PEREGRINOS PORQUE CHAMADOS
01/08/2025
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)
Neste mês de agosto de 2025, em que a Igreja celebra a 44ª
edição do Mês Vocacional, em sintonia com o Ano Jubilar, temos uma oportunidade
privilegiada de escutar o Senhor, discernir e renovar o chamado que Ele dirige
a cada um de nós.
O tema deste Mês Vocacional – “Peregrinos porque
chamados” – remete à condição existencial do cristão, alguém que está
sempre a caminho, em busca, em resposta a uma Voz que chama, convoca e envia. O
lema, inspirado na Carta de São Paulo aos Romanos – “A esperança não
decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm
5,5) –, recorda que toda vocação nasce do amor gratuito de Deus e se sustenta
na esperança ativa de quem crê, ama e serve.
Em sua Mensagem para o 62º Dia Mundial de Oração
pelas Vocações, o Papa Francisco afirma que “toda vocação é animada
pela esperança, que se traduz em confiança na Providência. Com efeito, para o
cristão, ter esperança é mais do que um simples otimismo humano: é antes uma
certeza enraizada na fé em Deus, que age na história de cada pessoa. E, deste
modo, a vocação amadurece através do compromisso quotidiano de fidelidade ao
Evangelho, na oração, no discernimento e no serviço.”
O tema deste Mês Vocacional está em plena sintonia com a
referida Mensagem do Papa Francisco, na qual ele recorda que “toda vocação na
Igreja – seja laical, seja ao ministério ordenado, seja à vida consagrada – é
sinal da esperança que Deus nutre pelo mundo e por cada um dos seus filhos”.
Neste contexto, é oportuno contemplar a riqueza das diversas vocações presentes
na vida da Igreja: a vocação laical, a vocação matrimonial, a vida consagrada e
o ministério ordenado.
A vocação é, antes de tudo, um dom. Não nasce do mérito
pessoal, mas é fruto da iniciativa amorosa de Deus, que chama a quem quer,
independentemente de suas virtudes, e o envia em missão. Como afirma o Papa
Francisco: “A vocação é um dom precioso que Deus semeia nos corações, uma
chamada a sair de si mesmo para trilhar um caminho de amor e serviço.”
Todas as vocações na Igreja são essenciais, pois manifestam
a multiforme graça do Espírito Santo e contribuem para a edificação do Corpo de
Cristo. Contudo, nesta reflexão, desejo enfatizar particularmente a vocação
sacerdotal, não apenas por sua centralidade na vida e missão da Igreja, mas
também por seu papel insubstituível no anúncio da Palavra, na presidência da
Eucaristia, no perdão dos pecados e no pastoreio do povo de Deus. O sacerdote é
chamado a ser alter Christus, homem de Deus no meio do povo,
servidor da comunhão e missionário da esperança. Ao presidir os sacramentos,
formar comunidades e consolar os aflitos, torna-se presença sacramental de
Cristo, o Bom Pastor.
A vocação sacerdotal é belíssima, embora marcada por uma
entrega total e exigente. Requer fidelidade cotidiana, proximidade com Deus e
com o povo, além de disponibilidade para servir com alegria, mesmo em meio a
desafios e renúncias.
A juventude é terreno fértil para o despertar vocacional.
Contudo, muitos jovens vivem imersos na incerteza, na desorientação e na crise
de sentido, realidades agravadas pela cultura digital, pela precariedade social
e pelas feridas interiores. Por isso, a Igreja é chamada a oferecer uma
pastoral vocacional ousada, acolhedora e perseverante. Todo o processo
vocacional deve ser vivido como um itinerário de escuta, discernimento e
acompanhamento, no qual os jovens possam descobrir sua vocação como resposta ao
amor de Deus e fonte de esperança para o mundo.
A Igreja será sempre viva e fecunda na medida em que souber
gerar, acompanhar e sustentar vocações. A oração, a escuta da Palavra, o
testemunho coerente e o discernimento comunitário são os pilares de uma
verdadeira cultura vocacional. “Descobrir o amor de Deus e ser homens e
mulheres de esperança” é tarefa de cada batizado e de toda a comunidade cristã.
Portanto, neste mês de agosto, elevemos ao Senhor da Messe nossa súplica: que
Ele continue a chamar e que suscite em nossos corações a coragem de responder
com fé e generosidade. Que cada pessoa, peregrina neste mundo, saiba reconhecer
o chamado de Deus e, com amor, doe sua vida como sinal de esperança.
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