Translate

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Autismo em adultos: como lidar com o diagnóstico tardio (3/3)

Autismo em adultos (Crédito: UOL)

AUTISMO EM ADULTOS: COMO LIDAR COM O DIAGNÓSTICO TARDIO

por Isabelle Manzini

Publicado e revisado em: 9 de junho de 2022

O diagnóstico, mesmo que tardio, aliado à terapia, é fundamental para o autoconhecimento e desenvolvimento da independência.

Crises

Pessoas no espectro muitas vezes podem experimentar um esgotamento devido à sobrecarga social, sensorial ou emocional devido a uma hipersensibilidade. Situações como uma festa com muitas interações sociais, acúmulo de trabalho ou ambiente com muito barulho – o estímulo varia de pessoa para pessoa – podem desencadear as chamadas crises de meltdown, shutdown e burnout. Diferenciar cada uma dessas crises é importante para saber como auxiliar o indivíduo.

  • Meltdown: A crise é “externa”, se assemelhando a um colapso nervoso. Geralmente, acontecem em situações que provocam um aumento muito grande de ansiedade. Diante disso, a pessoa pode ter acessos de raiva e/ou ataques de pânico bastante agressivos, uma resposta do organismo aos estímulos negativos. 
  • Shutdown: A crise é interna, como um “apagão”. Diante de uma situação de muito estresse e sobrecarga, a pessoa se fecha, e pode apresentar comportamentos como o mutismo seletivo, olhar vazio e paralisação.
  • Burnout: É o esgotamento em si. Sua manifestação pode estar ligada ao esforço exaustivo de imitar comportamentos neurotípicos – de pessoas não autistas. Pode se assemelhar a uma depressão, já que há perda de interesse nas atividades que davam prazer e sentimentos associados à raiva e à depressão. Porém, diferente da depressão, o burnout costuma durar um tempo menor, e a pessoa se recupera após um tempo de recolhimento e repouso. 

No dia a dia, essas crises podem impactar a produtividade e a rotina do adulto autista. Por isso, quem convive com o indivíduo – seja no trabalho, na escola ou na faculdade, e no círculo social – deve ter sensibilidade às diferenças no modo de funcionamento da pessoa autista, assim como aprender a identificar os sinais das crises e respeitar esse momento.

Existe tratamento para o autismo

Como já mencionamos, o autismo é uma condição que não tem cura. As abordagens realizadas têm o objetivo de guiar o adulto num processo de autoconhecimento e independência, não de eliminar o transtorno. 

Como o transtorno do espectro autista atinge vários aspectos do desenvolvimento, o ideal é que o tratamento seja realizado por uma equipe multidisciplinar composta por psicólogo, psiquiatra, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, nutricionista, fisioterapeuta, entre outros. As recomendações são individuais, então cada caso é analisado isoladamente para que seja montado um plano de intervenção que corresponda às necessidades de cada paciente. 

Gisele Belfiore, terapeuta ocupacional na clínica especializada em TEA, conta como funciona o trabalho no caso de pessoas diagnosticadas tardiamente. 

“É importante trabalhar na questão social, pois muitos autistas adultos têm seu diagnóstico contestado pelas pessoas à sua volta. É comum ouvir comentários como ‘como assim você só teve o diagnóstico na vida adulta? Você não é autista então!’. Esses questionamentos, além de não contribuir com a situação, podem causar prejuízo psicológico para o indivíduo, que se sente invalidado.”

Embora não exista um medicamento específico para tratar o autismo, antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores de humor e outras classes de medicamentos podem ser indicados no tratamento das comorbidades. 

A terapia também é recomendada para autoconhecimento e para lidar com as questões gerais da vida, que podem ser sentidas de maneira mais intensa por quem tem o transtorno. 

“Pessoas autistas são seres humanos como quaisquer outros. Temos desejos, medos, sonhos, ansiedades que se beneficiam do acompanhamento terapêutico”, destaca o dr. Alexandre.

Para conhecer

Por muito tempo, as representações de pessoas autistas na cultura pop foram estereotipadas, aumentando ainda mais o estigma sobre o diagnóstico do autismo. A própria palavra “autismo”, aliás, tem sido discutida por movimentos de pessoas autistas por causa da conotação negativa que costuma acompanhar o termo. Por isso, tem sido cada vez mais comum ver por aí o termo “neurodivergente”, que parte da ideia de que não há normalidade quando se trata do cérebro humano, mas sim várias formas diferentes de funcionamento. 

Por esse mesmo motivo, pessoas autistas têm sentido a necessidade de criar projetos e iniciativas que falem sobre o autismo de uma perspectiva mais realista. Aqui vão alguns desses perfis para você conhecer e entender mais sobre o tema.

Adultos no Espectro

O projeto produz conteúdo voltado principalmente para jovens e adultos autistas. Foi iniciado, no Instagram, pelo neuropsicólogo Mayck Hartwig, especializado em adultos autistas. Ele e Patrícia Ilus se conheceram através da rede social, e logo ela passou a ser responsável pelas lives que contam com a participação de outras pessoas no espectro. 

“Para o mundo me dar a acessibilidade de que eu precisava, as pessoas precisavam aprender sobre a minha condição. É preciso que nos mostremos e falemos de nós mesmos pelo viés da diversidade e não da pena e da punição”, destaca Patrícia. 

Introvertendo

“Um podcast sobre autismo onde autistas conversam.” É assim que o Introvertendo se define. É o primeiro do Brasil formado somente por pessoas do espectro. Thiago Abreu, idealizador do projeto, conta que os cinco integrantes originais se conheceram em um grupo de apoio para pessoas com a síndrome de Asperger. A ideia não era falar apenas sobre autismo, mas falar com pessoas autistas. 

Uma Mãe Preta Autista Falando

Luciana Viegas é pedagoga, e se descobriu autista após o diagnóstico do filho. Como mulher negra, conta que a experiência foi solitária, e por isso começou a procurar histórias parecidas com a sua na internet. Foi assim que criou o perfil “Uma mãe preta autista falando”, onde discute neurodivergência, maternidade e raça. É também colunista da revista Autismo, a primeira sobre o tema na América Latina.

Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF