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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Não passe à frente

Carregar a sua cruz | YouTube.

NÃO PASSE À FRENTE

09/09/2025

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

“Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). Nesta sentença breve, o Evangelho concentra uma gramática inteira do seguimento que tem a cruz como condição e a posição do discípulo como alguém que vem “atrás”. O grego sublinha o caráter continuado do gesto (bastázei, “carrega”, no presente durativo) e a relação espacial e existencial do seguimento (érchetai opíso mou, “vem atrás de mim”). Trata-se de uma forma de vida moldada passo a passo no ritmo de Cristo. A correção dirigida a Pedro: “Vai para trás de mim” (Mt 16,23) torna explícita essa disposição. O erro do apóstolo não foi apenas doutrinário, foi posicional.

Ao tentar afastar a cruz, Pedro passou à frente do Senhor, e a voz de Jesus, mais que refutar um argumento, recoloca o discípulo em seu lugar. O problema do coração humano, porém, é que não nasce pronto para aceitar esse lugar. O livro da Sabedoria enuncia com lucidez: “o corpo corruptível torna pesada a alma, e a tenda de barro oprime a mente preocupada com muitas coisas” (Sb 9,15). A frase grega acentua tanto a precariedade (phthartón sōma, corpo corruptível) quanto a gravidade que se abate sobre a alma (barynei psychēn, pesa a alma). Não é um desprezo do corpo, mas do reconhecimento de que a condição mortal, quando deixada a si mesma, multiplica cuidados, dispersa o desejo, puxa a vida para baixo. Paulo retoma a imagem da tenda (2Cor 5,1-4) para falar do provisório que geme em nós; e, Romanos 7, descreve a tensão de uma vontade dividida, na qual o bem reconhecido não se realiza com facilidade. Aqui insere-se a exegese espiritual do “peso”. Não apenas a fadiga física, mas a densidade de amores desordenados que nos inclinam a “chegar antes” de Deus.

Orígenes, ao comentar a corrida da alma atrás do Esposo no Cântico, percebe esse arrasto como apego que retarda o desejo; só o Espírito, diz ele, sustenta a alma para que corra sem se esgotar.

O amor curvado sobre si arrasta para baixo; a caridade, orientada para Deus, dá à alma uma nova gravidade que a eleva. O Evangelho assume esse drama e o transfigura com a forma pascal. “Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9,23). É um convite a recusar a pretensão de ditar os termos do caminho. O Cristo que “se esvaziou” e “fez-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,6-11) revela essa obediência filial como a verdade da liberdade.

Em Cristo, a finitude humana, descrita por Rahner como a condição transcendental que nos abre ao Mistério, torna-se um “sim” radical ao Pai. A cruz, lugar em que toda autossuficiência se cala, é também o lugar onde a liberdade finita é dilatada pela graça numa obediência que personaliza. Por isso, o jugo de Cristo se manifesta paradoxalmente “suave” e seu fardo “leve” (Mt 11,30).

Sob o regime da caridade, o peso muda de qualidade

Se perguntamos, então, o que de fato impede o seguimento, a resposta já não é “a cruz em si”, mas o impulso de evitá-la; não é o peso do madeiro, mas o peso da de se colocar à frente. O orgulho que prefere mandar a obedecer; a ansiedade que confunde missão com eficiência; a ideologização que usa o nome de Jesus para selar agendas; o apego à reputação que recusa a humilhação evangélica (1Cor 1,23); a impaciência que não suporta o tempo do Reino (Mc 4,26-29). Tudo isso nos desloca do lugar “atrás” para a vã pretensão de ir à frente.

O antídoto bíblico é uma purificação do olhar e do passo: “deixemos de lado tudo que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição… com os olhos fixos em Jesus, que vai a frente da nossa fé… [e] Em vista da alegria que o esperava, suportou a cruz” (Hb 12,1-2).

Fixar o olhar naquele que vai à frente nos restitui a posição do discípulo; e, restituída a posição, a cruz torna-se praticável. A Eucaristia é a escola terna e severa dessa disposição, pois ali não somos protagonistas, seguimos o Cordeiro (cf. Ap 14,4), aprendendo o ritmo da graça que nos dessubjetiva sem nos despersonalizar, porque nos centra no amor. Na vida concreta, essa pedagogia se traduz em exercícios discretos da obedientia fidei que nos corrige e produz a sobriedade que integra o corpo como aliado, a caridade paciente que ajusta o passo ao dos pequenos (Mt 25), desaprendendo a pressa que nos fazia correr à frente.

Se em Sabedoria o “peso” aparece como obstáculo, em Paulo ele é surpreendentemente transfigurado em promessa, pois, “com efeito, o momentâneo, leve peso de nossa aflição, produz para nós, uma glória incomensurável e eterna” (2Cor 4,17).

O que operou a virada? Não foi a subtração da cruz, mas a reposição do discípulo em seu lugar. Atrás de Jesus, o peso que puxava para o chão torna-se gravidade de glória; o fardo que o orgulho tornara insuportável converte-se em algo novo que leva para o alto. A existência passa do horizonte anônimo do Mistério para o consentimento explícito ao Deus de Jesus Cristo.

No fim, permanece o discernimento simples e decisivo: estou atrás ou à frente? A teologia se complica onde este critério se obscurece; e a espiritualidade se desvia onde o discípulo, encantado consigo mesmo, abdica da posição de seguidor. O maior peso, então, não é a cruz, mas é a obstinação de guiar o Guia.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O Papa: aprendamos com Jesus o grito da esperança que não desiste

Audiência Geral, 10/09/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

A catequese de Leão XIV foi centrada na experiência de Jesus crucificado. "Na cruz, Jesus não morre em silêncio", disse o Papa. Ele "deixa a sua vida com um grito" e "este grito abrange tudo: dor, abandono, fé e oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o sinal máximo de uma vida que se entrega", sublinhou o Pontífice.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

A morte de Jesus na cruz foi o centro da catequese do Papa Leão XIV na Audiência Geral, desta quarta-feira (10/09), realizada na Praça São Pedro.

Não obstante o dia nublado e chuvoso, milhares de fiéis e peregrinos participaram deste encontro semanal com o Pontífice.

"Os Evangelhos atestam um pormenor preciosíssimo, que merece ser contemplado com a inteligência da fé: na cruz, Jesus não morre em silêncio. Ele não se apaga lentamente, como uma luz que se consuma, mas deixa a sua vida com um grito: «Então Jesus, soltando um forte grito, expirou». Este grito abrange tudo: dor, abandono, fé e oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o sinal máximo de uma vida que se entrega", disse o Papa Leão.

Grito de confiança

"O grito de Jesus é precedido de uma pergunta, uma das mais pungentes que se pode proferir: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». É o primeiro versículo do Salmo 22, mas nos lábios de Jesus assume um peso singular", frisou o Pontífice, acrescentando:

“O Filho, que sempre viveu em íntima comunhão com o Pai, experimenta agora o silêncio, a ausência, o abismo. Não é uma crise de fé, mas a etapa final de um amor que se entrega completamente. O grito de Jesus não é de desespero, mas de sinceridade, de verdade levada ao limite, de confiança que perdura mesmo quando tudo é silêncio.”

"Deus já não habita atrás de um véu; o seu rosto é agora totalmente visível no Crucifixo. É ali, naquele homem atormentado, que se revela o maior amor", sublinhou o Papa, ressaltando que o centurião, que era um pagão, compreendeu, mas não "porque ouviu um discurso, mas porque viu Jesus morrer daquela maneira". Ele disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!».

“É a primeira profissão de fé após a morte de Jesus. É o fruto de um grito que não se perdeu no vento, mas tocou um coração. Por vezes, o que não conseguimos expressar com palavras, expressamos com a voz. Quando o coração está cheio, clama. E isso nem sempre é sinal de fraqueza; pode ser um profundo ato de humanidade.”

Gritar, um gesto espiritual

De acordo com o Papa, "o Evangelho dá ao nosso clamor um imenso valor, lembrando-nos que pode ser uma invocação, um protesto, um desejo, uma entrega. De fato, pode ser a forma suprema da oração, quando já não nos restam mais palavras. Naquele grito, Jesus colocou tudo o que lhe restava: todo o seu amor, toda a sua esperança".

"Uma esperança que não desiste. Gritamos quando acreditamos que alguém ainda pode ouvir. Clamamos não por desespero, mas por desejo. Jesus não gritou contra o Pai, mas para Ele. Mesmo em silêncio, estava convencido de que o Pai estava ali. E assim nos mostrou que a nossa esperança pode gritar, mesmo quando tudo parece perdido", disse ainda o Pontífice.

“Gritar torna-se então um gesto espiritual. Não é apenas o primeiro ato do nosso nascimento — quando viemos ao mundo chorando — é também uma forma de nos mantermos vivos. Gritamos quando sofremos, mas também quando amamos, chamamos, invocamos. Gritar é dizer que estamos aqui, que não queremos nos esvair em silêncio, que ainda temos algo para oferecer.”

Grito da esperança

O Papa recordou que existem momentos na vida "em que guardar tudo dentro de nós pode consumir-nos lentamente. Jesus nos ensina a não ter medo do clamor, desde que seja sincero, humilde e dirigido ao Pai. Um clamor nunca é em vão, se vier do amor. Nunca é ignorado, se for entregue a Deus. É uma forma de evitar ceder ao cinismo, de continuar acreditando que outro mundo é possível".

Leão XIV concluiu, convidando a aprender com Jesus "o grito da esperança quando chega a hora da provação extrema. Não para magoar, mas para confiar. Não para gritar contra ninguém, mas para abrir o coração. Se o nosso grito for verdadeiro, pode ser o limiar de uma nova luz, de um novo nascimento. Como foi para Jesus: quando tudo parecia terminado, a salvação estava, na verdade, prestes a começar. Se expressada com a confiança e a liberdade dos filhos de Deus, a voz angustiada da nossa humanidade, unida à voz de Cristo, pode tornar-se fonte de esperança para nós e para os que nos rodeiam".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 9 de setembro de 2025

PIO XII: Quando os fatos não escrevem a história

Uma imagem do filme Amém | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 10 - 2002

Quando os fatos não escrevem a história

O filme de Costa Gavras e um novo livro da Kaos Edizioni reacenderam as acusações contra o Papa Pacelli de cumplicidade com o fascismo e o nazismo. Essas acusações, se se aplicam a Pio XII, também deveriam ser dirigidas a figuras como Winston Churchill. Mas, na realidade, os acusadores se recusam a permitir que documentos e evidências históricas falem por si.

por Fabio Silvestri

O controverso tema histórico-político da relação entre o Papa Pio XII e o nazismo de Hitler foi recentemente trazido à atenção do público em geral por um filme controverso do diretor grego Costantin Costa Gavras. Intitulado Amém , o filme , inspirado na peça de grande sucesso, O Deputado , de Rolf Hochhuth, reconta, através do olhar desorientado de um prelado alto, embora jovem, de uma família aristocrática de diplomatas com laços com a Santa Sé, a tragédia do Holocausto, vista da perspectiva da posição da Santa Sé sobre o "extermínio dos judeus".

Em particular, Amém busca revisitar a questão do comportamento de Pio XII não apenas em relação à trágica questão judaica, mas, de forma mais geral, em relação à Alemanha nazista, acusando, mais ou menos explicitamente, se não a conivência do Papa, pelo menos seu silêncio culpável.

Os temas da controvérsia suscitada por este filme sobre a política do Vaticano durante a Segunda Guerra Mundial e a nascente Guerra Fria são revisitados, numa veia ainda mais explicitamente acusatória, num livro recente publicado pela Kaos, intitulado "Deus está conosco!" , que, coerente com a linha editorial claramente anticlerical, defende a substancial cumplicidade da Santa Sé tanto com o fascismo quanto com o nazismo. As origens mais remotas dessa cumplicidade remontam à nunciatura apostólica de Eugenio Pacelli na Alemanha, durante a qual o futuro Papa demonstrou claramente tendências antissemitas e antibolcheviques e, sob esta perspectiva, uma atitude de facto favorável ao nascente nazismo. O ensaio, bastante contundente, reconstitui todos os momentos-chave da carreira histórica de Eugenio Pacelli, procurando destacar, com evidente intenção acusatória, tanto as suas ações como Secretário de Estado quanto como Pontífice. "uma atitude radicalmente hostil ao liberalismo, à democracia e à modernidade", baseada numa concepção substancialmente "temporalista" do papel da Igreja Católica, ou melhor, do papado, a cujos interesses ele estava disposto a "subordinar os imperativos morais e espirituais da religião", e enfatizando "as fortes tendências antijudaicas" de um feroz oponente do demônio comunista, assombrado pelo espectro de uma ameaça judaico-bolchevique capaz de destruir o cristianismo. Deve-se enfatizar aqui que, por exemplo, as acusações de hostilidade ao liberalismo, à democracia e à modernidade são acusações assertivas sem documentação séria. Deve-se enfatizar também que este volume busca criticar a parcialidade e a escassez de documentação histórica, em sua opinião, disponibilizada aos estudiosos pela Santa Sé.

Mas este ensaio busca atribuir outras responsabilidades importantes ao pontificado de Pio XII. Afirma que o Vaticano estava perfeitamente ciente "do que acontecia nos campos de concentração alemães e nos territórios ocupados pelos exércitos de Hitler" e que, diante desse conhecimento, o Papa não conseguiu ir além de uma mensagem genérica e elusiva divulgada no Natal de 1942. Quanto à ação humanitária do Vaticano, ela também é considerada fruto do acaso e de uma generosidade episódica, e certamente não o resultado de uma estratégia precisa concebida e adotada pela Santa Sé.

Além disso, as posições daqueles que consideraram a prudência de Pio XII uma expressão de "realpolitik" destinada a evitar o pior também são atacadas, argumentando que precauções semelhantes nunca foram adotadas pelo Papa diante do "perigo letal" representado pelo ateísmo comunista. De fato, o apoio público que ele expressou durante a brutal Guerra Civil Espanhola às forças lideradas por Francisco Franco, e abertamente apoiadas, política e militarmente, por Hitler e Mussolini, revelaria uma posição muito específica por parte do Papa.

Sobre um tema tão delicado, que voltou com força ao primeiro plano do debate historiográfico, devemos buscar clareza partindo de duas considerações de origens distintas: uma mais ligada ao conteúdo histórico, a outra, metodológica. Não há dúvida de que o Papa Pio XII, e com razão, na sua perspectiva de Vigário de Cristo na Terra e símbolo da religião católica, se opôs tenazmente à ideologia comunista . Isso se devia, aliás, às raízes claramente ateístas e antirreligiosas dessa ideologia e, mais concretamente, às perseguições e extermínios perpetrados pelo regime stalinista, não apenas contra os católicos, mas contra qualquer adversário em geral.

Pio XII recebe em audiência os representantes das comunidades judaicas provenientes dos campos de concentração da Alemanha | 30Giorni

Com base nisso, também é possível que ele tenha inicialmente visto, não apenas Mussolini, mas também o nazismo nascente como a última e mais extrema barreira erguida contra a disseminação do stalinismo (e os eventos na Espanha também devem ser vistos sob essa luz). Mas isso certamente não significa que ele tenha abençoado completamente a política, muito menos a visão de mundo fascista e até nazista. Porque, se fosse esse o caso, as mesmas acusações também teriam que ser feitas a uma figura como Winston Churchill, que, apesar de ter visto, por um longo período da década de 1930, Hitler e Mussolini como um sólido baluarte contra a disseminação do comunismo, então personificado por Stalin — cuja visão econômica minou os próprios fundamentos das chamadas democracias liberais — foi um dos principais adversários do nazismo e arquitetos de sua derrota. Até mesmo os Estados Unidos mantiveram uma posição semelhante por um tempo.

Além disso, ainda no plano político, devemos ter muito cuidado em equiparar a cumplicidade ou a conivência explícita do Papa aos seus silêncios, que poderiam advir, como muitos corretamente destacaram, dos dilemas e incertezas daqueles que, naquela particular contingência histórica, se sentiam presos entre dois males, o menor dos quais não era tão fácil de escolher, ou da necessidade de abrir, por trás do véu da prudência diplomática, um espaço de ação contra os horrores desencadeados pela Segunda Guerra Mundial.

A consideração metodológica aborda diretamente o problema de como chegar a uma interpretação cientificamente correta e, portanto, mais objetiva, de um acontecimento histórico. Benedetto Croce disse que a história não se faz "nem com 'ses' nem com 'mas'", mas sim com base nos testemunhos concretos oferecidos pelos documentos históricos. Isso exige a obrigação, antes de formular qualquer hipótese interpretativa, de considerar todas as fontes e testemunhos disponíveis, e não apenas uma parte deles. Uma prova do que temos dito, extraída das últimas notícias, é fornecida por um documentário recentemente exibido na televisão estatal, especificamente dedicado às "profissões do nazismo". Este documentário relatava que se dizia amplamente que Pio XII tinha tanto medo, num nível estritamente religioso, do nazismo que chegou a recorrer ao exorcismo contra a figura demoníaca de Hitler!

Também não faltam testemunhos, hoje amplamente reconhecidos e amplamente reconhecidos pelos historiadores, relativos às especificidades da relação do Papa com os judeus. Esses testemunhos oferecem uma resposta importante (também porque vêm de figuras proeminentes do próprio mundo judaico) para aqueles que acreditam que uma condenação dramática por Pio XII poderia ter provocado, ou mesmo provocado, o fim do Holocausto. A partir desses testemunhos, ao contrário, fica claro que qualquer intervenção pública e oficial da Santa Sé contra o nazismo teria acelerado as operações de extermínio, colocando também em perigo grande parte do mundo católico, e que o caminho da prudência representava a única opção que restava ao Papa para salvar mais vidas humanas.

Outro testemunho significativo, também do lado judaico e relatado pelo autor deste volume com grande evidência documental, ainda que de forma polêmica, diz respeito a um testemunho dado, novamente a respeito da relação entre Pio XII e o Holocausto, pelo rabino David Dalin , que credita ao próprio Pio XII ter providenciado a salvação de pelo menos 700.000 judeus. Sem se deter nessa afirmação, Dalin vai muito além, argumentando que o Pontífice estava, de fato, extremamente próximo dos judeus justamente no momento em que eles mais precisavam de apoio e assistência, plenamente ciente do ditado talmúdico de que "quem salva uma vida salva o mundo inteiro".

Mas as fontes documentais relativas à controversa relação de Pio XII com a ideologia nazifascista também abordam o que foi descrito como seu anticomunismo visceral, ao qual todas as outras considerações estavam subordinadas. Ora, falar de uma atitude visceralmente anticomunista sem jamais enfatizar as tragédias do stalinismo e as perseguições em nível nacional e internacional, e, em vez disso, negar a complexa relação que Pio XII teve na Itália com as ações dos comunistas, particularmente na resistência, significa deixar de empreender uma análise histórica séria. Deve-se lembrar que, durante a resistência, os católicos na Itália trabalharam em estreita colaboração com os comunistas, e que há evidências claras não apenas do apoio da Santa Sé à resistência de várias maneiras, mas também de sua ação decisiva, concreta e eficaz. disseminada em defesa dos judeus. Há circunstâncias hoje bem conhecidas, como a que envolveu o Papa, nos meses imediatamente anteriores a 25 de julho de 1943, intercedendo, por meio do Cardeal Maglione, junto ao próprio líder do fascismo, Benito Mussolini, para solicitar a libertação de Adriano Ossicini, então detido na prisão de Regina Coeli, como figura de destaque do movimento político de esquerda cristã. Ossicini, embora rejeitasse firmemente a ideologia comunista nos níveis teórico e religioso, colaborou ativamente com os comunistas na luta contra o nazismo.

Deve-se lembrar que De Gasperi e os democratas-cristãos, por um período considerável, colaboraram com os comunistas, mesmo no governo, e certamente sem o veto do Papa. Isso não significa, é claro, uma defesa oficial da conduta do Papa, cuja profunda natureza de diplomata astuto e sutil jamais deve ser esquecida. Mas significa deixar que os próprios documentos históricos falem, considerados naturalmente em sua totalidade e abertos à interpretação legítima de cada indivíduo, desde que isso não signifique distorcer ou explorar seu conteúdo.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dom Vital: A hospitalidade na Regra beneditina e em São Leão Magno

Oração e mãos (Vatican News)

São Bento em sua regra afirmava que na saudação, aos hóspedes, quando se aproximassem ou mesmo quando partissem da sua residência, fosse dada das pessoas que acolhessem os estrangeiros, a atitude de humildade pela presença do Senhor Jesus que foi acolhido.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

A hospitalidade é uma atitude bíblica que coloca a presença de Deus na vida da pessoa que vem de longe ou de perto para a residência humana para pedir ajuda, consolo, uma palavra de esperança e de amor. No dia do juízo é bem presente a palavra de Jesus: “Eu era peregrino e me acolhestes em casa” ( Mt 25, 35). O Senhor Jesus se fará presente nas pessoas que nós acolhermos em nossas vidas. Diante de um mundo de tantas pessoas que se deslocam por causa das mudanças climáticas, guerras, perseguições, violência, é fundamental a acolhida, a hospitalidade das pessoas, dos pobres. Veremos a seguir como esta atitude esteve presente na regra beneditina, séculos V e VI e em São Leão Magno, papa no século V.

A presença de Jesus Cristo

A regra de São Bento recomendava a todos os seus seguidores que os hóspedes que se achegassem às suas casas, fossem acolhidos como Cristo Jesus porque Ele disse: “Fui hóspede e vós me tendes acolhido” (Mt 25,35). É a honra devida para ser dada, seja aos irmãos na fé, seja aos estrangeiros, peregrinos[1]. Ao anúncio de um hóspede, o superior e os irmãos iriam ao seu encontro com todas as considerações da caridade. Haja a oração em comum e depois haja o abraço da paz[2].

A humildade

São Bento em sua regra afirmava que na saudação, aos hóspedes, quando se aproximassem ou mesmo quando partissem da sua residência, fosse dada das pessoas que acolhessem os estrangeiros, a atitude de humildade pela presença do Senhor Jesus que foi acolhido[3]. Haja a leitura divina em vista da edificação da pessoa e se ofereça toda a atenção humana. Em seguida também se faça a limpeza das mãos e dos pés e todas as pessoas digam em voz alta que acolheram o Senhor Deus, na pessoa dos estrangeiros, a sua misericórdia em meio ao seu templo (cfr. Sl 47 (48), 10)[4].

A ajuda aos pobres

O Papa Leão Magno afirmou a atitude da compaixão com os pobres. Os fiéis sejam generosos na doação da comida para eles, aqueles que desejam fazer parte da comunidade dos bem-aventurados. O fato é que um ser humano não apareça desprezado por outra pessoa, que o Criador do universo fez como sua[5]. É impossível a pessoa recusar outra que sofre alguma coisa o que é de toda a pessoa, pois é o próprio Cristo Jesus que está sendo visto, doado. É ajudada uma pessoa de serviço e é o Senhor que é presente, dando-lhe graças[6].

O preço do Reino dos céus

O Papa Leão dizia que o alimento do pobre é o preço do Reino celeste e a pessoa que doa os bens terrenos torna-se herdeiro de bens celestes. A medida das obras é valorizada sobre a balança da caridade, porque quando o ser humano ama aquilo que Deus privilegia, sobe o ser humano no Reino dos céus; É dada a honra ao Senhor que se tornou próximo das pessoas e assumiu a nossa natureza (cfr. Jo 1,14). O bispo de Roma exortava para que os fiéis trouxessem de casa bens, alimentos em vista das obras de misericórdia para merecer a bem-aventurança da qual gozará para a eternidade aquele que discerne o necessitado e o pobre (cfr. Sl 40,(41), 2. Desta forma é reconhecida no necessitado e no pobre a “Pessoa do Senhor nosso Jesus Cristo, o qual de rico que era, como disse São Paulo fez-se pobre, para enriquecer-nos com a sua pobreza” (2 Cor 8,9) [7].

A natureza humana é igual para todas as pessoas

Uma vez que Deus é o Criador do ser humano, São Leão Magno afirmou que a natureza humana é igual para todas as pessoas. Desta forma a nossa natureza mortal mutável é reconhecida em todo o ser humano e por motivo desta condição humana, cada pessoa é chamada a alimentar um sentimento de solidariedade em relação a todas as pessoas de sua espécie: chorar com as pessoas que choram, unir-se com aquelas que sofrem, ajudar aquelas necessitadas, ter presente os doentes que estão em seus leitos, prover alimentos com as pessoas famintas, doar roupas para aquelas pessoas que estão na nudez ou passam frio[8].

A misericórdia dada

O Papa São Leão exortava os fiéis para que as coisas poupadas através do jejum tornar-se-iam alimento para os pobres numa reta intenção de misericórdia dada com amor aos mais necessitados. Os fiéis eram chamados a empenhar-se na defesa das viúvas, dos órfãos, dos sofredores, a fazer paz com aqueles que lutam, brigam entre si[9]. Desta forma acolha-se o estrangeiro, ajuda-se o oprimido, veste-se o nu, seja dada a atenção à pessoa doente, de modo que a oferenda de tais coisas dadas com amor a Deus, autor de todo o bem, seja concedida por graça divina a sua recompensa celeste[10].

O evangelho de Jesus Cristo era bem vivido na pessoa dos santos padres, no povo de Deus e hoje é dado para nós, em vista da conversão de vida que o Senhor Jesus tanto pede de cada um de nós. As pessoas pobres, necessitadas de ajuda estão presentes na vida de todos os seguidores, seguidoras de Jesus Cristo e de sua Igreja. Nós somos chamados a viver o mandamento do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, para um dia participar do Reino dos céus.

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[1] Cfr. Regola di Benedetto 53,1-24. In: “Non dimenticate L´ospitalità”. Antologia dai Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 2022, pg. 198.

[2] Cfr. Idem, pg 198.

[3] Cfr. Ibidem, pgs. 198-199.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 199.

[5] Cfr. Discorso sulle collete 9, 2-3. In: Idem, pg. 207.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 207.

[7] Cfr. Ibidem, Discorso sulle collette, 9, 2-3, pgs. 207-209.

[8] Cfr. Ibidem, 11,1-2, pg. 209.

[9] Cfr. Ibidem, Discorso sul digiuno del decimo mese 13, pg 211.

[10] Cfr. Ibidem, pg. 211.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

7 frutas que contêm mais vitamina C que laranjas (Parte 2/2)

Por motivos históricos, a laranja talvez seja a fruta que sempre vem à mente quando pensamos em vitamina C, uma das mais vitais para a saúde humana (Crédito: Getty Images)

7 frutas que contêm mais vitamina C que laranjas

Autor: Dalia Ventura

De BBC News Mundo

6 setembro 2025

De 1 a 7

Duas frutas disputam o título de maior teor de vitamina C conhecido em qualquer alimento. Uma delas é nativa da Austrália e a outra, da Amazônia.

A ameixa kakadu é um tesouro ancestral dos povos aborígenes australianos e a fruta com maior teor de vitamina C do mundo (Crédito: Getty Images)

1 - A ameixa kakadu (Terminalia ferdinandiana) contém teores extraordinários de vitamina C. Seus números variam entre 2.300 e 3.150 mg por 100 g, muito acima dos cerca de 53 mg da laranja.

Os povos aborígenes conhecem há milênios as virtudes desta fruta pequena, de coloração verde-oliva claro, que cresce espontaneamente nos bosques abertos do norte da Austrália.

Eles a comiam in natura, usavam para fazer uma bebida refrescante e também para fazer gelatina.

A ameixa kakadu era empregada na alimentação, mas também, como outras partes da árvore, tinha usos medicinais, para tratar de dores de cabeça, resfriados e gripes, além do seu uso como antisséptico.

Atualmente, a ameixa kakadu é utilizada na elaboração de pós empregados em suplementos, alimentos funcionais, cosméticos e produtos farmacêuticos.

Graças a pesquisas da Universidade de Queensland, na Austrália, a fruta também é usada como conservante natural, especialmente eficaz para manter o frescor, a aparência e a durabilidade de mariscos, camarões e crustáceos congelados.

Ácido, mas eficaz: o camu-camu é utilizado por comunidades indígenas como medicina natural, muito antes de ser reconhecido fora da Amazônia (Crédito: Getty Images)

2 - o camu-camu. Com concentração de vitamina C que varia normalmente entre 1.600 e 3.000mg por 100g de polpa e que, em exemplares ou tratamentos específicos, pode exceder 4.000 a 5.000 mg/100 g, o camu-camu (Myrciaria dubia) não tem muito por que invejar a ameixa kakadu.

Nativa da Amazônia, a planta cresce em zonas inundadas e ribeirinhas do Brasil, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela. Ele é usado tradicionalmente como remédio, até para a malária.

Seu fruto é de uma acidez tão intensa que não costuma ser consumido in natura. Seu suco tem um chamativo tom de rosa, graças ao pigmento da sua casca.

Com ele, são preparados sorvetes, geleias, batidas, coquetéis, iogurtes e pratos como o ceviche de camu-camu peruano.

A fruta também é empregada no setor cosmético, na forma de extrato antioxidante em máscaras e tônicos.

A acerola é uma joia tropical, empregada na medicina popular há gerações (Crédito,Getty Images)

3 - A acerola. Quando se trata de vitamina C, outra fruta campeã é a acerola (Malpighia glabra ou Malpighia emarginata). Ela contém cerca de 1.700 mg da substância por 100 g de fruta.

Nativa das regiões tropicais do continente americano, especialmente do Caribe, América Central e do Sul, seu sabor é doce com um toque ácido, muito refrescante, similar a uma cereja azeda.

A acerola é consumida in natura, em sucos, geleias ou como suplemento em pó. Ela é popular na indústria alimentícia, devido ao seu teor nutricional.

A fruta é valorizada desde os tempos pré-colombianos, devido às suas propriedades medicinais. Seu uso se estendeu aos suplementos vitamínicos em todo o mundo.

O fruto da roseira silvestre faz parte do saber antigo da floresta há séculos (Crédito: Getty Images)

4 - O fruto da rosa silvestre, comum na Europa, Ásia e em partes da América do Norte, é tradicionalmente conhecido pelas suas propriedades de alívio de resfriados e para melhorar o sistema imunológico.

O fruto da Rosa canina L. contém 100 a 1.300 mg/100 g de fruto, conforme a espécie, origem, altitude e grau de maturação, segundo diversos estudos.

Seu sabor é agridoce, floral e ligeiramente terroso. Ele costuma ser consumido em infusões, geleias, xaropes ou suplementos.

O fruto da rosa silvestre tem longa história na medicina popular europeia. Ele foi usado durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) como fonte alternativa de vitamina C, quando os cítricos eram escassos.

Ele é popular até hoje na fitoterapia e na alimentação natural.

O sabor da groselha indiana é, digamos, intenso. Sua conservação em água salgada ajuda a suavizá-lo, tornando a fruta mais agradável ao paladar (Crédito: Getty Images)

5 - A groselha indiana ou sarandi. Phyllanthus emblica L. — a groselha indiana ou sarandi — é uma árvore sagrada para o hinduísmo, símbolo de longevidade e sabedoria.

Sua baga é uma das frutas mais valorizadas na medicina tradicional ayurvédica.

Seu sabor é complexo e muito singular: extremamente ácido (ao mesmo tempo, azedo e adstringente), ligeiramente amargo no início e adocicado no final. Quando ingerida fresca, produz uma sensação seca na boca.

Curiosamente, depois de mastigá-la e cuspi-la, muitas pessoas relatam que sua saliva fica doce por alguns segundos. Algumas tradições consideram esta experiência "higienizadora" ou "refrescante".

Devido à sua intensidade, é costume consumi-la seca, curtida, em pó ou cozida em vez de fresca, especialmente em misturas ayurvédicas ou chutneys (condimentos de origem indiana).

A groselha indiana é uma das fontes naturais mais ricas em vitamina C, com concentrações de até 720mg por 100g de fruta. E tem ainda outra vantagem: a substância não se degrada com facilidade durante a secagem ou armazenamento da fruta.

A presença de taninos e polifenóis protege a vitamina C contra a oxidação. É um fenômeno incomum em outras frutas.

Esta estabilidade permitiu o uso da groselha indiana por séculos em forma seca ou em conserva, sem perder sua eficácia medicinal.

O fruto do baobá, uma árvore considerada ponte entre a terra e o céu por algumas culturas (Crédito: Getty Images)

6 - O fruto do baobá. O baobá (Adansonia digitata) é conhecido em muitas culturas africanas como a "árvore da vida".

Na tradição oral, ele é mencionado como uma árvore que sustenta o céu ou que foi plantada de cabeça para baixo. Ele representa a sabedoria ancestral.

Seu fruto contém cerca de 494,94 mg/100 g de vitamina C na forma de polpa desidratada e foi usado por séculos como fonte de nutrição e medicina natural.

Diferentemente da maioria das frutas, ele é seco por dentro e não contém suco. Sua polpa farinhosa se desmancha facilmente, transformando-se em pó. Por isso, ele é ideal para uso em bebidas, molhos ou como suplemento nutricional.

Seu sabor é ácido, refrescante e ligeiramente cítrico, frequentemente descrito como uma mistura de toranja, pera e baunilha.

A fragrância da goiaba traz muitas recordações entre as pessoas na América Latina (Crédito: Getty Images)

7 - A goiaba. Voltemos ao continente americano, agora com a goiaba. Seu aroma transportava o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) para sua casa sempre que ele o percebia.

O fruto da Psidium guajava sempre tem sua fragrância característica, frequentemente doce, mas, às vezes, deliciosamente azedo. Afinal, existem inúmeras variedades com tamanhos e cores diferentes: branca, rosa, vermelha, amarela...

A goiaba contém mais vitamina C do que muitas frutas cítricas. Algumas variedades chegam a ter até cinco vezes mais que a laranja, o que faz com que ela seja um potente antioxidante natural.

Um estudo com goiabas frescas no Equador concluiu, por exemplo, que o teor de vitamina C nas frutas chega a cerca de 500 mg.

Dotada de diversas propriedades benéficas para a saúde, a goiaba também é uma fruta climatérica, ou seja, ela continua amadurecendo depois da colheita. Esta característica facilita seu consumo, transporte e exportação.

Ainda assim e apesar da sua popularidade na Ásia e na América Latina, a goiaba continua sendo uma fruta "exótica" e pouco conhecida em muitas partes do mundo. O mesmo ocorre com muitas das frutas indicadas nesta reportagem.

Mas não há problema, pois existem diversas outras fontes importantes de vitamina C:

  • a groselha-preta ou cassis, com cerca de 181 mg/100 g, muito rica em antioxidantes;
  • o kiwi, cuja variedade mais rica em vitamina C, chamada SunGold, contém cerca de 161 mg/100 g;
  • o mamão, com cerca de 60 mg/100 g, além de enzimas digestivas;
  • o morango, com cerca de 59 mg/100 g, uma boa fonte de vitamina C, especialmente cru...

Até chegarmos à tradicional laranja, que contém um pouquinho mais de vitamina C que o refrescante e digestivo abacaxi.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cp8z87egz61o

ÁFRICA: Wangechi Mutu - A ancestralidade africana na Galleria Borghese em Roma

 
Wangechi Mutu - "Older Sisters" - Galleria Borghese

Visitável na Galleria Borghese, até 14/9/2025, a exposição “Poemas da Terra Negra” da renomada artista Wangechi Mutu. Natural do Quénia, ela tem neste museu de Roma um conjunto de obras em que fica clara a sua forma de encarar questões de poder, de ecologia, de violência de género, de relações humanas, através da arte, indo beber à ancestralidade africana. Uma artista que une, diz a curadora, Cloé Perrone, enquanto que o ensaísta e editor, Filinto Elísio, releva a figura da Wangechi Mutu.

Dulce Araújo - Vatican News

Quem passa em frente da residência, no século XVII, do Cardeal Scipione, hoje Galleria Borghese, não pode não notar duas esculturas peculiares e sentir-se convidado a visitar compreender melhor o que representam e donde vêm. Outros querem simplesmente visitar este célebre Museu de Roma, e por entre antigas obras famosas de Bernini, Canova e outros, como Apolo e Dafne, descobrem as obras da artista queniana-estadunidense, Wangechi Mutu, cujo estilo, visão, temas, materiais nos foram dados a conhecer na emissão semanal "África em Clave Cultural: personagens e eventos" pela curadora da mostra, Cloé Perrone, e pelo editor Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) na sua crónica. 

Crônica

Uma exposição atípica, intitulada "Poemas da Terra Negra" e patente na Galleria Borghese até o próximo dia 14 de setembro de 2025, chama a atenção para Wangechi Mutu. É uma exposição instigante e desafiante fora dos habituais cânones museológicos explorando poemas, suspensões, fragmentos e mitologias, assim como esculturas inspiradas em contextos sociais e materiais contemporâneos.

Quem é Wangechi Mutu? Para já uma artista que extravasa as molduras, conhecida pelo trabalho que mistura género, raça, história da arte e identidade pessoal. Criando colagens complexas, vídeos, esculturas e performances, a arte de Mutu apresenta razões misteriosas e recorrentes, como as das mulheres mascaradas e representadas de forma híbrida.

Wangechi Mutu nasceu em 1972 em Nairobi, no Quénia. Ela estudou no Convento de Loreto Msongari (1978-1989). Deixou Nairobi aos 16 anos para cursar o ensino médio, estudando no United World College of the Atlantic, no País de Gales (até 1991). Mutu mudou-se para Nova Iorque no final da década de noventa, com foco em Belas Artes e Antropologia na New School for Social Research e na Parsons School of Art and Design. Ela obteve uma licenciatura em Belas Artes pela Cooper Union para o Avanço das Artes e Ciências, em 1996, e um mestrado em escultura pela Yale School of Art em 2000.

Na sua vida artística, tornou-se num dos expoentes em esculturas e instalações do afrofuturismo que, assim como o afropunk, o afro-surrealismo e o neo-hoodooísmo, são componentes dos imaginários culturais e artísticos dos africanos e da diáspora africana neste momento histórico.

Mutu utiliza o afrofuturismo para explorar temas de alienação, que se relacionam com feminismo, colonialismo, materialidade e deficiência. Essa estética também permite liberdade criativa na representação de corpos e identidades e experiências, como pode ser observado na presença de ciborgues e figuras alienígenas das suas obras.

A presença de mulheres negras num cenário futurista também atua como um retrocesso às ideias de evolucionismo e hierarquias culturais e sociais. Ao contextualizar essas mulheres negras em espaços hipermodernos, Mutu afirma que estas se posicionam no topo do ideário evolucionista, recusando preconceitos coloniais, neocoloniais e racistas em relação às pessoas negras.

As suas obras são baseadas numa ampla variedade de modos de expressão: pinturas, colagens, vídeos, instalações, etc. e patentes nas coleções de vários dos principais museus e galerias do mundo, tanto em exposições individuais como coletivas. 

Em 23 de fevereiro de 2010, Wangechi Mutu foi homenageada pelo Deutsche Bank como sua primeira "Artista do Ano”. O prémio incluiu uma exposição individual no Deutsche Guggenheim, em Berlim. Intitulada "My Dirty Little Heaven", a mostra viajou em junho de 2010 para o Wiels Center for Contemporary Art, em Forest, na Bélgica.

Em 2013, recebeu o Prémio do Público do BlackStar Film Festival de Filme Experimental Favorito, na Filadélfia, Pensilvânia, pelo seu filme "The End of Eating Everything", bem como o prémio de Artista do Ano do Brooklyn Museum, em Nova York.

Em 2014, ganhou o United States Artist Grant e, em 2017, foi homenageada com o Prémio Internacional de Artista, concedido pelo Anderson Ranch Arts Center.

Mutu é uma artista multidisciplinar e de enorme reputação, cujo trabalho tem recebido elogios da crítica a nível global.

Wangechi Mutu no seu estúdio - foto: Kadidja Farah

As duas esculturas na entrada da Galleria representam duas belas divindades em bronze, sentadas, vestidas de trajes ondulantes, uma com um disco sobre a boca e a outra com um espelho dourado sobre os olhos, a refletir a luz. Pertencem a um grupo de quatro, que foram encomendadas à Wangechi Mutu, em 2018, pelo Metropolitan Museum of Art para colocar em nichos da fachada do edifício que estavam vazios havia mais de cem anos. “Criei quatro divindades sentadas.” - explicou Wangechi, frisando que  representam a tranquilidade, a dignidade, a africanidade e o divino feminino.

Seated I - Uma das duas esculturas expostas na entrada da Galleria Borghese

Mas entremos na Galleria Borghese para compreender um pouco mais através do olhar da curadora, Cloé Perrone, que foi entrevistada por Maria Milvia Morciano da Vatican News:

A arte de Wangechi na Galleria Borghese expressa-se principalmente através da escultura que, no entanto, interage com este espaço de uma forma bastante diferente.  Ela optou por se inserir neste espaço, carregado de mármore e decorações, de uma forma bastante invulgar, utilizando aquilo a que poderíamos chamar de vazio, flutuando no espaço, ancorando-se ao teto e apresentando estas esculturas como se fossem espíritos, fantasmas, obras que giram à nossa volta...

A exposição intitula-se “Poemas da Terra Negra”, e a mensagem não é de forma alguma de divisão ou arquivamento de várias práticas ou géneros artísticos. É uma exposição que pretende trazer todos — todas as obras, mas também todas as pessoas, todas as mensagens — de volta para esta mesma terra, esta mesma terra negra de onde todos nós, de alguma forma, viemos.”

É certamente uma artista que não divide, mas reúne, e estas mensagens que traz — esta pesquisa sobre este terreno comum, sobre estas origens partilhadas, sobre esta forma de nos unir — são certamente algo poderoso e muito específico da sua prática.”

Suspended Playtime - uma das obras da Wangechi na Galleria Borghese

Ao entrar na galeria - observa Maria Milvia Morciano - as obras da Wangechi não se destacam imediatamente, poderiam parecer como que engolidas pelas grandes obras do passado. Mas, em vez disso, vão surgindo poderosas, como, por exemplo, a enorme folha de papel de seda com a inscrição feita de chá e café e que fala de paz sobre símbolos de poder, símbolos masculinos, símbolos do grande imperialismo do passado, gladiadores. Esta folha com inscrições está, de facto, disposta no chão sobre mosaicos romanos do século I e que retratam batalhas entre gladiadores humanos. Estas injustiças humanas, repetidas ao longo dos séculos e aparentemente intermináveis, são o resultado.

Sim, a obra a que se refere, que é uma peça muito importante para Wangechi, mas também para a exposição, intitula-se "Os Grãos das Palavras". É uma nova obra que o artista criou especificamente para a Galleria Borghese, e é a letra de uma canção de Bob Marley, chamada "War", pelo que também é bastante conhecida, letra que, por sua vez, provém de um texto de Hailé Selassie, o último imperador da Etiópia, que discursou nas Nações Unidas, em 1963, para exigir a igualdade e o fim da injustiça racial. Portanto é um texto fundamental que também é cantado de alguma forma por Bob Marley, mas se o público, o visitante, vê e lê, de alguma forma, uma parte sonora da exposição também é ativada, um som silencioso, e este é um trabalho muito importante; também remete para a poesia concreta e é também a ideia de que as palavras são plantadas e, ao plantá-las neste solo, formando-as neste solo, germinam então em algo maior.”

A obra "The Grains of Words" na Galleria Borghese

Mas como surgiu a ideia desta exposição na Galleria Borghese? - perguntou Maria Milvi Morciano à curadora.

Faz parte de um programa da Diretora, que queria convidar Wangechi Mutu a conceber uma exposição para a Galleria Borghese. Foi também uma forma de repensar e reler os mitos dentro da Galleria Borghese. Wangechi analisa estes mitos, repensa-os, relê-os e reescreve-os numa perspectiva diferente da europeia. Mas, ao procurarmos sempre as origens que nos unem, verificamos que existem, de facto, mitos e rituais que se repetem em todas as culturas. Portanto, embora à primeira vista não sejam europeus, de alguma forma conseguimos interpretá-los, pô-los em diálogo, e formam relações novas e inesperadas, e penso que essa foi uma das razões.”

Wangechi e a curadora, trabalham então juntas na colocação das obras por forma a criar uma interação entre o antigo e o moderno na Galleria.

Trabalhámos juntos na instalação e no arranjo das obras. Como deve imaginar, a Galleria Borghese não é um local fácil para instalar arte contemporânea, porque é muito importante, e a prioridade do museu é conservar e preservar todas as obras antigas. Depois de falarmos com todas as equipas da galeria e de descobrirmos todas as limitações, trabalhamos sempre com o museu para perceber o que é possível e o que não é, e depois pensamos nas combinações. Penso que foi um processo longo, mas também muito interessante, tendo constantemente ideias e tendo de as repensar e reformular para se adaptarem ao espaço expositivo, que tem limitações diferentes das de um museu de arte contemporânea.

"Undergroud Hornship" - Galleria Borghese

Mas nem todas as obras de Wangechi estão dentro do Museu. Fora, nos jardins estão várias outras entre as quais, a lindíssima serena em bronze...

Temos um vídeo que se chama "O Fim do Comer Tudo" e é um vídeo que fala, de alguma forma, sobre a crise ecológica. Temos esta mulher monstro que engole tudo o que encontra no seu caminho até que, finalmente, implode e esta é uma crítica a este mundo de consumo que não pensa em proteger o ecossistema. Na fachada existem as duas grandes obras de bronze. São referências às cariátides, mas não apenas às cariátides greco-romanas, mas também às africanas ou também à estatuária egípcia. Mais uma vez Wangechi consegue misturar todas estas referências para criar as suas próprias "Cariatides", estas mulheres que parecem vir de outra época, muito fortes, que convidam o visitante a entrar no museu, mas de alguma forma também protegem a instituição. E nos jardins secretos, temos outras quatro obras de bronze. Wangechi Mutu é uma artista que trabalha muito o bronze, com cestos que contêm animais e outras criaturas que, mais uma vez, parecem vir de outros mundos, e uma mulher sereia que, neste caso, é uma mulher sereia que quase poderia ser um auto-retrato.”

A mulher sereia nos jardins da Galleria - Galleria Borghese

Essa mulher aquática, lisa e brilhante, é uma versão da mítica Nguva da tradição da África Oriental, uma criatura com o poder de encantar, de instruir ou destruir, que fala diretamente com as criaturas marinhas e com a própria água, conforma explicou Wangechi numa videoconferência.  Wangechi Mutu, artista multifacetada, que atravessa mundos e linguagens, amalgamando-os, criando um novo mundo para todos. É o que se pode apreciar na mostra “Poemas da Terra Negra” patente na Galleria Borghese de Roma até ao próximo dia 14 deste mês e que foi aberta a 10 de junho. Da coleção ali apresentada faz parte também a obra “Shavanah I” que está na Academia Americana de Roma e que é evocativa da violência contra a mulher. A mulher é  figura central na conceção artística da Wangechi, representando a ancestralidade, a modernidade, o futuro.

Desde que me lembro que faço arte, sempre fiz arte sobre mulheres. Criei figuras com corpos femininos que, por vezes, parecem criaturas grávidas ou mulheres feridas e depois recuperadas. Criei humanos híbridos e até máquinas femininas ferozes. Tudo para mostrar como o corpo feminino é uma visão poderosa sobre a qual a cultura expressa os seus sentimentos de valor, de desejo ou desgosto, de divindade ou decrepitude, de pertença ou de perda. As imagens que crio, como as que vi esculpidas nas antigas rochas do deserto, são essencialmente a representação da presença do feminino em todos nós.”

"Prayers and Older Sisters - Galleria Borghese
"First Weeping Head and Second Weeping Head " - Galleria Borghese
Uma outra obra da Wangechi nos jardins da Galleria Borghese

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Pedro Claver

São Pedro Claver (A12)
09 de setembro
São Pedro Claver

Pedro Claver nasceu em Barcelona, na Espanha, em 1580. Filho de um casal de gente do campo, o jovem espanhol manifestou desde cedo sua vocação religiosa. Tornou-se jesuíta, logo viajando para uma missão em Cartagena, atual país da Colômbia.

Começou então o apostolado que iria marcar sua vida: o trabalho como os negros que vinham escravizados da África. Apesar das dificuldades da língua, a linguagem do amor e da caridade falava ao coração dos escravos e aproximava-os de Pedro Claver.

O missionário além de lhes dar alimento, vinho e tabaco, oferecia palavras de fé para aquecer seus corações e lhes dar esperança. Por esse motivo os escravos negros o veneravam e respeitavam como um justo e bondoso pai.

Em sua missão, lutava ao lado dos negros e sofria com eles. O que podia fazer por eles era mitigar seus sofrimentos e oferecer-lhes a salvação eterna. Com essa proposta, Pedro Claver batizou cerca de quatrocentos mil negros durante os quarenta anos de missão apostólica.

 Durante a peste não abandonou os escravos, mas acabou contaminado. Depois de quatro anos de sofrimento, Pedro Claver morreu aos setenta e três anos de idade, em 08 de setembro de 1654, no dia na festa da Natividade da Virgem Maria.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Novamente constatamos, com São Pedro Claver, que a devoção à Sagrada Eucaristia e à Nossa Senhora são um denominador comum aos grandes santos de Deus. É só destas fontes que a alma recebe a condição de caridade superior que lhe permite ser “escravo dos escravos”, ou, como é próprio dos Papas, “servo dos servos de Deus”, no seguimento autêntico do ensinamento maior do Cristo: “Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque realmente Eu o sou. Se Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Eu vos dei o exemplo, para que vós também façais como eu fiz. Eu vos afirmo e esta é a verdade: não é o servidor maior do que o seu mestre, nem o enviado maior do que aquele que o envia” (Jo 13,13-16). É preciso termos sede de almas para Cristo, conquistando para Ele muitos outros filhos, irmãos nossos que se salvem, particularmente os mais necessitados – não apenas ou principalmente os pobres materiais, mas sobretudo os que, independentemente da situação financeira e social, vivem no pecado, longe de Deus, correndo objetivo risco de condenação infinita; como o Cristo, Deus mesmo, nos serviu nas nossas misérias, igualmente nos devemos fazer escravos dos irmãos, começando pela oração e santificação pessoal, de modo a bem servir às almas, por amor ao Pai. São Pedro Claver não obteve a melhoria de vida social dos escravos, mas os libertou do paganismo e do pecado, e muitos deles, segundo os relatos históricos, consideravam-se mais felizes depois da conversão, mesmo como cativos na América, do que como idólatras na sua terra natal. Talvez não vivamos sequer os 70 anos que São Pedro Claver atingiu; aproveitemos o tempo para rezar e trabalhar na caridade para com o próximo, inciando pelos mais próximos, família, o Clero, os fiéis, sem esquecer dos mais precisados espiritualmente, como os dirigentes das nações e outras autoridades, enormemente responsáveis pelas decisões que afetam espiritual e materialmente todas as pessoas. Faz parte deste carinho e caridade o zelo pelas coisas de Deus, como a Liturgia, à qual São Pedro Claver dedicava tanto cuidado, na preparação e no tempo íntimo com Jesus, depois da Comunhão. Não podemos reclamar se, não tendo estas atenções para com Jesus, que dizemos amar, viermos a sofrer sem grandes méritos, ao contrário deste santo que tanto padeceu no assemelhar-se a Cristo – não é o servidor maior do que o seu mestre – e que ainda assim era ciente de que “Mais merecem minhas culpas”; por isso, por esse amor, é que mereceu falecer na Natividade… estava preso, pelas contas do Rosário, às mãos de Maria, que o levou para o Céu.

Oração:

Senhor Deus, que nos libertais da escravidão do pecado, concedei-nos pela intercessão de São Pedro Claver a cura da paralisia espiritual, com ao menos um pouco da sua ardente caridade em livremente obedecermos primeiro a Vós e assim ao cuidado dos irmãos, e com o auxílio e compromisso da Eucaristia e do Rosário diário, podermos servir como devemos já nesta Terra e mais ainda do Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Como distinguir ansiedade de um transtorno de ansiedade

Shutterstock

Javier Fiz Pérez - publicado em 09/08/18 - atualizado em 08/09/25

A ansiedade razoável é uma coisa. A ansiedade não razoável ou patológica é outra.

A maioria das pessoas se sente ansiosa em um momento ou outro. A ansiedade situacional é bastante desagradável (embora tenha um propósito) em doses limitadas, mas quando se torna incessante e incapacitante, precisamos de ajuda.

O que é ansiedade?

A ansiedade é uma resposta de alarme fisiológico que nos prepara para lutar ou fugir diante de uma ameaça. No entanto, precisamos distinguir entre ansiedade razoável e ansiedade não razoável ou patológica (transtornos de ansiedade).

A intensidade da ansiedade razoável é proporcional à situação (um perigo objetivo), e termina quando a ameaça acaba; neste caso, a ansiedade é útil, ajudando a proteger a nós mesmos contra uma ameaça objetiva. Por exemplo: um leão é um estímulo objetivamente perigoso, e nossa ansiedade nos ajuda a reagir para fugir.

O contrário acontece no caso de uma ansiedade não razoável ou patológica, onde interpretamos situações, sintomas ou pensamentos como perigosos quando de fato não são, e a intensidade de nossa ansiedade não é proporcional à situação objetiva. Normalmente, uma reação de ansiedade patológica é muito intensa e duradoura, continuando mesmo após a situação ter passado. Por exemplo: somos encarregados de uma nova tarefa, e pensamos – sem uma boa razão – que não estamos à altura do desafio, então nossa resposta de alarme fisiológico se apaga e experimentamos ansiedade muito mais do que devemos.

No caso do estresse simples (em oposição à ansiedade patológica), a intensidade de nossa reação é proporcional à importância do desafio que nos enfrenta e é sempre menor do que a ansiedade não razoável. Por exemplo: fui encarregado da tarefa de preparar um projeto, e concluo que não tenho tempo suficiente para finalizá-lo. Diante dessa situação, minha reação ao estresse é ativada, e graças a isso, entro em ação para tentar terminar a tempo; assim que terminar o projeto, meu estresse desaparece.

O estresse normal ou saudável termina quando o desafio externo é passado e retornamos ao nosso estado emocional habitual; a ativação fisiológica volta ao normal.

No entanto, quando a ameaça percebida é muito grande e acreditamos que a nossa vida está em perigo, a intensidade da nossa ansiedade atinge um nível ainda maior, possivelmente causando um ataque de pânico.

O que é um transtorno de ansiedade?

Em resumo, os transtornos de ansiedade são os transtornos psiquiátricos mais comuns (Kessler, McGanable, Zhao, Nelson, Hughes, Eshelman, Wittchen e Kendler, 1994); no entanto, sua prevalência pode variar entre diferentes países e culturas (Krisanaprakornkit, Krisanaprakornkit, Piyavhatkul e Laopaiboon, 2007). As classificações internacionais de diagnóstico reconhecem vários tipos de distúrbios dentro do grupo denominado transtornos de ansiedade. Especificamente, no DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (American Psychiatric Association), encontramos o seguinte:

- Transtorno de pânico com e sem agorafobia (medo de estar em espaços abertos ou no meio de uma multidão)

- Transtorno de ansiedade social (também conhecido como fobia social)

- Fobia específica

- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)

- Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

- Transtorno de estresse agudo (TEA)

- Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)

- Ansiedade secundária à condição médica

- Transtorno de ansiedade induzido por substâncias

- Transtorno de ansiedade não específico

As melhores medidas que devemos tomar

Quando constante – sensações intensas de ansiedade são experimentadas várias vezes por semana durante vários meses –, a solução mais recomendável é ir a um especialista para receber ajuda efetiva para o gerenciamento desse tipo de transtorno. O Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica recomenda dois tipos de tratamento para transtornos de ansiedade: farmacêuticos e psicoterapia.

O importante é não cair no erro de pensar que momentos normais de estresse ou ansiedade são sintomas de uma doença grave ou de um transtorno. A maioria dessas situações emocionais pode ser superada se atuarmos com previsão e responsabilidade, aprendendo a gerenciar nossas próprias emoções e nos concedendo mais espaço para analisar as situações que enfrentamos como indivíduos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2018/08/09/como-distinguir-ansiedade-de-um-transtorno-de-ansiedade/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF