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domingo, 25 de fevereiro de 2024

Papa no Angelus: Abramo-nos à luz de Jesus

Angelus de 25/02/2024 com Papa Francisco (Vatican Media)

Durante o Angelus deste domingo (25/02), Francisco incentiva-nos a manter sempre os nossos olhos fixos no rosto luminoso de Jesus: “Ele é amor e vida sem fim. Ao longo das trilhas da existência, às vezes tortuosas, busquemos sua face, repleta de misericórdia, de fidelidade e de esperança”, destaca o Pontífice.

Thulio Fonseca - Vatican News

Mesmo se recuperando de uma “leve gripe”, conforme comunicado ontem (24/02) pela Sala de Imprensa do Vaticano, o Papa compareceu ao seu compromisso dominical: a oração mariana do Angelus com os fiéis reunidos na Praça São Pedro. Em sua reflexão, Francisco meditou sobre o Evangelho deste segundo domingo da Quaresma (25/02), que narra o episódio da Transfiguração de Jesus (cf. Mc 9,2-10).

O Santo Padre recordou que "depois de anunciar sua Paixão aos discípulos, Jesus leva consigo Pedro, Tiago e João, sobe um alto monte e ali se manifesta fisicamente com toda a sua luz, revelando a eles o sentido do que tinham vivido juntos até aquele momento".

A pregação do Reino, o perdão dos pecados, as curas e os sinais realizados eram, de fato, centelhas de uma luz ainda maior: "a luz de Jesus, a luz que é Jesus", enfatizou o Papa.

Jamais desviar os olhos da luz de Jesus

Segundo Francisco, é isso que os cristãos são chamados a fazer no caminho da vida: "ter sempre diante dos olhos o rosto luminoso de Cristo". 

“Abramo-nos à luz de Jesus! Ele é amor e vida sem fim. Ao longo das trilhas da existência, às vezes tortuosas, busquemos sua face, repleta de misericórdia, de fidelidade e de esperança.”

Cultivar um olhar atento

O Pontífice destacou que a oração, a escuta da Palavra, os Sacramentos, especialmente a Confissão e a Eucaristia, são importantes auxílios para seguir este percurso, e completou: 

“Eis um bom propósito para a Quaresma: cultivar olhares atentos, tornar-se 'exploradores de luz', exploradores da luz de Jesus na oração e nas pessoas.”

Maria, resplandecente da luz de Deus

Por fim, o convite do Papa a uma reflexão interior: 

"Em meu caminho, mantenho os olhos fixos em Cristo que me acompanha? E para fazê-lo, dou espaço ao silêncio, à oração, à adoração? Por fim, busco cada pequeno raio da luz de Jesus, que se reflete em mim e em cada irmão e irmã que encontro? E me lembro de agradecê-lo por isso?" 

"Maria, resplandecente da luz de Deus, nos ajude a manter o olhar fixo em Jesus e a nos olharmos mutuamente com confiança e amor", conclui Francisco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Primeira Pregação da Quaresma 2024 do cardeal Cantalamessa - Parte 3

Primeira Pregação da Quaresma do cardeal Cantalamessa

"Nós, porém, encontramo-nos aqui no contexto da Cúria, que não é uma comunidade religiosa ou matrimonial, mas de serviço e de trabalho eclesial. As ocasiões para não desperdiçar, se quisermos também nós sermos moídos para nos tornarmos trigo de Deus, são muitas, e cada um deve identificar e santificar aquela que lhe é oferecida em seu posto de serviço".

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap
“EU SOU O PÃO DA VIDA”
Primeira Pregação da Quaresma de 2024

O objetivo final do deixar-se moer não é, porém, natureza ascética, mas mística; não serve tanto para mortificar a si mesmo, mas para criar a comunhão. É uma verdade esta, que tem acompanhado a catequese eucarística desde os primeiros dias da Igreja. Está presente já na Didaqué (IX,4), um escrito dos tempos apostólicos. Santo Agostinho desenvolve este tema de modo estupendo em um seu discurso ao povo. Ele põe em paralelo o processo que leva à formação do pão que é o corpo eucarístico de Cristo e o processo que leva à formação do seu corpo místico que é a Igreja. Dizia:

Lembrai-vos um instante o que era uma vez, quando estava ainda no campo, esta criatura que é o trigo: a terra a fez germinar, a chuva a nutriu; depois houve o trabalho do homem que a trouxe para a eira, a debulhou, a peneirou e a depositou nos celeiros; daí, levou-a para moê-la e cozinha-la e, assim, finalmente, tornou-se pão. Agora pensai novamente em vós mesmos: não existíeis e fostes criados, fostes trazidos à eira do Senhor, fostes debulhados... Quando destes vossos nomes para o batismo, começastes a ser moídos pelos jejuns e pelos exorcismos; depois, finalmente viestes à água fostes modelados e vos tornastes uma só coisa; sobrevindo o fogo do Espírito Santo, fostes cozidos e vos tornastes pão do Senhor. Eis o que recebestes. Como, portanto, vedes que é um o pão preparado, assim também sois vós uma só coisa, amando-vos, conservando a mesma fé, uma mesma esperança e indivisa caridade”[7].

Entre os dois corpos – o eucarístico e o místico da Igreja – não há somente semelhança, mas também dependências. É graças ao mistério pascal de Cristo operante na Eucaristia que nós podemos encontrar a força de nos deixar moer, dia após dia, nas pequenas (e às vezes nas grandes!) circunstâncias da vida.

*    *    *

Concluo com um episódio realmente ocorrido, narrado em um livro intitulado “O preço a pagar por me tornar cristão”, escrito em francês e traduzido em várias línguas. Ele serve, melhor do que longos discursos, para nos dar conta da potência encerrada nos solenes “Eu Sou” de Jesus no Evangelho e, particularmente, daquele que comentei nesta primeira meditação.

Há algumas décadas, em uma nação do Oriente Médio, dois soldados – um cristão e o outro não – encontraram-se juntos para fazer guarda a um depósito de armas. O cristão frequentemente tirava, às vezes também à noite, um pequeno livro e o lia, atraindo a curiosidade e a ironia do companheiro de armas. Certa noite, este último tem um sonho. Encontra-se diante de uma torrente que, porém, não consegue atravessar. Vê uma figura envolta de luz que lhe diz: “Para atravessá-la, precisas do pão da vida”. Fortemente impressionado pelo sonho, pela manhã, sem saber porque, pede, melhor, força o companheiro a lhe dar aquele seu livro misterioso (tratava-se naturalmente dos Evangelhos). Abre-o, e cai sobre o evangelho de João. O amigo cristão o aconselha a começar pelo de Mateus, que é mais fácil de entender. Mas ele, sem saber porque, insiste. Lê tudo avidamente, até chegar ao capítulo sexto. Mas, neste ponto, é bom escutar diretamente a sua narrativa:

Chegando ao capítulo sexto, detenho-me, tocado pela força de uma frase. Por um momento, penso ser vítima de uma alucinação, e volto a olhar o livro, no ponto onde me detive... Acabei de ler estas palavras: “...o pão da vida”. As mesmas palavras que ouvi há algumas horas em meu sonho. Releio lentamente a passagem na qual Jesus, voltando aos discípulos, diz: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome”. Desencadeia em mim, justamente naquele instante, algo de extraordinário, como uma explosão de calor e de bem-estar... Tenho a impressão de ser arrebatado, levado ao alto pela força de um sentimento jamais provado, uma paixão violenta, um amor desmedido por este homem Jesus, de quem falam os Evangelhos”[8].

O que, em seguida, esta pessoa teve que sofrer por sua fé, confirma a autenticidade da sua experiência. Nem sempre a palavra de Deus age em um modo assim explosivo, mas o exemplo, repito, mostra-nos que força divina está encerrada nos solenes “Eu Sou” de Cristo, que, com a graça de Deus, repropomo-nos comentar nesta Quaresma.

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Tradução de Frey Ricardo Luiz Farias 

Notas
[7] Cf. Agostinho, Sermo 229 (Denis 6) (PL 38, 1103).
[8] Cf. Joseph Fadelle, Le prix à payer. Les Editions de l’Oeuvre, Paris 2010.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os desafios de lidar com o envelhecimento dos pais – e como evitar conflitos - Parte 2

Número de idosos no Brasil aumentou mais de 50% em pouco mais de uma década (GETTY IMAGE)

Os desafios de lidar com o envelhecimento dos pais – e como evitar conflitos

Por Vinícius Lemos

24 de fevereiro de 2024

Da BBC News Brasil em São Paulo

Inversão de papéis?

Nos casos em que os idosos preservam sua autonomia, é importante que as decisões e escolhas dos pais sejam respeitadas pelos filhos, dizem os especialistas.

“Incentivar a tomada de decisões (dos pais) sempre que possível e respeitar suas escolhas contribui para uma relação mais positiva”, afirma Falcão.

A dificuldade em respeitar a autonomia dos pais pode ocorrer por estereótipos relacionados à velhice e pelo etarismo (ou idadismo), o preconceito com pessoas mais velhas.

Mas, enquanto muitos idosos conseguem permanecer independentes, outros precisam de auxílio constante.

Em diversos cenários, principalmente quando se fala em cuidados intensos, muitas mulheres acabam sobrecarregadas.

Um levantamento divulgado em 2023 pela Fundação Seade, um sistema de análise de dados, mostrou que 90% dos cuidadores de pessoas com demência em São Paulo são do sexo feminino.

O número ilustra uma realidade que pesquisadores sobre o envelhecimento apontam que ocorre em todo o país.

“Comumente, as filhas que assumem o cuidado de pais idosos com doença de Alzheimer, por exemplo, com a evolução da demência, percebem uma inversão hierárquica de papéis, em que elas passam a ter mais poder e controle em relação a eles, levando-as muitas vezes a terem a sensação de que passaram a ser mãe deles”, diz Falcão.

Mas a geriatra Fernanda Andrade diz que o envelhecimento, embora implique que pais e filhos assumirão novos papeis, não significa que estes papeis serão invertidos e que os pais passam a ser os filhos da relação.

“Os pais nunca se tornam filhos. Filhos estão aprendendo, filhos estão sendo preparados para a vida adulta e são uma tela em branco para os pais colorirem da forma que julgam melhor”, diz.

"Pessoas idosas são telas rabiscadas, cheias de experiências e valores prévios já muito bem estabelecidos."

Cuidar de um pai ou mãe idosa ou de um filho pequeno são situações bem diferentes, diz Andrade.

"Um pai com sequela de AVC ou uma mãe com Alzheimer não está no script da vida de ninguém. Isso vira a vida dos filhos de cabeça para baixo, afeta o trabalho e aumenta os custos familiares, sem planejamento algum”, pontua.

"Coletivamente falando, são poucas as pessoas compreensivas com os filhos cuidadores. Ai de você caso falte no emprego porque a sua mãe teve febre!”, acrescenta Andrade.

Envelhecimento saudável

De forma geral, é difícil prever quais serão exatamente os desafios enfrentados nesta fase da vida.

"A realidade do envelhecimento no Brasil é bem heterogênea", diz a geriatra Fernanda Andrade.

"Envelhecer bem não é só uma questão genética, mas também ambiental e está relacionada ao acesso a melhores cuidados de saúde.”

Os especialistas defendem que pessoas idosas não devem ser vistas como alguém que está necessariamente doente ou que está perto de morrer.

Possíveis problemas de saúde física ou mental, fragilidade e diminuição da capacidade funcional não devem ser um impedimento para uma velhice confortável, dentro do possível que a saúde permitir.

Em qualquer cenário, que varia conforme os cuidados que os pais precisarem, é importante que os filhos sempre tentem ser uma forma de apoio.

“Antigamente a pessoa envelhecia, adoecia e morria. Ser velho era quase uma sentença de dependência física ou cognitiva”, pontua Andrade.

"Hoje, temos uma gama enorme de pessoas envelhecendo e bem. Ativas, trabalhando, saudáveis. Mas isso ainda é recente. Leva-se tempo para mudar uma cultura.”

Cada situação e condição de saúde dos pais vai exigir um tipo de apoio diferente.

Uma das principais formas com que filhos podem apoiar seus pais nesse período, segundo especialistas, é incentivar que uma pessoa idosa cuide das doenças crônicas que surgem nessa idade para que tenham boa qualidade de vida.

Ao mesmo tempo, é importante que os filhos incentivem os pais a se exercitarem fisicamente e mentalmente – por meio de leituras e diferentes tipos de aprendizados, como o de um novo idioma.

“É importante reconhecer e apoiar o bem-estar emocional dos pais. Isso envolve estar atento a sinais de depressão, solidão ou ansiedade, e buscar ajuda profissional quando necessário”, diz Falcão.

Os benefícios de se planejar e de ter uma relação próxima

Uma forma de tornar esse período da vida mais suave é se planejar para o envelhecimento, apontam as especialistas ouvidas pela reportagem.

“Aqueles filhos que participam de discussões sobre planejamento antecipado, como cuidados de saúde e decisões financeiras, tendem a lidar de maneira mais eficaz com o envelhecimento dos pais”, afirma Falcão.

Mas esse planejamento, dizem as especialistas, ainda é pouco debatido nas famílias, que acabam enfrentando cada problema conforme eles vão surgindo.

“A educação para o envelhecimento é vital, pois nos capacita a enfrentar as transições com compreensão e empatia, o que favorece a qualidade de vida e a autonomia”, declara Falcão.

Ao mesmo tempo, nem tudo é dificuldade quando se fala em acompanhar o envelhecimento dos pais. Há benefícios ao tentar estar perto deles durante esse período.

“Conviver com os pais mais velhos e cuidar deles permite que a gente reveja laços e acerte pendências”, diz Andrade.

“Encarar o declínio e a finitude da vida de alguém também nos faz refletir sobre a nossa própria vida, valores e sobre como queremos ser cuidados na nossa velhice.”

O bom relacionamento com os filhos costuma ser fundamental para que os pais encarem os momentos mais difíceis do envelhecimento. Isso também pode ajudar os próprios filhos.

“A dinâmica familiar positiva, com expressões de afeto e envolvimento do idoso nas atividades familiares, contribui para melhorar o relacionamento entre pais e filhos”, afirma Falcão.

Pesquisas sugerem que os vínculos positivos com os pais idosos são também uma fonte de apoio para os filhos cuidadores, acrescenta a especialista.

“É importante destacar que, embora os desafios sejam comuns, o envelhecimento também pode trazer oportunidades de crescimento pessoal, novos aprendizados e formas de se envolver com a vida", diz Falcão.

"Adotar uma abordagem positiva e proativa para enfrentar esses desafios pode contribuir para um envelhecimento mais saudável e satisfatório.”

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Exercícios Espirituais com o cardeal Cantalamessa (V)

Exercícios Espirituais - Cardeal Cantalamessa (Vatican News)

De 19 a 24 de fevereiro, é proposto um minuto com o pregador da Casa Pontifícia para rezar com o Papa e a Cúria Romana através das redes sociais do Vatican News.

https://youtu.be/9_fGJTuv8o0

Vatican News

Nesta semana em que o Papa Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana estão fazendo os Exercícios Espirituais da Quaresma, o Vatican News propõe em suas redes sociais X, Facebook, Instagram e WhatsApp uma reflexão por dia, de 19 a 24 de fevereiro, do pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa.

"Pediram-me para compartilhar com vocês, durante seis dias, uma reflexão de cerca de um minuto. Existem, no mundo, poucas palavras capazes de dizer em um minuto o suficiente para preencher um dia e, de fato, uma vida: aquelas que saem da boca de Jesus. Oferecerei a vocês uma de cada vez, pedindo-lhes que a 'mastiguem' durante todo o dia, como se fosse uma goma de mascar da alma", disse o cardeal Cantalamessa.

A reflexão do cardeal

A palavra que nos acompanha hoje é aquela que Jesus dirigiu a Zaqueu, que subiu numa figueira para vê-Lo. Passando por ali, Jesus levantou o olhar e em tom de convite, não de repreensão, lhe disse: "Zaqueu, desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje!". Zaqueu sou eu que falo e Zaqueu é você que ouve. "Quero ficar em sua casa", dito a nós, significa: Quero entrar na intimidade da sua vida. Não é suficiente encontrar você em meio à multidão, nem mesmo na Igreja. Evoquemos em nossa mente o convite do Papa Francisco no início da sua Evangelii Gaudium: "Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar".

No que consiste este famoso "encontro pessoal" com Cristo? Eu digo que é como encontrar uma pessoa ao vivo, depois de tê-la conhecido por anos só em fotografia. Ajuda a entender a diferença, o que acontece no âmbito humano quando se passa do conhecer uma pessoa a se apaixonar por ela. Se você é um jovem ou uma jovem, é capaz de entender isso melhor do que ninguém. Não há senão a paixão que transforma realmente a vida. Seja aquela natural, seja aquela do espírito. E Jesus é um apaixonado que jamais desilude!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

CATEQUESE - A Oração: um remédio contra o mal

Crédito: Cléofas)

A Oração: um remédio contra o mal

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Sem oração, nenhum de nós fica de pé espiritualmente e ninguém consegue fazer a vontade de Deus…

Outro remédio fundamental que a Igreja nos recomenda contra o pecado é a oração. A nossa vontade ficou enfraquecida pelo pecado original e a nossa natureza ficou marcada pela concupiscência, isto é, uma força que nos puxa para o mal.

Quem de nós não sente isso? Jesus disse claro: “O espírito é forte, mas a carne é fraca. Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26,41).

Por isso, só pela força humana você não conseguirá vencer a luta contra o pecado. As paixões como que habitam em nossa carne.

Jesus estimava tanto a oração que passava noites inteiras no alto dos montes da Galileia conversando com o Pai (cf. Lc 5,16; 6,12; 9,29). E aí estava a sua força: de dia pregava, de noite rezava. Ensinou os discípulos a rezarem (cf. Mt 6,9) e insistiu com eles: “É necessário orar sempre sem jamais deixar de fazê-lo” (Lc 18,1b). “Pedi e se vos dará” (Mt 7,7).

Orar é uma ordem, um mandamento do Senhor. Sem oração, nenhum de nós fica de pé espiritualmente e ninguém consegue fazer a vontade de Deus. A razão é muito clara: “Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4).

São Tomás de Aquino disse que todas as graças que o Senhor, desde toda a eternidade, determinou conceder-nos, não as quer conceder a não ser por meio da oração.

“A oração é necessária, disse o santo, não para que Deus conheça as nossas necessidades, mas para que fiquemos conhecendo a necessidade que temos de recorrer a Deus, reconhecendo-O como o único autor de todos os bens”.

Quando o Senhor manda: “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis” (Mt 7,7), Ele deseja que reconheçamos que só Ele é o autor dos nossos bens e que, portanto, devemos a Ele recorrer.

É por isso que desagradamos profundamente a Deus todas as vezes que buscamos socorro fora dEle, especialmente nas práticas idolátricas – magia, necromancia, cartomancia, adivinhação, invocação dos mortos, horóscopo e em outras práticas – sendo infiéis a Deus (cf. Dt 18,9-12).

Por outro lado, aquele que ora, manifesta confiança em Deus, como O salmista disse: “Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele: e ele agirá” (Sl 36,5).

O velho Tobias afirmava: “Pede-lhe que dirija os teus passos, de modo que os teus planos estejam sempre de acordo com a sua vontade” (Tb 4,20b).

Feliz o cristão que adquiriu o hábito de conversar, coração a coração, familiarmente, com Deus.

Deus quer que conversemos com Ele, diz S. Afonso de Ligório, e quer ser tratado como amigo íntimo. Ninguém nos ama tanto como Ele e até as nossas pequenas coisas Lhe interessam.

É preciso sermos transparentes diante do Senhor; abrindo-lhe o coração com toda a liberdade e confiança. Diz o livro da Sabedoria que “Deus antecipa-se a dar-se a conhecer aos que O desejam” (cf. Sb 6,13).

São Paulo expressou tudo isso em poucas palavras:

“Vivei sempre contentes. Orai sem cessar. Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cris­to” (1 Ts 5,16-18).

Você deve conversar com Deus em todas as ocasiões: na alegria e na dor; na penúria e na fartura, na saúde e na doença, pedindo, agradecendo, louvando, bendizendo, cantando…

Você pode orar quando está na bicicleta, no ônibus, no carro, na cozinha, no banheiro, no silêncio do quarto, na rua. E Deus estará sempre acolhendo a sua oração.

Enfim, a oração é a força do homem, é o caminho mais simples para receber os dons de Deus. Sem oração você não conhecerá a vitória.

São Afonso de Ligório, doutor da Igreja, viveu 91 anos. Escreveu mais de cem livros e disse que, se em toda a sua vida tivesse de fazer uma só pregação, essa seria sobre a oração.

Sem oração é impossível caminhar na fé e fazer a vontade de Deus. Ela é a nossa força; por ela os santos chegaram à santidade; e, sem ela ninguém experimentará a glória e o poder de Deus.

A oração é para a alma o que o ar é para o corpo.

Uma alma que não reza é uma alma que não respira; não tem vida. Quanto mais você comungar com Ele pela oração, mais se tornará um instrumento útil em suas santas mãos. É uma grande ilusão querer fazer algo por Deus, e para Deus, sem antes muito rezar. Esta é a maior tentação que sofremos: rezar pouco, não rezar ou rezar mal.

A oração pode mudar todas as coisas; o Anjo Gabriel disse à Maria: “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,37).

“Tudo é possível ao que crê” (Mc 9,23), nos garantiu o Senhor. E mais, “Tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado” (Mc 11,24).

São Paulo recomenda com insistência: “Orai em todo o tempo” (Ef 6,18), “perseverai na oração” (Cl 4,2), “orai sempre e em todo o lugar” (1 Tim 2,8). “Antes de tudo recomendo que se façam súplicas, orações, petições, ações de graças por todos os homens…” (1Tim 2,1).

E São Pedro nos adverte: “Lançai em Deus todas as vossas preocupações porque Ele tem cuidado de vós” (1 Pd 5,7).

O Papa Paulo VI disse certa vez: “…A oração está no ponto mais alto da razão, no vértice da psicologia, no ápice da moralidade e da esperança” (L’Osservatore Romano – 14/3/1976).

Além do mais, o próprio Senhor nos deu o exemplo:

“Entretanto espalhava mais e mais a sua fama, e concorriam grandes multidões para o ouvir e ser curadas das suas enfermidades. Mas ele costumava retirar-se a lugares solitários para orar” (Lc 5,15-16).

Há muitas formas de oração e todas elas são boas, desde que sejam feitas “com o coração”. Tudo pode ser mudado pela oração.

Prof. Felipe Aquino

Folha: https://cleofas.com.br/

Reflexão para o II Domingo da Quaresma (B)

Evangelho do domingo (@ BAV Vat lat 39. f. 67v)

O sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Geralmente, apesar de nossa fé no Deus de Amor revelado por Jesus, temos atitudes pagãs em que julgamos o Todo Poderoso nos solicitar sacrifícios desumanos. Assim pensamos que para Deus é agradável penitências dolorosas, difíceis e até para falar com Ele são necessários procedimentos artificiais e fora de nossa realidade.

Tudo isso mostra que raízes pagãs ancestrais estão arraigadas em nossa cultura como estava na de Abraão, marcada por forte politeísmo cujo culto se expressava com inúmeros sacrifícios às divindades.

Abraão que aos poucos conhece o Deus único e verdadeiro, que se lhe apresenta, tem sua fé colocada à prova com o sacrifício de seu filho Isaque. Tendo Abraão provado sua fé, Deus poupa-lhe o sacrifício revelando sua bondade e generosidade. O que passa pela cabeça de Abraão, passa também pela nossa.

Julgamos que Deus se satisfaz com aquilo que é mais doloroso e difícil. Que Deus é esse? Certamente não é o que se revelou a Abraão e muito menos o revelado por Jesus Cristo no Evangelho.

O que Abraão desejava e agradou a Deus foi sua atitude de desacomodação em deixar sua casa paterna, sua pátria e ir para o desconhecido, apenas confiando na Palavra do Senhor. A atitude de matar seu filho, evidentemente não agradou ao Poderoso, mas mostrou que também abria mão de seu futuro e só esperava em Deus.

O sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele.

No Evangelho temos o relato da Transfiguração do Senhor. Vamos observar a atitude de Pedro. Ele priva, juntamente com João e seu irmão Tiago, de uma amizade especial com o Senhor e lhe é revelado, de modo enfático, a paixão que Jesus sofrerá. Enquanto Jesus busca prepará-los para o momento decisivo de sua luta contra o mal, Pedro fica fascinado pelo momento que vive, diríamos hoje, deslumbrado, e propõe a estabilidade, a acomodação através da construção de tendas, no desejo de perenizar o passageiro.

O Pai lhe chama a atenção dizendo para ouvir o que O Filho amado tem a dizer. Nesse momento acaba a teofania e apenas Jesus permanece com eles. O único necessário em nossa vida é ouvir Jesus, a Palavra do Pai. A renúncia que agrada a Deus, a abnegação desejada, a penitência autêntica é colocar tudo em segundo plano e apenas Jesus Cristo como o absoluto de nossa vida.

Tudo o que a vida me oferece, seja no plano material, seja no espiritual, tudo deverá ser relativizado: família, saúde, religião, carreira, honra, tudo. Todos esses valores deverão ser vivenciados à medida que me aproximam de Deus.

A santidade do relacionamento entre esposos, pais, filhos, irmãos e irmãs, não está nele mesmo, mas enquanto são relacionamentos que me levam a Deus, me levam a amar. Sendo assim eles se tornam sagrados. 

Queridos amigos ouvintes, as cruzes que encontramos na vida conjugal, familiar, profissional, na comunidade eclesial, e em tantos outros lugares, foram anunciadas na transfiguração de Jesus e fazem parte dessa vida de entrega, de renúncia, de abnegação, de penitência, de amor.

E neste tempo de penitência não nos esqueçamos o jejum que sobremaneira é agradável a Deus: “soltar as algemas injustas, soltar as amarras de jugo, dar liberdade aos oprimidos e acabar com qualquer escravidão”.

Sigamos o Mestre e, como ele, sejamos generosos em amar.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Os desafios de lidar com o envelhecimento dos pais – e como evitar conflitos - Parte 1

Número de idosos no Brasil aumentou mais de 50% em pouco mais de uma década (GETTY IMAGES)

Os desafios de lidar com o envelhecimento dos pais – e como evitar conflitos

Por Vinícius Lemos

24 de fevereiro de 2024

Da BBC News Brasil em São Paulo

Uma dura fase marcada por conflitos e dificuldades. É assim que especialistas resumem a forma como o envelhecimento dos pais é encarado diversas vezes, porque muitos filhos não estão preparados para lidar com as exigências desse período.

À medida que a idade avança, uma pessoa tende a precisar de cada vez mais apoio, seja em atividades simples do dia a dia ou mesmo uma ajuda financeira - e isso pode cobrar um preço de quem fica responsável por esses cuidados, como apontam especialistas.

“Em alguns casos, esses filhos podem experimentar níveis significativos de estresse e sobrecarga ao lidar com as demandas do envelhecimento dos pais, especialmente quando há questões de saúde ou limitações funcionais”, diz a psicóloga Deusivania Falcão, professora de Psicogerontologia – área da psicologia que estuda o envelhecimento – da Universidade de São Paulo (USP).

Há, inclusive, um nome para definir esse senso de obrigação dos filhos em apoiar pais mais velhos: responsabilidade filial.

“É uma obrigação baseada em um padrão cultural, relacionado à percepção de que esse é um comportamento socialmente responsável em resposta ao envelhecimento e a dependência dos pais”, explica Falcão.

"Ou seja, de que é dever do filho adulto ajudar ou ser responsável pelos pais idosos."

Esse tipo de situação e a discussão sobre como encarar estes desafios são cada vez mais frequentes com aumento de idosos no Brasil.

O número de pessoas com mais de 60 anos passou de 20,5 milhões no Censo de 2010 para 32,1 milhões no mesmo levantamento em 2022 – um crescimento de 56% em pouco mais de uma década.

E as estimativas apontam que a população de idosos deve se tornar ainda maior ao longo das próximas décadas.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram a tendência de que o brasileiro deve viver cada vez mais: a expectativa de vida, que era de 69,8 anos no início dos anos 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje é de 75,5 anos.

Isso não só aumenta o período em que uma pessoa pode precisar de auxílio, mas também torna mais comum que os filhos acompanhem diferentes fases do envelhecimento dos pais.

Um ponto importante nesse período é a forma como filhos encaram o envelhecimento dos pais - e, como em tantas outras fases da vida, não há uma cartilha universal a seguir.

Essa experiência, dizem especialistas, costuma ser influenciada por padrões familiares do passado e pela forma como uma pessoa foi criada, além de aspectos culturais, históricos, sociais e religiosos de uma família.

"Há vários modelos de envelhecimento e de velhice. Cada indivíduo envelhece de maneira diferenciada, na singularidade de suas condições genéticas, ambientais, familiares, sociais, educacionais, econômicas, históricas e culturais", diz Falcão.

“Isso tudo depende do tipo de sistema desenvolvido (pela família) ao longo dos anos.”

Pais teimosos x filhos mandões

Um dos principais desafios e motivos de atrito está nos papéis que pais e filhos assumem nessa fase da vida, apontam especialistas.

De um lado, os filhos podem enxergar uma pessoa fragilizada, adoecida e que precisa de cuidados e limitações e tentam proteger seus pais e fazer com que não se exponham a riscos.

Do outro, há uma pessoa que não quer perder sua autonomia e que pode até perceber que precisa de cuidados, mas tem dificuldade de aceitar isso, afirma a geriatra Fernanda Andrade.

“Na imensa maioria das vezes, há uma grande diferença entre a visão dos filhos e dos pais. Os filhos não costumam lidar bem com as escolhas dos pais nesse período", afirma Andrade.

Um dos comentários mais recorrentes que a médica ouve dos filhos é que seus pais são “teimosos” por não seguirem à risca como os filhos acreditam que eles devem agir.

"É angustiante assistir ao envelhecimento – e, muitas vezes, ao adoecimento – de uma pessoa que se ama e não conseguir controlar nada disso."

Mas, por trás dessa “teimosia”, apontam especialistas, estão características que podem ser atribuídas à idade avançada.

Entre elas, o sentimento de solidão, a perda de sentido da vida, a saudade de amigos ou parentes que já faleceram e o medo da morte.

Além disso, o temor de depender dos outros, ainda que sejam os próprios filhos, causa preocupação em muitos idosos e faz com que sejam resistentes a cuidados.

“Imagina passar 50 anos da sua vida totalmente independente e começar a precisar de alguém para ir ao mercado para você, te ajudar a vestir uma roupa ou realizar sua higiene íntima?”, diz Andrade.

Para não perder a autonomia, diz Fernanda, muitos idosos não querem parar de dirigir, não aceitam ir ao médico ou não querem abandonar outras atividades que costumavam fazer sozinhos.

Aí é que podem surgir conflitos na relação com os filhos, caso não haja uma comunicação aberta na família sobre as expectativas, desejos e necessidades dos dois lados, pontuam os especialistas.

Muitas vezes, é preciso entender que se trata de uma fase de constante adaptação às demandas que surgem com o passar dos anos.

Por isso, é fundamental perceber que as necessidades dos pais podem mudar ao longo do tempo.

Uma das principais dificuldades na relação entre pais e filhos nessa fase é causada por falhas de comunicação em razão do conflito geracional, diz Renato Veras, que é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e diretor do projeto Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI).

“O ideal é que os pais conversem muito com os filhos e mostrem as diferenças geracionais", afirma o médico.

"Esse diálogo é importante, mas é difícil, porque muitos pais não conseguem puxar essa conversa e muitos filhos se consideram senhores da verdade, o que dificulta muito essa situação.”

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF