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sábado, 28 de junho de 2025

Missa hispano-moçárabe é celebrada na basílica de São Pedro pela quinta vez na história

Esse tipo de liturgia foi celebrado na Espanha principalmente no período visigótico, por volta do século VI d.C. | Daniel Ibáñez/EWTN

Por Victoria Cardiel

27 de junho de 2025

Uma missa na basílica de São Pedro, no Vaticano, foi celebrada ontem (26) no rito hispano-moçárabe, característica dos cristãos que viviam sob o domínio islâmico na península ibérica.

O arcebispo de Toledo e primaz da Espanha, Francisco Cerro Chaves, celebrou a missa no Altar da Cátedra, segundo esse antigo rito, uma das poucas liturgias ocidentais não-romanas que sobreviveram ao passar dos séculos.

Na homilia, o arcebispo defendeu a comunhão com Cristo, com a Igreja e com o sucessor de são Pedro, enfatizando que essas três realidades "não são negociáveis".

"Não se pode brincar com a comunhão com Cristo, não se pode brincar com a comunhão com a Igreja e não se pode brincar com a comunhão com Pedro", disse Chaves.

Inspirado pelo Evangelho do dia, o arcebispo centrou seu sermão na pergunta de Jesus: "E vós, quem dizeis que eu sou?" (cf. Lc 9, 20).

"Essa pergunta é dirigida a cada um de nós hoje”, disse o primaz da Espanha. “E a nossa resposta muda tudo: a história muda, a vossa paisagem muda, o vosso coração muda".

"É a pergunta mais importante que o Evangelho faz”, disse também o arcebispo de Toledo. “E Pedro responde: Tu és o Filho do Deus vivo”.

Citando Bento XVI, o arcebispo espanhol disse que o cristianismo nasce de um encontro pessoal com Cristo e que ser cristão implica também viver em comunhão com a Igreja e o Papa.

"Santo Inácio de Antioquia diz isso claramente: nada sem o bispo, nada sem Pedro", disse o primaz da Espanha.

Cerro também elogiou a missão do papa como guardião da fé e mensageiro do Evangelho ao mundo.

"A tarefa do papa é dizer a toda a humanidade: Tu és o Filho do Deus vivo”, disse o arcebispo espanhol. “Por isso, ele vai às periferias, às dioceses, às aldeias, para proclamar o amor de Cristo".

A missa mozárabe, que fez parte da peregrinação de 200 pessoas da arquidiocese de Toledo a Roma para o Jubileu da Esperança, teve a presença de vários representantes da cúria romana: entre eles, o bispo Alejandro Arellano Cedillo, decano da Rota Romana; o bispo Aurelio García Macías, subsecretário do Dicastério para o Culto Divino; o bispo auxiliar de Toledo, Francisco César García Magán, secretário-geral da Conferência Episcopal Espanhola; e o leigo espanhol Massimino Caballero Ledo, prefeito da Secretaria de Economia da Santa Sé.

O rito hispano-moçárabe

Junto com o rito romano, o rito galicano, o rito ambrosiano e o rito bracarense, o rito hispano-moçárabe faz parte do conjunto de ritos desenvolvidos em torno das antigas sedes metropolitanas do Ocidente.

“Esse rito faz parte das liturgias ocidentais que se formaram em torno de uma Sé: a liturgia romana (Roma), a liturgia Galicana (Lyon, França), a liturgia ambrosiana (Milão, Itália) e a liturgia bracarense (Braga, Portugal)”, diz o padre Salvador Aguilera, consultor do Dicastério para as Igrejas Orientais, a quem Cerró agradeceu por seu envolvimento para tornar possível a celebração na basílica de São Pedro desse rito, nascido no coração da antiga Igreja visigótica e ainda viva em Toledo.

Espanha visigoda

Segundo Aguilera, doutor em liturgia, esse modo de celebrar a missa atingiu seu auge no período visigótico, especialmente depois da conversão oficial do reino ao catolicismo no terceiro concílio de Toledo, em 589 d.C.

No entanto, sua história não foi isenta de momentos de perseguição, correndo o risco de desaparecer para sempre. Depois da invasão muçulmana à península ibérica em 711 d.C., muitos livros litúrgicos e relíquias tiveram que ser transferidos para o norte da Espanha para serem guardados em segurança.

Em 1080, a mando do papa são Gregório VII, foi convocado o concílio de Burgos, que aboliu o rito. No entanto, alguns anos depois, em 1085, com a reconquista de Toledo pelo rei Afonso VI, os moçárabes obtiveram o privilégio de preservar sua liturgia.

Desde então, a preservação do rito hispano-moçárabe tem sido obra de grandes figuras eclesiásticas. "Três nomes marcaram a história do rito desde a sua abolição até os dias atuais: os cardeais Cisneros, Lorenzana e González", diz o padre Aguilera.

O cardeal Francisco Jiménez de Cisneros, arcebispo de Toledo de 1495 a 1517, "empreendeu uma reforma que não só afetou questões materiais, como paróquias e livros litúrgicos, mas também promoveu a formação do clero, garantindo a continuidade de uma liturgia tão antiga", diz o especialista.

O cardeal Cisneros instituiu a capela moçárabe de Corpus Christi na catedral de Toledo e encomendou a publicação do Missale mixtum secundum regulam Beati Isidori (1500) e do Breviarium secundum regulam Beati Isidori (1502). Séculos depois, o cardeal Lorenzana publicou outras edições do breviário (1775) e do missal (1804), obras fundamentais para a preservação do rito.

No século XX, o cardeal Marcelo González Martín reacendeu o movimento reformista depois do concílio Vaticano II.

"Seguindo as instruções da constituição Sacrosanctum concilium sobre a reforma dos Ritos, ele nomeou uma comissão para produzir a edição latina do Missale Hispano-Mozarabicum em dois volumes... e do Liber commicus (Lecionário)”.

Trinta anos depois da reforma conciliar, em 1992, o primeiro volume do recém-publicado Novo Missal Hispano-Moçárabe foi apresentado ao papa são João Paulo II, e o papa quis celebrar a missa em seguida. O dia 28 de maio de 1992, solenidade da Ascensão do Senhor, marcou a primeira vez que um papa celebrou a missa conforme esse rito.

Segundo o padre Aguilera, na ocasião, o papa polonês expressou sua "profunda satisfação pelo meritório trabalho realizado na revisão do rito hispano-moçárabe, cumprindo assim os requisitos da constituição Sacrosanctum concilium sobre a Sagrada Liturgia”.

“Isso deu à Igreja da Espanha um fruto precioso, que também representa um eminente serviço à cultura, na medida em que representa uma recuperação das fórmulas com as quais seus antepassados ​​expressaram sua fé", disse também o padre.

Outras ocasiões em que este rito foi celebrado na basílica de São Pedro foram em 2000, por ocasião do Grande Jubileu, numa missa celebrada pelo então arcebispo de Toledo, cardeal Francisco Álvarez Martínez; e em 2015, no Jubileu da Misericórdia, em outra missa celebrada pelo então arcebispo de Toledo e atual arcebispo emérito, Braulio Rodríguez Plaza.

*Victoria Cardiel é jornalista especializada em temas de informação social e religiosa. Desde 2013, ela cobre o Vaticano para vários veículos, como a agência de noticias espanhola Europa Press, e o semanário Alfa y Omega, da arquidiocese de Madri (Espanha).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63409/missa-hispano-mocarabe-e-celebrada-na-basilica-de-sao-pedro-pela-quinta-vez-na-historia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF