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terça-feira, 29 de julho de 2025

A peregrinação de um Cardeal à terra ferida pela guerra (Parte 1/2)

Cardeal Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília, na Ucrânia (Vatican News)

Com o coração de peregrino, o Cardeal Paulo Cezar respondeu ao chamado da Conferência Episcopal Ucraniana, sob a presidência de Dom Vitalii Skomarovskyi, para presidir a Santa Missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora do Carmo, em Berdychiv.

Padre Luiz Octávio – Brasília

A estrada entre Lviv e Kiev é longa, mas não mais que a distância entre o céu e o inferno que se tem vivido na Ucrânia. São quase 600 quilômetros de paisagens verdes e aldeias resilientes, cortadas por marcas visíveis e invisíveis do conflito que ali perdura. E foi por essas estradas que, entre os dias 14 e 24 de julho de 2025, caminhou, em sentido literal e espiritual, um pastor vindo de longe: o Cardeal Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília, acompanhado do chefe do gabinete episcopal, Padre Luiz Octávio de Aguiar Faria. O Cardeal enfrentou os desafios logísticos de um país em guerra, entrou na Ucrânia pela fronteira terrestre, por meio da Polônia, e percorreu centenas de quilômetros entre as cidades ucranianas de Lviv, Kiev, Berdychiv e Lutsk.

Com o coração de peregrino, o Cardeal Paulo Cezar respondeu ao chamado da Conferência Episcopal Ucraniana, sob a presidência de Dom Vitalii Skomarovskyi, para presidir a Santa Missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora do Carmo, em Berdychiv, por ocasião da grande peregrinação anual. Não foi, no entanto, uma visita protocolar. “Eu quis ir à Ucrânia para ser solidário com o povo ucraniano, quis  estar com eles, para que sentissem a presença de irmãos de outra parte do mundo, para mostrar para eles que não estão sozinhos e que há tanta gente rezando por eles”, define Dom Paulo.

A peregrinação de um Cardeal à terra ferida pela guerra (Vatican News)

Pés em solo ferido

A chegada à Ucrânia exigiu atravessar fronteiras físicas e simbólicas. Com o espaço aéreo fechado por conta da guerra, foi pela Polônia que o Cardeal adentrou o território ucraniano. Lviv o acolheu com sua beleza barroca e sua dor contida. Ali, no coração católico de rito latino do oeste ucraniano, celebrou sua primeira Missa em solo de guerra. Ainda cansado da longa viagem, ofereceu orações aos fiéis de Brasília e ao povo que o recebia.
          Ao lado do Bispo Edward Kawa e de outros sacerdotes, caminhou entre igrejas católicas, ortodoxas e greco-católicas, num roteiro silencioso de comunhão com a fé múltipla daquele povo. Em Lviv, a vida pulsa ao redor de cemitérios, sinos e sirenes, e, a Igreja, continua a ser farol.

O Cardeal visitou o cemitério da cidade de Lviv, onde rezou pelos soldados mortos na guerra (Vatican News)

Dom Paulo também visitou o hospital militar de Kiev, onde levou bênçãos e palavras de consolo a soldados feridos, e esteve na Nunciatura Apostólica e na Embaixada do Brasil, tratou da atuação humanitária e espiritual da Igreja em contexto de guerra (Vatican News)

Escutar em nome da Igreja

No dia 18, em Kiev, Dom Paulo reuniu-se com o Conselho Ucraniano de Igrejas e Organizações Religiosas, órgão ecumênico e inter-religioso, e encontrou-se com representantes diplomáticos da Nunciatura Apostólica e da Embaixada do Brasil.

“Parece-me que ali se busca construir aquilo que o Papa Francisco propunha na Fratelli Tutti: uma sociedade de irmãos. Pelo pouco que conheci do conselho de Igrejas e religiões, percebi que há respeito pelas diferenças. Não se entra na questão das distinções, daquilo que é específico de cada religião, a sua doutrina, mas se busca enfrentar as principais questões juntos”, relatou o cardeal.

Em continuação à visita à capital, Dom Paulo atravessou os corredores de um hospital militar, abençoou soldados feridos e seus familiares. Um gesto pequeno na geopolítica do mundo, mas reconfortante para aqueles que o receberam.

No dia 20 de julho, data do próprio aniversário do Cardeal, Dom Paulo presidiu a Missa da Peregrinação Nacional ao Santuário de Nossa Senhora do Carmo, em Berdychiv. A celebração reuniu milhares de fiéis e praticamente todos os bispos da Igreja Latina na Ucrânia. O gesto foi reconhecido pelos católicos locais como sinal de esperança e solidariedade internacional (Vatican News)

Maria, esperança da Ucrânia

Em pleno aniversário, em 20 de julho, Dom Paulo celebrou a Missa da grande peregrinação carmelitana na cidade de Berdychiv, que se tornou o ápice litúrgico e afetivo da viagem. Milhares de devotos reuniram-se aos pés da Virgem do Escapulário, em que buscam consolo e proteção.

“Ali se vê bem a fé do povo ucraniano, a fé do povo na Mãe de Deus, se vê o sentimento de filiação que os cristãos sentem com Ela. Mesmo com o tempo de guerra, se via o Santuário cheio, o pátio do santuário cheio, e as pessoas lá, com esperança, implorando à Mãe o dom da paz.”, contou Dom Paulo.

Na cidade de Lutsk, o Cardeal teve importantes encontros com líderes da Igreja Greco-Católica Ucraniana e da Igreja Ortodoxa da Ucrânia, refletindo sobre a necessidade de unidade, fraternidade e oração comum entre os cristãos. No dia 22, participou da celebração da Festa de Santa Maria Madalena com a comunidade ortodoxa local e foi homenageado com palavras de apreço e reconhecimento (Vatican News)

Lutsk e a lição da unidade

Em 21 de julho, Dom Paulo dirigiu-se a Lutsk, onde experimentou uma das expressões mais concretas da fraternidade ecumênica vivida na Ucrânia. Com Dom Vitalii Skomarovskyi, encontrou o Exarca Apostólico da Igreja Greco-Católica e o Metropolita Ortodoxo local, num gesto de proximidade da fé cristã. Divididas por séculos de história e política, as dioceses se unem pela cruz da guerra e pela esperança da ressurreição.

Ainda em Lutsk, no dia 22, Dom Paulo participou da festa da padroeira Santa Maria Madalena com a comunidade ortodoxa ucraniana. “Se vê que há um caminho de diálogo e há proximidade, isso é bonito. Jesus rezou pela nossa unidade, pediu ao Pai que todos nós sejamos um, como ele e o Pai são um.”, afirmou. Na ocasião, recebeu homenagens e distribuiu bênçãos, plantou sementes onde, talvez, um dia, floresça a plena comunhão.

Conclusão da viagem (Vatican News)

Memória e Misericórdia

A viagem se concluiu em Cracóvia, cidade da vizinha Polônia. Foi o momento da memória. O Cardeal percorreu os campos de Auschwitz-Birkenau, testemunhou o horror que o ser humano pode produzir.

Em 24 de julho, celebrou a Eucaristia no Santuário da Divina Misericórdia, e visitou os lugares marcados pela vida de Santa Faustina Kowalska e São João Paulo II, santos de uma Polônia ferida que se tornou, também, testemunha de reconciliação.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF