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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A crise da Igreja Católica e a Teologia da Libertação

Foto captura: YouTube | CNBB.

A CRISE DA IGREJA CATÓLICA E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

14/08/2025

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

(Síntese crítica a partir de Clodovis Boff e Leandro Adorno, org.) 

A obra organizada por Clodovis Boff e Leandro Adorno tem despertado o interesse de muitos leitores. Ao examinar o “declínio atual da Igreja Católica”, não se limita à análise de dados estatísticos, mas apresenta um diagnóstico que integra dimensões espirituais, pastorais e teológicas. A questão central vai além dos números ou índices de frequência religiosa, manifestando-se, sobretudo, na perda de vitalidade espiritual e na inversão de prioridades quanto à missão e à identidade eclesial. 

Segundo os autores, o declínio simultâneo — quantitativo (redução do número de fiéis) e qualitativo (enfraquecimento da fé) — não se deve apenas a transformações socioculturais, mas a um déficit de espiritualidade. A Igreja perde fiéis porque, em muitos contextos, deixou de comunicar de forma viva o mistério de Deus, oferecendo respostas mais sociológicas que espirituais. Não se trata apenas de uma questão numérica ou de dimensão institucional; a gravidade está no deslocamento do centro da Igreja de Cristo para o mundo, priorizando demandas sociais em detrimento da experiência teologal.  

A análise critica a “secularização interna”, processo pelo qual o social passa a ditar os rumos da fé, e não o contrário. Isso produz uma fé funcionalista, instrumentalizada para legitimar causas temporais, ainda que legítimas, relegando a Palavra de Deus a um papel secundário. Assim, para muitos na comunidade eclesial, as questões religiosas e espirituais só despertam interesse quando vinculadas a agendas sociais, sinalizando uma “mundanização” que ameaça a identidade sobrenatural da Igreja. 

Esse deslocamento afasta, em especial, o homem “pós-moderno”, mais sensível à espiritualidade, mas que não encontra na Igreja a profundidade que busca. Desse contexto emerge o fenômeno crescente dos “sem religião”, ou seja, de pessoas que preservam crença ou espiritualidade, mas se distanciam das instituições. Uma pastoral excessivamente sociocentrada não responde à demanda espiritual contemporânea, desperdiçando um kairós favorável à evangelização. 

A crítica se estende também à teologia contemporânea que, sob forte influência antropocêntrica, teria abandonado a “agenda dos mistérios” para privilegiar questões transitórias. Conceitos centrais como “sobrenatural” e “alma” são minimizados, temas escatológicos relegados e a linguagem espiritual tradicional evitada. Esse viés, segundo os autores, acaba por oferecer fundamentos teóricos e justificativas racionais para um esvaziamento espiritual dentro da própria Igreja, ao deslocar a atenção do núcleo da fé para preocupações meramente temporais. 

No plano pastoral, os autores afirmam que reformas estruturais ou posicionamentos ideológicos — sejam “progressistas” ou “conservadores” — têm pouca eficácia sem a renovação da fé viva em Cristo. É ilusão pensar que o simples engajamento social possa revitalizar a Igreja; sem base espiritual sólida, o resultado será um “cristianismo sem mistérios”, talvez útil à sociedade, mas incapaz de cumprir sua missão divina. 

A saída proposta é retomar a centralidade existencial e operativa de Cristo. Tal primazia exige entrega total — “dar o sangue e receber o Espírito” — e se expressa numa espiritualidade de oração profunda, livre de instrumentalizações. A Igreja que reza se salva; a que não reza, se perde. É preciso recuperar uma fé viva, mística e missionária, capaz de gerar novo impulso evangelizador e de unir, de modo inseparável, o serviço ao mundo e o anúncio explícito da salvação. A Igreja só poderá reverter o declínio ao voltar-se para o seu “coração pulsante”: Jesus Cristo, Senhor absoluto e fonte de sua missão. 

Em síntese, para Boff e Adorno, a crise da Igreja não se resolverá com simples reformas estruturais ou com mera atualização sociocultural, mas com o retorno à sua essência: ser mistério de comunhão com Deus, centrada no senhorio de Cristo e movida pelo Espírito, para então, e somente então, transformar o mundo.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF