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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Dante o secular, isto é, o cristão (Parte 1/2)

Dante descreve na alegoria da carruagem a presença do Anticristo na Igreja (Purgatório XXXII), manuscrito XIII conservado na Biblioteca Nacional de Nápoles contendo toda a Divina Comédia (final do século XIV, início do século XV) | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 04 - 2000

Dante o secular, isto é, o cristão

Entrevista com Alberto Asor Rosa sobre Alighieri: "Sua crença era absoluta nos fundamentos da fé, mas altamente crítica em relação a todo o resto. Além disso, ele tinha consciência de que todo homem é pecador. A consciência cristã das limitações humanas é precisamente o fundamento do pensamento secular."

Entrevista com Alberto Asor Rosa por Paolo Mattei

A literatura italiana das últimas duas décadas é "uma paisagem caótica", carente de fóruns para debate literário, as editoras parecem restringir excessivamente a liberdade criativa dos escritores e não existe uma língua literária italiana contemporânea. Aqui está um resumo do que Alberto Asor Rosa, professor da Universidade La Sapienza de Roma, pensa sobre a produção literária recente em nosso país. Esses comentários foram feitos ao jornal La Repubblica , por ocasião da recente publicação do segundo volume do Dizionario delle opere (Einaudi), que representa a conclusão de um projeto que Asor Rosa (que estuda toda a história da literatura italiana, desde suas origens até os dias atuais, há anos) e seus muitos colaboradores iniciaram há dezoito anos: a Letteratura italiana de Einaudi . Além desse olhar crítico e realista sobre o estado atual da produção literária italiana, a preferência de Asor Rosa por Dante entre os autores que leu na última década desperta curiosidade. Autor cristão que viveu há sete séculos, ele o considera o fundador da literatura secular moderna. Encontramo-nos com o professor e fizemos-lhe algumas perguntas. 

Numa entrevista publicada recentemente no La Repubblica, o senhor afirmou que, há cerca de dez anos, a sua leitura preferida tem sido Dante… 

ALBERTO ASOR ROSA: Estudo Dante há muito tempo, e isso é, em parte, bem conhecido. Há alguns anos, escrevi um ensaio sobre um aspeto da obra do poeta florentino, intitulado "A Fundação da Laia" (no volume "Questioni della Letteratura italiana" , publicado pela Einaudi). Nele, expliquei como Dante está intimamente envolvido — e, de fato, lança alguns dos fundamentos essenciais — no processo a partir do qual surge e se desenvolve a consciência secular da cultura moderna. Para justificar esta abordagem a Dante, naturalmente recorri a várias obras, em particular "La vita nuova", " Il convívio" e " De vulgari eloquentia".

A tese poderia ser resumida brevemente da seguinte forma: em Dante, e portanto dentro de um quadro ideológico distintamente medieval, uma série de temas começa a emergir, especificamente relativos aos dois temas da linguagem e do amor. Dante é o fundador da grande tradição secular da literatura italiana moderna. Esses dois temas — linguagem e amor — são, a meu ver, fundamentais para a compreensão desse universo não teológico e não medieval, embora não seja difícil identificar uma origem medieval na matriz original de ambos. Nessa perspectiva, Dante poderia ser considerado o arquiteto de uma grande e memorável transição. Com base nesse interesse, continuei a estudar Dante. Estudei-o por muito tempo, embora não continuamente, fascinado pelo tipo de experiência poética que, embora enraizada em uma matriz religiosa, indicava uma visão completamente secular da realidade.

Não é Monarchia a obra em que a "visão secular" da história de Dante se expressa mais claramente? 

ASOR ROSA: Sim. Mas Monarchia , de todas as suas obras, é, em certo sentido, a mais "medieval". A análise de Dante sobre os fundamentos divinos da existência humana e as instituições que expressam esses fundamentos torna esta obra única em relação às outras, situando-a histórica e ideologicamente, radicalmente, na era medieval. 

Em um ensaio de 1984 sobre Umberto Eco ( A Idade Média no Pós-moderno , republicado em Un altro Novecento , La Nuova Italia, Florença 1999), você cita uma carta de Petrarca a Boccaccio na qual o poeta de Arezzo reclama dos abusos a que foi submetido por tintureiros e estalajadeiros, que, por outro lado, amavam Dante. Por que uma lacuna tão grande na difusão popular entre as obras de dois autores cronologicamente próximos? 

ASOR ROSA: Naturalmente, a referência de Dante a Eco naquele ensaio é intencionalmente irônica, embora eu deva dizer que a influência da educação medieval de Eco é, em minha opinião, evidente. Sua influência na Escolástica está muito presente em seu pensamento e, em minha opinião, também em sua semiótica.

Voltando a Dante, acredito que (mesmo que isso possa soar vago e impreciso) ele foi além de Petrarca. Em Petrarca, vejo, em certo sentido, um retrocesso em relação às conquistas de Dante. Esse retrocesso consiste essencialmente em abandonar a ideia de uma poesia completamente realista — que Dante havia perseguido — para, em vez disso, escolher o caminho, que dominaria a Itália por séculos, da poesia cultivada para poucos. Assim, o fato de Dante ser apreciado por operários de lã, tintureiros, estalajadeiros e lutadores — algo que Petrarca, em certo sentido, invejava, mas também desprezava — é, na minha opinião, o produto de uma escolha de Dante: a escolha "popular". Petrarca abandonou o caminho de uma poesia voltada para o "baixo" e mudou, por meios poderosos, a direção de nossa literatura para uma estrutura poética intencionalmente aristocrática.

Fonte: https://www.30giorni.it/

“Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Lc 12,34)

Palavra de Vida Agosto (Revista Cidade Nova)

“Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Lc 12,34) | Palavra de Vida Agosto 2025

por Organizado por Augusto Parody Reyes, com a comissão da Palavra de Vida.   publicado em 17/07/2025, modificado em 28/07/2025.

Este ensinamento de Jesus é relatado pelo evangelista Lucas, que mostra o Mestre com seus discípulos a caminho de Jerusalém, rumo à sua Páscoa de morte e ressurreição. No caminho, dirige-se a eles chamando-os de “pequeno rebanho”1, confiando-lhes aquilo que Ele mesmo traz no coração, os sentimentos profundos do seu ser. Entre esses estão o desapego dos bens terrenos, a confiança na providência do Pai, a vigilância interior, a operosidade em vista da chegada do Reino de Deus.

Nos versículos anteriores, Jesus os encoraja a desapegarem-se de tudo, até mesmo da própria vida, e a não ficarem angustiados devido às necessidades materiais, porque o Pai sabe do que eles precisam. Ele os convida a buscar, isso sim, o Reino de Deus, encorajando-os a acumular “um tesouro no Céu, que nunca se acaba”2. Evidentemente Jesus não convida à passividade diante das coisas terrenas, nem a uma conduta irresponsável no trabalho. Sua intenção é tirar de nós a ansiedade, a inquietação, o medo.

“Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” 

O “coração” nesse caso significa o centro unificador da pessoa, que dá um sentido a tudo o que ela vivencia. É o lugar da sinceridade, onde não há espaço para engano nem para dissimulação. Geralmente indica as verdadeiras intenções, aquilo que realmente se pensa, se acredita e se deseja. O “tesouro” é o que existe de mais valioso para nós e, portanto, nossa prioridade, aquilo que achamos que dá segurança ao presente e ao futuro.

“Hoje – dizia o Papa Francisco – tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro. Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades imediatas.”3 Mas, no mais profundo de cada ser humano, existe uma busca premente pela felicidade verdadeira que não engana, que não pode ser dada por nenhum bem material.

Chiara Lubich escrevia: “Sim, existe aquilo que você procura: há em seu coração um anseio infinito e imortal; uma esperança que não morre; uma fé que rompe as trevas da morte e é luz para quem crê: não é por acaso que você espera, que você acredita! Não é por acaso! Você espera, você acredita para Amar.”4

“Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” 

Esta Palavra de Vida nos convida a fazer um exame de consciência: qual é o meu tesouro, qual a realidade que mais me importa? Ela pode assumir várias conotações, como o padrão econômico, mas também a fama, o sucesso, o poder. A experiência nos diz que é preciso retornar continuamente à vida verdadeira, aquela que não passa, a vida radical e exigente do amor proposto pelo Evangelho:

“Para o cristão não basta ser bom, misericordioso, humilde, manso, paciente… Ele deve ter para com os irmãos a caridade que Jesus nos ensinou. […] Com efeito, a caridade não é uma simples disposição para dar a vida. É dar a vida.”5

Devemos amar cada próximo que encontramos em nosso dia a dia (na família, no trabalho, em todos os lugares) com esta medida. Dessa forma vivemos não pensando em nós mesmos, mas pensando nos outros, vivendo os outros, experimentando uma verdadeira liberdade.

Organizado por Augusto Parody Reyes, com a comissão da Palavra de Vida.

1) Lc 12,32.

2) Lc 12,33.

3) Cf. PAPA FRANCISCO, Carta encíclica DILEXIT NOS, n° 218.

4) Cf. LUBICH, Chiara. Cartas dos primeiros temposjunho de 1944. São Paulo: Cidade Nova, 2020, p. 67.

5) Cf. LUBICH, Chiara. Companheiro de Viagem. São Paulo: Cidade Nova, 1988, p. 52-53.

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/editorial/inspira/4063-onde_estiver_o_vosso_tesouro_ai_estara_t

A JMJ de Seul será de 3 a 8 de agosto de 2027

Jovens na JMJ de Lisboa em 2023  (JOAOLC \ GMG Lisboa 2023 / João Lopes Cardoso)

O Papa Leão XIV anunciou as datas da próxima edição internacional da Jornada Mundial da Juventude.

Vatican News

No final do Angelus do último domingo (03/08), logo após a missa por ocasião do Jubileu dos Jovens, o Papa Leão XIV anunciou as datas da próxima Jornada Mundial da Juventude em Seul, na Coreia do Sul, em 2027:

“Renovo o convite feito pelo Papa Francisco em Lisboa, há dois anos: os jovens de todo o mundo se reunirão com o Sucessor de Pedro para celebrar a Jornada Mundial da Juventude em Seul, na Coreia, de 3 a 8 de agosto de 2027.”

A nossa peregrinação de esperança continua, unindo jovens de todo o mundo numa viagem simbólica da JMJ de Lisboa 2023 à JMJ de Seul 2027, atravessando as etapas intermediárias das celebrações locais das JMJ e o recém-concluído Jubileu dos Jovens.

Cardeal Farrell, cabe aos jovens se tornarem testemunhas da paz

"Agradecemos ao Santo Padre por anunciar as datas da próxima edição internacional da Jornada", comentou o prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, cardeal Kevin Farrell, "e convidamos todos os formadores, os departamentos da pastoral juvenil e os bispos a caminharem juntos rumo a Seul, guiados pelo tema da JMJ Seul 2027: 'Coragem! Eu venci o mundo!' (Jo 16,33). É precisamente a alegria da esperança, vivida neste Ano Jubilar, que nos dá a coragem de proclamar a vitória do Ressuscitado ao mundo inteiro. Cabe aos jovens tornarem-se peregrinos da esperança para curar a solidão e a pobreza, e testemunhar a paz neste mundo dilacerado por divisões, conflitos e guerras."

“A organização da JMJ Seul 2027 começou e prossegue a passos largos rumo às datas escolhidas pelo Santo Padre”, afirma o secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Gleison de Paula Souza. “Junto com o Comitê organizador local em Seul, estamos trabalhando para garantir que bispos e jovens de todo o mundo, acolhidos pela Igreja coreana, se reúnam para testemunhar que o encontro com Cristo transforma a vida e dá a coragem para vencer os desafios aos quais são chamados.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A ilusão da acumulação

Vaidade das vaidades (Fundação Nazaré)

A ILUSÃO DA ACUMULAÇÃO

01/08/2025

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

“Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Ecl 1,2)! Estas palavras, repetidas pelo Qohelet, soam como uma denúncia universal de que o esforço humano encerrado em si mesmo é, no fim, um sopro vazio. O autor de Eclesiastes, com um olhar existencialista, constata a angústia de quem trabalha, planeja, acumula e morre. O texto de Ecl 2,21-23 aprofunda esse desconcerto ao dizer que, “quem trabalha com sabedoria, competência e diligência, deverá entregar a sua parte a outro que em nada colaborou”. A injustiça, portanto, não está em deixar para os outros o que se fez, mas em colocar a confiança última em obras finitas. O que se colhe, afinal, senão fadiga, preocupação e insônia? 

É nesse espírito que o Evangelho de Lucas 12,13-21 deve ser lido. Jesus, interpelado por um homem que deseja resolver uma questão de herança, recusa-se a ser juiz de disputas materiais. Em vez disso, conta a parábola de um rico cuja terra produziu tanto que ele decidiu construir celeiros maiores, viver folgadamente e dizer a si mesmo: “Tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, goza a vida!” Deus porém lhe disse: “Insensato! Ainda nesta noite tua vida te será exigida. E o que acumulaste, para quem será?” (Lc 12,20). A pergunta final de Deus ecoa Eclesiastes:para quem será? 

A convergência entre os dois textos está na crítica da falsa segurança proporcionada pela riqueza, pelo trabalho autossuficiente e pela lógica da posse. Em ambos, há uma denúncia da idolatria da acumulação: a crença de que o sentido da vida está no “ter” e no “produzir”. Tanto a sabedoria do Antigo Testamento quanto o Cristo, Senhor, desafiam a lógica dominante da produtividade e da propriedade, que ainda hoje governa as estruturas econômicas e existenciais do nosso mundo. Somos treinados para investir, garantir, acumular, mas quase nunca para viver a gratuidade do presente. 

A trama dos dois textos gira em torno da busca humana por controle e segurança, especialmente por meio da posse de bens, e colocam um espelho diante do ser humano, onde resplandece que o controle é uma ilusão, a morte é certa, e a herança pode ir parar nas mãos de quem não trabalhou — ou, como diz Jesus, pode ser perdida no instante em que se tenta usufruí-la. Em linguagem dos nossos dias, trata-se de uma crítica ao capitalismo emocional: onde o eu se consome na ansiedade de garantir o que não pode possuir pela eternidade. 

Jesus denuncia essa pretensão ao dizer: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus” (Lc 12,21). A alternativa à vaidade é a relação, a comunhão, o desapego que permite ser verdadeiramente livre. O Reino de Deus não é acúmulo, mas partilha. Não é segurança garantida, mas confiança no Pai. A riqueza, então, não está em quantos celeiros tenho, mas em quanta vida sou capaz de doar. O Evangelho rompe com a lógica da escassez e nos insere na lógica da abundância da graça. 

Hoje, quando o mundo vive sob o domínio da produtividade, do consumo e da acumulação desmedida, esta Palavra é uma alerta e um convite à liberdade. O ser humano contemporâneo se vê refletido no rico insensato, cercado de tecnologia, garantias financeiras, projeções de futuro, mas sem saber se viverá o dia seguinte. É preciso, portanto, recuperar a sabedoria do Qohelet e a profecia de Jesus: tudo é vaidade se não estiver fundado no amor que transcende o tempo e resiste à morte. 

O Evangelho não nos convida ao desprezo do trabalho, mas à sabedoria da fé. Trabalhar, sim, mas com o coração livre, desapegado, orientado ao outro. Orientado ao Reino de Deus, que é presença e não posse. O que permanece é o que se doa. O que salva é o que se partilha. Só quem se desapega da vaidade se torna rico diante de Deus

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O Papa aos jovens: contagiem com o seu entusiasmo e fé todos aqueles que encontrarem

Jubileu dos Jovens - Santa Missa e Angelus, 03/08/2025 (Vatican News)

Em sua homilia na missa do Jubileu dos Jovens, em Tor Vergata, Leão XIV os convidou a permanecerem unidos a Jesus, a permanecerem "sempre na sua amizade, cultivando-a com a oração, a adoração, a Comunhão eucarística, a Confissão frequente, a caridade generosa, como nos ensinaram os beatos Piergiorgio Frassati e Carlo Acutis, que em breve serão proclamados Santos".

https://youtu.be/fTvC3wen98g

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na manhã deste domingo (03/08), o Papa Leão XIV presidiu a missa do Jubileu dos Jovens na esplanada de Tor Vergata, em Roma, que contou com a participação de mais de um milhão de pessoas. Antes do início da missa, o Santo Padre proferiu algumas palavras espontâneas:

"Espero que todos tenham descansado um pouco. Em breve, iniciaremos a maior celebração que Cristo nos deixou, a Sua própria presença na Eucaristia. Deus os abençoe a todos. Que esta seja uma ocasião verdadeiramente memorável para todos e cada um de nós, quando juntos, como Igreja de Cristo, seguimos, caminhamos juntos e vivemos com Jesus Cristo", disse ele.

No início de sua homilia, o Pontífice frisou que nesta experiência de encontro, "podemos imaginar que estamos percorrendo o caminho feito pelos discípulos de Emaús na tarde do dia de Páscoa". A liturgia deste domingo, não nos fala diretamente sobre este episódio, "mas nos ajuda a refletir sobre o que nele se narra: o encontro com o Cristo Ressuscitado que muda a nossa existência e que ilumina os nossos afetos, desejos e pensamentos".

Não enganemos o nosso coração

A seguir, o Papa comentou a primeira leitura, extraída do Livro de Eclesiastes, que nos convida a entrar em contato, como os dois discípulos de Emaús, "com a experiência dos nossos limites, da finitude das coisas que passam". Comentou também o Salmo responsorial, que ecoando a mesma mensagem, "propõe-nos a imagem da «erva que de manhã brota vicejante, mas à tarde está murcha e seca»". "São duas advertências fortes, talvez um pouco chocantes, mas que não devem assustar-nos, como se fossem temas “tabu” a evitar. Na verdade, a fragilidade de que nos falam faz parte da maravilha que somos", sublinhou.

"Pensemos no símbolo da erva: não é lindo um campo florido?" Perguntou Leão XIV. "Claro, é delicado, feito de caules finos, vulneráveis, sujeitos a secar, dobrar-se, partir-se, mas, ao mesmo tempo, imediatamente substituídos por outros que brotam depois deles e dos quais os primeiros se tornam generosamente alimento e adubo, ao desfazerem-se no solo. É assim que vive o campo, renovando-se continuamente e, mesmo durante os meses gelados do inverno, quando tudo parece silencioso, a sua energia vibra sob a terra e prepara-se para, na primavera, explodir em milhares de cores", sublinhou.

“Queridos amigos, nós também somos assim: fomos feitos para isto. Não para uma vida onde tudo é óbvio e parado, mas para uma existência que se renova constantemente no dom, no amor. E assim aspiramos continuamente a um “algo mais” que nenhuma realidade criada nos pode dar. Sentimos uma sede tão grande e ardente que nenhuma bebida deste mundo pode saciar.”

Diante dessa sede, "não enganemos o nosso coração, tentando extingui-la com subterfúgios ineficazes! Antes, devemos ouvi-la"! Mesmo aos vinte anos, é bom abrir o coração a Deus, "deixá-lo entrar, para depois nos aventurarmos com Ele rumo aos espaços eternos do infinito".

Leão XIV citou Santo Agostinho, que a propósito de sua intensa busca por Deus, perguntava-se: «Qual é, então, o objeto da nossa esperança […]? É a terra? Não». Pensando no caminho que tinha percorrido, Agostinho rezava, dizendo: «Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! […] Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz».

Unidos a Deus e aos irmãos na caridade

A seguir, o Papa Leão XIV recordou as palavras do Papa Francisco aos jovens, em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude, em que o Pontífice falecido disse a eles que não devemos nos alarmar «se nos encontramos intimamente sedentos, inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro […] Não estamos doentes, estamos vivos!»

"Há uma solicitação importante no nosso coração, uma necessidade de verdade que não podemos ignorar, que nos leva a perguntar: o que é realmente a felicidade? Qual é o verdadeiro sabor da vida? O que nos liberta dos pântanos do absurdo, do tédio, da mediocridade?" Perguntou Leão XIV.

“Nos últimos dias, vocês viveram muitas experiências bonitas. Encontraram-se com jovens da sua idade, vindos de várias partes do mundo, pertencentes a diferentes culturas. Trocaram conhecimentos, partilharam expectativas, dialogaram com a cidade através da arte, da música, da informática, do esporte. No Circo Máximo, aproximando do Sacramento da Penitência, vocês receberam o perdão de Deus e pediram sua ajuda para uma vida boa.”

Segundo o Papa, em tudo isto, podemos "encontrar uma resposta importante: a plenitude da nossa existência não depende do que acumulamos nem do que possuímos, como ouvimos no Evangelho. Está ligada ao que sabemos acolher e partilhar com alegria".

“Comprar, acumular, consumir não basta. Precisamos levantar os olhos, olhar para cima, para as «coisas do alto», para perceber que, entre as realidades do mundo, tudo tem sentido apenas na medida em que serve para nos unir a Deus e aos irmãos na caridade, fazendo crescer em nós «sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência», de perdão, de paz, como os de Cristo.”

Neste horizonte compreenderemos cada vez melhor o que significa «a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado».

Permanecer na amizade com o Senhor

"Queridos jovens, a nossa esperança é Jesus", disse ainda Leão XIV, recordando as palavras de São João Paulo II, que dizia que o Senhor é quem suscita nos jovens «o desejo de fazer de suas vidas algo de grande […], no aperfeiçoamento» deles e «da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna».

"Mantenhamo-nos unidos a Ele, permaneçamos sempre na sua amizade, cultivando-a com a oração, a adoração, a Comunhão eucarística, a Confissão frequente, a caridade generosa, como nos ensinaram os beatos Piergiorgio Frassati e Carlo Acutis, que em breve serão proclamados Santos", disse ainda o Papa, convidando os jovens onde quer que estejam, a aspirar "a coisas grandes, à santidade. Não se contentem com menos. Então, vocês verão crescer todos os dias, em vocês e ao seu redor, a luz do Evangelho".

O Santo Padre confiou os jovens "a Maria, Virgem da Esperança. Com a sua ajuda, ao regressarem nos próximos dias aos seus países, em todas as partes do mundo, continuem caminhando com alegria seguindo as pegadas do Salvador e contagiem com o seu entusiasmo e o testemunho da sua fé todos aqueles que encontrarem".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 3 de agosto de 2025

Fechamento do Jubileu dos Jovens: Uma Celebração de Fé e Esperança em Tor Vergata

Stefano Costantino / POOL

Gilberto Vanderlei - publicado em 03/08/25

A esplanada de Tor Vergata, nos arredores de Roma, foi palco da missa de encerramento do Jubileu dos Jovens, que presidida pelo Papa Leão XIV, proporcionou a todos um momento de profunda espiritualidade, renovação da fé e um chamado à esperança em um mundo marcado por desafios.

Na noite anterior, sábado, 2 de agosto, cerca de um milhão de jovens participaram de uma vigília de oração em Tor Vergata, evento que contou com animação musical de artistas como o trio italiano Il Volo, Matt Maher, Thiago Brado e o coro Hakuna Group Music, fundado durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013, no Rio de Janeiro. Durante a vigília, três jovens fizeram perguntas ao Papa sobre amizade, coragem e espiritualidade, reforçando o diálogo intergeracional e a conexão espiritual do evento.

A Missa de "até breve"

Na manhã de domingo, o Papa Leão XIV chegou de helicóptero a Tor Vergata para presidir a missa em um altar de 1.400 metros quadrados, especialmente construído para a ocasião. Em sua homilia, o Papa incentivou os jovens a "aspirarem a grandes coisas" e a rejeitarem o conformismo e o materialismo, destacando que a verdadeira plenitude da vida está em acolher e compartilhar com alegria. Ele citou seu antecessor, Papa Francisco, e o jovem beato Carlo Acutis, reforçando a mensagem de esperança e santidade.

O Papa também enfatizou a importância de olhar para além do consumo e do acúmulo, exortando os jovens a praticarem a humildade, o perdão e a paz. "Comprar, acumular, consumir não é suficiente. Precisamos levantar os olhos, olhar para cima, para as coisas celestiais", declarou, em uma mensagem lida em italiano, inglês e espanhol.

Solidariedade aos Jovens em Zonas de Conflito

Antes da recitação do Angelus, o Papa Leão XIV dirigiu uma mensagem especial aos jovens que sofrem em regiões devastadas por conflitos.

"Estamos mais próximos do que nunca dos jovens que sofrem os males mais graves, causados por outros seres humanos. Estamos com os jovens de Gaza, da Ucrânia e com os de todas as terras ensanguentadas pela guerra".

Depois, reforçando a comunhão com Cristo como fonte de paz e esperança. Ele destacou que os jovens presentes são "um sinal de que é possível um mundo diferente, um mundo de fraternidade e amizade, onde os conflitos não se resolvem com armas, mas com diálogo".

A Jornada continua

No encerramento da missa, o Papa Leão XIV confirmou que a próxima Jornada Mundial da Juventude será realizada em Seul, Coreia do Sul, de 3 a 8 de agosto de 2027, com o tema "Tende coragem, Eu venci o mundo" (Jo 16,33). O anúncio foi recebido com entusiasmo pelos jovens, que entoaram cânticos como "Esta é a juventude do Papa" e "Papa Leão". A escolha de Seul marca o retorno da JMJ à Ásia após mais de 30 anos, desde a edição de 1995 em Manila, que reuniu um recorde de 4 milhões de participantes.

O Papa também pediu aos jovens que levassem a mensagem de esperança aos seus países, especialmente àqueles que não puderam participar do evento devido a conflitos ou outras dificuldades. "Levem essa alegria, esse entusiasmo, para o mundo inteiro. Vós sois o sal da terra, a luz do mundo", exortou, em um apelo emocionado.

Com o olhar voltado para Seul 2027, a juventude católica segue sua peregrinação de esperança, inspirada pelas palavras do Papa: "Continuemos a sonhar juntos, a esperar juntos".

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/08/03/fechamento-do-jubileu-dos-jovens-uma-celebracao-de-fe-e-esperanca-em-tor-vergata/

Os três sorrisos do cristão

@opusdei

Os três sorrisos do cristão

Como ser capazes de sorrir quando as preocupações, o trabalho, os pequenos contratempos e as grandes dores são tão frequentes na vida?

18/09/2015

“Um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara de funeral" [1]. A provocação do Papa Francisco não é uma brincadeira casual, e a ideia de que os cristãos não devem mostrar-se tristes não é nova: "Seria preciso entoarem melhores cânticos para eu crer no seu Salvador; seria preciso que os seus discípulos tivessem mais aparência de redimidos", dizia Nietzsche.

Mas como ser capazes de sorrir quando as preocupações, o trabalho, os pequenos contratempos e as grandes dores são tão frequentes na vida?

O primeiro sorriso é o fundamental: “Aquele, porém, que mora nos céus, se ri” [2] diz a Bíblia. E ainda: “a alegria do Senhor será a vossa força” [3]. É o sorriso de Deus. A alegria com a qual o Criador contempla cada uma de suas criaturas deve ser o fundamento sólido da serenidade e da paz de cada um de nós.

Mas não pode ser irreverente pensar que Deus, o Senhor do Universo, sorria? “Deus deve nos amar ainda mais porque despertamos seu humor.”, disse um personagem criado por Ray Bradbury. “Eu nunca pensei em Deus como um cômico”, lhe responde alguém. A resposta é imediata: “O Criador do ornitorrinco, do camelo, da avestruz e do homem? Ora, deixe disso”[4].

O segundo sorriso é aquele com o qual olho para mim mesmo. Sem perder de vista minha humanidade, meus limites, que não são necessariamente defeitos e não devem ser tomados demasiado a sério. Meu Criador me ama assim, como sou, porque se me quisesse diferente, teria me criado diferente.

"Saber ver o aspecto divertido da vida e a sua dimensão alegre e não viver tudo tão tragicamente – disse Bento XVI –, e diria que isto é necessário também no meu ministério. Um escritor disse que os anjos conseguem voar porque não se consideram a si mesmos com demasiada seriedade. E também nós talvez pudéssemos voar um pouco mais, se não déssemos tanta importância a nós mesmos” [5].

@opusdei

Sorrir é um ato de humildade, quer dizer que me aceito a mim mesmo e ao meu modo de ser, permanecendo ali onde estou com santa paz. Sem levar-me muito a sério, porque “A seriedade não é uma virtude. Seria uma heresia, mas uma heresia muito mais sensata, dizer que a seriedade é um vício. É na verdade um lapso ou tendência natural a levar-se muito a sério, porque é a coisa mais fácil de fazer. Pois a solenidade flui dos homens naturalmente; mas o riso é um salto. É fácil ser pesado, é difícil ser leve. Satanás caiu devido à força da gravidade” [6].

O terceiro sorriso é consequência dos dois anteriores. É o sorriso com o qual acolho as pessoas, especialmente aquelas com as quais convivo e trabalho. Mostrando-lhes afeto e sem dar muita importância a possíveis erros ou atritos. Com rosto alegre, Madre Teresa de Calcutá, ao receber o Prêmio Nobel surpreendeu o público ao fazer-lhes esta sugestão: “Sorriam uns aos outros, dediquem tempo para estar juntos com as suas famílias. Sorriam mutuamente” [7].

"As vestes do corpo, o riso dos dentes, e o modo de andar de um homem fazem-no revelar-se” [8], diz o livro da Sabedoria.

O sorriso pode ser verdadeiramente o sinal que permite aos demais reconhecer um cristão.

Artigo de Carlo de Marchi, Vigário do Opus Dei para o Centro-Sul da Itália.


[1] Papa Francisco. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 10.

[2] Salmo II, 4.

[3] Ne, 8,10.

[4] Ray Bradbury, As crônicas marcianas. Editora Globo, 2005.

[5] Bento XVI. Entrevista a representantes de canais televisivos alemães e da rádio vaticano em preparação para a viagem à Alemanha. 5-VIII-2006.

[6] G. K. Chesterton, Ortodoxia. Mundo Cristão, 2008.

[7] Madre Teresa de Calcutá. Discurso para o Prêmio Nobel da Paz, 1979.

[8] Sir 19, 27

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/os-tres-sorrisos-do-cristao/

Papa aos jovens: Jesus é o amigo que sempre nos acompanha

Vigólia Jubileu dos Jovens, 02/08/2025 (Vatican News)

Vinte e cinco anos após o evento histórico com João Paulo II, no alvorecer do novo milênio, a esplanada de Tor Vergata, Roma, se enche de cores e bandeiras levadas pelos jovens de várias partes do mundo que vieram à Cidade Eterna para o seu Jubileu. Junto com Leão XIV, eles cantaram, rezaram e falaram em idiomas diferentes, mas numa única língua: a da fé.

Vatican News

A Vigília de Oração com o Papa Leão XIV, na noite deste sábado (02/08), em Tor Vergata, em Roma, conta com participação de mais de 800 mil jovens que realizam o seu Jubileu.

Amizade

Intercalado com cantos, orações e testemunhos, durante a vigília houve um momento de partilha entre o Papa e os jovens que fizeram ao Pontífice algumas perguntas. Maria, de 23 anos, do México, fez uma pergunta ao Papa sobre a amizade.

Santo Padre, somos filhos deste tempo: vivemos numa cultura que nos pertence e que, sem nos darmos conta, nos molda; ela está marcada pela tecnologia, especialmente no âmbito das redes sociais. Frequentemente, iludimo-nos com a ideia de ter muitos amigos e criar relações próximas, enquanto cada vez mais experimentamos diversas formas de solidão. Estamos próximos e conectados com tantas pessoas e, no entanto, não são relações verdadeiras e duradouras, mas passageiras e muitas vezes ilusórias. Santo Padre, a minha pergunta é: como podemos encontrar uma amizade sincera e um amor genuíno que nos levem à verdadeira esperança? Como pode a fé ajudar-nos a construir o nosso futuro?

Papa Leão XIV: Queridos jovens, as relações com outras pessoas são indispensáveis para cada um de nós, a começar pela razão de que todos os homens e mulheres do mundo nascem filhos de alguém. A nossa vida começa com um vínculo e é através de vínculos que crescemos. Neste processo, a cultura desempenha um papel fundamental: é o código com o qual nos compreendemos a nós mesmos e interpretamos o mundo. Como um dicionário, cada cultura contém tanto palavras nobres quanto palavras vulgares, valores e erros que devemos aprender a reconhecer. Buscando apaixonadamente a verdade, não apenas recebemos uma cultura, mas transformamo-la através das escolhas de vida. A verdade, com efeito, é um vínculo que une as palavras às coisas, os nomes aos rostos. A mentira, pelo contrário, separa estes aspectos, gerando confusão e mal-entendidos.

Entre as muitas conexões culturais que caracterizam a nossa vida, a Internet e as redes sociais tornaram-se «uma oportunidade extraordinária de diálogo, encontro e intercâmbio entre as pessoas, bem como de acesso à informação e ao saber» (Papa Francisco, Christus vivit, 87). No entanto, estes instrumentos tornam-se ambíguos quando dominados por lógicas comerciais e interesses que destroem as nossas relações em milhares de fragmentos. A este respeito, o Papa Francisco recordava que, por vezes, «os mecanismos da comunicação, da publicidade e das redes sociais podem ser utilizados para nos tornar sujeitos adormecidos, dependentes do consumo» (Christus vivit, 105). Então, as nossas relações tornam-se confusas, ansiosas ou instáveis. Quando o instrumento domina o homem, o homem torna-se um instrumento: sim, um instrumento do mercado e, por sua vez, uma mercadoria. Só relações sinceras e laços estáveis fazem crescer histórias de vida boa.

Queridos jovens, qualquer pessoa deseja naturalmente esta vida boa, como os pulmões buscam o ar, mas como é difícil encontrá-la! Há uns séculos, Santo Agostinho, mesmo sem conhecer o desenvolvimento tecnológico de hoje, compreendeu o desejo profundo do nosso coração. Também ele passou por uma juventude tempestuosa, porém não se conformou, não silenciou o clamor do seu coração. Ele procurava a verdade que não decepciona, a beleza que não passa. Como a encontrou? Como encontrou uma amizade sincera, um amor capaz de dar esperança? Encontrando Aquele que já o procurava: Jesus Cristo. Como construiu o seu futuro? Seguindo a Ele, seu amigo desde sempre. Com palavras suas: «Nenhuma amizade é fiel senão em Cristo. E só n’Ele pode ser feliz e eterna» (Contra duas cartas dos pelagianos, I, I, 1); «ama verdadeiramente o seu amigo aquele que no seu amigo ama a Deus» (Sermão 336, 2). A amizade com Cristo, que está na base da fé, não é apenas uma ajuda entre muitas outras para construir o futuro, é a nossa estrela polar. Como escreveu o beato Pier Giorgio Frassati, «viver sem fé, sem um património a defender, sem lutar pela Verdade, não é viver, é apenas ir vivendo» (cf. Cartas, 27 de fevereiro de 1925). Quando as nossas relações refletem este intenso vínculo com Jesus, tornam-se certamente sinceras, generosas e verdadeiras.

O Papa Leão XIV durante a Vigília de Oração com os jovens   (@Vatican Media)

Coragem para escolher

Gaia, uma italiana de 19 anos, falou e perguntou ao Papa sobre a coragem para escolher.

Santo Padre, o nosso tempo é marcado por decisões importantes que somos chamados a tomar para orientar a nossa vida futura. No entanto, devido ao clima de incerteza que nos rodeia, somos tentados a adiar, e o medo de um futuro desconhecido paralisa-nos. Sabemos que escolher significa renunciar a algo e isso bloqueia-nos, mas, apesar de tudo, percebemos que a esperança aponta para objetivos alcançáveis, mesmo que marcados pela precariedade do momento presente. Santo Padre, perguntamos-lhe: onde encontrar a coragem para escolher? Como podemos ser corajosos e viver a aventura da verdadeira liberdade, fazendo escolhas radicais e cheias de sentido?

Papa Leão XIV: A escolha é um ato humano fundamental. Observando-o com atenção, compreendemos que não se trata apenas de escolher algo, mas de escolher alguém. Quando escolhemos, em sentido forte, decidimos quem queremos ser. Na verdade, a escolha por excelência é a decisão sobre a nossa vida: que homem queres ser? Que mulher queres ser? Queridos jovens, aprende-se a escolher através das provações da vida e, antes de tudo, lembrando que fomos escolhidos. Tal memória deve ser explorada e educada. Recebemos a vida gratuitamente, sem a escolher! Na origem de nós mesmos não houve uma decisão nossa, mas um amor que nos quis. Ao longo da existência, quem nos ajuda a reconhecer e renovar esta graça nas escolhas que somos chamados a fazer mostra-se verdadeiramente amigo.

Queridos jovens, vós dissestes bem: “escolher significa também renunciar a outras coisas, e isso às vezes bloqueia-nos”. Para sermos livres, é preciso partir de um fundamento estável, da rocha que sustenta os nossos passos. Essa rocha é um amor que nos precede, surpreende e supera infinitamente: o amor de Deus. Por isso, diante d’Ele, a escolha torna-se um juízo que não tira nenhum bem, mas leva sempre ao melhor.

A coragem para escolher vem do amor que Deus nos manifesta em Cristo. Foi Ele que nos amou com todo o seu ser, salvando o mundo e mostrando-nos assim que o dom da vida é o caminho para realizar a nossa pessoa. Por isso, o encontro com Jesus corresponde às expectativas mais profundas do nosso coração, porque Ele é o Amor de Deus feito homem.

A este respeito, há vinte e cinco anos, aqui mesmo onde estamos, São João Paulo II disse: «é Jesus quem buscais quando sonhais a felicidade; é Ele quem vos espera, quando nada do que encontrais vos satisfaz; Ele é a beleza que tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com aquela sede de radicalidade que não vos deixa ceder a compromissos; é Ele quem vos impele a depor as máscaras que tornam a vida falsa; é Ele quem vos lê no coração as decisões mais verdadeiras que outros quereriam sufocar» (Vigília de oração na XV Jornada Mundial da Juventude, 19 de agosto de 2000). O medo dá então lugar à esperança, porque temos a certeza de que Deus leva a cabo tudo o que começa. Reconhecemos a sua fidelidade nas palavras de quem ama verdadeiramente, porque foi verdadeiramente amado. “Tu és a minha vida, Senhor”: é o que um sacerdote e uma consagrada pronunciam cheios de alegria e liberdade. “Aceito-te como minha esposa e como meu esposo”: é a frase que transforma o amor do homem e da mulher em sinal eficaz do amor de Deus. Eis escolhas radicais e cheias de significado: o matrimónio, a ordem sagrada e a consagração religiosa expressam a doação de si mesmo, livre e libertadora, que nos torna verdadeiramente felizes. Estas escolhas dão sentido à nossa vida, transformando-a à imagem do Amor perfeito, que a criou e redimiu de todo o mal, inclusive da morte. Digo isso pensando em duas jovens: María, uma espanhola de 20 anos, e Pascale, uma egípcia de 18. Ambas escolheram vir a Roma para o Jubileu dos Jovens e faleceram nos últimos dias. Rezemos juntos por elas, peregrinas da esperança; rezemos por suas famílias, seus amigos e suas comunidades. Que Jesus Ressuscitado as acolha na paz e na alegria do seu Reino. Rezemos também por um jovem espanhol, Ignacio Gonzálvez, internado no hospital Menino Jesus. Rezemos por ele e por sua saúde.

Vigília de Oração com os jovens em Tor Vergata   (@Vatican Media)

Apelo ao bem

A terceira e última pergunta foi feita por um jovem em inglês relativa ao apelo ao bem.

Santo Padre, somos atraídos pela vida interior, mesmo se, à primeira vista, somos julgados como uma geração superficial e irrefletida.  No íntimo de nós mesmos, sentimo-nos atraídos pelo belo e pelo bem como fontes de verdade. O valor do silêncio, como nesta Vigília, fascina-nos, ainda que às vezes gere medo por causa de uma sensação de vazio. Santo Padre, gostaria de lhe perguntar: como podemos encontrar verdadeiramente o Senhor Ressuscitado nas nossas vidas e ter a certeza da sua presença mesmo no meio de provações e incertezas?

Papa Leão XIV: Para convocar este Ano Jubilar, o Papa Francisco publicou um documento intitulado Spes non confundit, que significa “a esperança não engana”.  Neste documento, ele escreveu: «No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expectativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã» (Spes non confundit, 1). Na Bíblia, a palavra “coração” geralmente refere-se ao mais íntimo de uma pessoa, o que inclui a nossa consciência. A nossa compreensão do que é bom reflete, então, como a nossa consciência foi moldada pelas pessoas que fazem parte da nossa vida, aqueles que foram bondosos conosco, que nos ouviram com amor e que nos ajudaram. Essas pessoas ajudaram-te a crescer na bondade e, portanto, a formar a tua consciência para buscar o bem nas tuas escolhas diárias.

Queridos jovens, Jesus é o amigo que sempre nos acompanha durante a formação da nossa consciência. Se quereis realmente encontrar o Senhor Ressuscitado, escutai a sua palavra, que é o Evangelho da salvação. Refleti sobre o vosso modo de viver e procurai a justiça para construir um mundo mais humano. Servi os pobres e dai assim testemunho do bem que sempre gostamos de receber do nosso próximo. Adorai Cristo no Santíssimo Sacramento, fonte da vida eterna. Estudai, trabalhai e amai segundo o exemplo de Jesus, o bom Mestre que caminha sempre ao nosso lado.

A cada passo, enquanto buscamos o que é bom, peçamos-lhe: fica conosco, Senhor (cf. Lc 24, 29). Fica conosco, porque sem ti não podemos fazer o bem que desejamos. Tu queres o nosso bem; na verdade, Tu és o nosso bem. Quem te encontra também quer que os outros te encontrem, porque a tua palavra é uma luz mais brilhante do que qualquer estrela, que ilumina até a noite mais escura. O Papa Bento XVI gostava de dizer que quem acredita nunca está sozinho. Dito em outras palavras, encontramos Cristo na Igreja, isto é, na comunhão daqueles que O buscam sinceramente. O próprio Senhor nos reúne para formar uma comunidade de fiéis que se apoiam mutuamente. Quanto precisa o mundo de missionários do Evangelho, que sejam testemunhas de justiça e paz! Quanto precisa o futuro de homens e mulheres que sejam testemunhas de esperança! Queridos jovens, esta é a tarefa que o Senhor Ressuscitado confia a cada um de nós!

Santo Agostinho escreveu: « Tu o incitas para que sinta prazer em louvar-te; fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti. […] Que eu te busque, Senhor, invocando-te; e que eu te invoque, crendo em ti» (Confissões, I, 1). Seguindo estas palavras de Agostinho, e em resposta às vossas perguntas, gostaria de convidar cada um de vós, queridos jovens, a dizer ao Senhor: “Obrigado, Jesus, por me terdes chamado. O meu desejo é permanecer como um dos vossos amigos, para que, abraçando-vos, eu possa também ser um companheiro de viagem para todos aqueles que encontro. Concedei, Senhor, que aqueles que me encontram possam encontrar-vos, mesmo através das minhas limitações e fraquezas”. Ao rezar estas palavras, o nosso diálogo continuará cada vez que olharmos para o Senhor crucificado, pois os nossos corações estarão unidos n’Ele. Por fim, a minha oração por vós é que possais perseverar na fé, com alegria e coragem! Obrigado.

Leão XIV durante a vigília em Tor Vergata   (@Vatican Media)

No final da Vigília de Oração, o Papa proferiu as seguintes palavras:

Gostaria de agradecer ao coro e aos músicos: obrigado por nos acompanharem! Obrigado a todos! Por favor, descansem um pouco. Nos encontraremos aqui amanhã de manhã para a Santa Missa. Desejo o bem a todos vocês. Boa noite!

Destaques em vídeo da Vigília de Oração em Tor Vergata:

https://youtu.be/5c3rF7LWISw

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

LEITURAS: O martírio dos cristãos em Roma

Primeiros mártires de Roma (conshalom)

LEITURAS

Arquivo 30Dias nº 02 - 1999

O martírio dos cristãos em Roma

Um trecho da Mensagem de Rádio do Papa Pio XII ao Mundo na Festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, 29 de junho de 1941.

Um trecho da Mensagem de Rádio do Papa Pio XII ao Mundo na Festa dos Santos Pedro e Paulo

Nesta solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, vossos pensamentos e afeição devotos, amados filhos da Igreja Católica universal, voltam-se para Roma com o verso triunfal: O Roma felix quae duorum Principum es consecrata glorioso sanguine! "Ó Roma feliz, que fostes consagrada pelo sangue glorioso destes dois Príncipes!" Mas a felicidade de Roma, que é uma felicidade de sangue e de fé, é também vossa; pois a fé de Roma, selada aqui nas margens direita e esquerda do Tibre com o sangue dos príncipes dos apóstolos, é a fé que vos foi proclamada, que é proclamada e será proclamada por todo o mundo. Alegrai-vos com o pensamento e a saudação de Roma, porque sentis em vós o salto da romanidade universal da vossa fé.
Durante dezenove séculos, no sangue glorioso do primeiro Vigário de Cristo e Doutor dos Gentios, a Roma dos Césares foi batizada de Roma de Cristo, como sinal eterno do principado indefectível da autoridade sagrada e do Magistério infalível da fé da Igreja; e nesse sangue foram escritas as primeiras páginas de uma nova e magnífica história das lutas e vitórias sagradas de Roma.

Já alguma vez se perguntou quais devem ter sido os sentimentos e os medos do pequeno grupo de cristãos espalhados pela grande cidade pagã quando, depois de enterrarem às pressas os corpos dos dois grandes mártires, um aos pés do Vaticano e o outro na Via Ostiense, a maioria deles se reuniu nos pequenos quartos de escravos ou artesãos pobres, alguns em suas casas ricas, e se sentiu sozinha e quase órfã com o desaparecimento dos dois grandes apóstolos? Foi a fúria da tempestade recentemente desencadeada sobre a Igreja nascente pela crueldade de Nero; Diante de seus olhos ainda pairava a horrível visão de tochas humanas fumegando à noite nos jardins de Cesareia e de corpos mutilados pulsando nos circos e nas ruas. Parecia então que a crueldade implacável havia triunfado, golpeando e derrubando as duas colunas, cuja mera presença sustentava a fé e a coragem do pequeno grupo de cristãos. Naquele pôr do sol sangrento, como seus corações devem ter sentido a pontada de dor ao se verem sem o conforto e a companhia daquelas duas vozes poderosas, abandonados à ferocidade de um Nero e ao braço formidável da grandeza imperial romana!

Mas contra a força férrea e material do tirano e seus ministros, eles receberam o espírito de força e amor, mais poderoso que o tormento e a morte. E parece-nos ver, no encontro subsequente, no meio da comunidade desolada, o velho Lino, o primeiro a ser chamado para substituir o falecido Pedro, tomar nas mãos, trêmulo de emoção, as páginas que preservavam preciosamente o texto da carta já enviada pelo Apóstolo aos fiéis da Ásia Menor e reler lentamente as frases de bênção, confiança e conforto: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo [...] Então, vós vos alegrareis, se por um pouco de tempo vos convier ser afligidos por várias tentações... Humilhai-vos, pois, sob a poderosa mão de Deus... lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós... O Deus de toda a graça, que nos chamou à sua eterna glória em Cristo Jesus, vos aperfeiçoará, fortificará e estabelecerá por um pouco de sofrimento. A ele seja a glória e o poder pelos séculos dos séculos!" (1 Pd 1, 3. 6; 5, 6-7. 10).

Fonte: https://www.30giorni.it/

Reflexão para o XVIII Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

O Homem busca a face do Outro, de Deus, que é Trindade, a Comunhão. O Homem busca a face de Deus, a comunhão eterna com o Outro. Só isso o sacia, só isso lhe dará a perenidade que é desejada na profundidade de seu ser.

Vatican News

"Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é ilusão e grande desgraça" – nos diz Coélet, autor do Eclesiastes. E a solução proposta por ele é comer, divertir-se, enfim um moderado aproveitamento de tudo o que a vida oferece.

A resposta que satisfará plenamente nossa inquietação virá de Jesus, no Evangelho.

Em Lucas, um homem rico ao ver que sua fazenda produz bastante, fica muito feliz e planeja não uma redistribuição de sua produção com os seus empregados, mas encontrar lugar para armazenar mais. O fazendeiro é louco, pois construiu sua riqueza sobre o suor de seus empregados e, agora, deseja descansar sobre o trabalho e o sofrimento de outros, sem nada partilhar. Jesus termina o relato desse caso, dizendo que tudo o que ele armazenou ficará para outros, já que sua vida será pedida naquela noite.

Os bens tomaram conta da vida daquele homem e ocuparam o lugar de Deus, da família e dele mesmo.

Por outro lado, o que acumulou não pode ser chamado de vida, pois a vida se destina a todos e ele acumulou só pensando em si mesmo.

O pecado do homem rico não está em ser rico, mas no fato que trabalhou exclusivamente para si e não se enriqueceu aos olhos de Deus.

Jesus faz o alerta não apenas aos ricos, mas a todos aqueles que só trabalham para si mesmos. Mesmo um estudante de um curso supletivo, que estuda à noite com muito sacrifício e só pensa em desfrutar a vida no futuro, é destinatário dessa parábola porque, apesar de ser pobre, tem um coração de rico: deixou-se levar pelo egoísmo.

A segunda leitura nos dá a indicação de como deve ser a vida daqueles que desejam trabalhar com sentido e quais deverão ser seus valores. "Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às terrestres." Mais adiante Paulo nos incentiva a fazer morrer em nós aquilo que é terrestre: "imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria".

O emprego de nossa vida, com seus dons e suas potencialidades deverá ser realizado com um objetivo maior do que a simples satisfação mundana e a simples saciação de nossas necessidades básicas. Tudo isso acabará; será dissolvido pelo tempo, a doença, as traças e a morte. Nada ficará de lembrança. Até nosso nome, com o tempo, desaparecerá. De fato, tudo ilusão!

Apenas o uso de nossas potencialidades, de nossa vida em favor do outro, em favor da realização do Reino de Deus dará sentido ao nosso esforço e transformará tudo de material em imaterial, de imanente em transcendente, de meramente humano em divino. A eternidade está na dimensão da partilha, do nós, do outro.

O Homem busca a face do Outro, de Deus, que é Trindade, a Comunhão. O Homem busca a face de Deus, a comunhão eterna com o Outro. Só isso o sacia, só isso lhe dará a perenidade que é desejada na profundidade de seu ser. Abrir-se ao outro é abrir-se a Deus, é abrir-se à felicidade eterna. (CAS)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF