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terça-feira, 23 de junho de 2020

Destruição de Jerusalém no ano 70

“Dias virão em que os inimigos farão trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados. Esmagarão a ti e a teus filhos, e não deixarão em ti pedra sobre pedra. ”
GadiumPress

“Dias virão em que os inimigos farão trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados. Esmagarão a ti e a teus filhos, e não deixarão em ti pedra sobre pedra. ”

Redação (22/06/2020 11:19, Gaudium Press) Deus castigou o mundo na época de Noé através da água; Sodoma e Gomorra, pelo fogo e enxofre; e Jerusalém, por meio dos soldados romanos comandados pelo general Tito, no ano 70.

Um cometa em forma de espada apareceu sobre Jerusalém

Assim, cumpriu-se a profecia que Nosso Senhor fez quando, caminhando com os Apóstolos, ao ver Jerusalém, começou a chorar e afirmou:

“Dias virão em que os inimigos farão trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados. Esmagarão a ti e a teus filhos, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que foste visitada” (Lc 19, 43-44).

Jerusalém já havia sido destruída por Nabucodonosor, no século VI antes de Cristo, devido às abominações ali praticadas. No Templo, judeus chegaram a adorar ídolos diante dos quais moviam turíbulos com incenso e se prosternavam como sinal de adoração (cf. Ez 8, 10-16). Rejeitaram o Profeta Jeremias que os advertia incansavelmente, e foram castigados de modo terrível.

Veio Nosso Senhor Jesus Cristo, mas ímpios judeus O crucificaram.  Depois perseguiram a Santa Igreja e mataram muitos cristãos. Em certo momento, chegou o espantoso castigo.

Desde o ano 66, soldados romanos, comandados por Vespasiano – que depois se tornou Imperador –, devastavam diversas regiões da Palestina e muitos judeus tinham se refugiado em Jerusalém. Considerando a gravidade da situação e, sobretudo, tendo presente a advertência do Redentor “os que estiverem na cidade afastem-se dela” (Lc 21, 21), os cristãos que habitavam Jerusalém abandonaram-na e se estabeleceram numa localidade chamada Pela, na atual Jordânia .   

Com base em escritos do historiador judeu Flávio Josefo e do Padre Darras, faremos uma síntese do que ocorreu.

Deus enviou sinais de que puniria a cidade. Um cometa em forma de espada apareceu sobre Jerusalém, durante um ano. Alguns dias antes de começar a investida contra a cidade, dirigida então pelo general Tito, filho de Vespasiano, certa noite uma luz intensa iluminou o altar do Templo, durante meia hora.

Havia na cidade um milhão e duzentas mil pessoas

Aproximava-se a solenidade da páscoa judaica do ano 70. Tito deixou que todos os peregrinos, provenientes de outros lugares, entrassem em Jerusalém. Assim, havia na cidade perto de um milhão e duzentas mil pessoas, segundo Flávio Josefo.

Exceto a parte que dava para um vale profundo, Jerusalém era cercada por resistentes muralhas, com 90 torres.

Os romanos começaram seus ataques utilizando aríetes, mas não conseguiam abalar as muralhas; os judeus faziam investidas que causavam muitas baixas entre os sitiantes.  Então, Tito transportou seu quartel-general para um local próximo das muralhas, que era “o mesmo lugar que Godofredo de Bouillon, chefe da Primeira Cruzada, deveria ocupar mil anos mais tarde”. 

Em Jerusalém havia dois partidos que guerreavam entre si; um chefiado por João de Giscala, e outro por Simão bar Gioras, os quais se tornaram déspotas e cometiam horrendos crimes. Os estrondos provocados pelas fortes pancadas dos aríetes nas muralhas causavam pânico em Jerusalém.  Então, os dois partidos se uniram e iniciaram contra-ataques aos sitiantes.

A pedido de Tito, Flávio Josefo, de um lugar bem alto próximo à muralha, bradou aos sitiados que eles deveriam se entregar aos romanos, para salvar o Templo, o povo, a cidade. Os tiranos e seus asseclas não se comoveram, mas muitos do povo fugiram para junto dos romanos.

Horrores causados pela fome

Começou, então, a faltar trigo e logo a fome se fez sentir. Quem apresentasse o menor sintoma de que pretendia fugir era degolado. Pessoas armadas penetravam nas casas. Se encontravam um homem válido, o matavam porque havia se alimentado às escondidas; caso fosse um alquebrado pela fome tiravam-lhe a vida para ser uma boca a menos…

Os que conseguiam escapar através dos aquedutos subterrâneos eram pegos pelos soldados romanos, que os crucificavam à vista dos sitiados, ou lhes cortavam o nariz, as orelhas, as mãos e os devolviam à cidade.
Alguns desses fugitivos tinham engolido ouro ou pedras preciosas. Os árabes que os captavam abriam os ventres deles e remexiam suas entranhas à procura de joias.

Uma mulher, pertencente a uma das mais nobres famílias de Israel, matou seu filho bebê, assou o corpo, comeu a metade e escondeu o restante. A fumaça e o cheiro atraíram os facínoras que por ali rondavam. Eles entraram na casa e, ao tomarem conhecimento da realidade, fugiram apavorados.

Após alguns meses de assédio, a fome aumentou de tal modo que, do alto das muralhas, cadáveres eram jogados para fora da cidade, a fim de não causar pestes. 

Incêndio do Templo

Os romanos construíram um muro que envolvia toda a cidade, tomaram a Torre Antônia e saltaram para diante do Templo. Houve encarniçadas lutas de espadas que duraram desde nove horas da noite até às sete do dia seguinte. Depois de grande mortandade, os romanos voltaram à Torre.

O Templo possuía dez portas; cada uma delas media dez metros de altura e cinco de largura e era recoberta de lâminas de ouro e prata. Em seu interior, bem no alto, havia grandes cachos de uva, esculpidos em ouro. A fachada era toda recoberta de lâminas de ouro.  O telhado estava semeado de pontas de ouro, para evitar que as aves lá pousassem e o sujassem.

Tito queria de todos os modos salvar o Templo. Mas um soldado romano fez-se levantar por um companheiro e atirou por uma janela aberta um pedaço de madeira aceso.  O general gritou para que fosse apagado o início de incêndio… mas em vão.

Os romanos penetraram no Templo e ficaram horrorizados: “Em volta do altar havia montes de cadáveres… rios de sangue corriam por todos os degraus.”  Quando entrou no Templo, Tito ficou extasiado vendo a sua magnificência, e colheu objetos para decorar seu triunfo, entre os quais o véu do Santo dos Santos, a mesa dos pães da proposição, o candelabro de sete braços de ouro.
O fogo tornou-se tão violento que o monte sobre o qual estava construído parecia arder todo inteiro.

Os romanos queimaram o que restava da cidade e derrubaram suas muralhas. Tito mandou que as destruíssem até os alicerces. Restou apenas um pedaço do muro de arrimo do Templo, conhecido hoje como “muro das lamentações”.   

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 15)
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1- Cf. LLORCA, Bernardino. Historia de la Iglesia Católica – Edad Antigua. 6. ed. Madri: BAC, 1990, v. I, p. 172.
2- DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris : Louis Vivès. 1869, v. VI, p. 291.
3- JOSEFO, Flavio. História dos hebreus – II parte. v. 8. Tradução do Padre Vicente Veloso, com o título Guerra dos judeus contra os romanos. São Paulo: Editora das Américas. 1956. p. 285.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF