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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 2/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 1

Diz-se que Moisés viu a luz quando a lei do tirano proibia manter vivos os varões que nascessem (Ex 1, 16) e que com sua graça pressagiava já toda a graça que com o tempo haveria de reunir. Parecia tão belo já em fraldas (Ex 2, 2), que seus pais resistiram a destruí-lo com a morte. Depois, quando a ameaça do tirano se fez mais forte, não o atiraram sem mais à corrente do Nilo, mas o colocaram em uma cesta cujas junções haviam sido calafetadas com breu e piche, e desta forma o entregaram à corrente. Assim o explicam aqueles que refizeram cuidadosamente a história que a ele se refere. Guiada por uma força divina, a cesta arribou a uma encosta transversal, levada a este lugar pelo próprio movimento das águas. A filha do rei veio à região da praia onde se encontrava a cesta e, sendo alertada pelos vagidos que vinham da caixa, converteu-o em achado da rainha. Imediatamente, a princesa, vendo a beleza que resplandecia dele, encheu-se de benevolência e o adotou como filho. E posto que ele rechaçasse instintivamente um peito estranho, foi alimentado com o peito materno graças a um ardil de parentes (Ex 2, 1-9). Durante sua educação de príncipe, instruído nas ciências estrangeiras, ao sair da infância não escolheu as coisas que eram tidas em grande apreço pelos estrangeiros, nem deixou ver que confessava como mãe àquela mãe inventada que o havia feito filho adotivo, mas retornou à sua mãe natural e se misturou com os que eram de sua estirpe. Tendo-se originado uma briga entre um hebreu e um egípcio, tomou o partido do compatriota e matou o egípcio (Ex 2, 11–13). Pouco depois, quando brigavam dois hebreus, tentou acalmar a querela fazendo-os notar que, entre irmãos, é bom tomar como árbitro das divergências a natureza e não a ira (Ex 2, 13–15). Rechaçado por aquele que se inclinava à injustiça (Ex 2, 16-21) (At 7, 23-28), fez desta afronta o ponto de partida para uma filo mais alta: depois disto, tendo se afastado da convivência com a multidão (Ex 2, 15), passa a vida na solidão e contrai parentesco com um estrangeiro sagaz para discernir o melhor e acostumado a julgar os costumes e a vida dos homens. Bastou a este uma única ação – refiro-me ao ataque dos pastores – para descobrir a virtude do jovem: como havia lutado pela justiça sem pensar em seu próprio proveito, mas por achar que o justo é valioso por sua própria natureza, e como castigara a injustiça dos pastores, que não haviam feito nenhum dano a ele. Tendo admirado o jovem por estas coisas, e estimando que, apesar de sua manifesta pobreza, sua virtude era mais valiosa que uma grande riqueza, entrega-lhe sua filha por esposa, e permite-lhe levar uma vida segundo seus desejos.

Capítulo 2

Ele escolheu conduzir nos montes uma vida solitária, afastada do tumulto das praças e dedicada a guardar os rebanhos no deserto. A história nos conta (Ex 3, 1-6) que, passado algum tempo nesta vida, Moisés recebeu uma surpreendente aparição de Deus: em um tranqüilo meio dia, reluziu ante seus olhos uma luz mais forte que a luz do sol; estranhando o inusitado do espetáculo, levantou os olhos para o monte e viu um arbusto do qual saia um resplendor como de fogo. Como os ramos da planta estavam verdes como se as chamas fossem orvalho, disse a si mesmo estas palavras: vamos e vejamos este grande espetáculo. Isto nos diz que o prodígio da luz não somente se mostrou a seus olhos mas, o que é mais impressionante de tudo, seus ouvidos foram iluminados com os resplendores da luz. Com efeito, a graça da luz foi distribuída a ambos os sentidos: os olhos foram iluminados com os resplendores da luz, e os ouvidos foram levados à luz com instruções puríssimas. Isto é, a voz que saía daquela luz proibiu Moisés de aproximar-se do monte com calçados feitos de peles mortas; quando ele livrou seus pés dos calçados, tocou assim aquela terra que estava iluminada com a luz divina. Depois dessas coisas, não julgo oportuno que o discurso se entretenha muito na história deste homem, para ater-nos mais a nosso propósito, fortalecido com a teofania que vira, recebeu a missão de livrar o seu povo da escravidão dos egípcios. E para que melhor se convencesse da força que recebia do alto, ele, por disposição de Deus, faz a experiência com o que tem nas mãos. Esta foi a experiência: o bastão que sua mão deixou cair se animou, e quando foi retomado por suas mãos, voltou a ser o que era antes de transformar-se em animal. Depois o aspecto de sua mão quando a tira do seio se transforma em um branco como de neve, e re-introduzida ao seio recobra seu aspecto natural (Ex 4, 2-7). Quando Moisés descia do Egito levando consigo sua esposa, que era estrangeira, e os filhos que tinha tido com ela, conta-se que um anjo saiu-lhe ao encontro causando-lhe um medo de morte, e que a mulher o aplacou com o sangue da circuncisão do menino. Foi então que ocorreu o encontro com Aarão que fora impelido por Deus para este encontro (Ex 4, 24-28). Ambos convocam então o povo para uma assembléia geral e anunciam aos que estavam oprimidos pelo padecimento dos trabalhos, a libertação da escravidão. Sobre este tema ele teve uma conversa com o tirano. Por causa dessas coisas, aumentou a cólera do tirano contra os que dirigiam os trabalhos e contra os israelitas: aumentou então o tributo de ladrilhos, e enviou uma ordem mais pesada, de forma que os israelitas não só padeciam pelo barro, mas também eram sobrecarregados por causa da palha e das canas (Ex 5, 1-23). Depois o Faraó, este era o nome do tirano egípcio, tentou fazer frente, com os encantamentos dos feiticeiros, aos prodígios que eles faziam pela vontade de Deus. Quando Moisés tornou a converter seu bastão em animal ante os olhos dos egípcios, a magia pareceu realizar o mesmo prodígio nos bastões dos magos. Porem o engano foi desmascarado, pois a serpente surgida da transformação do bastão de Moisés, ao comer os troncos dos magos, isto é, as serpentes, demonstrou assim que os bastões dos magos não tinham nenhuma força para se defender e nem para viver, mas apenas a aparência de um truque mágico para verem os olhos daqueles que eram fáceis de enganar (Ex 7, 8-12). Quando Moisés viu que todos os súditos estavam de acordo com o príncipe da maldade, fez vir uma praga geral sobre todo o povo egípcio, sem que ninguém escapasse da experiência dos males. E para infligir este castigo aos egípcios, cooperaram com ele os mesmos elementos que vemos no universo: a terra, a água, o ar, o fogo, que trocaram suas forças conforme a vontade dos homens.

ECCLESIA Brasil

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF