AOS PADRES – QUINTA-FEIRA SANTA
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Aos Padres
Quinta-Feira Santa
Neste dia em que celebramos a instituição da Eucaristia,
quero dirigir-me a todos os presbíteros que, diariamente, consagram o Corpo e o
Sangue de Cristo para o alimento espiritual dos fiéis. Neste momento festivo
para a Igreja, em que recordamos a entrega total de Jesus por nós, convido todo
o povo de Deus a elevar uma prece pelos sacerdotes, para que perseverem com
fidelidade em sua missão e busquem viver a santidade no cotidiano.
Rezemos por todos os padres doentes e idosos, que tanto se
dedicaram ao sacerdócio ao longo da vida. Rezemos também por aqueles que, por
diferentes motivos, estão afastados ou privados do exercício ministerial, para
que o Senhor os fortaleça e renove neles a confiança em Sua misericórdia que
jamais falha. Que tudo se realize conforme a vontade de Deus.
Sabemos o quanto o ministério sacerdotal é desafiador e vai
muito além da celebração da Missa e da administração dos sacramentos. Muitas
vezes, o sacerdote assume múltiplas funções: é secretário da paróquia,
cozinheiro na casa paroquial, responsável por resolver questões burocráticas
como idas a bancos, cartórios, correios e compras de materiais litúrgicos.
Acrescente-se as situações de violência, de insegurança e de questões diversas
que aparecem no dia a dia da paróquia. Por isso, é compreensível que, ao final
do dia, esteja exausto diante das inúmeras tarefas desempenhadas.
Entretanto, para que tudo isso seja fecundo, o sacerdote não
pode negligenciar a vida de oração. É a oração, unida à Eucaristia diária, que
sustenta o ministério presbiteral. Antes de qualquer outra atividade, é
essencial começar o dia com a oração, rezando as Laudes, e, se houver
celebração pela manhã, presidir a Santa Missa. Sem a oração e, sobretudo, sem a
Eucaristia cotidiana, o ministério enfraquece, e o padre corre o risco de
tornar-se apenas um “executador de tarefas”. O sacerdote é muito mais que isso:
é ministro do Sagrado, chamado a proclamar a Palavra de Deus e a celebrar, com
piedade, a Eucaristia para o povo que lhe foi confiado.
Além disso, o padre está a serviço da comunidade e não pode
permitir que as obrigações administrativas o afastem do contato com os fiéis. É
preciso encontrar tempo para visitar os enfermos, atender confissões, presidir
celebrações, sepultar os mortos e ministrar os demais sacramentos. O sacerdote
precisa estar presente na paróquia, acessível ao povo que o procura.
O sacerdócio não deve ser encarado como um fardo. Quando o
Senhor nos chamou para esta missão, não o fez para nos sobrecarregar, mas para
que, com alegria, servíssemos ao seu povo. O padre não deve ser alguém
amargurado, constantemente cansado ou de mau humor. Ao contrário, mesmo diante
das muitas tarefas do dia, é preciso conservar o bom humor e acolher bem os
fiéis. Como em qualquer outra vocação, é fundamental que o padre se sinta
realizado em sua missão. Só assim é possível viver com alegria. Cumprir tudo
apenas por obrigação leva ao desgaste e à infelicidade.
Esta é uma mensagem de encorajamento e ânimo para que
continuem a exercer com amor o ministério que lhes foi confiado. Embora o Dia
do Padre seja celebrado em 4 de agosto, na quinta-feira santa comemoramos a
razão de ser da Igreja: a instituição da Eucaristia. E os sacerdotes são, por
excelência, os ministros deste mistério de amor. Rogo a Deus pelo ministério de
cada um, para que sejam verdadeiros pastores, cuidando com zelo do rebanho,
especialmente das ovelhas feridas e dispersas.
Uma característica essencial da vida presbiteral é a
fraternidade, especialmente entre os padres e com o bispo. A chamada
fraternidade presbiteral implica cuidado mútuo, interesse pelo irmão que não
está bem, visitas fraternas e busca conjunta de soluções. Muitas vezes,
isolamo-nos em nossos próprios mundos e esquecemos de olhar para a dor do
outro. Precisamos dar o exemplo, cultivar o amor entre os presbíteros, e a
partir daí, ensinar os fiéis a viverem a caridade entre si.
Do mesmo modo, os sacerdotes são chamados a viver a
fraternidade com os leigos, acolhendo com misericórdia e buscando os que se
afastaram. A fraternidade é uma virtude evangélica que deve marcar a vida de
todos: bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas e leigos.
Vivam o sacerdócio com amor e, a cada dia, renovem o “sim”
dado no dia da ordenação, como fazemos também na missa do Crisma, na Quinta-feira
Santa. Essa renovação acontece na oração diária, onde se reaviva o chamado. Que
a Virgem Maria, Mãe das Divinas Vocações, interceda por todos
vocês.
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