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domingo, 31 de outubro de 2021

Indulgência plenária de finados será estendida: veja como ganhar

fot. Agnieszka Bugała

Devido à persistência da pandemia, a Igreja flexibilizou também neste ano uma parte das condições habituais.

As indulgências plenárias para os fiéis falecidos, que normalmente podem ser concedidas durante os primeiros oito dias de novembro por ocasião do Dia de Finados, serão novamente estendidas para o mês inteiro, tal como aconteceu no ano passado. O motivo, novamente, é a pandemia de covid-19 e as medidas restritivas que ela continua exigindo.


Não perca a Missa internacional por seus entes queridos falecidos.


Penitenciaria Apostólica respondeu às solicitações de bispos de todo o mundo e emitiu um decreto, nesta quinta-feira, 28, estabelecendo a possibilidade de obtenção das indulgências ao longo de novembro inteiro. O texto recorda os benefícios desta prorrogação: “os fiéis certamente extrairão piedosas intenções e vigor espiritual para dirigir a própria vida de acordo com a lei do Evangelho, em comunhão filial e devoção para com o Sumo Pontífice, visível fundamento e Pastor da Igreja Católica”.

É importante recordar que os beneficiários destas indulgências relacionadas com o Dia de Finados são as almas dos fiéis falecidos que estejam no purgatório: neste caso, não é o fiel vivo que as obtém para si mesmo!

Portanto, trata-se de uma estupenda obra de misericórdia para com as almas do purgatório.

Condições específicas da indulgência por ocasião do Dia de Finados:

  • Visitar piedosamente uma igreja ou oratório e ali recitar o Pai-Nosso e o Credo: neste ano, assim como em 2020, poderemos realizar essa visita em qualquer dia do mês de novembro;
  • Visitar um cemitério e rezar pelos defuntos, mesmo que seja apenas mentalmente.

Importante: doentes, idosos e pessoas que não podem sair de casa devido às restrições da pandemia podem “unir-se espiritualmente aos outros fiéis”.

Condições habituais obrigatórias

Evidentemente, é preciso cumprir também as condições habituais para se receber qualquer indulgência plenária, ou seja:

  • Confessar-se, porque, para receber a indulgência plenária, é necessário estar em graça e desapegado de todo pecado;
  • Receber a Sagrada Comunhão;
  • Rezar pelo Santo Padre e pelas suas intenções de oração.

No tocante às orações, cada fiel pode fazer as de sua preferência, mas sugerem-se algumas como:

Orações sugeridas

“Eterno Pai, eu vos ofereço o Preciosíssimo Sangue de Vosso Divino Filho Jesus, em união com todas as Missas que hoje são celebradas em todo o mundo; por todas as santas almas do purgatório, pelos pecadores de todos os lugares, pelos pecadores de toda a Igreja, pelos de minha casa e de meus vizinhos. Amém”.

“Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno, e que a luz perpétua os ilumine. Descansem em paz. Amém” (três vezes).

A Igreja também recomenda, entre as orações, rezar as Laudes e Vésperas do Ofício dos Defuntos, o rosário (ou terço) mariano, a coroa (ou terço) da Divina Misericórdia ou a leitura meditada de passagens do Evangelho próprias da liturgia dos fiéis defuntos.

A tradição também incentiva os católicos a realizarem uma obra de misericórdia, oferecendo a Deus as dores e dificuldades da própria vida.

Fonte: Aleteia(https://pt.aleteia.org/)

CIMI lança Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil - dados de 2020

Indígenas Amazônia | Vatican News

Dom Roque: "o relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, desde o ano 1996, é um importante instrumento de denúncia da violência e das violações que acometem os povos originários até hoje no país".

Vatican News

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou nesta quinta-feira (28) o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil - dados de 2020. 

O Relatório está dividido em três capítulos principais. A publicação retrata a realidade dos povos indígenas durante o segundo ano do governo de Jair Bolsonaro e apresenta também análises sobre as violações contra seus direitos em meio à pandemia de Covid-19.

Na apresentação do Relatório o presidente do CIMI dom Roque Paloschi afirmou que nos fala o Papa Francisco “nunca os povos originários, estiveram tão ameaçados, como o estão agora”. É com essa voz de denúncia e de indignação, que trazemos mais uma vez os dados de violência e violação de direito contra os povos indígenas.

O relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, desde o ano 1996, - continuou - é um importante instrumento de denúncia da violência e das violações que acometem os povos originários até hoje no país.

Dom Roque disse que "os dados do ano 2020, que apresentamos hoje, refletem a realidade dos povos indígenas no segundo ano do governo Bolsonaro, em meio à pandemia. Enquanto no mundo, havia um momento de atenção e cuidado, no Brasil o inverso disso, lideranças do executivo propagava discurso de ódio, negacionismo e um momento ideal “para passar a boiada”, violando a Constituição Federal e abrindo os territórios indígenas, para o avanço da grilagem, da soja, do garimpo, do desmatamento e inúmeras outras violências contra lideres indígenas, que se opõe a mercantilização da vida e da terra".

O arcebispo continua dizendo que "comunidades foram expulsos de suas terras, lideranças foram assassinadas e com essa política anti indígenas, incentivou-se o divisionismo no interior dos povos indígenas. É com pesar que mais uma vez nos reunimos, para o lançamento de mais um relatório de violência contra os povos indígenas, isso é uma vergonha para o país, que trata os povos originários com tanta violência, descaso e preconceito".

É movido pela esperança, que anunciamos - disse ainda dom Roque -, apesar das muitas situações de morte, que os povos originários continuam sendo “povos de antigos perfumes, que continuar a perfumar o continente contra todo o desespero”, conforme nos diz o documento final do Sínodo da Amazonia. E todos somos testemunhas, que os povos originários são semente teimosa, contra toda as ameaças em sua integridade física, cultural e territorial. A mobilização ‘levante pela vida’ e a mobilização das mulheres indígenas, como guardiãs e cuidadoras da vida e da terra, nos enche de coragem, para continuar a missão de denunciar mais uma vez as violências e violações contra os povos originários.

Dom Roque convidou a todos e a todas as pessoas, para entrar na ciranda da solidariedade, no cuidado da vida, a escutar o grito dos pobres e o grito da terra, que já não aguentam mais tanta exploração e tantas mortes. A pergunta que fazemos a nós todos, “O que ficará para as gerações futuras se continuarmos com tanta exploração e morte?”

A igreja - finalizou Dom Roque - continua sendo aliada dos povos originários, "nas suas lutas por mais vida, terra e direito e reafirma seu compromisso na denúncia de todas as situações de morte, que atentam contra os povos originários. a causa indígena é de todos nós".

SUMÁRIO

O Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil – dados de 2020, publicado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), apresenta o retrato de um ano trágico para os povos originários no país. A grave crise sanitária provocada pela pandemia do coronavírus, ao contrário do que se poderia esperar, não impediu que grileiros, garimpeiros, madeireiros e outros invasores intensificassem ainda mais suas investidas sobre as terras indígenas.

O segundo ano do governo de Jair Bolsonaro representou, para os povos originários, a continuidade e o aprofundamento de um cenário extremamente preocupante em relação aos seus direitos, territórios e vidas, particularmente afetadas pela pandemia da Covid-19 – e pela omissão do governo federal em estabelecer um plano coordenado de proteção às comunidades indígenas.

O ano de 2020 ficou marcado pelo alto número de mortes ocorridas em decorrência da má gestão do enfrentamento à pandemia no Brasil, pautada pela desinformação e pela negligência do governo federal. Esta realidade, lamentável para a população brasileira em geral, representou uma verdadeira tragédia para os povos indígenas.

Em muitos casos, o vírus que chegou às aldeias e provocou mortes foi levado para dentro dos territórios indígenas por invasores que seguiram atuando ilegalmente nestas áreas em plena pandemia, livres das ações de fiscalização e proteção que são atribuição constitucional e deveriam ter sido efetivadas pelo poder Executivo.

O Relatório identificou que, em 2020, os casos de “invasões possessórias, exploração ilegal de recursos e danos ao patrimônio” aumentaram, em relação ao já alarmante número que havia sido registrado no primeiro ano do governo Bolsonaro. Foram 263 casos do tipo registrados em 2020 – um aumento em relação a 2019, quando foram contabilizados 256 casos, e um acréscimo de 141% em relação a 2018, quando haviam sido identificados 109 casos. Este foi o quinto aumento consecutivo registrado nos nos casos do tipo, que em 2020 atingiram pelo menos 201 terras indígenas, de 145 povos, em 19 estados.

As invasões e os casos de exploração de recursos naturais e de danos ao patrimônio registrados em 2020 repetem o padrão identificado no ano anterior. Os invasores, em geral, são madeireiros, garimpeiros, caçadores e pescadores ilegais, fazendeiros e grileiros, que invadem as terras indígenas para se apropriar ilegalmente da madeira, devastar rios inteiros em busca de ouro e outros minérios, além de desmatar e queimar largas áreas para a abertura de pastagens. Em muitos casos, os invasores dividem a terra em “lotes” que são comercializados ilegalmente, inclusive em terras indígenas habitadas por povos isolados.

Esses grupos e indivíduos atuam com a certeza da conivência – muitas vezes explícita – do governo, cuja atuação na área ambiental foi sintetizada pela célebre frase do então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: era preciso aproveitar a pandemia para “passar a boiada” da desregulamentação.

O caso dos povos Yanomami, Ye’kwana e Munduruku exemplifica a estreita relação entre a ação dos invasores, a omissão do Estado e o agravamento da crise sanitária. Na TI Yanomami, onde é estimada a presença ilegal de cerca de 20 mil garimpeiros, os invasores devastam o território, provocam conflitos, praticam atos de violência contra os indígenas e, ainda, atuam como vetores do coronavírus – num território onde há também a presença de indígenas em isolamento voluntário.

Em muitas aldeias, a pandemia levou as vidas de anciões e anciãs que eram verdadeiros guardiões da cultura, da história e dos saberes de seus povos, representando uma perda cultural inestimável – não só para os povos indígenas diretamente afetados, mas para toda a humanidade. Segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), mais de 43 mil indígenas foram contaminados pela Covid-19 e pelo menos 900 morreram por complicações da doença no ano de 2020.

As violências praticadas contra os povos indígenas e seus territórios são condizentes com o discurso e as práticas de um governo que tem como projeto a abertura das terras indígenas à exploração predatória, atuando no sentido de disponibilizar essas áreas para a apropriação privada e favorecendo os interesses de grandes empresas do agronegócio, da mineração e de outros grandes grupos econômicos.

Essa opção política do governo federal é evidenciada pelos inúmeros discursos proferidos pelo próprio presidente da República e por medidas práticas como o Projeto de Lei (PL) 191, apresentado pelo governo ao Congresso Nacional em fevereiro de 2020, e a Instrução Normativa (IN) 09, publicada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em abril.

Enquanto o PL 191/2020 prevê a abertura das terras indígenas para a mineração, a exploração de gás e petróleo e a construção de hidrelétricas, entre outras atividades, a IN 09/2020 passou a permitir a certificação de propriedades privadas sobre terras indígenas não homologadas – o que inclui terras em estágio avançado de demarcação e áreas com restrição de uso devido à presença de povos isolados.

Estas medidas também tiveram influência no aumento dos casos de “conflitos relativos a direitos territoriais”, que mais do que dobraram em relação ao ano anterior. Foram 96 casos do tipo em 2020, 174% a mais do que os 35 identificados em 2019.

Também chama atenção o considerável aumento dos assassinatos de indígenas no Brasil. Em 2020, 182 indígenas foram assassinados – um número 37% maior do que o registrado em 2019, quando foram contabilizados 133 assassinatos.

Uma síntese deste cenário desolador pode ser indicada pelo fato de que, embora nem todos os tipos de violência tenham apresentado aumento em relação a 2019, o cômputo geral das categorias “violência contra a pessoa” e “violência contra o patrimônio indígena”, em 2020, foi o maior dos últimos cinco anos. No mesmo período, os casos de “violência por omissão do poder público” registrados em 2020 só foram menores que os de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro.

Violência contra o Patrimônio

Em relação aos três tipos de “Violência contra o Patrimônio”, que formam o primeiro capítulo do Relatório, foram registrados os seguintes dados: omissão e morosidade na regularização de terras (832 casos); conflitos relativos a direitos territoriais (96 casos); e invasões possessórias, exploração ilegal de recursos Em meio à pandemia, invasões de terras e assassinatos de indígenas aumentaram em 2020.

A paralisação das demarcações de terras indígenas, anunciada pelo presidente da República ainda durante a sua campanha eleitoral, continua sendo uma diretriz de seu governo. Das 1.299 terras indígenas no Brasil, 832 (64%) seguem com pendências para sua regularização. Destas, 536 são áreas reivindicadas pelos povos indígenas, mas sem nenhuma providência do Estado para dar início ao processo administrativo de identificação e delimitação.

Violência contra a pessoa

Em 2020, os dados de “Violência contra a Pessoa”, sistematizados no segundo capítulo do Relatório, foram os seguintes: abuso de poder (14); ameaça de morte (17); ameaças várias (34); assassinatos (182); homicídio culposo (16); lesões corporais dolosas (8); racismo e discriminação étnico cultural (15); tentativa de assassinato (13); e violência sexual (5). Os registros totalizam 304 casos de violência praticadas contra a pessoa indígena em 2020. Este total é maior do que o registrado em 2019, quando foram identificados 277 casos.

Os estados com o maior número de assassinatos de indígenas em 2020, segundo os dados obtidos junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e a secretarias estaduais de saúde, foram Roraima (66), Amazonas (41) e Mato Grosso do Sul (34). Infelizmente, os dados fornecidos pela Sesai e pelos estados não apresentam informações detalhadas sobre as vítimas e nem as circunstâncias destes assassinatos, o que inviabiliza análises mais aprofundadas.

Destacam-se, neste contexto, dois casos ocorridos em meio a desastrosas ações da polícia militar. No Amazonas, o caso que ficou conhecido como “massacre do rio Abacaxis” teve origem no conflito causado por turistas que ingressaram ilegalmente no território de indígenas e ribeirinhos, na região dos rios Abacaxis e Marimari, para praticar pesca esportiva. Uma operação da polícia militar no local resultou na morte de dois indígenas do povo Munduruku e de pelo menos quatro ribeirinhos, além de outros dois desaparecidos e diversos relatos de violações de direitos humanos praticados pelos policiais. Em Mato Grosso, quatro indígenas do povo Chiquitano que estavam caçando numa área próxima à sua aldeia foram mortos por policiais do Grupo Especial de Fronteira (Gefron).

Cabe ressaltar que muitos dos casos de abuso de poder, ameaças várias e racismo e discriminação étnico cultural ocorreram quando os indígenas buscavam atendimento ou assistência em meio à pandemia. Além das mortes e da fome, que atingiu muitas comunidades em situação de vulnerabilidade extrema, o preconceito e o racismo foram agravantes do sofrimento vivenciado pelos povos indígenas durante a crise sanitária.

Violência por Omissão do Poder Público

Embora não tenham registrado aumento em relação a 2019, os casos de “violência por omissão do poder público” em 2020 mantiveram-se, junto com o ano anterior, em um patamar elevado em relação ao registrado nos anos imediatamente anteriores ao início do governo Bolsonaro.

Com base na Lei de Acesso à Informação (LAI), o Cimi também obteve da Sesai dados parciais de suicídio e mortalidade na infância indígena. Em 2020, foram registrados 110 suicídios de indígenas em todo o país. Os estados do Amazonas (42) e Mato Grosso do Sul (28) mantiveram-se como os que registraram as maiores quantidades de ocorrências. Não houve aumento dos casos em relação a 2019, quando os dados da Sesai indicaram a ocorrência de 133 suicídios.

Ainda segundo os dados da Sesai, foram registrados 776 óbitos de crianças de 0 a 5 anos em 2020. Também neste caso os estados com maior número de registros foram os mesmos que no ano anterior: Amazonas (250 casos), Roraima (162) e Mato Grosso (87). Apesar de, como no caso dos suicídios, não ter sido verificado um aumento do número de casos em relação a 2019, a Secretaria ressalta que os dados são preliminares e estão sujeitos a alteração.

Ainda nesta categoria foram registrados os seguintes dados: desassistência geral (51); desassistência na área de educação escolar indígena (23); desassistência na área de saúde (82); disseminação de bebida alcóolica e outras drogas (11); e morte por desassistência à saúde (11), totalizando 178 casos.

Também neste capítulo, grande parte dos casos relatados possui relação direta com o contexto da pandemia e a falta de assistência do poder público, especialmente na área de saúde. A falta de apoio para a instalação de barreiras sanitárias nas terras indígenas, a interrupção ou omissão no fornecimento de cestas básicas e de materiais de higiene, necessários para garantir condições básicas de proteção e prevenção contra a Covid-19, foram alguns dos casos recorrentes registrados neste capítulo.

Artigos e dados sobre a pandemia

Além dos dados referentes ao ano de 2020, o Relatório apresenta também artigos com a proposta de aprofundar a reflexão sobre a realidade dos povos indígenas no país. Neste ano, três artigos abordam os impactos da pandemia sobre os povos indígenas, acompanhados de uma síntese dos dados de óbitos e contaminações entre indígenas sistematizados pela Apib e pela Sesai a respeito do ano de 2020. Os textos abordam como a pandemia afetou os povos indígenas no país; o descaso do governo federal na reação à crise sanitaria; e a situação dos indígenas encarcerados em meio à pandemia. Além disso, outros dois artigos discutem o racismo e a discriminação contra os povos originários e o sequestro da água dos rios pelo agronegócio no Tocantins.

Caci: mapa dos ataques contra indígenas no Brasil

A plataforma Caci, mapa digital que reúne as informações sobre os assassinatos de indígenas no Brasil, foi atualizada com os dados do Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil de 2020. Caci, sigla para Cartografia de Ataques Contra Indígenas, também significa “dor” em Guarani. Com a inclusão dos dados de 2020, a plataforma passa a abranger informações georreferenciadas sobre 1.236 assassinatos de indígenas, reunindo dados compilados desde 1985.

Fonte: Vatican News(https://www.vaticannews.va/)

XXXI DOM TEMPO COMUM - Ano B

Dom Paulo Cezar | arqbrasilia

Dom Paulo Cezar Costa / Arcebispo de Brasília

O Amor a Deus e ao próximo

A liturgia deste domingo nos apresenta o diálogo de Jesus com um escriba (Mc 12, 28 -34). A questão levantada por ele era muita disputada entre os doutores da Lei: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” Jesus começa sua resposta citando o shema, a oração que o judeu piedoso recitava em cada manhã e tarde. No shema estava a proclamação fundamental da fé de Israel. Era a afirmação do primado de Deus na vida do israelita. “… O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força!” Mas Jesus vai além e cita o segundo mandamento: “O segundo mandamento é: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12, 29-31). O texto do Deuteronômio, citado por Jesus, mostra que não é um amor qualquer, mas um amor de todo o coração. O coração é o centro da existência para o judeu, é o centro das atividades intelectivas e volitivas.  É o amor a Deus que deve atingir o mais profundo de nós, expresso pelas palavras: coração, alma, entendimento e força. Jesus acrescenta o amor ao próximo. Alguns rabinos da época de Jesus já consideravam o amor ao próximo como fundamental. Rabi Aqiba escrevia: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo é o princípio fundamental da Lei”.

O amor cristão participa do amor de Deus. Diz São Tomás: «O amor indica a união com a coisa amada, no limite do possível; assim, para com Deus que faz com que o homem viva a vida de Deus e não a própria, para quanto é possível» (III Sent., d.29, q.1, a.3, ad1). Para S. Tomás «o amante vem transformado no amado e em certo modo convertido neste» (III Sent. D. 27, q.1, a.1). Assim, o homem amando Deus vem transformado de certo modo em Deus, pois o amor transforma o amante no amado, «faz sim que o amante penetre na intimidade (in interiora) do amado, e vice-versa, assim que nada daquilo que pertence ao amado permanece separado do amante» (ibidad 4). Porque o amor para com Deus e aquele para com o próximo caminham juntos, não há amor divino sem o amor para com o próximo e vice-versa: «Se alguém disser: ‘Amo a Deus’ mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar. Este é o mandamento que dele recebemos: aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão» (Jo 4,20-21).

O centro da vida do cristão não está na Lei, nem em princípios legalistas, mas no amor. Somente quem se coloca no caminho do amor a Deus e ao próximo vai caminhando para tocar o coração da fé cristã. Que este texto do Evangelho meditado, rezado e interiorizado nos ajude a perceber a centralidade do amor a Deus e ao próximo na nossa vida e nos conduza a perceber que o amor a Deus está intimamente coligado com o amor ao próximo.

Fonte: Arquidiocese de Brasília(https://arqbrasilia.com.br/)

Santo Afonso Rodrigues

S. Afonso Rodrigues | Canção Nova
31 de outubro
SANTO AFONSO RODRIGUES

Origens

Afonso Rodrigues nasceu na cidade de Segóvia, Espanha, no dia 25 de julho de 1532. Sua família era pobre mas, também, profundamente cristã. Seu pai era um simples comerciante de tecidos e sua mãe, dona de casa, mãe de onze filhos. Afonso teve uma infância feliz, apesar da pobreza, pois sua família era unida e cheia de fé.

Reviravoltas

A primeira grande reviravolta na vida de Afonso, foi a morte de seu pai. Aconteceu quando ele tinha apenas dezesseis anos. O pai faleceu de repente. Por causa disso, sua mãe se viu em dificuldades para sustentar os onze filhos. Afonso, então, para ajudar a manter a casa, decidiu parar de estudar e começou a vender tecidos, aproveitando a carteira de clientes de seu falecido pai.

Casamento, viuvez e perdas

Sete anos depois, em 1555, quando a situação tinha se normalizado, sua mãe o aconselhou a se casar. Afonso acolheu o conselho e se casou. O casal teve dois filhos. Porém, mais uma vez, acontecimentos inesperados vieram bater à sua porta. Primeiramente, sua esposa ficou doente e veio a falecer. Depois, seus dois filhos, adoeceram e morreram. Profundamente abatido por tamanhas perdas, Afonso perdeu o controle dos negócios, perdeu o pouco que possuía e ficou sem crédito.

Depressão

Sem rumo, Afonso tentou voltar as estudar, mas não conseguiu sair-se bem nas provas. Por isso, não foi aprovado para a Faculdade de Valência. Com mais esta perda na vida, Afonso mergulhou numa profunda depressão. Por isso, retirou-se na própria casa. Ali, fechou-se, rezou muito, meditou e jejuou. O tempo foi passando e um novo caminho começou a clarear em seu coração. Ele decidiu dedicar toda a sua vida ao serviço de Deus e dos irmãos.

Irmão leigo jesuíta

Munido de uma firme decisão, Afonso pediu ingresso na Companhia de Jesus como irmão leigo. Era o ano 1571. Afonso foi aceito e começou um noviciado que transformaria toda a sua vida. Como noviço, foi designado para viver e trabalhar no colégio dos jesuítas em Palma, na ilha de Maiorca. Este colégio dedicava-se à formação dos padres. Ali, Afonso encontrou sua realização total de vida. Viveu lá por mais de quarenta anos e entregou sua alma a Deus.

Porteiro

No colégio, Afonso Rodrigues exerceu unicamente a função humilde e simples de porteiro. E isso durou quarenta e seis anos! Porém, se sua função não lhe trazia quase nenhum destaque, espiritualmente ele era dos mais elevados entre todos os confrades. Em sua vida terrena, recebeu vários dons extraordinários. Teve também várias manifestações como visões, profecias, milagres e o dom da cura.

Orientador espiritual

Santo Afonso Rodrigues, mesmo sendo porteiro, foi procurado para ser orientador espiritual de vários religiosos e leigos. Estes, o procuravam por causa de sua sabedoria e dom do conselho. Entre estes, dois se destacavam. Primeiro, o Padre Pedro Claver, que, mais tarde, foi canonizado. Era missionário na colômbia e ficou conhecido como o grande evangelizador dos povos negros escravizados na Colômbia. O outro, também santo, foi Jerônimo Moranto, missionário jesuíta martirizado no México. Os dois sempre seguiram as preciosas orientações do porteiro Santo Afonso Rodrigues.

Morte

Após ter vivido uma vida simples, quarenta e seis anos totalmente dedicados ao serviço de Deus, da oração, da portaria do colégio e ao serviço aos irmãos por amor de Cristo, Santo Afonso Rodrigues adoeceu. Sofreu dores muito fortes pelo período de dois anos. Depois disso, faleceu. Era o dia 31 de outubro de 1617. Ele estava lá, no mesmo colégio onde dedicou sua vida a Deus.

Canonização

Sua canonização aconteceu em 1888, através do Papa Leão XIII. Ele foi canonizado junto com são Pedro Claver, seu fiel discípulo, aquele que se tornara conhecido como o Apóstolo dos Escravos. Santo Afonso Rodrigues deixou um legado valioso, além de sua vida santa. Ele deixou uma obra escrita considerada pequena, com “apenas” três volumes. Porém, sua obra tem grande valor teológico. Nela, relatou detalhadamente a riqueza de sua espiritualidade.

Oração a Santo Afonso Rodrigues

Ó Deus, concedei-nos, pelas preces de Santo Afonso Rodrigues, a quem destes perseverar na imitação de Cristo pobre e humilde, seguir a nossa vocação com fidelidade e chegar àquela perfeição que nos propusestes em vosso Filho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. Santo Afonso Rodrigues, rogai por nós.”

Fonte: CruzTerraSanta(https://cruzterrasanta.com.br/)

sábado, 30 de outubro de 2021

UMA ECONOMIA A SERVIÇO DA JUSTIÇA SOCIAL E EM CUIDADO DA CASA COMUM

CNBB

ORGANIZAÇÕES ECLESIAIS E MOVIMENTOS POPULARES PUBLICAM MANIFESTO POR UMA ECONOMIA A SERVIÇO DA JUSTIÇA SOCIAL E EM CUIDADO DA CASA COMUM

A Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil) e outras organizações eclesiais, movimentos populares e grupos da sociedade civil publicaram, no último dia 25 de outubro, o manifesto ‘Frente a uma economia de morte construamos uma economia samaritana’. No texto, o grupo se une ao Papa Francisco para exortar a uma transição pós-extrativista, para que o paradigma desenvolvimentista não se baseie mais na depredação dos nossos povos, comunidades e da Casa Comum.

O manifesto destaca o chamado feito pelo Papa durante o IV Encontro Mundial de Movimentos Populares, no dia 16 de outubro, em que conclama por uma economia “a serviço dos povos para construir uma paz duradoura baseada na justiça social e no cuidado com a casa comum”.

Durante o discurso, Francisco clamou que corporações extrativistas interrompam as violações de Direitos Humanos e Ambientais que envolvem suas atividades, como a destruição do meio ambiente, a contaminação das águas, a intoxicação dos povos e alimentos.

“Em nome de Deus, quero pedir às grandes corporações extrativistas – mineradoras, petrolíferas, florestais, imobiliárias, agroindustriais – que deixem de destruir florestas, pântanos e montanhas, que deixem de poluir rios e mares, que deixem de envenenar pessoas e alimentos”. Em conformidade com este apelo, assumimos o compromisso de promover uma economia samaritana que atue como instrumento da ação missionária da Igreja e seja capaz de transformar o modelo econômico caracterizado pela voracidade cega de um tipo de exploração extrativista que não para de crescer e expandir-se; que quanto mais extrai e quanto mais deprime, mais necessita de continuar a destruir a natureza”, disse na mensagem.

Foto: Vinícius Mendonça (Ibama)

O grupo ressalta ainda que no 1000º dia do crime de Brumadinho (MG) – quando a barragem Córrego do Feijão se rompeu, soterrando tudo que encontrava pelo caminho. Foram com 13 milhões de metros cúbicos de lama tóxica que atingiram pessoas, animais, casas e florestas, denunciou “o espírito de morte deste modelo neoliberal baseado na ganância, violência e crueldade que gera dor e exclusão. Em comunhão com as comunidades e territórios afetados pela mineração na América e compadecidos com o grito da devastada e maltratada Mãe Terra que geme e sofre dores de parto (LS, 2), chamamos a nos comprometer com uma Economia Samaritana, que se distancia da lógica extrativista”, destaca o documento.

O manifesto aponta ainda que na Encíclica “Querida Amazônia”, o Papa Francisco denuncia os projetos de extração econômica e outras indústrias que destroem e poluem (cf. QA 49). O grupo ressalta ainda que no documento final do Sínodo para a Amazônia, também é levantada a questão da conversão ecológica do ponto de vista econômico.

“Por esta razão, o Desinvestimento em Mineração surge como uma ação de conversão depois de escutar a vida e as reivindicações dos povos e da natureza.  O desinvestimento na mineração é um ato de coerência ética dentro das Igreja e suas instituições. Ajuda-nos a não sermos cúmplices na destruição da Casa Comum e a estar ao lado de muitas comunidades que sofrem os impactos do extrativismo”, aponta o manifesto.

https://drive.google.com/drive/folders/1vhJrtOsP296ewURab49-AzHMaSoeosdf

Fonte: CNBB(https://www.cnbb.org.br/)

O Papa encontra a pequena Fiammetta "que moveu o mundo"

Fiammetta Melis esperando para ser recebida pelo Papa Francisco |
Vatican News

O Papa Francisco encontrou na manhã deste sábado Fiammetta Melis que com o pai e a mãe vieram do Trentino para contar a sua história: ela transformou as restrições da pandemia que a obrigam a estudar à distância, numa oportunidade criativa e feliz para continuar ajudando o pai pastor, crescer no conhecimento da natureza e envolver seus companheiros em tudo isso. A sua história num livro doado a Francisco.

Emanuela Campanile e Gabriella Ceraso – Vatican News

Fiammetta está emocionada e não consegue falar, então é seu pai Massimiliano Melis, de origem sarda, mas apaixonado pelas Dolomitas, que toma a palavra para contar a história de um encontro tão sonhado com o Papa. Fiammetta toma a iniciativa e no início de outubro escreve uma carta a Francisco. Ela conta ao Pontífice que tem a sorte de poder estudar ao ar livre, no ar fresco. Ela não só lhe confidenciou seu desejo de conhecê-lo, mas também lhe sugeriu encorajar todas as crianças a não terem medo, a nunca se desencorajarem. Depois de uma semana, chegou um telefonema: "Eu estava comendo", lembra o Sr. Melis, "quando o telefone tocou. Eu respondi e uma pessoa me disse: não se espante. Estou ligando do Vaticano, não é brincadeira. Recebemos a carta e, se quiserem, vocês são convidados do Papa Francisco".

Aos dez anos esta menina que estuda na escola primária de Mezzolombardo, no Trentino, ficou famosa após uma foto tirada por seu pai enquanto estuda à distância perfeitamente integrada e feliz nas montanhas, pastando entre as cabras que Massimiliano cria no Val di Sole entre as pastagens que possui. "Temos animais, e a natureza sempre a fascinou", nos diz ao telefone logo depois da audiência. "As palavras do Papa Francisco sobre a criação, suas homilias, Fiammetta sempre as escutou com muita atenção". A pergunta do Papa foi curiosa: "O que você fez Fiammetta, para mover o mundo com sua maneira de ser? Você é como suas cabrinhas... caminha livre nas montanhas. Você é uma menina muito sortuda!" "O Papa Francisco também prometeu nos visitar nas montanhas do Trentino". O pai da menina não falou em voz alta, ele ainda estava incrédulo, como sua filha, mas depois com uma voz alta contou quase tudo de uma vez: "O Papa disse a Fiammetta: ontem conheci Biden, o presidente dos Estados Unidos, hoje o primeiro-ministro indiano e agora é a sua vez, que é a princesa das famílias... e a abraçou. Eu gostaria que todos tivessem esta experiência. Parece-me estar em família!"

O Papa Francisco e Fiammetta Melis | Vatican News

Papa Francisco e Fiammetta Melis

A vida de Fiammetta é assim: animais, ternura, pastoreio e depois estudo, escrita, computador e deveres de casa. Ela conhece os segredos da escola, bem como os diferentes pontos das montanhas onde pode encontrar seus animais. O segredo entre o Papa e a menina é um livro que Fiammetta escreveu e deu de presente ao Francisco no qual ela conta sua história. O livro entregue hoje traz as assinaturas de todos os coleguinhas de Fiammetta, que esperam o seu retorno para saber o que aconteceu. A sua história que agradou ao Papa, também lhe valeu como presente uma camiseta do Cagliari do qual ela é fã, pois se tornou "um símbolo de resistência e resiliência: um exemplo para aqueles que, num período tão difícil da pandemia, sabem se adaptar às circunstâncias e olhar positivamente para o futuro".

Fiammetta Melis | Vatican News

Fonte: Vatican News(https://www.vaticannews.va/)

Equívocos históricos: Lutero, a Sagrada Escritura e a Igreja

Ferdinand Pauwels (1830–1904) | Wikipedia
Por Jaime Septién

O protestantismo erra ao acusar a Igreja de se achar a "dona" da Palavra de Deus.

Dom Mario De Gasperín, bispo emérito de Querétaro, no México, viveu o Concílio Vaticano II como sacerdote recém-ordenado e como estudante de Sagrada Escritura na Universidade Gregoriana de Roma. Ao longo da vida sacerdotal e episcopal, ele foi um incentivador constante dos estudos da Palavra de Deus, bem como uma das mentes mais brilhantes da Conferência Episcopal Mexicana.

O bispo emérito escreveu uma série de mais de 30 reflexões sobre o Concílio Vaticano II, sendo uma delas dedicada ao diálogo da Igreja com as confissões protestantes.

Qual foi a reflexão do Concílio sobre a reforma protestante?

Lutero tinha tentado reformar a Igreja da sua época. Segundo ele, a Igreja tinha se posicionado atrás de três muralhas: a supremacia do poder eclesiástico sobre o poder secular; a superioridade do concílio sobre os fiéis; e a interpretação da Bíblia submetida à Igreja.

Nestes três aspectos, a Igreja hierárquica tinha a faca e o queijo na mão e ninguém podia alçar a voz para contestá-la e muito menos para reformá-la. Essa “tripla muralha”, segundo ele, precisava ser derrubada. Ele então dedicou a vida a isso e não poupou esforços nem meios para consegui-lo, recorrendo inclusive ao poder secular.

Como a interpretação da Bíblia parece estar no centro das controvérsias, surge disso a acusação protestante de que Igreja Católica quereria submeter a Bíblia ao seu domínio e à sua vontade. Assim agindo, diziam os reformadores protestantes, a Igreja se pretenderia superior à própria Sagrada Escritura e “dona” da Palavra de Deus, o que é inaceitável.

Lutero alegava querer libertar a Bíblia dessa escravidão. Por isso, propôs e declarou, como princípio interpretativo da Bíblia, o livre exame, ou seja, a livre interpretação individual da Escritura. Cada um poderia lê-la e interpretá-la segundo o que considerasse inspirado pelo Espírito Santo. O cristão deveria guiar-se apenas pela Bíblia – daí a expressão latina “sola Scriptura”, que implica que “a Sagrada Escritura se interpreta por si mesma” e não está submetida ao magistério da Igreja.

Este, evidentemente, não era o sentir da Igreja.

A Sagrada Escritura é o livro da Igreja e para a Igreja, que é a assembleia dos fiéis de Cristo; portanto, deve ser lida em sintonia com a Igreja, sob a guia dos seus pastores. A estes, afinal, São Paulo afirma que Deus confiou a tarefa de “conservar o depósito da fé” e transmiti-lo na íntegra para as novas gerações.

Dessa maneira, o magistério da Igreja não se proclama “superior” nem manipulador da Palavra de Deus, mas sim seu servidor.

O magistério eclesiástico serve à Palavra de Deus, interpretando-a de acordo com a tradição eclesial recebida dos apóstolos e do próprio Jesus Cristo. É dessa forma, diz o Concílio Vaticano II, que o povo cristão inteiro, unido aos seus pastores, persevera sempre na doutrina apostólica, na união, na Eucaristia e na oração, como fazia a primeira comunidade cristã. É um serviço à unidade e à verdade e evita o individualismo e a fragmentação.

E qual é a missão da Igreja, neste sentido?

A primeira atitude da Igreja, especialmente dos pastores, é a de escutar com atenção e respeito a santa Palavra de Deus – e cumpri-la. Com esta atitude humilde, o Concílio começa a falar sobre a Revelação Divina. Diz que a Palavra de Deus deve ser escutada com devoção e proclamada com valentia, obedecendo às palavras de João: “o que vimos e ouvimos, isto vo-lo anunciamos, para que vós também vivais nesta nossa união com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo”.

O Concílio, mais do que escutar a si mesmo, esteve atento ao que Deus lhe dizia. A primeira coisa que o Concílio faz é escutar a Palavra de Deus, com devoção e obediência. Não tem medo de proclamar esta Palavra ao mundo inteiro, para que aquele que a escutar e nela acreditar tenha a vida eterna.

Lutero se enganou: a Igreja não age como dona, mas como fiel servidora da Palavra de Deus – e na íntegra, não por fragmentos.

Fonte: Aleteia(https://pt.aleteia.org/)

A Arte de representar o invisível

Guadium Press
A arte é capaz de estimular ou refrear as paixões mais íntimas do homem, levando-o a aceitar certas verdades, deformá-las ou simplesmente esquecê-las.

Redação (29/10/2021 10:39Gaudium Press) Ensina São Tomás de Aquino que, para o homem alcançar a união e conhecimento de Deus e das coisas sobrenaturais, é necessário o concurso de elementos sensíveis e corporais que, à maneira de sinal, excitem na alma práticas e atos de espiritualidade que o levem ao Criador.[1]

É por este motivo que a piedade católica foi paulatinamente enriquecendo a liturgia e o culto, consciente da influência que os elementos materiais exercem sobre a alma humana e suas paixões.

No campo da arte sacra, destaca-se a iconografia dos bem-aventurados como uma forma eficaz de apostolado, sobretudo se condizer realmente com a espiritualidade e a verdadeira fisionomia dos incontáveis homens que deram sua vida pela causa do Evangelho.

E os Anjos? O que conhecemos sobre estes seres espirituais que estão na presença do Altíssimo? Valendo-se de que meios o Cristianismo se dispôs a representa-los na arte sacra do modo como hoje os conhecemos?

Uma tradição milenar

Para compreender a iconografia cristã dos Anjos, temos de nos remontar a muito antes da fundação da Igreja, nos tempos do Antigo Testamento.

No livro do Êxodo lê-se que o próprio Deus ordenou a confecção de dois Querubins para a Arca da Aliança, os quais deveriam possuir aspecto de homem acrescidos de asas que cobririam o propiciatório;[2] nos livros de Isaías e Ezequiel ainda encontramos diversas alusões à aparência dos celestes personagens, sempre apresentados alados.[3]

Ademais, “o povo hebreu conheceu, por ocasião de seu cativeiro, tanto a civilização egípcia como a assírio-babilônica. Ambas tinham representações de seres alados, que influenciaram o povo hebreu em sua concepção dos Anjos.”[4]

Com o advento da Era Cristã, não obstante a forte influência do judaísmo que a impulsionou em seus primeiros momentos, os Anjos não foram mais representados como anteriormente.

Religiões como a greco-romana comumente plasmavam seres alados à maneira de Anjos, pelo que se omitiu esse elemento para não confundir os recém-convertidos. Exemplo disto é uma das mais antigas representações de Anjos: a de São Rafael junto a Tobias, na catacumba de Priscilla, na qual o aspecto de ambos em nada varia, ou em outros afrescos antigos, nos quais era costume ilustrá-los como senadores ou patrícios romanos.

À medida em que o Cristianismo ia se difundindo entre os povos europeus, a Igreja assumiu novamente a figura bíblica e tradicional dos Anjos. Sempre com aspecto jovial, tais representações estimulavam os fiéis em sua piedade e compreensão do mundo sobrenatural, e como este está próximo dos homens.

Idade Média, Renascença, Barroco…

Já em tempos da Idade Média, surgiu um novo estilo de arte — desta vez genuinamente cristão — na representação do mundo angélico, o qual personificou-se sobremaneira no Bem-aventurado João de Fiesole — o famoso Fra Angélico[5] —, que soube representar maravilhosamente os mais diversos aspectos e nuances das atividades dos Anjos, desde cenas como a Anunciação até os Anjos musicistas no Céu, exemplos tanto de destreza na arte como profunda piedade de alma. Até os meios utilizados para esta tarefa eram da melhor categoria possível, reservados apenas às obras sacras e negados às representações profanas.

Guadium Press

Contudo, na Renascença esvaneceu-se muito a influência medieval — que era, sem dúvida, reflexo do modo de ser autenticamente católico daqueles tempos.

Acentuadamente na arte barroca este câmbio fez-se sentir: “a criação estética, de tal forma foi esvaziada de espiritualidade que os Serafins e os Querubins se transformaram em simples figuras decorativas. A tal ponto esses anjinhos sagrados têm sido confundidos com as figuras de cupido, que foram representados com traços de uma criança gorducha. Estamos bem longe aqui dos seres celestiais das origens!”[6]

Longe de querer proscrever as inovações nas artes plásticas no período barroco, é mister apenas considerar como, a partir daí, a arte sacra não pôde mais representar adequadamente o gênio e piedade angélicas como antes, nem alcançar os objetivos pelos quais a arte foi introduzida na religião.

Mera tendência artística?

Generalizou-se, a partir de então, certo estilo de anjo infantil e notadamente pouco varonil, comumente representado em atitude mole e preguiçosa; curiosamente, o ser das trevas era — e ainda o é — plasmado com muito mais perspicácia e sagacidade do que seu antagônico celeste; e isto sem considerar como posteriormente ainda seriam representados…

Mais do que mero feitio artístico, este processo revela a existência de um desvio na própria concepção que o homem forjou sobre o mundo angélico: os Anjos fazem parte de uma esfera imaginária, infantil, onde vivem os que não sabem ver a realidade como ela é, e à qual se acoplam os piedosos; falsidades como estas vão ganhando força de dogma às custas de uma arte aparentemente inócua.

A arte possui não apenas o poder sobre a sensibilidade humana, mas toca nas paixões mais íntimas, capazes de levar o homem a aceitar certas verdades, deforma-las ou simplesmente esquecê-las. Vivendo na “civilização da imagem”, e constatando até onde chegou a insensatez hodierna, seria forçoso pensar que exemplos como o sobredito são mais frequentes que imaginamos, ou negar que são simples tendências artísticas?

Por André Luiz Kleina


Referências:

 A Criação e os Anjos. Instituto Teológico São Tomás de Aquino. São Paulo: Lumen Sapientiae, 2014, p. 161-170.

BUCKLOW, Spike. The Alchemy of Paint: Art, Science and Secrets from the Middle Ages. London: Marion Boyars, 2009.

[1] Cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q. 81, a. 7.

[2] Cf. Ex. 25, 18-22.

[3] Cf. Is. 6, 2. e Ez. 1; 10; 41.

[4] HERNANDO, Irene González. Los ángeles. Revista Digital de Iconografía Medieval, [s.l.], n.1, 2009, v. 1, p. 1-9.

[5] Nascido na Toscana, aproximadamente em 1401; faleceu em 1455, em Roma.

[6] Cf. OLIVIER, Philippe; et al. Il grande libro degli Angeli. Firenze: De Vecchi, 2009, P. 148.

Fonte: Guadium Press(https://gaudiumpress.org/)

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF