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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Querem o fim do mundo? Senhor, livrai-nos do mal

Fiéis em oração na Catedral ucraniana da Santa Família em Londres | Vatican News

Diante da violência avassaladora da guerra, às populações atônitas do mundo inteiro não resta que rezar e ajudar aqueles que sofrem. Há medo e perplexidade diante da loucura de um conflito que pode se tornar muito maior. Não podemos ficar indiferentes.

Sergio Centofanti – Vatican News

Conflito Ucrânia - Rússia (ANSA)

Não nos resta que rezar. Diante da violência inaudita e avassaladora da guerra, diante dos pesadelos de um conflito maior e devastador, diante da loucura e da irracionalidade que fazem o mundo tremer, nada mais resta senão invocar a Deus. Toda a humanidade está angustiada com as notícias que chegam da Ucrânia. Há incredulidade, medo, perplexidade. Há quem fala de sinais apocalípticos: a pandemia, as alterações climáticas, a guerra. Há quem recorde como começou a II Guerra Mundial: o Anschluss, a Sudetenland, a Polônia. O que podemos fazer diante do grande mistério da iniquidade? Somente elevar os olhos para o céu e rezar.

Podemos ajudar aqueles que sofrem. A Caritas está na linha de frente. Podemos pensar nas crianças, nas mães, nos pais, nos avós, nos homens e mulheres da terra ucraniana, que agora está tão próxima de nós. Eles pedem ajuda, solidariedade. Juntamente com eles estamos chocados, aterrorizados. Hoje sofrem eles, amanhã quem sabe. Não podemos ficar indiferentes. Eles são nossos irmãos e irmãs.

Armas nucleares  (©lukszczepanski - stock.adobe.com)

O que se quer ocupar? O que se quer destruir? Que armas serão usadas? Outros países serão atacados? Com que justificativas estúpidas e falsas? Não queremos acreditar que haja alguém tão louco a ponto de arriscar devastar o mundo para acrescentar um pouco de poder ao seu poder. O poder deste mundo passa rapidamente. E depois virá o juízo de Deus. Mas a história nos ensina que, nestes casos, muitas vezes, o julgamento humano vem por primeiro.

Soldados vão para a guerra. Obedecem. Eles matam e são mortos. Por um pedaço de terra que algum poderoso ambiciona. Alguém vai recusar a ordem de matar inocentes? Alguém se rebelará contra o comando para realizar um bombardeio indiscriminado e atroz? Ou todos terão orgulho em esmagar os mais fracos? Gigantes orgulhosos em espezinhar os menores.

Diante desses eventos, sentimo-nos inermes, sem palavras. Não nos resta que rezar. E ajudar, cada um como pode. Todos nós devemos rezar. Elevando nossa voz fraca para Deus. Mesmo aqueles que pensam que são ateus podem rezar. Basta um pensamento. O Criador ouve o grito de todas as suas criaturas. Devemos estar todos unidos agora, esquecendo toda divisão, todo contraste, todo rancor, para poder dizer juntos: Senhor, livrai-nos do mal.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Porfírio de Gaza

S. Porfírio de Gaza | arquisp
26 de fevereiro

São Porfírio de Gaza

Porfírio teve muitos fatos prodigiosos em sua vida que começou em Tessalônica, na Grécia, onde nasceu no ano 347. Ele já era formado nas ciências quando, aos trinta e um anos, decidiu viver no deserto de Scete, no Egito onde se tornou um eremita e ficou por cinco anos. Depois visitou os lugares santos de Jerusalém e se estabeleceu às margens do rio Jordão, por outros cinco anos. Nessa ocasião conheceu o discípulo Marcos e se juntou à ele na evangelização. Mas a caverna onde residia era tão insalubre que Porfírio ficou muito doente, tendo que voltar a Jerusalém.

Recebeu então a notícia da morte dos pais, de quem tinha grande herança para receber. Mas, ele decidiu continuar pobre e mandou que todos os bens fossem divididos entre os pobres de sua terra natal. Depois, Porfírio teve um desmaio em Jerusalém e, de repente, viu-se frente a frente com Cristo crucificado, tendo ao seu lado o bom ladrão, Dimas. Jesus mandou que este levantasse Porfírio do chão, depois desceu Ele mesmo da cruz e deu-a ao santo, ordenando-lhe que cuidasse dela. Ao voltar do desmaio, Porfírio estava curado. A ordem recebida na visão foi aplicada por João, bispo de Jerusalém, que nomeou Porfírio como "guarda do santo lenho".

As notícias sobre as graças e prodígios que aconteciam com ele se espalharam e os sacerdotes de Gaza, após a morte do bispo, pediram que Porfírio assumisse o posto. A sua modéstia o impedia de aceitar, mas tantos foram os pedidos e a insistente atuação dos pagãos idólatras era tão intensa na cidade, que ele acabou concordando. Existia em Gaza um grande templo para adoração das divindades pagãs. Os infiéis, sabendo da decisão de Porfírio de combatê-los, planejaram matá-lo. Entretanto, o bispo acabou vencendo todos os inimigos pela fé.

Uma seca violenta assolou a região e os agricultores, desesperados, faziam muitos sacrifícios nesse templo, pedindo chuva aos deuses pagãos. Nenhuma gota de água caía do céu. Porfírio ordenou então, um dia de jejum. Depois comandou uma procissão de penitência à uma capela situada na periferia da cidade. Mal terminou a procissão, a chuva começou a cair, abençoada e insistente. A partir daí, a maioria dos pagãos passou a se converter.

Porém, sobraram ainda alguns poucos pagãos para tramar a morte do bispo Porfírio. Aconteceu, porem, que o imperador também passou a ficar contra os pagãos e o bispo conseguiu autorização para derrubar o templo pagão que estava instalado na diocese de Gaza. Ficou na cidade apenas uma última estátua pagã, a da deusa Vênus. Certo dia, o bispo colocou-se diante dela e a estátua desmoronou sozinha, formando dezenas de pedaços. Era o que faltava para que mais pagãos se convertessem.

A fama de santidade acompanhou o bispo Porfírio até sua morte, em 26 de fevereiro 420, aos setenta e três anos de idade, quando, depois dos vinte e cinco anos de episcopado, quase não havia pagãos na sua querida diocese de Gaza.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A alegria Cristã

Alegria | Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

Há umas palavras muito bonitas no livro de Neemias, que se leem com frequência na Liturgia das Horas: A alegria do Senhor será a vossa força (Ne 8, 10). Jesus nos fala dessa “alegria do Senhor”, a garante e a potencia infinitamente com a sua Ressurreição e com a graça do Espírito Santo: Hei de ver-vos outra vez [quando aparecer ressuscitado], e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria (Jo 16,23; cf. Jo 20,20 e Gl 5,22).

A tristeza enfraquece-nos, a nós e aos que nos cercam. Debilita o ânimo, amolece as forças e desperta o mau humor. Uma pessoa triste cria um ambiente soturno. Já dizia, no século II, um dos mais antigos escritores cristãos: <<Afasta de ti a tristeza. Não entendes que a tristeza é pior do qualquer outro estado de ânimo, que é a coisa que mais desanima e que repele o Espírito Santo? Uma pessoa alegre pratica o bem, gosta das coisas boas e agrada a Deus. O triste, pelo contrário, sempre age errado>> (Pastor de Hermas, Mand. 10,1.1; 3.1).

A alegria, antítese da tristeza, enche-nos de vitalidade e levanta o ânimo dos outros. É dinâmica. Pode-se dizer que uma pessoa alegre faz sair o sol em qualquer lugar onde se encontra.

Mas, talvez nos perguntemos: “É possível a alegria como um bem estável da alma, como algo permanente? Não é, na realidade, como um vagalume, uma luzinha efêmera que só pisca de vez em quando e por uns instantes na escuridão?”

Deus nos responde que não.

– Lembremos as palavras já citadas de Jesus na Última Ceia: Vós, sem dúvida, agora estais tristes. Mas hei de ver-vos outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a nossa alegria (Jo 16,22).

– Ouçamos o que diz São Paulo aos que acabavam de abraçar a fé cristã: Nós estamos sempre contentes! (2Cor 6,10).

– Escutemos o “mandamento da alegria” de São Paulo aos filipenses: Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!… O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com coisa alguma! (Fl 4, 4-6).

Será possível essa alegria?

Essa é a pergunta que se fazia Bento XVI, ao iniciar, com uma meditação, Sínodo dos Bispos de 2005. Acabavam de lidar, na Liturgia da Hora Terça, as palavras com que Paulo termina sua segunda carta aos Coríntios: Por fim, irmãos, vivei com alegria…, animai-vos…, vivei em paz. E o Deus do amor e da paz estará convosco (2Cor 13,11). O Papa fez o seguinte comentário:

<<É possível ordenar, manda desta forma a alegria? A alegria, poderíamos dizer, vem ou não vem, mas não pode ser imposta como um dever. Neste ponto, ajuda-nos a pensar o texto mais conhecido sobre a alegria das cartas paulinas: Alegrai-vos sempre no Senhor. O Senhor está perto>> [refere-se a Fl 4,4, acima citado}.

<<Se a pessoa amada, se o amor, o maior dom da minha vida, estiver próximo de mim, se eu puder ter a certeza de que aquele que me ama – Deus – está perto de mim também nos momentos de tribulação, então poderá manter-se firme no meu coração uma alegria maior do que todos os sofrimentos>> (Meditação, 3/10/2005).

No mesmo sentido, o Papa Francisco afirma, com a leveza jovial de quem habitualmente está de bom humor: <<A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus […]. O Evangelho, onde resplandece gloriosa a Cruz de Cristo, convida insistentemente à alegria […] Reconheço que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal que, não obstante as aparências contrárias, somos infinitamente amados>> (Encíclica Evangelii Gaudium nn. 1.5.6).

Amor e Alegria

Deus nos ama. Somos seus filhos muito amados (Ef 5,1). Ele está sempre perto de nós. Nós é que podemos afasta-nos dele, e então a tristeza baixa ao coração. Como dizia São Josemaria [não se referia, como é lógico, à tristeza sem culpa, patológica, que procede da depressão]: <<A alegria é um bem cristão. Só desaparece com a ofensa a Deus, porque o pecado é fruto do egoísmo e o egoísmo é causa de tristeza>> (Caminho, n. 662).

Quer dizer que, para estarmos alegres e alegrar os demais, é preciso que aumente o nosso amor a Deus – a nossa vida de oração, o nosso amor à Eucaristia, a nossa mortificação por amor, a nossa luta pelas virtudes -, e que vençamos o egoísmo, correspondendo generosamente ao amor que o Espírito Santo derrama em nossos corações (cf. Rm 5,5 e Gl 5,22).

O Bom Humor

Quem tem alegria, tem bom humor. <<Onde quer que a alegria esteja ausente, onde quer que desapareça o sendo de humor, com certeza ali não estará o espírito de Jesus>> (J. Ratzinger, Princípios teológicos). Não se trata do humorismo sarcástico, irônico, que agride e humilha os outros. Mas do bom humo amável, que faz bem como um bálsamo que suaviza as asperezas da vida.

Como andamos de bom humo lá e casa? E no ambiente de trabalho, entre colegas e amigo? E, em geral, com todas as pessoas com quem temos contato, mesmo que seja ocasional? Ficamos de cara fechada, com reações bruscas, queixas, gestos antipáticos e respostas ríspidas? Ou temos uma amabilidade sorridente, como a de Cristo ressuscitado, que só com a sua presença fazia brotar a alegria: Alegraram-se os discípulos ao ver o Senhor (Jo 20,20)?

O Papa Francisco, usando uma expressão popular, tem repetido que o cristão não pode ter <<cara de vinagre>>. Se tivermos vinagre no coração precisamos limpá-lo e enxuga-lo bem, sobretudo melhorando a nossa oração, como dizia Santo Agostinho e o Papa Bento XVI recordava na sua encíclica sobre a esperança (Spe salvi, n.33).

Quem é que tem vinagre no coração? Aquele que vive como descrevem estas palavras: <<Não és feliz porque ficas ruminando tudo como se sempre fosse tu o centro: é que te dói o estômago, é que te cansas, é que te disseram isto ou aquilo… – Já experimentaste pensar nEle e, por Ele, nos outros?>> (Sulco, n. 74).

Quem limpa o vinagre? Aquele que descobriu o que se lê em outro pensamento do mesmo livro: <<Talvez ontem fosses uma dessas pessoas amarguradas nos seus sonhos, decepcionadas nas suas ambições humanas. Hoje, desde que Ele entrou na tua vida – obrigado, meu Deus! -, ris e cantas e levas o sorriso, o Amor e a felicidade aonde quer que vás>> (n. 81).

As almas cristãs, sobretudo os santos, nos dão exemplos maravilhosos desse bom humor que procede da caridade e da luta espiritual. Não considere os exemplos que vou mencionar a seguir como legendas áureas, dignas de admiração e impossíveis de imitar; mas como mensagens de Deus que batem no seu coração, e lhe dizem: “E você…, como vive a alegria diante das situações difíceis?”.

Alguns exemplos de Santos

– São Filipe Neri, Pippo il buono, que muitos veneravam como santo ainda em vida, às vezes “se fazia de louco” com palhaçadas ingênuas e até grotescas, <<para sabotar em si – como diz um escritor – a tentação do orgulho, pois o riso, às custas de si mesmo, libera do inchaço da vaidade e atrai alegremente todos para Deus>>. Como é bom saber rir de si mesmo, sem dar importância aos nossos “méritos”, nem aos nossos “dramas” e “tragédias” cotidianos.

– São Josemaria Escrivá referiu certa vez o que lhe aconteceu quando ainda era um jovem padre. Por causa de uma contrariedade forte, <<irritei-me… e depois me irritei por ter-me irritado>>. Nesse estado de ânimo, indo pelas ruas de Madrid, passou por uma daquelas máquinas que faziam seis fotografias rápidas por quatro tostões, e Deus lhe inspirou uma ideia. Entrou na cabine e tirou as fotografias. Dizia que olhou para elas, e <<estava engraçadíssima com a cara de irritação!>>, rasgou cinco fotos e guardou a sexta na carteira durante um certo tempo. <<De vez em quando – comentava -, olhava-a para ver a cara de irritação: “Que bobo!”, dizia para mim>>.

– É célebre o impressionante exemplo de humor de São Thomas More, chanceler da Inglaterra, quando ia ser decapitado por ter-se oposto a aderir ao cisma religioso provocado pelo rei Henrique VIII. Quando inclinava a cabeça sobre o talho, olhou para o carrasco e disse-lhe: <<Ânimo, rapaz! Não tenhas medo de cumprir o teu dever. O meu pescoço é muito curto. Cuida, pois de não cortá-lo de lado, para que não fique abalado o teu prestígio>>. E depois acrescentou: <<Deixa-me ajeitar a barba, não aconteça que também a cortes. Ela nada tem nada a ver com isso>>.

Um precedente muito antigo de Sir Thomas é o do diácono de Roma São Lourenço, martirizado no ano de 285. Segundo conta Santo Ambrósio, foi queimado a fogo lento, deitado numa grelha. Brincado com os verdugos, disse em certo momento: “Este lado já está assado, podem virar-me para o outro”.

Após refletir sobre esses exemplos – quatro entre muitos – talvez seja bom terminar este capítulo transcrevendo uma oração “para pedir o bom humor” composta por São Thomas More. Diz-se que a rezava todos os dias:

– <<Dai-me, Senhor a saúde do corpo e, com ela, o bom senso para conservá-la o melhor possível. Dai-me, Senhor, uma boa digestão e também algo para digerir. Dai-me uma alma santa, Senhor, que mantenha diante dos meus olhos tudo o que é bom e puro. Dai-me uma alma afastada do tédio e da tristeza, que não conheça os resmungos, as caras fechadas, nem os suspiros melancólicos… E não permitais que essa coisa que se chama o “eu”, e que sempre tende a dilatar-se, me preocupe demasiado. Dai-me, Senhor, o sentido do bom humor. Dai-me a graça de compreender uma piada, uma brincadeira, para conseguir um pouco de felicidade e para dá-la de presente aos outros. Amém>>.

Retirado do livro: “Tornar a Vida Amável”. Francisco Faus. Ed. Cléofas e Cultor de Livros.

Fonte: https://cleofas.com.br/

Guerra na Ucrânia, o Papa na Embaixada da Rússia para expressar preocupação

Papa Francisco | Vatican News

Francisco, nesta manhã, na sede em Via della Conciliazione, por mais de meia hora. O Pontífice está acompanhando de perto a evolução da situação no país do Leste Europeu, sob ataque desde 24 de fevereiro, onde se contam inúmeros mortos e feridos. Nesta quinta-feira o apelo do cardeal Parolin a dar mais espaço à negociação.

Salvatore Cernuzio, Silvonei José – Vatican News

O Papa quis manifestar a sua preocupação com a guerra na Ucrânia dirigindo-se por volta do meio-dia desta sexta-feira, à sede da Embaixada da Federação Russa junto à Santa Sé, chefiada pelo embaixador Alexander Avdeev. O Papa chegou em um veículo utilitário branco e permaneceu no prédio na Via della Conciliazione por mais de meia hora, como confirmou o diretor da Sala de Imprensa vaticana, Matteo Bruni.

O apelo na audiência geral

Francisco acompanha de perto a evolução da situação no país do Leste Europeu, sob ataque desde a noite de 24 de fevereiro, onde se contam inúmeros mortos e feridos. O próprio Pontífice havia expressado "grande pesar em seu coração" pelo agravamento da situação no país na última quarta-feira, 23 de fevereiro, no final da Audiência geral, quando a violência ainda não havia eclodido. O Papa apelou "aos que têm responsabilidades políticas para fazer um sério exame de consciência diante de Deus, que é o Deus da paz e não da guerra". E ele chamou tanto os crentes quanto os não crentes a se unirem em uma súplica coral pela paz em 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, rezando e jejuando: "Jesus nos ensinou que à diabólica insensatez da violência se responde com as armas de Deus, com oração e jejum pela paz", disse o Pontífice. "Convido a todos a fazerem no próximo 2 de março, Quarta-Feira de Cinzas, um dia de jejum pela paz. Encorajo os crentes de uma maneira especial a se dedicarem intensamente à oração e ao jejum naquele dia. Que a Rainha da Paz preserve o mundo da loucura da guerra”.

Declaração do cardeal Parolin

Ontem, porém, "na hora mais escura" para a Ucrânia, a declaração do cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin. Recordando o apelo dramaticamente urgente do Papa após o início das operações militares russas em território ucraniano, o cardeal observou que "os trágicos cenários que todos temiam estão infelizmente se tornando realidade", mas que "ainda há tempo para a boa vontade, ainda há espaço para a negociação, ainda há espaço para o exercício de uma sabedoria que impeça o prevalecer dos interesses de parte, tutele as legítimas aspirações de cada um e poupe o mundo da loucura e dos horrores da guerra". "Nós fiéis", disse Parolin, "não perdemos a esperança num vislumbre de consciência daqueles que têm o destino do mundo em suas mãos".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Cesário de Nazianzo

S. Cesário de Nazianzo | iCatólica
25 de Fevereiro

São Cesário de Nazianzo

O santo de hoje era irmão de São Gregório. Foi médico da corte imperial, sob o reinado de Juliano, que o tentou inutilmente convertê-lo ao paganismo. Cesário foi um catecúmeno durante grande parte da sua vida e só recebeu o batismo depois de sobreviver milagrosamente de um terremoto em Nicéia. Alguns detalhes de sua vida nos são conhecidos através da oração fúnebre composta por Gregório.

O nome Cesário, de origem latina, significa grande, honrado. Nasceu em 330 e viveu grande parte da vida em Alexandria, onde estudou geometria, astronomia e medicina. O ofício de médico o levou a corte imperial de Constantinopla. Como médico imperial, Cesário foi tentado várias vezes a abandonar o cristianismo e assumir a vida pagã.

Mas depois do episódio do terremoto, onde teve sua vida salva pela graça de Deus, Cesário deixou a medicina e passou a dedicar tempo para a salvação das pessoas. Recebeu o batismo, viveu vida de penitente, mas faleceu jovem, em 369.

Em seu testamento deixou o desejo expresso de doar sua riqueza aos pobres. Em tudo serviu a Deus e soube amar Jesus Cristo mesmo em situações adversas. 

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.

Reflexão
Às vezes, imaginamos os santos como homens extraordinários e especiais. São Cesário nos mostra que a vida dos santos não possui nada de especial, a não ser seu grande amor radical ao Cristo. Todos nós somos vocacionados à santidade, e buscar Jesus Cristo de maneira incondicional é dever de todo cristão.
Oração
Ó Deus, concedei-nos, pelas preces de São Cesário de Nazianzo, a quem destes perseverar na imitação de Cristo pobre e humilde, seguir a nossa vocação com fidelidade e chegar àquela perfeição que nos propusestes em vosso Filho. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Fonte: https://www.a12.com/

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Por que a Ucrânia reconheceu oficialmente que comunismo e nazismo são horrores equivalentes

Jarosław Góralczyk I CC BY-SA 4.0

E por que o resto do mundo ainda insiste em negar esta realidade comprovada por fatos históricos clamorosos?

Comunismo e nazismo foram oficialmente declarados pela Ucrânia como regimes de horror equiparáveis. Em 2015, o legislativo do país aprovou uma lei que reconhecia os dois regimes como igualmente abomináveis e, em 2019, essa lei foi confirmada pelo judiciário ucraniano, que declarou a respeito:

“O regime comunista, assim como o regime nazista, infligiu danos irreparáveis aos direitos humanos porque, durante a sua existência, manteve total controle da sociedade, promoveu perseguições e repressões politicamente motivadas, violou as suas obrigações internacionais e as suas próprias constituições e leis”.

Com base nessa decisão, começaram a ser removidos monumentos comunistas soviéticos ainda resistentes na Ucrânia, além de ser proibido o uso de símbolos nazistas e comunistas.

Por que o mundo ainda nega a equivalência dos dois horrores?

A coragem ucraniana de afirmar o caráter igualmente nefasto dessas duas excrescências ideológicas, no entanto, é uma gritante exceção entre as nações. Em muitas partes do mundo, persiste uma chamativa recusa em reconhecer que, pela própria natureza, o comunismo se caracteriza pelo totalitarismo e pela brutal repressão da liberdade do indivíduo.

Em pleno 2022, por exemplo, diante da iminência do conflito bélico entre a Rússia e a Ucrânia, vários veículos da assim chamada “grande mídia ocidental” se empenharam em publicar matérias que tentavam vender a ideia de que os dois regimes que romperam recordes horrendos em extermínio de seres humanos não poderiam ser comparados, amparando-se em teses altamente questionáveis como a da motivação para matar: o nazismo, segundo essas teses, seria pior porque matava com base em etnias, enquanto o comunismo seria menos ruim porque matava “apenas” com base em discordância ideológica. É um repugnante exemplo da mentalidade maquiavélica de que os piores meios podem ser “menos graves” com base no fim, como se exterminar populações sistematicamente fosse menos execrável a depender da alegação dos assassinos para fazê-lo.

Essa “dissonância cognitiva” que tenta fazer parecer que os crimes do comunismo não foram tão hediondos quanto os do nazismo se tornou insuportável para os ucranianos, que sofreram ambos com intensidade ímpar.

Para o resto do mundo, porém, ainda falta mais objetividade e menos viés ideológico na hora de analisar os dois máximos horrores do século XX.

Fatos históricos e números clamorosos

Por um lado, há um vasto reconhecimento de que uma das máximas abominações da história da humanidade foram os campos nazistas de extermínio, que sistematicamente assassinaram milhões de judeus, poloneses, prisioneiros soviéticos de guerra, ciganos, homossexuais, sacerdotes e freiras. Santos e beatos da Igreja foram martirizados em campos de horrores como Auschwitz e Dachau, sendo os mais conhecidos São Maximiliano Kolbe, Santa Teresa Benedita da Cruz e o beato Karl Leisner.

No entanto, as abominações associadas a Adolf Hitler são apenas uma parte do registro histórico dos horrores do século XX.

Segundo os dados levantados pelos autores do best-seller internacional “O Livro Negro do Comunismo”, este regime chega a superar vastamente o nazismo na quantidade de pessoas assassinadas em direta decorrência da sua ideologia totalitária e extremamente violenta:

  • 65 milhões de mortos na China
  • 20 milhões na União Soviética
  • 1 milhão no Vietnã
  • 2 milhões na Coreia do Norte
  • 2 milhões no Camboja
  • 1 milhão nos países comunistas do Leste Europeu
  • 1,7 milhão na África
  • 1,5 milhão no Afeganistão

Além disso, com base nas estatísticas do mesmo estudo, 150 mil na América Latina e outros 10 mil mundo afora também foram mortos em decorrência de ações do movimento internacional comunista e de partidos comunistas fora do poder.

O emoji do homem gr?vido: uma viol?ncia contra a humanidade
Domínio Público (Wikipédia)

“O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão” é uma obra coletiva de professores e pesquisadores universitários europeus encabeçados pelo francês Stéphane Courtois. Como o livro é de 1997, ele obviamente não computa as mortes cometidas de lá para cá nas regiões que continuaram sujeitas a esse regime e aos seus métodos essencialmente opressivos, como a China e a Coreia do Norte; nem, é claro, nas regiões que retrocederam na sua trajetória democrática para reeditar essa aberração histórica – como a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro.

Marc Thiessan, no Washington Post, anotou em resumo:

“Ao todo, regimes comunistas mataram cerca de 100 milhões de pessoas — cerca de quatro vezes mais que o número de mortos pelos nazistas — tornando o comunismo a ideologia mais assassina da história humana”.

Por que o horror comunista não é tão execrado quanto o nazismo?

Em artigo publicado no dia 27 de julho de 2019 no site da Fundação para a Educação Econômica (Foundation for Economic Education), o autor Jon Miltimore observa que os horrores da Alemanha nazista e os horrores do comunismo do século XX ainda são vistos de maneiras diferentes, causando grande frustração em quem vê a dissonância cognitiva no tratamento dado à foice e ao martelo em comparação com o tratamento recebido pela suástica.

Numa época em que as farsas de viés socialista voltam a se apresentar ao mundo como “libertadoras do povo”, a verdade sobre o comunismo costuma ser “evitada” nas TVs e nos “grandes” jornais e revistas a serviço desse mesmo projeto de poder – que não é exatamente um poder “do proletariado”, como prega, descaradamente, a sua propaganda (a este propósito, nunca é demais recordar o magistral resumo feito por George Orwell sobre a “igualdade” realizada pelo comunismo: “Todos são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”).

Holodomor, o holocausto ucraniano

Falar de comunismo e nazismo na Ucrânia é falar, ineludivelmente, do holocausto local.

Anne Applebaum, vencedora do Prêmio Pulitzer, publicou em 2017 o livro “Red Famine: Stalin’s War on Ukraine” (Fome Vermelha: A Guerra de Stalin contra a Ucrânia, ainda sem edição no Brasil). Ao contar como quase 4 milhões de ucranianos foram assassinados pela fome propositalmente provocada na União Soviética entre 1931 e 1934, ela enumera meios que levaram a esse resultado espantoso:

“A decisão desastrosa da União Soviética de forçar os camponeses a abandonarem suas terras e se unirem a fazendas coletivas; o despejo de ‘kulaks’, os camponeses mais ricos, de suas casas; o caos que se seguiu… Tudo foi responsabilidade de Joseph Stalin, o secretário-geral do Partido Comunista Soviético”.

Joseph Stalin
James-Vaughan-CC

Se milhões de pessoas morrerem de fome já é pavoroso, ainda mais aterrorizante é saber que essa tragédia derivou de uma política sem nada de acidental.

Até o verão de 1932, prossegue Anne Applebaum, a fome em massa era evitável: os soviéticos poderiam ter pedido ajuda internacional, como, aliás, já tinham feito em ocasiões anteriores. Poderiam ter parado de exportar grãos ou interrompido as requisições de grãos, por exemplo. Mas os líderes do partido, deliberadamente, escolheram não fazer nada disso.

“No outono de 1932, o Politburo soviético, a liderança de elite do Partido Comunista Soviético, tomou uma série de decisões que ampliaram e aprofundaram a fome no campo ucraniano e ao mesmo tempo impediram os camponeses de deixarem a república em busca de comida. No auge da crise, grupos organizados de policiais e ativistas partidários, motivados pela fome, pelo medo e por uma década de retórica odiosa e conspiratória, entraram nas casas das famílias camponesas e levaram tudo o que era comestível: batata, beterraba, abóbora, feijão, ervilha, qualquer coisa no forno e no armário, animais de fazenda e animais de estimação”.

3,9 milhões de ucranianos morreram de fome. Na década seguinte, os que na Ucrânia sofreram o domínio de Hitler enxergam pouca diferença entre as atrocidades dos nazistas e as atrocidades dos comunistas.

O genocídio ucraniano sob a tirania comunista se iniciou por conta da resistência de muitos camponeses do país à coletivização forçada, que era uma das bases do regime comunista porque visava suprimir a propriedade privada. Os soviéticos confiscaram maciçamente o gado, as terras e as fazendas dos ucranianos e lhes impuseram punições que iam de trabalhos forçados ao assassinato sumário, passando por brutais deslocamentos de comunidades inteiras.

Este abominável episódio histórico, hoje chamado de Holodomor, que sintetiza as hediondas semelhanças entre comunismo e nazismo, foi o mais vultoso, mas não o único do gênero em território comunista: 1,5 milhão de pessoas no Cazaquistão e quase outro milhão de habitantes do norte do Cáucaso e de regiões ao longo dos rios Don e Volga sofreram suplícios semelhantes, na mesma época, também causados propositalmente pelo mesmo governo central comunista soviético.

O Papa Francisco já execrou claramente o Holodomor

Papa Francisco com semblante s?rio e triste
Antoine Mekary | Aleteia | I.Media

No ângelus dominical de 26 de novembro de 2017, o Papa Francisco recordou explicitamente os cerca de 3,9 milhões de vítimas da fome provocada deliberadamente nos campos da Ucrânia pelas políticas do ditador comunista Joseph Stalin, da antiga União Soviética, entre 1932 e 1933, para “coletivizar” fazendas de gado e terras agrícolas.

Em mensagem ao povo ucraniano, o Papa Francisco mencionou “a tragédia do Holodomor, a morte por fome provocada pelo regime estalinista que deixou milhões de vítimas. Rezo pela Ucrânia, para que a força da paz possa curar as feridas do passado e promover caminhos de paz“.

Dentro do panorama de tergiversação dos fatos que é característica indissociável da ideologia comunista e que insiste em tentar perpetuar-se, é digno de aplausos que o Papa Francisco tenha dado nome aos bois – assim como já deu a outro genocídio amplamente “esquecido” pelo mundo até recentemente: aquele que a Turquia otomana perpetrou contra a Armênia cristã em 1915.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: a velhice é um dom de sabedoria e maturidade para todas as idades da vida

Papa Francisco: a velhice é um dom de sabedoria | Vatican News

Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco sublinhou que é importante a interlocução dos jovens com os idosos e dos idosos com os jovens. Esta ponte será a transmissão da sabedoria na humanidade.

https://youtu.be/V9eMeRjJB6M

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses, nesta quarta-feira (23/02), dedicado ao tema do sentido e o valor da velhice.  

Segundo o Papa, "esta idade da vida diz respeito a um verdadeiro "novo povo" que são os idosos". "Nunca fomos tão numerosos na história da humanidade", sublinhou Francisco e o "risco de ser descartados é ainda mais frequente: os idosos muitas vezes são vistos como um peso". "Na primeira fase dramática da pandemia, foram eles que pagaram o preço mais alto. Já eram a parte mais frágil e transcurada", frisou o Pontífice, aconselhando a ler a Carta do Direito dos Idosos.

Amizade e aliança entre as diferentes idades da vida

Junto com a migração, a velhice está entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento. Não se trata apenas de uma mudança quantitativa; está em jogo a unidade das idades da vida, ou seja, o verdadeiro ponto de referência para a compreensão e apreciação da vida humana em sua totalidade. Existe amizade, existe aliança entre as diferentes idades da vida ou prevalece a separação e o descarte?

Segundo o Papa, "vivemos num presente onde convivem crianças, jovens, adultos e idosos. No entanto, a proporção mudou: a longevidade tornou-se massa e, em grandes regiões do mundo, a infância é distribuída em pequenas doses. Falamos também do inverno demográfico. Um desequilíbrio que tem muitas consequências".

Nas culturas "desenvolvidas", a velhice tem pouca incidência

A cultura dominante tem como modelo único o jovem adulto, ou seja, um indivíduo que é autodidata e que sempre permanece jovem. Mas é verdade que a juventude contém todo o sentido da vida, enquanto a velhice simplesmente representa o seu esvaziamento e sua perda? É verdade isso? Somente a juventude contém o sentido pleno da vida, e a velhice é o esvaziamento da vida, a perda da vida? A exaltação da juventude como a única idade digna de encarnar o ideal humano, aliada ao desprezo pela velhice vista como fragilidade, degradação ou deficiência, foi o ícone dominante do totalitarismo do século XX. Será que esquecemos isso?

Segundo Francisco, "o prolongamento da vida tem um impacto estrutural na história dos indivíduos, das famílias e das sociedades. De fato, na representação do sentido da vida, e nas chamadas culturas "desenvolvidas", a velhice tem pouca incidência, porque é considerada uma idade que não tem conteúdos especiais para oferecer, nem significados próprios para viver. Além disso, falta o incentivo das pessoas a procurá-los, e falta educação da comunidade para reconhecê-los".

Projetos para os idosos viverem plenamente

Em suma, para uma idade que é parte decisiva do espaço comunitário e se estende por um terço de toda a vida, há – às vezes – planos de assistência, mas não projetos de existência. Planos de assistência, sim; mas não projetos para fazê-los viver plenamente. E isso é um vazio de pensamento, imaginação, criatividade. Sob esse pensamento, o que cria o vazio é que o idoso, a idosa são material de descarte: nessa cultura do descarte, os idosos entram como material de descarte. A aliança entre gerações, que restitui ao humano todas as idades da vida, é o nosso dom perdido e devemos recuperá-lo. Deve ser reencontrado nesta cultura do descarte e nesta cultura da produtividade.

Segundo o Papa, "quando os idosos comunicam seus sonhos, os jovens veem bem o que devem fazer. Os jovens que não mais questionam os sonhos dos idosos, farão fadiga para carregar seu presente e suportar seu futuro. Se os avós se voltam para suas melancolias, os jovens vão olhar ainda mais para seus celulares. A tela pode permanecer ligada, mas a vida se extingue antes do tempo. A repercussão mais grave da pandemia não está na desorientação dos jovens? Os idosos têm recursos de vida já vivida aos quais os jovens podem recorrer a qualquer momento. A velhice é um dom para todas as idades da vida. É um dom de maturidade, de sabedoria".

Diálogo entre jovens e idosos

O Papa sublinhou que é importante a interlocução dos jovens com os idosos e dos idosos com os jovens. "Esta ponte será a transmissão da sabedoria na humanidade", disse Francisco, esperando que essas reflexões sobre a velhice "sejam úteis a todos nós, para levar adiante esta realidade que o profeta Joel dizia, de que no diálogo entre jovens e idosos, os idosos possam doar sonhos e os jovens possam recebê-los e levá-los adiante. Não nos esqueçamos que tanto na cultura familiar quanto na social, os idosos são como as raízes da árvore: eles têm toda a história ali, e os jovens são como flores e frutos".

Francisco concluiu, dizendo que "se o suco não vier das raízes", os jovens "nunca poderão florescer. Tudo o que há de bonito numa sociedade está relacionado às raízes dos idosos. O idoso não é um material de descarte, mas uma benção para uma sociedade".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Mensagem do papa Francisco para a Quaresma de 2022

Papa Francisco na procissão quaresmal em 2020 / Daniel Ibañez (ACI)

Vaticano, 24 fev. 22 / 09:09 am (ACI).- A Santa Sé publicou hoje, 24 de fevereiro, a mensagem do papa Francisco para a Quaresma de 2022 com o tema: “Não nos cansemos de fazer o bem, porque, a seu tempo, colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos”.

Em sua mensagem, o papa lembra que a Quaresma “é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado” e animou a refletir sobre o tema da mensagem que se baseia em uma exortação de são Paulo aos Gálatas.

“Não nos cansemos de rezar. Jesus ensinou que é necessário «orar sempre, sem desfalecer» (Lc 18, 1). Precisamos rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa. Se a pandemia nos fez sentir de perto a nossa fragilidade pessoal e social, permita-nos esta Quaresma experimentar o conforto da fé em Deus, sem a qual não poderemos subsistir (cf. Is 7, 9). No meio das tempestades da história, encontramo-nos todos no mesmo barco, pelo que ninguém se salva sozinho; mas sobretudo ninguém se salva sem Deus, porque só o mistério pascal de Jesus Cristo nos dá a vitória sobre as vagas tenebrosas da morte”, disse o papa.

A seguir, a mensagem completa do papa Francisco:

«Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).

Queridos irmãos e irmãs!

A Quaresma é um tempo favorável de renovação pessoal e comunitária que nos conduz à Páscoa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Aproveitemos o caminho quaresmal de 2022 para refletir sobre a exortação de São Paulo aos Gálatas: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo (kairós), pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).

1. Sementeira e colheita

Neste trecho, o Apóstolo evoca a sementeira e a colheita, uma imagem que Jesus muito prezava (cf. Mt 13). São Paulo fala-nos dum kairós: um tempo propício para semear o bem tendo em vista uma colheita. Qual poderá ser para nós este tempo favorável? Certamente é a Quaresma, mas é-o também a nossa inteira existência terrena, de que a Quaresma constitui de certa forma uma imagem [1]. Muitas vezes, na nossa vida, prevalecem a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir, como se vê no homem insensato da parábola evangélica, que considerava assegurada e feliz a sua vida pela grande colheita acumulada nos seus celeiros (cf. Lc 12, 16-21). A Quaresma convida-nos à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo.

O primeiro agricultor é o próprio Deus, que generosamente «continua a espalhar sementes de bem na humanidade» (Enc. Fratelli tutti, 54). Durante a Quaresma, somos chamados a responder ao dom de Deus, acolhendo a sua Palavra «viva e eficaz» (Heb 4, 12). A escuta assídua da Palavra de Deus faz maturar uma pronta docilidade à sua ação (cf. Tg 1, 19.21), que torna fecunda a nossa vida. E se isto já é motivo para nos alegrarmos, maior motivo ainda nos vem da chamada para sermos «cooperadores de Deus» (1 Cor 3, 9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5, 16) para semearmos, também nós, praticando o bem. Esta chamada para semear o bem deve ser vista, não como um peso, mas como uma graça pela qual o Criador nos quer ativamente unidos à sua fecunda magnanimidade.

E a colheita? Porventura não se faz toda a sementeira a pensar na colheita? Certamente; o laço estreito entre a sementeira e a colheita é reafirmado pelo próprio São Paulo, quando escreve: «Quem pouco semeia, também pouco há de colher; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também colherá» (2 Cor 9, 6). Mas de que colheita se trata? Um primeiro fruto do bem semeado, temo-lo em nós mesmos e nas nossas relações diárias, incluindo os gestos mais insignificantes de bondade. Em Deus, nenhum ato de amor, por mais pequeno que seja, e nenhuma das nossas «generosas fadigas» se perde (cf. Exort. Evangelii gaudium, 279). Tal como a árvore se reconhece pelos frutos (cf. Mt 7, 16.20), assim também a vida repleta de obras boas é luminosa (cf. Mt 5, 14-16) e difunde pelo mundo o perfume de Cristo (cf. 2 Cor 2, 15). Servir a Deus, livres do pecado, faz maturar frutos de santificação para a salvação de todos (cf. Rm 6, 22).

Na realidade, só nos é concedido ver uma pequena parte do fruto daquilo que semeamos, pois, segundo o dito evangélico, «um é o que semeia e outro o que ceifa» (Jo 4, 37). É precisamente semeando para o bem do próximo que participamos na magnanimidade de Deus: constitui «grande nobreza ser capaz de desencadear processos cujos frutos serão colhidos por outros, com a esperança colocada na força secreta do bem que se semeia» (Enc. Fratelli tutti, 196). Semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus.

A Palavra de Deus alarga e eleva ainda mais a nossa perspetiva, anunciando-nos que a colheita mais autêntica é a escatológica, a do último dia, do dia sem ocaso. O fruto perfeito da nossa vida e das nossas ações é o «fruto em ordem à vida eterna» (Jo 4, 36), que será o nosso «tesouro no céu» (Lc 18, 22; cf. 12, 33). O próprio Jesus, para exprimir o mistério da sua morte e ressurreição, usa a imagem da semente que morre na terra e frutifica (cf. Jo 12, 24); e São Paulo retoma-a para falar da ressurreição do nosso corpo: «semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual» (1 Cor 15, 42-44). Esta esperança é a grande luz que Cristo ressuscitado traz ao mundo: «Se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 19-20), para que quantos estiverem intimamente unidos a Ele no amor, «por uma morte idêntica à Sua» (Rm 6, 5), também estejam unidos à sua ressurreição para a vida eterna (cf. Jo 5, 29): «então os justos resplandecerão como o sol, no reino do seu Pai» (Mt 13, 43).

2. «Não nos cansemos de fazer o bem»

A ressurreição de Cristo anima as esperanças terrenas com a «grande esperança» da vida eterna e introduz, já no tempo presente, o germe da salvação (cf. Bento XVISpe salvi, 3; 7). Perante a amarga desilusão por tantos sonhos desfeitos, a inquietação com os desafios a enfrentar, o desconsolo pela pobreza de meios à disposição, a tentação é fechar-se num egoísmo individualista e, à vista dos sofrimentos alheios, refugiar-se na indiferença. Com efeito, mesmo os recursos melhores conhecem limitações: «Até os adolescentes se cansam, se fatigam, e os jovens tropeçam e vacilam» (Is 40, 30). Deus, porém, «dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. (…) Aqueles que confiam no Senhor, renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is 40, 29.31). A Quaresma chama-nos a repor a nossa fé e esperança no Senhor (cf. 1 Ped 1, 21), pois só com o olhar fixo em Jesus Cristo ressuscitado (cf. Heb 12, 2) é que podemos acolher a exortação do Apóstolo: «Não nos cansemos de fazer o bem» (Gal 6, 9).

 Não nos cansemos de rezar. Jesus ensinou que é necessário «orar sempre, sem desfalecer» ( Lc 18, 1). Precisamos rezar, porque necessitamos de Deus. A ilusão de nos bastar a nós mesmos é perigosa. Se a pandemia nos fez sentir de perto a nossa fragilidade pessoal e social, permita-nos esta Quaresma experimentar o conforto da fé em Deus, sem a qual não poderemos subsistir (cf. Is 7, 9). No meio das tempestades da história, encontramo-nos todos no mesmo barco, pelo que ninguém se salva sozinho [2]; mas sobretudo ninguém se salva sem Deus, porque só o mistério pascal de Jesus Cristo nos dá a vitória sobre as vagas tenebrosas da morte. A fé não nos preserva das tribulações da vida, mas permite atravessá-las unidos a Deus em Cristo, com a grande esperança que não desilude e cujo penhor é o amor que Deus derramou nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5, 1-5).

Não nos cansemos de extirpar o mal da nossa vida. Possa o jejum corporal, a que nos chama a Quaresma, fortalecer o nosso espírito para o combate contra o pecado. Não nos cansemos de pedir perdão no sacramento da Penitência e Reconciliação, sabendo que Deus nunca Se cansa de perdoar [3]. Não nos cansemos de combater a concupiscência, fragilidade esta que inclina para o egoísmo e todo o mal, encontrando no decurso dos séculos vias diferentes para fazer precipitar o homem no pecado (cf. Enc. Fratelli tutti, 166). Uma destas vias é a dependência dos meios de comunicação digitais, que empobrece as relações humanas. A Quaresma é tempo propício para contrastar estas ciladas, cultivando ao contrário uma comunicação humana mais integral (cf. ibid., 43), feita de «encontros reais» ( ibid., 50), face a face.

Não nos cansemos de fazer o bem, através duma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7). Deus, «que dá a semente ao semeador e o pão em alimento» (2 Cor 9, 10), provê a cada um de nós os recursos necessários para nos nutrirmos e ainda para sermos generosos na prática do bem para com os outros. Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida (cf. Lc 10, 25-37). A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados (cf. Enc. Fratelli tutti, 193).

3. «A seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido»

Cada ano, a Quaresma vem recordar-nos que «o bem, como aliás o amor, a justiça e a solidariedade não se alcançam duma vez para sempre; hão de ser conquistados cada dia» (ibid., 11). Por conseguinte, peçamos a Deus a constância paciente do agricultor (cf. Tg 5, 7), para não desistir na prática do bem, um passo de cada vez. Quem cai, estenda a mão ao Pai que nos levanta sempre. Quem se extraviou, enganado pelas seduções do maligno, não demore a voltar para Deus, que «é generoso em perdoar» (Is 55, 7). Neste tempo de conversão, buscando apoio na graça divina e na comunhão da Igreja, não nos cansemos de semear o bem. O jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o. Na fé, temos a certeza de que «a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido», e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Heb 10, 36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1 Tm 4, 16). Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2 Cor 5, 14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for «tudo em todos» (1 Cor 15, 28).

Virgem Maria, em cujo ventre germinou o Salvador e que guardava todas as coisas «ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19), obtenha-nos o dom da paciência e acompanhe-nos com a sua presença materna, para que este tempo de conversão dê frutos de salvação eterna.

Roma, em São João de Latrão, na Memória litúrgica do bispo São Martinho, 11 de novembro de 2021.

Francisco

[1] Cf. Santo Agostinho, Sermones 243, 9,8; 270, 3; Enarratio in Psalmis 110, 1.

[2] Cf. Francisco, Momento extraordinário de oração em tempo de pandemia (27 de março de 2020).

[3] Cf. Idem, Angelus de 17 de março de 2013.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF