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terça-feira, 12 de outubro de 2021

“Fratelli tutti”, o apelo de Francisco à fraternidade

Encíclica do Papa foi publicada em outubro de 2020 | Vatican News

Assinala-se neste mês de outubro o primeiro ano da publicação da Encíclica “Fratelli tutti” do Papa Francisco”. Recordamos aqui o comentário de dois bispos portugueses aquando da publicação do texto do Santo Padre.

Rui Saraiva - Portugal

Foi a 3 de outubro de 2020 que o Papa Francisco assinou a Encíclica “Fratelli Tutti”. Francisco de Roma deixou-se inspirar por Francisco de Assis e colocou-se na esteira do futuro propondo um caminho de fraternidade. Um texto no qual o Papa propõe “uma forma de vida com sabor a Evangelho”. O Evangelho de Jesus: amar o próximo como a ti mesmo.

Anseio mundial de fraternidade

A terceira Encíclica do pontificado de Francisco é um texto dedicado à fraternidade e à amizade social que procura acender uma luz de esperança numa humanidade sofrida. Especialmente neste tempo de pandemia.

O Papa Francisco refere-se, precisamente à covid-19, logo no número 7 da sua Encíclica afirmando que esta doença “irrompeu de forma inesperada” tendo deixado “a descoberto as nossas falsas seguranças”.

“Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade” – escreve Francisco na sua Encíclica.

Sem fraternidade não há liberdade e igualdade

Nas semanas após a publicação deste texto papal fomos publicando aqui comentários de vários bispos portugueses partindo da Encíclica do Papa. Nesta edição recordamos as opiniões de dois deles em entrevista ao Vatican News: D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda.

“Sem fraternidade nunca nos encontraremos em experiência de autêntica liberdade e igualdade” – disse o arcebispo de Braga. D. Jorge Ortiga refere que na Encíclica, o Santo Padre apresenta a fraternidade como um “princípio político de ação”:

“Parece-me que o essencial está na proposta da fraternidade como princípio político de ação situando-se fora do âmbito estritamente eclesial. Sabemos todos nós que o mundo moderno nasceu da revolução francesa e esta foi orientada pela liberdade, igualdade e fraternidade. Se olharmos um bocadinho para aquilo que norteia hoje a vida pública da comunidade internacional, a fraternidade não foi verdadeiramente assumida. E daí as dificuldades em interpretar, justamente, a liberdade e a igualdade. Falta a raiz, falta o fundamento, falta o suporte. Sem fraternidade nunca nos encontraremos em experiência de autêntica liberdade e igualdade. Creio que este é o princípio fundamental e o alicerce de toda esta Encíclica.”

Igreja não pode silenciar-se

Mas será que as grandes potências do mundo ouvem o apelo do Santo Padre à fraternidade? O arcebispo de Braga identifica alguns problemas que impedem a fraternidade e que a Igreja deverá denunciar: 

“O mundo admira o Papa Francisco, mas parece que o ouve muito pouco. A sua voz é a voz da Igreja e, muitas vezes, parece que a voz da Igreja brada no deserto. Só que a Igreja seguindo a voz do Papa não pode silenciar-se. Alguns exemplos do que nesta Encíclica é sublinhado e que a Igreja não pode esquecer: no plano político, as relações internacionais terão de mostrar uma colaboração efetiva e não uma soma de interesses nacionais. Continua a haver nações ricas e nações pobres e a fraternidade tem que passar por aqui. E a Igreja tem que o denunciar; a obrigação de proteger os débeis, os mais frágeis, os idosos e os deficientes. Nós sabemos que estes são aqueles a quem Deus mais ama; o problema dos refugiados e dos migrantes; os problemas contra a fraternidade, com tantos conflitos e guerras; o reacendimento dos populismos, o racismo e a campanha do ódio.”

Uma enorme função social

Por sua vez D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda destacou que o texto do Santo Padre tem uma enorme função social sendo um “dom semeador de mudança e de esperança”:

“A terceira Encíclica do Papa Francisco, “Fratelli tutti”, sobre a fraternidade e a amizade social é um dom semeador de mudança e de esperança à Igreja e ao mundo contemporâneo. E, como diz o Papa, é uma resposta aos sinais dos tempos que solicitam um desenvolvimento humano integral e a paz. S. Francisco de Assis continua a inspirar o Papa Francisco nas desafiantes propostas de uma forma de vida com sabor a Evangelho. A sabedoria do pobre de Assis exortava assim os seus irmãos à imitação de Jesus Cristo: ‘irmãos ponhamos todos diante dos olhos o Bom Pastor que para salvar as suas ovelhas sofreu a Paixão da Cruz’. Eu diria que a novidade também está aqui em traduzir, até com uma maior simplicidade, o Evangelho, dizendo que Deus dá sempre de graça. E é também interpelante o testemunho do beato Charles de Foucauld, o irmão universal, na conclusão deste caminho humano e espiritual. Por isso, esta Encíclica tem uma enorme função social.”

Cultura do diálogo e política pelo bem comum

Para D. José Cordeiro é necessário responder ao apelo do Papa a um “testemunho real da cultura do diálogo inter-religioso”. Porque “a fraternidade tem muito para oferecer à liberdade e à igualdade” – afirmou:

“A fraternidade tem muito para oferecer à liberdade e à igualdade. O dom da fraternidade humana universal compromete uma cultura consciente e constante desta mesma fraternidade universal, não num sentido geográfico, mas existencial do bem comum, da solidariedade e da gratuidade. O desafio maior é para uma cultura do diálogo e do encontro. A vida é a arte do encontro e a Encíclica é um grande apelo e um testemunho real da cultura do diálogo inter-religioso. O Papa referindo-se àquele grande texto do encontro entre as religiões e as culturas que pareciam tão distantes diz em nome de Deus que declaramos adotar a cultura do diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta, o conhecimento mútuo como método e critério. E temos de curar as feridas e restabelecer a paz. Um outro grande Papa, S. Gregório Magno, dizia que nós temos que ‘amar os amigos em Deus e amar os inimigos por Deus’. E é desafiante o tempo que vivemos”.

Recordamos aqui os comentários de D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e D. José Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda aquando da publicação em outubro do ano passado da Encíclica do Papa Francisco “Fratelli tutti”, “Todos irmãos”.

Na sua Encíclica o Santo Padre indica o caminho da fraternidade, de “uma única humanidade”. Um caminho onde cada um deve trazer o que tem para partilhar, “cada qual com a própria voz, mas todos irmãos” – escreve o Papa.

Laudetur Iesus Christus 

Fonte: https://www.vaticannews.va/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF