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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade

Colinas da Índia (Vatican News)

CUIDAR DA CRIAÇÃO TORNA-SE UMA QUESTÃO DE FÉ E DE HUMANIDADE

02/09/2025

Dom Juarez Albino Destro
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS) 

De 1º de setembro a 04 de outubro somos convidados, ou melhor, convocados a exercer nossa vocação de cuidadores da Criação, rezando, louvando, agradecendo o dom da vida, mas também reconhecendo nossos erros e omissões, pedindo perdão para recomeçar a semear paz e esperança. 

Apesar de a data ter sido instituída há 10 anos, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação ainda é pouco conhecido. No Angelus do último domingo de agosto, o papa Leão XIV recordou que, há dez anos, o seu antecessor, papa Francisco, em sintonia com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, instituiu para a Igreja Católica este Dia de Oração. Recordou o tema: Sementes de paz e esperança, e nos convidou para, unidos a todos os cristãos, celebrarmos este Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, prolongando tal celebração até o dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. É o Tempo da Criação. No espírito do Cântico do Irmão Sol, composto por São Francisco há 800 anos, louvemos a Deus e renovemos o compromisso de não destruir o seu dom, mas de cuidar da nossa Casa Comum, o planeta. 

Naquele mês de agosto de 2015, o papa Francisco escreveu aos cardeais presidentes de dois Pontifícios Conselhos: o da Justiça e Paz; e o da Promoção da Unidade dos Cristãos. Pediu a eles que animassem todas as Conferências Episcopais, Organismos nacionais e internacionais comprometidos no âmbito ecológico, a celebrar este Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, com a participação de todo o Povo de Deus: ministros ordenados, consagrados e consagradas, cristãos leigos e leigas. O objetivo: fazer com que a celebração anual seja momento forte de oração, reflexão, conversão e oportunidade para assumir estilos de vida coerentes. Vale ressaltar que o Pontifício Conselho da Justiça e da Paz deixou de existir a partir de 1º de janeiro de 2017, com sua missão tendo sido incorporada no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (cf. Carta Apostólica, em forma de Motu Proprio, 17/08/2016). 

Papa Francisco, na carta, recordou que o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação já ocorre há tempos na Igreja Ortodoxa. E, como cristãos, disse o papa, “queremos oferecer a nossa contribuição para a superação da crise ecológica que a humanidade está vivendo. Por isso devemos, antes de tudo, buscar no nosso rico patrimônio espiritual as motivações que alimentam a paixão pelo cuidado da Criação, lembrando sempre que para aqueles que creem em Jesus Cristo, Verbo de Deus que se fez homem por nós, a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia (LS 216)”. A Encíclica Laudato Si (LS) também é de 2015. E Francisco a utiliza mais vezes na carta: “A crise ecológica nos chama, portanto, a uma profunda conversão espiritual: os cristãos são chamados a uma conversão ecológicaque comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. De fato, viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa (LS 217)”. 

Na mensagem do papa Leão XIV para o 11º Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação percebe-se que o tema já tinha sido escolhido pelo papa Francisco, e foi mantido pelo papa Leão: Sementes de Paz e Esperança. “A semente entrega-se inteiramente à terra e aí, com a força impetuosa do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais inesperados, numa surpreendente capacidade de gerar um futuro. Pensemos, por exemplo, nas flores que crescem à beira da estrada: ninguém as plantou, mas elas crescem graças a sementes que foram parar ali quase por acaso e conseguem decorar o cinzento do asfalto e até mesmo penetrar na sua dura superfície”, escreveu o papa Leão na mensagem. E citou o profeta Isaías para reforçar que “o Espírito de Deus é capaz de transformar o deserto árido e ressequido num jardim, num lugar de repouso e serenidade: «Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. O povo de Deus repousará numa mansão serena, em moradas seguras e em lugares tranquilos» (Is 32,15-18)”. 

São palavras proféticas, disse o papa, mas “junto à oração, são necessárias vontades e ações concretas que tornem perceptível esta carícia de Deus sobre o mundo (cf. LS 84). A justiça e o direito parecem remediar a inospitalidade do deserto. Trata-se de um anúncio extraordinariamente atual. Em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa terra está em ruínas. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda de biodiversidade. Os fenômenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas provocadas pelo ser humano, aumentam de intensidade e frequência”, citando também a Exortação Apostólica do papa Francisco, Laudate Deum, sobre a crise climática, sem esquecer das guerras, que devastam a humanidade.  

Seguem outras partes da mensagem, que nos fazem pensar, refletir: 

Parece ainda haver uma falta de consciência de que a destruição da natureza não afeta todos da mesma forma: espezinhar a justiça e a paz significa atingir principalmente os mais pobres, os marginalizados, os excluídos. A este respeito, o sofrimento das comunidades indígenas é emblemático. 

A própria natureza torna-se, por vezes, um instrumento de troca, uma mercadoria a negociar para obter ganhos econômicos ou políticos. A Criação transforma-se num campo de batalha pelo controle dos recursos vitais, como testemunham as áreas agrícolas e as florestas que se tornaram perigosas por causa das minas, os conflitos em torno das fontes de água, a distribuição desigual das matérias-primas, penalizando as populações mais fracas e minando a própria estabilidade social. 

Não era certamente isso que Deus tinha em mente quando confiou a Terra ao ser humano criado à sua imagem, como lemos em Gênesis. “Cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, “guardar” significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. 

A justiça ambiental já não pode ser considerada um conceito abstrato ou um objetivo distante. Representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera proteção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, econômica e antropológica. Para os que creem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade. 

Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança. Por vezes, são necessários anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus. 

Entre as iniciativas da Igreja na dimensão da Ecologia Integral, o papa Leão XIV citou o projeto Borgo Laudato si’, que o papa Francisco nos deixou como herança em Castel Gandolfo, “uma semente que pode dar frutos de justiça e paz. Trata-se de um projeto de educação para a ecologia integral que visa ser um exemplo de como se pode viver, trabalhar e fazer comunidade aplicando os princípios da Encíclica Laudato si’”. 

Que possamos vivenciar este Tempo da Criação com orações, certamente, mas também com reflexões, boas ideias, propostas e, sobretudo, conversão e oportunidade para assumir estilos de vida coerentes. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pare e adore: A visita ao Santíssimo Sacramento (Parte 1/2)

Crédito: Opus Dei.

Pare e adore: A visita ao Santíssimo Sacramento

Esta prática constitui uma profunda expressão de fé e amor a Cristo na Eucaristia. Em meio aos afazeres cotidianos, oferece uma ocasião de encontro com Deus, um descanso em sua presença, que traz consolo e guia para a vida diária.

07/08/2025

São Josemaria recordava com alegria como os anjos participam na adoração contínua a Cristo, especialmente em sua presença sacramental. Tal pensamento estimulava-o a unir-se a este culto através de algumas devoções eucarísticas; uma delas é a visita ao Santíssimo Sacramento.

Desde os primeiros séculos, os cristãos procuraram modos de expressar sua fé através de práticas de piedade além dos sacramentos, como a veneração de relíquias, de sepulcros de mártires e de lugares sagrados. Embora as espécies eucarísticas tenham sempre sido honradas inclusive fora da celebração, só se converteram em objeto de veneração particular fora da Missa no início do segundo milênio, na liturgia romana. Neste contexto, o IV Concílio de Latrão (1215) reafirmou a doutrina da presença real de Cristo na Eucaristia, condenou os ensinamentos Berengário de Tours – que negava esta presença – e enfatizou a necessidade de adorar a Cristo no Santíssimo Sacramento.

Algumas ordens religiosas, particularmente os cistercienses, fomentaram esta devoção, e teólogos como São Tomás de Aquino contribuíram no desenvolvimento da doutrina da presença real do Senhor na Eucaristia. Surgiram inovações litúrgicas que intensificaram a piedade eucarística, como a elevação da hóstia depois da consagração, a reserva eucarística e a prática da comunhão espiritual, manifestações do crescente desejo de honrar Jesus na Eucaristia.

Com a instituição da festa do Corpus Christi, celebrada pela primeira vez em Liège em 1246 e estendida a toda a Igreja pela bula Transiturus de hoc mundo do Papa Urbano IV, surgiram os primeiros testemunhos da prática da visita ao Santíssimo. Neste período, as beguinas (um grupo de mulheres que viviam em celas construídas em volta da abside da igreja, com uma abertura para o altar) seguiam a regra de rezar de joelhos o cumprimento ao Santíssimo nas celas, ao levantar-se. Ao longo dos séculos, a devoção para com a Eucaristia fortaleceu-se, em parte graças à reserva do Santíssimo em igrejas e capelas, o que facilitava o acesso dos fiéis. O Concílio de Trento reafirmou a prática da adoração eucarística e promoveu o culto ao Santíssimo Sacramento.

Os primeiros sacrários

“A sagrada Reserva (no sacrário) era primeiro destinada a guardar dignamente a Eucaristia para que pudesse ser levada, fora da missa, aos doentes e aos ausentes. Pelo aprofundamento da fé na presença real de Cristo em sua Eucaristia, a Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor presente sob as espécies eucarísticas”[1].

Nessa tomada de consciência, tiveram um papel importante as chamadas confrarias do Santíssimo Sacramento, que garantiam a reserva eucarística nas igrejas. Elas se espalharam por toda a Europa durante a baixa Idade Média, com notável proliferação na Itália e encarregaram-se de promover a participação ativa dos fiéis na adoração eucarística, destacando-se seu apoio às procissões de Corpus Christi. Neste marco, os barnabitas e Santo Antônio Maria Zaccaria tiveram um papel relevante na promoção do culto eucarístico, especialmente na organização das exposições do Santíssimo.

Mais tarde, surgiu a devoção das quarenta horas, que, como o nome indica, consistia na exposição ininterrupta do Santíssimo Sacramento durante esse tempo, e convidava à meditação da paixão de Cristo e à oração de intercessão e desagravo. Iniciada em Milão e promovida por figuras como Carlos Borromeu, expandiu-se pela Europa e foi consolidada em 1592 pelo Papa Clemente VIII ao instituir a Adoração Perpétua em Roma, contribuindo assim com a prática da visita ao Santíssimo.

A adoração da criatura ao Criador

Quando os magos chegaram a Belém, São Mateus relata: “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram” (Mt 2, 11). Este gesto manifesta a atitude própria do ser humano que, ao reconhecer-se criatura, prostra-se diante de seu Criador[2]. Mais do que um ato exterior, adorar é uma entrega do corpo e da alma, um reconhecimento profundo da nossa total dependência de Deus, diante de quem nos inclinamos com respeito e submissão absolutos, com a consciência de que nossa existência só tem sentido nele[3].

Dom Javier Echevarría expressava-o dizendo que “caímos em adoração, atitude necessária, porque somente assim manifestamos adequadamente acreditar que a Eucaristia é Cristo verdadeira, real e substancialmente presente com seu Corpo, seu Sangue, sua Alma e sua Divindade”[4]. São Josemaria também convidava a ter essa disposição: “Agiganta a tua fé na Sagrada Eucaristia. Pasma ante essa realidade inefável: temos Deus conosco, podemos recebê-lo cada dia e, se quisermos, falamos intimamente com Ele, como se fala com o amigo, como se fala com o irmão, como se fala com o pai, como se fala com o Amor”[5].

Alguns gestos ajudam a manifestar também com o corpo a adoração. Um deles é “A genuflexão, que se faz dobrando o joelho direito até ao solo, significa adoração; é por isso reservada ao Santíssimo Sacramento”[6]. Bento XVI destacava isso dizendo que “a genuflexão diante do Santíssimo Sacramento ou ficar de joelhos durante a oração exprimem precisamente a atitude de adoração diante de Deus, também com o corpo. Daí a importância de não fazer este gesto por hábito ou depressa, mas com consciência profunda. Quando nos ajoelhamos diante do Senhor confessamos nossa fé nele, reconhecemos que Ele é o único Senhor de nossa vida”[7].

Hoje em dia, pode parecer que o homem perdeu o sentido da adoração, a necessidade do culto em silêncio. O Papa Francisco comenta, no entanto, que “a Eucaristia é a resposta de Deus à fome mais profunda do coração humano, à fome de vida autêntica: nela o próprio Cristo está realmente no meio de nós para nos alimentar, consolar e sustentar ao longo do caminho”[8]. No pão eucarístico encontramos aquilo que afinal, nosso coração procura, mas que só Deus pode dar: um amor incondicional que sacia plenamente o nosso desejo de amar e ser amado. Na adoração eucarística podemos nos inclinar no peito do Senhor, como o discípulo amado, e deixar-nos abraçar por Ele. Porque ao ficar conosco na Eucaristia, Deus demonstra que “não é um ser longínquo, que contemple com indiferença a sorte dos homens, seus anseios, suas lutas e angústias. É um Pai que ama seus filhos até o extremo de lhes enviar o Verbo, Segunda Pessoa da Trindade Santíssima, para que, pela sua encarnação morra por eles e nos redima; o mesmo Pai amoroso que agora nos atrai suavemente a si, mediante a ação do Espírito Santo que habita em nossos corações”[9]


[1] Catecismo da Igreja Católica, n. 1379

[2] Cfr. Ibid, n. 2628

[3] Cfr. Ibid, n. 2097

[4] Javier Echevarría, Carta Pastoral, 6/10/2004, n. 6

[5] Forja, n. 268

[6] Instrução geral do missal romano, n. 274

[7] Bento XVI, Audiência, 27/06/2012.

[8] Francisco, Discurso aos membros do comitê de organização do Congresso Eucarístico Nacional dos Estados Unidos da América, 19/06/2023.

[9] É Cristo que passa n. 84

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/pare-e-adore-a-visita-ao-santissimo-sacramento/

Dia da Criação: o convite do Papa para se comprometer com o cuidado da casa comum

Dia da Criação (@Vatican Media)

Em um tweet publicado no X, as palavras de Leão XIV de domingo, ao final do Angelus, no qual ele recordou o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação.

Benedetta Capelli – Vatican News

Juntamente com todos os cristãos, celebramos hoje o X Dia Mundial de Oração pela Cura da Criação e prolongamos o Tempo da Criação até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis. No espírito do Cântico do Irmão Sol, louvamos a Deus e renovamos o compromisso de não destruir o seu dom, mas de cuidar da nossa casa comum.

É o tweet publicado na conta @Pontifex, no qual se lembrou ontem, segunda-feira (01/09), o dia em que os cristãos de todo o mundo se unem em oração. Palavras pronunciadas no domingo, 31 de agosto, ao final do Angelus. Trata-se, na verdade, de uma iniciativa ecumênica promovida e apoiada por diversas entidades, entre as quais o Movimento Laudato sì, o Conselho Ecumênico das Igrejas, a Federação Luterana Mundial e a Comunhão Anglicana. O Tempo da Criação, uma oportunidade para promover a conversão ecológica, está programado até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, que Leão XIV lembra em seu post citando o Cântico do Irmão Sol, também conhecido como Cântico das Criaturas, uma lauda escrita em vernáculo da Úmbria pelo próprio pobre de Assis por volta de 1224. Uma composição que é um louvor a Deus e à Criação.

Sementes de paz e esperança

São numerosas as iniciativas do Dia Mundial de Oração pela Cura da Criação, que coincide com o 1700º aniversário do Concílio Ecumênico de Nicéia e com o décimo ano da publicação da encíclica Laudato si' do Papa Francisco. O próprio Pontífice, falecido há alguns meses, escolheu o tema da Mensagem: “Sementes de Paz e Esperança”. No texto de Leão XIV, destacava-se como a terra está caindo em ruína e que a destruição da natureza afeta principalmente “os mais pobres, os marginalizados, os excluídos”, daí o convite do Papa para considerar a justiça ambiental como “uma necessidade urgente, que vai além da simples proteção do meio ambiente”.

Borgo Laudato sì   (@Vatican Media)

Celebrações de Missas pela custódia da criação

O próprio Leão XIV proclamou, no último dia 3 de julho, o decreto do formulário da missa pela Custódia da criação, Missa pro custodia creationis, que ele mesmo celebrou no último dia 9 de julho no Borgo Laudato sì, em Castel Gandolfo.

Daí o compromisso de muitas conferências episcopais, especialmente no sul do mundo, de incentivar as paróquias a celebrar o Dia com o novo formulário da Missa, como ocorreu nas Filipinas, segundo confirmou dom Gerardo Alminaza, bispo de San Carlos, e em outros países latino-americanos, como informou o secretário-geral do CELAM, o Conselho Episcopal Latino-Americano, Dom Lizardo Estrada Herrera, bispo auxiliar de Cuzco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Uma dieta com baixo teor de sal é tão prejudicial à saúde quanto consumir muito sal? (Parte 1/2)

Sal (Crédito: Getty Images)

Uma dieta com baixo teor de sal é tão prejudicial à saúde quanto consumir muito sal?

01/09/2025

Por Jéssica Brown

Alguns cientistas argumentam que uma dieta com baixo teor de sal é tão perigosa quanto um alto consumo de sal. Qual é a realidade?

Em 2017, o chef turco Nusret Gökçe viralizou depois que um vídeo temperando carinhosamente um bife enorme com uma pitada de sal acumulou milhões de visualizações online e lhe rendeu o apelido de "salt bae". Mas não foi apenas sua atenção aos detalhes que chamou a atenção.

Somos obcecados por sal – apesar dos alertas, quase todas as populações do mundo consomem quase o dobro do que deveriam, prejudicando nossa saúde no processo . Mas um contra-argumento está ganhando força, lançando dúvidas sobre décadas de pesquisa e lançando luz sobre as questões que ainda permanecem sem resposta sobre nosso tempero favorito.

O sódio, o elemento-chave encontrado no sal, é essencial para que nossos corpos mantenham o equilíbrio hídrico geral e transportem oxigênio e nutrientes. Ele permite que nossos nervos pulsam com eletricidade. Mas, historicamente, a maioria das populações tem consumido mais sal do que o recomendado, e autoridades de saúde em todo o mundo têm tido muito trabalho para nos convencer a reduzir o consumo.

Com 2 a 3 g de sal por 100 g, o queijo azul tem quase tanto sal quanto a água do mar, que contém 3,5 g por 100 g (Crédito: Getty Images)

Quanto sal você deve consumir diariamente?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda limitar o consumo de sódio a menos de 2 g por dia , o que equivale a cerca de 5 g de sal de cloreto de sódio . Nos EUA, as Diretrizes Dietéticas para Americanos recomendam que os adultos limitem a ingestão a menos de 2,3 g de sódio por dia, ou cerca de uma colher de chá de sal. 

Pesquisadores concluíram em um artigo de 2022 que um consumo moderado de sódio (entre 3 e 6 g por dia) é melhor para reduzir o risco de doenças cardíacas, em comparação com dietas com baixo e alto teor de sódio.

As diretrizes do NHS (Serviço Nacional de Saúde)  do Reino Unido recomendam que adultos não consumam mais de 6 g de sal por dia, incluindo o sal que já está presente nos alimentos que compramos e o sal que adicionamos durante ou após o preparo dos alimentos. No Reino Unido, o consumo médio de sal está próximo de 8,4 g por dia, enquanto nos EUA é de 8,5 g . Enquanto isso, a OMS estima que a ingestão média global de sal tenha aumentado para quase 10,8 g por dia .

Mas apenas um quarto da nossa ingestão diária vem do sal que adicionamos aos alimentos – o restante está escondido nos alimentos que compramos, incluindo pão, molhos, sopas e alguns cereais. Para aumentar a confusão, nos rótulos dos alimentos, os fabricantes frequentemente se referem ao teor de sódio em vez do sal, o que pode nos fazer pensar que estamos consumindo menos sal do que realmente estamos. O sal é composto por íons sódio e cloreto. Em 2,5 g de sal, há cerca de 1 g de sódio. "O público em geral não sabe disso e pensa que sódio e sal são a mesma coisa. Ninguém te conta isso", diz a nutricionista May Simpkin .

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), cerca de 40% do sódio consumido pelas pessoas nos EUA vem de alimentos como pizza, frios, burritos e tacos, salgadinhos, aves e hambúrgueres.

“Uma meta-análise descobriu um risco 17% maior de doenças cardiovasculares ao consumir 5g extras de sal por dia

Os riscos para a saúde do consumo excessivo de sal

Pesquisas descobriram que o excesso de sal causa pressão alta , o que pode levar a derrames e doenças cardíacas. Especialistas concordam amplamente que as evidências contra o sal são convincentes. Nossos corpos retêm água quando comemos sal, aumentando a pressão arterial até que nossos rins a eliminem. O excesso de sal por um longo período pode sobrecarregar nossas artérias e levar à pressão alta prolongada, conhecida como hipertensão, que causa 62% de todos os derrames e 49% dos eventos de doença coronariana  , de acordo com a OMS. A OMS estima que o consumo excessivo de sódio seja responsável por 1,89 milhão de mortes em todo o mundo a cada ano.

Uma meta-análise de 13 estudos publicados ao longo de 35 anos descobriu um risco 17% maior de doença cardiovascular total e um risco 23% maior de acidente vascular cerebral ao consumir 5 g extras de sal por dia.

Uma pipoca grande de cinema com sal (cerca de 250 g) pode ter cerca de 5 g de sal – quase o suficiente para um dia, de acordo com as diretrizes de saúde (Crédito: Getty Images)

Os benefícios para a saúde de reduzir a ingestão de sal

Como você pode esperar, reduzir a ingestão de sal pode ter o efeito inverso.

Em uma análise de dados de oito anos da Pesquisa de Saúde da Inglaterra , pesquisadores descobriram que uma redução de 1,4 g por dia na ingestão de sal provavelmente contribuiu para uma queda na pressão arterial, o que por sua vez contribuiu para uma redução de 42% nos acidentes vasculares cerebrais fatais e de 40% nas mortes relacionadas a doenças cardíacas.

Um ensaio clínico mais recente publicado em 2023 descobriu que seguir uma dieta com baixo teor de sódio por uma semana teve um efeito de redução da pressão arterial  comparável a um medicamento comumente administrado a pacientes com pressão alta .

No entanto, pesquisadores que realizaram estudos observacionais frequentemente concluíram que é difícil separar completamente os efeitos de comer menos sal de outros hábitos alimentares e de estilo de vida, já que aqueles que são mais conscientes de sua ingestão de sal têm mais probabilidade de comer de forma mais saudável em geral, se exercitar mais, fumar menos e beber menos.

“Ensaios clínicos randomizados que demonstrem o efeito do sal no corpo são quase impossíveis de realizar. Mas também não existem ensaios clínicos randomizados para obesidade ou tabagismo, que sabemos que matam – Francesco Cappuccio

Ensaios clínicos randomizados de longo prazo comparando pessoas que comem muito sal versus pessoas que comem pouco sal poderiam estabelecer relações de causa e efeito. Mas existem poucos estudos desse tipo devido aos requisitos de financiamento e às implicações éticas. "Ensaios clínicos randomizados que mostram o efeito do sal no corpo são quase impossíveis de realizar", afirma Francesco Cappuccio, professor de medicina cardiovascular e epidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Warwick e autor da revisão de oito anos.

"Mas também não há ensaios clínicos randomizados para obesidade ou tabagismo, que sabemos que matam."

Enquanto isso, evidências observacionais são abundantes. Após o governo japonês lançar uma campanha para persuadir as pessoas a reduzir o consumo de sal no final da década de 1960,  a ingestão caiu  de 13,5 g para 12 g por dia. No mesmo período, houve quedas na pressão arterial e uma  redução de 80% na mortalidade por AVC . Na Finlândia, a ingestão diária de sal caiu de 12 g no final da década de 1970 para apenas 9 g em 2002, e houve uma redução de 75-80% nas mortes por AVC e doenças cardíacas no mesmo período.

Fonte: https://www.bbc.com/future/article/20181029-eating-less-salt-benefits

O Papa: a sede de Jesus na cruz é a nossa também. Clamor de uma humanidade ferida

Audiência Geral, 03/09/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

A catequese de Leão XIV na Audiência Geral foi marcada pelas palavras finais de Jesus na cruz: "Tenho sede" e "Tudo está consumado". "Se até o Filho de Deus escolheu não ser autossuficiente, então a nossa sede, de amor, de sentido, de justiça, não é um sinal de fracasso, mas de verdade", disse o Papa, ressaltando que "esta verdade, aparentemente tão simples, é difícil de aceitar", pois "vivemos numa época que preza a autossuficiência, a eficiência e o desempenho".

https://youtu.be/1c_FylaXyTg

Mariangela Jaguraba - Vatican News

A Praça São Pedro acolheu milhares de fiéis para a Audiência Geral desta quarta-feira, 03 de setembro, em que o Papa Leão XIV deu continuidade ao ciclo de catequeses dedicado ao tema “Jesus Cristo nossa Esperança”.

As palavras de Jesus "Tenho sede" e logo depois "Tudo está consumado", proferidas na cruz, foram o centro da catequese deste encontro semanal com os fiéis.

"São palavras finais, mas carregadas de uma vida inteira, que revelam o sentido de toda a existência do Filho de Deus. Na cruz, Jesus não aparece como um herói vitorioso, mas como um mendigo de amor. Não proclama, não condena, não se defende. Pede humildemente o que não pode dar a si mesmo", frisou o Pontífice, acrescentando:

“A sede do Crucificado não é apenas a necessidade fisiológica de um corpo torturado. É também, e sobretudo, a expressão de um desejo profundo: o de amor, de relação, de comunhão. É o grito silencioso de um Deus que, tendo querido partilhar tudo sobre a nossa condição humana, deixa-se passar também por essa sede.”

Abertura confiante aos outros

Um Deus que não se envergonha de pedir e com este gesto nos diz "que o amor, para ser verdadeiro, deve também aprender a pedir e não apenas a dar". Assim, Jesus "manifesta a sua humanidade e a nossa também". "Nenhum de nós é autossuficiente. Ninguém se pode salvar sozinho", disse ainda o Papa. "A vida 'consuma-se' não quando somos fortes, mas quando aprendemos a receber. Nesse momento, depois de ter recebido de estranhos uma esponja embebida em vinagre, Jesus proclama: Está consumado. O amor tornou-se carente e, precisamente por isso, consumou a sua obra", sublinhou.

“Este é o paradoxo cristão: Deus salva não fazendo, mas deixando-se fazer. Não vencendo o mal pela força, mas aceitando plenamente a fragilidade do amor. Na cruz, Jesus nos ensina que a realização humana não se alcança pelo poder, mas pela abertura confiante aos outros, mesmo quando hostis e inimigos.”

Capacidade de nos deixarmos amar 

Segundo Leão XIV, "a salvação não reside na autonomia, mas em reconhecer humildemente as próprias necessidades e saber exprimi-las livremente".

“A consumação da nossa humanidade no plano de Deus não é um ato de força, mas um gesto de confiança. Jesus não salva com uma reviravolta dramática, mas pedindo algo que Ele não pode dar a si mesmo. E aqui abre-se uma porta para a verdadeira esperança: se até o Filho de Deus escolheu não ser autossuficiente, então a nossa sede — de amor, de sentido, de justiça — não é um sinal de fracasso, mas de verdade.”

De acordo com o Papa, "esta verdade, aparentemente tão simples, é difícil de aceitar", pois "vivemos numa época que preza a autossuficiência, a eficiência e o desempenho. No entanto, o Evangelho nos mostra que a medida da nossa humanidade não é o que podemos conquistar, mas a nossa capacidade de nos deixarmos amar e, quando necessário, até mesmo ajudar".

A nossa fragilidade é uma ponte para o céu

"Jesus nos salva mostrando que pedir não é indigno, mas libertador. É a saída do esconderijo do pecado, para reentrar no espaço da comunhão. Desde o princípio, o pecado gerou vergonha. Mas o verdadeiro perdão surge quando conseguimos encarar a nossa necessidade e deixar de temer a rejeição", ressaltou.

“A sede de Jesus na cruz é a nossa também. É o clamor de uma humanidade ferida que ainda procura água viva. Essa sede não nos afasta de Deus, na verdade une-nos a Ele. Se tivermos a coragem de a reconhecer, podemos descobrir que até a nossa fragilidade é uma ponte para o céu. Precisamente no pedir — não no possuir — abre-se um caminho para a liberdade, porque deixamos de fingir que somos suficientes para nós mesmos.”

"Na fraternidade, na vida simples, na arte de pedir sem vergonha e de oferecer sem cálculos, reside uma alegria desconhecida para o mundo. Uma alegria que nos restitui à verdade original do nosso ser: somos criaturas feitas para dar e receber amor", sublinhou ainda Leão XIV que, concluindo sua catequese, disse que "na sede de Cristo podemos reconhecer toda a nossa sede e aprender que não há nada mais humano, nada mais divino, do que poder dizer: tenho necessidade. Não tenhamos medo de pedir, sobretudo quando sentimos que não merecemos. Não tenhamos vergonha de estender a mão. É aí, nesse gesto humilde, que se esconde a salvação".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 2 de setembro de 2025

A surpreendente história da fonte de São Miguel Arcanjo construída em Paris

Ivan Mateev / Shuttertock

Loo Burnett - publicado em 10/09/23 - atualizado em 02/09/25

Ela é considerada por muitos como a fonte mais relevante de toda a França.

Quando encontramos um monumento erguido em honra ao Arcanjo Miguel, pode apostar que por trás da construção sempre haverá uma história surpreendente. Este é o caso da Fonte de São Miguel Arcanjo, localizada no Quartier Latin em Paris. Considerada a fonte mais importante da cidade – há quem diga ser a mais relevante da França - tem a imagem do arcanjo derrotando Satanás, e intriga turistas, fiéis e curiosos.

Trata-se de uma escultura a céu aberto, ao lado esquerdo do rio Sena e a exatos quinhentos metros da Catedral de Notre-Dame. O fontanário, projetado pelo arquiteto Gabriel Davioud, foi esculpido pelo artista Francisque-Joseph Duret e inaugurado em 1860. 

Mas, por que a escolha do Arcanjo Miguel como figura central? Sob o governo de Napoleão III a proposta do arejamento urbano da cidade fora encomendada pelo barão de Haussmann, o então prefeito de Paris. A obra a ser realizada para dar acabamento a uma fachada predial receberia uma escultura de Napoleão I. Devido a insistência da junta municipal, que desejava homenagear uma afamada capela dedicada a São Miguel - que outrora fizera parte da região -, a decisão teria sido unânime: honrar o príncipe dos anjos. O bairro Quartier-Latin, prestigiado por consideráveis universidades como a Universidade Paris-Sorbonne, conta com a belíssima fonte de São Miguel.

Fonte de São Miguel em Paris retrata o triunfo do bem contra o mal | Loo Burnett.

A simbologia da Fonte

Há quem pare em frente da fonte para obter imagens fotográficas como registro de viagem, mas há que junte as mãos em oração diante de tão poderosa criatura celeste. Inspirada no quadro do pintor Raffaello Sanzio - Saint-Michel terrassant le démon (1518), o fontanário do Arcanjo oferece inúmeros significados. O triunfo do bem sobre o mal, representado pelo anjo suplantando o inimigo aos seus pés, é o tema universal da iconografia micaélica. São Miguel vence o inimigo, como na prova dos anjos e como será no fim, segundo o Livro do Apocalipse 12:7-12.

O arcanjo posiciona-se com os braços ao alto; a mão direita porta a espada flamejante enquanto a esquerda aponta o indicador ao céu. Esta ação revela que o poder vem do alto e que para aniquilar Satanás é necessário contar com a força e a permissão divina. As asas entreabertas estão mostrando que ele ainda não descansou na batalha contra as forças do mal;  há muito o que se fazer. Em frente ao monumento encontramos duas quimeras aladas – criaturas mitológicas composta por partes de diversos animais - que se portam em postura de guarda.

No conjunto da obra e sobre Miguel, quatro estátuas retratam as virtudes cardinais: prudência, força, justiça e temperança. As imagens das virtudes estão dispostas em duplas e separadas por querubins e dois brasões com as iniciais SM, ajuntados a colares de concha. O brasão é um símbolo da mais alta Ordem da cavalaria francesa, a Ordem dos Cavaleiros de São Miguel, instituída no século XV pelo rei Luís XI.

São Miguel, ao longo dos séculos, conquistou inúmeros devotos franceses, de santos a imperadores, tanto que Carlos Magno consagrou seu império ao arcanjo para ser o patrono da França. Não faltam santos, reis e nobres para testemunhar, através de obras hagiográficas, templos e monumentos, os grandes feitos do Arcanjo Miguel. A Fonte de São Miguel em Paris é mais uma expressão de amor e gratidão à inestimável proteção do anjo mais importante do Céu.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2023/09/10/a-surpreendente-historia-da-fonte-de-sao-miguel-arcanjo-construida-em-paris/

O báculo e a cruz: símbolos de proximidade

O Báculo Episcoral (Pílulas Litúrgicas)

O BÁCULO E A CRUZ: SÍMBOLOS DE PROXIMIDADE 

02/09/2025

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

Assinar este artigo em diálogo com o livro Coração de Pastor, de Dom João Bosco Óliver de Faria, é deixar-se guiar por páginas que são, ao mesmo tempo, memória e profecia. O autor não escreve como teórico distante, mas como quem viveu com intensidade o ministério episcopal e o traduziu em testemunho espiritual. Sua obra é um espelho no qual cada bispo pode rever-se e, ao mesmo tempo, ser interpelado. 

Entre as imagens mais belas e fortes que encontrei está a do báculo. Dom João Bosco afirma que essa insígnia só tem sentido se houver rebanho, razão pela qual bispos auxiliares ou que exercem funções diplomáticas não o utilizam. Isso devolve ao báculo a sua dignidade original: não se trata de um bastão decorativo, mas de instrumento de proximidade. O bispo não conduz a distância, mas caminha à frente, com o báculo na mão, sustentando os fracos, corrigindo os que se perdem, amparando os cansados. 

Essa reflexão remete diretamente à imagem do saudoso papa Francisco quando pedia que o pastor “tenha cheiro das ovelhas”. O báculo, símbolo exterior, só adquire verdade quando acompanhado da presença concreta, do contato com a vida do povo. Quantas vezes, em minha própria caminhada, percebi que não era o discurso mais elaborado, mas a mão estendida ou a visita inesperada que revelava ao povo o verdadeiro sentido do pastoreio. O livro de Dom João Bosco insiste nisso: o bispo pertence ao povo, sua vida e seu tempo não são seus, mas daqueles que lhe são confiados. 

A Cruz Peitoral (Pílulas Litúrgicas)

Outra frase que me impressionou está ligada à cruz do bispo: “O Domingo de Ramos dura pouco na vida de um Bispo”. É uma síntese realista, fruto de uma vida inteira. O ministério episcopal não é sustentado por aplausos, mas pela cruz. Há momentos em que a aclamação dá lugar à solidão, e é justamente nesse espaço que se revela a autenticidade do chamado. O báculo sem cruz se reduz a poder humano; a cruz sem báculo pode tornar-se isolamento estéril. Mas báculo e cruz, juntos, recordam que o pastor guia e se sacrifica, conduz e oferece a vida. 

Esse realismo pastoral salva o episcopado da tentação de ser mera administração. Quantas vezes se corre o risco de reduzir a missão a números, relatórios ou planejamentos? O livro nos recorda que não somos executivos, mas pastores; não somos gestores de uma empresa, mas servidores de um rebanho. O báculo é instrumento de guia; a cruz é o preço do amor. 

Ao longo das páginas, percebi que Dom João Bosco une símbolos e vida concreta. Ele não trata o báculo como objeto, mas como extensão da missão. Não fala da cruz como metáfora, mas como experiência cotidiana. É essa unidade que me impressiona e que me faz dizer que sua obra é, de fato, uma catequese sobre o episcopado. 

Concluo sublinhando que Coração de Pastor é uma leitura obrigatória para quem deseja compreender o que significa ser bispo na Igreja sinodal e missionária que hoje vivemos. O báculo e a cruz continuam a nos recordar que somos chamados a estar próximos, conduzir, sustentar e oferecer a vida. É um testemunho que nos convida a renovar cada dia a nossa entrega, com a certeza de que o verdadeiro pastor não vive para si, mas para o rebanho que Deus lhe confiou. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A "Moreneta" brasileira dos Papas

Leão XIV reza diante da imagem de Nossa Senhora de Montserrat (Vaticam Media)

Doada em 1963 ao Papa Paulo VI, a escultura de madeira setecentista da Madonna de Montserrat há 15 anos participa das principais celebrações pontifícias no Vaticano. Goza de ótima saúde graças aos dois check-ups anuais realizados pelos restauradores dos Museus Vaticanos.

Paolo Ondarza – Cidade do Vaticano

Há quatorze anos uma “paciente” especial visita regularmente o Laboratório de restauração de pinturas e materiais de madeira dos Museus Vaticanos. Trata-se de uma estátua ligna que reproduz a Virgem de Montserrat do século XV, padroeira da Catalunha, conhecida como Moreneta ou Virgem Negra de Montserrat. No verão de 1963, por ocasião de sua eleição ao sólio pontifício, foi doada ao Papa Paulo VI pelo então presidente do Brasil, João Goulart. A imagem foi esculpida no país sul-americano ainda no século XVIII e recriava em madeira de castanheira a imagem da Virgem.

Stefania Colesanti com a imagem de Nossa Senhora de Montserrat (Vaticam Media)

A pele mais clara

Ao contrário da imagem original da Virgem de Montserrat, conhecida pela pele escura, o exemplar hoje no Vaticano tem a pele clara. Está vestida com uma roupa ricamente decorada e inflada pelo vento. Originalmente usava também um colar e brincos. Os olhos, muito delicados, são feitos de pasta vítrea. Nos braços, segura o Menino Jesus que abençoa com a mão direita enquanto segura um globo  com a esquerda. Papa Montini, grande admirador de esculturas de madeira, mandou colocá-la na antessala pontifícia.

A estátua na época em que estava nos aposentos pontifícios (Vaticam Media)

De Paulo VI a Bento XVI

Desde 2011, por vontade de Bento XVI, a escultura acompanha as principais celebrações pontifícias na Basílica Vaticana ou na Praça de São Pedro. Para manter inalterada a sua notável beleza, esta obra preciosa, sujeita a movimentações frequentes, recebe três lustres aos cuidados de Stefania Colesanti, mestre restauradora do Laboratório dos Museus Vaticanos.

“Há quase trinta anos me ocupo de esculturas de madeira: é uma paixão minha”, explica ela, sem esconder um vínculo especial — profissional, afetivo e espiritual — com a Madonna de Montserrat. “Quando ela chegou aqui em 2011 apresentava problemas de conservação: além de depósitos consistentes de poeira, uma mão havia se desprendido. Então restauramos a estrutura de madeira e limpamos a peça.”

Detalhe da mão da Virgem de Montserrat (Vaticam Media)

Uma obra preciosa

A técnica decorativa que caracteriza esta obra é conhecida como “estofado de ouro”: o artista brasileiro recobriu a superfície de madeira com uma preparação de gesso e cola, ou seja, aplicou o chamado bolo armênio, que então recebeu a folha de ouro e, em seguida, a cor a por meio da técnica de têmpera. “Os forros internos do manto são prateados”, observa a restauradora, “a parte externa, por sua vez, apresenta uma maravilhosa decoração floral bastante bem conservada. Originalmente tinha um verde-esmeralda com reflexos dourados, que infelizmente se perdeu”.

O uso de Posidonia na restauração (Vaticam Media)

O restauro e a conservação

A última intervenção de conservação foi realizada com recurso a técnicas experimentais, inovadoras e sustentáveis. Do laser ao uso da “posidonia”: “uma planta marinha com a qual realizei uma reintegração muito natural da madeira”. Graças aos dois “check-ups” anuais aos quais é submetida, a Madonna de Montserrat do Papa goza de boa saúde. “No início eu também acompanhava a imagem em seus deslocamentos. Depois, como o trabalho era muito, eu não pude mais fazê-lo”, confessa a restauradora. “Estou sempre em contato com ela. Informo-me constantemente sobre o estado da película, do suporte, das condições gerais...”. É por isso que, apesar da idade, a Moreneta de pele clara continua a “trabalhar” o ano inteiro.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

EXPOSIÇÕES: Retornando às nossas origens

A inauguração da exposição no Palazzo della Cancelleria de Roma em 14 de setembro de 2001; a partir da esquerda, Arcebispo de Tarragona Lluís Martínez Sistach, Cardeal Paul Poupard (Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura), Arcebispo de Barcelona Ricardo María Carles Gordó, Presidente Jordi Pujol e Cardeal Zenon Grocholewski (Prefeito da Congregação para a Educação Católica) | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 10 - 2001

Catalunha no Vaticano

Retornando às nossas origens

A exposição itinerante "Germinabit. Expressão religiosa em catalão no século XX" foi inaugurada no Palazzo della Cancelleria, em Roma. Isso não foi coincidência, dada a tradição romana da Igreja Catalã. Estas páginas apresentam as palavras de abertura do Presidente do Governo Catalão e dos Arcebispos de Barcelona e Tarragona.

por Jordi Pujol

Há quatro meses, apresentamos o terceiro e último volume do Dicionário de História Eclesiástica da Catalunha no Palácio da Generalitat de Barcelona , ​​em uma cerimônia que contou com a presença de um grande número de bispos das oito dioceses sediadas na Catalunha. Hoje, em clara continuação do evento de junho, nos reunimos neste palácio renascentista romano para inaugurar a exposição "Germinabit", cujo objetivo principal é destacar o dinamismo da Igreja Católica na Catalunha durante o século XX.

De fato, o Dicionário foi a contribuição da Generalitat da Catalunha para o Conselho Provincial de Tarragona de 1995, que representa o renascimento de uma rica e antiga tradição conciliar. E a exposição "Germinabit: Expressão Religiosa em Língua Catalã no Século XX" é uma iniciativa que complementa o trabalho histórico sob uma perspectiva educativa. Foi ideia dos diretores das quatro bibliotecas organizadoras: a da Abadia de Montserrat, a Biblioteca de Balmes, a Biblioteca Borja de Sant Cugat del Vallès e a Biblioteca Pública Episcopal do Seminário de Barcelona, ​​quando decidiram buscar o apoio da Generalitat da Catalunha para levar a cabo esta iniciativa.

O governo da Generalitat respondeu afirmativamente ao seu pedido. Foi uma resposta que se inscreveu na linha de colaboração que o nosso governo, desde a sua reintegração em 1977, no âmbito da transição política espanhola, tem procurado manter com a Igreja Católica na Catalunha.

A Catalunha não existiria como povo sem o papel vital desempenhado pelo cristianismo e pela Igreja. Os bispos catalães recordaram isso em 1986, num documento coletivo intitulado Raízes Cristãs da Catalunha . Recordaram isso à Catalunha e recordaram isso à própria Igreja.

Estas raízes remontam a mais de 1200 anos. Ao longo destes séculos, a Catalunha moldou e defendeu a sua identidade sempre que necessário. Como mencionei, os valores defendidos pela Igreja contribuíram enormemente para isso.

Essa contribuição foi particularmente importante no século XX. Foi um século de renascimento da Catalunha, após um longo período de declínio e, muitas vezes, de perseguição.

Um século caracterizado pela criatividade, em todas as esferas, da econômica à artística e cultural. Foi um século de recuperação catalã. Mas também um século de convulsões, conflitos e tensões. Ao longo desse tempo, a Igreja acompanhou solícitamente o povo catalão, nos bons e maus momentos, nos tempos de esplendor e nos tempos de perseguição. Perseguição da Catalunha e até da Igreja. Grandes eclesiásticos como o Bispo Torres i Bages e os Cardeais Vidal i Barraquer, Albareda e Vives i Tutó, movimentos apostólicos, renovação litúrgica e piedade popular garantiram que a Igreja estivesse sempre presente.

A Catalunha é um país que sempre buscou basear sua identidade não em questões étnicas ou estritamente políticas, mas na cultura. Na cultura, na língua, na arte, no direito. É por isso que nos identificamos tão fortemente com as palavras do Papa João Paulo II, quando em 1980 falou à UNESCO sobre o direito dos povos à sua própria cultura e língua, ou quando o reiterou em Tóquio em 1981, ou quando falou dos direitos e deveres das nações em 1989, ou nas Nações Unidas em 1995. Quando falou da necessidade de pontes entre as línguas, quando falou de identidade e diálogo, que, segundo o Santo Padre, significa liberdade e solidariedade. E quando falou de respeito pelas minorias.

Hoje, a Catalunha vive uma fase de progresso econômico e social e está alcançando um reconhecimento que não desfrutava há séculos. Um reconhecimento político e cultural, e obviamente linguístico. Duas línguas coexistem pacificamente e positivamente: o catalão nativo da Catalunha, que lhe confere personalidade própria, é oficial ao lado do castelhano (que por sua vez, especialmente desde a imigração no século XX, se tornou a língua familiar de alguns cidadãos da Catalunha). E uma das razões da autoestima catalã é justamente a capacidade de integrar tantas pessoas do exterior e alcançar um bom nível de convivência. A Igreja também contribuiu para tudo isso. E contribuiu significativamente. E somos muito gratos. Nesse sentido, não esqueçamos que hoje toda a nossa sociedade enfrenta um desafio semelhante com novos movimentos migratórios. Esperamos que, todos juntos, consigamos superá-lo também desta vez.

Portanto, como Presidente do Governo da Catalunha, tenho todos os motivos para estar feliz por estar presente na inauguração desta exposição. Porque é um reconhecimento do trabalho da Igreja ao longo do século XX.

Um reconhecimento e também um gesto de afirmação. A exposição não só expõe publicações e obras artísticas, como também presta homenagem ao tecido eclesial que surgiu na Catalunha durante o século XX, na forma de instituições de todos os tipos que realizaram uma infinidade de projetos educativos, culturais, beneficentes e sociais. E este reconhecimento, este gesto de afirmação, será feito em todas as dioceses catalãs; mas é apropriado que comece em Roma, para seguir a tradição romana da Igreja Catalã.

Não vou falar em detalhes sobre toda a exposição, seu conteúdo, publicações ou obras de arte. Ela fala por si. Em última análise, é um exemplo claro da fusão de fé e cultura, arte e linguagem, religiosidade e criatividade.

Em vez disso, para concluir, gostaria de fazer um desejo. Vivemos em uma era em que os valores espirituais, em geral, estão sendo postos à prova. Vivemos em uma era, por assim dizer, de cansaço em nossas sociedades.

A mesma coisa, mais ou menos, está acontecendo em toda a Europa. E isso é sério, porque precisamos de uma certa tensão moral, de valores sólidos, de algo em que basear nossa confiança e esperança.

Toda a história europeia nos lembra que esses valores, em grande parte, nos foram dados pelo cristianismo. Foi assim na Catalunha, foi assim na Espanha, foi assim na Europa. Com esta exposição, expressamos nosso desejo e confiança de que assim será sempre. E assim será na medida em que todos soubermos propor. Deus nunca nos dá as coisas prontas.
Resta-me agradecer sinceramente a todas as instituições organizadoras, a começar pelas quatro bibliotecas por sua iniciativa, e aos diretores do Dicionário de História Eclesiástica da Catalunha por sua tenacidade. E gostaria de agradecer especialmente a Dom Agostino Cacciavillan e Dom Claudio Maria Celli, presidente e secretário, respectivamente, da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, por sua sensibilidade. E, claro, a todas as pessoas que trabalharam com entusiasmo durante meses para tornar "Germinabit" uma realidade hoje.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF