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sábado, 17 de outubro de 2020

Síndrome K: uma doença nova, contagiosa, pavorosa e mortal que... nunca existiu

Wknight94 / Wikipedia (CC BY-SA 3.0)

por Francisco Vêneto

Como e por que um grupo de médicos italianos inventou uma misteriosa doença em plena Segunda Guerra Mundial.

Síndrome K era o nome de uma doença misteriosa, mas cujo diagnóstico muitos “desejavam”: afinal, ela aumentava em muito as chances de salvar da morte os seus “infectados”! E essa não era a sua única peculiaridade.

A Segunda Guerra Mundial continuava devastando o mundo. Além disso, os nazistas deportavam um número cada vez maior de judeus para os campos de concentração. Diante daquele cenário de morte, um grupo de médicos italianos tomou a ousada decisão de se arriscar mais ainda.

A Itália tinha trocado de lado na guerra em outubro de 1943, mas uma boa parte do seu território continuava sob ocupação dos antigos parceiros nazistas.

Foi justamente nesse período que a perseguição contra os judeus de Roma se intensificou. Com isso, cada vez mais conventos e instituições católicas passaram a dar refúgio a famílias judias aterrorizadas.

Outro local inusitado que recebeu judeus para evitar a sua deportação foi o Hospital Fatebenefratelli.

E foi lá que um grupo de médicos teve uma ideia surpreendente – e muito arriscada.

A Síndrome K

Os cabeças foram o professor Giovanni Borromeo e o doutor Vittorio Sacerdoti. Eles começaram, de fato, a internar até judeus saudáveis, “diagnosticando-os” com a “Síndrome K” – ou “morbo di K”, em italiano.

Segundo esses médicos, tratava-se de uma nova e pavorosa doença, quase desconhecida. Os médicos, porém, a descreviam como altamente contagiosa. Além disso, as pessoas “infectadas” tossiam profusamente durante as inspeções dos nazistas no hospital. E isto, é claro, provocava neles um medo enorme de contaminação.

O próprio doutor Sacerdoti deu uma entrevista em 2004, recordando:

“Os nazistas pensavam que se tratava de câncer ou tuberculose. Por isso, eles fugiam como coelhos”.

Os efeitos da “doença”

A doença, portanto, era contagiosa, assustadora e mortal. E ela tinha, ademais, uma característica adicional inusitada: o fato de que ela simplesmente não existia!

Na prática, os médicos e demais profissionais do hospital usavam a “Síndrome K” apenas como um código, porque a doença era fictícia e tudo era combinado com os “doentes”. Assim, eles identificavam facilmente os judeus refugiados e os protegiam, afugentando os nazistas.

A letra K, aliás, foi escolhida para zombar de duas figuras relevantes do nazismo. O primeiro era o chefe de polícia Herbert Kappler, um dos responsáveis pela perseguição aos judeus na Itália. E o outro era Albert Kesselring, militar encarregado de defender os territórios ocupados na Itália contra os Aliados. Os dois acabaram condenados por crimes de guerra depois do fim do conflito.

Não se sabe quanta gente “pegou” a “Síndrome K”, mas é consenso que essa falsa doença salvou centenas de judeus. A genial estratégia dos médicos italianos, afinal, os livrou de uma morte praticamente certa.

Giovanni Borromeo e o doutor Vittorio Sacerdoti, portanto, são heróis.

E atualmente, de fato, há uma placa no Hospital Fatebenefratelli que recorda esse episódio de esperta e arriscada resistência impulsionada por eles contra o nazismo e o Holocausto.

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Com informações de IFLSciense.com

Aleteia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF