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sexta-feira, 18 de abril de 2025

Sexta-feira Santa, o Mistério da Cruz e a Via-Sacra

Jesus na cruz nos dá sua vida (Comunidade Oásis)

Hoje as igrejas estão silenciosas. Na liturgia não há canto, não há música e não se celebra a Eucaristia, porque todo espaço é dedicado à Paixão e à morte de Jesus.

Silvonei José - Vatican News

Depois disso Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que se cumprisse a Escritura, disse: “Tenho sede”. Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram num ramo de hissopo uma esponja embebida de vinagre e a levaram à sua boca. Ele tomou o vinagre e disse: “Está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 18, 28-30).

Hoje as igrejas estão silenciosas. Na liturgia não há canto, não há música e não se celebra a Eucaristia, porque todo espaço é dedicado à Paixão e à morte de Jesus. Ajoelhamo-nos, para simbolizar a humilhação do homem terreno e a coparticipação ao sofrimento do Senhor. Porém, não é um dia de luto, mas um dia de contemplação do amor de Deus que chega para sacrificar o próprio Filho, verdadeiro Cordeiro pascal, para a salvação da humanidade.

A adoração da Cruz

A Cruz está presente na vida de todos os cristãos desde a purificação do pecado no Batismo, absolvição do Sacramento da Reconciliação, até o último momento da vida terrena com a Unção dos enfermos. Na Sexta-feira Santa somos convidados a adorar a Cruz para o dom da salvação que conseguimos através da sua vinda. Depois da ascese quaresmal o cristão está preparado para não fugir do sofrimento. Durante a liturgia os fiéis tocam a Cruz, a beijam e assim entram ainda mais em contato com a dor de Cristo que é a dor de todos, porque Ele carregou na Cruz os pecados de toda a humanidade para salvá-la.

A Sexta-feira Santa

A Sexta-feira Santa nasceu como dia da morte de Jesus (dia 14 do mês de Nissan, que caía numa sexta-feira). Trata-se de um dia de luto, acompanhado de "jejum", depois estendido a todas as sextas-feiras do ano. A liturgia é composta de três momentos: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão. Neste dia, por meio desta liturgia, os fiéis são convidados a fixar seu olhar em Jesus Crucificado, que morreu na cruz para cumprir a sua missão salvífica, que o Pai lhe havia confiado: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo". O profeta Isaías diz: “Ele tomou sobre si os nossos pecados, as nossas dores e sofrimentos, e nós o julgamos castigado por Deus” (Is 52,13-53,12). Com a sua vida, Jesus pagou um alto preço pela nossa desobediência, mas o fez com amor e por amor: “Sendo rico, Jesus se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9). No contexto desta Sexta-feira Santa, cada um de nós pode ficar diante da cruz e dialogar com o Senhor Jesus sobre os próprios problemas, dramas, sofrimentos. Todas as questões sobre a vida são iluminadas pela Cruz, a ponto de chegarmos a dizer, realmente, que "o coração tem suas razões, que a razão não pode compreender". O Senhor Jesus deve ser acompanhado com amor, até o fim, como Ele o fez.

A Via-Sacra foi introduzida na Europa pelo dominicano beato Alvaro De Zamora da Cordoba em 1402 e mais tarde pelos Frades Menores.

“O caminho da Cruz”

A Via-Sacra consiste em percorrer espiritualmente o caminho de Jesus ao Monte Calvário enquanto carregava a Cruz, assim como a oportunidade de interiorizar em seu sofrimento.

Em relação ao seu significado, “Via Crucis”, ou Via-Sacra, significa em latim “O caminho da Cruz”. Este caminho é formado por 14 estações que representam determinadas cenas da Paixão, cada uma corresponde a um acontecimento especial ou a maneira especial de devoção relacionada a tais representações.

Antigamente, o número de estações variava consideravelmente em diferentes lugares, mas agora o Magistério prescreve quatorze:

1. Cristo é condenado à morte
2. Jesus carrega a cruz aos ombros
3. Jesus cai pela primeira vez
4. Jesus encontra a sua Santíssima Mãe
5. Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a cruz
6. Verônica enxuga o rosto de Jesus
7. Jesus cai pela segunda vez
8. Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
9. Jesus cai pela terceira vez
10. Jesus é despojado de suas vestes
11. Jesus é pregado na cruz
12. Jesus morre na cruz
13. Jesus é descido da cruz
14. Jesus é colocado no sepulcro

No princípio, a oração da Via-Sacra era diferente. No século IV, a religiosa Egedia escreveu acerca das peregrinações que os cristãos realizavam a Jerusalém para percorrer os lugares da paixão e morte de Jesus com os Evangelhos na mão. Esta peregrinação terminava no Monte Calvário.

Papa na Via-Sacra

Durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa em 2023 o Papa Francisco presidiu no parque Eduardo VII, a "Colina do Encontro", a Via-Sacra, onde partilhou com os jovens os momentos da Paixão de Cristo. 

"Hoje, vocês vão caminhar com Jesus hoje. Jesus é o Caminho e nós vamos caminhar com Ele, porque Ele caminhou”, disse Francisco. 

O caminho de Jesus, explicou o Papa, é Deus saindo de si mesmo para caminhar entre nós. É o que ouvimos tantas vezes na missa: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós". E Ele o faz isso por amor.  A Cruz que acompanha cada Jornada Mundial da Juventude, acrescentou o Pontífice, é o ícone, é a figura dessa jornada. A Cruz é o significado maior do amor maior, aquele amor com o qual Jesus quer abraçar nossa vida. E ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida por seus amigos, que dá a vida pelos outros. "É por isso que, quando olhamos para o Crucificado, que é tão doloroso, tão difícil, vemos a beleza do amor que dá a vida por cada um de nós."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 17 de abril de 2025

PEREGRINAÇÃO À TERRA SANTA: "Uma benção para todos"

Bento XVI rezando na Gruta da Natividade
[© Osservatore Romano]

Arquivo 30Dias n. 05 - 2009

BENTO XVI. Imagens, memórias e balanços da sua peregrinação

"Uma benção para todos"

Entrevista com Fouad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém: «Nos gestos e nas palavras do Papa encontramos coragem, verdade, amor, humildade».

Entrevista com o Patriarca Latino de Jerusalém Fouad Twal por Gianni Valente

O Papa peregrino na Terra Santa atravessou com passo leve o emaranhado de histórias, acontecimentos e paixões humanas, políticas e religiosas que hoje se concentram entre a Jordânia, Israel e os Territórios Palestinos, nos lugares onde Jesus viveu. Antes de partir, muitos balançaram a cabeça, considerando arriscada a escolha de uma visita papal a uma região onde as feridas da última guerra ainda estavam abertas.

Mesmo para Fouad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém por pouco mais de um ano, os dias de peregrinação papal foram uma espécie de prova de fogo. Com a sinceridade que o distingue, ele não escondeu as dúvidas e preocupações que também circulavam na comunidade católica da Terra Santa na véspera da visita papal. Agora, para 30Gioni , ele traça um balanço de natureza completamente diferente. 

Agora que algum tempo passou, qual é a sua avaliação geral da visita de Bento XVI à Terra Santa? 

FOUAD TWAL: Foi uma bênção para todos. Nos gestos e nas palavras do Papa encontramos coragem, verdade, amor, humildade. 

Mas ela mesma, antes da visita, havia confirmado as dúvidas que também circulavam na comunidade cristã. 

TWAL: De fato, havia alguns medos e alguma angústia. A visita papal teria ocorrido em um momento difícil, em uma região difícil, onde nos últimos meses houve uma overdose de conscientização, após a guerra em Gaza. Havia receios de que uma das duas partes no conflito tentasse monopolizar a visita. 

O que contribuiu para que isso não acontecesse? 

TWAL: Expressamos todas as nossas observações e reservas à Santa Sé. E somos gratos ao Secretário de Estado que levou nossos medos em consideração. E os discursos foram muito bem feitos, equilibrados e ao mesmo tempo marcados por uma coragem que outros líderes políticos não têm. Marcada acima de tudo pelo amor a esta terra e às pessoas que a habitam. 

Você guarda alguma imagem particular da visita papal? 

TWAL: Uma imagem sozinha não resolve o problema. Acompanhei o Papa o tempo todo e preciso de um álbum… Fiquei especialmente impressionado com os momentos em que ele se aproximou das pessoas, que talvez ficassem envergonhadas porque não estavam preparadas para tal circunstância. E então ele calmamente e com um rosto infantil os cumprimentou delicadamente, mostrando-se a eles em uma atitude familiar. Em algumas situações ficamos nervosos e impacientes. Ele, por outro lado, estava sempre calmo. 

Antes da visita papal, todos insistiam em seu caráter pastoral. Talvez para se protegerem da exploração política.
TWAL: E de fato, ao confirmar os irmãos na fé, ele nos lembrou de todas as dimensões espirituais da vida de fé na Terra Santa: oração, peregrinação... Ele convidou os cristãos a não partirem, ele os convidou a ficar, porque nossa terra é santa e bela. Ele também se dirigiu a todos os nossos irmãos cristãos. As duas visitas, realizadas com toda a calma e humildade, aos Patriarcados Ortodoxo e Armênio, deram-lhe a oportunidade de dizer que não é o caso de agravar com as nossas separações as muitas dores que esta terra sofreu e sofre. O Papa Bento XVI sempre enfatizou a oração como uma ferramenta para pedir ao Senhor por nossa unidade, deixando a Ele decidir como e quando isso pode ser alcançado.

Bento XVI com o Patriarca Fouad Twal na Praça da Manjedoura, onde celebrou a Santa Missa, Belém, 13 de maio de 2009 [© Osservatore Romano]

Contudo, não faltaram implicações políticas.
TWAL: A dimensão política nunca falta aqui na Terra Santa. E em seus encontros com autoridades na Jordânia, Palestina e Israel certamente havia um aspecto político. O Papa quis reiterar que a Terra Santa tem uma vocação própria de santidade. É isso que todos nós gostaríamos, mas por isso mesmo não podemos ignorar a situação específica do momento, que é uma situação de conflito. Gostei muito do último discurso, dirigido ao presidente Peres, antes de partir. O Papa, sem fazer condenações abstratas, disse em tom pessoal que, durante a visita que teve a graça de fazer, uma das visões que mais lhe causaram tristeza foi a do muro. Uma maneira nobre e calma de dizer com humildade e amor que esses muros certamente não servem para criar um contexto de paz, diálogo e esperança.

Antes da viagem, ela havia dito que a visita do Papa era como um lindo bolo do qual todos queriam um pedaço. No final, quem ficou com a maior fatia?
TWAL: Nós, a Igreja local, a comunidade cristã aqui. Ele veio para nos confirmar na fé, na missão, no diálogo, na dor, no caminho da cruz . Acho que foi lindo para os nossos fiéis verem que há alguém que reza por eles, que pensa neles, e esse alguém é o Papa! Bento XVI chamou a Igreja universal a pensar na Terra Santa, a vir à Terra Santa. Ele nos pediu muitas vezes, tanto na Jordânia quanto em Belém e Jerusalém, para não termos medo, para perceber que não fomos esquecidos. Isso carrega nossas baterias maravilhosamente.

E agora, você espera que alguma coisa mude?
TWAL: Muitas pessoas me perguntam isso. Não é que se deva esperar mudanças milagrosas da visita em si. Mas com suas palavras e seus gestos, nosso querido Santo Padre semeou muito, tanto local quanto internacionalmente e no nível da Igreja universal. Com calma, com a graça de Deus e com a ajuda de todos os amigos, começando pelas Igrejas irmãs da Itália, os frutos virão. Muitas organizações estão pedindo para me conhecer para me perguntar o que podem fazer por nós. Agora cabe a nós corresponder à confiança do Santo Padre. E fazer bem o nosso trabalho aqui. Durante a celebração das Vésperas em Nazaré, o Papa comparou a condição dos cristãos na Terra Santa à de Maria, que levava uma vida escondida em Nazaré, "com muito pouca riqueza ou influência mundana". Ele nos pediu para termos a coragem "de ser fiéis a Cristo e permanecer aqui na terra que Ele santificou com Sua presença".

Como o senhor se lembra do encontro entre o Papa e a delegação de Gaza?
TWAL: Duzentos cristãos deveriam vir de Gaza. No final, Israel concedeu autorizações a apenas quarenta e oito pessoas. Eles puseram as mãos nos fundos de algumas escolas na Galileia, que são usados ​​para pagar os salários dos professores. O núncio, muito bom, como diplomata não queria agravar a situação nem alarmar a opinião pública. Mas houve confiscos. Posteriormente, autoridades governamentais garantiram que não haverá mais casos no futuro. O embaixador israelense na Santa Sé também disse isso. Estamos felizes e agradecemos às autoridades israelenses. Além disso, há um artigo no Acordo Geral que alerta que, enquanto as negociações sobre o status tributário da propriedade da igreja continuarem, não poderá haver mudanças unilaterais no regime atual. Mas há algumas autoridades que talvez não saibam disso... Afinal, na sociedade israelense nunca faltará uma ou outra voz se declarando insatisfeita com a visita do Santo Padre. Que pena para eles. Não há nada que possamos fazer sobre isso.

E na outra frente, a do Hamas?
TWAL: A reação dos homens do Hamas foi muito positiva sobre a visita do Papa, especialmente quando souberam que ele visitou um campo de refugiados, que queria estar perto daqueles que sofrem, para dar esperança de retorno a todos os refugiados do mundo. E se não houver retorno, que ao menos encontremos compensações justas e identifiquemos uma maneira de viver em paz e dignidade.

Bento XVI saúda as crianças do Caritas Baby Hospital, em Belém, 13 de maio de 2009 [© Osservatore Romano]

Uma comparação com as visitas papais anteriores de Paulo VI e João Paulo II?
TWAL: Não vejo sentido nessas comparações. Os contextos, as pessoas, os estados de espírito são diferentes… Cada Papa foi bom e fez bem no seu momento. O homem certo, no lugar certo, na hora certa … E tudo deu certo, graças a Deus.

Você então ouviu o discurso de Obama no Cairo…
TWAL: Fantástico.

O que mais o convenceu naquele discurso?
TWAL: Há muito tempo esperávamos por uma mudança de "mentalidade", de conversas, de abordagem. Você pode não concordar 100%, mas o discurso de Obama foi claro, corajoso e visou o bem de todos, israelenses e árabes, pedindo que todos mudassem suas conversas e tivessem mais fé uns nos outros, no futuro e em Deus. Era exatamente o que era necessário.

Alguns notaram vários pontos de contato entre o discurso de Obama e o que o Papa disse na Terra Santa.
TWAL: Sim. Eles enfatizaram os pontos cruciais. E Obama, quando falou sobre os palestinos, especificou que eles são muçulmanos e cristãos.

Obrigada, felicidade.

Lembre-se: envie uma saudação especial a todos os seus leitores. Não se esqueça disso.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Vamos aprender sobre Jerusalém? A pátria espiritual por definição

LALS STOCK | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 17/04/25

A Cidade Santa é um símbolo de reconstrução com uma história marcada por peregrinações e conflitos.

Jerusalém é conhecida como cidade da paz, o umbigo da terra, a cidade três vezes santa, a pátria espiritual de todo o mundo. Essa cidade já foi conquistada mais de 40 vezes, mas parece que ressurge cada vez mais forte. 

Para os mulçumanos, Jerusalém é a cidade em que Maomé foi arrebatado ao céu. Para os judeus, ela é especial porque ali se ergueu o templo de Deus. Para os cristãos, lá Jesus peregrinou diversas vezes, também morreu e ressuscitou. E essa cidade teve destaque no início do cristianismo sendo uma espécie de sede da Igreja que nascia em meio a perseguições e desejos missionários.

Onde fica?

Jerusalém surge numa região elevada da palestina, entre o mar mediterrâneo e a depressão desértica, próxima ao salgado Mar Morto. Muitas construções da cidade usam pedra calcária, a mesma das colinas da região, e dão uma luminosidade à cidade, um tom bege, que faz com que essa cidade seja percebida como iluminada, clara, brilhante. 

Bíblia

Vamos conhecer Jerusalém por meio da própria Bíblia que dela diz coisas impressionantes como este texto do capítulo 31 do livro do profeta Isaías: “Como as aves dão proteção aos filhotes com suas asas, o senhor dos exércitos protegerá Jerusalém; ele a protegerá e a livrará; ele a poupará e a salvará". 

Acredita-se que o templo tenha sido construído no mesmo lugar em que Abraão ofereceu seu filho Isaque em sacrifício conforme narra o capítulo 22 do livro de Gênesis.  

O talmude, livro de ensinamentos judaicos, diz que Deus pegou do monte do templo o barro para modelar o ser humano. Os Salmos narram diversas manifestações de alegria quando as pessoas chegavam em romaria até Jerusalém e viam o templo, como o Salmo 121: “Que alegria, quando ouvi que me disseram: 'vamos à casa do senhor!'. E agora nossos pés já se detêm, Jerusalém, em tuas portas. Para lá sobem as tribos de Israel, as tribos do senhor. Para louvar, segundo a lei de Israel, o nome do Senhor. A sede da justiça lá está e o trono de Davi. Rogai que viva em paz Jerusalém, e em segurança os que te amam! Que a paz habite dentro de teus muros, tranquilidade em teus palácios!”. 

O Templo de Jerusalém

A história de Jerusalém não só se mistura com a do templo, mas a construção mais importante marcou os ritmos da cidade. Por volta do ano 900 Antes de Cristo o rei Salomão construiu um templo para proteger a arca da aliança. Moisés, segundo conta o livro do Êxodo, realizou a aliança com Deus no monte Sinai, guardou em uma arca os símbolos desse compromisso. Que são: as tábuas de pedra nas quais estão escritos os mandamentos, o cajado com o qual abriu o mar vermelho para a fuga do Egito, e uma porção daquele misterioso pão chamado maná que apareceu de forma milagrosa no deserto. É interessante que esta arca, mais do que conter algo no seu interior, como uma espécie de cofre, se caracterizada por ser sinal da presença de Deus entre os homens, tanto que a arca tinha uma cabana, uma tenda especial nos acampamentos durante a longa travessia pelo deserto. Depois, a arca passou a ter um templo e, de certa forma, uma cidade.  

Entre os capítulos 5 e 7 do primeiro livro dos reis é narrada detalhadamente a construção do templo por Salomão. São registradas medidas da construção, o tamanho das janelas, as indicações sobre os utensílios de ouro e os detalhes da decoração. No santuário, lugar mais reservado em que foi colocada a arca, foram esculpidos anjos que mediam dois metros e meios de altura e, com as asas abertas, chegavam a quatro metros de ponta a ponta. Esse lugar magnifico não era para visitação pública, mas era o lugar, digamos assim, da habitação de Deus, sendo visitado somente uma vez por ano por um dos sacerdotes do templo.  

O esplendoroso templo de Salomão ficou de pé por aproximadamente 400 anos. Depois que os babilônicos venceram o Egito, se tornaram uma potência regional. Em 597, sob o comando do rei Nabucodonosor, Jerusalém foi saqueada e foram levados para a babilônia artesão, soldados e nobres, como o profeta Daniel que relata sua experiência no livro com o seu nome, no Antigo Testamento. Após revoltas contra a dominação babilônica, Nabucodonosor resolveu destruir Jerusalém e levar como prisioneiros os sobreviventes. O profeta Jeremias considera um castigo divino o que aconteceu com a cidade e seus habitantes devido a falta de justiça social. 

Atualmente o monte sobre o qual se erguia o templo abriga duas mesquitas. Os judeus recitam suas orações na parede que restou da construção de Salomão, destruída definitivamente pelos romanos no ano 70 depois de Cristo. O muro do pranto ou muro das lamentações é um dos lugares mais emblemáticos de Jerusalém.  

A reconstrução e Jerusalém foi fantástica. O templo se tornou o maior edifício de culto do mundo grego romano, media cerca de 20 campos de futebol. Jerusalém também cresceu e abrigava mais de 80 mil pessoas numa época em que Israel todo não contava com 2 milhões de habitantes. A população da cidade triplicava na festa da Páscoa. Foi esta Jerusalém pujante que Jesus conheceu e percorreu com seus discípulos. Foi também nessa grande cidade e em meio a diversos conflitos que Jesus foi morto de forma violenta. Nesta cidade, Jesus ressuscitou e a vitória da vida sobre a morte teve Jerusalém como uma capital da esperança.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/04/17/vamos-aprender-sobre-jerusalem-a-patria-espiritual-por-definicao

Aos padres – Quinta-Feira Santa

Sacerdócio com amor (Catequizar)

AOS PADRES – QUINTA-FEIRA SANTA 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

Aos Padres 

 Quinta-Feira Santa  

Neste dia em que celebramos a instituição da Eucaristia, quero dirigir-me a todos os presbíteros que, diariamente, consagram o Corpo e o Sangue de Cristo para o alimento espiritual dos fiéis. Neste momento festivo para a Igreja, em que recordamos a entrega total de Jesus por nós, convido todo o povo de Deus a elevar uma prece pelos sacerdotes, para que perseverem com fidelidade em sua missão e busquem viver a santidade no cotidiano. 

Rezemos por todos os padres doentes e idosos, que tanto se dedicaram ao sacerdócio ao longo da vida. Rezemos também por aqueles que, por diferentes motivos, estão afastados ou privados do exercício ministerial, para que o Senhor os fortaleça e renove neles a confiança em Sua misericórdia que jamais falha. Que tudo se realize conforme a vontade de Deus. 

Sabemos o quanto o ministério sacerdotal é desafiador e vai muito além da celebração da Missa e da administração dos sacramentos. Muitas vezes, o sacerdote assume múltiplas funções: é secretário da paróquia, cozinheiro na casa paroquial, responsável por resolver questões burocráticas como idas a bancos, cartórios, correios e compras de materiais litúrgicos. Acrescente-se as situações de violência, de insegurança e de questões diversas que aparecem no dia a dia da paróquia. Por isso, é compreensível que, ao final do dia, esteja exausto diante das inúmeras tarefas desempenhadas. 

Entretanto, para que tudo isso seja fecundo, o sacerdote não pode negligenciar a vida de oração. É a oração, unida à Eucaristia diária, que sustenta o ministério presbiteral. Antes de qualquer outra atividade, é essencial começar o dia com a oração, rezando as Laudes, e, se houver celebração pela manhã, presidir a Santa Missa. Sem a oração e, sobretudo, sem a Eucaristia cotidiana, o ministério enfraquece, e o padre corre o risco de tornar-se apenas um “executador de tarefas”. O sacerdote é muito mais que isso: é ministro do Sagrado, chamado a proclamar a Palavra de Deus e a celebrar, com piedade, a Eucaristia para o povo que lhe foi confiado. 

Além disso, o padre está a serviço da comunidade e não pode permitir que as obrigações administrativas o afastem do contato com os fiéis. É preciso encontrar tempo para visitar os enfermos, atender confissões, presidir celebrações, sepultar os mortos e ministrar os demais sacramentos. O sacerdote precisa estar presente na paróquia, acessível ao povo que o procura. 

O sacerdócio não deve ser encarado como um fardo. Quando o Senhor nos chamou para esta missão, não o fez para nos sobrecarregar, mas para que, com alegria, servíssemos ao seu povo. O padre não deve ser alguém amargurado, constantemente cansado ou de mau humor. Ao contrário, mesmo diante das muitas tarefas do dia, é preciso conservar o bom humor e acolher bem os fiéis. Como em qualquer outra vocação, é fundamental que o padre se sinta realizado em sua missão. Só assim é possível viver com alegria. Cumprir tudo apenas por obrigação leva ao desgaste e à infelicidade. 

Esta é uma mensagem de encorajamento e ânimo para que continuem a exercer com amor o ministério que lhes foi confiado. Embora o Dia do Padre seja celebrado em 4 de agosto, na quinta-feira santa comemoramos a razão de ser da Igreja: a instituição da Eucaristia. E os sacerdotes são, por excelência, os ministros deste mistério de amor. Rogo a Deus pelo ministério de cada um, para que sejam verdadeiros pastores, cuidando com zelo do rebanho, especialmente das ovelhas feridas e dispersas. 

Uma característica essencial da vida presbiteral é a fraternidade, especialmente entre os padres e com o bispo. A chamada fraternidade presbiteral implica cuidado mútuo, interesse pelo irmão que não está bem, visitas fraternas e busca conjunta de soluções. Muitas vezes, isolamo-nos em nossos próprios mundos e esquecemos de olhar para a dor do outro. Precisamos dar o exemplo, cultivar o amor entre os presbíteros, e a partir daí, ensinar os fiéis a viverem a caridade entre si. 

Do mesmo modo, os sacerdotes são chamados a viver a fraternidade com os leigos, acolhendo com misericórdia e buscando os que se afastaram. A fraternidade é uma virtude evangélica que deve marcar a vida de todos: bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas e leigos. 

Vivam o sacerdócio com amor e, a cada dia, renovem o “sim” dado no dia da ordenação, como fazemos também na missa do Crisma, na Quinta-feira Santa. Essa renovação acontece na oração diária, onde se reaviva o chamado. Que a Virgem Maria, Mãe das Divinas Vocações, interceda por todos vocês.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Quinta-feira Santa: Lava-Pés, amor e serviço

Papa Francisco na prisão para menores de Casal del Marmo, Roma, em 28 de março de 2013 (Vatican Media)

Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus demonstra seu amor pelas pessoas e mostra a todos que a humildade e o serviço são o centro de sua mensagem.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Lava-Pés é um rito litúrgico realizado durante a celebração da Quinta-feira Santa que recorda a Última Ceia do Senhor. Este rito religioso baseia-se no Evangelho de João. "É o testamento de Jesus para a comunidade. A oferta da própria vida por amor", disse à Rádio Vaticano – Vatican News o provincial dos Missionários Combonianos no Brasil, pe. Raimundo Rocha.

Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus demonstra seu amor pelas pessoas e mostra a todos que a humildade e o serviço são o centro de sua mensagem. Na missa da Instituição da Eucaristia ou Lava-Pés repete-se o mesmo gesto de Jesus. O bispo ou sacerdote que imita Jesus no gesto de lavar os pés de algumas pessoas da comunidade, compromete-se a estar a serviço da comunidade para que todos tenham a salvação, como fez Jesus, mostrando como diz um canto religioso católico que "prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão".

"A Igreja é chamada a amar e servir, a lavar os pés da humanidade ferida pelas guerras, pelo feminicídio, pelo discurso de ódio, pela migração forçada, por tantas situações de desumanidade. Este é o mandamento que Jesus nos deixou. Este é o seu exemplo: amar e servir", disse ainda pe. Raimundo Rocha.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Jesus e Jerusalém: Os passos de Jesus na Cidade Santa

Framalicious | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 16/04/25

Jerusalém, terra de conflitos, terra de morte e de vitória, terra de pecado e de santidade. Terra de Jesus...vamos descobrir.

A primeira vez que Jerusalém entra no caminho de Jesus é quando os magos vindos do oriente param na cidade para saber informações sobre o rei dos judeus que tinha acabado de nascer, conforme narra o evangelho de Mateus. A partir dessa cidade a morte tenta cruzar o caminho de Jesus que é salvo com a fuga para o Egito.  

Jesus ia ao templo com sua família, até se perdeu no meio da multidão como conta o evangelho de Lucas. Mas o templo também era um lugar duro para Jesus: ao ser tentado, o diabo levou Jesus para a Cidade Santa e o colocou na torre mais alta do templo e disse que se confiava de verdade em Deus, deveria se jogar dali do alto; após vencer as tentações, no decurso de suas pregações, Jesus ficou indignado com os vendedores do templo e teve uma atitude muito enérgica, conforme o evangelho de João: Derrubou as mesas dos vendedores, espalhou as moedas, ameaçou a construção. 

O evangelho de João conta que Jesus foi três vezes em Jerusalém para a Páscoa; os outros evangelhos contam somente sobre a última páscoa, aquela que é a Páscoa de Jesus, da sua morte e ressureição. Tem destaque o evangelho de Lucas que, em seu relato, narra um caminho único de Jesus da galileia em direção a Jerusalém.  

Sobrepondo às palavras de júbilo que os peregrinos retratados nos salmos dedicam a Jerusalém, Mateus registra palavras duras de Jesus sobre a Cidade Santa: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram. Eis que a casa de vocês ficará deserta” (Mt 23,27-28). 

O tempo de Jesus

Para contextualizar os fatos que aconteceram com Jesus é importante destacar que havia um clima de grande hostilidade e instabilidade em toda a região. Os romanos ocuparam a palestina no ano 63 Antes de Cristo. Pompeu invadiu Jerusalém e cercou o templo que, 10 anos depois, foi violado pelo general Crasso. O indumeu Herodes o grande foi designado pelos romanos como rei da palestina governando os judeus, rivais dos indumeus, com apoio de alguns grupos e forte oposição de outros que usavam, inclusive, de guerrilhas para resistir à dominação. Herodes morreu quando Jesus ainda era criança e seus filhos herdaram o reino, dividido em três partes. Jesus se encontrou com seu filho Herodes Antipas, que matou João Batista por um capricho da enteada conforme narram os evangelhos sinóticos. Sendo Jesus galileu, Pilatos achou que o rei de lá, que estava em Jerusalém para a festa da Páscoa, poderia fazer alguma coisa. Mas Herodes tratou Jesus com pouco caso. 

Arquelau, filho de Herodes o grande, não foi habilidoso para governar sua parte do reino, por isso Roma enviou governadores. Aí entra Pôncio Pilatos. Pessoa de nome incomum que governou a província da Judeia por uma década. É citado por historiadores antigos como alguém que enfrentou revoltas na sua gestão, tendo reprimido violentamente uma que se desencadeou no ano 36 e, por isso, foi punido pelo imperador e, possivelmente, exilado após perder o posto.  

Pilatos é recordado na profissão de fé cristã, o credo que é recitado em cerimônias, porque estava observado a cidade de Jerusalém do alto da Torre Antônia, construída no templo. Ele aguardava uma revolta ou conflito, quando levam para ele o caso de Jesus. Mesmo Jesus não sendo cidadão romano e não tendo direito a processo, Pilatos tentou lidar com a questão.

O conflito

Jesus não se indispôs com Pilatos, nem com Herodes, mas com Caifás que era o sumo sacerdote do templo. O cargo de sumo sacerdote era indicado pelos romanos e um destacamento de soldados romanos fazia a guarda para o templo e os sacerdotes. Ele conduzia o sinédrio que era uma espécie de tribunal judaico que acusou Jesus de blasfêmia ao se declarar filho de Deus. À acusação de ofender a Deus, foram acrescidas as de golpe contra o império, agitação popular e traição ao se proclamar rei dos judeus em aparente oposição à soberania dos romanos sobre a palestina. 

A prisão de Jesus se deu com medo de que ele agitasse a multidão que estava em Jerusalém para a Páscoa. A traição de um dos discípulos favoreceu a captura num lugar de recolhimento chamado Monte das Oliveiras. Jesus sabia da traição e da morte que o esperava, por isso, na última ceia transmitiu aos discípulos seus ensinamentos e desejos por meio de discurso, gestos e orações.  

A morte de Jesus, como recordamos na via-sacra e nas leituras da paixão, mostram o “empurra, empurra” das autoridades, o furor da multidão e a tortura exemplar que Jesus sofreu. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/04/16/jesus-e-jerusalem-os-passos-de-jesus-na-cidade-santa

Do Tratado sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo

Jesus é coroado (Piterest)

Do Tratado sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo

(Tract. 84,1-2:CCL36,536-538)

(Séc. V)

A plenitude do amor

Irmãos caríssimos, o Senhor definiu a plenitude do amor com que devemos amar-nos uns aos outros, quando disse: Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos (Jo 15,13). Daqui se conclui o que o mesmo evangelista João diz em sua epístola: Jesus deu a sua vida por nós. Portanto, também nós devemos dar a vida pelos irmãos (1Jo 3,16), amando-nos verdadeiramente uns aos outros, como ele nos amou até dar a sua vida por nós.

É certamente a mesma coisa que se lê nos Provérbios de Salomão: Quando te sentares à mesa de um poderoso, olha com atenção o que te é oferecido; e estende a tua mão, sabendo que também deves preparar coisas semelhantes (cf. Pr 23,1-2 Vulg.).

Ora, a mesa do poderoso é a mesa em que se recebe o corpo e o sangue daquele que deu a sua vida por nós. Sentar-se à mesa significa aproximar-se com humildade. Olhar com atenção o que é oferecido, é tomar consciência da grandeza desta graça. E estender a mão sabendo que também se devem preparar coisas semelhantes, significa o que já disse antes: assim como Cristo deu a sua vida por nós, também devemos dar a nossa vida pelos irmãos. É o que diz o apóstolo Pedro: Cristo sofreu por nós, deixando-nos um exemplo, a fim de que sigamos os seus passos (cf. 1Pd 2,21). Isto significa preparar coisas semelhantes. Foi o que fizeram, com ardente amor, os santos mártires. Se não quisermos celebrar inutilmente as suas memórias e nos sentarmos sem proveito à mesa do Senhor, no banquete onde eles se saciaram, é preciso que, como eles, preparemos coisas semelhantes.

Por isso, quando nos aproximamos da mesa do Senhor, não recordamos os mártires do mesmo modo como aos outros que dormem o sono da paz, ou seja, não rezamos por eles, mas antes pedimos para que rezem por nós, a fim de seguirmos os seus passos. Pois já alcançaram a plenitude daquele amor acima do qual não pode haver outro maior, conforme disse o Senhor. Eles apresentaram a seus irmãos o mesmo que por sua vez receberam da mesa do Senhor.

Não queremos dizer com isso que possamos nos igualar a Cristo Senhor, mesmo que, por sua causa, soframos o martírio até o derramamento de sangue. Ele teve o poder de dar a sua vida e depois retomá-la; nós, pelo contrário, não vivemos quanto queremos, e morremos mesmo contra a nossa vontade. Ele, morrendo, matou em si a morte; nós, por sua morte, somos libertados da morte. A sua carne não sofreu a corrupção; a nossa, só depois de passar pela corrupção, será por ele revestida de incorruptibilidade, no fim do mundo. Ele não precisou de nós para nos salvar; entretanto, sem ele nós não podemos fazer nada. Ele se apresentou a nós como a videira para os ramos; nós não podemos ter a vida se nos separarmos dele.

Finalmente, ainda que os irmãos morram pelos irmãos, nenhum mártir derramou o seu sangue pela remissão dos pecados de seus irmãos, como ele fez por nós. Isto, porém, não para que o imitássemos, mas como um motivo para agradecermos. Portanto, na medida em que os mártires derramaram seu sangue pelos irmãos, prepararam o mesmo que tinham recebido da mesa do Senhor. Amemo-nos também a nós uns aos outros, como Cristo nos amou e se entregou por nós.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Reflexões diante do Calvário

No alto do Calvário (Carmo da Cachoeira)

REFLEXÕES DIANTE DO CALVÁRIO

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

O sermão do Descendimento da Cruz é realizado na Sexta-Feira Santa da paixão do Senhor, ao final da tarde, seguido da procissão com a imagem do Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores pelas ruas da paróquia. Para este momento devocional os fiéis são convidados a se reunirem diante do Calvário, na Igreja ou na frente da Igreja e da entrada da Igreja, e, no local mais elevado o padre profere o sermão do Descendimento da Cruz.  

Após o sermão do descendimento da Cruz todos os fiéis são convidados a participar da Procissão do Enterro e na chegada da Igreja Paroquial entrar no Templo e venerar a imagem de Nosso Senhor morto e Nossa Senhora das Dores. Também nesse dia fazemos a nossa contribuição para sustentar os lugares santos. 

O Descendimento da Cruz nos faz lembrar aquilo que José de Arimateia fez ao pedir a Pilatos permissão para tirar o corpo do Senhor da Cruz e lhe conceder um sepultamento digno. Através o Sermão do Descendimento do Senhor da Cruz seguimos passo a passo e compreendemos melhor o que significa cada chaga que o Senhor recebeu.  

É preciso resgatar esses momentos que sustentam a fé popular do povo, é importante observar que toda a liturgia da Igreja tem uma sequência, nada é colocado de maneira aleatória, uma celebração está ligada a outra. Sobretudo na Sexta-feira Santa, às 15h tem a celebração da paixão e adoração da Cruz, chamada de Ação Litúrgica. No início da noite tempos o Sermão do Descendimento da Cruz e em seguida a procissão com a imagem do Senhor morto e Nossa Senhora das Dores.  Neste dia atualizamos de certa maneira tudo aquilo que aconteceu há mais de dois mil anos atrás. 

Participemos com fé e piedade desse momento e relembremos aquilo que José de Arimateia fez, porque dessa forma podemos nos imaginar na cena. Escutar com atenção tudo aquilo que o padre profere durante o sermão. Ao vermos o Senhor sendo sepultado lembremos de tantas de mães que tem que sepultar os seus filhos antes do tempo, de tantos inocentes que morrem por causa das guerras e da violência nas grandes cidades, e ainda tantas pessoas que morrem sem o devido apoio e são enterradas sem reconhecimento, de forma indigna.  

Além do sermão proferido pelo sacerdote, esse momento na medida do possível é encenado, usa-se uma Cruz própria – ou seja, se refaz a cena do Calvário, com o Cristo na Cruz ou um grupo de fiéis encena esse momento. À medida que se encena dá mais vivacidade para o momento. Normalmente em algumas paróquias os jovens preparam uma encenação para esse momento e todos participam com muita atenção e emoção. Em muitos lugares há o próprio Sermão tradicional – seguido da encenação pelos fiéis. Temos em muitos lugares o Auto da Paixão. 

Por mais que nos dias de hoje vemos o Senhor na Cruz, sabemos que Ele ressuscitou, venceu a morte e está ao lado do Pai. Jesus nos abriu o caminho para a vida eterna e do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos.  

A Sexta-feira Santa é um dia de oração e reflexão, dia de jejum e abstinência, não é um dia de luto, mas pelo contrário, um dia para pensarmos na finitude da vida, e que não importa a maneira como morreremos, um dia estaremos na vida eterna ao lado de Deus. Ao longo da Sexta-feira Santa somos convidados a meditar nos últimos passos da vida de Jesus, desde a sua agonia no horto, condenação, prisão, caminho até o calvário, crucificação e morte. Nessa Sexta-feira somos convidados a rezar mais. A tarde somos convidados a participar da Ação Litúrgica da paixão do Senhor e adoração a Cruz, seguida do sermão do Descendimento da Cruz procissão e depois a procissão enterro. Um dia inteiro de oração desde a manhã até a noite. Um dia de silêncio, meditação, jejum e abstinência.  

Peçamos que os nossos pecados tenham sido pregados na Cruz e possamos ressurgir para uma vida nova na vigília da ressurreição. Essa é a ideia da quaresma e da Páscoa, deixar morrer em nós o velho homem e ressurgir para uma vida nova. É a passagem da morte para a vida, ou seja, do pecado para a vida eterna, deixar de lado a escravidão do pecado e passar para a liberdade da vida em Deus.  

Ao participarmos da celebração da paixão do Senhor e adorar a Cruz, cremos que o sofrimento acabou ali e que Jesus venceu a morte e abriu para nós o caminho para a vida eterna. Em setembro celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz, nessa festa não adoramos simplesmente o madeiro da Cruz em si, mas adoramos aquele que nela morreu e ressuscitou por amor a nós. É comum entoarmos esse cântico na Sexta-feira Santa: “Vitória tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás”. A Cruz que para muitos é derrota ou o fim, inclusive para os judeus, mas para nós é vitória e o início de uma nova vida. Desde o nosso batismo somos marcados com a Cruz de Cristo e a fé na Cruz de Cristo nos acompanhará ao longo de toda vida, até ao dia de nossa morte.  

Iniciemos o descendimento da Cruz para tirar o corpo de Jesus da Cruz. José de Arimatéia pediu autorização para Pilatos, mas para sepultar o corpo do Senhor e, é necessário fé e coragem para transportar o corpo do Senhor. Nossa Senhora sua mãe, acompanhava tudo de perto, com dor no coração, mas crendo na misericórdia de Deus. É preciso acreditar que Ele está vivo, e intercede junto ao Pai por nós.  

Em primeiro lugar tiremos a inscrição “INRI”, que significa: Jesus Nazareno Rei dos Judeus, escrito em hebraico, latim e grego. Essa inscrição se torna para nós uma profissão de fé e rezamos diariamente no Pai Nosso: “Venha a nós o vosso reino”. O Reino de Deus só se fará presente em nossa vida, a partir do momento que fizermos a vontade de Deus. Ele é o caminho, a verdade e a vida.  

Agora, tiremos a “coroa de espinhos”, essa coroa não era digna de um rei, ainda mais um rei como Jesus. Puseram uma coroa falsa naquele que era o verdadeiro rei. Os espinhos simbolizam as consequências do pecado. Muitas vezes nós cravamos essa coroa em Jesus, quando não realizamos a sua vontade e cometemos pecados.  

Em seguida, passemos para o corpo do Senhor propriamente, por primeiro “Desprendamos o braço direito”, ao ser crucificado recebeu pregos em suas mãos e pés. Imaginemos a dor que Jesus sentiu ao receber esses pregos. Nós também colocamos esses pregos em Jesus toda as vezes que pecamos e que não fazemos a sua vontade em nossa vida. Ferimos Jesus todas as vezes que não permitimos que as nossas crianças tenham uma educação de qualidade.  

Em seguida, “Desprendamos o braço esquerdo”, é preciso desatar os braços do Mestre, o braço que foi esticado e preso na Cruz, o braço que foi feito para fazer o bem, não pode ficar preso na Cruz. Que todas as vezes que o nosso braço nos levar a pecar, lembremos das feridas que Jesus sofreu ao ter seu braço preso na Cruz.  

Meus irmãos, já desprendemos os braços, agora desprendamos os pés, “Desprendam os pés”, os pregos de seus pés com certeza eram maiores ainda que os pregos de suas mãos, pois pregaram seus dois pés juntos. Imaginemos a tamanha dor que Jesus sentiu, e ainda tendo que suportar a dor do flagelo que sofreu, da coroa de espinhos e dos pregos das mãos. Que todas as vezes que impedirmos alguém de caminhar, ou privar alguém de liberdade, possamos pensar o que Jesus sofreu ao ter seus pés pregados.  

Por fim, “desçam o corpo de Jesus”, nesse momento façamos um profundo silêncio em sinal de respeito, ao Mestre que falecido é tirado da Cruz. Imaginemos a cena do corpo de Jesus sendo entregue a Maria, sua mãe (Pietà). Lembremo-nos nesse momento de tantas mães que recebem os seus filhos “mortos” em seus braços. Mortos pela violência, balas perdidas, tráfico, doenças etc. Que o Espírito Santo conforte o coração dessas mães, do mesmo modo que confortou o coração de Maria Santíssima.  

Após tirar o corpo do Senhor da Cruz, o sepultemos, mas crendo que Ele ressuscitará no terceiro dia. Que Jesus sepulte todos os nossos pecados e ressurjamos com Ele para uma vida nova na Páscoa. Se agora as trevas tomam contam do mundo, no sábado de madrugada, na vigília da ressurreição a Luz iluminará o mundo todo.  Que com a ressurreição de Jesus o mundo se abra para a paz e a harmonia, e não haja mais guerras e fome.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O Senhor, o Criador de tudo e a Campanha da Fraternidade 2025

Tempo de criação (Vatican News)

O poder dado pelo Senhor ao ser humano é percebido como serviço, da vida que deve ser levada adiante sem a depredação da biodiversidade, das coisas boas que o Senhor deu para o bem da vida humana e à glória do Deus Criador.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá , PA.

Nós meditamos a Campanha da Fraternidade 2025 sobre a Ecologia Integral, pelo fato de que todas as pessoas cuidem da Casa Comum, e sejam guardiões da mesma. O poder dado pelo Senhor ao ser humano é percebido como serviço, da vida que deve ser levada adiante sem a depredação da biodiversidade, das coisas boas que o Senhor deu para o bem da vida humana e à glória do Deus Criador. É importante meditar a palavra dos padres da Igreja a respeito do Senhor, de Deus como Criador de tudo e a relação com a Campanha da Fraternidade deste ano 2025.

O Senhor e Criador de tudo

A Carta a Diogneto escrita no século II afirmou a importância da doutrina cristã, pois esta na sua concepção não era uma invenção humana, mas ela provinha do verdadeiro Senhor e Criador de tudo, o Deus invisível, que fez descer do céu, para o meio dos seres humanos, a verdade, a palavra santa[1], Jesus Cristo para o bem da humanidade e a salvação do mundo. Deus Pai, no seu Filho criou tudo em vista de sua glória infinita.

O enviado neste mundo: o artífice das coisas

O escrito da Carta a Diogneto continuou afirmando que o Senhor não mandou para os seres humanos algum de seus servos, ou um anjo, ou ainda algum dos príncipes que governam as coisas terrestres, mas o próprio artífice e Criador do universo, isto é, Aquele que por meio do qual Ele criou os céus e através do qual encerrou o mar seus limites (cfr. Jó 38,10)[2], Jesus Cristo, o Salvador.  

Os elementos são guardados

A descrição que a Carta a Diogneto faz do Senhor e Criador de tudo diz respeito Àquele cujo mistério todos os elementos guardam de uma forma fiel, Àquele de cuja mão o sol recebeu as medidas que deve observar, em seu curso cotidiano; Àquele a quem a lua obedece, quando esta é chamada a luzir durante a noite[3].

A obediência dos elementos

O Senhor Deus Criador fez as estrelas que formam o séquito da lua em seu percurso. Ele ordenou a todas as coisas, do qual tudo foi delimitado e disposto: os céus e as coisas que existem nos céus, a terra e as coisas que existem na terra, o mar e as coisas que existem no mar, o fogo, o ar. o abismo, aquilo que está no alto, o que existe no profundo e o que está no meio[4]. Tudo isto fez o Senhor para o bem da humanidade.

Deus enviou o seu Filho

A vinda do Filho de Deus está ligada à reconciliação entre Deus e a criatura. Alguém poderia pensar esta vinda ligada à tirania ou para infundir nas coisas criadas medo e prostração?! O Senhor enviou o seu Filho não para condenar o mundo, mas para que seja salvo por Ele (cfr. Jo 3,17)[5].

A árvore que dá fruto verdadeiro

A Carta a Diogneto colocou também a árvore verdadeira na qual a pessoa seguidora de Jesus é chamada a agarrar-se, que é o Senhor Jesus, porque produzirá a pessoa muitos frutos agradáveis, nos quais a serpente enganadora não pode tocar, nem haja mistura de engano, de falsidades, mas só a verdade que é o Senhor e onde haja a Páscoa do Senhor, a passagem da morte para a vida eterna[6].

O Deus Criador

Atenágoras de Atenas, padre apologista do século II afirmou o Deus Criador é um só, diante do politeísmo dos gregos e dos romanos. Ele criou todas as coisas e os seres humanos. O criado é semelhante aos seus modelos, mas o Incriado não se assemelha a nada, pois não foi feito por ninguém, nem para ninguém. O Deus Criador do mundo está acima da criação e habita nas pessoas, nos povos que o amam de fato[7].

A fé em Deus Uno e Trino

Atenágoras escreveu a respeito da fé em um só Deus, Eterno, pelo qual tudo foi feito através do Verbo que Dele vem, e pelo qual tudo foi ordenado e se conserva no Universo e nas coisas. Desta forma há a unidade entre o Pai e o Filho e o Filho com o Pai e também no Espírito Santo. Como todas as coisas procedem de Deus tudo foi feito por Deus Uno e Trino, de modo que era criado por natureza informe e a terra estava inerte[8]. Deus criou todas as coisas para o bem do ser humano e à gloria dele.

 Notas:

[1] Cfr. A Carta a Diogneto, 7,1-2. In: Padres Apologistas. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 24.

[2][2] Cfr. Idem, 7,2, pg 24.

[3] Cfr. Ibidem, pg 24.

[4] Cfr. Ibidem, pgs. 24-25.

[5] Cfr. Ibidem, 7,3, pg. 25.

[6] Cfr. Ibidem, 12, 8, pg. 30.

[7] Cfr. Atenágoras de Atenas. Petição em favor dos cristãos, 88. In: Idem, pgs. 128-129.

[8] Cfr. Idem, pg. 131. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os rostos do Evangelho: Mateus

Os rostos do Evangelho - Mateus (Vatican News)
Os rostos do Evangelho narrados pelo Papa Francisco.


Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 15 de abril de 2025

Como o meu jejum pode ajudar a interromper uma guerra?

Shutterstock

Philip Kosloski - publicado em 27/10/23

Parece improvável que o jejum possa impedir uma guerra distante, mas existem algumas verdades teológicas profundas em jogo nesta prática.

A Igreja frequentemente incentiva o jejum, e o Papa designou dias específicos de jejum várias vezes como forma de penitência para pedir a paz no mundo. No entanto, quando este assunto surge, podemos nos questionar: "Como o meu jejum pode ajudar a interromper uma guerra?"

Embora isso possa parecer impossível, existem algumas verdades teológicas profundas em jogo aqui. E, de fato, sabemos que o jejum ajudou no passado, mesmo no passado recente.

Apelo do Papa

O jornalista e teólogo Giovanni Marcotullio afirma que o apelo do Papa Francisco à oração e ao jejum em 2013 ajudou a acalmar a guerra na Síria.

"O conflito esteve perto de fazer com que a fogueira local da guerra acendesse uma conflagração global, pressagiando terríveis cenários pós-atómicos. O Papa Francisco recorreu então ao jejum e à oração. ‘Esse tipo de demônio', disse Jesus, 'não pode ser expulso a não ser por meio de jejum e oração'. (Mateus 17,21)"

Embora a guerra na Síria não tenha terminado imediatamente naquela noite, o conflito não se transformou em algo muito mais terrível.

O poder espiritual do jejum

Marcotullio explica por que o jejum em particular pode ser benéfico.

Por que acompanhar a fé e a oração com o jejum? Existem vários motivos; aqui, tento listar alguns (sem pretender cobrir todas as bases):

O jejum faz o homem reconhecer seu orgulho, e toda guerra nasce do orgulho de alguém. Ao jejuar, reconhecemos que somos irmãos dos orgulhosos, e que somos orgulhosos como nossos irmãos belicistas, por isso pedimos a Deus que converta todos os nossos corações;

O jejum nos leva à oração humilde, para não nos colocarmos em um pedestal em relação aos outros: o fariseu que Jesus descreveu na parábola jejuava, sim, três vezes por semana, mas ao se gabar disso, ele o fazia em vão; esvaziou-o do seu significado sacrificial e – por assim dizer – renegou-o;

O jejum leva aqueles que o praticam a expressar compaixão pelas vítimas diretas da violência e da guerra: não temos mérito se estivermos “do lado certo” do mundo; não só isso, talvez seja o nosso próprio estar “do lado certo” que nos torna de alguma forma uma causa cooperante do sofrimento dos outros;

O jejum quebra a dinâmica do consumo, nos traz de volta ao essencial e nos mostra que podemos viver mesmo sem todas aquelas coisas que a opulência do nosso mundo nos induz a considerar “essenciais”. Então, nossos olhos se abrem para a perspectiva de um estilo de vida essencialmente sóbrio, aprendendo uma ecologia integral que restitui a expressão (muitas vezes exagerada) “justo e solidário” ao seu destino mais elevado, que é o Paraíso.

De uma forma espiritual, o jejum pode ajudar-nos pessoalmente, bem como à comunidade global, a compreender a necessidade da paz.

O jejum nos coloca numa disposição particular que clama a Deus, implorando-lhe que mude os corações e mentes daqueles envolvidos na guerra.

Acima de tudo, trata-se de confiança: confiar que Deus pode fazer milagres e que as nossas orações realmente têm um efeito no mundo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2023/10/27/como-o-meu-jejum-pode-ajudar-a-interromper-uma-guerra

Papa escreve meditações da Via-Sacra; presença no Tríduo Pascal permanece indefinida

O Papa, ao final da Missa de Domingo de Ramos, saudou os fiéis presentes na Praça São Pedro."  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Francisco continua apresentando melhora em seu estado de saúde, especialmente nas funções motoras, respiratórias e vocais. Ainda não há confirmação sobre sua participação nas celebrações do Tríduo Pascal. As celebrações serão presididas por cardeais designados pelo próprio Pontífice.

Vatican News

Nesta terça-feira, 15 de abril, a Sala de Imprensa da Santa Sé deu informações sobre a convalescença do Papa Francisco durante um encontro com jornalistas:

O Papa continua melhorando do ponto de vista motor, respiratório e vocal. Quanto ao uso do oxigênio, ele consegue ficar mais tempo sem as cânulas nasais. Em relação ao de alto fluxo, é de uso residual para fins terapêuticos, sempre à noite e quando necessário. Os vários tratamentos continuam. Prosseguem também os breves encontros com os superiores da Cúria. O próximo briefing sobre a saúde do Pontífice está previsto para sexta-feira (18/04).

Celebrações do Tríduo Pascal

Ainda não há indicações sobre a presença do Santo Padre nos ritos do Tríduo Pascal. As meditações da Via-Sacra deste ano foram preparadas pelo Papa e serão publicadas às 12h (horário local) da Sexta-feira Santa.

Na manhã de quinta-feira (17/04), a Missa do Crisma será presidida pelo cardeal Domenico Calcagno, presidente emérito da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica.

Hoje (15/04) será divulgado o calendário das celebrações na Basílica de São Pedro: na quinta-feira, a Missa da Ceia do Senhor será às 18h, mas não será organizada pela Capela Papal.

Na sexta-feira, a celebração da Paixão do Senhor será presidida pelo cardeal Gugerotti. A Via-Sacra no Coliseu será presidida pelo cardeal Baldassare Reina, vigário do Papa para a diocese de Roma.

É o Papa quem delega os cardeais que presidem às várias celebrações.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

HISTÓRIA: Cristãos do Oriente e do Ocidente celebrarão a Páscoa no mesmo dia

Concílio de Niceia - Foto: Vatican News)

Nos 1700 anos do Concílio de Niceia, cristãos do Oriente e do Ocidente celebrarão a Páscoa no mesmo dia.

14/04/2025

No ano em que a Igreja celebra os 1700 anos do Concílio de Niceia, o primeiro concílio ecumênico, a Páscoa dos cristãos do Ocidente e do Oriente será celebrada na mesma data, em 20 de abril. Esses dois marcos se relacionam no desejo contido naquela reunião do ano de 325 de que houvesse uma data comum para a Páscoa. Ainda hoje esse desejo está presente nas lideranças eclesiais e é motivado pelo Papa Francisco como “um apelo a todos os cristãos do Oriente e do Ocidente para darem resolutamente um passo rumo à unidade” dessa celebração conjunta.

Como a proposta surgiu

Resumidamente, o Papa Francisco escreveu na Bula de Proclamação do Jubileu 2025 que o Concílio de Niceia teve a missão de preservar a unidade, “então seriamente ameaçada pela negação da plena divindade de Jesus Cristo e da sua igualdade com o Pai”. Com o Símbolo de fé reconhecido pelos padres conciliares como sinal da comunhão na mesma fé, o estabelecimento de uma data comum para a Páscoa foi a questão pastoral mais importante daquele encontro, segundo o prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Kurt Koch.

Existiam datas diferentes de celebração da Páscoa, na Igreja Primitiva: na Ásia Menor, os cristãos celebravam a Páscoa em simultâneo com a Páscoa judaica, no dia 14 de Nisan, e eram por isso conhecidos como quartodecimanos. Em contrapartida, os cristãos chamados protopasquistas, sobretudo na Síria e na Mesopotâmia, celebravam a Páscoa no domingo seguinte à Páscoa judaica. Perante esta situação, o Concílio de Niceia encontrou uma regra uniforme, definindo a celebração da Páscoa de acordo com o que acontecia entre os romanos.

No século XVI, com a reforma do calendário pelo Papa Gregório XIII, quando foi introduzido o chamado calendário gregoriano, a celebração da Páscoa passou a ser no domingo a seguir à primeira lua cheia da primavera. Enquanto as Igrejas do Ocidente calculam desde então a data da Páscoa de acordo com este calendário, as Igrejas do Oriente continuam a utilizar maioritariamente o calendário juliano, que foi também a base do Concílio de Niceia.

“Apesar de, entretanto, terem sido discutidas várias propostas para uma data comum             da Páscoa, a questão ainda não foi resolvida. Já o Concílio Vaticano I se deteve neste         urgente desafio pastoral num apêndice à Constituição sobre a Sagrada Liturgia                “Sacrosanctum Concilium”, promulgada em 1963, declarando que pretendia ter «em         devida conta o desejo de muitos de que a festa da Páscoa seja atribuída a um domingo         específico e de adotar um calendário fixo». O Concílio declarou-se favorável «a que a         festa da Páscoa seja atribuída a um domingo específico do calendário gregoriano,            desde que haja o consentimento dos interessados, especialmente dos irmãos separados         da comunhão com a Sé Apostólica». O Papa Francisco manifestou várias vezes o                mesmo espírito de abertura”, contou o prefeito Koch.

Por uma data comum

“Infelizmente, ainda não existe um acordo unânime neste ponto. A divergência dos cristãos a respeito da mais importante festa de seu calendário cria danos pastorais nas comunidades, até ao ponto de dividir famílias, e causar escândalo entre os não cristãos, afetando o testemunho do Evangelho”, pontua a Comissão Teológica Internacional no documento “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador – 1700º aniversário do Concílio Ecumênico de Niceia 325-2025“.

É por isso que o Papa Francisco, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu e outros líderes da Igreja têm apelado repetidamente pelo estabelecimento de uma data comum para a celebração da Páscoa.

Com a coincidência da data neste ano de 2025, os cristãos são motivados a refletir sobre a “oportunidade providencial para todas as comunidades cristãs continuarem a celebrar a Paixão e a Ressurreição de Cristo, a ‘festa das festas’ (Matinas Pascais bizantinas), em comunhão também cronológica”. A Comissão Teológica Internacional ressalta que Igreja Católica permanece aberta ao diálogo e a uma solução ecumênica sobre o tema.

“Seja isto um apelo a todos os cristãos do Oriente e do Ocidente para darem                         resolutamente um passo rumo à unidade em torno duma data comum para a Páscoa.             Vale a pena recordar que muitos desconhecem as diatribes do passado e não entendem          como possam subsistir divisões a tal propósito”, escreveu o Papa Francisco na Bula             de Proclamação do Jubileu Peregrinos de Esperança.

Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu I, no Vaticano | Foto: Vatican Media

Niceia e o ecumenismo

O prefeito do Dicastério para a promoção da unidade dos Cristãos afirma que o aniversário dos 1700 anos do Concílio Ecumênico de Niceia tem importantes dimensões ecumênicas, sendo uma delas ter dado à Igreja o fundamento do ecumenismo espiritual, com fé comum no Cristo Verdadeiro Deus e Verdadeiro homem.

Aqui no Brasil, reflexões e celebrações que a Comissão Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem realizado nos últimos meses para comemorar essa marca “têm sido uma excelente oportunidade para o crescimento na busca da unidade entre, não apenas católicos e ortodoxos, mas também na caminhada ecumênica rumo à unidade, com outras igrejas e comunidades eclesiais, respondendo ao que nos pede Jesus: ‘Que todos sejam um’ (Jo 17,22)”, de acordo com o assessor da Comissão, padre Marcus Guimarães.

Ele recorda que durante a 62ª Assembleia Geral da CNBB, entre os dias 30 de abril e 9 de maio, haverá “mais um momento de oração, encontro, convivência e fraternidade ecumênica com irmãos de várias Igrejas ortodoxas e de outras comunidades cristãs”.

“Com certeza, será mais um gesto concreto, um momento especial de fortalecimento             rumo à Unidade dos Cristãos”, ressalta.

Luiz Lopes Jr.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

segunda-feira, 14 de abril de 2025

“Vai e faz tu o mesmo”: A lei de Deus e a misericórdia

A lei de Deus e a misericórdia (Crédito: Opus Dei)

“Vai e faz tu o mesmo”: A lei de Deus e a misericórdia

Quem é meu próximo? O Senhor responde a essa pergunta de um doutor da lei com a parábola do bom samaritano. Dessa forma abre para ele – e para nós –, o horizonte das bem-aventuranças, que mostram a profundidade da lei de Deus. Novo editorial sobre a misericórdia.

01/08/2016

Em certa ocasião, um doutor da lei se aproximou de Jesus para perguntar o que devia fazer para conseguir a vida eterna. Na realidade, ele queria testar a ortodoxia do rabi de Nazaré, de quem, ao que parece, não sabia o que pensar[1]. Mas Jesus não se incomodou. Aceitou o diálogo e lhe devolveu a pergunta «O que está escrito na lei? Como é que lês?»[2]. O doutor respondeu com umas palavras do Shemá Israel, Escuta Israel[3], que todo israelita aprendia desde pequeno: «Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu pensamento»[4] e acrescentou com o livro do Levítico: «e a teu próximo como a ti mesmo»[5].

Nessas duas fórmulas estão sintetizadas toda a lei e os profetas[6], de modo que o Senhor diz: «Respondeste bem. Faz isto e viverás»[7]. O doutor não esperava que sua pergunta se solucionasse com essa simplicidade desconcertante. «Querendo justificar-se»[8] insiste com uma nova questão: «E quem é o meu próximo?»[9]. Jesus não se rende, pois quer ganhar a confiança de seu interlocutor. Fala-lhe então ao coração e, com ele, a todos os homens e mulheres de todos os tempos, com sua linguagem, ao mesmo tempo simples e solene: é a parábola do bom samaritano.

“Fazer-se próximo”

     No pobre homem assaltado no caminho de Jerusalém a Jericó,         os Padres da Igreja viam Adão, e com ele – porque seu nome         significa precisamente “homem” – viam a humanidade                     maltratada pelo seu próprio pecado, pelo nosso próprio pecado.

No pobre homem assaltado no caminho de Jerusalém a Jericó, os Padres da Igreja viam Adão, e com ele – porque seu nome significa precisamente “homem” – viam a humanidade maltratada pelo seu próprio pecado, pelo nosso próprio pecado. No bom samaritano reconheciam Jesus, que vem com paciência para nos curar, depois de que aqueles que não eram capazes de trazer a salvação ao mundo passassem longe. Ele, por outro lado, pode e quer. Uma antiga e venerável homilia imagina assim o encontro de Cristo com Adão – que é também o encontro com cada um de nós – ao descer para os infernos: «Eu sou o teu Deus, quem por tua causa fiz-me teu filho; por causa de ti, e por causa daqueles que nasceriam de ti, a todos aqueles que eram escravos, digo-o eu: “Saí”, e aos que se encontram nas trevas: “Iluminai-vos”, e aos que dormem: “Levantai-vos!”»[10].

Com Jesus, os cristãos, seus ungidos, são chamados a levar a sua salvação – a serem bons samaritanos. Como seu Senhor, também eles devem curar as feridas dos homens e derramar azeite e vinho sobre elas[11]: devem ser bons estalajadeiros até a volta do Samaritano. «Essa pousada, se notáreis bem, é a Igreja. Agora é pousada porque nossa vida é um estar de passagem. Será casa que nunca abandonaremos quando tenhamos chegado curados ao reino dos céus. Enquanto isso, aceitamos com gosto o tratamento na pousada»[12]. Este é o horizonte que o Senhor quer abrir ao doutor da lei, e com ele, a todos os cristãos, e a todos os seres humanos. Não o repreende por sua estreiteza: faz-lhe pensar primeiro, e depois, sonhar: «Vai e faz tu o mesmo»[13]. Como acontece com frequência nos Evangelhos, é bom não passar muito depressa por cima da concisão do relato. A resposta à pergunta de Jesus: - «quem foi seu próximo?» – é certamente óbvia: «Aquele que usou de misericórdia para com ele.»[14]. O que não é evidente, porém, é por que o Senhor faz essa pergunta que vira do avesso a colocação do doutor da lei: «Jesus inverte a perspectiva: não se trata de reconhecer o outro como meu semelhante, mas de ser capaz de fazer-me semelhante ao outro»[15]. Diante de uma atitude estreita, que delimita o campo de ação para fazer o bem – considerando, por exemplo, se os outros pertencem ao meu grupo, se depois me devolverão o favor –, o Senhor responde convidando a levantar a vista, a ser ele mesmo próximo.

A lei de Deus e a misericórdia (Crédito: Opus Dei)

A palavra próximo converte-se assim, da qualificação de um tipo de pessoas que mereceriam minha atenção, a uma qualidade do coração. É a pedagogia de Deus, que dá uma virada à pergunta “a quem fazer o bem” e a transfigura: o que era matéria de discussão e casuística nas escolas rabínicas – onde estava o limite? Até onde tenho que compadecer-me dos outros? – converte-se em um desafio audaz. O cristão, dizia São João Paulo II, «não se pergunta a quem deve amar, porque perguntar-se “quem é meu próximo?” já implica colocar limites e condições (...). A pergunta legítima não é “quem é meu próximo?”, mas sim “de quem devo fazer-me próximo?”. E a resposta é: qualquer um que sofre necessidade, ainda que me seja um desconhecido, converte-se para mim em próximo, ao que eu devo ajudar”[16]. É a proximidade[17], neologismo do Papa Francisco que nos lembra nossa vocação de ser próximos do nosso próximo, a ser «ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença»[18].

O caminho até a plenitude da Lei

     Com Jesus, os cristãos, seus ungidos, são chamados a levar a         sua salvação – a serem bons samaritanos. Como seu Senhor,         também eles devem curar as feridas dos homens e                             derramar azeite e vinho.

Poderíamos dizer que este diálogo com o doutor da lei resume o caminho que vai desde os ensinamentos morais do Antigo Testamento até a plenitude da vida moral em Cristo. E que, como nos lembra São Paulo, a lei do povo escolhido é boa e santa[19], mas não definitiva. Ordenava-se, principalmente, a preparar os corações para a chegada de Jesus. A pergunta do fariseu – «qual é o principal mandamento da Lei?»[20] – parece refletir certa angústia diante dos inúmeros preceitos que, com uma visão legalista, foram se introduzindo na vida religiosa israelita. Em outro momento, Jesus Cristo se queixa dos doutores da lei «que carregais os homens com pesos que não podem levar, mas vós mesmos nem sequer com um dedo vosso tocais os fardos»[21].

E mais ainda: em algumas ocasiões, as tradições humanas terminaram por tornar-se uma desculpa para não se sujeitar a um mandato divino, assim, Jesus denuncia a atitude de quem se escudava com as ofertas do Templo para não ajudar a seus pais[22].

Por isso, Jesus Cristo aponta para o fundamental: o Amor a Deus e ao próximo. Deste modo, se cumpre o que Ele diz de si mesmo: que não veio «abolir a lei ou os profetas (...), mas sim para levá-los à perfeição»[23].

A Aliança que Deus celebrou com seu povo incluía umas prescrições que não tinham o sentido original de impor-lhes cargas, mas sim, muito ao contrário, o de levar-lhes por caminhos de liberdade: «Olha que hoje ponho diante de ti a vida com o bem, e a morte com o mal. Mando-te hoje que ames o Senhor (...) para que vivas e te multipliques, e que o Senhor, teu Deus, te abençoe na terra em que vais entrar para possuí-la»[24].

A terra prometida aos hebreus simboliza um lugar os homens e as mulheres de todos os tempos podem entrar, se vivem os mandamentos de Deus em seu autêntico sentido. É uma porta para chegar à comunhão com Deus, porque, fora dela, qualquer outra terra parece inóspita: «O que é preciso para conseguir a felicidade não é uma vida cômoda, mas um coração enamorado»[25].

A lei de Deus e a misericórdia (Crédito: Opus Dei)

Se, por um lado, os preceitos rituais e legais do povo de Israel terminaram com a vinda de Jesus Cristo, por outro, os Dez Mandamentos, conhecidos também como o Decálogo, são perenes: recolhem os princípios fundamentais para poder amar a Deus – colocando-o por cima de tudo, respeitando seu santo nome, dedicando-lhe os dias de festa, como os cristãos fazemos no domingo – e aos outros – alimentando o carinho e reverência aos pais, protegendo a vida, a pureza de coração, etc. Quantas gerações de israelitas meditaram a verdade e a solicitude do Pai que estão nessas dez palavras! «Minha herança eterna são as vossas prescrições, porque fazem a alegria de meu coração»[26], uma amostra da misericórdia divina, que não quer que nos extraviemos, que deseja que tenhamos uma vida plena. O mundo pode se rebelar às vezes contra os Mandamentos, como se fossem imposições ultrapassadas, próprias de um estágio infantil da humanidade. Mas não faltam exemplos de como as sociedades e as pessoas se desmoronam quando creem que podem ignorá-los. As dez palavras do Senhor são as constantes do universo interior do ser humano. Se são alteradas, seu coração se desfigura.

Para que sejais filhos do vosso Pai

O Decálogo se engloba na nova lei que Jesus Cristo instaurou ao salvar-nos dando sua vida na Cruz. Essa nova lei é a graça do Espírito Santo concedida mediante a fé em Cristo[27]. Agora, portanto, não temos somente um horizonte moral a que aspirar: trata-se de viver em Jesus, de parecer-nos cada vez mais com Ele, deixando que o Espírito Santo nos transforme, para cumprir assim seus mandamentos.

Como ser mais parecidos com Jesus Cristo? Onde podemos ver seu modo de ser? O Catecismo diz que «As bem-aventuranças desenham o rosto de Jesus Cristo e descrevem sua caridade»[28]. Nesses ensinamentos recolhidos pelos evangelhos, vemos o retrato de Nosso Senhor, seu rosto que revela o amor compassivo do Pai a todos os homens. Elas recolhem as promessas feitas ao Povo Eleito, mas as aperfeiçoam ordenando-as não somente à posse da terra, mas ao Reino dos Céus[29].

No evangelho de Mateus, as primeiras quatro bem-aventuranças se referem a uma atitude ou forma de ser que tem seu centro nas palavras de Jesus[30]: «Bem-aventurados os pobres de espírito», «os que choram», «os mansos», «os que têm fome e sede de justiça». Convidam a confiar totalmente em Deus e não nos nossos recursos humanos, a enfrentar com sentido cristão os sofrimentos, a ser pacientes dia a dia. A estas bem-aventuranças se acrescentam outras que põem o acento na ação: «Bem-aventurados os misericordiosos», «os limpos de coração», «os pacíficos», e outras mais que nos advertem que, para seguir Jesus, temos que sofrer algumas contradições [31], sempre com alegria, pois «a felicidade do Céu é para os que sabem ser felizes na terra»[32].

As bem-aventuranças certamente manifestam a misericórdia de Deus, que se empenha em dar um júbilo sem limites àqueles que O seguem: «Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.»[33] Elas não são, no entanto, uma coleção de aforismos para imaginar um utópico mundo melhor que alguém se ocupará de fazer possível, ou para consolar-se falsamente diante das dificuldades do momento. Por isso, as bem-aventuranças são também chamadas exigentes de Deus ao coração de cada ser humano. Elas nos empurram a comprometer-se a trabalhar pelo bem e a justiça já nesta terra.

Considerar com frequência as bem-aventuranças, talvez na oração pessoal, ajuda a saber como aplicá-las na vida diária. Por exemplo, a mansidão se concretiza tantas vezes no «sorriso amável para quem te incomoda, aquele silêncio ante a acusação injusta, a tua conversa afável com os maçantes e os inoportunos, o não dar importância cada dia a um pormenor ou outro, aborrecido e impertinente, das pessoas que convivem contigo...»[34].

Ao mesmo tempo, quem procura viver segundo o espírito das bem-aventuranças, vai incorporando à sua personalidade umas atitudes e modos de julgar as coisas que lhe dão maior facilidade para cumprir os mandamentos. A limpeza de coração lhe permite ver a imagem de Deus em cada pessoa, considerando-a como alguém digna de respeito e não como objeto para satisfazer uns desejos retorcidos. Ser pacíficos leva-nos a viver como filhos de Deus e a reconhecer os outros como seus filhos, seguindo esse «caminho mais excelente»[35] da caridade, que «tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta»[36], transformando os agravos em uma ocasião de amar e rezar por aqueles que prejudicam[37]. Em resumo, ser pacíficos nos leva a modelar o nosso coração segundo os contornos que traçam as bem-aventuranças, torna realidade o ideal que Jesus Cristo nos propõe de ser misericordiosos como o «Pai celestial é misericordioso»[38]. Transformamo-nos em portadores do amor de Deus, aprendemos a ver nos outros esse próximo que necessita nossa ajuda. Somos, em Cristo, esse bom samaritano que sabe se conduzir pela misericórdia, para cumprir em plenitude a lei da caridade. Então, nosso coração se expande, como aconteceu com o coração de Nossa Senhora.

Carlos Ayxelá – Rodolfo Valdés


[1] Cfr. Lc 10, 25.

[2] Lc 10, 26.

[3] O Shema‘ Israel é o nome que os israelitas usam para se referir ao texto bíblico do livro do Deuteronômio, que recitam diariamente nas suas orações: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,4-5).

[4] Deut 6,5

[5] Lev 19,18

[6] Mt 22, 40

[7] Lc 10, 28

[8] Lc 10, 29

[9] Lc 10, 29

[10] Homilia sobre o grande e santo Sábado (PG 43, 462).

[11] Lc 10, 34.

[12] Santo Agostinho, Sermão 131, 6

[13] Lc 10,37

[14] Lc 10, 37

[15] Francisco, Mensagem, 24-I-2014.

[16] São João Paulo II, Discurso, 2-II-1999.

[17] Francisco, Ex.Ap. Evangelii Gaudium (24-XI-2013), nº 169.

[18] Francisco, Mensagem, 4-X-2014.

[19] Cfr. Rom 7, 12.

[20] Mt 22,36

[21] Lc 11,46

[22] Mt 15, 3-6

[23] Mt 5, 17

[24] Deut 30, 15-18

[25] São Josemaria, Sulco, nº 795

[26] Salmo 119 (118), 111.

[27] Cfr. São Tomás de Aquino, Summa Theologica I-II, q. 106, a.1, c. e ad 2, cit. Em São João Paulo II, Enc. Veritatis Splendor, 6-VIII-1993, nº 24.

[28] Catecismo da Igreja Católica, nº 1717.

[29] Idem, nº 1718.

[30] Cfr. Mt 5,3-12.

[31] Cfr. Mt 5, 10-12

[32] São Josemaria, Forja, nº 1005.

[33] Mt 5,12.

[34] São Josemaria, Caminho nº 173.

[35] 1 Cor 12,31.

[36] 1 Cor 13, 7.

[37] Cfr Mt 5, 44-45.

[38] Lc 6, 36.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/vai-e-faz-tu-o-mesmo-a-lei-de-deus-e-a-misericordia/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF