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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Pare e adore: A visita ao Santíssimo Sacramento (Parte 1/2)

Crédito: Opus Dei.

Pare e adore: A visita ao Santíssimo Sacramento

Esta prática constitui uma profunda expressão de fé e amor a Cristo na Eucaristia. Em meio aos afazeres cotidianos, oferece uma ocasião de encontro com Deus, um descanso em sua presença, que traz consolo e guia para a vida diária.

07/08/2025

São Josemaria recordava com alegria como os anjos participam na adoração contínua a Cristo, especialmente em sua presença sacramental. Tal pensamento estimulava-o a unir-se a este culto através de algumas devoções eucarísticas; uma delas é a visita ao Santíssimo Sacramento.

Desde os primeiros séculos, os cristãos procuraram modos de expressar sua fé através de práticas de piedade além dos sacramentos, como a veneração de relíquias, de sepulcros de mártires e de lugares sagrados. Embora as espécies eucarísticas tenham sempre sido honradas inclusive fora da celebração, só se converteram em objeto de veneração particular fora da Missa no início do segundo milênio, na liturgia romana. Neste contexto, o IV Concílio de Latrão (1215) reafirmou a doutrina da presença real de Cristo na Eucaristia, condenou os ensinamentos Berengário de Tours – que negava esta presença – e enfatizou a necessidade de adorar a Cristo no Santíssimo Sacramento.

Algumas ordens religiosas, particularmente os cistercienses, fomentaram esta devoção, e teólogos como São Tomás de Aquino contribuíram no desenvolvimento da doutrina da presença real do Senhor na Eucaristia. Surgiram inovações litúrgicas que intensificaram a piedade eucarística, como a elevação da hóstia depois da consagração, a reserva eucarística e a prática da comunhão espiritual, manifestações do crescente desejo de honrar Jesus na Eucaristia.

Com a instituição da festa do Corpus Christi, celebrada pela primeira vez em Liège em 1246 e estendida a toda a Igreja pela bula Transiturus de hoc mundo do Papa Urbano IV, surgiram os primeiros testemunhos da prática da visita ao Santíssimo. Neste período, as beguinas (um grupo de mulheres que viviam em celas construídas em volta da abside da igreja, com uma abertura para o altar) seguiam a regra de rezar de joelhos o cumprimento ao Santíssimo nas celas, ao levantar-se. Ao longo dos séculos, a devoção para com a Eucaristia fortaleceu-se, em parte graças à reserva do Santíssimo em igrejas e capelas, o que facilitava o acesso dos fiéis. O Concílio de Trento reafirmou a prática da adoração eucarística e promoveu o culto ao Santíssimo Sacramento.

Os primeiros sacrários

“A sagrada Reserva (no sacrário) era primeiro destinada a guardar dignamente a Eucaristia para que pudesse ser levada, fora da missa, aos doentes e aos ausentes. Pelo aprofundamento da fé na presença real de Cristo em sua Eucaristia, a Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor presente sob as espécies eucarísticas”[1].

Nessa tomada de consciência, tiveram um papel importante as chamadas confrarias do Santíssimo Sacramento, que garantiam a reserva eucarística nas igrejas. Elas se espalharam por toda a Europa durante a baixa Idade Média, com notável proliferação na Itália e encarregaram-se de promover a participação ativa dos fiéis na adoração eucarística, destacando-se seu apoio às procissões de Corpus Christi. Neste marco, os barnabitas e Santo Antônio Maria Zaccaria tiveram um papel relevante na promoção do culto eucarístico, especialmente na organização das exposições do Santíssimo.

Mais tarde, surgiu a devoção das quarenta horas, que, como o nome indica, consistia na exposição ininterrupta do Santíssimo Sacramento durante esse tempo, e convidava à meditação da paixão de Cristo e à oração de intercessão e desagravo. Iniciada em Milão e promovida por figuras como Carlos Borromeu, expandiu-se pela Europa e foi consolidada em 1592 pelo Papa Clemente VIII ao instituir a Adoração Perpétua em Roma, contribuindo assim com a prática da visita ao Santíssimo.

A adoração da criatura ao Criador

Quando os magos chegaram a Belém, São Mateus relata: “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram” (Mt 2, 11). Este gesto manifesta a atitude própria do ser humano que, ao reconhecer-se criatura, prostra-se diante de seu Criador[2]. Mais do que um ato exterior, adorar é uma entrega do corpo e da alma, um reconhecimento profundo da nossa total dependência de Deus, diante de quem nos inclinamos com respeito e submissão absolutos, com a consciência de que nossa existência só tem sentido nele[3].

Dom Javier Echevarría expressava-o dizendo que “caímos em adoração, atitude necessária, porque somente assim manifestamos adequadamente acreditar que a Eucaristia é Cristo verdadeira, real e substancialmente presente com seu Corpo, seu Sangue, sua Alma e sua Divindade”[4]. São Josemaria também convidava a ter essa disposição: “Agiganta a tua fé na Sagrada Eucaristia. Pasma ante essa realidade inefável: temos Deus conosco, podemos recebê-lo cada dia e, se quisermos, falamos intimamente com Ele, como se fala com o amigo, como se fala com o irmão, como se fala com o pai, como se fala com o Amor”[5].

Alguns gestos ajudam a manifestar também com o corpo a adoração. Um deles é “A genuflexão, que se faz dobrando o joelho direito até ao solo, significa adoração; é por isso reservada ao Santíssimo Sacramento”[6]. Bento XVI destacava isso dizendo que “a genuflexão diante do Santíssimo Sacramento ou ficar de joelhos durante a oração exprimem precisamente a atitude de adoração diante de Deus, também com o corpo. Daí a importância de não fazer este gesto por hábito ou depressa, mas com consciência profunda. Quando nos ajoelhamos diante do Senhor confessamos nossa fé nele, reconhecemos que Ele é o único Senhor de nossa vida”[7].

Hoje em dia, pode parecer que o homem perdeu o sentido da adoração, a necessidade do culto em silêncio. O Papa Francisco comenta, no entanto, que “a Eucaristia é a resposta de Deus à fome mais profunda do coração humano, à fome de vida autêntica: nela o próprio Cristo está realmente no meio de nós para nos alimentar, consolar e sustentar ao longo do caminho”[8]. No pão eucarístico encontramos aquilo que afinal, nosso coração procura, mas que só Deus pode dar: um amor incondicional que sacia plenamente o nosso desejo de amar e ser amado. Na adoração eucarística podemos nos inclinar no peito do Senhor, como o discípulo amado, e deixar-nos abraçar por Ele. Porque ao ficar conosco na Eucaristia, Deus demonstra que “não é um ser longínquo, que contemple com indiferença a sorte dos homens, seus anseios, suas lutas e angústias. É um Pai que ama seus filhos até o extremo de lhes enviar o Verbo, Segunda Pessoa da Trindade Santíssima, para que, pela sua encarnação morra por eles e nos redima; o mesmo Pai amoroso que agora nos atrai suavemente a si, mediante a ação do Espírito Santo que habita em nossos corações”[9]


[1] Catecismo da Igreja Católica, n. 1379

[2] Cfr. Ibid, n. 2628

[3] Cfr. Ibid, n. 2097

[4] Javier Echevarría, Carta Pastoral, 6/10/2004, n. 6

[5] Forja, n. 268

[6] Instrução geral do missal romano, n. 274

[7] Bento XVI, Audiência, 27/06/2012.

[8] Francisco, Discurso aos membros do comitê de organização do Congresso Eucarístico Nacional dos Estados Unidos da América, 19/06/2023.

[9] É Cristo que passa n. 84

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/pare-e-adore-a-visita-ao-santissimo-sacramento/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF