do Mundo pela seleção brasileira de futebol, em 1970, da qual o governo soube tirar proveito para sua propaganda nacionalista[14].

O general Ernesto Geisel (1907-1996), presidente empossado em março de 1974, desejava realizar uma abertura política lenta e gradual. A oposição política, na qual havia também grupos favoráveis à luta armada, estava abrandada pela dura repressão, que crescera gradativamente até este período. Contudo, manifestações de vários grupos sociais como os estudantes, os trabalhadores das fábricas, as associações profissionais, etc., vieram à tona com novos ímpetos no governo Geisel. Também a Igreja no Brasil procurou sair em defesa das liberdades civis, e alguns membros da hierarquia se defrontaram com o governo, que procurava estabelecer um diálogo. Foi através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), juntamente com outros grupos, que o governo negociou o modo de encaminhar a restauração das liberdades públicas em 1978[15]. Esta situação, porém, facilitou que uma parte considerável do clero se politizasse, e se propagassem em seu meio as teses da Teologia da Libertação[16].

É relevante também citar a profunda e rápida transformação demográfica que o Brasil estava vivendo. Na década de 1940, as mulheres brasileiras apresentavam uma taxa de fecundidade de 6,3 filhos; caiu para 5,8 na década de 1960. A partir dos anos 70 a taxa de fecundidade reduziu-se drasticamente e, na primeira década de 1980, foi para 3,3. Além disso, o país tornava-se muito mais urbano: em 1940 apenas 16% da população morava nas cidades, enquanto que em 1980 eram 51,5%. O crescimento populacional também era acelerado: o Brasil passou de 52 milhões de habitantes em 1940 para 146 milhões em 1990. Além disso, havia um grande deslocamento migratório entre 1950 e 1970, do Nordeste do país para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o que se percebia particularmente na cidade de São Paulo, que se tornou a maior cidade do país, com uma população que já ultrapassava os 6 milhões de habitantes[17]. Junto a todos esses fatores que levavam a um crescimento econômico acelerado nas cidades, notava-se o início de uma decadência na vida moral e religiosa da sociedade[18], o que se pode intuir em algumas das perguntas formuladas a mons. Escrivá, como teremos ocasião de notar mais adiante.

Os primeiros fiéis que vieram começar o trabalho apostólico no Brasil chegaram em março de 1957, e instalaram-se na cidade de Marília[19]. Contudo, depois de poucos anos, mudaram-se definitivamente para São Paulo, onde se concentrava quase todo o trabalho apostólico em maio de 1974. Ver o fundador no país era um sonho antigo dos membros do Opus Dei no Brasil, especialmente do dr. Xavier de Ayala, que constantemente manifestava este desejo em suas viagens a Roma, pois pensava que seria uma forma de fortalecer o trabalho apostólico no país[20]. Sabemos que por volta de março de 1974 a possibilidade de repetir a correria catequética de 1972 por terras americanas ia ganhando força, e o desejo explícito de São Josemaria de viajar é atestado por uma carta ao cardeal da Guatemala Mario Casariego y Acevedo (1909-1983) de 25 de março[21]. Contudo, no outro lado do Atlântico, essa possibilidade tornou-se mais real quando um grupo que voltava de um encontro de estudantes universitários em Roma[22], em abril de 1974, comentou que teriam feito ali algumas perguntas sobre o Brasil, como, por exemplo, a temperatura no mês de maio[23]. Então, foram vários os telefonemas e contatos com Roma e Espanha, e alguns dias depois puderam ter a certeza da sua vinda e, passado mais um tempo, souberam da data precisa[24]. Para todos os membros do Opus Dei que moravam no Brasil era realmente um sonho que estava a ponto de se realizar.

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Alexandre Antosz Filho, sacerdote. Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Paraná, mestre em História pela Universidade de São Paulo e doutor em Teologia (especialidade em História da Igreja) pela Pontificia Università della Santa Croce (Roma). e-mail: alexantosz@gmail.com

Notas:

[1] Francisco Faus, São Josemaria Escrivá no Brasil, São Paulo, Indaiá, 20112.

[2] Cfr. ibid, pp. 11-12.

[3] Cfr., por exemplo, Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, São Paulo, Quadrante, vol. III, 2004 (or: El Fundador del Opus Dei, 2004, vol. III), pp. 632-637; Hugo de Azevedo, Uma luz no mundo, Lisboa, Prumo - Rei dos Livros, 1988, pp. 345-348; Ana Sastre, Tempo de Caminhar, Lisboa, Diel, 1994 (or: Tiempo de Caminar, 1991), pp. 559-566; Peter Berglar, Opus Dei Vida y obra del fundador Josemaría Escrivá de Balaguer, Madrid, Rialp, 19895 (or: Opus Dei Leben und Werk des Gründers Josemaria Escrivá de Balaguer, 1983), pp. 290-293; Salvador Bernal, Mons Josemaria Escrivá de Balaguer Perfil do Fundador do Opus Dei, São Paulo, Quadrante, 1978 (or: Mons Josemaría Escrivá de Balaguer Apuntes sobre la vida del Fundador del Opus Dei, 1977), pp. 50-51; 58-59; 60-62; 203-205; 244-249; 342-343; 411-414.

[4] Além dos citados logo abaixo, devemos incluir um documento impresso dirigido aos membros do Opus Dei, que traz abundantes informações sobre sua viagem, Catequesis en América, vol. I, pp. 24-69, AGP, P04.

[5] Os dois encontros gerais, como se explicará pormenorizadamente neste artigo, além de filmados, foram gravados e transcritos integralmente. Para este artigo tivemos acesso a este material, que ainda não foi publicado.

[6] O diário da casa onde morou, no bairro do Sumaré, é um caderno de tamanho médio com 143 páginas, escritas e numeradas a mão, intitulado: Diário da primeira estadia do Padre no Brasil. O título era uma simpática manifestação do desejo de que a estadia viesse a se repetir, o que, como é sabido, não aconteceu. O relato, em estilo familiar mas muito preciso, centra-se nos episódios vividos na casa, e começa exatamente no dia 22 de maio, terminando no dia 7 de junho de 1974. Passaremos a citar como Diário da primeira estadia. O diário do centro da Casa Nova, assim chamada a sede do órgão de governo da sessão feminina, na rua Martiniano de Carvalho, é do mesmo estilo e abrange o mesmo intervalo cronológico; ocupa 26 folhas A4 datilografadas, divididas em duas partes, intituladas: Rascunho do diário da estadia do nosso Padre em São Paulo (1a parte), 10 páginas; Rascunho do diário da estadia do nosso Padre em São Paulo (2a parte), 16 páginas. Passaremos a citar Diário da Casa Nova, 1a parte e 2a parte, respectivamente.

[7] São muitas as pessoas que estiveram com São Josemaria na época. Entrevistamos pessoalmente cerca de vinte pessoas, e nem todas são citadas, pois acrescentaram pouco às fontes disponíveis. Pudemos esclarecer uma ou outra informação pouco precisa ou pequenos detalhes contraditórios. Agradecemos especialmente a ajuda de Alfredo Canteli, José María Córdova Fernández e Francisco Faus Pascuchi, que foram membros da Comissão Regional na época.

[8] Chama-se Comissão Regional o órgão de governo da sessão masculina de uma circunscrição do Opus Dei, e Assessoria Regional o correspondente à sessão feminina.

[9] Diário da primeira estadia, p. 1.

[10] Assim chamava-se o sacerdote posto à frente do governo regional em cada circunscrição. Atualmente o governo do Opus Dei está a cargo de um Prelado e seus representantes em cada circunscrição denominam-se Vigário regional. Francisco Xavier de Ayala Delgado era doutor em Direito Civil e Direito Canônico, pediu admissão ao Opus Dei em 03 de março de 1940 e foi ordenado sacerdote em 1948. Nomeado o primeiro conselheiro do Opus Dei em Portugal (1949-1958), foi ao Brasil em 1961, onde dirigiu o Opus Dei até sua morte, em 7 de outubro de 1994. Integrou também a Comissão Pontifícia de Revisão do Código de Direito Canônico e a Comissão Paritária para a ereção da Obra em Prelazia Pessoal.

[11] Sobre os motivos e intenções desta viagem, ver Vázquez de Prada, O Fundador, vol. III, pp. 620-632. A necessidade de difundir e confirmar a doutrina perene da Igreja e dar a conhecer o Opus Dei de um modo mais vasto, que surgiu já na década de 1960, foi a gênese remota desta viagem. Sobre isso, cfr. Conversaciones con Monseñor Escrivá de Balaguer Edición crítico-histórica preparada por José Luis Illanes − Alfredo Méndiz (eds.), Roma -Madrid, Instituto Histórico San Josemaría Escrivá de Balaguer – Rialp, 2012, pp. 13-22.

[12] D. Javier Echevarría foi a Roma em 1950, onde trabalhou sempre muito próximo de São Josemaria e o Beato Álvaro. Ordenou-se sacerdote em 1955 e de 1994 a 2016 foi o Prelado do Opus Dei.

[13] Diário da primeira estadia, pp. 2-5.

[14] Cfr. Boris Fausto, História do Brasil, São Paulo, Edusp, 201214, pp. 409-424.

[15] Ibid , pp. 418-426.

[16] Sobre a Teologia da Libertação, cfr. Josep-Ignasi Saranyana, Teologías Latinoamericanistas, I, em Josep-Ignasi Saranyana (dir.), Teología em América Latina, vol. III, Madrid- Frankfurt, Iberoamericana-Vervuert, 2002, pp. 255-331.

[17] Em 1950 a população do município de São Paulo era de 2.198.096 habitantes e em 1970 de 5.885.475. Dados de SEADE, SP Demográfico Resenha de Estatísticas Vitais do Estado de São Paulo, Ano 13, n. 1, Janeiro 2013, p. 3.

[18] Cfr. Fausto, História do Brasil, pp. 451-454.

[19] Cfr. Maria Theresinha Degani, Brasil, em José Luis Illanes (coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá de Balaguer, Burgos-Roma, Monte Carmelo − Istituto Storico San Josemaría Escrivá, 20132, pp. 166-169; Vázquez de Prada, O Fundador, vol. III, pp. 321-334; Sastre, Tempo, pp. 449-450. Ainda não existem estudos específicos sobre estes inícios.

[20] Entrevista com José María Córdova Fernández, 18 de fevereiro de 2014.

[21] Cfr. Vázquez de Prada, O Fundador, vol. III, p. 628.

[22] O encontro, denominado UNIV, se organiza desde 1968, durante a Semana Santa (cfr. www.univforum.org, acessado em 18 de agosto de 2015). Em 1974 o domingo de Páscoa caiu no dia 14 de abril.

[23] Entrevista com José María Córdova Fernández, 18 de fevereiro de 2014.

[24] Um grupo de cerca de 20 brasileiros que participou do UNIV e teve vários encontros com São Josemaria em Roma, retornou ao Brasil no dia 19 de abril. Então, eles nada sabiam da futura viagem de mons. Escrivá ao Brasil, e nada lhes fez intuir essa possibilidade. Entretanto, antes de acabar o mês, souberam que ele viria ao país. Entrevista com Eugenio Carlos Callioli, 11 de maio de 2016.

 Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Poder descontralado sobre a natureza gera monstros, adverte o Papa

Mensagem do Papa para o Dia Mundial de Oração pela Criação (Vatican News)

Para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, Francisco propõe repensar a questão do poder humano, do seu significado e dos seus limites, "pois um poder descontrolado gera monstros e volta-se contra nós mesmos".

Vatican News

"Espera e age com a criação" é o tema do Dia de Oração pelo Cuidado da Criação, que se realizará no próximo 1 de setembro.

mensagem do Papa para a ocasião foi divulgada esta quinta-feira (27/06), e refere-se à Carta de São Paulo aos Romanos 8, 19-25. O Apóstolo, ao esclarecer o significado de viver segundo o Espírito, concentra-se na esperança firme da salvação pela fé, que é vida nova em Cristo.

Para Francisco, a esperança é a possibilidade de permanecer firme no meio das adversidades, de não desanimar nos momentos de tribulação ou diante da barbárie humana.

A esperança cristã não desilude, mas também não ilude, ressalva o Papa. A criação geme e o vemos através de tanta injustiça, tantas guerras fratricidas que provocam a morte de crianças, destroem cidades, poluem o ambiente em que vive o homem.

A luta moral dos cristãos está ligada ao “gemido” da criação, que está sujeita à dissolução e à morte, agravadas pelos abusos humanos sobre a natureza.

Por isso, permanece válido o convite à conversão dos estilos de vida, a resistir à degradação humana do meio ambiente e a manifestar aquela crítica social que é, em primeiro lugar, testemunho da possibilidade de mudança.

Esta conversão, explica Francisco, consiste em passar da arrogância de quem quer dominar os outros e a natureza à humildade de quem cuida dos outros e da criação. E cita a famosa frase da Exortação Apostólica Laudate Deum: “Um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo”.

O Papa propõe que se repense a questão do poder humano, do seu significado e dos seus limites, pois um poder descontrolado gera monstros e volta-se contra nós mesmos.

O Pontífice volta a afirmar que é urgente colocar limites éticos ao desenvolvimento da inteligência artificial, que com a sua capacidade de cálculo e de simulação poderia ser utilizada para dominar o homem e a natureza, em vez de estar ao serviço da paz e do desenvolvimento integral.

De “predador”, portanto, o homem deve ser “cultivador” do jardim. Já a tradição judaico-cristã recorda que terra está confiada ao homem, mas continua a ser de Deus. Por isso, pretender possuir e dominar a natureza, manipulando-a a seu bel-prazer, é uma forma de idolatria.

“É o homem embriagado com o seu próprio poder tecnocrático, que com arrogância coloca a terra numa condição de ‘des-graça’, isto é, privada da graça de Deus”, escreve Francisco.

Por conseguinte, a salvaguarda da criação não é apenas uma questão ética, mas é eminentemente teológica: diz respeito ao entrelaçamento entre o mistério do homem e o mistério de Deus. Nesta história, não está em jogo apenas a vida terrena do homem, está sobretudo em jogo o seu destino na eternidade.

O Papa recorda que há uma motivação transcendente (teológico-ética) que compromete o cristão a promover a justiça e a paz no mundo, também através do destino universal dos bens.

Esperar e agir com a criação significa, então, viver uma fé encarnada, que sabe entrar na carne sofredora e esperançosa das pessoas, partilhando a expectativa da ressurreição corporal a que os fiéis estão predestinados em Cristo.

É no interior dos dramas da carne humana que sofre que a esperança deve ser testemunhada. E se alguém sonha, afirma Francisco, “então que sonhe com os olhos abertos, animados por visões de amor, fraternidade, amizade e justiça para todos”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF