Translate

sábado, 13 de fevereiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 20/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 48

Que aprendemos com estas palavras? A ter um só fim durante a vida: ser chamados servidores de Deus por nossas ações. Assim pois, quando tiveres vencido todos os inimigos, - o egípcio, o amalecita, o idumeu, o madianita -, quando tiveres atravessado o mar, quando tiveres sido iluminado pela nuvem, quando estiveres adoçado pelo lenho, quando tiveres bebido da rocha, quando tiveres provado o alimento do manjar celestial, e pela pureza e inocência tiveres aberto um caminho para a subida da montanha; quando, uma vez chegado ali, tiveres sido instruído no mistério divino pelo som das trombetas, e nas trevas que impedem ver te tiveres aproximado de Deus por meio da fé e ali se te hajam dado a conhecer os mistérios da tenda e da dignidade do sacerdócio; Quando te tenhas convertido em escultor de teu próprio coração a ponto de fazer gravar nele pelo mesmo Deus os oráculos divinos; quando tiveres destruído o ídolo de ouro, isto é, quando tiveres feito desaparecer de tua vida a paixão da ambição; quando te hajas elevado de forma que apareças invencível à feitiçaria de Balaam, - ao ouvir falar de feitiçaria entendas o variado engano desta vida, através da qual os homens, como se houvessem bebido de alguma taça de Circe, extraviando-se da própria natureza, tomam as formas de animais irracionais-, quando tiveres passado por tudo isto, e tiveres floreado em ti o ramo do sacerdócio sem que hajas tomado nenhuma umidade da terra para germinar, mas por ter dentro de si o poder de dar fruto, o fruto da amêndoa, cujo primeiro contato é áspero e desagradável, porem cujo interior é doce e comestível; quando tiveres elevado até a aniquilação, - sepultado sob a terra como Datan ou consumido pelo fogo como Coré-, tudo aquilo que se opõe a tua dignidade, então te haverás aproximado do fim. Entendo por fim aquilo por cuja causa se faz tudo, como o fim da agricultura é o gozo dos frutos, o fim da construção de uma casa é habitá-la, o fim do comércio é enriquecer-se e o de todos os esforços desportivos é a coroa de vencedor. O fim da vida superior é ser chamado servidor de Deus, e, junto com isto, o não estar sepultado sob um sepulcro, isto é, o levar uma vida despida e livre de cargas malvadas. O relato oferece outro traço deste serviço: seus olhos não se apagaram e não se corrompeu seu rosto (Dt 34, 7). O olho que sempre havia permanecido aberto à luz, como poderia ser obscurecido pelas trevas às quais era estranho? Quem houver conservado durante toda sua vida a incorrupção não experimenta em si mesmo nenhuma corrupção. De fato, aquele que chegou a ser verdadeiramente imagem de Deus e não se afastou o mínimo do projeto divino, chega a si os traços e concorda totalmente na semelhança com o arquétipo, pois tem embelezada a própria alma com a incorrupção, a imutabilidade e a ausência de qualquer mistura com o mal.

Conclusão

Nosso breve discurso te ofereceu, homem de Deus, estas coisas sobre a perfeição da vida virtuosa, apresentando-te a vida do grande Moisés como modelo evidente de bondade, para que cada um de nós, imitando suas ações, copie em si mesmo os traços da beleza que nos foi mostrada. E de que Moisés tenha conseguido realizar a perfeição que é possível, que testemunho mais digno de fé poderíamos encontrar senão a palavra divina, quando diz: Eu te conheço pelo teu nome e tu achaste graça diante de mim (Ex 33, 12 e 17)? Também o fato de que seja chamado amigo de Deus pelo próprio Deus (Ex 33, 11), e o fato de que tendo escolhido perecer junto com os demais se Deus não se aplacasse com benevolência daquilo que o havia ofendido, Deus deteve sua ira contra os israelitas ao modificar seu próprio juizo para não entristecer o amigo (Ex 32, 7-14). Todos estes testemunhos são uma clara demonstração de que a vida de Moisés alcançou o limite mais elevado da perfeição. Posto que investigávamos qual é a perfeição da vida virtuosa e, pelo que já dissemos, descobrimos esta perfeição, é hora, nobre homem, de que olhes para o modelo e, aplicando a tua vida quanto temos contemplado nos acontecimentos históricos com interpretação espiritual te faças ser conhecido de Deus (Ex 33, 12 e 17) e assim te convertas em seu amigo. A perfeição consiste verdadeiramente nisto: em afastar-se da vida de pecado não por temor servil do castigo, e em fazer o bem não pela esperança do prêmio, negociando com a vida virtuosa com disposição e ânimo interessado e mercantilista, mas consiste em que, olhando mais alem de todos os bens que nos estão preparados em esperança segundo a promessa, não tenhamos como temível mais que ser repudiados da amizade de Deus, e não julguemos respeitável e amável para nós senão o chegar a ser amigos de Deus. Isto é, em minha opinião, a perfeição da vida. Encontrarás isto quando tua mente se elevar às coisas mais altas e divinas, sei bem que encontrarás muitas. Isto servirá claramente de proveito para todos.

ECCLESIA Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF