Para manter as tábuas da lei, Deus mandou que se construísse
uma arca que, além de proteger as placas representaria sua aliança selada com o
povo.
Padre José Inácio Medeiros, CSsR - Instituto
Histórico Redentorista
De acordo com a narrativa bíblica, o povo hebreu ao assumir
uma aliança com Javé, selada com a aspersão do sangue de um cordeiro, recebeu
dez mandamentos gravados em duas placas de pedra. Os mandamentos eram pontos
fundamentais que regeriam os hábitos, as crenças e toda a vida do povo.
Para manter as tábuas da lei, Deus mandou que se construísse
uma arca que, além de proteger as placas representaria sua aliança selada com o
povo. A arca assinalaria a presença de Deus no meio do povo. O Livro do Êxodo
traz regras exatas para a sua construção no capítulo 25, versículos de 10 a 22.
Diga aos israelitas que façam uma arca de madeira de
acácia, de um metro e dez de comprimento por sessenta e seis centímetros de
largura e sessenta e seis de altura. Revistam de ouro puro essa caixa, por
dentro e por fora. E em toda a volta coloquem um remate de ouro. Façam
também quatro argolas de ouro e ponham nos quatro pés, ficando duas argolas de
cada lado. Façam cabos de madeira de acácia e revistam de
ouro. Enfiem os cabos nas argolas nos lados da arca, para que ela possa
ser carregada. Os cabos ficarão nas argolas da arca e não serão tirados
dela. Eu lhe darei as duas placas de pedra, onde estão escritos os
mandamentos; e você porá essas placas na arca.
Faça também uma tampa de ouro puro, de um metro e dez
de comprimento por sessenta e seis centímetros de largura. Faça dois
querubins de ouro batido, um para cada ponta da tampa. Isso deve ser feito
de modo que os querubins formem uma só peça com a tampa. Os querubins
ficarão de frente um para o outro, olhando para a tampa. As suas asas ficarão
abertas, cobrindo a tampa. Coloque dentro da arca as duas placas de pedra
que eu vou lhe dar e ponha a tampa na arca. Ali eu me encontrarei com você
e, de cima da tampa, do meio dos dois querubins, eu lhe darei as minhas leis
para o povo de Israel. Livro do Êxodo capítulo 25,
versículos de 10 a 22.
A Arca da Aliança se tornou a mais preciosa relíquia do
judaísmo, mostrando a evolução religiosa do povo que passa das influências
politeístas para o culto ao Deus vivo e verdadeiro. Ela era levada em procissão
quando o povo caminhava pelo deserto até ser depositada no Tempo construído por
Salomão em Jerusalém.
A sacralidade da Arca da Aliança
O mais antigo relato sobre a Arca da Aliança é do período do
cativeiro do povo no Egito, por volta de 1.300 a.C, Segundo a narrativa o Livro
do Êxodo fala que Deus selou uma aliança com o povo, através de Moisés, aos pés
do Monte Sinai.
Como as narrativas do livro do Êxodo foram elaboradas muito
tempo depois de os fatos terem acontecido, especialistas da história bíblica
explicam que os eventos iniciais da história hebraica podem ter sido formulados
durante o cativeiro hebreu na Babilônia. Neste sentido, além de ser descrita
como uma demonstração do favor divino, a Arca da Aliança era dotada de poderes
sobrenaturais. Por isso, somente os sacerdotes levitas podiam entrar na tenda
onde a Arca era conservada. Mais tarde, durante as batalhas pela reconquista da
Terra de Canaã, a Arca da Aliança era levada aos locais de batalha para animar
os que lutavam e garantir as vitórias.
O caráter sagrado da Arca também foi descrito no livro de
Samuel, quando os filisteus a roubaram, sendo acometidos de diferentes punições
misteriosas.
E enviaram, e congregaram a todos os príncipes dos
filisteus, e disseram: Enviai a arca do Deus de Israel, e torne para o seu
lugar, para que não mate nem a nós e nem ao nosso povo. Porque havia mortal
vexame em toda a cidade por onde a arca passava, e a mão de Deus muito se
agravara ali. Primeiro Livro de Samuel, capítulo 5,
versículo 11.
Depois que o povo entrou na Terra Prometida, no reinado do
rei Salomão, entre 970 e 931 a.C. se construiu o Templo de Jerusalém, onde a
Arca foi mantida. Após o reinado do Salomão houve a decadência que levou à
separação do reino entre Judá e Israel. O povo perdeu sua liberdade e a
localização da arca passou a depender do destino do povo devido à dominação
estrangeira.
No ano de 586 a.C os babilônios conquistaram a cidade de
Jerusalém e de acordo com o livro dos Macabeus, o profeta Jeremias teria
escondido a Arca no monte Nebo, depois de profetizar a destruição de Jerusalém.
Mas é possível que ela tenha sido levada como troféu ou espólio pela vitória e
nunca mais se teve certeza sobre o seu paradeiro. Quando os hebreus voltaram à
Jerusalém, no ano de 539 a.C., reconstruíram o templo mantendo o local da Arca
vazio, pois ela nunca mais foi encontrada.
Esta constatação foi feita pelo general romano Pompeu que ao
tomar a cidade de Jerusalém, no ano 70 d.C. indagou sobre os motivos pelos
quais os judeus mantinham um quarto vazio em seu templo. A tomada de Jerusalém
e sua transformação numa cidade pagã com o nome de Aedes Capitolina provocou a
chamada Diáspora Judaica, mantendo o mistério sobre o destino da Arca da
Aliança.
No século XII, no período das cruzadas que tentavam libertar
a Terra Santa do domínio dos mouros, apareceram relatos não comprovados de que
a Ordem dos Templários tivesse resgatado e mantido em segredo várias relíquias
do tempo dos judeus como a Arca da Aliança e também outras relíquias do
cristianismo como o Santo Graal.
Onde está a Arca da Aliança
A existência da Arca da Aliança e o seu destino é um grande
mistério que volta e meia ganha destaque em filmes, documentários e obras
literárias todas bastante fantasiosas. As explicações sobre o paradeiro desta e
de outras relíquias da narrativa bíblica confundem os limites entre fé e
Ciência.
Antes reservadas aos estudiosos da bíblia, as histórias
sobre a Arca da Aliança ganharam o mundo com as aventuras de Indiana Jones no
filme Os Caçadores da Arca Perdida. Se o destemido arqueólogo do cinema é
bem-sucedido em sua busca, o paradeiro e a existência real da relíquia
continuam mais misteriosos do que nunca.
Existe até um grupo religioso etíope que afirma manter a
Arca escondida. Segundo eles, os monges da Igreja Santa Maria de Sião teriam
recebido a arca das mãos de Menelik, filho que o Rei Salomão teve com a rainha
de Sabá, em 950 a.C. Segundo os monges, a Arca da Aliança permanece escondida
em um templo e até hoje ninguém recebeu autorizado para entrar neste templo e,
finalmente, desvendar o mistério sobre ela.
Sem maiores comprovações, volta e meia fala-se de
arqueólogos que realizam buscas na cidade de Jerusalém e em outros lugares.
Mesmo não sendo encontrada ou sendo uma mera invenção mítica, a Arca tem
importante significado religioso para os judeus e mesmo para os cristãos que
expressam sua devoção em Maria, a Arca da Nova e Eterna Aliança que nunca mais
terá fim, pois é o próprio Jesus.
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