Quais são os tratamentos para depressão?
- Cristiane Martins
- De Londres para a BBC News Brasil
24 novembro 2021
Conforme o estágio e a intensidade do quadro de
saúde, há tratamentos com medicamentos específicos. E, a depender de como o
paciente se sente e quais motivos levaram ele à condição atual, haverá linhas
psicoterapêuticas mais adequadas para tratar.
Um dado positivo é que, segundo a Associação
Americana de Psiquiatria, a depressão é um dos transtornos mentais mais
tratáveis. Entre 80% e 90% das pessoas com esse problema de saúde respondem bem
ao tratamento.
Grosso modo, há três linhas principais de
tratamento: a psiquiátrica, a terapêutica e a farmacoterápica, que combina
psiquiatria (uso de medicamentos) e psicoterapia geralmente para casos de
depressão moderada ou grave. Mas tudo vai depender do diagnóstico e da
gravidade do quadro.
Como dito acima, a grande maioria dos casos de
depressão leve pode ser tratada sem remédios, por exemplo. "Nesses casos,
a primeira indicação pode ser a psicoterapia porque não tem efeito colateral,
tem uma resposta mais rápida do que aquela com fármacos, porque antidepressivos
precisam de pelo menos um ano de uso para tratar depressão. Então, se fizer
psicoterapia nesses casos, você consegue melhorar mais cedo e ainda trabalhar
outras coisas que não envolvam só a depressão", afirma Melo, da Federação
Brasileira de Terapias Cognitivas.
O tratamento terapêutico pode acontecer seguindo
correntes como terapia cognitiva comportamental, psicanálise, terapia analítica
(junguiana), gestalt-terapia, sistêmica, psicodrama, entre outras.
Algumas vão recorrer a simbologias e interpretação
dos sonhos, como a terapia junguiana, por exemplo.
Outras terapias buscam focar nas ações do presente
(em uma espécie de diferenciação de tratamentos como o psicanalítico, em que
esse mesmo paciente seria recebido em consultório pelo analista, que o
escutaria sobre episódios da infância, por exemplo), como
analítico-comportamental, gestalt e terapia cognitivo-comportamental, uma das
abordagens mais comuns para casos de depressão, que por meio da conversa entre
paciente e terapeuta ensina o paciente a identificar e lidar com pensamentos,
crenças e sentimentos negativos, quebrando o ciclo em torno deles.
Outras se dedicam mais ao autoconhecimento, em que
o paciente faz associações livres por meio da fala e sem interrupções do
terapeuta, como a psicanálise, que incentiva o paciente a acessar seu
inconsciente e trazer à consciência o que está lhe afetando no quadro
depressivo.
No caso da psicanálise, seus efeitos são
estabelecidos na chamada "transferência" entre sujeito e analista, ou
seja, grosso modo, no momento em que o paciente permite ao especialista
(analista) a ajuda e se entrega de fato ao processo analítico. E isso pode
contribuir no tratamento da depressão como contribui com outras modalidades de
sofrimento psíquico: analisando a singularidade da experiência daquele paciente
com esse diagnóstico, evitando generalizações.
Além disso, há outras terapias alternativas para
casos mais leves de depressão, que incluem meditação, programas de exercício
físico, arteterapia, entre outras. Caberá aos profissionais especializados
identificar e acompanhar quais são mais adequadas para cada paciente.
"Em casos mais leves, o tratamento pode ser
realizado somente com psicoterapia. Mas quadros moderados a graves precisam
também de intervenção com medicamentos e, caso haja ideação suicida, a
internação pode ser considerada", afirma Silva, da Associação Brasileira
de Psiquiatria. Segundo ele, quase 70% das mortes associadas à depressão podem
ser prevenidas com tratamento correto.
Em linhas gerais, os antidepressivos fazem
alterações químicas no cérebro para reequilibrar o humor e a energia, por
exemplo. Mas algumas vezes isso se dá com efeitos colaterais, inclusive
dependência, algo que gera medo e hesitação entre pacientes.
Só que esses medicamentos acabam não surtindo
efeito para algo em torno de 10% a 30% dos pacientes, diagnosticados
posteriormente com depressão resistente ao tratamento, refratária ou não
responsiva.
Uma das abordagens usadas para esses pacientes
específicos é a estimulação magnética transcraniana (EMT), uma técnica não
invasiva que estimula o cérebro com ondas magnéticas. O paciente fica acordado
durante as sessões.
Outra abordagem para esses tipos de casos mais
graves ou refratários é a ECT (eletroconvulsoterapia, popularmente conhecida
como eletrochoque), tratamento destinado a pacientes com depressão mais severa
ou que já experimentaram outros tratamentos sem apresentação de melhora. Apesar
de todo o estigma e preconceito em torno desse tipo de tratamento, ele é
considerado seguro, indolor e eficaz.
Nesse tipo de terapia, uma baixa corrente elétrica
estimula o cérebro e provoca uma convulsão no paciente sob anestesia, ajudando
a aliviar os sintomas da depressão por meio de alterações químicas no cérebro.
Ela é realizada em hospitais ou clínicas especializadas em séries de 6 a 12
sessões.
Há também o spray de escetamina (ou esketamina),
derivado do anestésico cetamina aprovado em 2020 pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa). Esse remédio inalável estimula as áreas do
cérebro ligadas às emoções.
Por fim, há diversas pesquisas promissoras em
andamento em torno do uso de psicodélicos para tratar depressão e outros
transtornos mentais, mas esses tratamentos ainda estão em fase experimental.
Como ter acesso a tratamentos
para depressão pelo SUS?
Segundo a OMS, a depressão é a principal causa de
incapacidade em todo o mundo e contribui de forma significativa para a carga
global de doenças. Segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e
Trabalho do Brasil, foram 576,6 mil afastamentos por transtornos mentais e
comportamentais em 2020.
"Ainda precisamos de um sistema público em
saúde mental no Brasil que ofereça todo o suporte necessário ao padecente de
transtornos mentais, que deve contar com o princípio de integração entre os
diversos serviços, constituindo um sistema integrado de referência e contra
referência no qual as unidades devem funcionar de forma harmônica,
complementando-se, não se opondo nem se sobrepondo um ao outro, não concorrendo
e nem competindo entre si", afirma Silva, da Associação Brasileira de
Psiquiatria.
No SUS, pacientes podem buscar orientação e
tratamento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais
Terapêuticos (SRT), Centros de Convivência e Cultura, ambulatórios
multiprofissionais, Unidades de Acolhimento (UAs), hospitais especializados e
hospitais-dia de atenção integral. Parte dos medicamentos está disponível na
rede de Farmácia Popular.
Segundo o Ministério da Saúde, há 2.742 CAPS
espalhados por 1.845 cidades do país. Eles atendem todos os casos de depressão
e isso inclui os quadros moderados e severos.
O atendimento não é feito apenas por médicos nessas
unidades, mas também por psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, entre
outros profissionais de saúde das equipes multidisciplinares.
Se os casos forem mais graves, os pacientes são
encaminhados para hospitais especializados. Se houver diagnóstico da forma mais
leve do transtorno, pode haver um direcionamento para uma Unidade Básica de
Saúde (UBS).
Além da rede pública de saúde, é possível também
buscar orientação e tratamento em iniciativas de atendimento psicológico
gratuitas ou de baixo custo (valor social), como aquelas oferecidas por
universidades (como USP, UFBA, UFSC, UFPR e UFPA), entidades de classe (como
Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo e Associação Brasileira de
Psicodrama), entre outros.
Por fim, Silva, da Associação Brasileira de
Psiquiatria, lembra que os pacientes, depois de todos os obstáculos para
conseguirem diagnóstico e tratamento, ainda precisam enfrentar o estigma em
torno da depressão, uma "discriminação que pode ser tão incapacitante
quanto a própria doença" e afeta inclusive a recuperação e reabilitação do
paciente.
"O combate ao estigma é primordial para que o
portador de doença mental viva de forma independente e autônoma, tenha
oportunidades de trabalho, persiga suas metas e usufrua de oportunidades com
dignidade e plena inserção social."
Caso você esteja pensando em
cometer suicídio, procure ajuda no Centro de Valorização da Vida e o Centro de
Atenção Psicossocial (CAP) da sua cidade. O CVV (https://www.cvv.org.br/)
funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também
atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento
em todo o Brasil.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/
Nenhum comentário:
Postar um comentário