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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Cardeal Sarah critica que usem Sínodo da Amazônia para planos ideológicos

Imagem referencial. Crédito: Daniel Ibáñez (ACI)
Vaticano, 09 Out. 19 / 01:46 pm (ACI).- O Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Robert Sarah, advertiu que é abominável e um insulto a Deus usar o Sínodo da Amazônia para introduzir planos ideológicos, como a ordenação sacerdotal de homens casados.
O Purpurado fez esta advertência em uma entrevista publicada pelo jornal italiano ‘Corriere della Sera’.
Questionado sobre a sua opinião sobre o Sínodo da Amazônia, o Cardeal Sarah assegurou ter escutado que queriam fazer deste evento "um laboratório para a Igreja universal", enquanto outros afirmaram "que depois desse sínodo nada será como antes". “Se isso é verdade, isso é desonesto e enganoso. Esse sínodo tem um objetivo específico e local: a evangelização da Amazônia”, afirmou.
“Temo que alguns ocidentais estejam usando esta assembleia para fazer avançar seus planos. Penso em particular na ordenação de homens casados, na criação de ministérios femininos e na jurisdição dos leigos. Esses pontos tocam a estrutura da Igreja Universal. Aproveitar a oportunidade para introduzir planos ideológicos seria uma manipulação indigna, um engano desonesto e um insulto a Deus que guia sua Igreja e confia a ela seu plano de salvação. Além disso, fiquei surpreso e indignado que a angústia espiritual dos pobres na Amazônia seja usada como uma desculpa para apoiar projetos típicos do cristão burguês e mundano. É abominável”, destacou na entrevista.
Também explicou que a proposta de ordenar viri probati, isto é, de homens idosos casados ​​de comprovada virtude, em áreas remotas para celebrar a Missa, confessar e dar a unção dos enfermos, sem função de guia, é uma “proposta teologicamente absurda e implica uma concepção funcionalista do sacerdócio, no sentido de que se pretende separar os três senhorios", santificante, docente e governante, “em total contradição com os ensinamentos do Concílio Vaticano II e de toda a Tradição da Igreja latina que estabelece sua unidade substancial”.
Também advertiu que "a ordenação presbiteral dos homens casados ​​significaria, na prática, colocar em discussão a obrigatoriedade do celibato como tal".
“Nesse sentido, é bom lembrar a frase de São Paulo VI que o Papa Francisco fez sua em um discurso a um grupo de jornalistas em 27 de janeiro de 2019: 'Prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato'”, afirmou.
Por isso, o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos enfatizou que “não há nenhum medo. O sínodo estudará, depois o Santo Padre fará as conclusões”.
A questão é outra, assinalou, “compreender o sentido da vocação sacerdotal. Perguntar-se por que não há mais pessoas dispostas a dar-se por inteiro a Deus, no sacerdócio e na virgindade”.
“No entanto, prefere-se raciocinar sobre táticas, com a presunção de que estas possam ajudar a resolver os problemas maiores e geralmente de justiça. Quantas vezes ouvi dizer que, se os sacerdotes pudessem se casar, não haveria pedofilia. Como se não soubéssemos que o problema, de fato, o crime, está relacionado principalmente às famílias, porque é onde ocorre principalmente”, indicou.
Essas abordagens são, em sua opinião, “a presunção dos homens. E, francamente, não acho que as igrejas, onde hoje não existe o celibato sacerdotal, sejam muito mais prósperas que a Igreja Católica, se esse é o objetivo”.
ACI Digital


segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Papa Francisco: Instrumentum laboris do Sínodo é um documento destinado a ser destruído

Papa Francisco nesta manhã na Sala do Sínodo. Crédito: Daniel Ibáñez / ACI
Vaticano, 07 Out. 19 / 08:50 am (ACI).- Em seu discurso aos participantes do Sínodo da Amazônia, cujos trabalhos começaram nesta segunda-feira, 7 de outubro, o Papa Francisco afirmou que o Instrumentum laboris é um documento "mártir" destinado a ser destruído.
Ao explicar a importância da ação do Espírito Santo no Sínodo, o Santo Padre lembrou que antes deste evento foram realizadas “consultas, discussões nas conferências episcopais, no Conselho Pré-sinodal, elaborou-se o Instrumentum laboris, que, como sabem, é um texto mártir destinado a ser destruído, porque é como ponto de partida para o que o Espírito vai fazer em nós. E, agora, nós devemos caminhar sob a guia do Espírito Santo”.
O Pontífice confirmou assim o que disse há alguns dias o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, que em coletiva de imprensa explicou que o Instrumentum laboris não é um documento magisterial ou pontifício.
"Há críticas ao Instrumentum laboris e a primeira coisa que devo dizer é que não é um documento pontifício", disse o Cardeal italiano em entrevista coletiva em 3 de outubro, na Sala de Imprensa do Vaticano.
O Purpurado explicou que o texto é o resultado de dois anos de trabalho durante os quais “os povos amazônicos foram escutados e essa expressão foi coletada não apenas em uma única assembleia”, mas em várias, nas quais “os bispos, responsáveis diretos da evangelização, escutam o povo e devem registrar isso. Foram dois anos de preparação e essa é a síntese”.
O Secretário-Geral do Sínodo também indicou que, “se há um cardeal ou um bispo que não concorda e vê que há conteúdos que não correspondem, tudo bem. Contudo, direi que é necessário escutar e não julgar, porque (o Instrumentum laboris) não é um documento magisterial. É o documento de trabalho que será entregue aos padres sinodais e que será a base para poder começar os trabalhos e construir o documento final do zero”.
Em seu discurso nesta manhã, o cardeal italiano disse que, “nas três semanas de trabalho que hoje estão abertas diante de nós, o Instrumentum laboris constituirá o ponto de referência e a base necessária da reflexão e do debate sinodal e não um texto para fazer emendas".
A função do Instrumentum laboris, destacou, "conclui com a elaboração do Documento final, que reunirá os resultados alcançados por esta assembleia e por todo o processo sinodal".
Críticas ao documento de trabalho do Sínodo da Amazônia
Nos últimos meses, diferentes bispos e cardeais expressaram uma postura crítica sobre o documento de trabalho ou Instrumentum laboris do Sínodo da Amazônia.
O Bispo Emérito de Marajó (Brasil), Dom José Luis Azcona, que serviu nesta jurisdição amazônica por quase 30 anos, escreveu vários artigos críticos sobre o Instrumentum laboris.
Em um deles, criticou o papel da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), que, em sua opinião, baseia-se em um “pensamento único” que é “ameaçador” para o caminho da sinodalidade e unidade eclesial do Brasil.
No início de setembro de 2019, os cardeais Walter Brandmüller e Raymond Burke escreveram uma carta em italiano para os outros membros do Colégio de Cardeais – às quais o Grupo ACI teve acesso – fazendo uma grave denúncia sobre alguns pontos do documento de trabalho.
O Cardeal Brandmüller alertou que “as formulações nebulosas do Instrumentum, como a pretendida criação de novos ministérios eclesiásticos para as mulheres e, sobretudo, a ordenação presbiteral dos chamados viri probati, suscitam a forte suspeita de que será colocado em questão até mesmo o celibato sacerdotal".
Em julho deste ano, o Cardeal Gerhard Müller, Prefeito Emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, também fez uma crítica ao documento de trabalho, especificando, por exemplo, que no texto “o significado dos termos-chave não são explicados e são utilizados de maneira inflada”.
Especificamente, cita conceitos pouco explicados, como “caminho sinodal”, “desenvolvimento integral”, “Igreja samaritana, sinodal e aberta” ou “Igreja de Abertura, Igreja dos Pobres, Igreja da Amazônia”.
Em segundo lugar, assegura que "a estrutura do texto apresenta um giro radical na hermenêutica da teologia católica". No Instrumentum laboris, “toda a linha de pensamento se torna autorreferencial e circula em torno dos últimos documentos do Magistério do Papa Francisco, com algumas escassas referências ao Papa João Paulo II e Bento XVI".
“Talvez o desejo era mostrar uma especial lealdade ao Papa, ou talvez acreditaram ser possível evitar os desafios do trabalho teológico quando se fazem constantes referências a palavras-chave conhecidas, e frequentemente repetidas, que os autores chamam, de maneira bastante incompetente de: ‘o mantra de Francisco’”, escreveu.
Nas últimas semanas, o Cardeal Jorge Urosa, Arcebispo emérito de Caracas, enviou à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI, três artigos e uma breve declaração sobre o Sínodo da Amazônia.
No primeiro, o cardeal venezuelano destacou as fortalezas e as falhas do Sínodo, com a intenção de que os padres sinodais ajudem a melhorar estas últimas.
No segundo, o Purpurado explicou que o Instrumentum laboris “não é um documento para uma assembleia de ONGs, mas de um Sínodo eclesial, de uma assembleia muito importante da Igreja para ajudá-la a viver melhor sua missão, para revitalizar a Igreja lá e no mundo inteiro, para o qual devemos apresentar novos caminhos de evangelização autêntica”.
Enquanto no terceiro, o Arcebispo Emérito de Caracas especificou as razões pelas quais não se pode ordenar homens casados nem mulheres.
O Cardeal Urosa também fez uma declaração na qual explicou que "uma análise do Instrumento Laboris não é para atacar o Sínodo, mas para contribuir para o seu sucesso!".
O Arcebispo assinalou que “o Sínodo é muito importante e quero contribuir modestamente, para que seja um sucesso na evangelização, na revitalização da Igreja e na defesa da Amazônia e de seus habitantes. As observações são direcionadas ao texto, que, na minha opinião, pode e deve ser melhorado”.
ACI Digital

Nossa Senhora do Rosário, auxílio dos cristãos

REDAÇÃO CENTRAL, 07 Out. 19 / 05:00 am (ACI).- “O Rosário é minha oração preferida. Oração maravilhosa em sua simplicidade e em sua profundidade. Nesta oração repetimos muitas vezes as palavras que a Virgem Maria escutou da boca do anjo e de sua prima Isabel. A estas palavras toda a Igreja se associa”. Estas são as palavras de São João Paulo II que remetem à data celebrada neste dia 7 de outubro, Festa de Nossa Senhora do Rosário.

Foi a própria mãe de Deus quem pediu que essa oração fosse difundida para a obtenção de graças abundantes. Em 1208, a Virgem Maria apareceu a São Domingos de Gusmão para ensinar-lhe a rezar o Rosário e pediu que ele difundisse a devoção desta arma poderosa para vencer os inimigos da fé. Foi por causa deste anúncio do santo que as tropas cristãs, antes da Batalha de Lepanto (7 de outubro de 1571), rezaram o Santo Rosário e venceram os turcos otomanos.
Em agradecimento a Nossa Senhora, o Papa São Pio V instituiu esta data como a Festa de Nossa Senhora das Vitórias e acrescentou o título de “Auxílio dos Cristãos” às ladainhas da Mãe de Deus. Mais tarde, o Papa Gregório III mudou o nome para Festa de Nossa Senhora do Rosário.
Rosário significa “coroa de rosas”. Foi definido por São Pio V como “um modo muito piedoso de oração, ao alcance de todos, que consiste em ir repetindo a saudação que o anjo fez a Maria; intercalando um ‘Pai Nosso’ entre cada dez ‘Ave Marias’ e tratando de ir meditando enquanto isso na vida de Nosso Senhor”.
São João Paulo II, que acrescentou os mistérios luminosos à oração do Santo Rosário, escreveu em sua Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae” que esta oração “na sua simplicidade e profundidade, permanece, mesmo no terceiro milênio recém iniciado, uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade”.
Ao visitar o Santuário de Pompeia, na Itália, em março de 2015, o Papa Francisco se deteve em oração durante alguns minutos em frente à imagem de Nossa Senhora do Rosário e recitou a “Pequena Súplica”, extraída da histórica oração, composta pelo Beato Bartolo Longo, que, em 1875, levou a imagem ao Santuário de Pompeia. Esta é a oração:
“Virgem do Santo Rosário, Mãe do Redentor, mulher da nossa terra elevada aos céus, humilde serva do Senhor, proclamada Rainha do mundo, do profundo das nossas misérias recorremos a Ti. Com confiança de filhos, contemplamos o teu rosto dulcíssimo.
Coroada por doze estrelas, tu nos conduzes ao mistério do Pai, tu resplandeces de Espírito Santo, tu nos dais o teu Menino divino, Jesus, nossa esperança, única salvação do mundo. Mostrando-nos o teu Rosário, nos convidas a fixar o seu rosto. Tu nos abres o seu coração, abismo de alegria e de dor, de luz e de glória, mistério do Filho de Deus, que se fez homem por nós. Aos teus pés, nas pegadas dos Santos, sentimo-nos família de Deus.
Mãe e modelo da Igreja, tu és nossa guia e sustento seguro. Tu nos tornas um só coração e uma só alma, povo forte a caminho para a pátria do céu. Nós te apresentamos as nossas misérias, os tantos caminhos do ódio e do sangue, as antigas e novas pobrezas, sobretudo os nossos pecados. A ti confiamos, Mãe de Misericórdia! Obtém-nos o perdão de Deus! Ajuda-nos a construir um mundo, segundo o teu coração.
Ó Rosário bendito de Maria, doce corrente que nos liga a Deus; corrente de amor, que nos faz irmãos, não te deixaremos jamais. Nas nossas mãos serás a arma da paz e do perdão, estrela do nosso caminho. O nosso beijo a ti, com o último respiro, nos imergirá em um mar de luz, na visão da amada Mãe e do seu Filho divino, anseio e alegria do nosso coração, com o Pai e o Espírito Santo. Amém”.
ACI Digital

domingo, 6 de outubro de 2019

São Francisco de Assis: alguns fatos de uma grande vida

Redação (Sexta-feira, 04-10-2019, Gaudium Press) Em plena Idade Média, no início do décimo-terceiro século, havia na cidade de Assis, um homem oriundo de estirpe nobre, mas que se fizera mercador e dispunha de avultada fortuna.

Ele tinha um filho, que se chamava João. Como o seu comércio obrigava a constantes contatos com os franceses, fez questão que o filho aprendesse francês.
João chegou a falar tão bem essa língua, que recebeu a alcunha de François (Francisco), sob a qual é conhecido. Unicamente preocupados como os negócios, os pais do jovem Francisco haviam negligenciado a sua educação.
Este, a princípio, mostrava-se muito inclinado aos vãos divertimentos mundanos e a adquirir riquezas. Entretanto, obrigara-se a dar esmola a todo e qualquer pobre que a pedisse pelo amor de Deus.
Amar ao próximo por amor de Deus
Certa vez em que, muito ocupado, se recusara a atender um mendigo, arrependeu-se, e correu atrás dele para entregar-lhe o óbulo solicitado.
Outra vez, recuperando-se de grave moléstia, mandou fazer roupas luxuosas e montou a cavalo, disposto a divertir-se um pouco. De súbito, porém, no meio de uma planície, apeia-se, despoja-se das vestes, troca-as pelos andrajos de um mendigo, cuja miséria lhe comovera o coração.
Certo dia, ao dar com um leproso que se aproximava, o primeiro impulso de Francisco foi recuar, horrorizado, Recuperando-se, porém, beija o leproso e dá-lhe esmola, Era assim que aquele filho de mercador fazia seu aprendizado na virtude.
Solidão e Vontade de Deus
Finalmente decidido a chegar à perfeição, Francisco só achava prazer na solidão e pedia a Deus, incessantemente, que lhe desse a conhecer à vontade.
Muitas vezes visitava os hospitais, onde carinhosamente se punha a serviço dos enfermos; chegava a beijar-lhes as úlceras, sem dar atenção às fraquezas e repulsas da natureza.
Quando não dispunha de dinheiro para distribuir entre os pobres, dava-lhes suas próprias roupas.
Como enfrentou a irritação do pai
Irritado com as suas prodigalidades, o pai de Francisco o fez comparecer perante o bispo de Assis para que renunciasse aos seus bens.
Francisco devolveu-lhe até mesmo as roupas que usava, e cobriu-se com um surrado capote de camponês, que alguns dias mais tarde, substituiu por um manto de eremita.
Obedecendo um conselho evangélico
Dois anos depois, durante uma missa a que assistia, ficou extremamente impressionado com as palavras do Evangelho:
"Não queirais possuir ouro nem prata, nem tragais dinheiro em vossas cinturas, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão".
Obedeceu-lhe literalmente e aplicou-as a si mesmo; e, depois de jogar fora seu dinheiro, de tirar os sapatos e abandonar o cajado e o cinto de couro, vestiu um pobre hábito, que amarrou com uma corda.
Era o traje habitual dos pastores e dos pobres camponeses daquele cantão da Itália.
Patriarca dos Irmãos Menores
São Francisco tornou-se o patriarca de uma ordem religiosa que se espalhou pela terra inteira.
Deu a seus monges o nome de "Irmãos Menores", ou "Irmãozinhos", para distingui-los dos religiosos de São Domingos, denominados "Irmãos Pregadores".
No decorrer do tempo, receberam também as alcunhas de "franciscanos", e de "Cordeleiros", porque cingiam a cintura com uma corda.
Dividiram-se em várias famílias, das quais a dos Capuchinhos é a que mais estritamente observa a pobreza.
A Dama Pobreza
Francisco dizia que o espírito da pobreza era o fundamento da sua ordem.
Seus religiosos nada possuíam que lhes pertencesse exclusivamente. Também não permitia que recebessem dinheiro, apenas as coisas necessárias à subsistência diária.
Chamava a pobreza sua dama, sua rainha, sua mãe, sua esposa, reclamava-a insistentemente de Deus, como seu quinhão, seu privilégio:
"Ó Jesus, vós que vos comprouvestes em viver na extrema pobreza, fazei-me a graça de conceder-me o privilégio da pobreza. Meu desejo mais ardente é ser enriquecido com esse tesouro. Peço-o para mim e para os meus, a fim de que para a glória do vosso santo nome nada possuamos, nunca, sob o céu, para que devamos nossa própria subsistência à caridade dos outros e por isso mesmo sejamos muito moderados e muito sóbrios".
Obedecer: fazer a vontade de Deus

O amor de Francisco pela obediência não era menos digno de admiração.
Com frequência era visto consultando os últimos de seus irmãos, embora fosse dotado de rara prudência e até mesmo do dom da profecia.
Nas suas viagens costumava prometer obediência ao religioso que o acompanhava.
Considerava a propensão que tinha para a obediência uma das maiores graças que Deus lhe concedera, pois com a mesma facilidade e presteza obedecia tanto um simples noviço como ao mais antigo e prudente dos frades; dizia, justificando-se, que devemos considerar não a pessoa a quem obedecemos, mas à vontade de Deus manifestada através da vontade dos superiores.
Pequenos fatos de um grande Santo
Francisco tinha particular afeição pelas cotovias. Comprazia-se em admirar na plumagem desses pássaros o matiz pardo e acinzentado que escolhera para a sua ordem, a fim de dar aos frades frequentes ocasiões para meditarem na morte, na cinza do túmulo.
Ao mostrar aos seus discípulos a cotovia que se erguia nos ares e se punha a cantar, depois de ter apanhado alguns grãozinhos no chão, dizia alegremente:
"Vede, elas nos ensinam a dar graças ao Pai comum que nos proporciona alimento, a comer apenas para a sua glória, a desprezar a terra e a elevar-nos ao céu, onde devemos nos entreter."
Certa vez, quando pregava no povoado de Alviano e não conseguia ser ouvido por causa da algazarra das andorinhas que tinham construído o ninho naquele lugar, a eles se dirigiu nestes termos: "Irmãs andorinhas, já falastes bastante, chegou agora a minha vez de falar. Escutai a palavra de Deus e ficai em silêncio enquanto eu pregar".
As avezinhas não soltaram mais um único pio, e não se mexeram do lugar em que se encontravam.
São Boaventura, que narra o fato, acrescenta que, sentindo-se um estudante de Paris incomodado com o chilrear de uma andorinha, disse a seus condiscípulos:
"Devem ser uma das que perturbavam o bem-aventurado Francisco no seu sermão e à qual mandou calar-te".
Depois disse à andorinha: "Em nome de Francisco, servo de Deus, ordeno-te que te cales e que te chegues a mim".
Imediatamente o pássaro se calou e pousou-lhe na mão. Surpreso, ele a deixou ir, e não foi mais importunado.
Era assim que Deus se comprazia em honrar o nome do seu servo.
Um dia, quando São Francisco se preparava para tomar a refeição em companhia do irmão Leão, sentiu-se intimamente confortado ao ouvir o canto de um rouxinol. Pediu a Leão que também cantasse os louvores de Deus, alternando sua voz com a do pássaro.
Como o religioso se desculpasse, alegando falta de voz, o santo pôs-se a responder ao rouxinol, e assim continuou até à noite, quando foi obrigado a interromper-se, confessando com santa inveja que o passarinho o derrotara. Fê-lo pousar na sua mão, louvou-o por ter cantado tão bem, deu-lhe de comer, e só depois de ter recebido a sua benção, e com a sua permissão, foi que o rouxinol voou.
Quando, pela primeira vez, visitou o monte Alvergue, viu-se rodeado por uma multidão de pássaros que lhe pousaram na cabeça, nos ombros, no peito e nas mãos, batendo as asas e demonstrando com o movimento de suas cabecinhas o prazer que lhes causava a chegada de seu amigo. "Vejo, disse Francisco a seu companheiro, vejo que devo permanecer aqui, pois meus irmãozinhos estão contentes."
Durante uma estada sua nessas montanhas, um falcão, aninhando nas proximidades, afeiçoou-se ao santo homem; anunciava-lhe com um grito que chegara a hora em que costumava rezar; e, se Francisco se encontrava doente, dava-lhe o aviso uma hora mais tarde a fim de poupá-lo; e quando, ao romper do dia, sua voz, como um sino inteligente, tocava as matinas, tinha o cuidado de atenuá-la e suavizar-lhe a sonoridade.
Era, afirma São Boaventura, o divino presságio dos grandes favores que o santo receberia nesse mesmo lugar.
Antes de morrer recebeu as Chagas de Jesus
A milagrosa impressão dos estigmas de São Francisco, é comemorada no dia 17 de setembro.
Havia já dois anos que São Francisco recebera as cinco chagas de Nosso Senhor em seu corpo. Sua saúde declinava dia a dia; e tendo aumentado os pregos de seus pés, não podia mais caminhar.
Pedia que o levassem às cidades e às aldeias para animar os outros a carregarem a cruz de Jesus Cristo.
Numa dessas excursões, curou uma criancinha de Bagnara que, mais tarde foi São Boaventura.
Francisco tinha um grande desejo de voltar às primeiras práticas de humildade, servir os leprosos, e obrigar o corpo a servir-lhe, como no início da conversão.
O fervor do espírito compensava a fraqueza do corpo; mas as enfermidades de tal modo se agravaram que eram raros os lugares nos quais não sentia dores muito fortes; e, tendo as suas carnes se consumido inteiramente, só lhe restavam pele e ossos.
Os frades acreditavam defrontar outro Job, tanto por causa dos sofrimentos como da paciência com que os suportava.
O santo pediu-lhes que o levassem à Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, a fim de entregar a alma a Deus no mesmo lugar onde recebera o espírito da graça.
Nos seus últimos momentos, ditou uma carta dirigida a todos os superiores, sacerdotes e irmãos da ordem, recomendando-lhes respeito para com o santíssimo sacramento do altar.
O Transito dessa vida para a eterna
Sentindo aproximar-se a última hora, mandou que deitassem na terra nua, tirou a túnica, a fim de tornar mais sensível o seu perfeito despojamento; depois, erguendo os olhos ao céu, cobriu com a mão esquerda a chaga do lado direito e disse a seus irmãos:
"Fiz o que me cabia: Nosso Senhor vos ensinará o que deveis fazer".
Um dos religiosos, adivinhando a intenção do santo, apanhou uma túnica e uma corda e as apresentou ao moribundo dizendo:
"Empresto-vos este hábito como a um mendigo, aceitai-o por obediência."
O santo homem ergueu as mãos para o céu e bendisse a Deus por ter sido aliviado de todos os cuidados.
Mandou chamar todos os irmãos que se encontravam na casa e exortou-os a perseverarem no amor de Deus, na paciência, na pobreza, na fé da Igreja Romana; depois, estendendo sobre eles os braços colocados um sobre o outro em forma de Cruz, deu sua benção tanto aos ausentes como aos presentes.
Satisfazendo-lhe a um desejo, Frei Leão e Frei Ângelo cantaram em coro o cântico do irmão sol e da irmã morte.
Terminado o cântico, pediu que lhe lessem a Paixão de Nosso Senhor, segundo São João.
No fim dessa leitura, começou a recitar com voz agonizante o salmo de Davi:
"Com minha voz, clamei ao Senhor; com minha voz supliquei ao Senhor...".
Depois de pronunciar as últimas palavras do Salmo, sua boca fechou-se para sempre!
Era a noite do sábado para domingo, no dia 4 de outubro de 1226; quadragésimo-quinto da sua vida; vigésimo da sua conversão; décimo-oitavo da instituição da sua ordem...
Francisco não mais pertencia a este mundo, chegara ao fim de seu caminho, estava no Céu.
(JSG)
(Fonte: "Vida dos Santos", Padre Rohrbacher, Volume XVII)

Homilia do Papa na abertura do Sínodo para a Amazônia

O Papa Francisco durante a Missa inaugural do Sínodo da Amazônia.
Foto: Daniel Ibáñez / ACI/Prensa
Vaticano, 06 Out. 19 / 07:01 am (ACI).- O Papa Francisco presidiu neste domingo 6 de outubro, na Basílica de São Pedro do Vaticano, a Missa de abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazônica, conhecida também como Sínodo da Amazônia, e que se desenvolverá no Vaticano até o próximo 27 de outubro.
Na Missa, em que participaram também os 13 novos Cardeais criados no consistório celebrado ontem, sábado 5 de outubro, o Santo Padre contrapôs o fogo de Deus, “que ilumina, esquenta e dá vida”, ao fogo do mundo, “que destrói”.
O Santo Padre destacou a importância do Sínodo “para renovar os caminhos da Igreja na Amazônia, de modo que não se apague o fogo da missão”. Do mesmo modo, recordou que “muitos irmãos e irmãs na Amazônia levam cruzes pesadas e esperam a consolação libertadora do Evangelho e a carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos”.
A seguir, a homilia completa do Papa Francisco:
O apóstolo Paulo, o maior missionário da história da Igreja, ajuda-nos a «fazer Sínodo», a «caminhar juntos»; parece dirigido a nós, Pastores ao serviço do povo de Deus, aquilo que escreve a Timóteo.
Começa dizendo: «Recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos» (2 Tm 1, 6). Somos bispos, porque recebemos um dom de Deus. Não assinamos um acordo; colocaram-nos, não um contrato de trabalho nas mãos, mas mãos sobre a cabeça, para sermos, por nossa vez, mãos levantadas que intercedem junto do Senhor e mãos estendidas para os irmãos. Recebemos um dom, para sermos dons. Um dom não se compra, não se troca nem se vende: recebe-se e dá-se de presente. Se nos apropriarmos dele, se nos colocarmos a nós mesmos no centro e não deixarmos no centro o dom, passamos de Pastores a funcionários: fazemos do dom uma função, e desaparece a gratuidade; assim acabamos por nos servir a nós mesmos, servindo-nos da Igreja. Ao passo que a nossa vida, dom recebido, é para servir. No-lo recorda o Evangelho, que fala de «servos inúteis» (Lc 17, 10); expressão esta, que pode querer dizer também «servos sem lucro». Por outras palavras, não trabalhamos para obter lucro, um ganho nosso, mas, sabendo que gratuitamente recebemos, gratuitamente damos (cf. Mt 10, 8). Colocamos toda a nossa alegria em servir, porque fomos servidos por Deus: fez-Se nosso servo. Queridos irmãos, sintamo-nos chamados aqui para servir, colocando no centro o dom de Deus.
Para sermos fiéis a esta chamada, à nossa missão, São Paulo lembra-nos que o dom deve ser reaceso. O verbo usado é fascinante: reacender é, literalmente, «dar vida a uma fogueira» [anazopurein]. O dom que recebemos é um fogo, é amor ardente a Deus e aos irmãos. O fogo não se alimenta sozinho; morre se não for mantido vivo, apaga-se se a cinza o cobrir. Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo «sempre se fez assim», então o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação de defender o status quo. Mas «a Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de “manutenção” para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo. O ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial» (Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 95). Jesus veio trazer à terra, não a brisa da tarde, mas o fogo.
O fogo que reacende o dom é o Espírito Santo, dador dos dons. Por isso, São Paulo continua: «Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o precioso bem que te foi confiado» (2 Tm 1, 14). E antes escrevera: «Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de prudência» (1, 7). Não um espírito de timidez, mas de prudência: em oposição à timidez, Paulo coloca a prudência. Que é, então, esta prudência do Espírito? Como ensina o Catecismo, a prudência «não se confunde com a timidez ou o medo», mas «é a virtude que dispõe a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de o atingir» (n. 1806). A prudência não é indecisão, não é um comportamento defensivo. É a virtude do Pastor que, para servir com sabedoria, sabe discernir, sensível à novidade do Espírito. Então, reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de deixar as coisas correr sem se fazer nada. E ser fiéis à novidade do Espírito é uma graça que devemos pedir na oração. Ele, que faz novas todas as coisas, nos dê a sua prudência audaciosa; inspire o nosso Sínodo a renovar os caminhos para a Igreja na Amazónia, para que não se apague o fogo da missão.
O fogo de Deus, como no episódio da sarça ardente, arde mas não consome (cf. Ex 3, 2). É fogo de amor que ilumina, aquece e dá vida; não fogo que alastra e devora. Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização! Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos. O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazónia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros. Pelo contrário, o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos.
Reacender o dom; receber a prudência audaciosa do Espírito, fiéis à sua novidade; São Paulo faz uma última exortação: «Não te envergonhes de dar testemunho (…), mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus» (2 Tm 1, 8). Pede para testemunhar o Evangelho, sofrer pelo Evangelho; numa palavra: viver para o Evangelho. O anúncio do Evangelho é o critério primeiro para a vida da Igreja. Mais adiante, Paulo escreve: «Estou pronto para oferecer-me como sacrifício» (4, 6). Anunciar o Evangelho é viver a oferta, é testemunhar radicalmente, é fazer-se tudo por todos (cf. 1 Cor 9, 22), é amar até ao martírio. De facto, como assinala o Apóstolo, serve-se o Evangelho, não com a força do mundo, mas simplesmente com a força de Deus: permanecendo sempre no amor humilde, acreditando que a única maneira de possuir verdadeiramente a vida é perdê-la por amor.
Queridos irmãos, olhemos juntos para Jesus Crucificado, para o seu coração aberto por nós. Comecemos dali, porque dali brotou o dom que nos gerou; dali foi derramado o Espírito que renova (cf. Jo 19, 30). Dali, sentimo-nos chamados, todos e cada um, a dar a vida. Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos.
ACI Digital

Beato Bartolo Longo, de espírita a “Apóstolo do Rosário”

REDAÇÃO CENTRAL, 06 Out. 19 / 05:00 am (ACI).- O Beato Bartolo Longo foi um advogado e leigo que fundou o Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia (Itália) e que, além disso, dedicou-se a ensinar o catecismo e a difundir a devoção ao Santo Rosário.

Durante sua juventude, ingressou no espiritismo até que, finalmente, Deus tocou seu coração e converteu-se. O Beato Longo foi definido pelo Papa São João Paulo II como “o homem da Virgem”.
Na homilia de sua beatificação, em 26 de outubro de 1980, o Santo Padre disse que ele, “por amor de Maria, tornou-se escritor, apóstolo do Evangelho, propagador do Rosário, e fundador do célebre Santuário no meio de enormes dificuldades e adversidades; por amor de Maria criou institutos de caridade, fez-se mendicante em favor dos filhos dos pobres e transformou Pompeia numa viva cidadezinha de bondade humana e cristã; por amor de Maria suportou em silêncio tribulações e calúnias, passando através de um longo Getsêmani, sempre confiado na Providência, sempre obediente ao Papa e à Igreja”.
Bartolo Longo nasceu em Latiano (Itália), em 10 de fevereiro de 1841. Antes de obter a licenciatura como advogado na Universidade de Nápoles, enveredou-se na moda anticristã da época e dedicou-se à política, às superstições, ao espiritismo: chegou a ser “médium” de primeiro grau e “sacerdote espírita”.
Por outro lado, a filosofia ateia e o racionalismo o tinham totalmente preso. Começou a odiar a Igreja, organizando conferências contra ela e louvando os que criticavam o clero.
Graças à influência de seu amigo Vicente Pepe e do dominicano Pe. Alberto Radente, voltou à fé. Sua conversão aconteceu no dia do Sagrado Coração de Jesus, em 1865, na Igreja do Rosário de Nápoles.
Após seu encontro com Cristo, abandonou a vida libertina e dedicou-se às obras de caridade e ao estudo da religião.
Mais tarde, escreveu, fazendo alusão à sua própria experiência, que “não pode haver nenhum pecador tão perdido, nem alma escravizada pelo implacável inimigo do homem, Satanás, que não possa se salvar pela virtude e eficácia admirável do santíssimo Rosário de Maria, agarrando-se dessa corrente misteriosa que nos estende do céu a Rainha misericordiosíssima das místicas rosas para salvar os tristes náufragos deste tempestuoso mar do mundo”.
Em 1876, por sugestão do Bispo de Nola, iniciou uma campanha para construir um templo em Pompeia. Como resultado da cooperação e da intercessão da Virgem Maria, surgiu o belo Santuário.
No dia 5 de outubro de 1926, aos 85 anos, morreu em Pompeia. Em seu testamento, deixou escrito o seguinte: “Desejo morrer como terciário dominicano... entre os braços da Virgem do Rosário, com a assistência de meu pai São Domingos e de minha mãe Santa Catarina de Sena”.
ACI Digital

O Sínodo da Amazônia: Observações ao Instrumentum Laboris (Parte 1/3)



  • Autor: Cardeal Jorge Urosa Savino, Arcebispo Emérito de Caracas
    • Fonte: https://www.infocatolica.com/?t=ic&cod=35877
    • Tradução: Carlos Martins Nabeto
    INTRODUÇÃO
    Dentro de alguns dias, iniciará o Sínodo Especial sobre a Amazônia, convocado pelo Papa Francisco para abordar a “Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”.
    Este é um Sínodo especialmente dedicado ao estudo dos problemas da Igreja numa região específica – a Amazônia -, que abrange grande parte da América do Sul. No entanto, é especialmente importante para toda a Igreja, pois tanto o Papa quanto os que trabalharam na sua preparação dão a este Sínodo uma projeção universal. Portanto, esta assembleia sinodal influenciará toda a Igreja e não apenas os países amazônicos. Entre eles, é claro, nosso país, a Venezuela.
    O Instrumentum Laboris circula desde junho passado. Dada a metodologia dos Sínodos, que utilizam esses textos como base para a discussão sinodal, este documento é de grande importância. Ainda mais porque, sem dúvida, é muito complexo e inovador também em sua estruturação, e inclusive desconfortável e bastante polêmico, motivo pelo qual tem sido muito controverso. Por essa razão, dediquei-me à tarefa de estudá-lo para, destacando seus pontos fortes, possa ajudar os pais sinodais a superarem as falhas e fragilidades do texto.
    CONTEÚDO DO INSTRUMENTUM
    Ele é dividido em três partes: a primeira, intitulada “A Voz da Amazônia”, dedicada aos aspectos fundamentais da realidade social e cultural da Amazônia; a segunda, dedicada principalmente aos problemas de ecologia e ordem sócio-econômica, é chamada de “Ecologia Integral: clamor da terra e dos pobres”; e a terceira, que apresenta propostas de ação pastoral: “Igreja Profética na Amazônia: desafios e esperanças”. No entanto, os vários temas se entrelaçam nas três partes, o que implica repetições, prolonga desnecessariamente o texto e reduz a clareza das abordagens. As mais abundantes no texto são questões culturais, ecológicas e socioeconômicas. Menos abundantes, mas extremamente e mais importantes para nós, pastores da Igreja, a evangelização e as propostas de ação pastoral.
    DEFESA CORRETA DA AMAZÔNIA E DOS POVOS DA AMAZÔNIA
    Sem dúvida, é muito louvável o interesse em abordar a dramática situação da Amazônia, atualmente ameaçada por uma agressão economicista voraz e irracional. Um dos méritos do documento é que ele reúne as experiências, problemas e aspirações de muitas pessoas, ouvidas pelos membros da REPAM (Rede Eclesial Pan-Amazônica), precisamente em preparação para o Sínodo. Por isso, o Instrumentum Laboris levanta a grave situação ecológica, social e econômica sofrida pelo território e pelos povos da Amazônia.
    Como bispo venezuelano, apoio a denúncia e a rejeição feitas pelo Instrumentum Laboris (IL) de toda violência contra os povos e o território amazônico. Essa séria exploração ocorre hoje também na Venezuela. Especificamente, em nossa região amazônica, o atual governo [de Nicolás Maduro] promoveu uma operação de mineração agressiva e desordenada no “arco de mineração”, ao sul do Orinoco, que não leva em consideração a proteção do meio ambiente e os direitos dos povos indígenas.
    Graças a Deus, o Instrumentum enfatiza e denuncia de maneira justa e correta a seriedade dos abusos que estão sendo cometidos contra os povos da Amazônia, em particular contra os povos indígenas, chamados no texto “povos originários”. A agressão da ambição humana transformou a Amazônia num espaço de “desacordos e extermínio de povos, culturas e gerações” (IL 23). Essa agressão suscita e exige precisamente a defesa da vida, território e recursos naturais, bem como a cultura e organização dos povos (cf. IL 17). E neste trabalho a Igreja na Amazônia agiu energicamente e – com razão levanta o documento -, sem dúvida deve continuar a fazê-lo.
    Apoiamos totalmente essa denúncia e rejeição a toda injustiça. Isso é bom. Devemos concordar com a defesa que o documento faz dos povos amazônicos e do ambiente natural, a ecologia dessa zona privilegiada. Concordo também em afirmar a obrigação da Igreja de acompanhar e proteger os povos oprimidos.
    BELEZA DA AMAZÔNIA E UMA ANTROPOLOGIA IDEALISTA
    Uma observação importante: o Instrumentum Laboris parece pensar que toda a população da Amazônia é indígena, originária. Não é verdade — pelo menos na Venezuela. Em nossa região amazônica, nas dioceses estabelecidas – não nos vicariatos -, há uma maioria de crioulos, venezuelanos brancos ou mulatos e afrovenezuelanos que não possuem esta cultura indígena. Nem toda a população da Amazônia é originária ou indígena.
    Outro aspecto que chama a atenção no texto é a visão otimista e laudatória, quase utópica, com a qual a população indígena da Amazônia é apresentada na Primeira Parte do texto. Esse território é apresentado quase que como uma espécie de paraíso terrestre, de beleza sem limites (IL 22) “cheio de vida e sabedoria” (IL 5), onde os povos da Amazônia, especialmente os indígenas, buscam “o bom viver”, que é viver em harmonia consigo mesmo, com a natureza, com os seres humanos e com o Ser Supremo (cf. IL 11). A natureza também é mencionada em uma expressão estranha à visão cristã como um todo, na qual os seres humanos são assumidos e referindo-se à “Mãe Terra” (com as iniciais em maiúsculo) quase que como uma pessoa (cf. IL 44).
    Por outro lado, o texto elogia a sabedoria ancestral dos povos amazônicos manifestada no cuidado da terra, da água e das florestas… E propõe que os novos caminhos da evangelização sejam construídos em diálogo com ela, na qual se manifestam as sementes do Verbo (IL 29). “A diversidade original oferecida pela região amazônica – biológica, religiosa e cultural – evoca um novo Pentecostes” (IL 30). Por que essa diversidade original evocaria um novo Pentecostes? Seria necessário estudar em profundidade o que significa essa frase, à primeira vista confusa e exagerada.
    Algo romântico também é a descrição do povo original da Amazônia – os indígenas – como seres excepcionais, que vivem em harmonia com a natureza e o ser supremo, e que personificariam um utópico “bom selvagem”, virtuoso, gentil, ingênuo e confiável. Isso possuiria uma sabedoria na qual as sementes do Verbo seriam encontradas. É uma visão antropológica muito otimista, que ignora as deficiências das culturas indígenas, que omite suas limitações e falhas, e que é diversa e distante da bem realista antropologia católica, da visão bíblica e cristã do homem, sem dúvida imagem de Deus, mas golpeado pelo pecado e necessitado da redenção. Será por isso que pouco se fala da necessidade de salvação e redenção, bem como em fortalecer intensamente a ação pastoral e abertamente evangelizadora da Igreja no Amazonas, como se Cristo não fosse necessário e a harmonia natural utópica fosse o suficiente?
    NOVA REVELAÇÃO?
    Fala-se também do clamor da justiça no território da Amazônia e esta região é apresentada quase que personalizada…, como um “locus theologicus”, um lugar teológico onde se vive a fé e que seria uma nova fonte da revelação de Deus (cf. IL 18 e 19). Aqui encontramos um ponto problemático, de séria discussão, porque é atribuído a um território particular e à luta pela justiça a categoria de nova fonte de revelação! Ou fonte de uma nova revelação?
    Consideremos que a palavra “revelação” no Magistério eclesiástico e na teologia em geral é bastante concreta e específica, significando a comunicação, a revelação, a manifestação que Deus fez de si mesmo à humanidade por meio de Jesus Cristo. Isso está muito claro no documento “Dei Verbum”, sobre a revelação divina, do Concílio Vaticano II (DV 2). Sabemos que a revelação total já ocorreu em Jesus Cristo e uma linguagem ambígua, que obscurece que a realidade teológica e doutrinária, não pode ser usada num documento oficial. O mínimo que se pode dizer é que se trata de uma linguagem inadequada e imprecisa, que deve ser sempre evitada num texto oficial; alguém poderia simplesmente falar de “manifestação de Deus”. Uma das fraquezas do texto é exatamente fazer uso de uma linguagem difusa, equívoca, imprecisa. Será necessário empregar no Sínodo maior rigor conceitual, teológico e doutrinário.
    DIÁLOGO E EVANGELIZAÇÃO
    Nos parágrafos finais da Primeira Parte, o Instrumentum Laboris aborda a questão do diálogo e da evangelização. Sem dúvida, a afirmação da necessidade do diálogo para evangelizar é muito correta. Nosso Senhor Jesus Cristo falou com a mulher samaritana e assim devemos fazer hoje (cf. IL 37). Mas o documento faz declarações românticas ou excessivas à primeira vista. A Amazônia é apresentada como um paradigma para o pacto social do diálogo (IL 37); afirma-se que são os povos da Amazônia, especialmente os pobres, os originários e culturalmente diferentes, os principais interlocutores e protagonistas do diálogo. Isso pode ser aceito caso não seja considerado excludente.
    Porém, um diálogo sem proposta de conversão, sem convite para acolher Jesus como o único Salvador, como o redentor do ser humano ferido pelo pecado? Por que não dizê-lo expressamente? Parece estar ausente do texto o entusiasmo ou uma maior consciência da necessidade de que a Igreja realize ali uma ação evangelizadora mais intensa, precisamente, algo vital para a Igreja em todos os lugares. Isto deve estar no centro, no coração do texto e, depois, no Sínodo: a revitalização da Igreja na Amazônia. A urgência de cumprir a missão evangelizadora da Igreja parece estar ausente ou é expressa muito fracamente. Ao contrário, é necessário acolher o que diz o Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nº 14:
    – “A evangelização está essencialmente ligada à proclamação do Evangelho àqueles que não conhecem Jesus Cristo ou sempre o rejeitaram… Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de anunciar isso sem excluir ninguém; não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem compartilha uma alegria”.
    É verdade que se fala em novos caminhos, mas esses caminhos parecem consistir, acima de tudo, segundo o IL, num diálogo com sabedorias ancestrais e numa firme defesa da ecologia e das populações originárias. Isso não basta! Não se insiste no anúncio mais explícito do “kerygma” e numa ação mais abertamente evangelizadora, santificadora e pastoral de implantação e expansão da Igreja em toda a Amazônia e não apenas para as populações originárias. Esse desequilíbrio é uma grande fraqueza do texto, que esperamos que os padres sinodais venham a superar nas suas deliberações.
    Abordaremos sobre isso em um próximo artigo.

    sábado, 5 de outubro de 2019

    27º DOMINGO DO TEMPO COMUM - Ano C: AUMENTA A NOSSA FÉ!

    + Dom Sérgio da Rocha
    Cardeal Arcebispo de Brasília
    O Evangelho proclamado inicia-se com um pedido dos apóstolos a Jesus: “Aumenta a nossa fé!” (Lc 17, 5). Diante dos desafios do mundo atual e da nossa fragilidade, sentimos a necessidade de repetir, com os apóstolos: “Aumenta a nossa fé!”. Na vida de cada um, a fé necessita crescer, purificar-se, fortalecer-se e amadurecer. O texto de S. Lucas se conclui com uma afirmação de Jesus que nos pensar na necessidade de vivenciar a fé no dia a dia, a fim de poder dizer: “somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10). Para isso, é fundamental a atitude permanente de servo–discípulo que procura fazer sempre a vontade do Senhor, com fidelidade e humildade. Além disso, pedir a Jesus pelo aumento da fé significa reconhecer humildemente que a fé é dom de Deus e se sustenta pela graça divina.     A fé é sempre muito necessária, especialmente quando queremos superar os graves problemas do mundo de hoje. Na primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, esperando a sua intervenção para por fim a violência, a maldade e a discórdia. Em resposta, Deus suscita a esperança e dá a certeza de que não falhará, advertindo para a consequência da iniquidade, que é a morte, e proclamando que “o justo viverá por sua fé” (Hab 1,4). Conforme a segunda leitura, no serviço à comunidade, é preciso viver da fé e da fidelidade, guardando o “precioso depósito” em “matéria de fé e de amor em Cristo Jesus” (2Tm 1,13-14).
    Estamos iniciando o Mês Missionário Extraordinário, com muitas atividades pastorais programadas nos quinze Setores da Arquidiocese de Brasília e em cada uma das Paróquias. Todos nós, segundo a vocação recebida, devemos participar da missão de transmitir a fé, através das palavras e do testemunho de vida. Rezemos pelos missionários! Sejamos missionários!
    Tem início, neste domingo, o Sínodo Especial para a Amazônia, presidido pelo papa Francisco, reunindo, no Vaticano, os bispos e outros representantes da Igreja na Amazônia. Até o dia 27 de outubro, eles estarão refletindo sobre o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Unidos ao Papa Francisco, acompanhemos o Sínodo com as nossas orações!
    No próximo sábado, estaremos celebrando a festa da Padroeira da Arquidiocese de Brasília e de todo o Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Participe da missa e da tradicional procissão, na Esplanada dos Ministérios. A celebração eucarística terá início às 17:00 h. Vamos todos celebrar e testemunhar publicamente a nossa fé, contando com a intercessão e o exemplo de Nossa Senhora!
    Arquidiocese de Brasília / O Povo de Deus

    Sínodo da Amazônia: Tudo o que deve saber

    Dom David Martínez, Secretário-Geral do Sínodo da Amazônia, e
    Papa Francisco durante sua visita ao Peru.
    Crédito: Eduardo Berdejo (ACI)
    REDAÇÃO CENTRAL, 04 Out. 19 / 09:56 am (ACI).- Nos próximos dias, em Roma, começará o Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazônica, convocado pelo Papa Francisco para "identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus", mas cujo Instrumentum laboris, publicado em 17 de junho, recebeu críticas.
    A seguir, alguns fatos sobre o próximo Sínodo da Amazônia.
    1. Quando começa o Sínodo da Amazônia?
    O Sínodo começará no domingo, 6 de outubro, e terminará no dia 27 de outubro. Seu tema é "Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral".
    2. O Papa Francisco explicou o propósito do Sínodo
    No dia 15 de outubro de 2017, o Papa Francisco anunciou o Sínodo e explicou que seu principal objetivo "é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta”.
    O Papa disse que convocou o Sínodo atendendo o desejo de algumas Conferências Episcopais na América Latina, assim como as vozes de vários pastores e fiéis de outras partes do mundo.
    3. Quem participa do Sínodo da Amazônia?
    Participarão do Sínodo Bispos dos nove países cujos territórios abrangem partes da Amazônia: 4 de Antilhas, 12 da Bolívia, 58 do Brasil, 15 da Colômbia, 7 do Equador, 11 do Peru e 7 da Venezuela.
    Também participarão 13 chefes de Dicastérios da Cúria Romana, 33 membros nomeados diretamente pelo Papa, 15 eleitos pela União dos Superiores Gerais, 19 membros do Conselho Pré-sinodal, 25 especialistas, 55 auditores e auditoras, 6 delegados fraternos e 12 convidados especiais.
    A lista completa encontra-se AQUI.
    4. O documento de trabalho contém 21 capítulos
    Instrumentum laboris, aprovado pelo Conselho Pré-sinodal, foi publicado pelo Vaticano em 17 de junho.
    O documento possui 147 pontos divididos em 21 capítulos, separados por três partes que abordam os seguintes assuntos: “A voz da Amazônia”, entendida como escuta deste território; a "Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres" e a Igreja "com rosto amazônico e missionário".
    Segundo os responsáveis ​​pelo documento, seu objetivo é apresentar a situação pastoral da Amazônia e novos caminhos para uma evangelização mais incisiva. Além disso, está redigido como uma reflexão sobre o problema ecológico que interessa a essa região, segundo a encíclica Laudato Si'.
    5. Instrumentum laboris recomenda ordenar homens casados
    Instrumentum laboris confirma que "o celibato é uma dádiva para a Igreja". No entanto, também recomenda, entre outras coisas, a possibilidade de ordenar sacerdotes a idosos casados, chamados "viri probati" em áreas remotas.
    No ponto 129, explica que, nas áreas mais remotas da região, perguntam sobre “a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”.
    O direito canônico para a Igreja Católica Latina proíbe a ordenação de homens casados ​​para o sacerdócio, com exceções limitadas com respeito à ordenação de líderes anglicanos e protestantes que se converteram ao catolicismo.
    Além disso, apesar das vozes a favor do que é proposto no ponto 129, o Papa Francisco disse em uma entrevista ao jornal italiano ‘La Stampa’ que a possibilidade de ordenar padres casados ​​não é uma questão importante do Sínodo. “Absolutamente não: É simplesmente um número do Instrumentum Laboris. O importante serão os ministros da evangelização e as diferentes formas de evangelizar”, disse.
    6. Houve controvérsia sobre a possibilidade de aprovação do diaconato feminino
    O Documento de Trabalho recomenda que o Sínodo identifique um "ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje ela desempenha na Igreja amazônica".
    Dom Fabio Fabene, Subsecretário do Sínodo dos Bispos, destacou a chamada do documento a novos ministérios leigos.
    "Nesse sentido, podemos nos perguntar sobre qual o ministério oficial que pode ser concedido às mulheres", disse Dom Fabene em uma entrevista coletiva no Vaticano em 17 de junho. Depois, esclareceu que “o documento não fala do diaconato feminino, já que o Papa já se expressou sobre o assunto na Assembleia dos Superiores Gerais, declarando que o assunto precisa de mais estudos".
    "De fato, a comissão de estudos estabelecida em 2016 não chegou a uma opinião unânime sobre o tema", afirmou.
    No entanto, em 2 de maio, Dom Franz-Josef Overbeck, Bispo de Essen e presidente da Comissão para a América Latina do episcopado alemão, comentou que "nada será como antes" após o Sínodo da Amazônia, pois o papel das mulheres na Igreja, a moral sexual, o papel do sacerdócio e toda a estrutura hierárquica eclesiástica serão reconsiderados. O Prelado também apoiou publicamente a "greve das mulheres" contra a Igreja na Alemanha, convocada por um grupo de católicas após o ‘não’ do Papa Francisco à ordenação de diaconisas.
    7. Instrumentum laboris recebeu objeções de renomados cardeais
    Em junho de 2019, o Cardeal alemão Walter Brandmüller, de 90 anos, expressou suas objeções ao documento de trabalho em um artigo intitulado "Uma crítica ao Instrumentum laboris para o Sínodo da Amazônia". Indicou que o documento é "herético", representa uma "apostasia" e, portanto, "deve ser rejeitado com máxima firmeza".
    “Deve ser dito enfaticamente que o Instrumentum laboris contradiz o ensinamento vinculante da Igreja em pontos decisivos e, portanto, deve ser qualificado como um documento herético. Visto que o fato da revelação divina é aqui questionado, ou mal entendido, deve-se também falar em apostasia", disse.
    Segundo o Purpurado, três quartos do Instrumentum laboris têm afirmações que apenas marginalmente se relacionam com “o Evangelho e a Igreja”.
    Em julho, o Cardeal alemão Gerhard Müller também apresentou suas objeções ao Instrumentum laboris.
    Em uma análise oferecida a CNA Deutsch – agência em alemão Grupo ACI – e a outros meios de comunicação, o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé adverte sobre uma ambivalência na definição de termos e objetivos do documento. Em segundo lugar, assegura que "a estrutura do texto apresenta um giro radical na hermenêutica da teologia católica".
    O Cardeal venezuelano Jorge Urosa também abordou em três artigos os prós e contras do Instrumentum laboris; assim como o bispo emérito de Marajó (Brasil), Dom José Luis Azcona, que trabalhou na diocese da Amazônia entre 1987 e 2016, e que em vários artigos alertou sobre as deficiências do Documento de Trabalho do Sínodo da Amazônia.
    ACI Digital

    Pe. Manuel Pérez Candela

    Pe. Manuel Pérez Candela
    Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF