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domingo, 19 de novembro de 2023

Conheça a história do bispo Josaphat Kocylosvkyj, mártir ucraniano do século XX

Joseph-Kocylovskyj (Domaine public)

Por Anne Bernet - publicado em 17/11/23

Fiel à sua terra natal ucraniana e à Igreja de Roma, Dom Josaphat Kocylosvkyj é um mártir do século XX que morreu por se recusar a romper seus laços com o Papa de Roma. A Igreja o celebra em 17 de novembro.

Embora todos nós sejamos influenciados pela época e pelo país em que nascemos e pelos eventos que moldarão nossas vidas, alguns de nós sofrem as consequências mais do que outros, às vezes de forma dramática. Esse é o caso de Josaphat Kocylosvkyj, beatificado por João Paulo II em 2001, que sofreu até a morte para permanecer fiel às suas raízes ucranianas e, acima de tudo, a Roma e ao catolicismo. Quando ele nasceu, em 3 de março de 1876, sua aldeia natal de Pakoszoka, na Galícia, ficava na parte da Polônia ligada ao Império Austro-Húngaro.

Greco-católico e ucraniano

Entretanto, essa afiliação territorial não reflete os sentimentos profundos de seu povo, que se sente principalmente ucraniano e que, pertencendo à Igreja Católica Grega, é rejeitado tanto pelos católicos quanto pelos ortodoxos. Foi premonitório que seus pais o batizassem de São Josafá, que foi martirizado no século XVII exatamente pelos mesmos motivos. Depois de estudar teologia em Roma, Josaphat foi ordenado sacerdote em 9 de outubro de 1907 e imediatamente nomeado vice-reitor do seminário greco-católico de Stanislaviv, onde lecionava teologia. Em 1911, ingressou na Ordem de São Basílio, o Grande.

Em 23 de setembro de 1917, quando a Primeira Guerra Mundial estava em andamento, anunciando a queda dos impérios russo e austro-húngaro, ele foi consagrado bispo de Przemysl, uma diocese que se tornaria parte da Ucrânia sob os tratados de paz. A Revolução Russa provocou um certo entusiasmo na região, levando algumas pessoas a pedir a adesão à jovem União Soviética, uma ideia insuportável para Josaphat, que estava ciente do perigo tanto para a cultura ucraniana quanto para os fiéis. Enquanto se dedicava à sua missão como bispo, especialmente à educação, que considerava fundamental, mas também à ajuda às ordens monásticas, ele se envolveu na defesa da língua ucraniana e na oposição ao movimento russofilo, fundando vários jornais que denunciavam seus perigos.

Enviado para um campo de trabalho

Os piores temores do prelado provaram ser bem fundamentados. Em 1933, ele viu a Ucrânia ser entregue às tropas de Stalin, que, por meio de sua política de fome, o infame Olodomor, causou a morte de seis milhões de homens, mulheres e crianças, vítimas do frio, da desnutrição e dos batalhões de extermínio, prenunciando os horrores nazistas da Segunda Guerra Mundial. A resolução do conflito não trouxe alívio para sua diocese. Embora os poloneses tenham recuperado o controle da região, eles acrescentaram à sua falta de simpatia pelos católicos gregos o ódio feroz do comunismo contra os cristãos, unidos para erradicar essa Igreja problemática de todos os pontos de vista.

Foram os poloneses que prenderam Josaphat pela primeira vez em setembro de 1945 e, depois de libertá-lo por alguns meses, prenderam-no novamente em 1946, antes de entregá-lo às autoridades ucranianas. Já exausto pelos maus-tratos, foi oferecida a liberdade ao prelado septuagenário se ele retornasse à ortodoxia. Ele recusou. Apesar de sofrer de pneumonia, ele foi enviado ao campo de trabalho Capaico, perto de Kiev, onde morreu, oficialmente de um derrame, em 17 de novembro de 1947, vítima de todos os terrores e contradições do mundo contemporâneo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

"Onda" é a odisseia de uma criança migrante em forma de música

"Onda" (Vatican Media)

O vídeo da cantora e compositora italiana, Valentina Ambrosio, dedicado à trágica jornada de uma criança forçada a seguir a sua família em uma travessia marítima em busca de um futuro melhor já está disponível em formato on-line.

https://youtu.be/0XDwphJF-gw

Vatican News

Chama-se "Onda" e é a história em música de uma jornada incomum na qual o protagonista, uma criança, enfrenta uma trágica travessia marítima seguindo os membros de sua família em busca de uma nova vida e um futuro melhor. A obra é da jovem cantora e compositora romana (também advogada) Valentina Ambrosio, nascida em 1979; o videoclipe, dirigido e animado por Stefano Cesaroni, já está on-line no YouTube.

Os arranjos, bem como a letra, foram concebidos com a intenção de abordar um tema complexo, adotando a perspectiva de uma criança que, catapultada para o difícil mundo dos adultos, vive sua jornada como se fosse um jogo. "Com muita frequência, são crianças que morrem nessas barcas, vítimas indefesas do grande jogo da fuga", diz a autora Valentina Ambrosio, "não podemos mais tolerar que nosso país seja o centro das atenções por causa desses eventos horríveis".

Como parte do Festival Il Cantagiro 2023, a música escrita e interpretada por Ambrosio ficou em primeiro lugar na categoria compositor e ganhou o Prêmio Sergio Bardotti 2023 de melhor letra.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 18 de novembro de 2023

Arquidiocese de Brasília ensinando a fazer pão

Cardeal Paulo Cezar Costa e frei Rogério Soares (Vatican Media)

O projeto na capital brasileira visa capacitar pessoas para o mercado de trabalho e no sustento de famílias no preparo de pães.

Maria Izabel – Vatican News

Foi lançado neste mês de novembro, em Brasília, o Projeto Padaria Artesanal, uma ação da Arquidiocese de Brasília que tem o intuito de oferecer qualificação profissional à população de baixa renda da capital do Brasil. O lançamento ocorreu no polo do projeto, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora das Mercês, com a presença do arcebispo de Brasília, o cardeal dom Paulo Cezar Costa, do vigário episcopal para assuntos sociais da arquidiocese frei Rogerio Soares e de outros convidados.

O projeto de panificação artesanal surgiu em São Paulo. A ideia de implementar essa ação também na capital partiu da vice primeira dama Lu Alkimim, com o apoio do frei Rogerio, que cedeu um espaço na paróquia para a ministração do curso.

Frei Rogério na padaria (Vatican Media)

“Fizemos uma reforma em uma cozinha com a ajuda de empresários, com tudo o que é necessário para que as aulas se realizem”, afirma frei Rogerio.

A formação é gratuita e se realiza em apenas um dia. É ensinado a preparação de pães nutritivos, isto é, com o uso de legumes e sementes. Os pães são feitos com ingredientes naturais, para gerar renda para as famílias ou para consumo próprio. Ao término da formação todos os participantes recebem um certificado.

Frei Rogério, é empreendedor desta ação. Ele é muito conhecido na Arquidiocese de Brasília pelo seu trabalho social e também por ser o criador da Peta do Frei, biscoitos de polvilho que são vendidos a preços populares e que ajudam na renda de pessoas em situação de vulnerabilidade.

A ideia é que este projeto “Padaria Artesanal” seja expandido para várias regiões do Distrito Federal. No próximo dia 21 de novembro, em Brasília, serão entregues os diplomas dos primeiros participantes do projeto. A ocasião contara com a presença de membros do clero e também do governo, entre eles, o vice presidente Geraldo Alkmim.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Reflexões sobre a nova idolatria do dinheiro e as suas consequências na sociedade

Vocês não podem servir a dois senhores (Viver Evangelizando)

REFLEXÕES SOBRE A NOVA IDOLATRIA DO DINHEIRO E AS CONSEQUÊNCIAS DA SOCIEDADE DE CONSUMO

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

Na sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” (EG), ao analisar alguns desafios do mundo atual, o Papa Francisco critica o modelo econômico que gera desigualdade e exclusão (EG, n. 53). Segundo sua compreensão, uma das causas dessa situação está na relação estabelecida com o dinheiro. A economia promove uma “nova idolatria do dinheiro”, sustentada pela ideologia da autonomia absoluta dos mercados, comandada pela especulação financeira (EG, n. 55-56). 

Devido à hegemonia que a economia exerce sobre a cultura atual, a crise econômica revela-se como uma crise antropológica, com sua consequente visão redutiva da pessoa humana: “A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criamos novos ídolos. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura duma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano” (EG, n. 55). Esse tipo de economia produz exclusão e desigualdade social, ancorada por uma cultura do bem-estar, da meritocracia, do descartável e da globalização da indiferença. Nesse tipo de economia, os pobres são considerados supérfluos e descartáveis, ‘resíduos e sobras’ (EG, n. 53-55). 

Ao elevar o dinheiro à condição de valor supremo, a lógica do consumo é reproduzida nos relacionamentos pessoais, transformando tudo em mercadoria, bens supérfluos que são comprados, consumidos e descartados. A partir dessa lógica, a pessoa humana passa a ser entendida como mercadoria ou é considerada de acordo com sua capacidade de consumo. Os vínculos comunitários são esvaziados face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta, que exalta a competição, o mérito e o sucesso individual. 

“O individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que enfraquece o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas, distorcendo os laços familiares” (EG, 67). Esse individualismo contribui para a dissolução das redes de solidariedade e do papel da comunidade e da família na definição da identidade pessoal e na resolução dos conflitos. A família torna-se vulnerável em seus valores constitutivos e encontra-se insegura e perdida em sua missão educadora, deixando de ser o ambiente natural da vivência da fé cristã.

Como havia exortado o Papa São João Paulo II, em 1992, os jovens são fortemente influenciados pelo fascínio da “sociedade de consumo”, que os torna submissos a uma visão individualista, materialista e hedonista da vida. O ideal de “bem-estar” material se torna a única busca, levando à rejeição de sacrifícios e a renúncia a viver os valores espirituais e religiosos. A “preocupação” exclusiva do ter suplanta o primado do ser, resultando na interpretação e vivência dos valores pessoais e interpessoais não segundo o princípio do dom e da gratuidade, mas de acordo com uma lógica de posse egoísta e instrumentalização do outro (Pastores dabo vobis, n. 8). 

Tem-se, então, a síndrome da “Era do Vazio”, denunciada por Lipovetsky (2007), cuja marca se reflete no individualismo narcisista, no sujeito des-substancializado, sem conteúdo e sem grandes ideais, reduzido a mero consumidor submetido a um processo de escolha permanente diante de uma quase infinita possibilidade de consumo. 

Essa situação gera o esvaziamento do espaço público, da política, dos subsistemas da vida e da comunidade em favor das forças irracionais do indivíduo e da predominância do econômico. Disso resulta a violência, como produto de sociedades fragmentadas que atomizam a pessoa humana e minam as relações comunitárias, familiares e o agir coletivo, favorecendo a indiferença e a banalização do mal. 

A crise antropológica se manifesta no desprezo da dignidade humana. A vida perde valor. A manipulação de embriões, as práticas abortivas, as mortes absurdas e o desprezo pelos direitos fundamentais da pessoa humana são naturalizados. As violações se expressam em diversos níveis, justificando as condições para a exploração, os maus tratos, a agressão, a violência e a eliminação de certas categorias de pessoas, consideradas menos humanas do que outras ou, simplesmente, indesejáveis.  

Instaura-se a decadência ética e moral, cuja face mais visível é a corrupção, minando a confiança na democracia e perpetuando a crença na incompetência dos líderes. “A política tem as mãos cortadas. As pessoas já não acreditam no sistema democrático, porque ele não cumpre suas promessas” (BAUMAN, 2016).

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Deus e os desertos da vida: consolo, orientação e esperança

© Tischenko Irina / Shutterstock

Por Talita Rodrigues - publicado em 16/11/23

A fé em Deus pode servir como uma bússola moral, indicando caminhos a seguir e fornecendo um senso de propósito até mesmo quando a vida parece desprovida de significado.

O deserto, frequentemente usado como metáfora para períodos difíceis, desafios e momentos de solidão na vida, pode representar uma fase em que nos sentimos perdidos, desamparados ou em busca de significado. Diante desse cenário, o papel de Deus pode ser interpretado de várias maneiras, oferecendo consolo, orientação e esperança.

Vamos pensar em alguns tópicos sobre isso?

1
COMPANHIA E CONSOLO

Em meio ao deserto, a fé em Deus pode proporcionar um senso de companhia divina. A crença de que Deus está presente, mesmo nos momentos mais áridos da vida, pode trazer consolo emocional. Sentir-se acompanhado espiritualmente pode oferecer um alívio significativo durante tempos de solidão.

2
ORIENTAÇÃO E PROPÓSITO

Muitas tradições religiosas sugerem que Deus pode oferecer orientação nos momentos mais desafiadores. A fé em Deus pode servir como uma bússola moral, indicando caminhos a seguir e fornecendo um senso de propósito mesmo quando a vida parece desprovida de significado.

3
ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE

A crença em Deus frequentemente traz consigo a promessa de esperança. Em tempos de deserto, a fé oferece a perspectiva de que a situação pode mudar, que há uma possibilidade de renovação e crescimento, mesmo nas circunstâncias mais áridas.

4
DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA

A fé em Deus pode contribuir para o desenvolvimento da resiliência. Acreditar que há um plano divino, mesmo que não compreendamos completamente, pode fornecer força para enfrentar as adversidades e superar os obstáculos com determinação.

5
CONFIANÇA NA TRANSFORMAÇÃO

Em muitas tradições religiosas, Deus é visto como um agente de transformação. A fé na capacidade de Deus para transformar as situações mais desafiadoras em oportunidades de crescimento pode inspirar uma atitude positiva diante do deserto, promovendo a perseverança e a confiança no futuro.

Enfim, o papel de Deus diante do deserto pode ser multifacetado, proporcionando consolo, orientação e esperança para aqueles que buscam significado e propósito em momentos desafiadores. A fé é uma fonte valiosa de apoio emocional e espiritual, guiando as pessoas através dos desertos da vida em direção a uma jornada de crescimento, renovação e sentido para toda e qualquer dor.

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Fonte: https://pt.aleteia.org/

Cardeal Scherer: Missal novo?

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo metropolitano de São Paulo

A 3ª edição típica latina foi feita ainda no tempo do Papa São João Paulo II. Desde então, a CNBB, como as demais Conferências Episcopais, passaram ao trabalho das traduções, o que precisou da participação de especialistas em diversas línguas e em Liturgia.

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo metropolitano de São Paulo

No 1º domingo do Advento deste ano, entra em vigor em todo o Brasil a tradução revista e atualizada da 3ª edição típica do Missal Romano, o “livro da Missa” da Igreja Católica de Rito Romano ou Latino. Embora alguns digam que se trata de um “novo Missal”, ele, de fato, não é novo, mas uma nova edição do Missal, com ajustes da tradução dos textos e também com algumas inserções, que na edição ainda em vigor não haviam sido incluídas.

Quem tem autoridade sobre o Missal Romano é a Santa Sé, por meio do Dicastério para a Liturgia. Em última análise, é o Papa quem tem essa autoridade. A Santa Sé produziu o Missal na sua edição típica, ou originária, em latim. A partir desse texto original, todas as Conferências Episcopais, no uso de sua competência própria, fizeram a tradução fiel, ao mesmo tempo, adequada às línguas oficiais em seus países.

A 3ª edição típica latina foi feita ainda no tempo do Papa São João Paulo II. Desde então, a CNBB, como as demais Conferências Episcopais, passaram ao trabalho das traduções, o que precisou da participação de especialistas em diversas línguas e em Liturgia. À medida que as partes do Missal eram traduzidas, elas também eram submetidas ao crivo e à aprovação da assembleia geral da CNBB. Foram necessários mais de 20 anos para completar, finalmente, esse trabalho e para se chegar à impressão desta edição do Missal.

Mudou muito? As mudanças são muitas, ao longo de todo o texto. Procurou-se levar em conta o critério da fidelidade ao texto latino e, ao mesmo tempo, o estilo oracional na tradução portuguesa brasileira. Quem conhece bem o Missal vai perceber as mudanças facilmente. Além disso, foram inseridas fórmulas alternativas em várias partes da Missa, já previstas antes no texto latino, mas não incluídas na edição ainda em vigor. Também foi atualizado o Santoral, incluindo santos de mais recente canonização. O Missal, certamente, ficou mais enriquecido na nova edição. E vai requerer mais estudo e preparação da parte dos que presidem a Eucaristia e das equipes de celebração. E vai requerer alguma atenção especial dos participantes da celebração eucarística, para aprenderem as novas expressões, próprias da assembleia celebrativa, e para apreciar os textos.

O Missal contém uma riqueza imensa de fé, vida cristã e liturgia. Antes de tudo, ele é a expressão celebrativa da nossa fé. A fé que proclamamos é o conteúdo celebrado na liturgia da Igreja, muito especialmente na celebração eucarística. É por isso que o magistério da Igreja tem tanto cuidado na elaboração e na tradução dos textos litúrgicos. Eles devem ser totalmente sintonizados e coerentes com a fé que proclamamos.

Por outro lado, os textos litúrgicos estão impregnados da Palavra de Deus, que perpassa o Missal do começo ao fim. E os textos litúrgicos também trazem a herança espiritual da Igreja, desde os seus inícios. Muitas orações e fórmulas que usamos vêm do início do Cristianismo e também das celebrações do povo eleito, antes de Cristo. Na Liturgia da Missa, encontramos textos preciosos dos grandes pregadores, místicos e mestres da fé ao longo de dois mil anos. E também dos tempos mais recentes.

Mas tudo isso poderia ficar apenas no aspecto estético e cultural, se os textos da Liturgia não fossem usados a partir da fé da Igreja. É sempre oportuno lembrar o que diz o Concílio Vaticano II a respeito da ação litúrgica da Igreja: Ela é, ao mesmo tempo, obra de Cristo e da Igreja, mediante a ação do Espírito Santo. Nela, Deus é glorificado e o homem é santificado, conforme o que é próprio de cada ação litúrgica. Não se trata de mera representação teatral e de textos preciosos. É ação sagrada, por excelência, em que os ritos, gestos, palavras e ações significam uma realidade, e, ao mesmo tempo, mediante a ação do Espírito Santo, fazem acontecer a realidade significada.

E a celebração eucarística, para a qual se destina o Missal, é o ponto alto de toda vida e ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte da qual a Igreja recebe toda a sua vitalidade e eficácia. Por isso, a Liturgia da Missa precisa ser sempre mais compreendida, amada e participada. É o que me praz recomendar a todos nesta oportunidade da entrada em vigor da tradução portuguesa (brasileira) da nova edição do Missal Romano.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

História da Igreja: “Agora isso mostra” (3/3)

Máquina Quarantore de Gian Lorenzo Bernini na Capela Paulina, com o Santo Padre em adoração diante do Santíssimo Sacramento, em gravura de Francesco Piranesi (30Giorni)

Arquivo 30Dias - 09/2007

“Agora isso mostra”

Le Quarantore: uma tradição que é há séculos, juntamente com a festa do Corpus Domini , a expressão mais importante da piedade popular para com a Eucaristia na vida da Igreja. As memórias dos cardeais Fiorenzo Angelini e Giovanni Canestri.

por Giovanni Ricciardi

«Ainda me lembro com emoção» – ecoa o cardeal Angelini «quando estive no Seminário Romano e fomos com meus companheiros ao Quarantore de San Giovanni, garantindo sobretudo os turnos de adoração noturna. As Quarenta Horas foram um dos momentos centrais da vida espiritual do povo, e foram como uma extensão mais solene da “função” diária da noite. Estas celebrações eram como icebergs , nos quais havia pontos altos de espiritualidade, até popular, muito popular; você poderia facilmente encontrar pessoas sem instrução, mas não ignorantes, lá. Minha mãe, por exemplo, que certamente não sabia nada de teologia, mas raciocinava muito mais que eu. Todas as noites, nas paróquias de Roma, quando havia uma bênção e os sinos tocavam, ela me dizia: “Agora vamos mostrar!”. E ele parou, o que quer que estivesse fazendo."

«Seria bom propor novamente o Quarantore hoje», acrescenta o cardeal Angelini, «e que os bispos o apoiem. Na realidade sentimos a necessidade de ter, nas nossas paróquias, muitas paróquias, especialmente nas províncias italianas, que ainda as celebram; ou iniciativas de âmbito nacional, como a que vem sendo promovida há alguns anos pela associação Ajuda à Igreja que sofre, que em março voltou a propor o Quarantore "para a Igreja que sofre" em quarenta localidades italianas, incluindo Roma e Milão, em colaboração com outras comunidades paroquiais. No passado mês de Março, em Foggia, durante uma missão popular, os Quarantore foram publicamente repropostos: uma grande tenda foi montada numa das praças mais importantes da cidade e as pessoas foram convidadas a entrar e parar para rezar diante da Eucaristia. A configuração "voadora" lembrava - talvez sem querer - o antigo costume da Roma do século XVII de criar cenografias especiais para o Quarantore, algumas das quais foram desenhadas por artistas do calibre de Gian Lorenzo Bernini.

No passado mês de Abril, a popular paróquia de São Luca, em Roma, também deu origem ao Quarantore, organizado pelo movimento “Pro Sanctitate”, fundado por Monsenhor Giaquinta. E não é por acaso que esta realidade eclesial está ligada precisamente a esta forma de adoração. Na verdade, são as mulheres consagradas do "Pro sanctitate" que guardam, no coração de Roma, na via dei Serpenti, a casa onde Benedetto Giuseppe Labre, o santo mendigo e peregrino, está hoje sepultado no vizinho santuário do igreja, faleceu em 16 de abril de 1783. Madonna dei Monti, que fez do Quarantore o instrumento privilegiado de sua santificação: «Não havia afastamento de lugar», escreveu seu confessor, Padre Marconi, «nenhuma chuva tão forte, nenhum frio tão forte , nenhum calor tão excessivo que pudesse aguentar, mesmo estando mal coberto na cabeça, mal vestido e mal protegido nos pés. Ele passou dias inteiros ajoelhado diante do Seu altar. A sua devoção a Jesus no sacramento não é possível expressar. Foi este que lhe valeu o nome pelo qual foi chamado por aqueles que o conheceram: o pobre do Quarantore, ao vê-lo tão assíduo nas igrejas onde o Santíssimo Sacramento era exposto à veneração pública”.

Fonte: https://www.30giorni.it/

5º Congresso Missionário Nacional

5º Congresso Missionário Nacional (cnbb)

5º CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL ACONTECE EM MANAUS (AM) ATÉ QUARTA-FEIRA, 15

A Igreja no Brasil vivencia nesses dias o seu 5º Congresso Missionário Nacional. O evento teve início na noite da última sexta-feira, 10 de novembro, em Manaus (AM), com a missa presidida pelo arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jaime Spengler.

A organização do congresso contabilizou no início do evento 800 participantes, os quais foram acolhidos pelo arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner. As atividades seguem até quarta-feira, 15 de novembro.

Missionários e missionárias

5º Congresso Missionário Nacional (cnbb)

Em sua homilia na missa de abertura, dom Jaime Spengler refletiu sobre a passagem do Evangelho e fez referências ao tema “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo” e ao lema “Corações ardentes, pés a caminho”. Para ele, os batizados sãos enviados para anunciar o Evangelho a todos. “O ser discípulos de Jesus nos torna missionários e missionárias”, insistiu.

Segundo o arcebispo, “quando o coração arde, os pés ganham asas, o amor por Cristo consome quem se sente tocado, atingido, amado, que decide formar outros”. Ele enfatizou que a Igreja não vende um produto, mas têm uma vida divina para anunciar, testemunhando a Jesus “que nos amou primeiro”.

Mensagem do Papa

Durante a celebração, foi lida a mensagem do Papa Francisco enviada para o Congresso Missionário. O pontífice desejou que as Igrejas locais do “imenso Brasil, com o coração ardente pela paixão de evangelizar, ponham os pés a caminho, proclamando alegremente a todos os povos o Cristo Ressuscitado”. E pediu que não deixem “esmorecer o ardor” experimentado durante o evento.

O Papa também saudou as dioceses brasileiras que assumem o mandato missionário com a missão além fronteiras. “Quantos belo testemunhos de missionários e missionárias que, partindo dessa querida nação, anunciam a Boa nova em outros países, em outras culturas!”.

Francisco recordou de forma especial a Amazônia, sempre presente em suas oração e em seu coração. “A fé cristã chegou a essas terras como fruto do ardor missionário de homens e mulheres destemidos”. Leia a mensagem na íntegra.

Atividades

Entre as principais atividades de cada dia estão os painéis temáticos, momentos de aprofundamento das temáticas missionárias. Os participantes também experimentam a acolhida nas paróquias e nas famílias de Manaus, catequeses com os bispos e atrações culturais.

No domingo, 12, foi realizada a Romaria dos Mártires da Amazônia, que contou com a participação das comunidades, áreas missionárias e paróquias da arquidiocese de Manaus. O momento recordou quem assumiu as consequências da profecia, sendo um momento para agradecer a Deus por seu compromisso missionário.

Romaria dos Mártires da Amazônia (cnbb)

A missa da Romaria foi celebrada no mesmo local onde São João Paulo II celebrou a missa em sua visita a Manaus, em 1980. Presidiu a Eucaristia o bispo de Rondonópolis-Guiratinga (MT) e presidente da Comissão Episcopal para a Ação Missionária e a Cooperação Intereclesial da CNBB, dom Maurício Silva Jardim. Refletindo sobre as leituras apresentadas na Liturgia, ele salientou que “nossas sedes não se reduzem à sede de água e de coisas materiais, mas temos sede de infinito, de transcendência, de interioridade, de beleza”. Uma sede, que citando o cardeal Tolentino, “mostra-se no desejo de ser amado, olhado, cuidado e reconhecido”, que afirma que “a dor de nossa sede é a dor de nossa vulnerabilidade”.

Missa da Romaria (cnbb)

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O sentido do sofrimento para o cristão

fizkes | Shutterstock

Por Vanderlei de Lima - Igor Precinoti - publicado em 31/05/17 - atualizado em 14/11/23

Por que o ser humano, de fé ou sem fé, sofre? Qual a diferença notada no sofrimento de ambos?

Cada um de nós carrega a sua cruz de cada dia, mas, no campo da saúde, médicos e pacientes parecem ver essa cruz de forma mais direta, especialmente nos casos das moléstias incuráveis.

O paciente, no caso, sabe que vai morrer e o médico sente-se impotente por saber que nada pode fazer para debelar a doença que acomete seu cliente. Isso tudo desperta as perguntas: Por que o ser humano, de fé ou sem fé, sofre? Qual a diferença notada no sofrimento de ambos? Alguém terá tratado desse tema a fim de nos oferecer alguma luz? – É a estes questionamentos que o artigo se volta.

Em consideração à primeira questão, é preciso subir a escala desses seres para entender isso: o mineral não sofre. Pode ser talhado e martelado sem que sinta dor. É totalmente insensível; o vegetal, quando agredido, reage. A planta da qual se corta um ramo, tende a se restaurar; por conseguinte, no plano em que começa a vida, começa a resposta àquilo que pretende destruir o ser; o animal irracional (cão, gato, onça etc.) sofre, gemendo, chorando, urlando…, pois tem a vida sensitiva, por isto sente a dor; o ser humano, que vive no plano intelectivo, sofre mais ainda. Não somente sente dor física ou moral, mas também reflete sobre a sua dor, o que o faz sofrer duplamente.

E – note-se bem – quanto mais alguém é nobre e digno, tanto mais sofre. Assim, quem muito ama, muito sofre. Só não sofre quem tem a saúde mental comprometida. A razão do sofrimento dos mentalmente sadios está em que a pessoa percebe a diferença existente entre o ideal (o que deveria ser) e a realidade. Essa diferença suscita dor em quem tem sensibilidade para os verdadeiros valores.

Mais: o sofrimento funciona, segundo Viktor Frankl, professor de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Viena e pai da Logoterapia, como um lembrete ao homem, seja no plano físico ou moral: no físico, a dor faz o papel de vigilante a nos alertar que algo no corpo – ainda que oculto à primeira vista – não vai bem. É ela quem nos leva a buscar o auxílio médico; no plano moral, são os grandes desafios que nos fazem crescer e amadurecer. Sem os embates da vida, o ser humano pode chegar à grande estatura física, mas ser muito pequeno interiormente. Aliás, os antigos gregos já diziam: páthos-máthos: o sofrimento é escola. Daí, o ser humano de fé ver sentido em sua dor e o sem fé cair no desânimo ou apatia diante dos desafios da vida.

Sim, ao cristão, de um modo especial, recorda São Paulo (Colossensses 1,24): “Completo em minha carne o que falta à paixão de Cristo”. Ora, dar uma moldura nova – pois o sofrimento de Cristo já foi completo – à paixão do Senhor Jesus nos dias de hoje é algo valioso, mas entendido só na fé. Com sua experiência em campos de concentração nazistas, Frankl nota que a prisão (e também, por que não acrescentar, a doença) leva o ser humano a enxergar melhor sua pequenez e a não se desesperar, mas jogar-se confiante nas mãos de Deus. Quem compreende isso, entende os (as) santos(as) que, apesar de seus muitos sofrimentos, souberam ser fiéis até o fim sem esmorecer.

Diante desse quadro, também o médico aprende – caso tenha humildade e saiba ser aberto ao que está além de seus conhecimentos, importantes, mas limitados como o de todos os demais homens e mulheres em qualquer profissão que tenham escolhido – ao se ver ante um problema sem solução. Lê-se, por exemplo, o que segue: “Viktor von Weizsäcker afirmou certa vez que o doente que sofre corajosamente, dá lições ao médico que o trata. Um médico que possua certa finura de sensibilidade, terá diante de um doente incurável ou um moribundo, a sensação de não se poder aproximar dele sem certa vergonha. Enquanto o paciente surge como alguém que enfrenta com firmeza a sua sorte e leva a termo uma autêntica realização no plano espiritual, no plano físico ou na esfera das realizações médicas, deve reconhecer a sua insuficiência” (Pergunte e Responderemos n. 281, julho-agosto 1985, p. 336).

Eis como Medicina e Fé podem olhar para o sofrimento humano, misterioso, mas capaz de levar a profundas reflexões…

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Círio de Nazaré acontece pela primeira vez nos EUA

Círio de Nazaré | Soraya Montanheiro

Uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré estará pela primeira vez nos EUA, onde acontecerá no domingo (19) um Círio de Nazaré em Miami, Flórida. “É uma maneira de estar um pouquinho perto da nossa religiosidade, da nossa fé, da devoção, mas também da nossa cultura, a cultura do povo paraense”, disse o paraense Carlos Waldney, responsável pelo Círio nos EUA juntamente com a comunidade brasileira de Kendall.

A imagem peregrina seguirá diretamente da basílica santuário de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém (PA), para os EUA, e ficará no país de 16 a 20 de novembro. Além da comunidade de Kendall, a visita é uma ação conjunta entre a Secretaria de Turismo (SETUR) do Pará e a Diretoria da Festa de Nazaré (DFN). A imagem será acompanhada pelo pároco da basílica santuário, padre Francisco Cavalcante, e os diretores da DFN, Antônio Salame e Augusto Vasconcelos.

Waldney contou à ACI Digital que a ideia de levar o Círio de Nazaré para os EUA surgiu depois que ele se mudou para o país, no final de 2021. Ele disse que, na época, participou de uma celebração em honra a Nossa Senhora Aparecida na comunidade. “Coincidentemente, o diácono é paraense. Então, falei para ele: ‘por que não podemos fazer algo para Nossa Senhora de Nazaré?’”

A ideia era “fazer uma homenagem a Nossa Senhora de Nazaré”, mas “a coisa foi tomando corpo”. Waldney entrou em contato “com os setores responsáveis nos EUA e no Brasil para saber como é o procedimento para receber uma imagem peregrina do Brasil”. Além disso, mobilizaram “a comunidade que, como um todo, abraçou a ideia”.

Entre as iniciativas para tornar a devoção conhecida, Waldney contou que, ao final dos grupos de oração tinham um momento para chamar as pessoas, falar sobre Nossa Senhora de Nazaré e o Círio. Segundo ele, muitos “passaram a se interessar pela história de devoção a Nossa Senhora de Nazaré, o Círio, e a cada momento, iam se envolvendo mais e estando juntos para fazer com que isso se tornasse realidade”.

O Círio de Nazaré no domingo será uma pequena versão do Círio que acontece em Belém (PA). “Lógico que não se compara ao Círio como é em Belém, mas é uma forma de remontarmos a essa devoção, essa história de devoção a Nossa Senhora, com ícones do Círio, a berlinda, a corda, os hinos”, disse Waldney. Ele destacou que, na capital paraense, “a corda do Círio tem 400 metros”, em Miami, “terá 40 metros”; em Belém, “o percurso é de quatro quilômetros”, nos EUA, “serão 500 metros”.

“É pequeno? É, mas conseguimos passar um pouco para as pessoas essa experiência do que é conduzir a Nossa Senhora, puxando sua corda”, disse.

Para ele, esta é “uma forma de trazermos a evangelização, trazermos Nossa Senhora para a comunidade não só brasileira que está aqui, e paraense principalmente, mas também para a comunidade americana e a hispânica que é muito forte aqui”.

Entre os dias 16 e 18 de novembro, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré passará por diferentes igrejas, onde “haverá uma missa regular com a presença de Nossa Senhora”. “É a peregrinação dela, Ela peregrina nessas comunidades brasileiras, convidando os devotos a estarem no domingo no Círio de Nazaré”, disse.

Wladney destacou que “a comunidade brasileira no sul da Flórida é a segunda maior comunidade brasileira nos EUA”, estando atrás apenas de Boston. Mas, segundo ele, os organizadores do Círio em Miami não tem uma expectativa quando ao número de participantes. “A nossa expectativa é que estejam presentes católicos, brasileiros, paraenses, devotos que queiram pedir, agradecer por graças alcançadas pela intercessão de Nossa Senhora”.

A imagem peregrina e a comitiva do Brasil também serão recebidos na quinta-feira (16), às 15h, pelo cônsul-geral do Brasil em Miami, embaixador André Carvalho.

A programação completa da peregrinação da imagem de Nossa Senhora de Nazaré e do Círio nos EUA pode ser conferida AQUI.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF