Translate

quinta-feira, 4 de abril de 2024

A aparição de Jesus ressuscitado à santa Maria Madalena em São Cirilo de Alexandria

Jesus ressuscitado (Vatican News)

A APARIÇÃO DE JESUS RESSUSCITADO À SANTA MARIA MADALENA EM SÃO CIRILO DE ALEXANDRIA

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

No evangelho da Páscoa, a liturgia leu o evangelista São João tendo presentes Maria Madalena, depois Pedro e o discípulo amado, João (cf. Jo 20,1-9). O Evangelista São João colocou dados importantes no seu relato que no primeiro dia da semana, que para os cristãos, católicos e católicas, é o domingo, enquanto ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e percebeu que a pedra fora removida. Ela foi ao encontro de Simão Pedro e o outro discípulo que o Senhor amava dizer-lhes que tiraram o Senhor do túmulo e não sabiam onde o colocaram. Juntamente com Maria Madalena, Pedro e João foram até ao túmulo e somente o discípulo amado viu e acreditou, porque eles não tinham ainda compreendido a Escritura que o Senhor ressuscitaria dos mortos (cf. Jo 20,1-10). São Cirilo de Alexandria, bispo no século V, elaborou uma doutrina a respeito de Santa Maria Madalena, percebendo-a como uma personagem que seguiu a Jesus e também pela ressurreição do Mestre foi lhe dada a graça da aparição de Cristo Ressuscitado e pela Igreja o título de Apóstola dos Apóstolos.   

Mulher diligente e sabedora das coisas. 

O bispo Cirilo afirmou que Maria Madalena foi uma mulher diligente, sabedora das coisas do Senhor, de modo que ela não ficou em casa e nem abandonou o sepulcro1 ainda que os dois apóstolos tivessem voltado para casa. Sabendo que o sábado tinha se esgotado e já na aurora do outro dia, andou de pressa ao sepulcro e vendo que a pedra estava removida, pensou que o corpo de Jesus fora levado embora. A mulher percebeu desta forma as coisas de modo que ela voltou para as pessoas que amavam o Senhor, para fazer com que os dois discípulos a ajudassem na sua procura2. Mas como ela alimentava uma fé muito forte e constante não se deixou tomar por sentimentos de desconfiança para com o Senhor Jesus pelo escândalo da cruz, mas o chamou como ela o conhecia de Senhor ainda que estivesse morto, tanto era o afeto que ela tinha para com o Senhor3.  

A Escritura tinha dito a respeito da ressurreição.  

Ela foi contar aos dois discípulos as coisas vistas por ela. Os dois chegaram ao túmulo, mas não pensavam que Cristo ressuscitou dos mortos. A ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana. Por isso foi que o evangelista João disse que Maria Madalena foi ainda de madrugada junto ao sepulcro. Já o evangelista Mateus colocou a ressurreição na noite profunda do primeiro dia da semana(cf. Mt 28,1-2). Mas para São Cirilo, noite profunda e o primeiro dia da semana são as mesmas coisas, conforme a Escritura, para significar a ressurreição do Senhor no domingo4.  

Fora do túmulo, Maria chorava.  

Enquanto os discípulos voltaram para casa, Maria Madalena permaneceu junto ao sepulcro, chorando pelo lado de fora, São Cirilo disse que se os discípulos se esconderam para não serem vistos pelas autoridades judaicas, devido ao Salvador, Maria Madalena que amava Cristo Jesus não tinha nenhum receio ou medo, nem pensava na violência dos judeus, estava corajosamente junto ao sepulcro, derramando lágrimas e não somente porque o Senhor morreu, mas porque suspeitava que fosse levado o corpo de Jesus embora do sepulcro5. Maria Madalena chorou pela sua relação forte com Deus e voltou o seu pensamento sincero ao Senhor, o Salvador e através primeiramente dos anjos, o conhecimento do seu mistério6. 

Os anjos disseram a Maria Madalena de parar de chorar (cf. Jo 20,14). O fato era que a morte fora destruída e também a corrupção do seu corpo, de modo que Cristo, Nosso Senhor ressuscitou dos mortos renovou toda a criação, dando a vida a incorruptibilidade pelo dom da vida eterna. Ela na verdade deveria alegrar-se pelas coisas boas que o Senhor fez pela sua morte e ressurreição. O fato de que os anjos estavam lá o corpo do Senhor não poderia ter sido levado embora com violência porque eles protegeram o corpo do Senhor7. 

A aparição do Ressuscitado dada à Maria Madalena. 

São Cirilo levantou uma pergunta o fato de que os anjos não se manifestaram aos discípulos mas sim à mulher e falaram com ela. O bispo disse que o Cristo Salvador se faz conhecer às almas de quem o amavam, a plenitude do seu mistério e as almas nas quais dar-se-iam a fé8. Maria Madalena respondeu a estas expectativas, pelo seu amor grande ao Senhor. Ela olhou para trás e viu Jesus que estava lá, mas Maria não sabia que era Jesus(cf. cf. Jo 20,14). Como ela não deixava de chamar Cristo, Senhor demonstrando todo o seu afeto pelo Senhor, porque ela acreditava em Jesus, ela gozou da visão das coisas desejadas, a ressurreição de Jesus. Viu Jesus, no entanto ainda não entendeu que lá Ele estava presente (cf. Jo 20,15).  

A aparição vizinha a ela. 

Maria Madalena viu Jesus vizinho a ela e não reconheceu que era Ele, não discernindo o aspecto do corpo e a fisionomia da face, ainda que o Senhor tivesse lhe dito: Mulher, porque choras? (cf. Jo 20,15) Aquelas palavras eram dóceis mas ainda desconhecidas para ela. O fato era que Maria chorava pelo Senhor que sofreu, estava morto e além disso ela suspeitava que as autoridades tinham levado embora o corpo de Jesus. Mas agora o Senhor ressuscitado estava lá, apareceu para ela, transformando o choro em alegria9. Para o Bispo de Alexandria, Jesus Ressuscitado enxugou as lágrimas de Maria Madalena e também de todas as mulheres, levando-as do pecado original à graça da vida. Maria tornou-se a sua primícia10.  

Maria: Mestre.  

O Senhor a chamou pelo nome. Maria Madalena entendeu logo aquela nova presença e o honrou no modo habitual chamando-o de Rabbuni, isto é Mestre e tomada de uma imensa alegria, correu junto dele para tocar o seu santo corpo e para ser bendita pelo Senhor (cf. Jo 20, 16)11.  

O Senhor ainda não subiu ao céu  

O Senhor pediu a ela de não abraçar os seus pés porque Ele ainda não tinha subido ao seu Pai (cf. Jo 20,17), Se na encarnação em diversas ocasiões Jesus tocava nas pessoas e as pessoas também tocavam nele, para receberem as curas, agora Ele pediu a Madalena de não tocá-lo. Segundo São Cirilo a explicação dada era porque Ele não tinha ainda voltado para o Pai e também não tinha sido enviado o Espírito Santo por meio dele, do Senhor Jesus ressuscitados dos mortos, sobre as pessoas de modo que era somente em Pentecostes o grande acontecimento da descida do Espírito Santo12, de modo que Ele disse que ainda não tinha voltado ao Pai para assim enviar o Espírito Santo,  

A missão do Ressuscitado a Maria Madalena. 

O Senhor Ressuscitado deu a Maria Madalena, pela sua forte fé e pelo seu amor um duplo prêmio, porque ela viu o Senhor ressuscitado uma vez que ela estava chorando por Cristo, mas o Senhor transformou a tristeza em alegria. São Cirilo percebeu a nova situação que o Senhor deu àquela mulher superando a antiga condição de pecado na qual o ser humano ouviu a voz da serpente de modo a desobedecer a Deus pela comida do fruto proibido. Agora, novamente num jardim, o Senhor libertou daquela maldição na qual a mulher chorava, desejando que ela, Maria Madalena fosse anunciadora de grandes bens e lhes deu ordens de anunciar a sua volta aos céus, de modo que pela obediência às palavras do Salvador e anunciando aquilo que conduz à vida eterna libertasse do pecado todo o gênero humano13. 

Os pés de Maria Madalena. 

Ela era desejosa por abraçar os pés do Senhor Ressuscitado, no entanto, ela se tornou uma mensageira, através de seus pés e mente de uma boa noticia (cf. Is 52,7).  Ela foi digna, pelos seus pés especiosos da pregação do Profeta, para anunciar aos outros discípulos, a ressurreição de Jesus14. Maria Madalena não era mais expectadora da ressurreição de Jesus, mas sua anunciadora, de uma forma diferente dos judeus que não acreditavam na ressurreição de Jesus15.  

Para São Cirilo, deu o evangelista João uma menção importante a Maria Madalena porque esta mulher amava de uma forma ardente a Jesus e ela foi por primeiro ao sepulcro, buscando por todos os lugares o corpo de Jesus, pensando que algumas pessoas tinham levado o seu corpo embora16.  

A missão do Ressuscitado dada a Maria Madalena para apóstolos. 

O Salvador deu honra e glória eterna a Maria Madalena, confiando-lhe a missão de anunciar aos irmãos, os apóstolos: “Subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Para São Cirilo esta afirmação do Senhor buscava referências para dizer para Maria Madalena que o Unigênito Verbo de Deus fez-se semelhante a todo o gênero humano, para que este fosse semelhante a ele, na renovação da graça do Senhor17. 

A missão de Maria foi de proclamar a todas as pessoas que são irmãos e irmãs em Jesus, por graça de Deus, e o Pai de todos, seja de Jesus e todos: “Meu Pai e vosso Pai, mas também que Deus é o seu Pai e Deus nosso (cf. Jo 20,17). O Deus do Universo é Pai de Jesus Cristo e é também o Pai de toda a humanidade. Jesus chama Deus Pai seu Pai pela sua natureza divina e nós, suas criaturas, somos semelhantes a Ele, pela sua generosidade e a sua bondade18. Maria Madalena foi anunciar aos discípulos que ela viu o Senhor e contou o que Jesus lhe tinha dito (Jo 20,18). Maria anunciou aos seus irmãos, os apóstolos que Jesus ressuscitou dos mortos, estando fora das relações da morte e levou aos discípulos as palavras da vida e a primícia do evangelho divino19.  

Santa Maria Madalena foi discípula do Senhor Jesus e ela manifestou grande amor a Ele de modo que teve uma graça muito grande, uma manifestação do Ressuscitado para ela. Ela levou o título de apóstola dos apóstolos, por ser uma das primeiras mulheres mensageiras do Ressuscitado, levando aos outros as palavras de vida eterna que vinham de Jesus às outras pessoas e aos apóstolos.

____________

[1] Cfr. Cirillo di Alessandria. Commento al Vangelo di Giovanni/3. (Libri IX-XII)). Traduzione e Indici di Luigi Leone. Roma: Città nuova editrice, 1994.

[2] Cfr. Idem, pgs. 464-465.

[3] Cfr. Ibidem, pg. 465.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 465.

[5] Cfr. Ibidem, pgs. 466-467.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 467.

[7] Cfr. Ibidem, pg. 468

[8] Cfr. Ibidem, pg. 468.

[9] Cfr. Ibidem, pg. 470.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 470.

[11] Cfr. Ibidem, pg. 471.

[12] Cfr. Ibidem, pgs. 473-474.

[13] Cfr. Ibidem, pgs. 474-475.

[14] Cfr. Ibidem, pg. 475.

[15] Cfr. Ibidem, pgs. 475-476.

[16] Cfr. Ibidem, pg. 476.

[17] Cfr. Ibidem, pg. 476.

[18] Cfr. Ibidem, pg. 477. .

[19] Cfr. Ibidem, pg. 478.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Francisco: sem justiça não há paz

O Papa Francisco durante a Audiência Geral (Vatican Media)

"A justiça" foi o centro da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral. É a segunda das virtudes cardeais. "A virtude social por excelência. A virtude do direito, que busca regular as relações entre as pessoas com equidade".

Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco prosseguiu com o ciclo de catequeses sobre vícios e virtudes na Audiência Geral, desta quarta-feira (03/04), realizada na Praça São Pedro.

O tema deste encontro semanal do Pontífice com os fiéis foi "A justiça", a segunda das virtudes cardeais, "a virtude social por excelência", "a virtude do direito, que busca regular as relações entre as pessoas com equidade".

A justiça é fundamental para a convivência pacífica

A justiça "é representada alegoricamente pela balança, pois visa “igualar as contas” entre os homens, principalmente quando correm o risco de serem distorcidos por algum desequilíbrio. O seu objetivo é que numa sociedade todos sejam tratados de acordo com a sua dignidade. Os antigos mestres já ensinavam que para isso são necessárias outras atitudes virtuosas também, como a benevolência, o respeito, a gratidão, a afabilidade, a honestidade: virtudes que contribuem para a boa convivência entre as pessoas".

O Papa Francisco durante a Audiência Geral (Vatican Media)

“Todos entendemos como a justiça é fundamental para a convivência pacífica na sociedade: um mundo sem leis que respeitem os direitos seria um mundo em que é impossível viver, seria semelhante a uma selva. Sem justiça não há paz. De fato, se a justiça não for respeitada, geram-se conflitos. Sem justiça, a lei do abuso dos fortes sobre os fracos é estabelecida. E isso não é justo.”

Segundo o Papa, "a justiça é uma virtude que atua tanto no grande quanto no pequeno: não diz respeito apenas às salas dos tribunais, mas também à ética que distingue a nossa vida quotidiana. Estabelece relações sinceras com os outros: realiza o preceito do Evangelho, segundo o qual o discurso cristão deve ser: «“Sim, sim”, “Não, não”; o que for além disto vem do Maligno»".

O Papa Francisco durante a Audiência Geral na Praça São Pedro (Vatican Media)

O homem justo é íntegro, não usa máscaras

“As meias verdades, os discursos sutis que querem enganar o próximo, as reticências que escondem as reais intenções, estas não são atitudes condizentes com a justiça. O homem justo é íntegro, simples e franco, não usa máscaras, apresenta-se como é, fala a verdade.”

A palavra “obrigado” aparece frequentemente nos seus lábios: ele sabe que, por mais que tentemos ser generosos, continuamos em dívida com o próximo. Se amamos é porque fomos amados primeiro também.

Francisco disse ainda que "a virtude da justiça deixa claro – e coloca no coração a exigência – de que não pode haver um verdadeiro bem para mim se não houver também o bem de todos. O homem justo zela pelo seu comportamento para que não prejudique os outros: se comete um erro, pede desculpas. Em algumas situações, ele até sacrifica um bem pessoal para disponibilizá-lo à comunidade".

O Papa Francisco deixando a Praça São Pedro no final da Audiência Geral (Vatican Media)

Ser homens e mulheres justos

Segundo o Papa, o homem justo "deseja uma sociedade ordenada, na qual as pessoas têm mais valor do que os cargos, e não o contrário. Ele abomina as recomendações e não troca favores. Adora a responsabilidade e é exemplar em viver e promover a legalidade. O justo evita comportamentos prejudiciais como a calúnia, o falso testemunho, a fraude, a usura, a zombaria e a desonestidade. Ele mantém a sua palavra, devolve o que pediu emprestado, paga aos trabalhadores os salários justos, um homem que não paga aos trabalhadores os salários justos não é justo: é injusto".

“Nenhum de nós sabe se no nosso mundo os homens justos são numerosos ou tão raros quanto pérolas preciosas. Certamente, são homens que atraem graças e bênçãos tanto para si quanto para o mundo em que vivem.”

De acordo com Francisco, "os justos não são moralistas que assumem o papel do censor, mas pessoas íntegras que “têm fome e sede de justiça”, sonhadores que guardam no coração o desejo de uma fraternidade universal". "Todos nós temos muita necessidade desse sonho, principalmente hoje. Precisamos ser homens e mulheres justos, e isso nos fará felizes", concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O milagre e a realidade dos fatos (a cura do cego de nascença) - Cap. 36

Nazareno (Vatican News)

Cap. 36 - O milagre e a realidade dos fatos (a cura do cego de nascença)

A Festa dos Tabernáculos havia terminado, mas Jesus permaneceu em Jerusalém por mais alguns dias. Certa manhã, ele encontrou um jovem cego que estava andando às apalpadelas, encostado na parede. Seu nome é Issacar e ele vive da mendicância. Ele é cego de nascença, nasceu sem pupilas. Jesus cospe no chão, faz lama com sua saliva, passa a lama nos olhos do cego e lhe diz: "Vá se lavar na piscina de Siloé". Issacar, com o rosto sujo, chega lá rapidamente, graças à ajuda de um menino. Ele se lava e volta a ver. A notícia corre de boca em boca. O jovem é levado aos fariseus. É um sábado. Issacar também explica a eles o que aconteceu. Então alguns dos fariseus disseram: "Este homem não é de Deus, porque não guarda o sábado". Outros dizem: "Como pode um pecador realizar tais sinais?". Em vez de se renderem à evidência dos fatos, alguns dos fariseus especulam sobre uma armadilha.

Issacar toma a palavra: “Isso é espantoso: vós não sabeis de onde ele é e, no entanto, abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas, se alguém é religiosos e faz a sua vontade, a este ele escuta. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença. Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer”. A reação é furiosa: “Tu nasceste todo no pecado e nos ensinas? E o expulsaram.

Jesus ficou sabendo o que havia acontecido. No dia seguinte, passou pela mesma rua e encontrou o jovem curado conversando com seus amigos: todos ainda estavam cheios de espanto. O Mestre pergunta a Issacar: “Crês no Filho do Homem?”. Respondeu ele: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?”. Jesus lhe disse: “Tu o estás vendo, é quem fala contigo”. Exclamou ele: “Creio, Senhor!”. E prostrou-se diante dele. Jesus o faz se levantar. O Nazareno levanta sua voz para que todos ouçam: “Para um discernimento é que vim a este mundo: para os que não veem, vejam, e os que veem, tornem-se cegos”. Jesus veio para aqueles que não veem, para aqueles que não se sentem bem, para os pecadores. Não para aqueles que julgam os outros.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/30/16/137855691_F137855691.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Isidoro de Sevilha

Santo Isidoro de Sevilha (A12)
04 de abril
Santo Isidoro de Sevilha

Isidoro nasceu em Sevilha, Espanha, no ano de 560, seus pais sendo católicos de origem nobre entre os godos de Cartagena. Quarto e último dos irmãos, todos santos (Santos Leandro e Fulgêncio e Santa Florentina); Leandro, arcebispo de Sevilha, cuidou dele após a morte prematura dos pais.

Nesta época a Espanha sofria ainda com as consequências das invasões ao final do antigo Império Romano, e tais hordas conquistadoras, crendo que Roma havia caído militarmente por causa da cultura, esforçavam-se para destruir os livros. São Leandro, responsável pela conversão do rei Recaredo, havia construído dois mosteiros, um masculino, onde foi abade, e outro feminino, onde Santa Florentina foi abadessa.

Nos mosteiros, além da formação na Fé, preservava-se da extinção a cultura greco-romana, e no mosteiro Isidoro aprendeu igualmente aritmética, gramática, geometria, música, retórica, dialética, astronomia, Latim, Grego, Hebraico. Contudo, inicialmente tinha imensas dificuldades para aprender; mas certo dia, evitando o colégio, sentou-se próximo a um poço de dura pedra, onde notou ranhuras profundas na borda, e descobriu que haviam sido feitas pelas cordas que, diariamente e por muito tempo, faziam subir os recipientes com água. Entendeu assim o valor da perseverança, e voltando às aulas, aplicou-se nos estudos, vindo a se tornar o maior Doutor da Igreja na Espanha: dizia-se dele ter a penetração de Platão, o conhecimento enciclopédico de Aristóteles, a erudição de Orígenes, a doutrina de Santo Agostinho, e a eloquência de Cícero.

Escreveu muito, fazendo principalmente um imenso trabalho de compilação e ordenação, sendo sua obra mais conhecida (e considerada a primeira enciclopédia da História) os 20 volumes das “Etimologias”, incluindo todos os ramos da ciência e conhecimento do seu tempo: I. Gramática; II. Retórica e Dialética; III. Matemática, Música e Astronomia; IV. Medicina; V. Direito e Cronologia; VI. Bíblia e outros livros; VII. Teologia; VIII. A Igreja e as seitas; IX. Línguas e Povos; X. Lexicologia; XI. Anatomia; XII. Zoologia; XIII. Geografia; XIV. Geografia; XV. Arquitetura e agrimensura; XVI. Mineralogia; XVII. Agricultura; XVIII. Guerra e torneios; XIX. Navios e casas; XX. Alimentos e ferramentas. Além de salvar desse modo a cultura antiga, escreveu também sobre Filosofia, História, controvérsias, exegese, comentários bíblicos, linguística, Direito Canônico; uma regra de vida monástica; Ofícios Divinos.

Isidoro, como o irmão Leandro, entrou para a vida monástica, e foi ordenado sacerdote em 589. Quando são Leandro deixou a abadia, proclamado Arcebispo de Sevilha e logo depois conselheiro do rei Recaredo, o jovem mas maduro Isidoro ficou no seu lugar. E grande foi o seu trabalho, pois a disciplina monacal estava abalada pelas falsas vocações (muitos tomavam os votos só pelo prestígio de religiosos), e por muitos que desleixavam a necessária convivência comunitária. Escreveu então a Regula Monachorum e, pelo exemplo de humildade, oração, trabalho, abnegação, iniciou a reforma de costumes para tornar o próprio mosteiro referência para a vida religiosa da Península Ibérica. Sua Regra, uma das primeiras que abolia castigos corporais, unia trabalho manual e intelectual, com incentivo à leitura e meditação, e cópias de obras clássicas para distribuição em outros mosteiros. Frisava que o estudo faz parte das obrigações do religioso. Instituiu normas de caridade entre os irmãos; prescreveu o hábito religioso pobre e modesto, mas não miserável, “para não produzir tristeza no coração, nem ser motivo de soberba”.

Como professor, destacou-se na célebre Escola de Sevilha que dirigia, onde se formaram São Bráulio (ao qual dedicou as “Etimologias”) e Santo Ildefonso, além de nobres, como os reis Sisenando e Sisebuto (ao qual dedicou o livro “De Natura Rerum”).

Ao falecer São Leandro, por volta de 600, Isidoro, com 43 anos, foi aclamado Arcebispo em seu lugar. Zelou então pela esmerada formação espiritual, intelectual e de comportamento do clero, fundando núcleos escolares nas casas religiosas, precursores dos seminários atuais. Igualmente ou mais, cuidou do esplendor da Liturgia, chegando a compor hinos para a música sacra que introduziu nos atos litúrgicos. Unificou as rubricas litúrgicas no reino e criou a Collectio Canonum Ecclesiæ Hispanæ, uma compilação completa de decretais e cânones conciliares, que regeu a Igreja espanhola até a reforma gregoriana. Suas pregações atraíam multidões de fiéis. Convocou e presidiu o II Concílio de Sevilha (619) e o IV Concílio de Toledo (633). Em nenhum momento Isidoro, apesar da sua gigantesca atividade, deixou em segundo plano a oração, as mortificações e penitências, e a caridade, de modo que em sua casa sempre compareciam pobres e necessitados. Continuou combatendo, como São Leandro, a heresia ariana.

Sisebuto, seu ex-aluno, foi coroado rei em 612 e muito ajudou Isidoro a consolidar os direitos da Igreja. Mas quando necessário, o santo não hesitava em chamar-lhe atenção, se se imiscuía nos assuntos eclesiásticos.

Seus esforços frutificaram, seu exemplo levou muitos à leitura e ao estudo, e à busca da santidade. Influenciou enormemente a cultura espanhola e europeia, como homem mais culto do século, ao longo de quase 40 anos de maravilhosa ortodoxia episcopal.

 Faleceu em sua cela a 4 de abril de 636, aos 76 anos. Declarado Doutor da Igreja, é, junto com São Leandro, o último dos Padres da Igreja (expoentes da Patrística) latinos. Santo Isidoro e seus irmãos ficaram conhecidos como os Quatro Santos de Cartágena. Foi considerado por São João Paulo II um dos padroeiros da internet, em razão da sua prolífica obra de divulgação.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A vida de Santo Isidoro se destaca não apenas pelo seu conhecimento enciclopédico, mas também pela sua sabedoria espiritual, muito mais importante, pela qual levou vida íntegra e caridosa. Por isso cuidou tão bem da educação e formação, especialmente do clero, através do qual deve ordinariamente chegar aos fiéis, pelo bom exemplo, a Fé, a Verdade, e suas manifestações práticas no amor ao próximo e na cultura dos povos. Assim destacou tanto o valor do esplendor litúrgico, belo mas sóbrio, tão maltratado na atualidade, como destacou a necessidade do estudo como obrigação para os que vão evangelizar, e igualmente deu atenção às vestimentas, nem escandalosas nem miseráveis e feias, que denigrem a natureza humana de imagem e semelhança de Deus nos modismos modernos. Sua regra monástica previa (como a de São Bento) o equilíbrio entre trabalho intelectual e manual, o que podemos traduzir no nosso dia a dia como oração e ação (o Ora et Labora beneditino); leituras religiosas seguidas de meditação, para concretizar praticamente o amor ao próximo em qualquer atividade. Mas talvez o maior legado que Santo Isidoro nos tenha deixado é a de entender que, pela perseverança no conhecimento – de Deus – somos capazes de marcar, na dura pedra das nossas almas, os canais pelos quais a santidade da nossa particular água batismal deve transbordar, do fundo poço de Vida Eterna que Cristo nos oferece pela Sua Paixão.

Oração:

Deus Uno e Trino, Pai e Filho unidos pelo Espírito Santo, que nos quereis participantes integrais desta Divina Família, concedei-nos pela intercessão de Santo Isidoro, irmão consanguíneo de santos, a graça de vivermos de acordo com os conhecimentos que nos dais, de modo a formarmos desde já a verdadeira fraternidade no Vosso Sangue presente no vinho consagrado. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.


Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Jubileu 2025: o aplicativo "Iubilaeum25" já está disponível inclusive em português

Os trabalhos para o Jubileu na Piazza Pia, em Roma (ANSA)

O Dicastério para a Evangelização anuncia o lançamento da ferramenta digital em seis idiomas para se manter atualizado com todas as notícias do Jubileu 2025 e para se inscrever nos eventos do Ano Santo.

Vatican News

Desde terça-feira, 31 de outubro, o aplicativo móvel oficial do Jubileu 2025, "Iubilaeum25", está disponível para download. O app, que irá facilitar o registro para os eventos jubilares, pode ser baixado da App Store para iOS e da Play Store para Android.

Através do aplicativo, disponível em seis idiomas, inclusive em português, será possível acessar todas as últimas notícias sobre o Jubileu, registrar-se como peregrino para o Ano Santo e obter um Cartão do Peregrino gratuito. Uma vez registrados no portal, todos também poderão se inscrever nos eventos do Jubileu e nas peregrinações à Porta Santa.

Ao navegar pelo menu intuitivo e simples, os usuários poderão salvar os eventos de seu interesse, acessar sua área personalizada com mais rapidez e ter o código QR exclusivo para entrar na Porta Santa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

"Ninguém te condenou?" (a adúltera e os escritos na areia) - Cap. 35

Nazareno (Vatican News)

Cap. 35 - "Ninguém te condenou?" (a adúltera e os escritos na areia)

Em Jerusalém, Jesus vai pregar no Templo. Pouco depois, um tumulto interrompe suas palavras. Os gritos se aproximam cada vez mais, até que um grupo de escribas e fariseus entra no pátio e empurra uma mulher. Ela é jovem e muito bonita. Eles a haviam descoberta aparada com um homem que não era seu marido. Ela não tem forças para olhar para cima e sente uma vergonha imensa. “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. Tu, pois, que dizes?”. Eles assim diziam para pô-lo à prova, a fim de terem matéria para acusá-loMas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Quando um escriba a acusa violentamente, escreve: "agiota". Quando um outro a ataca, escreve: “infiel” e, ainda, ouvindo cada um dos acusadores: “ladrão”; “devasso”, “pai indigno”. Expõe abertamente os pecados e a hipocrisia de cada um. Todos são pecadores, mas se colocam como juízes daquela mulher. Pronunciam sentenças do alto do trono que construíram para si mesmos, escondendo suas fraquezas, seus pecados, sua maldade. Jesus escreve, sem nunca levantar o olhar. Por fim o Nazareno ergue-se e lhes diz: “Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra!”. Eles porém, ouvindo isso, saíram um após outro, a começar pelos mais velhos. Ele ficou sozinho e a mulher permanecia lá, no meio. Eles vão com os olhos baixos, sem dizer uma única palavra. Foram desnudados por aquele que conhece os segredos de seus corações. Tinham vindo para desafiá-lo e julgá-lo. No entanto, foram julgados pelo único verdadeiramente capaz de fazer isso. Deixam cair as pedras que seguravam em suas mãos. Jesus então se levanta, ajeita o manto e finalmente se dirige à mulher: “Mulher, onde estão eles, ninguém te condenou?”. Disse ela: “Ninguém, Senhor”. Disse, então, Jesus: “Nem eu te condeno, vai e de agora em diante não peques mais”. Ajuda-a se levantar tendo derrubado aqueles que tinham se levantado como juízes sem serem menos corruptos e menos pecadores do que aquela mulher.

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2024/03/22/11/137818316_F137818316.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 2 de abril de 2024

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo (Opus Dei)

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo

O tempo da Páscoa, explosão de alegria, se estende desde a vigília Pascal até o domingo de Pentecostes. Nesses cinquenta dias a Igreja nos envolve em sua alegria pela vitória do Senhor sobre a morte. Cristo vive, e vem ao nosso encontro.

09/04/2023

“Vinde, benditos de meu Pai: tomai posse do reino preparado para vós desde o princípio do mundo, aleluia”[1]. O tempo pascal é uma antecipação da felicidade que Jesus Cristo ganhou para nós com a sua vitória sobre a morte. O Senhor “foi entregue por nossos pecados” e ressuscitou “para nossa justificação”[2]: para que, permanecendo n’Ele, nossa alegria seja completa[3].

“RESSUSCITEI, Ó PAI, E SEMPRE ESTOU CONTIGO: POUSASTE SOBRE MIM A TUA MÃO, TUA SABEDORIA É ADMIRÁVEL”. É A EXPERIÊNCIA INEFÁVEL DA RESSURREIÇÃO, VIVIDA POR ELE NAS PRIMEIRAS HORAS DO DOMINGO.

No conjunto do Ano litúrgico, o tempo pascal é o “tempo forte” por antonomásia, porque a mensagem cristã é anúncio alegre que surge com força da salvação realizada pelo Senhor em sua “páscoa”, sua passagem da morte à vida nova. “O tempo pascal é tempo de alegria, de uma alegria que não se restringe a esta época do ano litúrgico, mas que habita sempre no coração do cristão. Porque Cristo vive. Não é Cristo uma figura que passou, que existiu num tempo e que se retirou, deixando-nos uma lembrança e um exemplo maravilhosos”[4].

O que só algumas “testemunhas designadas de antemão por Deus”[5] puderam experimentar nas aparições do Ressuscitado, agora nos é dado na liturgia, que nos faz reviver esses mistérios. Como pregava o Papa São Leão Magno, “todas as coisas relativas a nosso Redentor que antes eram visíveis, agora passaram a ser ritos sacramentais”[6]. É expressivo o costume dos cristãos do Oriente que, conscientes dessa realidade, desde a manhã do domingo da Ressurreição se cumprimentam reciprocamente: “Christos anestē”, Cristo ressuscitou; “alethōs anestē”, verdadeiramente ressuscitou.

A liturgia latina, que na noite santa do sábado transbordava de alegria no Exultet, no domingo de Páscoa condensa esta alegria no belo intróito Resurrexi: “Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo: pousaste sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável”[7]. Pomos nos lábios do Senhor, delicadamente, em clima de calorosa oração filial ao Pai, a experiência inefável da ressurreição, vivida por Ele nas primeiras horas do domingo. Assim nos animava São Josemaria, na sua pregação, a aproximarmo-nos de Cristo, com a consciência de que vivemos no Seu tempo: “Quis recordar, embora brevemente, alguns dos aspectos dessa vida atual de Cristo – Iesus Christus heri et hodie, ipse et in saecula, Jesus Cristo ontem e hoje, o mesmo pelos séculos – por nela se achar o fundamento de toda a vida cristã”[8]. O Senhor quer que O tratemos e falemos d’Ele, não no passado, como se faz com uma lembrança, mas percebendo o seu “hoje”, a sua atualidade, a sua companhia viva.

MUITO ANTES DE QUE EXISTISSE A QUARESMA E OUTROS TEMPOS LITÚRGICOS, A COMUNIDADE CRISTÃ JÁ CELEBRAVA ESSES CINQUENTA DIAS DE ALEGRIA.

Os cinquenta dias pascais

Muito antes de que existisse a Quaresma e outros tempos litúrgicos, a comunidade cristã já celebrava esses cinquenta dias de alegria. Quem não expressasse seu júbilo durante esses dias era considerado como alguém que não tinha captado o núcleo da fé, porque “com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”[9]. Essa festa, tão prolongada, nos indica até que ponto “os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que há de ser revelada em nós”[10]. Nesse tempo, a Igreja vive já a alegria que Senhor lhe revela: algo que “olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu”[11].

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo (Opus Dei)

Esse sentido escatológico, de antecipação do céu, reflete-se há séculos no costume litúrgico de suprimir as leituras do Antigo Testamento durante o tempo pascal. Se toda a Antiga Aliança é preparação, o Tempo Pascal celebra a realidade do reino de Deus já presente. Tudo se renovou na Páscoa, e ali não cabe figura, pois tudo é cumprimento. Por isso, no tempo pascal a liturgia proclama, junto ao quarto Evangelho, os Atos dos Apóstolos e o livro do Apocalipse: livros luminosos que têm uma especial afinidade com a espiritualidade desse tempo.

Os escritores do Oriente e do Ocidente cristãos contemplaram o conjunto do Tempo Pascal como um único e extenso dia de festa. Por isso, os domingos desse tempo não se chamam segundo, terceiro, quarto… depois da Páscoa, mas, simplesmente, domingos da Páscoa. Todo o tempo pascal é como um só grande domingo; o domingo que fez com que todos os domingos fossem domingos. Do mesmo modo se considera o domingo de Pentecostes, que não é uma nova festa, mas o dia conclusivo da grande festa da Páscoa.

TODO O TEMPO PASCAL É COMO UM SÓ GRANDE DOMINGO; O DOMINGO QUE FEZ COM QUE TODOS OS DOMINGOS FOSSEM DOMINGOS.

Quando a Quaresma chegava, alguns hinos da tradição litúrgica da Igreja recitavam o aleluia com um tom de despedida. Pelo contrário, a liturgia pascal se entretém neste canto, porque o aleluia é a antecipação do cântico novo que os batizados entoarão no céu[12], que já agora se sabem ressuscitados com Cristo. Por isso, durante o tempo pascal, tanto o estribilho do salmo responsorial como o final das antífonas da Missa repetem frequentemente essa aclamação, que une o imperativo do verbo hebreu hallal – louvar – e Yahveh, o nome de Deus.

“Feliz aquele aleluia que entoaremos ali! – diz Santo Agostinho em uma homilia – Será um aleluia seguro e sem temor, porque ali não haverá nenhum inimigo, não se perderá nenhum amigo. Lá, como aqui, ressoarão os louvores divinos, mas os daqui procedem dos que ainda estão em dificuldades, enquanto os de lá são dos que já estão em segurança. Aqui, dos que hão de morrer. Lá, dos que hão de viver para sempre. Aqui, dos que esperam. Lá, dos que já possuem. Aqui, dos que ainda estão no caminho. Lá, dos que já chegaram à pátria”[13]. São Jerônimo conta que durante os primeiros séculos na Palestina, esse grito era tão habitual que aqueles que aravam os campos diziam de vez em quando: aleluia! E os que remavam nas barcas para transportar os viajantes de uma margem a outra de um rio, quando se cruzavam, exclamavam: aleluia! “Nestas semanas do tempo pascal, a Igreja é embargada por um júbilo profundo e sereno, que nosso Senhor quis deixar como herança para todos os cristãos (...). Um contentamento cheio de conteúdo sobrenatural que nada nem ninguém poderá tirar-nos, se nós não o permitirmos”[14].

A oitava da Páscoa

“Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa e são celebrados como solenidades do Senhor”[15]. Antigamente, durante esta oitava o bispo de Roma celebrava as stationes, para introduzir os cristãos recém batizados no triunfo daqueles santos especialmente significativos para a vida cristã de Roma. Era uma certa “geografia da fé”, na qual a Roma cristã aparecia como uma reconstrução da Jerusalém do Senhor. Visitavam-se várias basílicas romanas: a statio da vigília da Páscoa ocorria em São João de Latrão, o domingo, em Santa Maria Maior, a segunda, em São Pedro do Vaticano, a terça, em São Paulo Extramuros, a quarta, em São Lourenço Extramuros, a quinta, na Basílica dos Santos Apóstolos, a sexta, em Santa Maria ad martyres, e o sábado, novamente, em São João de Latrão.

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo (Opus Dei)

As leituras desses dias se relacionavam com o lugar da celebração. Assim, por exemplo, a statio de quarta se celebrava na Basílica de São Lourenço Extramuros. Ali o evangelho que se proclamava era a passagem das brasas[16], em alusão à tradição popular romana, que relata como o diácono Lourenço foi martirizado sobre uma grelha. O sábado da oitava era o dia em que os neófitos depunham a alva com a qual se haviam revestido em seu batismo durante a vigília pascal. Por isso, a primeira leitura era a exortação de Pedro que começa com as palavras “deponentes igitur omnem malitiam…[17]: despojai-vos de toda maldade.

Os Padres da Igreja falavam com frequência do domingo como “oitavo dia”. Situado fora da sucessão dos sete dias, o domingo evoca o início do tempo e seu final no tempo futuro[18]. Por isso, os antigos batistérios, como o de São João de Latrão, tinham forma octogonal: os catecúmenos saiam da fonte batismal para iniciar a sua vida nova, aberta já no oitavo dia, o domingo que não acaba. Assim, cada domingo nos recorda que nossa vida transcorre dentro do tempo da Ressurreição.

Ascensão e Pentecostes

“Com a sua Ascensão, o Senhor ressuscitado atrai o olhar dos Apóstolos – e também o nosso – às alturas do Céu para nos mostrar que a meta do nosso caminho é o Pai”[19]. Começa o tempo de uma presença nova do Senhor: parece que está mais escondido, mas de certo modo está mais perto de nós: começa o tempo da liturgia, que é toda uma grande oração ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo, uma oração “em caudal manso e largo”[20].

COM A ASCENSÃO COMEÇA O TEMPO DE UMA PRESENÇA NOVA DO SENHOR: PARECE QUE ESTÁ MAIS ESCONDIDO, MAS DE CERTO MODO ESTÁ MAIS PERTO DE NÓS.

Jesus desaparece da vista dos apóstolos, que talvez fiquem silenciosos no princípio. “Não sabemos se perceberam naquele momento o fato de que precisamente diante deles se estava abrindo um horizonte magnífico, infinito, o ponto de chegada definitivo da peregrinação terrena do homem. Talvez o tenham compreendido só no dia de Pentecostes, iluminados pelo Espírito Santo”[21].

“Deus eterno e todo-poderoso, que quisestes incluir o sacramento da Páscoa no mistério dos cinquenta dias...”[22]. A Igreja nos ensina a reconhecer nessa cifra a linguagem expressiva da revelação. O número cinquenta tinha duas cadências importantes na vida religiosa de Israel: a festa de Pentecostes, sete semanas após se começar a ceifar o trigo, e a festa do jubileu que declarava santo o quinquagésimo ano: um ano dedicado a Deus no qual cada um recuperava sua propriedade, e podia regressar à sua família[23]. No tempo, da Igreja, o “sacramento da Páscoa” inclui os cinquenta dias após a Ressurreição do Senhor, até a vinda do Espírito Santo no Pentecostes. Se, com a linguagem da liturgia, a Quaresma significa a conversão a Deus com toda a nossa alma, com toda a nossa mente, com todo o nosso coração, a Páscoa significa nossa vida nova de “corressuscitados” com Cristo. “Igitur, si consurrexistis Christo, quæ sursum sunt quærite: Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus”[24].

Páscoa: Ressuscitei e sempre estou contigo (Opus Dei)

Ao final desses cinquenta dias, “chegamos ao cume dos bens e à metrópole de todas as festas”[25], pois, inseparável da Páscoa, é como a “Mãe de todas as festas”. “Somai todas as vossas festas – dizia Tertuliano aos pagãos de seu tempo – e não chegareis aos cinquenta dias de Pentecostes”[26]. Pentecostes é, pois, um domingo conclusivo, de plenitude. Nessa Solenidade, vivemos com admiração como Deus, por meio do dom da liturgia, atualiza a doação do Espírito que se realizou no amanhecer da Igreja nascente.

SÃO JOSEMARIA VIVIA E NOS ANIMAVA A VIVER COM ESTE SENTIDO DE PRESENTE PERENE: “AJUDA-ME A PEDIR UM NOVO PENTECOSTES, QUE ABRASE OUTRA VEZ A TERRA”.

Se na Ascensão Jesus “subiu aos céus para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade”[27], agora, no dia de Pentecostes, o Senhor, sentado à direita do Pai, comunica sua vida divina à Igreja mediante a infusão do Paráclito, “fruto da cruz”[28]. São Josemaria vivia e nos animava a viver com este sentido de presente perene: “Ajuda-me a pedir um novo Pentecostes, que abrase outra vez a terra”[29].

Compreende-se também por isso que São Josemaria quisesse começar alguns meios de formação da Obra rezando uma oração tradicional da Igreja que se encontra, por exemplo, na Missa votiva do Espírito Santo: “Deus, qui corda fidelium Sancti Spiritus illustratione docuisti, da nobis in eodem Spiritu recta sapere, et de eius semper consolatione gaudere[30]. Com palavras da liturgia, imploramos a Deus Pai que o Espírito Santo nos faça capazes de apreciar, de saborear, o sentido das coisas de Deus e pedimos também que disfrutemos do consolo alentador do “Grande Desconhecido”[31]. Porque “o mundo necessita da coragem, da esperança, da fé e da perseverança dos discípulos de Cristo. O mundo precisa dos frutos, dos dons do Espírito Santo, como elenca São Paulo: “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gal 5, 22). O dom do Espírito Santo foi concedido em abundância à Igreja e a cada um de nós, para podermos viver com fé genuína e caridade operosa, para podermos espalhar as sementes da reconciliação e da paz.”[32]

Félix María Arocena


[1] Missal Romano, Quarta-feira da Oitava da Páscoa, Antífona de entrada, Cfr. Mt 25, 34.

[2] Rm 4, 25.

[3] Cfr. Jo 15, 9-11.

[4] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 102.

[5] At 10, 41.

[6] São Leão Magno, Sermão 74, 2 (PL 54, 398).

[7] Missal Romano, Domingo da Ressurreição, Antífona de entrada. Cfr. Sl 138 (139), 18.5-6.

[8] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 104. Cfr. Hb 13, 8.

[9] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24-XI-2013, n. 1.

[10] Rm 8, 18.

[11] 1 Cor 2, 9.

[12] Cfr. Ap 5,9

[13] Santo Agostinho, Sermão 256, 3 (PL 38, 1193).

[14] Álvaro del Portillo, Caminhar com Jesus, Quadrante, São Paulo, 2016, pp. 225-226.

[15] Missal Romano, Normas universais do ano litúrgico, 24.

[16] Jo 21, 9.

[17] 1 Pd 2, 1.

[18] Cfr. São João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini, 31-V-1998, n. 26.

[19] Francisco, Regina Coeli, 1-VI-2014.

[20] Caminho, 145.

[21] Bento XVI, Homilia, 28-V-2006.

[22] Missal Romano, Vigília do Domingo de Pentecostes, coleta.

[23] Cfr. Lv 23, 15-22; Nm 28, 26-31; Lv 25, 1-22.

[24] Cl 3, 1.

[25] São João Crisóstomo, Homilia II de Sancta Pentecoste (PG 50, 463).

[26] Tertuliano, De idolatria 14 (PL 1, 683).

[27] Missal Romano, Ascensão do Senhor, prefácio.

[28] É Cristo que passa, n. 96.

[29] São Josemaria, Sulco, n. 213.

[30] Missal Romano, Missa votiva do Espírito Santo, coleta.

[31] Cfr. É Cristo que passa, nn. 127-138.

[32] Francisco, Homilia na Solenidade de Pentecostes, 24-V-2015.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF