Em comemoração ao Dia Mundial do Café, a Revista
traça um panorama sobre a bebida, bastante apreciada no Brasil, segundo maior
consumidor mundial.
REVISTA DO CORREIO
Ailim Cabral
Tainá Hurtado*
postado em 13/04/2024 / atualizado em 14/04/2024
Criador
de laços, memórias e afetos
Não é só no âmbito econômico que o café tem
valor. Socialmente, a bebida tem o poder de criar laços, memórias e afetos com
aquelas que compartilham do momento prazeroso de tomar um café. Seja no
intervalo do trabalho, no bolo da tarde com a avó ou na correria do dia a
dia, todo mundo tem uma boa história que tenha cheirinho
do grão.
O aroma de café sendo passado pode trazer
lembranças, seja de uma pessoa, seja de um ambiente. Isso não é diferente para
quem possui uma relação afetiva com a bebida, que traz boas memórias. “Meu pai
sempre tomou café, e o cheiro me lembra dele coando um cafezinho no meio da
tarde ", diz Fernanda Campos, 28 anos, também uma amante do cheiro, do
gosto e da experiência de tomar um bom café. O interesse da jovem pela história
do produto no Brasil a fez pesquisar e estudar as potencialidades do grão. “Por
causa desse interesse, fiz cursos de barista e acabei trabalhando em uma
cafeteria durante um intercâmbio na Irlanda”, conta.
A jovem normalmente toma uma xícara pela
manhã, todos os dias, para ter mais disposição, porém uma pausa à tarde com um
pão de queijo também é especial. “É meu momento de relaxar e de recuperar o
foco para terminar o trabalho”, afirma. A jovem também gosta de frequentar boas
cafeterias, experimentar diferentes tipos de extração e ter boas prosas.
Essa experiência de trocas e conversas é muito
vivida em cafeterias diversas da cidade pelo
professor Paulo Almeida, 42 anos. Além de o café o ajudar na produtividade, é
capaz de passar o dia inteiro fazendo amizades com os proprietários e os
frequentadores. “Eu vou todos os dias. Para mim, é o lugar onde, além de tomar
café, eu consigo trabalhar, escrever meus textos e ser mais criativo.”
Segundo Paulo, que é goiano, a bebida o
acompanha desde o momento em que sai de casa até o fim do dia. “Eu já saio de
casa com um copo de 300ml no carro. Vou tomando até chegar ao trabalho e, lá,
vou recarregando meu copo”, afirma. Para ele, o prazer de beber um café não se
dá somente pelo gosto, mas pela companhia da bebida em momentos de
tranquilidade e desafios ao longo do dia. “É um impulsionador para minha
criatividade, uma pausa para reflexão e um convite para conectar-me com outras
pessoas em conversas”.
Métodos
de preparo
- Filtro de papel ou coador de pano: para cafés com moagem média ou fina. O pó é depositado
uniformemente no filtro, a água é despejada imediatamente antes da
fervura, umedecendo todo o pó.
- Cafeteira italiana ou moka: o
método tem o nome do equipamento usado, no qual se deve usar uma moagem
grossa, pois a fina impede a passagem da água. O pó e a água são colocados
juntos, na parte indicada da cafeteira, que é levada diretamente ao fogo.
Quando a água começar a subir, é hora de tirar. Antes servir, mexa o café
com uma colher na cafeteira para uniformizar a densidade.
- Prensa francesa: o
pó e a água quente, entre 80ºC e 90ºC, são colocados juntos na cafeteira.
Em seguida, a parte de cima, com o êmbolo levantado, é inserida. Depois de
quatro minutos de infusão, aos poucos, o equipamento é pressionado para
separar a borra do café.
- Globinho: equipamento composto por dois
globos de vidro, um deles com um funil, um filtro, uma base e a chama. A
água fica no globo inferior, encaixado na parte superior junto com o
filtro. Conforme a água aquece, ela sobe para o globo superior. É nesse
momento que o café moído é adicionado e misturado. Depois, o equipamento é
retirado do fogo e, à medida que o globo inferior esfria, cria-se um vácuo
que puxa o líquido misturado com o pó para baixo, passando pelo filtro e
retendo o pó.
- Chemex: trata-se de uma “jarra” em forma de
ampulheta, feita de vidro resistente ao calor com um colar de madeira
polida que serve para isolar o calor. Tem um filtro de papel próprio, mais
grosso que os filtros comuns.
- Aeropress: o diferencial é que produz um café
semelhante ao espresso. O filtro de papel, mais comum e descartável,
produz uma bebida mais limpa com amargor menor. O filtro metálico não é
descartável, e a bebida é menos limpa, pois ele não segura tantas
partículas.
- Hario V60: método japonês
com porta-filtro com linhas espirais na parte interna, que proporcionam a
expansão do pó de café no momento em que a bebida é coada.
- Café turco: ficou famoso
devido à borra que deixa no fundo da xícara, usada tradicionalmente para
prever o futuro. É feito em um dispositivo chamado ibrik e não precisa ser
coado.
- Espresso: feito em máquina específica, é um
café em que a água quente passa pelo grão moída com uma pressão quase 10
vezes maior que a normal, permitindo um café intenso e forte
A
classificação
O sistema de classificação, antes conhecido
como “pirâmide do café”, criado em 2004, continua basicamente o mesmo, mas,
hoje, não é mais considerado uma pirâmide. Aline explica que antes da revisão,
feita no ano passado, existia uma hierarquia, na qual um café era considerado
melhor que o outro. Agora, consideram-se os atributos de cada café e os
descritores, mas qual deles é “o melhor” é algo que fica a cargo de cada
consumidor. Na base da pirâmide, costumavam ficar os tradicionais e
extrafortes. Até em pesquisas feitas às cegas, em que o consumidor provava uma
série de cafés sem saber a classificação de cada um, estes eram os destacados
como os melhores. “Essa preferência precisa ser respeitada, é o que o
consumidor brasileiro mais gosta”, completa.
- Café superior: é considerado o
café com atributos mais equilibrados. Nessa bebida, a doçura, a acidez, o amargor
e os sabores amadeirados de cereal e caramelo aparecem nas mesmas
proporções.
- Café tradicional e extraforte: combinação
de amargor acentuado e pouca acidez. Possuem um cheiro marcante e sabor
forte e tostado, com aromas intensos de especiarias e chocolate.
- Café especial e gourmet: marcados
pela acidez acentuada e pela doçura. Têm sabores mais frutados e florais,
puxando sabores como caramelo, amêndoa, chocolate e mel.
E apesar da mudança na classificação dos
cafés, Aline garante que o controle de qualidade segue sendo extremamente
criterioso. Ela explica que o intuito é que todos os estilos tenham um padrão
de qualidade que garanta a satisfação do consumidor. “Independentemente do
perfil da bebida, as pessoas precisam saber que estão tomando um café
monitorado, livre de impurezas, com o sabor que merecem”.
O
brasileiro e o café
Os sentimentos despertados em Paulo e Fernanda
fazem parte da vivência da maioria dos brasileiros, como mostrou uma pesquisa
realizada pela Abic com mais de 5 mil apreciadores de café, em 14 municípios —
a maior já feita sobre o consumo da bebida no Brasil e que revelou alguns dados
que todos já imaginavam, e trouxe alguns insights curiosos.
“Os apreciadores relatam que provar um
‘excelente café’ cria sensações prazerosas, marcadas por lembranças de
bem-estar e felicidade, algo que traz satisfação e deve ser compartilhado com
uma pessoa querida”, conta Giuliana Bastos, do São Paulo Coffee Hub, empresa de
inteligência de mercado especializada em café, responsável pela pesquisa.
Feito no segundo semestre de 2021, o estudo
dividiu o público em três grandes grupos: o geral, que toma café comum, não
entende sobre os sabores diferenciados e, em sua maioria, consome café
tradicional e extraforte, representando 83% entre os entrevistados; os
entusiastas, que entendem um pouco mais, compram cafés diferenciados e consomem
as categorias tradicional, gourmet e especial, 12% entre os entrevistados; e os
especialistas, que entendem muito de café, já fizeram cursos, podendo ou não
trabalhar na área, verbalizam sobre o assunto de maneira técnica e consomem
prioritariamente os gourmets e especiais e representaram 5% dos entrevistados.
Curiosamente, o público geral é o mais
exigente e fiel quanto às marcas que toma, já os especialistas citam poucas e
não têm preferências. O café moído é o mais consumido entre todos os grupos; o
moído na hora, em cafeterias, agrada os entusiastas e especialistas; e os grãos
são mais restritos aos especialistas. Já as cápsulas são consumidas
pontualmente pelos entusiastas.
Outra surpresa foi o consumo de café sem
açúcar. Cerca de 34% do público geral gosta de apreciar a bebida sem adoçá-la.
Entre os entusiastas, essa média chega a 49% e, entre os mais entendidos sobre
o tema, a 81%.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/
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