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sexta-feira, 29 de julho de 2022

Cardeal Muller: Caminho Sinodal Alemão é o oposto de uma verdadeira reforma da Igreja

Cardeal Muller | Guadium Press
O cardeal chama-o de “heresia sinodal alemã”. Ele se refere à recente advertência de Roma a esse sínodo.

Redação (28/07/2022 09:34Gaudium Press) Como de costume, as palavras do Cardeal Gerhard Muller, ex-prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé, não vão com o vento, elas têm seu peso.

Agora, em um artigo publicado na kath.net, o cardeal se refere novamente à difícil situação da Igreja alemã, especificamente ao chamado Caminho Sinodal Alemão, e alude à recente declaração da Santa Sé, advertindo para que esse sínodo não se afaste da unidade da Igreja universal e que suas determinações não tenham efeitos jurídicos.

O Cardeal Muller expressa que “a afirmação do Fórum IV (nt: do sínodo alemão) de que toda conduta moral na vida, especialmente no que diz respeito à sexualidade, não deve mais ser determinada pela Palavra de Deus, mas pela ideologia LGBT atualmente predominante, é um adeus aberto ao cristianismo”.

O cardeal lembra que o sexto e o nono mandamentos da Lei dada por Deus a Moisés unem o significado da sexualidade – “exclusivamente relacionada ao casamento” – com “a relação com Deus”. Ou seja, a verdadeira relação com Deus implica que assumamos o que ele ordena sobre uma sexualidade exercida no âmbito do casamento.

O purpurado vai contra as afirmações dos promotores do Caminho Sinodal Alemão, no sentido de que este sínodo seria uma resposta para reformar a Igreja alemã, bastante submersa em escândalos de abusos e outras crises.

Em outro sentido, o Cardeal Muller expressa que “o Caminho Sinodal Alemão é o oposto da reforma, ou seja, a renovação de nossa mente e comportamento no espírito de Cristo (Rm 12,1s). Trata-se de uma recaída na antiga imoralidade dos pagãos que, por sua rejeição de Deus, estão “entregues a paixões desonrosas” (Rm 1,26), embora Deus tenha escrito a lei moral natural em seus corações e consciências (Rm 2 .25)”.

Sobre a advertência de Roma

A respeito do comunicado de Roma sobre o Caminho Sinodal Alemão, que o cardeal teutônico chama de “Heresia Sinodal Alemã”, ele diz que “tarde, mas talvez não muito tarde, Roma reagiu às maquinações anticatólicas” deste sínodo, heresias que “são diametralmente opostas ao ensinamento católico sobre a revelação e a “obediência da fé” (Vaticano II, Dei verbum 1-10), sobre a constituição hierárquico-sacramental da Igreja (Lumen gentium 18-29) e sobre o ” dignidade do matrimônio e da família” (Gaudium et spes 46-52)”.

O Cardeal recorda o recente apelo de Irme Stetter-Karp, co-presidente do Caminho Sinodal Alemão, para o acesso universal ao aborto, ao que a constituição da Gaudium et Spes chamou de “crime abominável de aborto e infanticídio”, e diz que este tipo de afirmações vem de “um pansexualismo que revela o niilismo daqueles que perderam a fé no Deus vivo. E vivem sob o lema: “Se os mortos não ressuscitam” e não há julgamento divino, então “comamos e bebamos, porque amanhã estaremos mortos”.

O cardeal conclui o seu escrito, repetindo a advertência do Apóstolo dos gentios, para não cair “na tentação de viver contra a Palavra e a instrução de Deus: ‘Não vos deixeis enganar! As más companhias corrompem os bons costumes. Voltai a viver na sobriedade, como se deve, e não pequeis mais. Pois, alguns de vós continuam em total ignorância sobre Deus: isso eu vos digo para vossa vergonha’”. (1Cor 15,33-34).

Sharon Stone compartilha a dor pelos 9 abortos que sofreu

Sharon Stone,, Milano, 2018 | DELBO ANDREA|Shutterstock
Por Paola Belletti

A atriz, que tem três filhos adotivos, contou suas dores físicas e morais devido aos abortos espontâneos e convidou outras mulheres a falar sobre o assunto e encontrar entendimento para o que é um verdadeiro desafio.

Não costumo acompanhar notícias ou fofocas daquele planeta próximo e inacessível chamado Hollywood. Mas acontece que, em mais de uma ocasião, Sharon Stone fez declarações ou pedidos públicos que me chamaram a atenção. Talvez simplesmente porque esses pedidos parecem autênticos e envolvem experiências que se refletem na vida de muitas mulheres.

A dor pela morte do sobrinho

Em 2021, Sharon Stone fez sinceros pedidos de orações pelo sobrinho de quase um ano, filho de seu irmão Patrick, acometido pela falência múltipla de órgãos.

Em dia do mês de agosto, ela saiu às pressas de Veneza, onde chegou para filmar um comercial da Dolce & Gabbana. Naquele dia, o estado de saúde do pequeno River, que imediatamente pareceu muito grave, não deixava muito espaço para esperança.

No entanto, ela, como uma tia normal (e o que mais ela poderia ter sido nesta conjuntura, senão uma mulher vulnerável atingida em uma de suas maiores afeições?), se apegou àquele fio de esperança e conclamou os fãs: “É necessário um milagre, por favor, orem por ele”. A atriz ainda postou uma foto da criança entubada.

A dor intensa e debilitante dos abortos

Sharon Stone tem três filhos adotivos e não é a primeira vez que ela conta algo sobre o drama relacionado à maternidade frustrada em seu caminho biológico natural.

Ela sofreu nove (isso mesmo: nove) abortos espontâneos, o que lhe”enfraqueceu o espírito e o corpo”, como ela declarou a um site italiano.  

Muitas de nós já tiveram aborto espontâneo. Por isso é sábio e correto que quem tem mais visibilidade coloque o tema a serviço de uma causa tão delicada: a experiência do luto quase negada às mães que perdem um filho durante a gravidez.

Falar ajuda

Em um post no Instagram, Stone escreveu:

“Nós, mulheres, não temos um espaço adequado para falar sobre essa perda. Perdi nove filhos por aborto espontâneo. Isso não é pouca coisa, nem fisicamente nem mentalmente. Isso faz você se sentir sozinha, quase que com um segredo a esconder, uma vergonha a esconder, com uma sensação de fracasso.”

No entanto, nem tudo é culpa da sociedade, do outro “insensível e mau”; é a própria experiência do aborto que inflige dor. E, certamente, poder contar com o apoio e a troca íntima do pai dessas crianças não nascidas já é uma ajuda considerável.

Mães precisam de compaixão

Melhor ainda se pudermos ampliar essa rede de compaixão e consolo, mas sem atribuir ao homem a causa primeira de tanta dor.

Sharon Stone disse que sofreu abuso por parte do avô. Como, então, não desenvolver certa desconfiança pelos homens?

É precisamente o homem, porém, que pode dar à mulher a maternidade; eles se fecham em uma aliança maravilhosa que permite que a mãe e o filho entrem no mundo, protegidos.

A primeira necessidade, o verdadeiro direito inalienável na base de tudo, é precisamente o da vida, o de nascer. Por isso, enxergamos o aborto como injusto e doloroso. Não deveríamos, então, nos unir, especialmente nós mulheres, em defesa dos nascituros excluídos à força da vida por serem indesejados?

Portanto, obrigado Sharon Stone por dar voz aos que não têm voz!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Em 2022, Sobrecarga da Terra é neste dia 28

Floresta queimada em Caqueta, Colômbia. (Foto: Luisa Gonzalez)

O centro de pesquisa Global Footprint Network alerta para o consumo de recursos naturais que ultrapassa os níveis de regeneração do planeta Terra. Neste ano de 2022, a ultrapassagem deste limite é hoje, 28 de julho. A cada ano, é antecipada a data do dia em que a exploração sustentável é excedida. Em cinquenta anos, o consumo do planeta dobrou.

Marco Guerra - Cidade do Vaticano

Este dia 28 de julho é o Earth Overshoot Day (“Dia da Sobrecarga da Terra”), ou seja, o dia em que a humanidade esgota o consumo de todos os recursos que os ecossistemas naturais podem renovar ao longo do ano e entra na dívida ecológica. Esta data é calculada pelo grupo de pesquisa internacional Global Footprint Network e, para este ano de 2022, cai em 28 de julho, um dia antes relação a 2021, quando os cálculos haviam estabelecido o limite da superexploração da Terra em 29 de julho.

Exploração dos recursos em excesso

De certa forma, a partir de hoje até 31 de dezembro, produzimos e consumimos recursos naturais que pertencem às gerações futuras, detraindo o futuro próspero e pacífico dos nossos filhos e netos. O limite de consumo disponível, chamado “ponto de equilíbrio”, foi ultrapassado a partir da década de 1970. Desde então começou, cada vez mais, a nossa dívida para com o planeta, no sentido de diminuição da biodiversidade, florestas e água doce.

Em cinquenta anos, o consumo dos recursos naturais quase duplicou. Por isso, todos os anos, a Global Footprint Network define o Earth Overshoot Day ou Dia da Sobrecarga da Terra, com base no calendário do ano anterior.

Na realidade, a humanidade utiliza, atualmente, 74% a mais dos recursos que os ecossistemas do planeta podem regenerar: isto equivale ao uso de mais de um planeta e meio deste em que vivemos. Claro, nem todos os países ultrapassam os recursos disponíveis: por exemplo, se a população global fizesse como os estadunidenses, seriam necessários mais de 5 planetas Terra para satisfazer suas necessidades. Logo, o impacto das atividades antrópicas torna-se crucial para a manutenção e equilíbrio dos ecossistemas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Marta

Santa Marta | arquisp
29 de julho

Santa Marta

As Escrituras contam que, em seus poucos momentos de descanso ou lazer, Jesus procurava a casa de amigos em Betânia, local muito agradável há apenas três quilômetros de Jerusalém. Lá moravam Marta, Lázaro e Maria, três irmãos provavelmente filhos de Simão, o leproso. Há poucas mas importantíssimas citações de Marta nas Sagradas Escrituras.

É narrado, por exemplo, o primeiro momento em que Jesus pisou em sua casa. Por isso existe a dúvida de que Simão fosse mesmo o pai deles, pois a casa é citada como se fosse de Marta, a mais velha dos irmãos. Mas ali chegando, Jesus conversava com eles e Maria estava aos pés do Senhor, ouvindo sua pregação. Marta, trabalhadora e responsável, reclamou da posição da irmã, que nada fazia, apenas ouvindo o Mestre. Jesus aproveita, então, para ensinar que os valores espirituais são mais importantes do que os materiais, apoiando Maria em sua ocupação de ouvir e aprender.

Fala-se dela também quando da ressurreição de Lázaro. É ela quem mais fala com Jesus nesse acontecimento. Marta disse a Jesus: "Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido. Mas mesmo agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Deus dará".

Trata-se de mais uma passagem importante da Bíblia, pois do evento tira-se um momento em que Jesus chora: "O pranto de Maria provoca o choro de Jesus". E o milagre de reviver Lázaro, já morto e sepultado, solicitado com tamanha simplicidade por Marta, que exemplifica a plena fé na onipotência do Senhor.

Outra passagem é a ceia de Betânia, com a presença de Lázaro ressuscitado, uma prévia da última ceia, pois ali Marta serve a mesa e Maria lava os pés de Jesus, gesto que ele imitaria em seu último encontro coletivo com os doze apóstolos.

Os primeiros a dedicarem uma festa litúrgica a santa Marta foram os frades franciscanos, em 1262, e o dia escolhido foi 29 de julho. Ela se difundiu e o povo cristão passou a celebrar santa Marta como a Padroeira dos Anfitriões, dos Hospedeiros, dos Cozinheiros, dos Nutricionistas e Dietistas.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

O quinto dia do Papa no Canadá em um minuto

O quinto dia do Papa no Canadá | Vatican News

Os momentos mais significativos da viagem de Francisco a Québec com a Missa no Santuário de Santa Ana de Beaupré e as Vésperas com o clero na Basílica de Notre Dame.

Em pouco mais de sessenta segundos, as imagens mais evocativas dos momentos que marcaram o quinto dia da Viagem Apostólica do Papa Francisco ao Canadá. Em Quebec, o Pontífice celebrou a Missa no Santuário de Santa Ana de Beaupré, um local histórico de culto do século XVII dedicado à avó de Jesus e um dos destinos de peregrinação mais antigos da América do Norte. Depois da passagem no papamóvel entre os fiéis, Francisco presidiu a Celebração Eucarística. No caminho de volta, parou para saudar os doentes e trabalhadores da Fraternité St. Alphonse, ouvindo suas histórias e pedidos de orações. À tarde, as Vésperas na Basílica neorromânica de Notre Dame junto com bispos, sacerdotes, seminaristas e agentes pastorais. A eles uma intensa homilia sobre os conceitos de anúncio, testemunho e fraternidade e o pedido de perdão às vítimas de abuso.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 28 de julho de 2022

“A bárbara ferocidade pareceu mansa”

"A bárbara ferocidade pareceu mansa" | 30Giorni

Por Revista 30Dias, 06/07 - 2010

“A bárbara ferocidade pareceu mansa”

É assim que Agostinho, no De civitate Dei, I, 7, menciona o Saque de Roma de agosto de 410.

de Lorenzo Cappelletti

Entre os vários centenários celebrados este ano, temos também o do chamado Saque de Roma de agosto de 410. Um acontecimento fatídico. Era a primeira vez, depois de séculos e séculos, que as muralhas de Roma eram violadas. Mas não é por esse seu caráter de divisor de época que tratamos do Saque de Roma. É muito mais por algumas sugestões que oferece ao nosso presente e ao nosso passado próximo.
Para começar, livremo-nos de um possível equívoco, de fato já esclarecido pela historiografia a partir do século XVIII: essa intrusão não ocorreu conforme as coordenadas imaginárias de um ataque de alienígenas que depredam por pura maldade (cf. o recente Barbari. Immigrati, profughi, deportati nell’Impero romano, de Alessandro Barbero). Os bárbaros que saquearam Roma “tinham sido, até pouco tempo antes, uma legião romana, a quem tínhamos concedido direitos depois de os vencer, a quem tínhamos dado campos e casas”, escreve Claudiano (In Eutropium), poeta pagão da época.
E esses bárbaros também não eram inimigos do cristianismo.

Santo Agostinho, num afresco do século VI, Latrão, Roma;
ao fundo, o início do 
De civitate Dei, num códice do século
XV conservado na Biblioteca Capitular de Verona

Os antecedentes

Alarico, protagonista do Saque de 410, era um chefe visigodo de fé cristã (“quidem christianus sed professione haereticus”, escreverá Isidoro de Sevilha em sua Historia Gothorum). Desde 375, vivia como federado, ou seja, ligado ao Império por um pacto, e como tal tinha lutado no exército de Teodósio contra os subversores (estes, sim) da autoridade imperial, engajados numa luta pelo poder no Ocidente. Era um dos muitos oficiais bárbaros que tinham contribuído para a preservação do Império, como Butheric, o magister militum bárbaro do Ilírico (região que corresponde aos atuais fatídicos Bálcãs), cujo assassinato em Tessalônica, em 390, determinou a violenta represália de Teodósio.
Teodósio, por sinal, ao morrer em janeiro de 395, deixava o Império aos dois filhos adolescentes, Honório e Arcádio, pondo-os sob a tutela carismática de Estilicão, também general semibárbaro, que de certa forma tinha de velar sobre eles e sobre sua união.

Justamente por isso, Estilicão acreditou ser seu dever interferir no Ilírico naquele mesmo ano, ante a ameaça de devastação imposta pelos visigodos de Alarico, evidentemente descontentes com o nível de respeito aos pactos demonstrado pelo Império. Mas a ação de Estilicão não foi reconhecida pela corte oriental, que, renegando a política de compromisso, decidira pôr em prática uma forte e autônoma reação antibárbara.

O peso dessa reação recairia sobre a parte mais frágil do Império. Assim, depois de ter devastado a Grécia, Alarico dá as caras no Trivêneto e, em 401, chega ameaçar Milão, onde residia Honório.
Estilicão derrota Alarico mais de uma vez, mas não aniquila seu exército. E não apenas isso. Não podendo combater em tantas frentes (nesse meio-tempo, a fronteira com o Reno estava cedendo e a Britânia era abandonada pelas legiões), busca um acordo com o visigodo, levando o Senado a aprovar uma indenização consistente a ser-lhe destinada e oferecendo a ele a magistratura militar da controversa região dos Bálcãs: a morte de Arcádio, em 408, de fato, parecia reabrir o caminho para que o Império pudesse ter um único governo, a partir do Ocidente. Naquele momento, porém, Honório e seus conselheiros milaneses é que se opunham ao acordo, seguros de que um movimento qualquer das peças não teria como desestabilizar a mesa de jogo. “Subornadas pela propaganda ‘milanesa’” – como escrevia Santo Mazarino em O Império Romano, obra que continua a ser uma mina de informações e intuições –, tropas imperiais se rebelaram contra Estilicão e expulsaram todos os seus funcionários à vista de Honório. Não restava a Estilicão outro caminho, senão a guerra civil: lançar as legiões de federados que lhe eram fiéis contra o exército imperial romano. Mas ele não o percorreu. Aceitou perder a cabeça em agosto daquele mesmo ano de 408, depois de ter sido retirado de uma igreja em Ravena, onde havia pedido asilo. O ato foi mais bárbaro que quem o sofreu. Salviano, um monge marselhês, escreveria algumas décadas mais tarde: “Procuram nos bárbaros a humanitas romana; de fato, já não suportam a bárbara desumanidade que vigora entre os romanos” (De gubernatione Dei).
Mas a morte de Estilicão provocaria como contragolpe a deserção de muitos bárbaros federados e, sobretudo, a ruptura com Alarico, tratado pela corte de Honório como um inimigo.
Esses são os antecedentes.

O Saque de Roma

O cerco e a tomada de Roma nasceram daqui. Nada mais são que uma forma direta de pressão e de chantagem sobre Honório por parte de Alarico, que se desenrola em três fases, entre meados de 408 e de 410.

Num primeiro momento, depois de descer rapidamente pela Via Flamínia, Alarico toma Porto e Tibre e corta o abastecimento de Roma pelo mar, com mercadorias vindas do norte da África.
Na cidade sitiada, há quem recorra pateticamente a ritos pagãos sugeridos por adivinhos provenientes da Toscana, pedindo para isso, paradoxalmente, a permissão do papa Inocêncio, que a concede. Ao mesmo tempo, em Ravena, para onde tinham-se transferido, Honório e seus conselheiros procuram aperfeiçoar uma política integralmente “católica” (cf. Le Sac de Rome, de André Piganiol), preocupados principalmente em punir os hereges e em excluir os “não católicos” do palácio, deixando Roma a sua própria sorte. Há maneiras e maneiras de ser católico, nuança censurada por Giorgio Falco em seu clássico La Santa Romana Repubblica, em que, no capítulo III, “Alemães. Estilicão e Alarico”, o termo “católico” é usado apenas para designar o tiers parti.

No final, obrigados pela fome e pela epidemia, os romanos pagam a Alarico a indenização que este esperara em vão de Honório. A Urbe, assim, está livre de novo e são retomadas as negociações com a corte imperial instalada em Ravena. No entanto, mesmo tendo Alarico agora limitado suas pretensões à autorização para que seu povo se estabeleça entre a Áustria e a Caríntia, não chegam a nenhum acordo. Roma, então, é novamente sitiada e, para elevar o nível da ameaça, Alarico cria um anti-imperador, na pessoa de Atalo: um pagão batizado ariano especialmente para a ocasião, de quem Alarico se serve apenas para fazer-se elevar ao cargo de líder de todo o exército imperial, enquanto Atalo cultiva sonhos de glória, pensando ser o herói da reconquista de Roma. Por obra dos mesmos funcionários que tinham eliminado Estilicão e recebido por isso a África, Roma é novamente castigada, desta vez contra Alarico e seu imperador fantoche. (A decisiva importância estratégica da África, para o Império Romano, permite entender por que Alarico, depois do Saque de Roma, se deslocará para o sul, acabando por morrer na Calábria, de onde esperava passar para a Sicília e depois, justamente, para o continente africano). Além de tudo, Ataulfo, cunhado de Alarico, é atacado a traição por outras milícias germânicas a soldo de Honório. Existem maneiras e maneiras de ser ariano e godo.

Naquela altura, na noite de 24 de agosto de 410, Alarico deixa que os seus entrem em Roma e saqueiem a cidade por três dias. Uma noite de São Bartolomeu ante litteram? Não. É claro que o episódio registra um grande número de vítimas, entre as quais a matrona Marcela, cuja morte “salienta bem o vínculo entre a aristocracia cristã e os destinos da própria Roma, constantemente mantido”, escreve Emanuela Prinzivalli em seu ensaio para o recente La comunità cristiana di Roma. La sua vita e la sua cultura dalle origini all’Alto Medioevo; além das mortes, há a captura de reféns, entre os quais a própria irmã de Honório, Gala Placídia; há estupros; há alguns incêndios e grandes espoliações, feitas sobretudo por escravos, que depois do primeiro assédio tinham saído de Roma e se unido, aos milhares, a Alarico. Escreve Jacques Le Goff nas primeiras páginas de A civilização do Ocidente medieval: “A verdade é que os bárbaros se beneficiaram da cumplicidade ativa ou passiva da massa da população romana. A estrutura social do Império, em que as camadas populares eram cada vez mais esmagadas por uma minoria de ricos e poderosos, explica o êxito das invasões bárbaras”.

Vista do interior dos Muros Aurelianos, perto da Porta Salária, com o
adarve e a torre. Os godos entraram em Roma na altura da
Porta Salária [© Archivio Foto Luce]

Aconteceu, porém, algo novo

Seja como for, a violência foi exceção, não regra. No fundo, toda a diferença está aqui, e provém das disposições precisas dadas por Alarico, primeiramente a respeito da preservação da vida das pessoas e, em segundo lugar, a respeito da intangibilidade das basílicas. Tanto é que Orósio, nas Historiae adversus paganos, poucos anos depois, chegou a dizer que não havia acontecido praticamente nada em Roma: “Nihil factum”. Ainda que isso seja um exagero retórico, como retórica é também a estrutura literária do episódio por ele narrado de uma virgem que, indagada por um bárbaro por objetos de ouro e prata, mostrou-lhe os vasos sagrados do culto do apóstolo Pedro, de modo que puderam salvar-se ela, os vasos de Cristo (é assim que Orósio chama os cristãos) e também os pagãos que se uniram ao cortejo escoltado que levou de volta à Basílica todo aquele ouro – não é retórica, mas bíblica (tanto veterotestamentária, cf. Gn 18, 17-33, quanto neotestamentária, cf. Rm 9, 22-33) e católica, a imprevisível convergência à salvação de romanos, cristãos e pagãos, e bárbaros. Uma convergência que a ninguém excluía, por se realizar no momento oportuno escolhido pela misericórdia de Deus, que levava cada um a desempenhar sua parte: “Para que estivesse protegido, o piedoso cortejo foi cercado de todos os lados por espadas desembainhadas; cantando juntos, romanos e bárbaros fizeram ressoar publicamente um hino a Deus; a trombeta da salvação ecoou distante no massacre da Urbe, convidou e incitou a todos, até aqueles que se haviam metido em esconderijos; os vasos de Cristo [os cristãos] acorreram de todas as partes para os vasos de Pedro e muitíssimos pagãos se misturaram aos cristãos, se não na fé, em sua profissão: justamente por isso, quanto mais se confundiam, mais no momento oportuno escapavam ao perigo; quanto mais os romanos buscavam refúgio reunindo-se em grande quantidade, mais os protetores bárbaros se espalhavam em grande número ao seu redor. Ó escolha sagrada e inefável do juízo divino!” ( Historiae adversus paganos VII, 39).

É assim que deve ser compreendida a própria apologia que Agostinho faz da fé cristã ante a acusação dos pagãos de que a fé esteja na origem do desastre de Roma (ocasião da qual nasce o De civitate Dei). Não a devemos compreender como uma resposta dialética e ideológica. É preciso reler o livro I, em que Agostinho manifesta a intenção da obra, todo organizado em torno do conflito entre a vaidade dos deuses de Roma, que precisam dos homens, aliás, só existem na medida em que estão nas mãos dos homens, e o nome de Cristo, que age por conta própria por intermédio daqueles bárbaros que, embora ferozes, possuem a humildade (“ misericordia et humilitas etiam immanium barbarorum”), a virtude que, ao lado da fé (“ex fide vivens”), é própria da cidade de Deus peregrina na terra, que não atribui a si o que vem de Deus.

Agostinho não nega que o que ocorreu a Roma tenha sido ruinoso, mas atém-se ao fato de que, em meio a toda a devastação possível, surgiu algo novo que remete diretamente a Cristo: “Na recentíssima derrocada de Roma, todas as ruínas, as mortes, os saques, os incêndios e toda a desolação foram produzidos pelo que habitualmente ocorre em guerra, mas aquilo que aconteceu de novo, o fato de a bárbara ferocidade, de modo inusitado, ter parecido mansa, a ponto de basílicas extremamente espaçosas terem sido escolhidas e designadas para se encher de gente para ser protegida, onde ninguém fosse morto, ninguém capturado, onde muitos pudessem ser levados por inimigos piedosos para ser libertados, onde ninguém pudesse ser preso e feito prisioneiro nem por inimigos cruéis – isso não há quem não veja que deve ser atribuído ao nome de Cristo [...]; foi ele quem admiravelmente amansou, freou, aplacou ânimos tão truculentos e cruéis, ele, que tanto tempo antes predisse pela boca do Profeta: ‘Punirei com o açoite a sua iniquidade e com flagelos os seus pecados, mas deles não afastarei a minha misericórdia’” ( De civitate Dei I, 7).

“A misericórdia triunfa sobre o julgamento”, escreve São Tiago. Também sobre o julgamento histórico, escrevemos nós.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Eis porque acabaremos como o Império Romano

Coliseu | Presbíteros
Queda de natalidade, taxas, imigração. Eis porque acabaremos como o Império Romano
Por Presbíteros, 18 de março de 2015

Massimo Introvigne

Atualmente, fala-se muito mal da França, mas temos de reconhecer a capacidade francesa para promover debates culturais que vão além das banalidades do cotidiano. É um bom exemplo o amplo debate que continua sobre o livro do historiador e jornalista Michel De Jaeghere “Os últimos diasO fim do Império Romano” (Les Belles Lettres, Paris 2014). Em fevereiro de 2015, a revista Católica mensal “La Nef” dedicou a este tomo mais de seiscentas páginas de uma edição especial com vários artigos relevantes, mas o livro continua a ser comentado em ambientes diferentes, às vezes de forma acalorada.

Por que apaixonar-se em 2015 pelo tema da queda do Império Romano? É sem dúvida um dos eventos mais importantes na história universal. Mas na verdade o debate francês rapidamente se tornou político, porque os eventos finais do Império Romano recordam muito – como já tinha agudamente observado Bento XVI – aqueles de outra civilização que está morrendo: a nossa.

De Jaeghere, antes de tudo, repete o que é óbvio para os historiadores acadêmicos, embora às vezes seja negado pelos propagandistas do ateísmo e nostálgicos do paganismo – talvez mais presentes e irritados na França do que em outros lugares –: o Império Romano não caiu por causa do cristianismo. O argumento de que os cristãos, com sua mensagem de amor e paz, teriam transformado o Império Romano em covarde em face aos bárbaros (para não voltar aos polemistas pagãos dos primeiros séculos como Celso) foi espalhada pelo Iluminismo, com Voltaire e com o historiador inglês Edward Gibbon. Mas, como observa De Jaeghere, isso é totalmente falso. No início do século quinto, cristãos no Império Romano do Ocidente eram apenas dez por cento. Eles eram a maioria no Império do Oriente, mas esse vai resistir às invasões e sobreviverá por mil anos. E é o dez por cento cristão que tentava de manter viva Roma e sua cultura, com bispos e intelectuais como Ambrósio e Agostinho, mas também com generais que lutavam até o heroísmo para defender o Império, como Estílico e Ézio, e com tantos soldados cristãos protagonistas de feitos heroicos em batalha.

Abandonados os absurdos sobre o cristianismo, permanece a questão de como o imenso Império Romano poderia ter caído. Hoje, os historiadores são muito cautelosos em usar a palavra “decadência”. É verdade que, na Itália, nos últimos séculos do Império, duzentos mil chefes de família tinham direito à livre recepção de alimentos, trabalhando ou não, e os cidadãos romanos que trabalhavam, exceto os militares, tinham 180 dias de férias por ano, entretidos por espetáculos, muitas vezes de gosto duvidoso ou cruel. Mas desta decadência escritores e filósofos tinham começado a se lamentar já na época de Jesus Cristo, 400 anos antes da queda do Império, num momento em que Roma ainda estava ganhando as suas batalhas.

À categoria de “decadência”, sugere De Jaeghere, não se pode renunciar levianamente. E é justa a observação de muitos historiadores segundo a qual as explicações que atribuem à queda do Império a uma única causa são ideológicas. Mas isso não significa que devemos desistir e declarar o evento inexplicável. Em contraste, De Jaeghere fala de um “processo”, que liga diversas explicações.

Ainda de acordo como Bento XVI – mesmo sem citá-lo – o historiador francês identifica como a principal causa que está na origem do processo, a queda da taxa de natalidade. O controle da natalidade entre os romanos não tinha os meios técnicos de hoje, mas crescia muito o aborto e o infanticídio, e aumentava também o número de homens adultos que declaravam o desejo de ter relacionamentos exclusivamente homossexuais. O resultado de tudo isso foi desastroso demograficamente: Roma passou de um milhão de habitantes da idade de ouro aos vinte mil no final do século V, com uma queda de 98 por cento. As estatísticas sobre a zona rural são menos seguras, mas entre trinta e cinquenta por cento dos assentamentos agrícolas foram abandonados nos dois últimos séculos do Império, não porque eles não fossem mais rentáveis, mas porque não havia ninguém para cultivar a terra.

Quais são as consequências da queda das taxas de natalidade? São muitas, e todas negativas. Do ponto de vista econômico, menos pessoas significa menos produtores e menos sujeitos que pagam os impostos. O Império Romano sucumbiu à tentação de tantos países que se encontravam em condições semelhantes. Aumentou os impostos, até matar a economia: e até o ponto de recolher menos impostos, mesmo que não haja economistas capazes de explicar matematicamente a curva pela qual, se os impostos aumentam muito, o Estado acaba recebendo menos dinheiro, porque muitos vão à falência e não pagam mais nada. A queda do Império é anunciada em seu último século por uma queda desastrosa de noventa por cento das receitas fiscais. No campo, muitos pequenos proprietários que não podem mais pagar os impostos passam a engrossar as fileiras, florescentes, do crime e da bandidagem.

Roma está à cabeça de um sistema que prevê a escravidão, e a solução à queda da natalidade dos homens livres é encontrada, sobretudo, no aumento da taxa de natalidade dos escravos, para os quais é sempre proibido de praticar o aborto e são incitados por bem e por mal a terem mais filhos. No último século do Império, na atual Itália, 35% da população é composta de escravos. Os escravos, no entanto, não pagam impostos, eles trabalham de modo pouco zeloso e não têm nenhum interesse em defender com as armas os seus patrões ricos. A economia escravista dos últimos séculos do Império se torna também estatista. Cada vez mais, é o Estado que deve gerir as grandes fazendas onde trabalhavam exclusivamente escravos.

Embora com características diferentes, a fraca contribuição dos escravos para a economia recorda a dos operários e camponeses soviéticos.

Se os cidadãos são escassos por causa da baixa da natalidade, e os escravos não resolvem os problemas, a outra medida à qual os Estados e impérios costumam recorrer para repovoar seus territórios é a imigração maciça. Fala-se muito das invasões bárbaras. Mas se esquece, sugere De Jaeghere, de que a maior invasão não ocorreu por meio de conquista, mas pela imigração. A invasão de Alarico, por exemplo, leva para dentro do Império vinte mil visigodos. Mas as medidas tomadas para convidar povos germânicos a imigrar, não apenas legalmente, mas com facilitações, para lidar com o problema da baixa da natalidade, levam para o território imperial em trinta e cinco anos (entre 376-411) um milhão de imigrantes. Certamente os “bárbaros” emigram no Império, ou o invadem, porque na casa deles não se está bem por causa da pressão dos Hunos vindos da Ásia Central, e esta é uma das causas da queda de Roma que não pode ser atribuída às classes dirigentes romanas. Mas o não governo da imigração é certamente culpa das autoridades romanas.

Assim como a fatídica decisão de recrutar imigrantes para o exército – se alguém protestava porque não eram cidadãos romanos, lhes era concedida a cidadania – que desnatura as legiões. No início do século V, o exército romano não é pequeno. É mais do que o dobro do tempo de Augusto: de 240.000 homens passou para mais de meio milhão. O problema é que mais da metade eram imigrantes de origem germânica, e declará-los às pressas cidadãos romanos não mudava a condição deles. É verdade, eram “bárbaros” a maioria dos legionários, mas eram romanos os comandantes e romanos os imperadores que lhes comandavam. Só que em algum momento os “bárbaros” perceberam precisamente que eram a maioria dos soldados, a maioria dos que lutavam e morriam. Por que eles deveriam ser controlados pelos romanos? Então, no final, começaram a matar os generais romanos e a substituí-los por “bárbaros”, juntaram-se aos invasores etnicamente próximos, em vez de rejeitá-los e, no ato conclusivo, marcharam sobre Roma e acabaram com o Império.

Além disso, de acordo com De Jaeghere, durante séculos Roma tinha desistido de ter uma “política externa” para com os povos germânicos que não fosse um verdadeiro convite à imigração. As florestas do Norte pareciam aos romanos um mundo caótico, onde as bandas e os diversos e imprevisíveis líderes se assassinavam entre si, e um mundo com poucas riquezas para trazer para a Roma. Daí a decisão – gravemente equivocada – de desinteressar-se de uma vasta área norte-europeia, permitindo que se formassem lentamente as forças que viriam a atacar e destruir o Império, também porque a globalização do comércio – mesmo sem haver televisão e Internet – informou esses “bárbaros” da fabulosa riqueza de Roma, e desencadeava os seus apetites.

É compreensível que esta sequência que entende as causas da queda de Roma como um processo que vai desde a queda das taxas de natalidade à perseguição fiscal dos cidadãos, ao controle estatal da economia e à imigração sem governo não seja agradável a alguns na atualidade. A essa tese de De Jaeghere se opôs que a imigração é um recurso que os imperadores tiveram que valorizar, e que o verdadeiro problema foi a incapacidade de pensar o Império em termos novos e multiculturais, e não o simples aumento de imigrantes. É evidente que essas objeções “politicamente corretas” nascem do medo de comparação com a Europa de hoje, comparação que o mesmo De Jaeghere não deixa de fazer, ainda que convidando à cautela.

Ao mesmo tempo, o seu livro oferece uma resposta às acusações que ampliam o quadro. Em Roma decaiu a taxa de natalidade capaz de sustentar um Império, com consequências em cascata sobre a economia e defesa. Mas por que isso aconteceu? Porque em algum momento os romanos escolheram o caminho do que, com referência à Europa de hoje, João Paulo II teria chamado de “suicídio demográfico”? O livro sustenta que foram lentamente decaindo dois pilares da cultura romana, a “pietas” e a “fides”, a lealdade às tradições morais e religiosas transmitidas de pais e a fidelidade à palavra dada e aos compromissos assumidos como cidadão romano em relação à sua pátria.

As causas desta “decadência” – neste sentido a palavra não deve ser abandonada – são múltiplas. Por volta da época de Jesus Cristo, a aristocracia romana se transforma de uma elite guerreira e militar a uma elite de proprietários de terras e latifundiárias que recebe o produto de suas posses em Roma, que muitas vezes sequer jamais visitou. Esta nova elite está mais interessada nos prazeres do que na defesa do Império, considerado eterno e invencível. E começa a não ter filhos: todas as famílias tradicionalmente aristocráticas da época de Jesus Cristo são extintas antes de 300 d.C. exceto uma, a gens Acilia, que se converte ao cristianismo. O exemplo das classes dominantes, como sempre, faz prosélitos. A moda do filho único, ou de nenhum filho, atinge a população (plebe).

A objeção de historiadores, especialmente britânicos e americanos, que negam a tese da decadência, é que tudo isso diz respeito principalmente a Roma ou às outras grandes cidades, enquanto ainda no último século do Império 85% de sua população vive na zona rural. Mas mesmo aqui, nota De Jaeghere, decaem a “pietas” e a “fides”. Porque o Império, excessivamente multiculturalista e cosmopolita, é percebido como uma burocracia distante que toma decisões incompreensíveis e rejubila-se especialmente por aumentar os impostos. O pequeno proprietário do campo, na melhor das hipóteses, está disposto a lutar para defender a sua aldeia, e não as fronteiras remotas de um Império que percebe como distante e pelo qual não sente mais nenhum “patriotismo”; na pior hipótese, acolhe os “bárbaros” como libertadores do fisco romano que está lhe levando à falência.

Certamente De Jaeghere poderia dedicar mais atenção às razões estritamente religiosas do declínio, estudadas desde a perspectiva sociológica por Rodney Stark. O declínio da religião pagã, não mais persuasiva a ninguém, está na origem do declínio da “pietas”. Poderia tê-la substituído o cristianismo – o que de fato ocorrerá mais tarde – que, como demonstra apenas uma rápida leitura de Santo Agostinho, sabia encontrar em si as razões para defender o Império e os assuntos públicos, dos quais certamente ele não se desinteressava. Mas no Império Romano do Ocidente, mesmo quando era professado por imperadores, o cristianismo era minoritário.

As lições para o nosso mundo são óbvias. Com todo o cuidado que requer qualquer comparação entre diferentes eras, a queda de Roma mostra como grandes civilizações podem terminar, e que a forma como elas normalmente acabam é por meio de uma crise demográfica. Impérios caem quando não se tem mais filhos, e a baixa da natalidade desencadeia uma espiral diabólica de impostos insustentáveis, controle estatal da economia, imigração desgovernada e exército covarde. Para compreender a relevância da parábola romana em relação como os nossos dias não servem muitos livros, basta abrir as janelas e olhar ao redor.

Sobre um ponto, no entanto, os críticos da De Jaeghere têm alguma razão. Os imigrantes e os invasores de Roma tinham uma vantagem sobre os imigrantes e “invasores” de hoje. Principalmente os germânicos, não eram portadores de uma cultura forte. Reconheceram a superioridade da cultura romana: buscavam apropriar-se dela e acabaram se convertendo ao cristianismo. Através de séculos de sangue, suor e trabalho, a queda do Império Romano do Ocidente prepara assim o cristianismo da Idade Média.

Hoje os imigrantes e “invasores” – invasores através da economia, ou pretensos invasores armados como os do Califado – são portadores de um pensamento forte, seja o islâmico ou o chinês: eles não pensam em assimilar a nossa cultura, mas querem nos convencer da superioridade da cultura deles. A crise que pode seguir disso poderia ser ainda mais letal do que foi para a Europa a queda de Roma. Para isso, discutir as razões para a queda do Império Romano do Ocidente não é um exercício puramente intelectual.

Fonte: http://www.lanuovabq.it/it/articoli-denatalita-tasse-immigrazioneecco-perche-finiremo-come-limpero-romano-11884.htm

Tradução: Pe. Anderson Alves.

Revisão: Viviane da Silva.

6 maneiras de criar os filhos para que eles “estejam no mundo sem serem do mundo”

Torsten Dederichs / Unsplash
Por Cecília Pigg

Como ajudar os filhos a perceber que esta vida é uma dádiva, mas a vida eterna é nosso objetivo? Veja o relato de uma mãe.

“Não consigo encontrar as chaves”, gritei lá de cima. Meu garotinho (que gosta de jogar coisas fora) sorriu inocentemente para mim e deu de ombros, alegando não saber onde elas poderiam estar.

À medida que meu estresse aumentava, a voz do meu filho de cinco anos veio de baixo, pausando meu monólogo interno ansioso: “Não se preocupe, mãe! Vou falar com Santo Antônio! Tony, Tony, venha, algo se perdeu e não pode ser encontrado. Por favor, ajude-nos a achar as chaves da mamãe!”

Alguns minutos depois, o garotinho achou as chaves na lixeira de Lego. “Olha mãe! Eu sabia que iríamos encontrá-las.” Ao entrarmos no carro, agradeci silenciosamente a Deus pelo dom da fé da criança.

Se acreditamos em Deus, então temos que perceber que este mundo não é o objetivo. Mas como podemos ajudar nossos filhos a descobrir essa verdade?

Aqui estão algumas maneiras práticas que adotei para fazer meus filhos lembrarem que este mundo não é tudo.

1BOM DIA, JESUS!

Temos um crucifixo na parede perto da mesa do café da manhã e, todas as manhãs, quando passamos por ele, faço uma oração rápida e espontânea. Digo: “bom dia, Jesus” em voz alta. Agradeço por um novo dia, pelo sonho de ontem à noite. Rezamos na hora das refeições, mas quero que meus filhos comecem o dia agradecidos e conversando com alguém que os ama mais do que eu. Além disso, quanto mais confortáveis estivermos falando com Jesus, mais confortáveis estaremos ao falar sobre Ele.

2CAMINHADAS

Tentamos fazer caminhadas regulares em família. Nossa cidade tem muitas trilhas naturais e parques que descobrimos. Além do tempo de qualidade e os benefícios do exercício, usamos esse tempo para apreciar a beleza do mundo ao nosso redor.

Quero cultivar em meus filhos um espírito de admiração que permaneça com eles pelo resto de suas vidas. Se você consegue se maravilhar com um belo falcão cantando em uma árvore ou um campo de grama balançando suavemente ao vento, então facilmente se torna espontâneo viver em admiração e gratidão a Deus, o criador de tudo.

3HISTÓRIAS DE SANTOS

Adoramos ouvir livros e CDs no carro. Gostamos de histórias envolventes sobre a vida de pessoas que amaram a Deus e o seguiram em seu estado específico de vida. Quero expor nossos filhos a bons modelos – e quem melhor do que os santos?

4ORAÇÃO PELAS PESSOAS QUE AJUDAMOS

Toda vez que vemos uma pessoa com uma placa na rua, tentamos dar alguma coisa, seja dinheiro, um saco de salgadinhos, uma garrafa de água… Também nos certificamos de perguntar qual é o nome dessa pessoa. Depois, oramos por ela enquanto nos afastamos e a incluímos em nossas orações antes de dormir. Desta forma, podemos seguir tangivelmente as instruções de Jesus para dar comida aos famintos. Além disso, podemos lembrar que essa pessoa não é apenas faminta, mas também feita à imagem de Deus e, acima de tudo, faminta do amor de Jesus.

5VISITAS A CEMITÉRIOS

Visitar cemitérios é uma maneira simples de lembrar que todos morreremos um dia. E a morte, embora traumática, é a entrada para a vida eterna. Damos um passeio pelos cemitérios perto de nossa casa e lemos os nomes nas sepulturas. Ao sair, fazemos uma oração por todas as pessoas que encontramos e sobre as quais lemos.

6CARIDADE

É tão fácil nos distrairmos com nossos pertences (telefone, laptop, roupas, livros…). E quando tudo o que podemos pensar são nossas coisas, fica muito mais difícil pensar sobre o que realmente importa. Então, tentamos examinar regularmente nossos livros, brinquedos e roupas, perguntando a nós mesmos: “Nós realmente precisamos disso? Alguém usaria mais isso do que nós?”.

Sagrada Família, rogai por nós!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa Francisco compara o mal sofrido pelos indígenas com as ameaças à família

Papa Francisco e a governadora-geral do Canadá, Mary Simon /
Captura de vídeo (Vatican Media)

QUEBEC, 27 jul. 22 / 08:42 pm (ACI).- Em seu quarto dia de visita ao Canadá, o papa Francisco defendeu a família e afirmou que o mal sofrido pelos povos indígenas deve servir de alerta para que os direitos dessa instituição não sejam afetados por interesses particulares.

O papa Francisco fez este chamado no discurso que dirigiu às autoridades, aos representantes indígenas e ao corpo diplomático credenciado no Canadá. O encontro aconteceu em Quebec, onde o papa chegou hoje (27).

Antes de pronunciar seu discurso, o papa Francisco ouviu as palavras do primeiro-ministro, Justin Trudeau, e da governadora-geral, Mary Simon, que lhe agradeceram por ter ido ao Canadá para realizar sua “peregrinação penitencial”.

Francisco voltou a pedir desculpas pela participação de instituições católicas nas “políticas de assimilação e alforria” promovidas há décadas pelas autoridades canadenses e que afetaram muitas crianças indígenas que foram separadas de suas famílias.

“É trágico quando crentes, como sucedeu naquele período histórico, se adequam mais às conveniências do mundo do que ao Evangelho”, disse o papa Francisco.

O papa ressaltou que esta "'história de sofrimento e desprezo', originada por uma mentalidade colonizadora, 'não se cura facilmente'".

No entanto, alertou que "a colonização não para; embora em muitos lugares se transforme, disfarce e dissimule", como acontece com as "colonizações ideológicas".

“Se outrora a mentalidade colonialista transcurou a vida concreta das pessoas, impondo modelos culturais pré-estabelecidos, também hoje não faltam colonizações ideológicas que afrontam a realidade da existência, sufocam o apego natural aos valores dos povos, tentando desenraizar as suas tradições, a história e os laços religiosos”, denunciou.

O papa disse que com esta mentalidade “estabelece-se uma moda cultural que uniformiza” e não tolera diferenças, concentrando-se “apenas no momento presente, nas necessidades e direitos dos indivíduos, negligenciando muitas vezes os deveres para com os mais débeis e frágeis: pobres, migrantes, idosos, doentes, nascituros…”.

“São eles os esquecidos nas sociedades do bem-estar; são eles que, na indiferença geral, acabam descartados como folhas secas para queimar”, disse.

Fazendo referência à folha de acerácea, símbolo que figura na bandeira canadense, o papa ressaltou que, " como cada folha é fundamental para enriquecer a ramagem, assim também cada família, célula essencial da sociedade, há de ser valorizada, porque ‘o futuro da humanidade passa pela família’”.

O papa afirmou que “é a primeira realidade social concreta, mas está ameaçada por muitos fatores: violência doméstica, frenesia do trabalho, mentalidade individualista, carreirismo desenfreado, desemprego, solidão dos jovens, abandono dos idosos e dos enfermos...”.

Diante disso, assegurou que "as populações indígenas têm tanto para nos ensinar sobre a guarda e a tutela da família, onde se aprende, já desde criança, a reconhecer o que está certo e o que é errado, dizer a verdade, partilhar, corrigir os erros, recomeçar, animar-se, reconciliar-se”.

“Que o mal sofrido pelos povos indígenas nos sirva hoje de alerta, para que o cuidado e os direitos da família não sejam postos de lado em nome de eventuais exigências produtivas e interesses individuais”, disse.

Compromisso da Igreja com os povos indígenas

Em seu discurso às autoridades, o papa Francisco lembrou que “a fé cristã desempenhou um papel essencial na modelação dos ideais mais elevados do Canadá”.

Francisco disse que "a Santa Sé e as comunidades católicas locais nutrem o desejo concreto de promover as culturas indígenas” e expressou o desejo da Igreja de renovar a relação com os povos indígenas do Canadá, " marcada quer por um amor que deu excelentes frutos, quer – infelizmente – por feridas que estamos esforçando-nos por compreender e sanar”.

Os grandes desafios atuais

Diante das autoridades canadenses, o papa Francisco disse que “os grandes desafios de hoje, como a paz, as alterações climáticas, os efeitos da pandemia e as migrações internacionais têm em comum uma constante: são globais, afetam a todos”. "E se todos eles falam da necessidade do conjunto, a política não pode ficar prisioneira dos interesses de parte", disse.

O papa Francisco reiterou seu apelo por uma relação fluida entre gerações, em um diálogo entre jovens e idosos. “Para recuperar memória e sabedoria, escutar os idosos, assim também, para haver ímpeto e futuro, é preciso abraçar os sonhos dos jovens. Estes merecem um futuro melhor do que aquele que estamos a preparar-lhes, merecem ser envolvidos nas opções para a construção do hoje e do amanhã, particularmente para a salvaguarda da casa comum, para a qual são preciosos os valores e ensinamentos das populações indígenas”, afirmou.

Esta foi a última atividade do papa Francisco em seu quarto dia de visita ao Canadá.

Amanhã (28), o papa celebrará a missa no santuário nacional de Santa Ana de Beaupré. À tarde, celebrará as vésperas com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, seminaristas e agentes pastorais na catedral de Notre-Dame de Québec.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF