Por Victoria Cardiel
16 de julho de 2025
A secretária-geral do Governatorato do Estado da Cidade do
Vaticano, irmã Raffaella Petrini, que lidera a delegação da Santa Sé no Evento
de Alto Nível WSIS+20 2025, pediu uma “regulamentação mais ampla” da
inteligência artificial (IA).
"Essa delegação está convencida de que iniciativas como
essa podem ajudar a enfrentar alguns dos desafios inevitáveis impostos pela IA
e pede uma regulamentação mais ampla e compartilhada que possa ajudar a
proteger os aspectos éticos do uso da inteligência artificial
internacionalmente", disse ontem a freira.
Seu apelo coincide com a mensagem enviada
por Leão XIV por meio do secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro
Parolin, para pedir uma regulamentação ética global da Inteligência Artificial
nesse mesmo fórum.
O encontro na Suíça, organizado pela União Internacional de
Telecomunicações (UIT) em Genebra, Suíça, que terminou na última sexta-feira
(11), analisou tendências emergentes, como inteligência artificial e governança
de dados, além de abordar as persistentes desigualdades no acesso à tecnologia.
O evento marcou o 20º aniversário da Cúpula Mundial sobre a
Sociedade da Informação (CMSI), plataforma patrocinada pela Organização das
Nações Unidas (ONU).
Em seu discurso, irmã Petrini falou sobre os riscos do uso
indevido das tecnologias digitais e defendeu a necessidade de usá-las para o
bem comum.
"O extraordinário potencial das tecnologias digitais
pode trazer valor significativo em muitas áreas e se tornar uma ferramenta
poderosa para promover a igualdade e a justiça", disse a freira.
No entanto, se mal utilizadas, "elas também podem
fomentar conflitos e aumentar a desigualdade, especialmente em detrimento dos
mais vulneráveis", disse a freira.
Assim, ela falou sobre a necessidade de avaliar os
benefícios e riscos da IA conforme "elevados padrões éticos" que
levem em conta "não só o bem-estar material, mas também as dimensões
intelectual e espiritual da pessoa", salvaguardando sua dignidade.
Em seu discurso, a freira detalhou algumas das iniciativas
empreendidas pela Santa Sé para orientar o uso dessa tecnologia em seu
território, com cursos de educação continuada e a promulgação das Diretrizes
sobre Inteligência Artificial da Santa Sé, em vigor a partir de 1º de janeiro
de 2025.
Essas diretrizes, diz a freira, "promovem medidas
concretas para garantir o desenvolvimento ético e o uso da inteligência
artificial dentro do Estado da Cidade do Vaticano" e "fornecem uma
estrutura que garante uma distribuição justa e sustentável dos frutos da IA,
orientada para o bem comum".
A delegação da Santa Sé também tem o engenheiro Antonino
Intersimone, diretor da diretoria de Telecomunicações e Sistemas de Informação
do Governatorato; e Davide Giordano, membro da mesma diretoria e representante
na Comissão da Santa Sé sobre Inteligência Artificial.
As conclusões dessa cúpula serão apresentadas à assembleia
geral da ONU em Nova York em dezembro, com o objetivo de renovar o compromisso
internacional com uma transformação digital a serviço do bem comum.
Desde sua primeira edição em Genebra, Suíça, em 2003, com
foco no acesso à informação, e sua continuação em Túnis, Tunísia, em 2005,
sobre governança da Internet e redução da exclusão digital, a CMSI tem
refletido sobre a direção da era digital.
Um dos temas centrais do evento foi a iniciativa IA para o
Bem, que destaca o papel da inteligência artificial como ferramenta fundamental
para alcançar os objetivos da CMSI. A iniciativa promove padrões globais de IA
e fomenta o diálogo entre as principais partes interessadas nos setores de
tecnologia e política, com vistas a uma transformação digital ética e
sustentável.
*Victoria Cardiel é jornalista especializada em temas de
informação social e religiosa. Desde 2013, ela cobre o Vaticano para vários
veículos, como a agência de noticias espanhola Europa Press, e o semanário Alfa
y Omega, da arquidiocese de Madri (Espanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário