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domingo, 27 de julho de 2025

HISTÓRIA DA IGREJA: Francisco de Assis um homem de paz formado pela liturgia (Parte 1/2)

Nestas páginas, algumas imagens do retábulo O perdão de Assis, de padre Hilário de Viterbo, 1393, conservada na abside | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 09 - 2005

Francisco de Assis um homem de paz formado pela liturgia

A vida de Francisco de Assis, como acontece para todo homem, sempre será, em certo sentido, um mistério. Reconhecer isso não impede de continuar a aprofundá-la, graças também aos resultados já alcançados até aqui. Justamente nessa perspectiva é que se está reconhecendo o papel importante, para não dizer fundamental, da liturgia no itinerário de Francisco.

de Pietro Messa

Não podemos deixar de reconhecer que, em certo sentido, Francisco de Assis teve um destino invejável se comparado a outros santos: declarado em 1992 pela Time Magazine um dos homens mais representativos do segundo milênio, estudado por centros de pesquisa universitários leigos e não leigos, objeto de inúmeras publicações científicas e de divulgação inerentes a sua história, com diversos filmes a ele dedicados, reconhecido como referência ideal por pessoas de diversas culturas e religiões. A tudo isso se acrescente a escolha de Assis, a cidade de São Francisco, por João Paulo II, para o histórico dia de 27 de outubro de 1986, que deu início ao chamado “espírito de Assis”, movimento inter-religioso em favor da paz; o Pontífice lá voltou ainda em 9 e 10 de janeiro de 1993 e, apesar das inúmeras reservas e da perplexidade diante da oportunidade dessa iniciativa, em 24 de janeiro de 2002, ou seja, depois dos atos terroristas de 11 de setembro de 2001.

Vemos, portanto, um São Francisco muito valorizado. E, ainda que o dia de sua festa, 4 de outubro, na Itália, não se tenha tornado festa nacional, seu nome é de certa forma sinônimo de diálogo intercultural e inter-religioso. Todavia, todos sabemos que a fronteira entre ter sucesso e ser inflacionado é muito sutil, e isso vale também para o santo de Assis.

Os estudos franciscanos avaliaram as fontes inerentes a sua experiência cristã, enquanto numerosos estudiosos continuam a tentar aperfeiçoar o conhecimento dessas fontes a fim de descobrir o rosto desse santo, superando todas as imagens hagiográficas ou manipulações ideológicas. Têm-se aprofundado os estudos sobre sua formação cultural e espiritual, reconhecendo-se nela diversas estratificações, a saber: a cultura do filho do mercador; uma ideologia cavaleiresca que o conduzia a assumir ideologicamente os trajes do cavaleiro; a cultura cortês que continuou mesmo depois de sua conversão; o elemento evangélico e até as reminiscências das antigas vidas dos Padres do deserto1. Diante desses numerosos estudos, cujo início se reconhece em Paul Sabatier, parece que hoje, a respeito do frei Francisco de Assis, filho do mercante Pedro de Bernardone, não haja mais nada a aprofundar. A imagem mais divulgada, porém, parece não apenas inflacionada, mas, por vezes, tem-se a sensação de que lhe faltem alguns aspectos importantes, quando não é vítima de alguma operação ideológica instrumentalizante. Certamente, como acontece para todo homem, também a vida de Francisco de Assis será sempre, em certo sentido, um mistério. Reconhecer isso não impede, porém, de continuar a aprofundá-la, graças também aos resultados já alcançados até aqui. Justamente nessa perspectiva vem sendo reconhecido um papel importante, para não dizer fundamental, da liturgia no itinerário de Francisco.

1. Um período de reforma litúrgica

A época em que viveu Francisco foi de grandes mudanças e transformações culturais: o desenvolvimento das comunas, o nascimento das universidades, o incentivo aos intercâmbios comerciais, o surgimento de novas exigências religiosas, que muitas vezes desembocaram na heresia, mas também em movimentos pauperistas. Todos esses aspectos normalmente são levados em consideração pelos estudiosos mais perspicazes, quando enquadram historicamente a vida de Francisco de Assis. Todavia, é quase totalmente negligenciada a consideração de que aqueles anos foram um dos momentos nevrálgicos da história da liturgia. De fato, se tomarmos um manual de história da liturgia qualquer, poderemos constatar que Inocêncio III deu início a uma reforma da liturgia da Cúria Romana cujos resultados, justamente por intermédio dos Frades Menores, se difundiram por toda a parte, a ponto de serem ainda hoje o elemento caracterizante da liturgia latina de rito romano.

No início do século XIII, em Roma, existiam fundamentalmente quatro tipos de liturgia: a da Cúria Romana, que residia no Palácio do Latrão, a da vizinha Basílica de São João, a da Basílica de São Pedro e a chamada liturgia da Urbe, ou seja, da cidade de Roma. Ino­cêncio III, em seu projeto de reforma, que viu um de seus momentos de máxima expressividade no Concílio Lateranense IV, de 1215, não excluiu a liturgia. Um dos frutos mais prestigiosos da reforma da liturgia foi o breviário. Aproximando, integrando e adequando à vida da Cúria Romana, frequentemente sujeita a transferências, textos que anteriormente eram distribuídos em livros diversos, Inocêncio III forneceu um instrumento de fácil manipulação sobretudo para aqueles que viviam viajando. Esse breviário, justamente por sua facilidade de uso, foi logo adotado também por algumas dioceses, entre as quais a de Assis. Dessa forma, Francisco e a fraternitas menorítica tiveram acesso a um livro litúrgico que cedo se revelou conforme a suas exigências de pessoas itinerantes que viviam como “estrangeiros e peregrinos”2. Assim, os Frades Menores fizeram sua a oração litúrgica e especialmente a oração da Cúria Romana, ou seja, do pontífice.

2. Não simplesmente questão de oração

Adotar um livro litúrgico ou outro não era indiferente. O papa Gregório VII já o havia compreendido anteriormente, quando via com temor uma disparidade litúrgica, porque em alguns casos conduzia não apenas a uma disparidade jurisdicional, mas também doutrinal, ou seja, à heresia. Por exemplo, adotar o breviário da Cúria Romana reformado por Inocêncio III significava acolher toda uma tradição anterior; nele, a disposição das diversas festas, a escolha de determinadas leituras, a montagem de passagens bíblicas para formar antífonas, versículos e responsórios, a presença de inúmeras leituras tanto patrísticas quanto dos antigos martirológios eram fundamentalmente o resultado da reflexão eclesial e da experiência sobretudo monástica de todo o milênio anterior. Portanto, ao fazer seu o breviário, Francisco e a fraternitas menorítica se inseriram numa história que os havia precedido e que fora transmitida ao longo dos séculos. Isso não significa que eles se sentiram ou agiram como se fossem prisioneiros daquela tradição: de fato, como anota uma fonte, Francisco não deixou de afirmar sua peculiaridade, repelindo alguns modelos a ele precedentes.

Seja como for, acolhendo a oração do breviário, eles se inseriram dentro da tradição espiritual e teológica amadurecida ao longo dos séculos na Igreja, como se pode constatar na leitura dos escritos de Francisco, nos quais as reminiscências litúrgicas são incontáveis. Essas reminiscências, que tecnicamente são definidas casos de “intertextualidade e interdiscursividade” - ou seja, citações propriamente ditas ou simples remissões conceituais-, muitas vezes são uma transmissão de textos patrísticos interiorizados pelo santo. Se isso parece surpreendente, sobretudo com relação a certa historiografia que apresentou Francisco de Assis como o Santo unicamente do Evangelho - quase uma espécie de precursor da reforma protestante -, ainda mais rico de consequências é o fato de que muitas vezes a própria Bíblia, e portanto o Evangelho, está presente em seus escritos mediada pela liturgia. Isso, naturalmente, leva a rever certas descrições da experiência espiritual de Francisco que o apresentam como alguém que teve uma relação imediata, sem mediações, com a Escritura. Em vez disso, o que fica claro a um estudo mais aprofundado é que ele conheceu a Escritura mediante a liturgia, ou seja, graças à mediação da Igreja. E a liturgia é ela mesma uma explicação da Escritura, ou seja, uma exegese: de fato, mesmo simplesmente a colocação de uma determinada leitura numa festa em vez de outra já diz muito sobre a chave de leitura e, portanto, sobre a compreensão daquele determinado trecho. Assim, a leitura do capítulo 11 de Isaías, no qual se fala do rebento que desponta do tronco de Jessé no Comum da Virgem Maria já é em si mesma uma perspectiva mariana dada àquele determinado trecho, notavelmente aumentada, se, ainda por cima, no lugar de virga, ou seja, rebento - como deveria ser - está virgo, ou seja, Virgem, como se mostra no breviário que pertenceu a São Francisco de Assis: “Despontará a Virgem do tronco de Jessé, um rebento germinará de suas raízes, sobre ele pousará o espírito do Senhor”3.

Notas

1 J. Dalarun, Francesco: un passaggio. Donna e donne negli scritti e nelle leggende di Francesco d’Assisi, posfácio de G. Miccoli, Roma, 1994.
2 P. Messa, “Un testimone dell’evoluzione liturgica della fraternitas francescana primitiva: il Breviarium sancti Francisci”, in: Revirescunt Chartae, codices documenta textus: miscellanea in honorem fr. Caesaris Cenci, OFM, vol. I, Roma, Ed. A. Cacciotti-P. Sella, 2002, pp. 5-141.
3 P. Messa, “L’Officium mortuorum e l’Officium beate Marie virginis nel Breviarium sancti Francisci”, in: Franciscana. Bollettino della Società internazionale di studi francescani, 4 (2002), pp. 111-149.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Reflexão para o 17º Domingo do Tempo Comum (C)

Jesus Cristo (Vatican News)

É preciso confiar em Deus, reconhecê-lo como Pai e Pai querido.

Vatican News

A leitura do Gênesis falando da intercessão que Abraão faz a Deus pelos seus conterrâneos, serve para nós como incentivo para uma oração bem feita.

Abraão dialoga com Deus, suplica, apresenta suas razões, escuta, volta a falar, enfim são dois amigos conversando através de um diálogo espontâneo e sincero.

No Evangelho, os discípulos pedem a Jesus que os ensine a rezar.

Jesus começa dizendo que quando quiserem rezar, deverão se dirigir a Deus chamando-O de Pai, pois Ele é o nosso querido Pai. Jesus dá um passo gigantesco em relação a Abraão. Se esse já demonstrava confiança e intimidade, Jesus recomenda o posicionamento de filho que conversa com o Pai querido.

Simultaneamente demonstramos que de fato somos seus filhos quando pedimos que o seu Reino, ou seja, os seus planos, seus projetos, também sejam nossos, sejam realizados. Estamos comprometidos com a realização da nova sociedade.

Ao mesmo tempo nos ensina que somos irmãos, por isso o pedido do pão para cada dia, feito também na primeira pessoa do plural, no nós,  significando que assumimos como nossas, as necessidades dos demais, seja de alimento, de moradia, de saúde, de educação, de emprego, de justiça.

Nossa filiação se torna mais autêntica quando pedimos para que perdoe as nossas ofensas do mesmo modo que perdoamos aos que nos ofenderam. “Filho de peixe, peixinho é”, diz um ditado! Filho de um misericordioso, também é misericordioso! Filho de um Deus perdão, também perdoa!

Abraão foi muito humilde em sua oração. Jesus também nos indica a humildade quando nos orienta pedir ao Pai que não nos deixe cair em tentação. Se Deus não nos ajudar, nada conseguiremos, somos fracos, somos pó.

Finalmente o ensinamento de Jesus termina com o resultado de nossa oração, com a certeza de quem pede, recebe: quem procura, encontra;  para quem bate, se abrirá. Pedi e recebereis!

É preciso confiar em Deus, reconhecê-lo como Pai e Pai querido.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Formação da personalidade (3): O correto amor a nós mesmos (Parte 2/2)

Foto/Crédito: Opus Dei

Formação da personalidade (3): O correto amor a nós mesmos

O autoconhecimento, com virtudes e defeitos, me faz feliz?

13/07/2021

Aceitação pessoal: o Senhor nos ama assim

Ao considerar o nosso modo de ser à luz de Deus, estamos em condições de nos aceitarmos como somos: com talentos e virtudes, mas também com defeitos que admitimos humildemente. A verdadeira autoestima implica reconhecer que nem todos são iguais e aceitar que outras pessoas podem ser mais inteligentes, tocar melhor um instrumento musical, ser mais atléticas... Todos temos boas qualidades que podemos desenvolver e, o que é mais importante, todos somos filhos de Deus. Nisso consiste a genuína autoaceitação, o sentido positivo do amor próprio do cristão que quer servir a Deus e aos outros, rejeitando as comparações excessivas que poderiam nos levar à tristeza.

Também nos aceitaremos como somos se não perdemos de vista que Deus nos ama com as nossas limitações, que fazem parte do nosso caminho de santificação e são matéria da nossa luta. O Senhor nos escolhe, como os primeiros Doze: homens comuns, com defeitos, com fraquezas, com a palavra mais fácil que as obras. E, entretanto, Jesus chama-os para fazer deles pescadores de homens, corredentores, administradores da graça de Deus[5].

Diante dos sucessos e dos fracassos

Com base nessa perspectiva sobrenatural, contemplam-se com maior profundidade o nosso modo de ser e a nossa trajetória biográfica, compreendendo todo o seu sentido. Relativizamos, com uma visão de eternidade, os sucessos e as conquistas temporais. Então, se nos alegramos com o sucesso na nossa atividade, sabemos também que o mais importante é que esta tenha servido para crescer em santidade. É o realismo cristão, maturidade humana e sobrenatural, que, do mesmo modo que não se deixa levar pela exaltação, que pode provocar o triunfo ou elogios, não se deixa levar pelo pessimismo diante de uma derrota. Como ajuda dizer, como São Pedro, que fizemos o bem em nome de Jesus Cristo Nazareno![6]

Ao mesmo tempo, admitir que as dificuldades externas e as próprias imperfeições limitam as nossas conquistas é um dos aspectos que dá forma à nossa autoestima, fundamenta a maturidade pessoal e abre as portas do aprendizado. Só podemos aprender com o reconhecimento das nossas carências e com a atitude de extrair experiências positivas do que aconteceu. Fracassaste! – Nós nunca fracassamos. – Puseste por completo a tua confiança em Deus. Não omitiste, depois, nenhum meio humano. Convence-te desta verdade: o teu êxito – agora e nisto – era fracassar. – Dá graças ao Senhor e... torna a começar![7]. Estamos em condições de empreender o caminho da Cruz, que mostra os paradoxos da fortaleza da fraqueza, a grandeza da miséria e o crescimento na humilhação, e ensina sua extraordinária eficácia.

Trabalhar com segurança e saber retificar

A segurança pessoal é mais firme quando nos apoiamos em saber-nos filhos amados de Deus, e não na certeza obter o sucesso, que muitas vezes foge de nós. Essa convicção permite tolerar o risco que acompanha qualquer decisão, superar a paralisia da insegurança e ter uma atitude de abertura à novidade. Não é prudente quem nunca se engana, mas quem sabe retificar os seus erros. Esse é prudente porque prefere não acertar vinte vezes a deixar-se levar por um cômodo abstencionismo. Não atua com tresloucada precipitação ou com absurda temeridade, mas assume o risco das suas decisões e não renuncia a conseguir o bem por medo de não acertar[8].

Partindo das limitações pessoais e da capacidade de aprender do ser humano, retificar supõe uma melhoria, um enriquecimento pessoal que, por sua vez, reverte nas coisas e pessoas que nos rodeiam, contribuindo simultaneamente a aumentar a confiança em nós mesmos e no ambiente em que vivemos. Quem se põe nas mãos do Pai celestial está seguro, pois todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus[9], inclusive as quedas, quando pedimos perdão ao Senhor e, com a sua graça, nos levantamos com mais humildade. Deste modo, saber retificar faz parte do processo de conversão: Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade[10].

Uma virtude indispensável

A autoestima cresce, em síntese, com a ajuda da humildade, porque é a virtude que nos ajuda a conhecer simultaneamente a nossa miséria e a nossa grandeza[11]. Quando falta essa atitude da alma, não é raro que apareçam problemas de estima pessoal. Mas quando se cultiva, a pessoa se enche de realismo, e se avalia de modo certo: não somos homens nem mulheres impecáveis, mas também não somos seres corrompidos! Somos filhos de Deus, e, acima das nossas limitações, temos uma dignidade inesperada.

A humildade gera um ambiente interior que permite conhecer-nos como somos e nos impulsiona a procurar sinceramente o apoio dos outros, ao mesmo tempo que os damos o nosso. Em última análise, todos e cada um de nós necessitamos de Deus, em quem vivemos, nos movemos e existimos[12], que é Pai misericordioso e vela continuamente por nós. Quanta segurança e confiança existiram na vida de Santa Maria! Ela pôde dizer realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo[13] por ser muito consciente da sua humildade de escrava de Deus[14]. Nela, humildade e consciência da grandeza da própria vocação se conjugam maravilhosamente.

J. Cavanyes


[5] É Cristo que passa, n. 2.

[6] At 3,6.

[7] Caminho, n. 404.

[8] Amigos de Deus, n. 88.

[9] Rm 8,28.

[10] 1 Jo 1,8-9.

[11] Amigos de Deus, n. 94.

[12] At 17,28.

[13] Lc 1, 49.

[14] Lc 1, 48.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-bom-amor-proprio/

Papa no Angelus: não se pode rezar a Deus como “Pai” e depois ser duro com os outros

Angelus 27/07/2025 - Papa Leão XIV   (@Vatican Media)

Papa: “ao recitarmos o Pai-Nosso, além de celebrarmos a graça da filiação divina, exprimimos também o nosso compromisso de corresponder a esse dom, amando-nos uns aos outros como irmãos em Cristo”.

Silvonei José – Vatican News

“Não se pode rezar a Deus como “Pai” e depois ser duro e insensível para com os outros. Pelo contrário, é importante deixarmo-nos transformar pela sua bondade, pela sua paciência, pela sua misericórdia, para refletir o seu rosto no nosso como um espelho”.

Foi o que disse o Papa Leão XIV no Angelus deste 17º Domingo do Tempo Comum, na Praça São Pedro. “A liturgia hoje nos convida, na oração e na caridade, a nos sentirmos amados e a amar como Deus nos ama: com disponibilidade, discrição, solicitude recíproca, sem cálculos”, sublinhou.

Hoje, - disse Leão XVI, “o Evangelho apresenta-nos Jesus a ensinar aos seus discípulos o Pai-Nosso: a oração que une todos os cristãos. Nela, o Senhor convida a dirigirmo-nos a Deus chamando-lhe “Abbá”, “paizinho”, como crianças, com «simplicidade, confiança filial, ousadia, certeza de ser amado”.

Praça São Pedro   (@Vatican Media)

A este propósito, o Catecismo da Igreja Católica diz, com uma expressão muito bela, que “pela oração do Senhor, nós somos revelados a nós próprios, ao mesmo tempo que nos é revelado o Pai”. E é verdade: quanto mais confiantes rezamos ao Pai do Céu, tanto mais nos descobrimos filhos amados e tanto mais conhecemos a grandeza do seu amor, destacou o santo Padre.

“O Evangelho de hoje descreve os traços da paternidade de Deus por meio de algumas imagens sugestivas: a de um homem que se levanta no meio da noite para ajudar um amigo a acolher uma visita inesperada; ou a de um pai que tem o cuidado de dar coisas boas aos seus filhos”.

Vídeo Angelus

https://youtu.be/D_cZvDKRjCU

Estas imagens – continuou Leão XIV -, recordam-nos que Deus nunca nos vira as costas quando nos dirigimos a Ele, nem mesmo se chegamos tarde para bater à sua porta, talvez depois de erros, de oportunidades perdidas, de fracassos, nem mesmo se, para nos acolher, Ele tiver de “acordar” os seus filhos que dormem em casa.

Praça São Pedro   (@Vatican Media)

“Pelo contrário, na grande família da Igreja, o Pai não hesita em tornar-nos todos participantes de cada um dos seus gestos de amor. O Senhor escuta-nos sempre que rezamos, e, se por vezes nos responde em momentos e formas difíceis de compreender, é porque age com uma sabedoria e uma providência maiores, que estão para além da nossa compreensão. Por isso, mesmo nestes momentos, não deixemos de rezar com confiança: n'Ele encontraremos sempre luz e força”.

No entanto, sublinhou o Papa, ao recitarmos o Pai-Nosso, além de celebrarmos a graça da filiação divina, exprimimos também o nosso compromisso de corresponder a esse dom, amando-nos uns aos outros como irmãos em Cristo.

“Peçamos a Maria que saibamos responder este chamamento, para manifestar a doçura do rosto do Pai.”

Palácio Apostólico (@Vatican Media)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 26 de julho de 2025

EDITORIAL: O Estado da Palestina e a responsabilidade da comunidade internacional

Assembleia Geral das Nações Unidas  (ANSA)

Há 25 anos, a Santa Sé assinou um primeiro acordo básico com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Dez anos depois, assinou um Acordo Global com o Estado da Palestina, que entrou em vigor em janeiro de 2016.

Andrea Tornielli

O presidente Emmanuel Macron anunciou que a França reconhecerá o Estado da Palestina e que o anúncio solene será feito durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro próximo. Enquanto isso, trabalha-se na organização da “Conferência Internacional de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados”, que deveria ter sido realizada na sede da ONU em Nova York em junho passado, sob a direção dos governos da França e da Arábia Saudita, mas foi adiada devido ao ataque israelense ao Irã.

O drama que se vive em Gaza, os repetidos massacres de dezenas de milhares de civis inocentes que perderam a vida sob as bombas e que agora morrem de fome e de privações, ou são atingidos enquanto tentam obter um pouco de comida, deveria tornar evidente aos olhos de todos como é urgente parar os ataques militares que provocam uma carnificina e, ao mesmo tempo, como se tornou imprescindível uma solução para a questão palestina. Solução que a Santa Sé invoca constantemente há décadas e que nunca poderá acontecer sem a contribuição efetiva da comunidade internacional, além dos países diretamente envolvidos.

É útil recordar, a este respeito, que a Santa Sé já havia assinado, há 25 anos, um primeiro acordo básico com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Dez anos depois, assinou um Acordo Global com o Estado da Palestina, que entrou em vigor em janeiro de 2016. Uma decisão e um reconhecimento em linha com a preocupação expressa pelos Pontífices desde 1948 pela situação dos Lugares Santos e pelo destino dos palestinos. Paulo VI foi o primeiro Papa a afirmar explicitamente que eles eram e são um povo, e não apenas um grupo de refugiados de guerra. Na mensagem de Natal de 1975, o Papa Montini pedia aos filhos do povo judeu, que viam agora consolidado o seu Estado soberano de Israel, que “reconhecessem os direitos e as legítimas aspirações de outro povo que também sofreu durante muito tempo, o povo palestino”.

No início dos anos 90, João Paulo II estabeleceu relações tanto com o Estado de Israel (1993) quanto com a OLP (1994), num momento em que parecia que as partes estavam próximas de um acordo e do reconhecimento dos dois Estados. Em fevereiro de 2000, alguns meses antes da entrada do primeiro-ministro israelense Ariel Sharon na Esplanada das Mesquitas, que deu início à segunda Intifada, a Santa Sé assinou o já mencionado acordo básico com a OLP. Ao chegar a Belém, em março de 2000, João Paulo II disse: “a Santa Sé sempre reconheceu que o povo palestino tem o direito natural de ter uma pátria e o direito de viver em paz e tranquilidade com os outros povos desta região. Em nível internacional, os meus predecessores e eu proclamámos repetidamente que não seria possível pôr fim ao triste conflito na Terra Santa sem garantias sólidas dos direitos de todos os povos envolvidos, com base no direito internacional e nas importantes resoluções e declarações das Nações Unidas”.

Nove anos depois, Bento XVI, durante sua visita à Terra Santa, reiterou: “que seja universalmente reconhecido que o Estado de Israel tem o direito de existir e de gozar de paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas. Que seja igualmente reconhecido que o povo palestino tem direito a uma pátria independente e soberana, a viver com dignidade e a viajar livremente. Que a “solução de dois Estados” se torne realidade e não permaneça um sonho”. Em 2012, a Santa Sé deu seu apoio à admissão do “Estado da Palestina” como membro observador nas Nações Unidas.

O Papa Francisco, durante a viagem à Terra Santa em maio de 2014, repetiu diante do presidente palestino Mahmoud Abbas: “chegou o momento de todos terem a coragem da generosidade e da criatividade a serviço do bem, a coragem da paz, que se baseia no reconhecimento por parte de todos do direito de dois Estados a existirem e a gozarem de paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”. E, pela primeira vez, referiu-se ao país que o acolhia como “Estado da Palestina”.

Assim se chegou ao Acordo Global entre a Santa Sé e o Estado da Palestina, de junho de 2015, que insiste na solução de dois Estados já contemplada na resolução 181 da ONU de novembro de 1947. O preâmbulo do Acordo, através de uma referência ao direito internacional, enquadra alguns pontos-chave, entre os quais: a autodeterminação do povo palestino, o objetivo da solução de dois Estados, o significado não apenas simbólico de Jerusalém e seu caráter sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos, seu valor religioso e cultural universal como tesouro para toda a humanidade. No preâmbulo, é reafirmado o direito do povo palestino “à liberdade, à segurança e à dignidade num Estado independente próprio”, um “Estado da Palestina independente, soberano, democrático e viável, com base nas fronteiras anteriores a 1967, na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e na Faixa de Gaza, que viva lado a lado em paz e segurança com todos os seus vizinhos”.

Recordando o Acordo Básico com a OLP de 2000, o Acordo Global renovava o pedido de uma “solução justa para a questão de Jerusalém, baseada nas resoluções internacionais”, afirmando que “decisões e ações unilaterais que alteram o caráter e o status específicos de Jerusalém são moral e legalmente inaceitáveis” e que “qualquer medida unilateral ilegal, de qualquer tipo, é nula e sem efeito” e “constitui um obstáculo à busca da paz”.

Este breve "excursus" atesta a linearidade e o realismo da posição contida nos apelos dos últimos Pontífices, nas declarações da Santa Sé às Nações Unidas e nos acordos assinados até hoje. Imediatamente após o ataque terrorista desumano perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, o Papa Francisco condenou o massacre e pediu publicamente, por várias vezes, a libertação de todos os reféns. Ao mesmo tempo, reconhecendo o direito de Israel de se defender, a Santa Sé pediu repetidamente – em vão –, que não fosse atingido indiscriminadamente todo o povo palestino presente na Faixa, assim como pediu que fossem interrompidos os ataques dos colonos contra a população palestina que vive nos territórios do Estado da Palestina, comumente indicados como Cisjordânia. Infelizmente, isso não aconteceu: em Gaza, e não apenas em Gaza, assistimos a ataques que não podem ter qualquer justificação e representam um massacre que pesa na consciência de todos.

Como disse de forma clara e inequívoca Leão XIV no Angelus de domingo, 20 de julho, é urgente e necessário “observar o direito humanitário” e “respeitar a obrigação de proteger os civis, bem como a proibição da punição coletiva, do uso indiscriminado da força e do deslocamento forçado da população”. A comunidade internacional não pode continuar assistindo passivamente ao massacre em curso. Esperamos que a Conferência Internacional de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, compreendendo a urgência de uma resposta comum ao drama dos palestinos, prossiga com determinação em busca de uma solução que garanta finalmente a esse povo um Estado com fronteiras seguras, respeitadas e reconhecidas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Depressão: é preciso esvaziar o coração de tantas ideias sobre si mesmo

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Orfa Astorga - publicado em 01/09/21 - atualizado em 25/07/25

Exercício da janela da alma: quando a depressão afeta a família e a dimensão espiritual da pessoa é negligenciada.

Roberto hoje trata sua depressão. Mas como manifestação desse problema, ele passou muito tempo evitando se envolver em projetos e iniciativas familiares.

Sua falta de entusiasmo e interesse era justificada pelo argumento de que ele não tinha tempo ou estava cansado. Em casa, ele não escondia o rosto de tédio, aborrecimento e uma seriedade incompreensível que a família tinha de suportar.

"Acontece que eu sofro de depressão", reconhece hoje, "mas agora com os medicamentos que estou tomando e a ajuda psicológica, tenho certeza de que em breve estarei melhor."

Certamente, a princípio ele estava deprimido, com ideias inconsistentes e a auto-estima baixíssima. Mais à medida que progredia em seu tratamento, seu comportamento mudou, tornando-se calmo e autoconfiante.

Em um determinado momento, ele percebeu que durante toda a sua vida tinha lutado contra a depressão, mesmo sem saber.

Assim, ele passou a valorizar seus êxitos, mas insistia em deixar a família de lado.

Suas conversas giravam em torno do quanto ele havia conseguido: seus estudos, sua experiência de vida e trabalho, isso e aquilo... Era evidente que, em sua escala de valores, os afetos da família não estavam conscientemente em primeiro plano.

Pouco a pouco, ele foi reconhecendo que havia uma certa falta de humildade nele.

Então, expliquei-lhe que ele estava acometido por uma doença do espírito, o que seria um obstáculo para superar definitivamente o seu problema.

Não convencido, nossa conversa continuou assim:

– Doença do espírito? Eu realmente não esperava isso! – ele me disse.

– Acontece que você não começou a olhar pela janela da sua alma e, por isso, proponho um exercício de imaginação – afirmei.

– Tudo bem, então vamos em frente – ele me respondeu com certa ironia.

Eu lhe disse:

– Feche os olhos. Agora imagine-se trancado em uma sala em uma escuridão impenetrável. De repente, você abre uma janela através da qual entra uma luz que ilumina seu coração e você consegue ver com grande clareza que sua esposa e filhos o amam, que você é a coisa mais importante na vida deles e que sua própria felicidade depende da deles.

Então eu lhe pedi que fizesse uma interpretação dessa imagem a partir da perspectiva de sua doença e de sua situação familiar, sendo muito honesto consigo mesmo.

Deixei-o sozinho por alguns instantes, e depois retornei.

Ele me disse:

– Consigo ver claramente o que você indica e entendo que o quarto escuro se refere à minha depressão. Essa escuridão é causada pela minha doença, o que é algo muito real.

– O seu amor também é real – eu lhe disse.

– Sim, é verdade – ele respondeu, balançando a cabeça tristemente –. Mas com relação a isso e aos problemas que tenho causado, os especialistas me dizem que, de certa forma, não sou culpado pelo meu comportamento.

Eu lhe disse:

– Não se trata de se sentir culpado, mas de se sentir responsável. Trata-se de descobrir por si mesmo que a solução definitiva não virá de lidar apenas com o orgânico e o mental. Ou seja, confiar apenas na ciência ou na sua vontade. Também é necessária a humildade para esvaziar seu coração de tantas ideias sobre si mesmo, preenchê-lo com a bela realidade do amor de Deus e dos outros e, assim, tirar proveito das energias que podem fluir disso. É por isso que proponho que você olhe pela janela da alma todos os dias, para deixar seu coração se iluminar, de forma que sua inteligência, sua vontade e seu espírito possam unir forças para fazer mudanças verdadeiramente significativas em sua vida, as quais o levarão a não complicar sua existência recaindo na doença.

As mudanças necessárias são:

Roberto segue seu tratamento e logo terá alta. Mas ele reconhece que cuidará sempre de manter aberta a janela de sua alma.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2021/09/01/depressao-e-preciso-humildade-para-esvaziar-o-coracao-de-tantas-ideias-sobre-si-mesmo/

Formação da personalidade (3): O correto amor a nós mesmos (Parte 1/2)

Foto/Crédito: Opus Dei.

Formação da personalidade (3): O correto amor a nós mesmos

O autoconhecimento, com virtudes e defeitos, me faz feliz?

13/07/2021

Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados (…) mas pelo precioso sangue de Cristo[1]. São Pedro recorda aos primeiros cristãos que a sua existência tem um valor incomensurável, pois foi objeto do amor abundante do Senhor, que os redimiu. Cristo, com o dom da filiação divina, dá segurança aos nossos passos pelo mundo. Assim o manifestava com espontaneidade São Josemaria a um jovem: “Padre” – dizia-me aquele rapagão (que será feito dele?), bom estudante da Central –, “estava pensando no que o senhor me falou..., que sou filho de Deus! E me surpreendi, pela rua, de corpo “emproado” e soberbo por dentro... Filho de Deus!” Aconselhei-o, com segura consciência, a fomentar a “soberba”[2].

Conhecer a grandeza da nossa condição

Como entender esse fomentar a “soberba”? Certamente, não se trata de imaginar virtudes que não se têm, nem de viver com um sentido de autossuficiência que mais cedo ou mais tarde vai nos atraiçoar. Consiste em conhecer a grandeza da nossa condição: o ser humano é a “única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma”[3]; criado à sua imagem e semelhança, está chamado a levar esta imagem à plenitude ao identificar-se cada vez mais com Cristo pela ação da graça.

Esta vocação sublime fundamenta o bom amor a si mesmo que está presente na fé cristã. Com a luz dessa fé, podemos julgar os nossos sucessos e fracassos. A aceitação serena da própria identidade condiciona a nossa forma de estar no mundo e de agir nele. Além disso, contribui para a confiança pessoal que diminui os medos, precipitações e inibições, facilita a abertura aos outros e a novas situações, e fomenta o otimismo e a alegria.

A ideia positiva ou negativa que temos de nós mesmos depende do conhecimento próprio e do cumprimento das metas que cada um se propõe. Estas surgem, em boa parte, dos modelos de homem ou mulher que desejamos alcançar e que se apresentam de diferentes modos, por exemplo, na educação recebida em casa, nos comentários dos amigos e conhecidos, nas ideias predominantes em uma determinada sociedade. Por isso, é importante definir quais são os nossos pontos de referência, já que se forem altos e nobres, contribuirão para uma autoestima adequada. E convém identificar quais são os modelos que circulam na nossa cultura porque, mais ou menos conscientemente, influem em como nos avaliamos.

Perguntar-se pelos modelos

Acontece, em algumas ocasiões, que formulamos um juízo distorcido sobre nós mesmos por termos admitido critérios sobre o sucesso que podem ser pouco realistas e inclusive nocivos: a eficácia profissional a qualquer preço, relações afetivas egocêntricas, estilos de vida marcados pelo hedonismo. Podemos nos supervalorizar depois de alguns sucessos, que nos parecem reconhecidos pelos outros; mas também nos pode acontecer o contrário: subestimamo-nos, quando não alcançamos determinados objetivos ou não nos sentimos valorizados em certos ambientes. Estas avaliações erradas são, em grande parte, consequência de olhar demais para aqueles que qualificam a trajetória pessoal exclusivamente em função do que a pessoa consegue, tem ou possui.

Para evitar os riscos anteriores, vale a pena perguntar-nos quais são os nossos pontos de referência na vida profissional, familiar, social e se são compatíveis com uma perspectiva cristã da vida. Sabemos, também, que o modelo mais perfeito, completo e plenamente coerente é Jesus Cristo. Ver nossa vida à luz da vida d’Ele é o melhor modo de nos avaliarmos, pois sabemos que Jesus é um exemplo próximo, com quem temos uma relação pessoal – de um eu com um Você – por meio do amor.

Foto/Crédito: Opus Dei.

Autoconhecimento: com a luz de Deus

Para julgar-se com sinceridade, é imprescindível conhecer-se. Esta tarefa é complexa e requer um aprendizado que, de certa forma, não termina nunca. Começa por superar uma perspectiva exclusivamente subjetiva – “a meu ver”, “na minha opinião”, “acho”... – para ter em consideração outros pontos de vista. Se nem sequer sabemos com exatidão como é nossa voz ou a nossa aparência física, e precisamos usar ferramentas de gravação de voz ou um espelho, é mais indispensável ainda admitir que não somos os melhores juízes para avaliar a nossa própria personalidade!

Além da reflexão pessoal, conhecer-se é fruto do que os outros nos ensinam sobre nós. Conseguimos isso quando sabemos abrir-nos a quem pode nos ajudar – um grande recurso é a direção espiritual pessoal! –, aceitando as suas opiniões e considerando-as em relação a um bom ideal de vida. Nesse âmbito também influenciam a interação com as pessoas que convivem conosco, as modas e costumes da sociedade. Um ambiente que promove a reflexão favorece o desenvolvimento dos recursos de introspecção; enquanto outro com um estilo de vida superficial limita esse desenvolvimento.

Convém, portanto, fomentar hábitos de reflexão e nos perguntar como Deus nos vê. A oração é um tempo oportuno, pois ao mesmo tempo em que conhecemos ao Senhor nos conhecemos com a sua luz. Entre outras coisas, procuraremos compreender os comentários e conselhos que recebemos dos outros. Em algum caso, saberemos distanciar-nos dos juízos de outras pessoas quando notamos que os realizam sobre fundamentos pouco objetivos, ou talvez de uma maneira pouco reflexiva, especialmente se julgam segundo critérios que não são compatíveis com o querer de Deus. É preciso saber escolher a quem prestar mais atenção, pois como diz a Escritura: É melhor ser repreendido pelo sábio do que alegrar-se com o canto dos insensatos[4].

Por outro lado, como todos somos em parte responsáveis pela autoestima das pessoas que nos rodeiam, temos de nos esmerar para que as nossas palavras sejam um reflexo da consideração por cada um, que é filho de Deus. Especialmente se tivermos uma posição de autoridade ou de guia (na relação pai-filho, professor-aluno, etc.) os conselhos e indicações contribuem para reafirmar nos outros a convicção dos próprios valores, inclusive quando é preciso corrigir com claridade. Esse é o ponto de partida, o oxigênio para que a pessoa cresça respirando por si mesma, com esperança.

J. Cavanyes


[1] 1 Pd 1, 18-19.

[2] Caminho, n. 274.

[3] Concilio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 24.

[4] Ecl 7,5.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-bom-amor-proprio/

Lições de santa Ana e são Joaquim para casais que enfrentam a infertilidade

Pintura de são Joaquim, da pequena Nossa Senhora e de santa Ana na igreja de São Francisco em Reggio Emilia, Itália. | Renata Sedmakova/Shutterstock

Por Kate Quiñones*

26 de julho de 2025

Muitos casais enfrentam hoje a falta de filhos e a infertilidade, mas estão longe de ser os primeiros a passar por isso. Os santos Ana e Joaquim, cuja festa é celebrada hoje (26), são conhecidos como os avós de Jesus e os pais de Nossa Senhora. Eles também lutaram contra a falta de filhos por décadas, segundo a tradição cristã.

Diz a história que Ana e Joaquim enfrentaram a falta de filhos em uma época em que havia poucos recursos para a infertilidade e a falta de filhos era considerada vergonhosa. Sua história pode inspirar reflexão para casais modernos e sua intercessão pode ser uma fonte de conforto e assistência.

Santa Ana e são Joaquim lutaram contra a infertilidade por décadas

Acredita-se que santa Ana e são Joaquim tenham lutado contra a infertilidade por duas décadas antes de conceber Nossa Senhora.

Embora sua história não seja contada no Novo Testamento, documentos fora do cânon bíblico, como o Protoevangelho de Tiago, um texto que conta a infância de Jesus do século II d.C., dão alguns detalhes sobre suas vidas. Embora esses escritos não sejam considerados confiáveis, eles ajudaram a moldar algumas das histórias e lendas que foram transmitidas ao longo dos séculos sobre Joaquim, Ana e sua filha, Maria, incluindo a luta de décadas do casal contra a infertilidade.

Joaquim e Ana passaram um tempo sozinhos em oração

O Protoevangelho de Tiago dá um relato detalhado das orações do casal por uma criança. Joaquim saiu para o deserto para orar e jejuar, enquanto Ana permaneceu em casa.

Joaquim "não entrou na presença de sua mulher, mas retirou-se para o deserto", diz a história. Lá, ele jejuou e orou por 40 dias e noites. Enquanto ele estava fora, Ana lamentou a falta de filhos e lamentou a ausência de Joaquim como se ele estivesse morto. Então, ela foi para o jardim e orou.

Ana lamentou sua infertilidade e depois voltou-se para a oração

Enquanto Ana estava de luto, sua serva Judite disse que ela não deveria chorar porque um "grande dia do Senhor estava próximo". Ana trocou suas roupas de luto por suas vestes de casamento. Ela começou a orar, vagando pelo jardim e olhando para o ninho de um pardal, o céu e tudo o que a cercava.

"Ai de mim! A que me compararam? Eu não sou como esta terra, porque até a terra produz seus frutos a seu tempo e te abençoa, ó Senhor", ela orou enquanto caminhava pelo jardim.

Então, um anjo apareceu a ela, dizendo que ela conceberia e sua filha "seria falada em todo o mundo", e Ana prometeu dedicar sua filha ao Senhor.

Mais dois anjos apareceram para dizer a ela que Joaquim estava a caminho de casa, pois o Senhor ouviu sua oração: Um anjo apareceu a Joaquim, dizendo-lhe para voltar para casa e prometendo que sua mulher conceberia.

Como os anjos disseram-lhe que Joaquim estava voltando, Ana foi encontrá-lo no portão. A história inclui o detalhe de que ela correu até ele e "pendurou-se em seu pescoço", abraçando-o em seu retorno.

Sua luta deu grandes frutos

Embora o casal inicialmente visse sua infertilidade como uma grande tristeza e vergonha, Deus acabou trabalhando em seu sofrimento. Joaquim voltou do deserto; Ana trocou as roupas de luto e vestiu suas vestes de casamento. Sua história foi transformada pela graça de Deus.

A fé e a perseverança do casal também, eventualmente, resultaram na alegria de conceber e criar a mulher imaculada e sem pecado, Nossa Senhora, que daria à luz o salvador do mundo.

Santa Ana é agora conhecida como a padroeira das mães e dos que lutam contra a infertilidade, e ela e seu marido são os santos padroeiros dos avós e casais.

*Kate Quiñones é redatora da Catholic News Agency e membro do site de notícias The College Fix. Ela já escreveu para o Wall Street Journal, para o Denver Catholic Register e para o CatholicVote, e se formou pelo Hillsdale College. Ela mora com o marido no Colorado, nos EUA.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/58573/licoes-de-santa-ana-e-sao-joaquim-para-casais-que-enfrentam-a-infertilidade

Papa Leão: transformar as comunidades locais em “casas de paz”

Santuário da Santa Casa em Loreto (Vatican News)

O Papa Leão XIV enviou uma mensagem aos participantes da Assembleia Nacional semestral da Pax Christi EUA, que se realiza em Detroit, Michigan, neste mês de julho.

Silvonei José – Vatican News

Nas suas palavras aos participantes da Assembleia Nacional semestral da Pax Christi EUA o Santo Padre evidenciou que em meio aos muitos desafios que o nosso mundo enfrenta neste momento, entre os quais os conflitos armados generalizados, as divisões entre os povos e os desafios relacionados com a migração forçada, os esforços para promover a não violência são mais necessários do que nunca. “É bom lembrar - escreveu o Papa -, que após a violência da crucificação, as primeiras palavras do Cristo ressuscitado aos apóstolos foram palavras de paz, “uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante”.

O Papa Leão XIV destacou em seguida que Jesus continua a enviar os seus seguidores ao mundo para que se tornem criadores de paz na sua vida quotidiana. Nas paróquias, nos bairros e, sobretudo, nas periferias, é ainda mais importante que uma Igreja capaz de reconciliação esteja presente e visível.

“Rezo especialmente – continuou o Pontífice -, para que o seu encontro inspire todos na Pax Christi EUA, a trabalhar para transformar as suas comunidades locais em ‘casas de paz’, onde se aprende a desarmar a hostilidade através do diálogo, onde se pratica a justiça e se conserva o perdão. Dessa forma, vocês ajudarão muitas mais pessoas a acolher o convite de São Paulo a viver em paz com seus irmãos e irmãs”.

Enfim, o Santo Padre confia a Assembleia à intercessão de Maria, Mãe da Igreja, e concede a sua Bênção Apostólica como penhor de abundantes graças celestiais.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Por que João Paulo II beijava o chão ao chegar em um país?

infobae.com

Mónica Muñoz - publicado em 25/07/25

Muitos de nós vimos o Papa João Paulo II descer de um avião e se ajoelhar para beijar o chão do país que visitava pela primeira vez. Por que ele fazia isso?

Recordar o Papa João Paulo II, agora santo e amado por gerações inteiras, é reconfortante e gratificante, pois cada gesto, cada palavra poderosa, foi uma lição para o povo de Deus. Portanto, é muito interessante saber por que ele beijou o solo de um país quando o visitou pela primeira vez.

Uma história

A autobiografia de Karol Józef WojtylaPresente e Mistério, escrito pelo próprio São João Paulo II em 1996, contém detalhes que ninguém poderia ter nos contado melhor do que ele. Cada lembrança que ele enriquece suas histórias nos permite reconhecer a alma artística de um jovem que decidiu renunciar aos seus talentos para se dedicar a Deus.

Neste valioso escrito, o Santo Padre relembra uma anedota: ele era um jovem padre recém-chegado de Roma. Fora enviado por seu bispo para estudar teologia por dois anos. Agora, lhe fora confiada sua primeira paróquia:

“Assim que cheguei a Cracóvia, encontrei meu primeiro "destino", a chamada "aplikata", na Cúria Metropolitana. O arcebispo estava em Roma na época, mas havia me deixado sua decisão por escrito. Aceitei o cargo de bom grado. Imediatamente perguntei como chegar a Niegowic e me certifiquei de estar lá no dia combinado”.

Uma longa jornada

São João Paulo II continua descrevendo a jornada até seu destino, um lugar remoto aninhado no campo:

Quando finalmente cheguei ao território da paróquia de Niego wic, ajoelhei-me e beijei o chão. Eu havia aprendido esse gesto com São João Maria Vianney. Na igreja, parei diante do Santíssimo Sacramento; então me apresentei ao pároco, Monsenhor Kazimierz Buzala, arcipreste de Niepolomice e pároco de Niegowic, que me recebeu cordialmente e, após uma breve conversa, me mostrou o quarto do vigário.

Este era o selo do Santo Padre cada vez que chegava pela primeira vez a um país, em memória da sua primeira paróquia e, sobretudo, em imitação do grande Santo Cura d'Ars, que assim inaugurava o seu ministério pastoral em algum lugar designado por Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/07/25/por-que-joao-paulo-ii-beijava-o-chao-ao-chegar-em-um-pais/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF