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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Por quanto tempo um padre pode ficar em uma paróquia?

© Pascal Deloche / Godong
Por Philip Kosloski

E em que casos acontecem as transferências dos sacerdotes?

Quando são anunciadas as tarefas sacerdotais a cada ano, muitos se perguntam: por quanto tempo um padre pode ficar em uma paróquia?

Código de Direito Canônico incentiva a estabilidade de um pároco, mas diz que os padres devem ser designados a uma paróquia por um período “indeterminado” de tempo.

“Importa que o pároco goze de estabilidade, e por isso seja nomeado por tempo indeterminado; só pode ser nomeado pelo Bispo diocesano por um prazo determinado, se isto tiver sido admitido pela Conferência episcopal, mediante decreto.”

Cân. 522

As transferências

As transferências dos padres de uma paróquia para outra podem acontecer – e são de fato, comuns. Essas mudanças ocorrem pelos mais variados motivos, uma vez que a dinâmica da vida da Igreja Católica e as necessidades pastorais exigem sempre novas decisões. O importante a destacar é que essas decisões não são um gesto de arbitrariedade do bispo.

As mudanças, geralmente, são avaliadas por um conselho formado por bispos e padres, o Conselho Presbiteral, e demandam longas conversas. Porém é importante elencar que as transferências de padres fazem parte da autoridade episcopal.

Ainda sobre as transferências, o Código de Direito Canônico ressalta:

“Se o bem das almas ou a necessidade ou a utilidade da Igreja exigirem que o pároco seja transferido da sua paróquia, que rege com fruto, para outra paróquia ou para outro ofício, o Bispo proponha-lhe por escrito a transferência e aconselhe-o a que aceda por amor de Deus e das almas.”

Cân. 1748

Resumindo: a escolha do sacerdote para cada paróquia, o tempo em que ele lá permanecerá e suas transferências cabem ao bispo local e tentam responder às demandas pastorais de cada comunidade.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Cardeal Leonardo Steiner visita o povo Yanomami

Cardeal Leonardo Steiner | cnbb-norte 1

CARDEAL LEONARDO STEINER VISITA O POVO YANOMAMI EM NOME DO PAPA FRANCISCO E DA PRESIDÊNCIA DA CNBB

A Igreja da Amazônia foi mais uma vez ao encontro dos povos indígenas, eternas vítimas de um sistema que não duvida em colocar o lucro acima da vida das pessoas. Dom Leonardo Steiner, o cardeal da Amazônia, chegou a Boa Vista, capital do Estado de Roraima, para mostrar em nome do Papa Francisco e da Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sua solidariedade ao Povo Yanomami.

O cardeal da Amazônia, que foi acompanhado pelo padre Lúcio Nicoletto, administrador diocesano de Roraima, e pelo padre Corrado Dalmonego, um dos grandes conhecedores do mundo yanomami, afirmou vir a Boa Vista “para me encontrar com lideranças indígenas para um diálogo, para uma escuta, para assim podermos como Igreja ainda estarmos mais presentes”. Depois de visitar doentes na Casa de Saúde Indígena Yanomami em Boa Vista, o arcebispo de Manaus insistiu em que “a Igreja católica sempre se fez muito presente junto aos povos indígenas, e nesse momento de dificuldade aqui no Estado de Roraima, especialmente junto ao Povo Yanomami, nós queremos marcar essa presença”. Sua visita na SESAI, foi momento em que ele esteve “conversando, dialogando, vendo as necessidades e realmente a situação de desnutrição é muito grande, é preocupante”.

Segundo o cardeal Steiner, “os motivos todos nós já sabemos, o porquê da desnutrição, mas em diálogo agora com algumas lideranças, nós percebemos que existem diversos elementos onde nós podemos dar a nossa contribuição, ajudar”. Ele ressaltou que de parte da Igreja católica, “nós queremos ser solidários, são filhos e filhas de Deus, são pessoas que vivem em regiões distantes, que são povos desassistidos pelo governo nos últimos anos e nós sabemos que a dificuldades que estamos a ver não é nova”.

O arcebispo de Manaus destacou o trabalho de denúncia realizado pela Igreja nos últimos anos, sobretudo através do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que “durante muito tempo tem denunciado, tem falado, tem publicado inclusive relatórios e nós queremos neste momento mostrar a nossa proximidade, nossa solidariedade e vermos com os governos o que podemos fazer para que esses povos possam continuar a viver, mas possam especialmente viver e viver bem”.

A visita de dom Leonardo em Boa Vista continuou com um encontro com lideranças indígenas na sede do Conselho Indígena de Roraima (CIR). O cardeal, que recebeu o informe “Yanomami sob ataque”, um relatório sobre a violência contra o Povo Yanomami, entregue em abril de 2022 aos 3 poderes, executivo, legislativo e judiciário, onde são recolhidos depoimentos e dados que mostram os efeitos devastadores do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, enfatizou a necessidade de articulação das organizações indígenas, que na atualidade contam com pessoas muito bem-preparadas e altamente organizadas.

Dom Leonardo fez saber às lideranças indígenas o apoio do Papa Francisco, a quem enviará um relatório de sua visita, e da Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Posteriormente foi escutando as dores do Povo Yanomami, que segundo as lideranças se resumem em quatro elementos: garimpo, desnutrição, fome emergencial e malária. Eles reconhecem o apoio histórico da Igreja de Roraima aos povos indígenas, insistindo em que não é novidade o que está acontecendo. Diante desse cenário alarmante, as organizações indígenas, que se reconhecem mais estruturadas para enfrentar, denunciam a tentativa da mídia de esconder a realidade e afirmam que a maior bandeira é defender a vida dos povos.

Segundo as organizações indígenas, boa parte do Povo Yanomami está morto espiritualmente pela destruição da floresta, pelos assassinatos e ataques de todo tipo que sofrem, humilhações, estupros, roubo de crianças, suicídios, todos eles consequência do garimpo, que tem levado 120 comunidades Yanomami a estar em situação de grave calamidade. As lideranças não duvidam em dizer que “quem está matando é o garimpo, que está na Terra Indígena e na cidade”, insistindo em que “o garimpo está banhado de sangue”, algo que acontece à vista de todos em Roraima. Por isso, eles pedem, como tem pedido em todas as instâncias, inclusive governamentais, a retirada imediata dos garimpeiros, a proteção do território e das lideranças indígenas.

Um desafio a longo prazo, que pode provocar muita dor no povo, e que tem que começar com a identificação e punição dos verdadeiros culpados, dentre eles os membros dos diferentes poderes e as redes de criminosos que apoiam e financiam o garimpo, o que demanda estratégias de proteção e segurança. De fato, as pessoas que denunciam são ameaçadas e cada vez são mais os jovens yanomami que envolvidos em atividades ilícitas apoiam os criminosos.

As lideranças indígenas agradeceram ao cardeal Steiner sua presença na região em um momento muito difícil para os povos indígenas de Roraima. Eles insistiram em que não foi por falta de aviso, suplicando que “nos ajudem, não nos deixem passar mais por essa situação. Vocês agora têm conhecimento do que nós estamos passando”. Um pedido que encontrou eco no cardeal da Amazônia, que reconhecendo que as exposições das lideranças tinham lhe ajudado muito, lhes mostrou o desejo da Igreja de caminhar junto com os povos indígenas.

Por Padre Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1


 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O casamento é mesmo possível? O Papa Francisco tira todas as dúvidas

Filippo Monteforte | AFP
Por Isabella H. de Carvalho

Segundo o Pontífice, as crises que afetam muitas famílias hoje vêm de uma “ignorância prática – pessoal e coletiva – sobre o casamento”.

“O matrimônio, segundo a Revelação cristã, não é uma cerimônia ou um acontecimento social, não é uma formalidade nem um ideal abstrato”, mas sim um “vínculo permanente […] de amor”. Essas foram as palavras do Papa Francisco em um discurso de 27 de janeiro de 2023. Em audiência com funcionários do Tribunal da Rota Romana, o tribunal de apelação da Santa Sé que lida notadamente com casos de nulidade matrimonial, o Pontífice sublinhou a “forte necessidade de redescobrir o significado e o valor” deste sacramento.

Segundo ele, as crises que afetam muitas famílias hoje vêm de uma “ignorância prática – pessoal e coletiva – sobre o casamento”.

“Poderíamos nos perguntar: como é possível que haja uma união tão abrangente entre um homem e uma mulher, uma união fiel e eterna, da qual nasce uma nova família? Como isso é possível, considerando os limites e a fragilidade do ser humano?”

Tendo em conta as questões que nos possam surgir, o Papa continuou a respondê-las e sublinhou que o casamento se baseia num amor divino e que até mesmo uma união com muitos fracassos pode fazer parte do desígnio de Deus para as nossas vidas. 

Vínculo indissolúvel baseado no amor divino 

O Pontífice argentino destacou que os noivos decidem livremente dar vida à sua união através do casamento. Entretanto é “só o Espírito Santo” que pode fazer daquele homem e daquela mulher uma “existência única”.

Ele explicou que Cristo “entra na vida dos cristãos casados ​​por meio do sacramento do matrimônio” e, que “o que Deus uniu, nenhum ser humano deve separar” (Mateus, 19,6).

O vínculo, que é a “realidade permanente do matrimônio”, precisa ser redescoberto, insistiu o Pontífice. Ele reconheceu que podemos ver esse tipo de vínculo como “uma imposição externa, um fardo”.

Na realidade, porém, este “vínculo de amor” é “um dom divino que é a fonte da verdadeira liberdade e que preserva a vida matrimonial”. 

Francisco reconheceu que podemos encarar “esta bela visão” como “utópica”, pois ela não leva em conta a fragilidade humana e a volatilidade dos sentimentos. No entanto, o Papa sublinhou que não é qualquer tipo de amor que está na base de um vínculo matrimonial. O amor conjugal não é apenas “sentimental” ou para “satisfações egoístas”.

Para Francisco, “o amor matrimonial é inseparável do próprio matrimônio, no qual o amor humano, frágil e limitado, se encontra com o amor divino, sempre fiel e misericordioso”.

O Santo Padre ainda explicou que o amor matrimonial “é um dom confiado à liberdade [dos esposos], com os seus limites e os seus lapsos, de modo que o amor entre esposos necessita de purificação e amadurecimento contínuos, compreensão recíproca e perdão. […] As crises ocultas não se resolvem na ocultação, mas no perdão mútuo”.

Até um casamento imperfeito é bom – e faz parte do plano de Deus

Tendo explicado o forte vínculo divino que deve estar na base de qualquer casamento, e deve ajudar homens e mulheres a superar suas dificuldades, o Papa também enfatizou que não se trata de pensar que as coisas serão perfeitas.

“O casamento não deve ser idealizado, como se só existisse onde não existem problemas. O desígnio de Deus, colocado em nossas mãos, sempre se realiza de maneira imperfeita”, explicou Francisco ao fazer referência à exortação apostólica Amoris Laetitia:

“A presença do Senhor habita nas famílias reais e concretas, com todas as suas dificuldades e lutas cotidianas, alegrias e esperanças. Viver em família torna difícil para nós fingir ou mentir; não podemos nos esconder atrás de uma máscara. Se aquela autenticidade é inspirada pelo amor, então o Senhor reina ali, com sua alegria e sua paz”.

Por fim, o Papa afirmou que o matrimônio é “um bem de valor extraordinário para todos: para os próprios esposos, para seus filhos, para todas as famílias com as quais se relacionam, para toda a Igreja, para toda a humanidade. É um bem que se difunde, que atrai os jovens a responder com alegria à vocação matrimonial, que conforta e vivifica continuamente os esposos, que produz muitos e diversos frutos na comunhão eclesial e na sociedade civil”.

O Papel da Igreja junto aos casais

Francisco também pediu à Igreja que apoie os casais antes e depois do sacramento do matrimônio, a fim de ajudá-los a “aprofundar o amor, mas também a superar problemas e dificuldades”.

“Um recurso fundamental para enfrentar e superar as crises é renovar a consciência do dom recebido no sacramento do matrimônio, dom irrevogável, fonte de graça com a qual sempre podemos contar. […] Assim a fragilidade, que sempre permanece e também acompanha a vida conjugal, não levará à ruptura, graças à força do Espírito Santo”, conclui o Papa.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A sua paciência nos espera (3/3)

Rembrandt, O lava-pés, Amsterdã, Rijksmuseum |
30Giorni

Arquivo 30Dias – 03/2003

Luciani e a confissão

A sua paciência nos espera

“O Senhor é um pai que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos longe, e se enternece, e, correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar com ternura... Nosso pecado, então, transforma-se quase numa joia que podemos lhe dar de presente para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como senhores, quando damos joias de presente. E não é derrota, mas uma vitória cheia de alegria deixar Deus vencer!”

 de Stefania Falasca


“Da quod iubes, iube quod vis”

(Santo Agostinho)
Em janeiro de 1965, Albino Luciani, bispo de Vitório Vêneto, pregou exercícios espirituais a sacerdotes de várias dioceses do Vêneto. Naqueles encontros, escolheu este tema: Historia salutis. Tomou como ponto de partida a parábola do Bom Samaritano: “O Bom Samaritano é Jesus”, disse, “o viajante desafortunado somos nós”. E começou com estas palavras: “História salutis significa isto: o Senhor corre atrás dos homens”. Foi um sucesso tão grande que o texto daqueles encontros foi depois publicado. Algumas partes se referem à graça. O Concílio de Trento, explica Luciani, diz: “‘Ninguém ouse aceitar a afirmação temerária, refutada também pelos Padres, de que os mandamentos de Deus são impossíveis de observar. Deus não ordena coisas impossíveis, mas, quando ordena, exorta a fazer o que for possível e a pedir-lhe aquilo de que não se for capaz, ao mesmo tempo em que ajuda a sê-lo’. Dizia Santo Agostinho: ‘Agnosce ergo gratiam eius cui debes quod non commisisti’, ‘reconhece, pois, a graça dAquele a quem deves o fato de não cometeres certos pecados’, e continuava: ‘Nullum est peccatum quod fecit homo, quod non possit facere et alter homo, si desit rector a quo factus est homo’, ‘não existe pecado cometido por homem que outro homem não possa cometer, se faltar a ajuda dAquele que fez o homem’”. Luciani então comentava: “O Paraíso é um pouco alto e nós custamos a chegar lá. Nós estamos na situação de uma menininha que viu as cerejas mas não as alcança; é preciso então que venha o pai, pegue-a nos braços e diga: pra cima, pequena, pra cima! Aí sim, quando ele a levanta, é que ela pode pegar e comer as cerejas. Nós somos assim: o Paraíso nos atrai, mas é alto demais para as nossas pobres forças. Ai de nós se o Senhor não vier com sua graça! O próprio Santo Agostinho repetia uma oração com extrema freqüência: ‘Da, Domine, quod iubes, et iube quod vis’. Senhor, eu não alcanço, dá-me fazer o que me ordenas; ordena-me o que quiseres, mas só depois de me dares a graça de fazê-lo. Tudo é possível com a graça de Deus. Precisamos da Sua graça. Portanto, deixem que agora lhes diga uma palavra sobre a oração”. E contou este episódio: “Padre Mac Nabb, famoso dominicano que pregava em Londres, dizia: ‘Quando estou no confessionário, eu me revisto realmente da paciência do Senhor. Seja o que for que me digam, nunca me sinto agitado: mesmo que sejam pecados horríveis. Digo: o Senhor perdoará, esta pessoa veio aqui, humilhou-se... Coragem, coragem... Há apenas uma exceção: quando chega alguém que diz ter negligenciado a oração. ‘Mas não rezou nenhum dia, mesmo?’. ‘Não, padre, não rezei’. ‘Ah’, ele diz, ‘é nessa hora que se pudesse eu passaria a mão pela janelinha e lhe daria com vontade umas belas bofetadas!’”. “Como é possível neste mundo”, retomou Luciani, “inclinados para o mal como somos, fracos como somos, não rezar? Não pedir a graça, a ajuda de Deus? Isso significa não ter mesmo conhecimento da realidade, não entender realmente nada. [...] Não dá nem para seguir em frente sem a oração, sem a confiança na graça de Deus. ‘Quero que peçais’, disse o próprio Jesus, ‘com insistência’ até. [...] ‘Quero que peçais.’ ‘Basta que peçais, basta terdes confiança, esperança.’ Omnia possibilia sunt credenti. ‘De minha parte tudo é possível, basta que tu tenhas fé’. Quantas vezes... Espero em Vós, porque sois infinitamente bom, reza o Ato de Esperança, ou seja: espero com certeza. ‘Esperar com certeza’, dizia Dante. A esperança não é facultativa, é obrigatória...”.
“Mas, nesse meio tempo, é a Sua paciência que nos espera”, retomou enfim Luciani. E, voltando ao início da Historia salutis: “Porque, vejam, é Ele que quer nos encontrar, e não desanima mesmo que fujamos: ‘Quero tentar de novo, uma, dez, mil vezes...’. Alguns pecadores não gostariam de tê-lo em sua casa. Pegariam até uma arma para matá-lo e não ouvi-lo mais falar. Não importa, Ele espera. Sempre. E nunca é tarde demais. É assim que ele é, é disso que ele é feito... é Pai. Um pai que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos longe, e se enternece, e, correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar com ternura... Nosso pecado, então, transforma-se quase numa jóia que podemos lhe dar de presente para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como senhores, quando damos joias de presente. E não é derrota, mas uma vitória cheia de alegria deixar Deus vencer!”.

Fonte: http://www.30giorni.it/

A Igreja na República Democrática do Congo

Catedral Nossa Senhora do Congo, em Kinshasam. 
(AFP or licensors)

A Igreja da República Democrática do Congo está entre as mais antigas da região subsaariana. A sua primeira evangelização por obra de missionários portugueses remonta a finais do século XV, quando o rei do Kongo Nzinga Nkuwu foi batizado (3 de maio de 1491) e o cristianismo tornou-se a religião oficial do Reino.

Vatican News

Nesta terça-feira, 31 de janeiro de 2023, o Papa Francisco dá início à 40ª Viagem Apostólica de seu Pontificado, que o levará inicialmente à República Democrática do Congo. Na sequência, ao Sudão do Sul.

As origens da Igreja Católica na RDC

A Igreja da República Democrática do Congo está entre as mais antigas da região subsaariana. A sua primeira evangelização por obra de missionários portugueses remonta a finais do século XV, quando o rei do Kongo Nzinga Nkuwu foi batizado (3 de maio de 1491) e o cristianismo tornou-se a religião oficial do Reino.

A Igreja no Congo Belga

O catolicismo estabeleceu-se fortemente durante o domínio colonial belga (1877-1960). Data desta época a chegada dos Padres Brancos, das Missionárias de Scheut e das primeiras monjas. O Estado belga autorizou e apoiou ativamente a criação de escolas e hospitais católicos. Em 1954, a primeira Universidade do Congo, a Universidade Jesuíta "Lovanium", foi inaugurada em Léopoldville (Kinshasa). Em 1956 foi consagrado o primeiro bispo congolês, Dom Pierre Kimbondo, seguido em 1959 pela nomeação do primeiro arcebispo autóctone de Léopoldville, Dom Joseph Malula, que se tornou o primeiro cardeal do país.

A Igreja sob o regime de Mobutu

As boas relações entre o Estado e a Igreja começaram a deteriorar-se após a independência e, em particular, durante a ditadura de Mobutu Sese Seko, que por etapas procedeu à nacionalização das universidades, incluindo a Universidade Católica de Louvain, a abolição do Natal como dia festivo, a nacionalização das escolas católicas e a proibição de símbolos religiosos em edifícios públicos.

Essas políticas geraram muitos atritos com o episcopado congolês, que não hesitou em denunciar os abusos e a corrupção do regime. Se em relação à escola Mobutu foi forçado a recuar devido ao fracasso de sua política, as tensões continuaram em fases alternadas nas décadas de 1980 e 1990, com contínuas intimidações por parte do governo. Nesse contexto, foram realizadas as duas Viagens Apostólicas de São João Paulo II ao país: em 1980, por ocasião do centenário da evangelização, e em 1985, por ocasião da Beatificação da Irmã Anuarite Nengapeta, a "Santa Inês de o continente africano".

A Igreja após o fim de Mobutu

Os bispos continuaram a fazer ouvir a sua voz mesmo depois da morte de Mobutu, para denunciar as violências e abusos de poder, e sobretudo em defesa das populações vítimas dos conflitos que continuaram a sangrar o país. Mesmo à custa da vida, como aconteceu com Dom Christophe Munzihirwa, o arcebispo jesuíta de Bukavu assassinado em 29 de outubro de 1996 por milícias ruandesas aliadas de Kabila, por seu empenho em favor dos refugiados e por ter denunciado injustiças e os planos de guerra na região dos Grandes Lagos .

A vitalidade da Igreja congolesa

Apesar das vicissitudes políticas, a Igreja Católica congolesa continua a estar entre as mais fecundas da África. Testemunha disso é o crescimento dos fiéis, que representam cerca de 33% da população para 90% cristãos (sendo 22% protestantes e 19% pentecostais e evangélicos); a alta participação nas Missas, mesmo entre os jovens; o florescimento das vocações ao sacerdócio e à vida religiosa; o zelo missionário das comunidades eclesiais; o dinamismo dos leigos que participam ativamente da vida e da missão da Igreja; sua ampla presença na sociedade e na mídia.

A Igreja conta com mais de 4.000 sacerdotes diocesanos, sendo numerosos os sacerdotes Fidei Donum, missionários na África, Europa e América. A eles se somam mais de 11 mil religiosos e religiosas, comprometidos nos vários âmbitos da pastoral e cujos superiores maiores estão reunidos em dois organismos: a ASUMA (Associação dos Superiores Maiores) e a USUMA (União dos Superiores Maiores).

Grande é o ativismo dos leigos, como evidenciado pela presença de numerosas associações e movimentos laciais reunidos no Conselho do Apostolado Católico dos Leigos (CALCC). São numerosos os catequistas que contribuem para animar as comunidades, assim como os leigos empenhados em dar testemunho da fé nos âmbitos político, econômico e cultural.

Graças à sua colaboração, a Igreja congolesa é, portanto, viva, dinâmica e missionária. Uma missão que realiza também através dos meios de comunicação. Atualmente, existem mais de 30 rádios e vários canais de televisão diocesanos, aos quais devem ser adicionados jornais e publicações. A Conferência Episcopal (CENCO) já há algum tempo tem um site próprio, sempre atualizado.

Ademais, a Igreja congolesa também é um ator social de primeiro plano e é de fato o primeiro parceiro do Estado no campo educacional e da saúde, suprindo a carência de serviços públicos com a sua densa rede de hospitais, centros sociais e escolas de todos os níveis, muito apreciados pela qualidade do ensino ministrado.

Grande parte de sua classe dirigente foi educada em escolas católicas. Esta colaboração por vezes é afetada por tensões políticas no país, como aconteceu com a recente reforma escolar, relativa à decisão das autoridades estatais de tornar gratuitas todas as escolas primárias. Uma uma decisão compartilhada em princípio pelos bispos, mas que foi politizada a ponto de a Igreja Católica ser acusada de ser contra a educação gratuita.

Apesar da vitalidade da Igreja local, alguns problemas permanecem. Entre estes, uma forma superficial de viver a fé de alguns cristãos: crenças e práticas supersticiosas, feitiçarias e magias, que condicionam a vida cotidiana das pessoas e alimentam o medo e as suspeitas, ainda são difundidas nas comunidades dos fiéis. Além disso, Igrejas independentes de matriz pentecostal, e as seitas, estão se multiplicando no país. Outro desafio importante para a Igreja congolesa é representado pelos jovens que, com a falta de trabalho, se tornam presas fáceis para grupos criminosos nas cidades e para milícias locais e grupos armados estrangeiros em áreas de conflito no leste do país.

Os bispos sobre a situação sócio-política do país

Nos últimos trinta anos, a CENCO continuou a acompanhar de perto a situação sócio-política local, intervindo com mensagens e declarações nos momentos marcantes da vida nacional para denunciar as deficiências das instituições, a corrupção, a má governança, os abusos das autoridades e exortar as consciências.

Intervenções acompanhadas de iniciativas concretas para educar os cidadãos congoleses para os valores da paz e da democracia e encorajar os fiéis leigos a participar ativamente da vida política da nação. A Igreja também participa frequentemente da organização das eleições com seus próprios observadores para verificar sua correta conduta e sempre insistiu fortemente na necessidade de garantir a efetiva independência da Comissão Nacional Eleitoral (CENI) para evitar disputas que seguem pontualmente cada turno eleitoral.

Graças à confiança e credibilidade de que goza, a Igreja tem sido repetidamente chamada a intervir como mediadora e conciliadora nos conflitos que se seguiram desde o fim do regime de Mobutu. Repetiram-se nos últimos anos os apelos dos bispos pela paz no leste do país, juntamente com as queixas contra a presença de forças estrangeiras e fortes interesses em torno de suas extraordinárias riquezas minerais.

A proximidade do Papa Francisco ao povo congolês

O sofrimento do povo congolês tem estado constantemente no centro das preocupações do Papa Francisco, cuja Visita Apostólica ao país prevista para julho, e depois adiada para 2023, incluiu inicialmente também uma escala na atormentada província de Kivu do Norte para encontrar as vítimas da violência. Uma etapa que foi cancelada do programa justamente pela insegurança que persiste na região.

Seus apelos e expressões de proximidade aos congoleses se repetiram durante seu pontificado. Em particular, recorda-se a especial vigília de oração pela paz no Congo e no Sudão do Sul por ele presidida na Basílica de São Pedro em 23 de novembro de 2017 e o Dia de Oração convocado para 23 de fevereiro de 2018 após o adiamento, por motivos de segurança, de sua viagem ao Sudão do Sul junto com o primaz anglicano inglês Justin Welby, que havia sido anunciada para 2017. Naquelas ocasiões, o Pontífice voltou a pedir esforços adequados, sobretudo por parte da comunidade internacional, na busca da paz nestes dois países, por meio do diálogo e da negociação.

Após o novo adiamento da sua Viagem Apostólica aos dois países prevista para o verão de 2022, numa mensagem vídeo divulgada a 2 de julho passado, o Papa Francisco voltou a reafirmar a sua proximidade e afeto a estes dois povos: "Trago em mim, na oração , o sofrimento que vocês vivenciam há muito, muito tempo", disse o Papa, exortando as populações do Congo e do Sudão do Sul a não deixar que sua "esperança seja roubada".

Apresentação do Senhor

Apresentação do Senhor | Opus Dei
02 de fvereiro

Festa da Apresentação do Senhor

Reflexão para meditar no dia 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor. Os temas propostos são: a festa do encontro; Simeão era um homem esperançado; impulsionados pelo Espírito Santo.

PASSADOS QUARENTA DIAS do nascimento de Jesus, a Sagrada Família viaja ao Templo em Jerusalém a fim de cumprir duas prescrições da Lei: a apresentação do primogênito (cf. Ex 13, 2. 12-13) e a purificação da mãe (cf. Lev 12, 2-8). Os dois mistérios estão unidos na festa de hoje.

Por um lado, a apresentação do primogênito recordava a salvação dos primogênitos hebreus no Egito. De acordo com a lei de Moisés, o primogênito masculino era propriedade de Deus e devia ser “consagrado ao Senhor” (Lc 2, 23), pelo que esta cerimônia era considerada uma espécie de “resgate”. Por outro lado, a purificação da mãe realizava-se quarenta dias após o parto. Até então, a mulher não podia aproximar-se dos lugares santos, pois estava manchada por uma certa impureza depois de dar à luz. Na cerimônia de purificação, era oferecido um duplo sacrifício: um cordeiro e uma rola ou pombo jovem; mas se a mulher fosse pobre, podia oferecer duas rolas ou dois pombos jovens. “E desta vez serás tu, meu amigo, quem leve a gaiola das rolas. – Estás vendo? Ela – a Imaculada! – Submete-se à Lei como se estivesse imunda”[1]. O evangelista especifica que Maria e José ofereceram o sacrifício dos pobres (cf. Lc 2, 24).

“Logo chegará ao seu templo o Dominador” (Ml 3, 1), diz o profeta Malaquias na primeira leitura. É um momento único e belo: o Filho de Deus entra no seu próprio templo. É por isso que o salmo responsorial canta: “Ó portas, levantai vossos frontões! Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, a fim de que o Rei da glória possa entrar! Dizei-nos: Quem é este Rei da glória? É o Senhor, o valoroso, o onipotente, o Senhor, o poderoso nas batalhas!” (Sl 23, 7-10). Na realidade, porém, o “Deus poderoso” não queria entrar no Templo ao som de trombetas, mas apenas como uma criança entre outras. No meio das constantes idas e vindas de pessoas, entre peregrinos, devotos, sacerdotes e levitas: ninguém soube o que estava acontecendo. Apenas dois idosos, Simão e Ana, tiveram o “Rei da Glória” em seus braços. Por este motivo, a festa da Apresentação do Senhor no Templo “é a festa do encontro: a novidade do Menino encontra-se com a tradição do templo; a promessa encontra o seu cumprimento; Maria e José, os jovens, conhecem Simeão e Ana, os idosos. Tudo se encontra, em suma, quando Jesus chega”[2].

SIMEÃO era um homem “justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor” (Lc 2, 25-26). Simeão estava sempre preparado para o encontro com Deus porque, como as virgens sensatas da parábola, transportava a lâmpada cheia de azeite. Era um homem idoso que tinha a juventude permanente da esperança. Movido pelo Espírito, subiu ao Templo para rezar. Quando viu a família que vinha de Belém, e olhou para o menino, percebeu que ele não era um dos muitos que vinham ao Templo todos os dias. Neste bebê, que ele tomou nos seus braços, cumpriam-se todas as profecias: ele era o esperado, o primogênito de uma nova humanidade, o consagrado do Pai.

“Simão não se deixou desgastar pela passagem do tempo. Era um homem já carregado de anos, e, no entanto, a chama do seu coração ainda ardia; na sua longa vida deve ter sido ferido algumas vezes, desapontado; no entanto, não perdeu a esperança. Com paciência, guardou a promessa – cumprir a promessa – sem se deixar consumir pela amargura do tempo passado ou por aquela melancolia resignada que surge quando se chega ao ocaso da vida. A esperança da espera traduziu-se nele na paciência diária de alguém que, apesar de tudo, permaneceu vigilante, até que finalmente "os seus olhos viram a salvação" (cf. Lc 2, 30)”[3].

Com o auxílio do Espírito Santo, Simeão chamou Jesus de “luz” para iluminar as nações (cf. Lc 2, 29-35). A liturgia de hoje começa com uma procissão de velas, significando que Cristo é a luz que vem ao mundo para iluminar as pessoas que, sem Deus, só tropeçam na escuridão. A palavra de Deus é, em palavras de São Josemaria, “luz e esperança nos corações”[4]. Provavelmente isto fazia parte do segredo de Simeão para manter viva aquela sua juventude: a abertura sincera à palavra de Deus, sempre com um novo olhar.

DEPOIS de Simeão, a família de Belém encontrou-se com Ana, uma profetisa idosa, que ia diariamente ao Templo, “dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações” (Lc 2, 37). Esta viúva idosa, ao encontrar o Menino, louvou a Deus e falou d’Ele “a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém” (Lc 2, 38). Ambos os anciãos profetizam que Jesus é o Messias há muito esperado, e preveem a sua morte e ressurreição para salvar todas as nações.

Vislumbra-se na cena a presença do Espírito Santo, movendo “os passos e os corações daqueles que o esperam. É o Espírito que sugere as palavras proféticas de Simeão e Ana, palavras de bênção, de louvor a Deus, de fé no seu Consagrado, de ação de graças porque finalmente os nossos olhos podem ver e os nossos braços acolher a sua salvação”[5]. Neles descobrimos modelos maravilhosos de docilidade. O Espírito Santo era o verdadeiro motor das suas vidas, “estava neles”, guiava-os, empurrava-os, falava em seus corações, ditava as suas palavras. São um ícone de santidade, porque ouvem e proclamam a Palavra de Deus, procurando resolutamente o rosto de Cristo, as suas pegadas, a sua vontade.

“No templo, Jesus vem ao nosso encontro, enquanto nós vamos ao seu encontro. Contemplamos o encontro com o velho Simeão, que representa a expectativa fiel de Israel e a exultação do coração pelo cumprimento das antigas promessas. Admiramos também o encontro com a idosa profetisa Ana que, ao ver o Menino, exulta de alegria e louva a Deus. Simeão e Ana representam a espera e a profecia, Jesus é a novidade e o cumprimento: Ele se apresenta a nós como a perene surpresa de Deus; neste Menino que nasceu para todos encontram-se o passado, feito de memória e de promessa, e o futuro, repleto de esperança”[6]. Podemos imaginar como Simeão e Ana devem ter admirado a Virgem Maria, que carregava essa esperança em seu ventre. Ela pode interceder para que nas nossas vidas nunca falte o alento do Espírito Santo, que faz novas todas as coisas.

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[1] São Josemaria, Santo Rosário, 4.º mistério gozoso.

[2] Francisco, Homilia, 2/02/2019.

[3] Francisco, Homilia, 2/02/2021.

[4] São Josemaria, Via Sacra, 1.ª estação.

[5] Bento XVI, Homilia, 2/02/2013.

[6] Francisco, Homilia, 2/02/2016.


Fonte: https://opusdei.org/pt-br

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

As cartas de São Paulo

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As cartas de São Paulo

A tradição cristã reconheceu 14 cartas de são Paulo das 21 do Novo Testamento. As cartas na antiguidade Greco-romana eram de dois gêneros: as cartas familiares, comerciais, políticas etc. e as epístolas, espécie de tratados sobre um certo tema, dedicados a alguma personalidade, a um amigo ou familiar.  Os escritos paulinos são de ambos gêneros.

A ordem em que aparecem na Bíblia é artificial. São agrupadas primeiro as que se dirigem às comunidades, depois à pessoas particulares, primeiro as mais longas e depois as mais curtas. A Epístola aos Hebreus é uma exceção, pois sempre está colocada no final de todas. As cartas não aparecem pois em ordem cronológica na Biblia.

As cartas aos Tessalonicenses: são consideradas por todos os estudiosos como as primeiras cartas de São Paulo (e primeiras do Novo Testamento). Foram escritas em Corinto entre os anos 50 e 52.

Essas cartas tratam fundamentalmente da Parusia, ou segunda vinda de Cristo e da ressurreição dos mortos. O Apóstolo diz que desconhece o tempo dos acontecimentos porque não foram revelados por Cristo e poe  ênfase na vigilância e na importância do trabalho. Chega a dizer o Apóstolo: “quem não quiser trabalhar, que também não coma” (2 Tes 3,10).

As grandes Epístolas:

São assim chamadas as cartas aos Gálatas, 1ª e 2ª aos Coríntios e aos Romanos, escritas durante a terceira viagem missionária (53-58 d.C.).

Gálatas: o tema principal é o da liberdade dos cristãos, relativamente ao cumprimento das complexas prescrições do Judaísmo. Alguns pensavam que era necessária a observância da Lei de Moisés e de suas tradições orais para a salvação. Essa controvérsia (que já estava resolvida pelo concílio apostólico de Jerusalém) ofereceu ocasião de explicar o valor redentor da Paixão de Cristo, na qual nos inserimos pela fé e pelo Batismo, com absoluta independência da Antiga Lei, pedagoga da história da Salvação.

Coríntios: a cidade de Corinto era uma cidade com 2 portos, era uma das cidades mais importantes do Império Romano. Tinha muitas religiões, cheia de degradação moral e religiosa. Aí havia o culto a Afrodite e as mil sacerdotisas dedicadas ao culto a essa deusa, por meio da “prostituição sagrada”. No entanto essa comunidade estava repleta das graças de Deus, com uma grande diversidade de carismas especiais. A primeira epístola aborda o tema da unidade dos cristãos e dos cristãos, pois havia ali divisões (partidos) entre os neófitos. Censura com energia os abusos morais mantidos por alguns cristãos convertidos, e tolerados pela comunidade (caso do incestuoso). Por isso explica a natureza do matrimonio e da castidade (cap. 7). Responde à questão da liceidade de comer carne de animais sacrificados aos ídolos. Entre os temas importantíssimos que trata são Paulo nessa carta está o tema da Eucaristia (sua instituição pelo Senhor, a presença real de Cristo nas espécies eucarísticas, e a disciplina sobre o Ágape, que acompanhava as Eucaristias). Trata também o tema da ressurreição dos mortos (cap. 15), e da ordenação dos carismas do Espírito Santo.

Na Segunda Epístola: trata de defender sua autoridade de Apóstolo, negada por alguns. Diz que foi chamado diretamente por Cristo e foi incorporado ao grupo dos Doze. Aí aparece o coração de pastor de São Paulo, o amor pelos seus filhos na fé e a fortaleza do seu espírito, e o sentido de sua responsabilidade que lhe exige a sua vocação.

Romanos: é a mais longa de seu epistolário e é considerada a mais importante. Trata da obra redentora de Cristo (aprofundando a carta aos Gálatas). Começa com uma profunda saudação e segue dando uma visão da humanidade não redimida; contempla a degradação moral dos gentios e os pecados semelhantes dos judeus, para concluir na necessidade da Redenção realizada por Cristo para alcançar o perdão de Deus e a graça. A salvação provem unicamente de Cristo e a ela aderimos pela fé, dom gratuito de Deus, não efeito das nossas obras. O Batismo nos enxerta em Cristo, podemos e devemos fazer o bem, praticar a virtude, pelo Espírito Santo, que habita em nós e completa a obra da justificação começada por Cristo, tornando-nos santos e filhos adotivos do Pai. A segunda parte da carta São Paulo aplica a doutrina ao comportamento moral do cristão: a “vida no Espírito” é o cristão que se deixa guiar pelo Espírito, que lhe dá uma vida nova, com todas suas conseqüências.

Epístolas do Cativeiro:

Paulo as escreveu no seu cativeiro em Roma, entre os anos 58 e 63.

Filemon: enviada ao cristão Filemon para que esse receba a Onésimo, escravo dele que se tinha fugido e refugiado em Roma, onde se tinha convertido, por meio de São Paulo. O Apóstolo ensina que eles agora são irmãos e assim devem ser tratados.

Filipenses: a comunidade de Filipos era constituída por antigos legionários retirados, com suas famílias. São Paulo os considerava seus queridos filhos, com uma fidelidade inquebrantável e generosa correspondência. O ponto doutrinal mais importante é o hino cristológico (Fil 2,6-11) que canta a humilhação de Cristo na sua encarnação, vida morte e sua gloriosa ressurreição.

Colossenses: essa comunidade enfrentava dificuldades doutrinais, pois alguns pregavam que Cristo era um ser intermédio entre Deus e a matéria. São Paulo então aprofunda temas capitais sobre Cristo. Ele é superior a todos os seres, a todos os anjos. Por isso afirma: “em Cristo habita toda a plenitude da divindade corporalmente” (Col 2,9). Jesus Cristo é pois Deus eterno, que ao tomar a natureza humana não deixa de ser Deus e, portanto, é o primeiro e superior a todos. Depois São Paulo dá diversos ensinamentos morais aos cônjuges, servos e senhores.

Efésios: é o ponto culminante no itinerário espiritual e doutrinal de São Paulo, no que diz respeito ao mistério de Cristo, da obra da Redenção e da teologia da Igreja. Trata quase os mesmos temas de Col. com maior profundidade e serenidade. Aí afirma que Cristo Jesus é a cabeça de todos os seres, tanto celestes quanto terrestres. O seu senhorio é absoluto e Ele é o Salvador de todos. Ef 1,3-14 é um grande hino que louva o plano salvador de Deus por meio de Cristo em favor da humanidade. Contempla o mistério profundo da Igreja na sua unidade e totalidade inseparáveis, instrumento universal da salvação que Cristo criou como Seu Corpo, Sua plenitude, Sua esposa imaculada, para aplicar à humanidade a salvação que Ele realizou com sua morte e ressurreição. Todo fiel deve pois viver a unidade na caridade, pois forma parte de um só corpo com Cristo, animado pelo mesmo Espírito.

Epístolas Pastorais:

Esses escritos (1 e 2 Tim. e Tito) são para orientar e ajudar aos discípulos na sua tarefa de auxiliares de São Paulo no governo pastoral de várias Igrejas. Aqui São Paulo afirma que o conteúdo da lei moral natural presente na Lei de Moisés não caducou; também vai explicar que a Igreja tem uma ordem e uma disciplina (como tratado na carta aos Coríntios). A hierarquia eclesiástica esta em período de gestação, ainda não distinguiu um vocabulário preciso para designar os ofícios dos bispos e dos presbíteros, ainda que seja clara a ordem diferente de bispos e presbíteros, dum lado, e os diáconos, do outro. Nas Cartas de Santo Inácio de Antioquia (morto em 107) a instituição dos diversos graus da ordem está perfeitamente determinada. Nessas cartas Paulo se preocupa em consolidar as Igrejas já fundadas.

Epístola aos Hebreus:

Muito provavelmente foi escrita por um discípulo de São Paulo, mas transmitem as idéias do Apóstolo. Foi escrita a um grupo de cristãos provenientes do judaísmo, na qual predominava um número de sacerdotes e levitas do Templo de Jerusalém. São Paulo se dirige a eles para os reconfortar na fé, argumentando para eles que os antigos sacrifícios do Templo, e o próprio Templo não eram senão uma figura, uma sombra antecipada da realidade do único sacrifício que é o de Cristo, verdadeiro Templo e Sumo Sacerdote. Aqui São Paulo desenvolve a doutrina sobre o sacerdócio e o sacrifício de Cristo.

Ano  Cronologia tradicional (Vida)
8 d.C.  Nascimento
33  Conversão
36  Jerusalém (1ª visita)
46  Jerusalém (fome): Hch 11
47-48  Primeiro viajem missionário
49  Conferência apostólica
50  Chegada de Paulo a Corinto
51/52  Paulo deixa Corinto
53  Paulo chega a Éfeso
56  Paulo deixa Éfeso
56  Paulo chega a Corinto
57  Paulo em Filipos
57  Paulo chega a Jerusalém
59  Paulo ante Festo
60  Paulo chega a Roma

Ano  Cronologia tradicional (Cartas)
50/51 1  Tessalonicenses: Corinto
51/52 2  Tessalonicenses: Corinto
56 1  Coríntios: Éfeso
57 2  Coríntios: Macedônia
57/58  Gálatas: Macedônia/Corinto
58  Romanos: Corinto
Filipenses
Filemón
61-63  Colossenses: Roma
61-63  Efésios: Roma
61-63 2  Timoteo: Roma

A sua paciência nos espera (2/3)

Rembrandt, Cristo e a adúltera, Munique, Sala das 
Estampas | 30Giorni

Arquivo 30Dias – 03/2003

Luciani e a confissão

A sua paciência nos espera

“O Senhor é um pai que espera no portão. Que nos vê quando ainda estamos longe, e se enternece, e, correndo, vem se atirar ao nosso pescoço e nos beijar com ternura... Nosso pecado, então, transforma-se quase numa joia que podemos lhe dar de presente para prover-lhe a consolação de perdoar... Agimos como senhores, quando damos joias de presente. E não é derrota, mas uma vitória cheia de alegria deixar Deus vencer!”

de Stefania Falasca

“Que seria de mim, pobre coitado,
se não houvesse a confissão”
(santo Cura d’Ars)
Entre os confessores de Albino Luciani, são lembrados em particular alguns monges da Cartuxa de Vedana, mosteiro que gostava de frequentar desde os tempos de Beluno, frequência que não deixou de lado durante todo o período em que foi bispo de Vitório Vêneto. E se nos trinta e três dias de pontificado manteve como seu confessor o jesuíta Paolo Dezza, que fora também confessor de Paulo VI, quando estava em Veneza ia com frequência ajoelhar-se no confessionário do padre Leandro Tiveron, jesuíta também. Modesto e reservado, padre Tiveron pronunciou poucas palavras a respeito de seu ilustre penitente, depois de sua morte: “Luciani foi um exemplo de coragem e confiança indestrutível em Deus, de humildade unida a uma grande fortaleza de espírito”. São palavras que remetem uma vez mais à história humana boa, simples e misteriosa que Luciani encontrara quando criança na fé de sua mãe, de padre Filippo Carli, seu pároco em Canale, amigo e coetâneo de padre Cappello. Assim, lembrou tantas vezes as orações que aprendeu com a mãe e sua infância em Canale, os episódios daquela piedade humaníssima, de devoção, de amor por Jesus que vira e vivera quando criança. A verdade é que devia muito a seu pároco. Devia a ele ter-se tornado padre. Dele aprendera que, para um padre, não há coisa maior e mais frutuosa que batizar, dar a eucaristia, absolver os pecados. In persona Christiý E dele aprendera também toda a sinceridade e a humildade na confissão. “Vejam”, disse Luciani uma vez num encontro durante a Quaresma, “que o Senhor nos deu a confissão como instrumento da Sua misericórdia, e portanto de paz para nós. Não é preciso angustiar-se, ter medos demais. E não é preciso remoer os pecados cometidos. Vocês os confessaram? Pronto, não pensem mais neles. É claro que a confissão deve ser simples, límpida. Alguns, quando vão se confessar, fazem um exame de consciência um pouco complicado, pois pensam: tenho de me sair bem. ‘Esse não é o lugar para se sair bem!’, dizia sempre meu pároco. Então, não é simples: é melhor falar claramente, com poucas palavras, o que se tem a dizer. O que houve, com brevidade, com humildade, sem rodeios. [...] Mais que entrar em exames de consciência muito complicados, é importante pedir ao Senhor que nos faça sentir dor pelos pecados”. A paciência para explicar com clareza as fórmulas do catecismo, com exemplos eficazes que todos pudessem compreender, sempre foi uma prerrogativa de Luciani. “Uma vez, durante uma aula de catecismo em Canale”, lembra a irmã, Antônia, “ouvi Albino explicar a importância da confissão com exemplos contados pelo Cura d’Ars, que repetia sempre: ‘Que seria de mim, pobre coitado, se não houvesse a confissão? Que seria de nós?’. E recomendava que as pessoas se confessassem com frequência. ‘As mães’, dizia Albino, ‘por acaso não trocam sempre suas crianças? A alma também é assim: nós sempre temos faltas e temos sempre de nos lavar, não uma vez ou duas por ano, mas devemos nos confessar com freqüência, se for possível’”. Indicava explicitamente a seus sacerdotes: “Sejamos fiéis ao que diz o código: Frequentará. Vários sínodos dizem: toda semana. Procurem ser fiéis. Um pouco de esforço, mas depois a pessoa fica melhor, fica mais contente, retoma as forças. O arrependimento contínuo, a humilhação contínua também é útil e salutar”.
Os anos do patriarcado de Veneza foram os mais difíceis para Albino Luciani. E foi lá, em Veneza, que teve de se dar conta com amargura do quanto aquela herança cristã tão cara estava cada vez mais longe do horizonte da vida. “Ouve-se cada vez com mais freqüência: ‘O pecado não existe’. Essa maneira de pensar está realmente na última moda, e assusta”, escrevia numa carta aos párocos, continuando: “Há sacerdotes que não acreditam mais na confissão. [...] Pecados sempre existiram, sempre choveram - não há muito o que dizer -, até mesmo na Idade Média cristã. Mas as pessoas sabiam que pecavam, rompiam a lei até mesmo com pecados graves, mas continuavam a respeitar a lei rompida e nem sonhavam em negar o pecado. Hoje, no entanto, dizem que não existem leis muito menos pecados. [...] É isso que assusta”. Em 1974, por ocasião dos exercícios espirituais para o clero, disse: “Não tenho vontade nenhuma de ser heresiólogo; mas às vezes tenho uma forte tentação de apontar sinais de quietismo e semiquietismo, de pelagianismo e semipelagianismo em escritos e discursos que ou descrevem o trabalho pastoral como se tudo dependesse dos homens ou falam de nós, pobres homens, como se não tivéssemos mais de nos preocupar com o pecado...”. E respondeu decidido aos sacerdotes que lamentavam uma queda no número de confissões: “O pecado mortal saqueia nossas almas. Rouba da alma a graça. Vocês estudaram o tratado De gratia e conhecem os efeitos da graça na alma. [...] A confissão é o banco a partir do qual se distribui o sangue de Cristo, é uma cruz vermelha em que se consertam os ossos quebrados pelo pecado. Uma coisa portentosa. [...] Mas repito, como é que as pessoas podem se confessar se vocês não lhes explicarem claramente o exame de consciência, a dor, o propósito e as outras coisas? E repito, sobretudo: quem é que vai se confessar se vocês não disserem o que é a graça de Deus e o quanto é preciosa?”.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF