Translate

quinta-feira, 6 de junho de 2024

O que é depressão e como buscar ajuda e tratamento para você ou outras pessoas (3)

Grosso modo, há três linhas principais de tratamento: a psiquiátrica, a terapêutica e a farmacoterápica, que combina psiquiatria (uso de medicamentos) e psicoterapia geralmente para casos de depressão moderada ou grave | GETTY Image

Quais são os tratamentos para depressão?

  • Cristiane Martins
  • De Londres para a BBC News Brasil

24 novembro 2021

Conforme o estágio e a intensidade do quadro de saúde, há tratamentos com medicamentos específicos. E, a depender de como o paciente se sente e quais motivos levaram ele à condição atual, haverá linhas psicoterapêuticas mais adequadas para tratar.

Um dado positivo é que, segundo a Associação Americana de Psiquiatria, a depressão é um dos transtornos mentais mais tratáveis. Entre 80% e 90% das pessoas com esse problema de saúde respondem bem ao tratamento.

Grosso modo, há três linhas principais de tratamento: a psiquiátrica, a terapêutica e a farmacoterápica, que combina psiquiatria (uso de medicamentos) e psicoterapia geralmente para casos de depressão moderada ou grave. Mas tudo vai depender do diagnóstico e da gravidade do quadro.

Como dito acima, a grande maioria dos casos de depressão leve pode ser tratada sem remédios, por exemplo. "Nesses casos, a primeira indicação pode ser a psicoterapia porque não tem efeito colateral, tem uma resposta mais rápida do que aquela com fármacos, porque antidepressivos precisam de pelo menos um ano de uso para tratar depressão. Então, se fizer psicoterapia nesses casos, você consegue melhorar mais cedo e ainda trabalhar outras coisas que não envolvam só a depressão", afirma Melo, da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.

O tratamento terapêutico pode acontecer seguindo correntes como terapia cognitiva comportamental, psicanálise, terapia analítica (junguiana), gestalt-terapia, sistêmica, psicodrama, entre outras.

Algumas vão recorrer a simbologias e interpretação dos sonhos, como a terapia junguiana, por exemplo.

Outras terapias buscam focar nas ações do presente (em uma espécie de diferenciação de tratamentos como o psicanalítico, em que esse mesmo paciente seria recebido em consultório pelo analista, que o escutaria sobre episódios da infância, por exemplo), como analítico-comportamental, gestalt e terapia cognitivo-comportamental, uma das abordagens mais comuns para casos de depressão, que por meio da conversa entre paciente e terapeuta ensina o paciente a identificar e lidar com pensamentos, crenças e sentimentos negativos, quebrando o ciclo em torno deles.

Outras se dedicam mais ao autoconhecimento, em que o paciente faz associações livres por meio da fala e sem interrupções do terapeuta, como a psicanálise, que incentiva o paciente a acessar seu inconsciente e trazer à consciência o que está lhe afetando no quadro depressivo.

No caso da psicanálise, seus efeitos são estabelecidos na chamada "transferência" entre sujeito e analista, ou seja, grosso modo, no momento em que o paciente permite ao especialista (analista) a ajuda e se entrega de fato ao processo analítico. E isso pode contribuir no tratamento da depressão como contribui com outras modalidades de sofrimento psíquico: analisando a singularidade da experiência daquele paciente com esse diagnóstico, evitando generalizações.

Além disso, há outras terapias alternativas para casos mais leves de depressão, que incluem meditação, programas de exercício físico, arteterapia, entre outras. Caberá aos profissionais especializados identificar e acompanhar quais são mais adequadas para cada paciente.

"Em casos mais leves, o tratamento pode ser realizado somente com psicoterapia. Mas quadros moderados a graves precisam também de intervenção com medicamentos e, caso haja ideação suicida, a internação pode ser considerada", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Segundo ele, quase 70% das mortes associadas à depressão podem ser prevenidas com tratamento correto.

Em linhas gerais, os antidepressivos fazem alterações químicas no cérebro para reequilibrar o humor e a energia, por exemplo. Mas algumas vezes isso se dá com efeitos colaterais, inclusive dependência, algo que gera medo e hesitação entre pacientes.

Só que esses medicamentos acabam não surtindo efeito para algo em torno de 10% a 30% dos pacientes, diagnosticados posteriormente com depressão resistente ao tratamento, refratária ou não responsiva.

Uma das abordagens usadas para esses pacientes específicos é a estimulação magnética transcraniana (EMT), uma técnica não invasiva que estimula o cérebro com ondas magnéticas. O paciente fica acordado durante as sessões.

Tratamento terapêutico pode acontecer seguindo correntes como terapia cognitiva comportamental, psicanálise, terapia analítica (junguiana), gestalt-terapia, sistêmica, psicodrama, entre outras | GETTY Image

Outra abordagem para esses tipos de casos mais graves ou refratários é a ECT (eletroconvulsoterapia, popularmente conhecida como eletrochoque), tratamento destinado a pacientes com depressão mais severa ou que já experimentaram outros tratamentos sem apresentação de melhora. Apesar de todo o estigma e preconceito em torno desse tipo de tratamento, ele é considerado seguro, indolor e eficaz.

Nesse tipo de terapia, uma baixa corrente elétrica estimula o cérebro e provoca uma convulsão no paciente sob anestesia, ajudando a aliviar os sintomas da depressão por meio de alterações químicas no cérebro. Ela é realizada em hospitais ou clínicas especializadas em séries de 6 a 12 sessões.

Há também o spray de escetamina (ou esketamina), derivado do anestésico cetamina aprovado em 2020 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse remédio inalável estimula as áreas do cérebro ligadas às emoções.

Por fim, há diversas pesquisas promissoras em andamento em torno do uso de psicodélicos para tratar depressão e outros transtornos mentais, mas esses tratamentos ainda estão em fase experimental.

Segundo OMS, depressão é principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma significativa para a carga global de doenças | GETTY Image

Como ter acesso a tratamentos para depressão pelo SUS?

Segundo a OMS, a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma significativa para a carga global de doenças. Segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Brasil, foram 576,6 mil afastamentos por transtornos mentais e comportamentais em 2020.

"Ainda precisamos de um sistema público em saúde mental no Brasil que ofereça todo o suporte necessário ao padecente de transtornos mentais, que deve contar com o princípio de integração entre os diversos serviços, constituindo um sistema integrado de referência e contra referência no qual as unidades devem funcionar de forma harmônica, complementando-se, não se opondo nem se sobrepondo um ao outro, não concorrendo e nem competindo entre si", afirma Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria.

No SUS, pacientes podem buscar orientação e tratamento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de Convivência e Cultura, ambulatórios multiprofissionais, Unidades de Acolhimento (UAs), hospitais especializados e hospitais-dia de atenção integral. Parte dos medicamentos está disponível na rede de Farmácia Popular.

Segundo o Ministério da Saúde, há 2.742 CAPS espalhados por 1.845 cidades do país. Eles atendem todos os casos de depressão e isso inclui os quadros moderados e severos.

O atendimento não é feito apenas por médicos nessas unidades, mas também por psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros profissionais de saúde das equipes multidisciplinares.

Se os casos forem mais graves, os pacientes são encaminhados para hospitais especializados. Se houver diagnóstico da forma mais leve do transtorno, pode haver um direcionamento para uma Unidade Básica de Saúde (UBS).

Além da rede pública de saúde, é possível também buscar orientação e tratamento em iniciativas de atendimento psicológico gratuitas ou de baixo custo (valor social), como aquelas oferecidas por universidades (como USP, UFBA, UFSC, UFPR e UFPA), entidades de classe (como Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo e Associação Brasileira de Psicodrama), entre outros.

Por fim, Silva, da Associação Brasileira de Psiquiatria, lembra que os pacientes, depois de todos os obstáculos para conseguirem diagnóstico e tratamento, ainda precisam enfrentar o estigma em torno da depressão, uma "discriminação que pode ser tão incapacitante quanto a própria doença" e afeta inclusive a recuperação e reabilitação do paciente.

"O combate ao estigma é primordial para que o portador de doença mental viva de forma independente e autônoma, tenha oportunidades de trabalho, persiga suas metas e usufrua de oportunidades com dignidade e plena inserção social."

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda no Centro de Valorização da Vida e o Centro de Atenção Psicossocial (CAP) da sua cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/) funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF