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sexta-feira, 25 de junho de 2021

Texto integral: Mensagem para o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

Dia Mundial dos Avós e dos Idosos 

Na manhã desta terça-feira (22) foi divulgada a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos que será celebrado no 4° domingo de julho, neste ano, no dia 25.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

(4º domingo de julho – 25 de julho de 2021)

«Eu estou contigo todos os dias»

Queridos avôs, queridas avós!

«Eu estou contigo todos os dias» (cf. Mt 28, 20) é a promessa que o Senhor fez aos discípulos antes de subir ao Céu; e hoje repete-a também a ti, querido avô e querida avó. Sim, a ti! «Eu estou contigo todos os dias» são também as palavras que eu, Bispo de Roma e idoso como tu, gostaria de te dirigir por ocasião deste primeiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos: toda a Igreja está solidária contigo – ou melhor, connosco –, preocupa-se contigo, ama-te e não quer deixar-te abandonado.

Bem sei que esta mensagem te chega num tempo difícil: a pandemia foi uma tempestade inesperada e furiosa, uma dura provação que se abateu sobre a vida de cada um, mas, a nós idosos, reservou-nos um tratamento especial, um tratamento mais duro. Muitíssimos de nós adoeceram – e muitos partiram –, viram apagar-se a vida do seu cônjuge ou dos próprios entes queridos, e tantos – demasiados – viram-se forçados à solidão por um tempo muito longo, isolados.

O Senhor conhece cada uma das nossas tribulações deste tempo. Ele está junto de quantos vivem a dolorosa experiência de ter sido afastado; a nossa solidão – agravada pela pandemia – não O deixa indiferente. Segundo uma tradição, também São Joaquim, o avô de Jesus, foi afastado da sua comunidade, porque não tinha filhos; a sua vida – como a de Ana, sua esposa – era considerada inútil. Mas o Senhor enviou-lhe um anjo para o consolar. Estava ele, triste, fora das portas da cidade, quando lhe apareceu um Enviado do Senhor e lhe disse: «Joaquim, Joaquim! O Senhor atendeu a tua oração insistente».[1] Giotto dá a impressão, num afresco famoso[2], de colocar a cena de noite, uma daquelas inúmeras noites de insónia a que muitos de nós se habituaram, povoadas por lembranças, inquietações e anseios.

Ora, mesmo quando tudo parece escuro, como nestes meses de pandemia, o Senhor continua a enviar anjos para consolar a nossa solidão repetindo-nos: «Eu estou contigo todos os dias». Di-lo a ti, di-lo a mim, a todos. Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis celebrado pela primeira vez precisamente neste ano, depois dum longo isolamento e com uma retomada ainda lenta da vida social: oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozinho – receba a visita de um anjo!

Este anjo, algumas vezes, terá o rosto dos nossos netos; outras vezes, dos familiares, dos amigos de longa data ou conhecidos precisamente neste momento difícil. Neste período, aprendemos a entender como são importantes, para cada um de nós, os abraços e as visitas, e muito me entristece o facto de as mesmas não serem ainda possíveis em alguns lugares.

Mas o Senhor envia-nos os seus mensageiros também através da Palavra divina, que Ele nunca deixa faltar na nossa vida. Cada dia, leiamos uma página do Evangelho, rezemos com os Salmos, leiamos os Profetas! Ficaremos comovidos com a fidelidade do Senhor. A Sagrada Escritura ajudar-nos-á também a entender aquilo que o Senhor nos pede hoje na vida. De facto, Ele manda os operários para a sua vinha a todas as horas do dia (cf. Mt 20, 1-16), em cada estação da vida. Eu mesmo posso dar testemunho de que recebi a chamada para me tornar Bispo de Roma quando tinha chegado, por assim dizer, à idade da aposentação e imaginava que já não podia fazer muito de novo. O Senhor está sempre junto de nós – sempre – com novos convites, com novas palavras, com a sua consolação, mas está sempre junto de nós. Como sabeis, o Senhor é eterno e nunca vai para a reforma. Nunca.

No Evangelho de Mateus, Jesus diz aos Apóstolos: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (28, 19-20). Estas palavras são dirigidas também a nós, hoje, e ajudam-nos a entender melhor que a nossa vocação é salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Atenção! Qual é a nossa vocação hoje, na nossa idade? Salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos. Não vos esqueçais disto.

Não importa quantos anos tens, se ainda trabalhas ou não, se ficaste sozinho ou tens uma família, se te tornaste avó ou avô ainda relativamente jovem ou já avançado nos anos, se ainda és autónomo ou precisas de ser assistido, porque não existe uma idade para aposentar-se da tarefa de anunciar o Evangelhoda tarefa de transmitir as tradições aos netos. É preciso pôr-se a caminho e, sobretudo, sair de si mesmo para empreender algo de novo.

Portanto existe uma renovada vocação, também para ti, num momento crucial da história. Perguntar-te-ás: Mas, como é possível? As minhas energias vão-se exaurindo e não creio que possa ainda fazer muito. Como posso começar a comportar-me de maneira diferente, quando o hábito se tornou a regra da minha existência? Como posso dedicar-me a quem é mais pobre, se já tenho tantas preocupações com a minha família? Como posso alongar o meu olhar, se não me é permitido sequer sair da residência onde vivo? Não é um fardo já demasiado pesado a minha solidão? Quantos de vós se interrogam: Não é um fardo já demasiado pesado a minha solidão? O próprio Jesus ouviu Nicodemos dirigir-Lhe uma pergunta deste tipo: «Como pode um homem nascer, sendo velho?» (Jo 3, 4). Isso é possível – responde o Senhor –, abrindo o próprio coração à obra do Espírito Santo, que sopra onde quer. Com a liberdade que tem, o Espírito Santo move-Se por toda a parte e faz aquilo que quer.

Como afirmei já mais de uma vez, da crise que o mundo atravessa, não sairemos iguais: sairemos melhores ou piores. E «oxalá não seja mais um grave episódio da história, cuja lição não fomos capazes de aprender [somos de cabeça dura!]. Oxalá não nos esqueçamos dos idosos que morreram por falta de respiradores (...). Oxalá não seja inútil tanto sofrimento, mas tenhamos dado um salto para uma nova forma de viver e descubramos, enfim, que precisamos e somos devedores uns dos outros, para que a humanidade renasça» (Papa Francisco, Enc. Fratelli tutti, 35). Ninguém se salva sozinho. Devedores uns dos outros. Todos irmãos.

Nesta perspetiva, quero dizer que há necessidade de ti para se construir, na fraternidade e na amizade social, o mundo de amanhã: aquele em que viveremos – nós com os nossos filhos e netos –, quando se aplacar a tempestade. Todos devemos ser «parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas» (Ibid., 77). Entre os vários pilares que deverão sustentar esta nova construção, há três que tu – melhor que outros – podes ajudar a colocar. Três pilares: os sonhos, a memória e a oração. A proximidade do Senhor dará – mesmo aos mais frágeis de nós – a força para empreender um novo caminho pelas estradas do sonho, da memória e da oração.

Uma vez o profeta Joel pronunciou esta promessa: «Os vossos anciãos terão sonhos e os jovens terão visões» (3, 1). O futuro do mundo está nesta aliança entre os jovens e os idosos. Quem, senão os jovens, pode agarrar os sonhos dos idosos e levá-los por diante? Mas, para isso, é necessário continuar a sonhar: nos nossos sonhos de justiça, de paz, de solidariedade reside a possibilidade de os nossos jovens terem novas visões e, juntos, construirmos o futuro. É preciso que testemunhes, também tu, a possibilidade de se sair renovado duma experiência dolorosa. E tenho a certeza de que não será a única, pois, na tua vida, terás tido tantas e sempre conseguiste triunfar delas. E, dessa experiência que tens, aprende como sair da provação atual.

Nisto se vê como os sonhos estão entrelaçados com a memória. Penso como pode ser de grande valor a memória dolorosa da guerra, e quanto podem as novas gerações aprender dela a respeito do valor da paz. E, a transmitir isto, és tu que viveste a tribulação das guerras. Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros. Segundo Edith Bruck que sobreviveu à tragédia do Holocausto, «mesmo que seja para iluminar uma só consciência, vale a pena a fadiga de manter viva a recordação do que foi… e continua. Para mim, a memória é viver».[3] Penso também nos meus avós e naqueles de vós que tiveram de emigrar e sabem quanto custa deixar a própria casa, como fazem muitos ainda hoje à procura dum futuro. Talvez tenhamos algum deles ao nosso lado a cuidar de nós. Esta memória pode ajudar a construir um mundo mais humano, mais acolhedor. Mas, sem a memória, não se pode construir; sem alicerces, tu nunca construirás uma casa. Nunca. E os alicerces da vida estão na memória.

Por fim, a oração. Como disse o meu predecessor, Papa Bento (um idoso santo, que continua a rezar e trabalhar pela Igreja), «a oração dos idosos pode proteger o mundo, ajudando-o talvez de modo mais incisivo do que a fadiga de tantos».[4] Disse-o quase no fim do seu pontificado, em 2012. É belo! A tua oração é um recurso preciosíssimo: é um pulmão de que não se podem privar a Igreja e o mundo (cf. Papa Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 262). Sobretudo neste tempo tão difícil para a humanidade em que estamos – todos na mesma barca – a atravessar o mar tempestuoso da pandemia, a tua intercessão pelo mundo e pela Igreja não é vã, mas indica a todos a serena confiança de um porto seguro.

Querida avó, querido avô! Ao concluir esta minha mensagem, gostaria de indicar, também a ti, o exemplo do Beato (e proximamente Santo) Carlos de Foucauld. Viveu como eremita na Argélia e lá, naquele contexto periférico, testemunhou «os seus desejos de sentir todo o ser humano como um irmão» (Enc. Fratelli tutti, 287). A sua história mostra como é possível, mesmo na solidão do próprio deserto, interceder pelos pobres do mundo inteiro e tornar-se verdadeiramente um irmão e uma irmã universal.

Peço ao Senhor que cada um de nós, graças também ao seu exemplo, alargue o próprio coração e o torne sensível aos sofrimentos dos últimos e capaz de interceder por eles. Oxalá cada um de nós aprenda a repetir a todos, e em particular aos mais jovens, estas palavras de consolação que ouvimos hoje dirigidas a nós: «Eu estou contigo todos os dias». Avante e coragem! Que o Senhor vos abençoe.

Roma, São João de Latrão, na Festa da Visitação da Virgem Santa Maria, 31 de maio de 2021.

FRANCISCO

[1] O episódio é narrado no Protoevangelho de Tiago.

[2] Trata-se da imagem escolhida como logótipo do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos.

[3] «La memoria è vita, la scrittura è respiro», in L'Osservatore Romano (26 de janeiro de 2021).

[4] Visita à casa-família “Viva gli anziani”, 12 de novembro de 2012.

Fonte: Vatican News

CAMINHO NEOCATECUMENAL: COMUNIDADES EM MISSÃO

Papa Bento XVI e Kiko Argüello | neocatechumenaleiter

COMUNIDADES EM MISSÃO

No Encontro com Bento XVI na Basílica de São Pedro em 10 de janeiro de 2009, por ocasião dos 40 anos do nascimento da primeira comunidade neocatecumenal em Roma, foram enviadas pelo Santo Padre as primeiras 15 comunidades às periferias de Roma.

Estas comunidades estavam dispostas a deixar sua paróquia – nas quais já haviam terminado o itinerário neocatecumenal – para ir em missão a zonas difíceis da periferia sob o convite dos párocos. Áreas degradadas, com muita violência, droga, famílias destruídas, imigrantes recém chegados….

Kiko, apresentando esta nova missão, ressaltou que “o Caminho se termina anunciando o Evangelho pelo mundo”. “Uma das maiores novidades é que toda a comunidade vai em missão. Não vão alguns irmãos, vai toda a comunidade. É uma graça grandiosa e algo maravilhoso que Deus os mande a esta missão. É fantástico poder partir, que o Senhor te dê uma missão; morrer na missão, envelhecer na missão”.

Precisamente, o Papa Francisco em sua encíclica Evangelii gaudium fala de uma igreja “em saída” e expressa a necessidade de evangelizar as periferias territoriais e existenciais”.

Também a diocese de Madri, onde nasceu no Caminho e está presente em 45 paróquias com 221 comunidades, conta com esta experiência. Em 2011, o então arcebispo de Madri, o Cardeal Rouco Varela, enviou as primeiras 10 comunidades em missão.

O atual arcebispo da capital da Espanha, cardeal Carlos Osoro Sierra, em um encontro em 22 de março de 2015, enviou oito novas comunidades. Em Madri, há um total de 18 communitates in missionem.

Em 5 de maio de 2018, o Papa Francisco, por ocasião do 50º aniversário do nascimento da primeira comunidade do Caminho em Roma, em um grande encontro em Tor Vergata enviou 25 comunidades em missão a diversas paróquias de Roma para sustentar e fortalece a vida cristã das comunidades paroquiais menos favorecidas.

Hoje, neste “ide” de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e todos somos chamados a esta nova “saída” missionária. Cada cristão e cada comunidade discernirá qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar este chamado: sair da própria comodidade e se atrever a chegar a todas as periferias que necessitam da luz do Evangelho.

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/

Das Homilias, de São Gregório de Nissa, bispo

S. Gregório de Nissa | Apologistas da Fé Católica

Das Homilias, de São Gregório de Nissa, bispo

(Orat. 6: De beatitudinibus: PG 44,1266-1267)             (Séc.IV)

 

A esperança de ver a Deus

A promessa de Deus é tão grande que supera o limite máximo da felicidade. O que poderá alguém desejar a mais acima deste bem, quando possui tudo naquele a quem vê? Com efeito, ver, conforme as Escrituras, significa ter. Por exemplo: Vejas os bens de Jerusalém é o mesmo que encontres tais bens. E dizendo: Seja repelido o ímpio, não veja a glória do Senhor, o Profeta quer significar por não veja que não seja participante.

Por conseguinte, quem vê a Deus possui tudo quanto há de bom pelo fato de ver. Possui a vida sem fim, a eterna incorruptibilidade, a felicidade imortal, o reino sem fim, a alegria contínua, a verdadeira luz, a palavra espiritual e suave, a glória intangível, a perpétua exultação. Em suma, possui todos os bens.

Decerto é enorme e imensamente valioso o que a promessa da felicidade propõe pela esperança. Contudo, como foi dito, o modo de ver a Deus repousa na pureza do coração. Neste ponto novamente o meu espírito tonteia, duvidando que esta pureza do coração consista em coisas que estejam fora de nosso alcance e que superem de muito nossa natureza. Pois se, por um lado, Deus pode ser visto através desta pureza, por outro lado, contudo, nem Moisés nem Paulo o viram. Com efeito, eles mesmos afirmam que nem eles nem outro qualquer podem ver a Deus. Sendo assim, aquela felicidade agora proposta pelo Verbo parece coisa que nem se pode realizar nem sequer imaginar.

Que vantagem, pois, temos em saber de que modo se vê a Deus, se não temos a capacidade para tanto? Seria o mesmo que falar alguém sobre a felicidade de se morar no céu, porque lá se contempla o que na terra não se vê. De certo,quando se mostrasse algum caminho para ir ao céu, teria alguma utilidade para os ouvintes conhecer quanta felicidade existe em lá estar. Mas enquanto não for possível a subida, o que nos importa saber da felicidade celeste? Porventura serviria de alguma coisa senão para nos afligir e nos inquietar o ter conhecimento de que coisas estamos privados e impedidos de atingir? Será que o Senhor nos exorta a algo que supera nossa natureza e a grandeza do preceito ultrapassa as forças humanas?

Não é assim, pois ele não ordena serem pássaros aqueles que não têm asas, nem a viverem dentro da água os que destinou à vida terrestre. Se, portanto, em tudo o mais a lei se ajusta à capacidade dos que a recebem e não obriga a coisa alguma acima da natureza, entendamos que também aqui será tudo conforme e não há que desesperar daquilo que nos é mostrado como felicidade.

De fato, nem João nem Paulo nem Moisés nem outros como eles ficaram privados desta sublime beatitude, oriunda da visão de Deus. De fato, nem dela está privado aquele que disse: Está guardada para mim a coroa da justiça que me dará o justo Juiz; nem aquele que reclinou a cabeça no peito de Jesus; nem, igualmente, aquele que ouviu da voz divina: Eu te conheci mais que a todos.

Por conseguinte, se não há dúvida de que são felizes aqueles que afirmaram estar a contemplação de Deus acima de nossas forças e se a felicidade consiste na visão de Deus e se a Deus vê quem tem o coração puro, então é claro que a pureza de coração, que torna o homem feliz, não está entre as coisas que nos são impossíveis.

De fato, os que pretendem basear-se em Paulo,para declarar que a visão de Deus está acima de nossas forças, têm contra si a palavra do Senhor, que promete acesso à visão de Deus pela pureza do coração.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Providentissimus Deus (Parte 5/5)

Papa Leão XIII | Veritatis Splendor

PROVIDENTISSIMUS DEUSDO PAPA LEÃO XIII

SOBRE OS ESTUDOS BÍBLICOS

Veneráveis irmãos, saúde e benção apostólica

30. Passemos agora à aplicação destas considerações às ciências afins, e nomeadamente á história. É para lamentar que muitos se exponham a grandes fadigas no estudo dos monumentos arqueológicos, dos costumes e instituições dos povos, e doutros assumptos análogos, mas não raro com o propósito de descobrir erros nos Livros sagrados e enfraquecer a sua autoridade divina. Outros há que se dedicam aos mesmos estudos, mas com animo exageradamente hostil e critério apaixonado. Confiam nos livros humanos e nos documentos da antiguidade, como se neles não poderá haver nem ténue sombra de erro, e negam crédito aos Livros da sagrada Escritura á mais leve aparência do erro e sem o mais superficial exame. Pode realmente admitir-se que nos códices escapassem algumas incorreções, devidas á incúria dos copistas, mas isto deve ser maduramente considerado e só admitido nos lugares onde o erro é evidente. Pode ainda admitir-se que seja duvidosa a genuína lição dalgum lugar e para esclarecimento da qual são de grande monta as regras duma boa hermenêutica, mas nunca será lícito ou restringir a inspiração unicamente a algumas partes da sagrada escritura, ou conceder que o autor sagrado errou. Também não pôde tolerar-se o expediente daqueles que julgam desembaraçar-se de dificuldades, não hesitando em conceder que só são divinamente inspirados os pontos de fé e de moral, porque erradamente pensam que, quando se trata de apurar a verdade dum conceito, não deve atender-se tanto ao que Deus disse como a razão por que o disse. E, na verdade, foram escritos sob a inspiração do Espírito Santo todos os livros que a Igreja recebeu como sagrados e canônicos, com todas as suas partes; ora é impossível que na inspiração divina haja erro, visto como a mesma inspiração só por si não somente exclui todo o erro, senão também que o exclui tão necessariamente quanto necessariamente repugna que Deus, Verdade suma, seja autor de erro algum.

31. Esta é a antiga e constante crença da Igreja, solenemente definida nos Concílios de Florença e Trento, confirmada e mais desenvolvidamente declarada no Concilio Vaticano, neste decreto peremptório: — Devem ser recebidos como sagrados e canônicos todos os livros do Velho e Novo Testamento, com todas as suas partes, consoante vêm referidos no decreto do mesmo Concilio (tridentino) e como se contém na antiga edição latina da Vulgata. A Igreja tem estes livros como sagrados e canônicos, não porque fossem compostos só por indústria humana e depois aprovados pela sua autoridade, nem ainda somente porque contém doutrina revelada e verdadeira, mas porque, escritos sob o fluxo do Espírito Santo, têm a Deus como autor. Nem se diga que o Espírito Santo se serviu de homens como de instrumentos para escrever, e que, por isso, os erros que porventura haja nas Escrituras se devem atribuir não a Deus, autor primário dos Livros santos, mas aos hagiógrafos. De feito, assim como o Espírito Santo excitou e moveu os autores sagrados a escrever, assim também lhes assistiu de modo que só escreveram, com pura intenção, fielmente e com verdade infalível, tudo o que lhes ordenou que escrevessem e só isso, aliás não seria Deus o autor de toda a Escritura sagrada. Este foi o sentir constante dos Santos Padres. “Pois que os hagiógrafos, diz Santo Agostinho, só escreveram o que o Espírito Santo lhes inspirou, nunca se pôde dizer que não foi Ele quem escreveu: os escritores sagrados, como membros, só escreveram o que a cabeça lhes ditava”. E S. Gregório Magno: “Ineptamente pergunta quem escreveu as Escrituras aquele que firmemente crê que é o Espírito Santo o seu autor. Escreveu esse que ditou o que se devia escrever; escreveu essa que inspirou a obra”. Desdiz-se daqui que pervertem a noção católica de inspiração divina, ou convertem Deus em autor de erro, os que julgam ser possível haver erros nos lugares autênticos dos Livros sagrados. E tão profundamente arraigada era a crença de todos os Padres e Doutores de que as sagradas Letras, tais como saíram da pena dos hagiógrafos, são absolutamente imunes de todo o erro, que procuram com igual engenho e piedade conciliar entre si os poucos lugares e são precisamente os que a nova crítica argue que parecem encontrados e contraditórios confessando unanimemente que aqueles livros, em toda a sua integridade e em todas as suas partes, são divinamente inspirados, e que, falando Deus pelos hagiógrafos, nada podia inspirar que não fosse verdade. Sirvam de lição para todos, aquelas palavras que o mesmo Santo Agostinho escreveu a S. Jeronimo — “Eu de mim confesso que da tua caridade aprendi a prestar unicamente aos livros das Escrituras, que ora denominamos canônicas, tal respeito e honra, que firmissimamente creio que nenhum dos seus autores caiu, ao escrevê-los, na mais leve sombra de erro. E, se eu achar naqueles livros algo que pareça encontrar a verdade, não hesitarei em confessar ou que o códice não é fiel, ou que o intérprete não alcançou o sentido do que estava escrito, ou que eu não logrei entendê-lo”.

32. Pugnar vantajosamente com os recursos de todas as ciências em prol da santidade das Escrituras empresa é muito superior ao que é justo esperar da indústria dos teólogos e intérpretes. É por isso muito para desejar que tomem a peito tal empresa os sábios católicos de reconhecida competência e autoridade. Nunca faltou à Igreja, mercê de Deus, e oxalá que sempre aumente para acrescentamento da fé, a glória de tais talentos. É sobre toda a ponderação conveniente que sejam em maior número e mais esforçados do que os inimigos da Bíblia, os defensores da verdade, porque nada há mais eficaz para persuadir o vulgo a render-lhe homenagem do que vê-la liberrimamente professada por homens eminentes em qualquer ciência. Além disso, ficará quebrada a audácia dos nossos detratores, e certamente não ousarão afirmar com tanta petulância que a ciência é incompatível com a fé, ao verem que homens eminentes em ciência prestam rendida homenagem à palavra de Deus. E, pois, que tantos serviços podem prestar a religião aqueles a quem a suma benignidade de Deus concedeu a graça da fé católica e o dom apreciável do talento, nesta febre de estudos por qualquer modo relacionados com as Escrituras, escolham aquele que mais se compadeça com as suas aptidões, e, versados nele, saiam a campo e repilam, que lhes vae nisso grande gloria, os ataques da ciência indigna de tal nome. Vem de molde para aqui e é-nos grato aprovar a benemérita deliberação dalguns católicos de criarem associações que subsidiem largamente e prestem todos os recursos a homens distintos em ciência, a fim de que cultivem aqueles estudos e promovam os seus progressos. Ótimo, em verdade, e muito oportuno nas circunstâncias atuais, este emprego de dinheiro. Quanto menor for o subsídio que os católicos podem esperar dos poderes públicos para o progresso dos seus estudos, tanto maior deve ser a liberalidade dos particulares; e saibam aqueles a quem Deus concedeu riquezas que bom uso fazem delias convertendo-as em defesa do tesouro da verdade revelada.

33. Para que todos estes trabalhos redundem em grande proveito dos estudos bíblicos, instem os eruditos nos princípios que deixamos estabelecidos, e creiam firmemente que Deus, criador e governador supremo de todas as cousas, é também o autor das Escrituras, e que, portanto, nada há na economia do universo, nem nos monumentos históricos que possa contradizê-las. Se, porém, parecer dar-se tal conflito, haja todo o cuidado em compô-lo, já recorrendo ao juízo prudente dos teólogos e intérpretes para apurar o que há de verdadeiro ou verosímil no lugar que se discute, já ponderando com novo cuidado as dificuldades que se aduzem. E não se deve levantar mão deste trabalho sem que desapareça a mínima sombra de conflito, porque, sendo impossível que a verdade se oponha á verdade, ou a interpretação das palavras do texto foi errónea ou a discussão dele mal dirigida. Se nenhuma destas hipóteses puder verificar-se, suspenda-se o juízo até que a verdade apareça. Muitas e graves acusações se levantaram, durante largo espaço de tempo, em nome das ciências, contra as Escrituras; e, todavia, caíram como vãs em completo olvido; vários foram os sentidos dados a certos lugares bíblicos salvo aos que propriamente pertencem à fé e a moral; e, contudo, foram ao depois interpretados com mais justeza e propriedade. É que o tempo mata o erro, mas «a verdade vive sempre e cada vez com mais pujança”. Ora, assim como nunca houve ninguém tão soberbo que se arrogasse o pleno conhecimento de toda a Escritura, quando o próprio Santo Agostinho confessava que era maior a sua ignorância do que a sua ciência da Bíblia, assim também, se algum texto encontrarmos de mui difícil explicação sigamos a norma tão moderada como prudente do mesmo Doutor : — “Melhor é sentir o espirito angustiado ao contemplar sinais cuja significação não conhece, mas que são úteis, do que, interpretando-os inutilmente, libertar-se do jugo da submissão para se precipitar nos laços do erro”. Se os que professam os estudos subsidiários da Bíblia seguirem discreta e fielmente estes Nossos conselhos e mandatos; se, escrevendo e ensinando, aproveitarem o fruto dos seus estudos na redução dos inimigos da verdade e em precaver a juventude contra os danos da fé, então, enfim, poderão exultar de jubilo por dignamente servirem as sagradas Letras e prestarem a fé católica um serviço tal como a Igreja tem direito a esperar da piedade e ciência de seus filhos.

34. Estes são, veneráveis irmãos, os mandatos e exortações que, obedecendo á voz de Deus, julgamos oportuno dirigir-vos acerca dos estudos bíblicos. Está da vossa parte agora procurar que sejam fielmente guardados e observados com o acatamento que é de justiça e de modo que brilhe cada vez mais a devida gratidão para com Deus por ter comunicado ao gênero humano os tesouros da sua sabedoria; e que a suspirada vantagem daqueles estudos redunde sobretudo em proveito da instrução dos jovens aspirantes ao sacerdócio, pois são eles objeto de grande solicitude Nossa e a esperança da Igreja. Com a vossa autoridade e exortações trabalhai com animo varonil, para que nos seminários e academias sujeitas á vossa obediência, os estudos bíblicos tenham o lugar de honra que lhe pertence e progridam. Praza aos céus que floresçam, sob a direção da Igreja, segundo os salutares documentos e exemplos dos Santos Padres e louvável costume dos nossos maiores: que no decurso dos tempos alcancem tais incrementos que redundem em defesa e gloria da verdade católica, divinamente revelada para salvação perene dos povos.

35. Exortamos, finalmente, com paternal caridade, todos os alunos e ministros da Igreja que estudem as sagradas Letras sempre com sumo afeto, reverencia e piedade. Nunca se poderá lograr salutarmente, como é de necessidade, a inteligência das Escrituras sem renunciar a soberba da ciência terrena e perseverar no santo exercício da sabedoria que vem do alto. Iniciada nesta silencia, ilustrada e fortalecida por ela, a inteligência terá admirável luz para conhecer e evitar o que há de mau na silencia humana e converter os seus sólidos frutos noutros tantos meios de salvação eterna. E a alma inflamada em zelo aspirará com mais veemência aos bens inefáveis da virtude e do amor divino: — Bem-aventurados os que investigam os testemunhos de Deus, e com todo o coração o buscam. Animado com a esperança do auxílio divino e confiado na vossa solicitude pastoral, paternalmente concedemos no Senhor a benção Apostólica, penhor de dons celestes e testemunha da Nossa particular benevolência, a vós, a todo o vosso clero e fiéis.

Dada em Roma, em S. Pedro, aos 18 de novembro de 1893, ano decimo sexto do Nosso Pontificado.

Papa Leão XIII


Fonte: Portal Veritatis Splendor

Deus é um Pai que nunca abandona seus filhos

Dorotheum | Public Domain
Por Philip Kosloski

Às vezes esquecemos que Deus é diferente de nossos próprios pais terrenos e continua sendo o principal exemplo da verdadeira paternidade.

Quando chamamos Deus de “Pai”, é tentador comparar Deus à nossa própria experiência com nossos pais terrenos.

Essa perspectiva pode muitas vezes estar contaminada por pais que deixaram suas famílias, traíram suas esposas ou foram displicentes com os filhos.

Em casos extremos, uma pessoa pode até pensar: “Se Deus é ‘pai’, ele deve ser uma pessoa terrível!”

No entanto, essa não é a paternidade de Deus.

O Papa Bento XVI refletiu sobre essa verdade da fé cristã em uma audiência geral em 2013.

Hoje, nem sempre é fácil falar de paternidade. Sobretudo no mundo ocidental, as famílias desagregadas, os compromissos de trabalho cada vez mais exigentes, as preocupações e muitas vezes a dificuldade de adaptar os balanços familiares e a invasão distraída dos mass media no interior da vida quotidiana são alguns dos numerosos factores que podem impedir uma relação tranquila e construtiva entre pais e filhos.

Apesar do que vemos ao nosso redor, Deus continua sendo um Pai fiel.

Mas a revelação bíblica ajuda a superar estas dificuldades, falando-nos de um Deus que nos indica o que significa ser verdadeiramente «pai»; e é sobretudo o Evangelho que nos revela este rosto de Deus como Pai que ama até ao dom do próprio Filho, para a salvação da humanidade.

A paternidade de Deus deve ser o exemplo para todos os pais (não o contrário).

Deus é um Pai que nunca abandona os seus filhos, um Pai amoroso que sustenta, ajuda, acolhe, perdoa e salva, com uma fidelidade que ultrapassa imensamente a dos homens, para se abrir a dimensões de eternidade. «Porque o seu amor é para sempre», como continua a repetir de modo litânico, em cada versículo, o Salmo 136, repercorrendo a história da salvação. O amor de Deus Pai nunca esmorece, nem se cansa de nós; é amor que doa até ao extremo, até ao sacrifício do Filho. A fé doa-nos esta certeza, que se torna uma rocha segura na construção da nossa vida: nós podemos enfrentar todos os momentos de dificuldade e de perigo, a experiência da obscuridade da crise e do tempo da dor, sustentados pela confiança de que Deus não nos deixa sozinhos e está sempre próximo, para nos salvar e nos levar à vida eterna.

Embora possa parecer às vezes que Deus nos abandonou, isso não é verdade.

Deus está sempre ao nosso lado. Muitas vezes é a nossa própria negação de Deus que faz parecer que Ele está distante. Não deixamos Deus entrar em nossas vidas, nós O forçamos a sair com nossos pecados, fechando nosso coração ao Seu amor.

Se quisermos saber o que é a verdadeira paternidade, lembremo-nos da imagem do Filho Pródigo, que Jesus apresenta no Evangelho.

Deus é o Pai que nos espera e está pronto para nos abraçar e realizar uma festa em nossa honra.

Fonte: Aleteia

Parlamento Europeu aprova texto radical pró-aborto

Sessão plenária do Parlamento Europeu em Bruxelas /
MichalPL via Wikimedia (CC BY-SA 4.0)

BRUXELAS, 24 jun. 21 / 03:40 pm (ACI).- O Parlamento Europeu aprovou uma moção que define o aborto como "cuidado essencial de saúde" e considera a objeção de consciência por parte de instituições de saúde que não queiram fazer abortos como "negação de cuidados médicos". Foram 378 votos a favor do Relatório Matić, 255 contra e 42 abstenções na votação durante a sessão plenária do Parlamento Europeu da quinta-feira 24 de junho.

O relatório também declara que violações dos “direitos de saúde sexual e reprodutiva” são “uma forma de violência contra mulheres e meninas.”

Durante o debate da quarta-feira 23 de junho que antecedeu a votação, o deputado croata Predrag Matić, autor do projeto do relatório, disse: “Amanhã é um grande dia para a Europa e para todo o mundo progressista. Amanhã decidimos sobre pôr a Europa como uma comunidade que escolhe viver no século XXI ou no XVII. Não deixem a história lembrar de nós como os atrasados.”

A Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE) disse ser "eticamente insustentável" classificar o aborto como um serviço de saúde "essencial". O arcebispo de Luxemburgo, cardeal Jean-Claude Hollerich, presidente da COMECE sustentou que o aborto não pode ser considerado um direito humano e afirmou que o relatório fere o princípio de subsidiariedade que é um dos fundamentos da União Europeia, já que as questões de saúde são da alçada dos Estados nacionais que integram a União Europeia e não dos organismos do bloco.

O arcebispo Stanisław Gądecki, presidente da conferência episcopal polonesa, criticou o Relatório Matić porque “o aborto é sempre uma violação do direito humano fundamental à vida, uma violação ainda mais abominável porque diz respeito à vida do ser humano mais fraco e completamente indefeso". Polônia e Malta são os dois únicos países da União Europeia onde o aborto sob demanda não é legal.

A Rede Parlamentar para Questões Críticas (PNCI, na sede em inglês), lobby católico pró-vida com sede em Washington, D.C., descreveu o relatório como "extremo" e "radical".

O Relatório Matić, oficialmente conhecido como o "Relatório sobre a situação da saúde e direitos sexuais e reprodutivos na UE, no âmbito da saúde da mulher", foi adotado pela Comissão dos Direitos da Mulher e Igualdade de Gênero do Parlamento Europeu em 11 de maio.

Uma "exposição de motivos" que o acompanhava afirmou que o relatório "chega num momento crucial na UE, com o retrocesso e a regressão dos direitos da mulher ganhando impulso e contribuindo para a erosão dos direitos adquiridos e colocando em perigo a saúde da mulher".

Dois membros do Parlamento Europeu, Margarita de la Pisa Carrión e Jadwiga Wiśniewska, definiram uma "posição minoritária", argumentando que o relatório não tinha "nenhum rigor legal ou formal". "Vai além de suas atribuições ao abordar questões como saúde, educação sexual e reprodução, bem como aborto e educação, que são poderes legislativos pertencentes aos estados membros", escreveram as parlamentares em seu posicionamento.

"Ele trata o aborto como um suposto direito humano que não existe no direito internacional. Isto é uma violação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos principais tratados vinculantes, assim como da jurisprudência do Tribunal Europeu de Direitos Humanos e do Tribunal de Justiça da União Europeia", afirmaram.

As deputadas destacaram que 154 emendas foram apresentadas contra o relatório.

O Centro Europeu de Direito e Justiça (ECLJ pela sigla em inglês), uma ONG com sede em Estrasburgo, França, sugeriu que os apoiadores do relatório estavam procurando "introduzir uma nova norma sem que à primeira vista ela aparentasse ser uma imposição".

"A escolha da instituição nesta estratégia não deve ser subestimada, pois embora as resoluções do Parlamento Europeu não tenham valor jurídico vinculativo, elas são a expressão de uma opinião que o Parlamento deseja dar a conhecer", afirma o ECLJ.

"Uma resolução pode posteriormente servir para legitimar politicamente a ação dos Estados membros ou das instituições; ela se destina a produzir efeitos práticos".

"Mais importante ainda, ela pode expressar uma intenção pré-legislativa que pode posteriormente ser utilizada para justificar atos vinculantes". Não há dúvida, portanto, que um ato do Parlamento Europeu representa a porta de entrada para o coração do sistema normativo".

David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu, deve se encontrar com o Papa Francisco no Vaticano neste fim de semana.

Fonte: ACI Digital

"Caminho dos Santos Mártires do Brasil", resgate de fé e cultura no nordeste do Brasil

Caminho dos mártires do Brasil (Foto: @edinaldo liins)

"O Caminho dos Mártires é um caminho inovador que unido aos demais atrativos de turismo de cada cidade, leva as pessoas a ter um momento de oração ou sua experiência com Deus, sua experiência com a cultura, com a história do local, mas também a ter um momento de lazer, um momento para conhecer aquilo que nós temos nessas cidades, principalmente nas três primeiras cidades, que é a parte litorânea, as praias", conta o idealizador do projeto, Sinédsio Moura.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

"Após a elevação da hóstia e do cálice, erguendo o Corpo do Senhor para a adoração dos presentes, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina."

Os martírios ocorridos em 1645 em Cunhaú e Uruaçu, levaram à honra dos Altares os Protomártires do Brasil Pe. André de Soveral, Pe. Ambrósio Francisco Ferro, o sacristão Mateus Moreira e outros 27 companheiros leigos. A cerimônia de canonização foi presidida pelo Papa Francisco na Praça São Pedro em 15 de outubro de 2017. Sua memória é celebrada pela Igreja no Brasil em 3 de outubro.

Para incentivar e difundir a devoção aos nossos primeiros mártires, foi criado “Caminho dos Santos Mártires do Brasil”, um percurso de fé inspirado também no Caminho de Santiago - uma das mais conhecidas Rotas de Peregrinação - que repassa a história dos mártires, intimamente ligada à invasão holandesa no Nordeste.

Por trás da iniciativa, Sidnésio Moura, coordenador do Fórum Nacional de Turismo Religioso, que ao Vatican News recordou um alerta de 2014 do ex-presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, cardeal Antonio Maria Vegliò: o Turismo Religioso não pode negligenciar a espiritualidade, e a espiritualidade deste segmento é a evangelização.

O Caminho pode ser feito a pé, de bicicleta, de moto, carro ou excursão. Independente da modalidade escolhida pelo peregrino, o objetivo é “levar as pessoas a um pleno encontro com Deus, um pleno encontro de evangelização, de espiritualidade”A exemplo do Caminho de Santiago, o peregrino vai recebendo carimbos na credencial ao longo das etapas do percurso e no final do Caminho recebe o Certificado do Peregrino.

Santuário dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu | Vatican News

Um percurso de fé e cultura

Ao longo da peregrinação estão capelas, igrejas, catedrais, santuários, ruínas, mas também os atrativos de cada localidade. E em se tratando de Nordeste, não poderia faltar também a ênfase à Laudato Si do Papa Francisco, com a vista à área de Proteção Ambiental de Dunas Móveis, onde há 27 lagoas, sem falar na beleza das dunas e praias.

O trajeto tem início no Engenho de Cunhaú, em Canguaretama, onde está a Capela de Nossa Senhora das Candeias - local do primeiro massacre - e o Santuário Chama do Amor. Ali, os peregrinos são acolhidos por sacerdotes, ocasião para conhecer um pouco mais da história dos Santos Mártires e receber uma bênção.

Na localidade, também é possível visitar a comunidade indígena Catu, da etnia Potiguara, originária do antigo aldeamento de Igramació, século XVIII.

O percurso inclui depois o litoral de Nísia Floresta, onde está a Igreja Matriz Nossa Senhora do Ó, com 188 anos. Justamente na localidade que nasceu há quase 60 anos a Campanha da Fraternidade, segundo contou entusiasmado Sidnésio Moura, destacando o aspecto histórico do lugar.

Já no povoado de Hortigranjeira, no município de Nísia Floresta, estão as ruínas da casa de São João Lostau (ou Lostão) Navarro, um dos companheiros do sacristão Mateus Moreira. Segundo relatos históricos, ele foi levado preso ao Forte dos Reis Magos e depois para Uruaçu, local onde ocorreu o segundo massacre e onde foi morto.

De Nísia Floresta o percurso segue para a Via Sacra de Timbó e então para Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte.

“Em Natal – contou o coordenador do Fórum Nacional de Turismo Religioso - nós tínhamos uma antiga Catedral, a Matriz Nossa Senhora da Apresentação. A primeira igreja de Natal foi fundada em 1599, onde no presbitério a gente pode ver preservado o local onde era o primeiro piso”.

Ali, de fato, foi celebrada a primeira Missa em Natal, “e o segundo pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação foi o padre Ambrósio Francisco Ferro”. Mateus Moreira – que ao ter seu coração arrancado exclamou “Louvado seja o Santíssimo Sacramento” - era sacristão da Matriz Nossa Senhora da Apresentação. Ele foi proclamado Padroeiro dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão.

Ruínas da casa de pedra de São João Lostau ou Lostão Navarro,
um dos Santos Mártires do Brasil (Foto: @ednaldoliins)

Mas neste “caminho de evangelização”, Sidnésio conta que também foi incluída a Gruta dos Ciganos, no Santuário dos Ciganos, “o primeiro no mundo onde o peregrino, o turista, vai conhecer 7 mil anos de história dos ciganos”.

O Santuário dos Ciganos fica na praia de Santa Rita, na cidade chamada Extremoz. E ao explicar do porquê da inclusão deste Santuário no roteiro, Sidnésio recordou a primeira visita de um Pontífice a uma comunidade cigana, mais precisamente São Paulo VI, à comunidade nômade de Pomezia, Itália. Uma mudança de olhar e acolhida à comunidade cigana seguida por São João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Ademais, o potiguar destacou as figuras de Santa Sara Kali, Padroeira universal do povo cigano, o Beato Ceferino Giménez Malla - ativista pelas causas romani espanholas - e Beata Emília Fernández Rodríguez de Cortés - cigana mártir.

Da Gruta dos Ciganos retorna-se a Natal, com a visita ao Santuário Nossa Senhora de Fátima, onde está sendo construída a quarta réplica da Capela de Fátima, de Portugal.

Da Capela, a peregrinação segue para São Gonçalo do Amarante, já em Uruaçu, local do segundo massacre, ocorrido em outubro de 1645, e onde é possível conhecer toda a sua história.

O retorno então para Natal, para a visita à Basílica do Mártires, no Bairro Nazaré. “Nesse Santuário – explicou Sidnésio - está a iconografia, a autêntica, verdadeira, a primeira iconografia” quando da beatificação dos Mártires por desejo de São João Paulo II, no ano 2000.

Como foi o martírio

Para quem não conhece a história dos primeiros mártires do Brasil, o coordenador do Fórum Nacional de Turismo Religioso faz um breve relato:

No ano de 1645 os holandeses invadem o Estado do Rio Grande do Norte, eles vêm de Pernambuco. E aí aconteceram os dois massacres no Estado do Rio Grande do Norte. O primeiro massacre acontece no dia 16 de julho de 1645, durante a celebração da Santa Missa dominical, na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú, no atual município de Canguaretama, aqui no Estado do Rio Grande do Norte. De acordo com os relatos históricos, após o padre André de Soveral realizar a elevação da Hóstia e do cálice, erguendo o Corpo do Senhor para adoração dos presentes, Jacó Rabe trancou as portas da Capela e com a tropa de índios Tapuias e soldados ordenou a matança de todos os fiéis. Em Uruaçu, o segundo massacre aconteceu três meses depois, no dia 3 de outubro - hoje parte do município de São Gonçalo do Amarante. Com as notícias sobre o ocorrido em Cunhaú, alguns católicos buscaram refúgio na Fortaleza dos Reis Magos, em uma fortificação construída no pequeno povoado de Potengi, que ficava próximo da fortaleza, mas foram atacados pelas tropas de Rabe. Eles resistiram, mas acabaram se rendendo e foram massacrados às margens do rio Uruaçu. Entre os mortos estava o padre Ambrósio Francisco Ferro e o camponês Mateus Moreira. De acordo com os relatos históricos, os invasores holandeses, ofereceram aos fiéis católicos a opção de conversão ao calvinismo, mas eles escolheram martírio e o acolheram entre orações e exaltação à Deus, né.

Mateus Moreira, a gente sabe que quando arrancaram seu coração, quando ele é morto, ele em um brado, em um grito, fala: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”. E isso aí revolta, naquele tempo, naquele momento, os holandeses, a disposição dos fiéis na hora da morte era a de verdadeiros mártires. Ou seja, aceitando voluntariamente o martírio por amor a Cristo. Os assassinos agiam em nome de um governo que hostilizava abertamente a Igreja Católica, a religião do governo português do qual eram adversários. Foram dezenas de mortos. Nos dois episódios, mas apenas 30 foram canonizados, sendo 28 leigos e dois sacerdotes, isso porque devido à violência com que foram mortos, muitos não puderam ser identificados. Isso é, existe um relato que na canonização, quando o Papa Francisco canoniza, ele fala o nome de Ambrósio Francisco Ferro, André de Soveral, Mateus Moreira, seus 27 companheiros e os anônimos. Então para ver que são muito mais Santos do que aquilo que a gente imagina.

Então foi um massacre, foi uma invasão, a invasão holandesa. Na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, o padre Ambrósio, que foi o segundo pároco da igreja, quando soube da invasão holandesa, começou a esconder coisas para que os calvinistas ali não as queimassem – a violência era tão grande - não queimassem dados históricos da igreja. É claro que muitas coisas se perderam, mas uma coisa que não se perdeu, que foi descoberta em 1995 na reforma da Matriz Nossa Senhora da Apresentação – estava escondido na parede - foi o Ostensório. O Ostensório que em alguns momentos solenes, que sai da Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação, em Natal, era o Ostensório escondido dentro da parede. Existia uma abertura, o padre Ambrósio esconde o Ostensório e na reforma foi descoberto. O Ostensório é uma relíquia histórica nossa, então é belíssimo, essa história relacionada aos nossos mártires. Então isso é um resumo daquilo que nós temos, daquilo que nós temos sobre os Santos Mártires. Vale a pena, vale a pena vir conhecer o caminho, vir conhecer a história, vir se aprofundar nessa história, certo, belíssima dos nossos Mártires do Brasil, Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu.

Contato

O “Caminho dos Santos Mártires do Brasil” foi aberto recentemente. O primeiro Tour foi realizado com guias de turismo e já vem despertando interesse. Sidnésio conta já ter recebido ligações de Minas Gerais, Pernambuco, Paraíba, Paraná, e naturalmente do Rio Grande do Norte.

“As pessoas estão querendo se encontrar com Deus, e é esse o diferencial do Caminho dos Mártires, é esse encontro com Deus”, garante o potiguar, especialmente neste período de pandemia em que tantas pessoas perderam algum ente querido.

Os contatos para peregrinações podem ser feitos pelo número (84) 99 06 9597 ou pelo perfil Instagram @sidnesiomoura.

Fonte: Vatican News

S. PRÓSPERO DE AQUITÂNIA, FILÓSOFO

S. Próspero | ArquiSP
25 de junho

SÃO PRÓSPERO DE AQUITÂNIA, FILÓSOFO

Próspero estudou na sua cidade natal, Aquitânia, atual Limoges, França, e logo se tornou escritor e teólogo. As suas obras são quase as únicas fontes de informação sobre ele próprio. Escrevia tanto em verso como em prosa. Por causa do poema "De um esposo a sua mulher", atribuído à sua autoria, chegou-se a supor que ele pudesse ter sido casado. Porém é certo que ele nunca se ordenou sacerdote, embora tenha vivido no mosteiro de Marselha, desde 426. Até morrer, manteve-se apenas um monge leigo. Também não foi mártir e nem patrocinou prodígio algum. Entretanto a Igreja o venera como "Professor da Fé".

No meio dos sacerdotes marselheses, Próspero viu difundir-se a doutrina herética apregoada por Pelágio, que negava o pecado original e a necessidade da graça divina para a salvação humana. Portanto o ser humano seria capaz de salvar-se apenas praticando o bem e segundo a sua própria vontade, pois a graça divina era importante, mas não indispensável.

Próspero, desde o seu ingresso no mosteiro, tomou parte ativa na luta contra os erros doutrinais divulgados por Pelágio, que os monges marselheses se interessavam em sua propagação. Próspero defendeu e trabalhou pessoalmente com Agostinho, pois tinha o mesmo entendimento que ele sobre a graça divina. Por isso contou a Agostinho que os "marselheses" eram-lhe os novos opositores doutrinais. Instigado, Agostinho escreveu aquela que foi a sua maior obra: "Da predestinação dos santos e dom da perseverança". Agostinho morreu logo após, em 430.

Mas nem mesmo após sua morte as críticas dos "marselheses" à sua doutrina atenuaram. Por isso, um ano depois, Próspero decidiu ir a Roma para pedir a intervenção do papa Celestino I. que mandou uma carta aos bispos da França para que acabassem de vez com as críticas ao grande mestre e doutor da Igreja, Agostinho.

Só então Próspero transferiu-se para Roma, em 435, onde continuou com suas obras. Escreveu um comentário sobre os salmos e, principalmente, sobre seu mestre Agostinho, assentando-lhe a doutrina e corrigindo certos exageros encontrados nos seus textos. Próspero captava com facilidade o pensamento muitas vezes obscuro de Agostinho, devido à sua apurada educação literária e filosófica. Ele próprio se tornou um teólogo de rara grandeza para a Igreja.

A partir de 440, Próspero foi convocado pelo papa Leão Magno para ser seu secretário, exercendo a função até depois de 463, quando faleceu. Deixou um grande número de escritos teológicos eclesiásticos, sempre em resposta às diversas calúnias e objeções à rígida doutrina de Agostinho. Aliás, o conteúdo era tão apurado e preciso que continuaram convencendo também os outros pontífices que se sucederam em Roma durante séculos.

O único indício de homenagem a são Próspero de Aquitânia remonta à Antigüidade, que é uma pintura na igreja de São Clemente, em Roma. Sem dúvida, trata-se deste santo, porque naquela igreja o papa Zózimo, em 417, condenou o "pelagianismo", heresia que o grande teólogo combateu ferrenhamente por meio de suas obras.

Próspero de Aquitânia só foi canonizado no século VIII, por isso foi inserido erroneamente no Martirológio Romano por César Baronio, que o confundiu com o bispo de Régio Emilia, seu homônimo, que foi martirizado pela fé no século VIII. Motivo pelo qual os dois santos recebem as homenagens litúrgicas no mesmo dia, 25 de junho.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

São Guilherme de Vercelli

S. Guilherme | ArquiSP
25 de junho

S. GUILHERME, ABADE, FUNDADOR DO MOSTEIRO DE MONTEVERGINE

Guilherme nasceu em Vercelli, no ano de 1085, de uma rica família da nobreza francesa. Aos quinze anos, já vestia o hábito de monge e era um fervoroso peregrino. Percorreu toda a Europa visitando os santuários mais famosos e sagrados, pretendendo tornar-se um simples monge peregrino na Terra Santa. Foi dissuadido ao visitar, na Itália, João de Matera, hoje santo, que lhe disse, profeticamente, que Deus não desejava apenas isso dele. Contribuiu também, para sua desistência, o fato de ter sido assaltado por ladrões de estrada, que lhe aplicaram uma violenta surra.

O incidente acabou levando-o a procurar a solidão na região próxima de Avellino, na montanha de Montevergine. Era uma terra habitada apenas por animais selvagens, onde, segundo a tradição, um lobo teria matado o burro que lhe servia de transporte. Guilherme, então, teria domesticado toda a matilha, que passou a prestar-lhe todo tipo de auxílio.

Vivia como eremita, dedicando-se à oração e à penitência, mas isso durou pouco tempo. Logo começou a ser procurado por outros eremitas, religiosos e fiéis. Acabou fundando, em 1128, um mosteiro masculino, o qual colocou sob as regras beneditinas e dedicou a Maria, ficando conhecido como o Mosteiro de Montevergine.

Dele Guilherme se tornou o abade, todavia por pouco tempo, pois transmitiu o cargo para um monge sucessor e continuou peregrinando. Entretanto tal procedimento se tornou a rotina de sua vida monástica. Guilherme acabou fundando um outro mosteiro beneditino, dedicado a Maria, em Monte Cognato. Mais uma vez se encontrou na posição de abade e novamente transmitiu o posto ao monge que elegeu para ser seu sucessor.

Desejando imensamente a solidão, foi para a planície de Goleto, não muito distante dali, onde, por um ano inteiro, viveu dentro do buraco de uma árvore gigantesca. E eis que tornou a ser descoberto e mais outra comunidade se formou ao seu redor. Dessa vez teve de fundar um mosteiro "duplo", ou seja, masculino e feminino. Contudo criou duas unidades distintas, cada uma com sua sede e igreja própria.

E foi assim que muitíssimos mosteiros nasceram em Irpínia e em Puglia, como revelou a sua biografia datada do século XII. Desse modo, ele, que desejava apenas ser um monge peregrino na Terra Santa, fundou a Congregação Beneditina de Montevergine, que floresceu por muitos séculos. Somente em 1879 ela se fundiu à Congregação de Montecassino.

Guilherme morreu no dia 25 de junho de 1142, no mosteiro de Goleto. Teve os restos mortais transferidos, em 1807, para o santuário do Mosteiro de Maria de Montevergine, o primeiro que ele fundara, hoje um dos mais belos santuários marianos existentes. Em 1942, o papa Pio XII canonizou-o e declarou são Guilherme de Vercelli Padroeiro principal da Irpínia.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF