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domingo, 25 de maio de 2025

Santo Agostinho: o cristianismo como verdadeira religião

Santo Agostinho (Chamado para Geração)

Santo Agostinho: o cristianismo como verdadeira religião

31/05/2010

Há uma interessante discussão entre Santo Agostinho e o filósofo pagão Marcos Terêncio Varrão (116-27 a.C.), no livro “A Cidade de Deus”, do santo doutor de Hipona. Primeiro Agostinho expõe o pensamento de Varrão e depois irá argumentar a favor do cristianismo como vera religio.

Aquele filósofo tinha a visão estóica de Deus e do mundo. Deus era para ele entendido como “animam motu ac ratione mundum gubernantem” (“alma que governa o mundo por meio do movimento e da razão”). Essa alma do mundo não era objeto de culto para eles, quer dizer, verdade e religião, inteligência racional e ordenamento do culto estavam em âmbitos diferentes. Dessa forma, a religião não pertence ao âmbito da realidade (res), mas ao âmbito dos costumes (mores). Sendo assim, não foram os deuses que criaram o Estado, mas foi este que estabeleceu os deuses que deveriam ser adorados, para assim manter a ordem do Estado. A religião é pois um fenômeno político.

Segundo Varrão há três tipos de “teologia”: a theologia mythica, a theologia civilis (politikéé) e a theologia naturalis (φυσιkή). Os teólogos da primeira são os poetas, são os cantores de Deus; os teólogos da segunda são os filósofos, isto é, os sábios que, indo além do costume indagam a realidade, a verdade; os teólogos da teologia civil são os “povos”, que, na sua escolha, não aderiram aos filósofos (e à verdade), mas aos poetas, às suas formas e imagens.  A teologia mítica corresponde ao teatro, que possuía uma característica inteiramente religiosa e cultual; a teologia política corresponde à urbe, porém o espaço da teologia natural seria o cosmos. A teologia mítica teria como conteúdo as fábulas criadas pelos poetas; a teologia estatal, o culto; a teologia natural responderá à pergunta: quem são os deuses?

Dessa forma, a teologia natural seria a desmitologização, o esclarecimento (Ilustração) que vê criticamente para além da aparência mítica e supera pelas ciências da natureza. Culto e conhecimento aqui se separam: o culto permanece necessário como conveniência política; o conhecimento atua como destruidor da religião, e por isso, não pode ser anunciado em público. Varrão ainda diz que a teologia natural ocupa-se da “natureza dos deuses” (que no existem) e as outras duas tratam da divina instituta hominum (as instituições divinas dos homens).  Com isso “a teologia não possui, nenhum deus, apenas ‘religião’; a ‘teologia natural’ não tem religião, apenas uma divindade”.

Santo Agostinho situa o cristianismo, segundo a tríade de Varrão, sem nenhuma dúvida no âmbito da “teologia física”, isto é, no âmbito do esclarecimento filosófico. Com isso continua a tradição antiga, de Paulo (Rom 1) aos apologistas do século II, que, por sua vez, seguem a teologia sapiencial do Antigo Testamento (e os Salmos). Sendo assim, o cristianismo encontra sua preparação interior no conhecimento filosófico e não nas religiões. Para Agostinho, pois, o monoteísmo bíblico se identifica com os conhecimentos filosóficos sobre a razão de ser do mundo.

Dessa forma, a religião cristão não se baseia em poesia ou em política, mas o seu fundamento é o verdadeiro conhecimento. No cristianismo, o conhecimento racional tornou-se religião, e não seu adversário. O cristianismo entendeu-se, desde o início, como a vitória sobre o mito, como vitória do conhecimento, como vitória da verdade e por isso, deve-se considerar a si mesmo como universal, como aquilo que todos os povos buscam. O cristianismo deve ser levado a outros povos, não pela força, mas como a verdade que torna supérflua a aparência. Por isso, o cristianismo é visto como intolerante com os deuses, como inimigo das religiões, até mesmo foi considerado “ateísmo”, pelos pagãos. O cristianismo assim perturbava o aproveitamento político das religiões. O cristianismo colocava em perigo as bases do Estado, não querendo ser uma religião entre as religiões, mas a vitória do conhecimento sobre as religiões.

Quando o Deus alcançado pelo pensamento vem ao nosso encontro no interior de uma religião, como o Deus que age e fala, então pensamento e fé se reconciliam. A partir de Cristo, o monoteísmo judaico torna-se universal, e a unidade do pensamento e a fé, a religio vera, é acessível a todos. Os primeiros cristãos (até a Idade Média) estavam convencidos que o cristianismo era filosofia, a perfeita filosofia, isto é, a filosofia que atingiu a verdade. A filosofia era entendida, então, como arte de viver e morrer corretamente, o que é alcançado só pela luz da verdade.

Da união entre o conhecimento e a fé a teologia cristã trouxe as seguintes correções na ideia filosófica de Deus antiga: 1) o Deus adorado pelos cristãos é realmente natura Deus (Deus por natureza) diferente dos deuses míticos e políticos. Ao mesmo tempo os cristãos sabiam que non tamen omnis natura est Deus (nem tudo o que é natureza é Deus). Deus é Deus por natureza, mas a natureza, enquanto tal, não é Deus. Dá-se então uma separação entre a natureza que engloba tudo e o ser que a fundamenta e lhe dá seu origem. Só assim se separam física e metafísica, natureza criada e Deus criador. Só ao Deus que é reconhecido na natureza (por meio do nosso pensamento) é adorado; 2) o Deus que antecede à natureza, como nos diz a Bíblia, se volta para o homem, não é mera natureza, mas entrou na história, veio ao encontro do homens, que por isso, podem encontrá-lo. Dessa forma o conhecimento racional pode tornar-se religião, porque o próprio Deus do conhecimento entrou na religião.

A conclusão é que no cristianismo o vínculo da religião com a metafísica e o vínculo da religião com a história se harmonizam. A partir de então a metafísica e história passam a constituir a apologia do cristianismo como vera religio. Com o Cristianismo razão e fé se encontram em harmonia, esse encontro “construiu o Ocidente”, renovou a cultura, transformou os povos, unindo-os em uma grande família, apesar de todas as resistências. Segundo Ratzinger, as Universidades, surgidas na Idade Média cristã tiveram a sua origem na pergunta socrática: que é o homem? Só no seio do cristianismo, quando fé e razão se encontraram, se pôde buscar com seriedade uma resposta a essa pergunta.

Bibliografia:

RATZINGER, J. Fé, Verdade Tolerância: o Cristianismo e as grandes religiões do mundo. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lulio, 2007.

________________. Discurso do Santo Padre Bento XVI para o Encontro na Universidade de Roma “La Sapienza”. 17 de janeiro de 2008.

Fonte: https://presbiteros.org.br/santo-agostinho-o-cristianismo-como-verdadeira-religiao/

Os frutos do Espírito Santo segundo São Tomás de Aquino

Os frutos do Espírito Santo (ACI Digital)

OS FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO SÃO TOMÁS DE AQUINO

22/05/2025

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RS)

São Tomás de Aquino, ao refletir sobre os frutos do Espírito Santo na Summa Theologiae (I-II, q. 70), nos oferece um ensinamento profundo e, ao mesmo tempo, muito atual: os atos virtuosos, quando praticados com liberdade e movidos pelo Espírito de Deus, não apenas cumprem um dever, mas trazem alegria verdadeira e realização interior. Em outras palavras, vale a pena viver o bem, não por medo de castigos, mas porque o bem gera sabor, paz e plenitude para quem o pratica.

São Paulo, na Carta aos Gálatas (5,22-23), enumera os frutos do Espírito: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade. São Tomás busca compreender o que esses frutos significam e como se manifestam na vida cristã.

O primeiro ponto que ele explica é que esses frutos são atos humanos inspirados pelo Espírito Santo, comparáveis aos frutos de uma árvore: são resultado de um processo interior de crescimento e amadurecimento. Mas, diferentemente dos frutos materiais, os frutos espirituais são agradáveis não ao paladar, mas à alma. Eles proporcionam uma alegria pura e serena para quem os pratica, pois são sinais de que a vida está bem ordenada, conforme o plano de Deus.

São Tomás destaca que o termo “fruto” tem dois sentidos: indica aquilo que o ser humano produz, mas também aquilo que saboreia, ou seja, aquilo em que ele encontra realização e alegria. Assim, a prática do bem não é apenas uma obrigação moral, mas um caminho de prazer espiritual. A pessoa virtuosa se alegra no bem, porque nele encontra um gosto que nenhuma experiência passageira consegue oferecer.

Ao comparar os frutos com as bem-aventuranças evangélicas, São Tomás mostra que, embora ambas falem da felicidade, os frutos são mais cotidianos, mais acessíveis. As bem-aventuranças apontam para a perfeição dos santos, enquanto os frutos do Espírito estão ao alcance de todos os que, mesmo em meio às lutas da vida, se deixam conduzir pela graça. Por isso, praticar a paciência, a mansidão, a fidelidade, ou viver com alegria e caridade, já é experimentar algo do céu aqui na terra.

São Tomás organiza os frutos de forma pedagógica: alguns dizem respeito à vida interior (caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade); outros, à relação com o próximo (bondade, benignidade, mansidão, fidelidade); e outros ainda ao modo como lidamos com nossos próprios impulsos e com o mundo ao redor (modéstia, continência, castidade). É o Espírito Santo quem vai ordenando todas essas dimensões da vida, tornando o ser humano mais inteiro, mais livre e mais feliz.

Além disso, São Tomás explica que esses frutos se opõem às chamadas “obras da carne”, como a inveja, a ira, a impureza ou a discórdia, que desfiguram a vida humana. Os frutos do Espírito, ao contrário, elevam, pacificam, dão sentido. Eles não são apenas mandamentos a serem seguidos, mas sinais de que Deus está agindo em nós.

A doutrina tomista dos frutos do Espírito é, assim, uma verdadeira pedagogia da felicidade cristã. Ela nos ensina que a vida virtuosa não é um fardo, mas uma fonte de sabor e liberdade interior. Praticar o bem, mesmo quando custa, torna o coração mais leve, o olhar mais luminoso, a vida mais fecunda. Não se trata de buscar recompensas futuras, mas de já experimentar, aqui e agora, os sinais da vida nova em Cristo.

Portanto, como bem conclui São Tomás, os frutos do Espírito são atos bons que permanecem, porque nascem de uma vida conduzida por Deus. Como árvores boas, somos chamados a produzir esses frutos — e, ao colhê-los, descobrir que a alegria verdadeira nasce da fidelidade ao bem. Viver no Espírito é, afinal, o que nos realiza plenamente!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Reflexão para o VI Domingo da Páscoa (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Não somente o Pai e o Filho querem habitar nos discípulos, mas o Espírito Santo também habitará neles para ensinar e fazer recordar-se de tudo o que Jesus lhes disse.

Vatican News

Jesus gostava de dizer que nunca estava só. Vemo-lo retirar-se para a montanha, só, mas para se juntar a seu Pai. E promete aos discípulos não os deixar órfãos porque lhes enviará o seu Espírito, o Espírito Santo, o Defensor.

Na hora das grandes confidências, pouco tempo antes da sua paixão, Jesus anuncia aos seus discípulos que virá habitar neles com o seu Pai, na condição de permanecerem fiéis à sua palavra. Parece dizer: «se quereis que venhamos habitar em vós, aceitai morar na fidelidade a toda a mensagem que vos transmiti».

Não somente o Pai e o Filho querem habitar nos discípulos, mas o Espírito Santo também habitará neles para ensinar e fazer recordar-se de tudo o que Jesus lhes disse. Sabemos que há duas formas de morte: a morte física e o esquecimento.

Jesus veio anunciar aos seus discípulos que, após a sua morte, Ele ressuscitará, e o Espírito Santo ajudará os discípulos a não esquecer o que fez e disse: eles farão memória, recordando-se d’Ele, mas, sobretudo, proclamando-O vivo hoje até à sua vinda na glória.

E uma forma de Cristo perpetuar a sua memória e a sua mensagem viva e real entre nós é precisamente através do sacerdócio.

Por isso é sempre oportuno reafirmar a importância, o valor, a necessidade e a beleza do sacerdócio na vida e na missão da Igreja.

O sacerdócio ministerial é o sacerdócio dos bispos e padres (não dos diáconos); o sacerdócio comum dos fiéis é o sacerdócio de todos os batizados. Sacerdote significa: aquele que oferece o sacrifício. E sacrifício significa oferta sagrada. Então, o sacerdote é aquele que oferece a Deus um sacrifício.

Cristo é, a bem dizer, o único verdadeiro sacerdote: sacerdote único e eterno porque Se ofereceu a Si mesmo no altar da cruz. Ele próprio é, ao mesmo tempo, o sacerdote e a oferta.

Chamamos sacerdotes aos padres porque, agindo «na pessoa de Cristo Cabeça», eles oferecem no altar o sacrifício de Cristo na Cruz, atualizado através da Eucaristia. Porém, todo o batizado é, pelo seu baptismo, sacerdote, como Cristo.

Então, sendo sacerdotes, que oferta sagrada é que oferecem a Deus? O cristão oferece a Deus em sacrifício a sua vida. Isto não que dizer que faça da sua vida um sacrifício, sofrimento, mas sim um sacrifício, oferta a Deus, oblação.

Embora os seus sofrimentos também façam parte da sua oferta, pois o batizado consagra ao seu Senhor toda a sua vida, tudo aquilo que é. Ele é consagrado pelo baptismo e pela unção do Espírito Santo para oferecer, mediante todas as obras do cristão, sacrifícios espirituais.

Este «sacerdócio comum» é o de Cristo, único Sacerdote, do qual participam todos os seus membros. E é o selo baptismal os compromete e os torna capazes de: servir a Deus mediante uma participação viva na santa liturgia da Igreja; e de exercer o seu sacerdócio baptismal pelo testemunho duma vida santa e duma caridade eficaz.

Sacerdócio comum e ministerial são duas participações no mesmo sacerdócio de Cristo, Único Sacerdote. Sacerdócio «comum» não quer dizer inferior. Bem pelo contrário, o sacerdócio ministerial (dos bispos/padres) existe por causa do sacerdócio comum (de todos os batizados), e não o contrário.

Na verdade, o sacerdócio comum dos fiéis realiza-se através do desenvolvimento do seu baptismo: vivendo uma vida de fé, esperança e caridade, uma vida segundo o Espírito. Ora, o sacerdócio ministerial proporciona ao batizado os meios de que ele necessita para viver a vida divina que recebeu no baptismo. O sacerdote é um dispensador desses meios, principalmente dos sacramentos. Ninguém tem direito a ser padre: a comunidade é que tem direito a que ele seja padre!

Mas os padres continuam a viver, também, o sacerdócio comum dos fiéis. Antes de serem padres são batizados: «Convosco sou cristão; para vós sou bispo» (Santo Agostinho).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 24 de maio de 2025

ELEIÇÃO DO PAPA LEÃO XIV

Encontro Vocacional em Chiclayo, Peru, 22 de maio de 2022

ELEIÇÃO DO PAPA LEÃO XIV

9 de maio de 2025

CncMadrid

Com grande alegria o Caminho Neocatecumenal recebeu a notícia da eleição do Cardeal Robert Prevost como Sucessor de Pedro. As suas primeiras palavras nos encheram de alegria ao colocar no centro Cristo Ressuscitado, que nos oferece a sua paz, e a evangelização que nasce de um coração missionário.

Um eco particular no coração de todos os irmãos do Caminho – e particularmente no meu – foi que a eleição teve lugar no dia da Súplica à Virgem de Pompeia, porque a Virgem de Pompeia teve um significado e uma presença especial na história do Caminho Neocatecumenal. Em 1968, quando, com a Serva de Deus Carmen Hernández, chegamos a Roma, o Pe. Dino Torreggiani, fundador dos “Servos da Igreja”, nos levou a colocar, aos pés da Virgem de Pompeia, a missão iniciada entre os pobres, na favela de Palomera Altas, na periferia de Madrid. Desde então, foram vários os acontecimentos que acompanharam significativamente o Caminho no dia 8 de maio.

Também durante o seu ministério episcopal no Peru, teve a oportunidade de conhecer pessoalmente a equipe responsável e ao Caminho, de acompanhá-lo e de presidir um encontro vocacional, onde encorajou os jovens a serem missionários de Cristo.

O nome que assumiu como Sucessor de Pedro, Papa Leão XIV, nos fez presente que o seu predecessor, Papa Leão XIII, teve que governar a Igreja em momentos verdadeiramente difíceis, em defesa da identidade cristã.

O Caminho é, antes de tudo, um carisma que privilegia a missão por meio de uma Iniciação Cristã oferecida às Dioceses e Paróquias; um sinal concreto disso são as milhares de famílias em missão nos lugares mais descristianizados, os seminários Redemptoris Mater, onde se formam presbíteros para a Nova Evangelização, e toda a pastoral familiar e juvenil. Estamos felizes por poder continuar, com Sua Santidade, colocando todos esses dons do Senhor a serviço da Igreja, para o bem da humanidade — especialmente daqueles “muitos batizados que acabam vivendo… num ateísmo de fato”, como recordou o Papa Leão XIV em sua primeira homilia na Capela Sistina.

Asseguramos ao Santo Padre a nossa oração e a de todos os irmãos para que o Seu ministério possa dar todos os frutos que o homem de hoje precisa.

Kiko Argüello

8 de maio, Virgem de Pompeia

Encontro Vocacional em Chiclayo, Peru, 22 de maio de 2022
Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br/eleicao-do-papa-leao-xiv/

A devoção a Nossa Senhora do Bom Conselho une Leão XIV a seus predecessores

Papa Leão XIV reza diante do famoso ícone de Nossa Senhora do Bom Conselho no santuário da Mãe do Bom Conselho em Genazzano, Itália, em 10 de maio de 2025. | Vatican Media.

A devoção a Nossa Senhora do Bom Conselho une Leão XIV a seus predecessores

Por Jonah McKeown*

23 de maio de 2025

Leão XIV, primeiro papa vindo da Ordem de Santo Agostinho (OSA), visitou logo no início de seu pontificado o santuário da Mãe do Bom Conselho em Genazzano, Itália, perto de Roma. O santuário abriga uma imagem de Nossa Senhora que apareceu ali em circunstâncias milagrosas.

Conhecida pelo título de Nossa Senhora do Bom Conselho ou Mãe do Bom Conselho, a pequena imagem de Nossa Senhora na igreja de Genazzano é tratada com carinho pelos agostinianos há séculos. Os agostinianos da região centro-oeste dos EUA, que Leão XIV liderou como prior provincial antes de ser eleito papa, supervisionam a Província de Nossa Senhora do Bom Conselho, nos EUA.

Em sua visita à igreja em 10 de maio, Leão XIV falou sobre a proteção de Nossa Senhora e a importância da devoção a ela. Ele rezou no altar e diante da imagem de Nossa Senhora ali presente, e também rezou a Nossa Senhora do Bom Conselho com a assembleia.

“Assim como a Mãe nunca abandona seus filhos, vocês também devem ser fiéis à Mãe”, disse o papa.

Quem é Nossa Senhora do Bom Conselho?

O título de “Bom Conselho” dado a Nossa Senhora é um reconhecimento da mãe de Cristo como fonte de sabedoria e orientação celestiais.

Segundo a tradição, em 25 de abril de 1467, festa de são Marcos Apóstolo, uma nuvem misteriosa desceu sobre uma antiga igreja deteriorada do século V d.C. em Genazzano, Itália, que foi dedicada a Nossa Senhora do Bom Conselho e estava sendo reformada pelos agostinianos, tendo sido confiada a essa ordem em 1356.

Quando a nuvem desapareceu, uma frágil imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus foi encontrada numa fina camada de gesso. Diz-se que a imagem, com cerca de 45 cm², ficou suspensa no ar, sem apoio.

Acreditava-se amplamente que a imagem — que se dizia ser da época dos apóstolos — havia sido milagrosamente transportada para a Itália de uma igreja de Scutari, capital da Albânia, pouco antes de sua invasão pelos otomanos naquele mesmo ano. Testes científicos feitos na década de 1950 alegam que a pequena imagem foi pintada em algum momento entre 1417 e 1431 para a igreja e foi pintada novamente antes de ser descoberta quando uma viúva pobre doou tudo o que tinha para financiar a reforma da igreja.

Independentemente de como a imagem chegou à região, nos meses seguintes ao aparecimento da imagem, um padre local atuando como tabelião registrou cerca de 160 milagres, como curas físicas, orações atendidas e conversões dramáticas.

Grande parte da igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho foi destruída na Segunda Guerra Mundial, mas a imagem permaneceu intacta e no mesmo local. Hoje, ela fica numa pequena capela que constitui o coração da igreja.

Nossa Senhora é retratada vestindo um manto azul e o Menino Jesus veste um manto vermelho. O rosto de Nossa Senhora reflete a tradição artística clássica, e o Menino tem características do estilo bizantino. Acima deles, ergue-se um arco-íris, símbolo bíblico da paz.

Ao longo dos anos, vários papas visitaram a igreja em Genazzano em busca da orientação e sabedoria de Nossa Senhora e promoveram a devoção a ela sob esse título.

O papa Urbano VII (1521–1590) rezou pelo fim de uma praga em Roma; o papa beato Pio IX buscou a intercessão de Nossa Senhora antes do concílio Vaticano I, que começou em 1869.

Leão XIII, predecessor espiritual de Leão XIV e devoto de Nossa Senhora do Bom Conselho, acrescentou a invocação em latim “Mater boni consilii, ora pronobis” (Mãe do Bom Conselho, rogai por nós) à Ladainha de Nossa Senhora em 1903. Leão XIII também aprovou o escapulário branco de Nossa Senhora do Bom Conselho e o confiou aos agostinianos.

Mais recentemente, o papa são João XXIII visitou o santuário para, à semelhança de Pio IX, buscar orientação para o concílio Vaticano II. O papa são João Paulo II apoiou a devoção numa visita à igreja em 22 de abril de 1993 e, logo depois, consagrou a Albânia a Nossa Senhora do Bom Conselho. O papa Bento XVI mandou colocar uma imagem do ícone nos Jardins do Vaticano em 2009.

Muitos peregrinos visitam a igreja em Genazzano e participam da celebração anual da primavera (no hemisfério norte), celebrada em 25 de abril. Em outras partes do mundo, a festa de Nossa Senhora do Bom Conselho é celebrada em 26 de abril.

*Jonah McKeown é jornalista e produtor de podcasts de Catholic News Agency. Tem um mestrado na Escola de Jornalismo da Universidade de Missouri e trabalhou como escritor, produtor radial e camarógrafo.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/62877/a-devocao-a-nossa-senhora-do-bom-conselho-une-leao-xiv-a-seus-predecessores

CRISTIANISMO: “A teologização da política viraria ideologização da fé”

Cardeal Joseph Ratzinger (30Giorni)

Arquivo 30Dias número 05 - 2003

“A teologização da política viraria ideologização da fé”

Discurso do cardeal prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no congresso “A participação e o comportamento dos católicos na vida política”, promovido pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz, Roma, em 9 de abril de 2003.

do cardeal Joseph Ratzinger

Resisto à grande tentação de responder às interessantes observações e reflexões do senador Francesco Cossiga, e limito-me a introduzir a “Nota doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e ao comportamento dos católicos na vida política”, para indicar qual é a posição de fundo desse documento que fala imediatamente aos católicos - pois só eles têm uma relação de fé com a Santa Sé - mas que, naturalmente, quer levar todas as pessoas a pensar. Segundo Paul Ricoeur, fazer pensar é a coisa mais nobre que a filosofia pode obter; portanto, queremos fazer pensar, sem impor alguma coisa. Seja como for, a posição descrita em nosso documento poderia ser assim resumida: para nós, ou seja, para a convicção da Igreja Católica de todos os tempos, a política pertence à esfera da razão, a razão comum a todos, a razão natural. A política, portanto, é um trabalho que implica o uso da razão e deve ser governada pelas virtudes naturais, tão bem descritas pela antiguidade grega, as quatro virtudes cardeais: a prudência, a temperança, a justiça e a fortaleza.

A convicção de que o campo da política é o campo da razão comum, de que deve desenvolver-se na compreensão recíproca e de que deve comportar também a iluminação da razão, implica a exclusão de duas posições.

Exclui antes de mais nada a teologização da política, que viraria ideologização da fé. A política, de fato, não se deduz da fé, mas da razão, e a distinção entre a esfera da política e a esfera da fé pertence realmente à tradição central do cristianismo: nós a encontramos na palavra de Cristo “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Nesse sentido, o Estado é um Estado leigo, profano, no sentido positivo. Vêm-me à mente, por exemplo, as belas palavras de São Bernardo de Claraval ao Papa de sua época: “Não penses que és o sucessor de Constantino; não és o sucessor de Constantino, mas de Pedro. Teu livro fundamental não é o Código de Justiniano, mas a Sagrada Escritura”.

Esta, digamos, justa profanidade, ou também laicidade da política, que exclui portanto a ideia de uma teocracia, de uma política determinada pelo ditame da fé, exclui, por outro lado, também um positivismo e um empirismo que são uma mutilação da razão. Segundo essa posição, a razão seria capaz de perceber apenas as coisas materiais, empíricas, verificáveis ou falsificáveis por métodos empíricos. Portanto, a razão seria cega no que diz respeito aos valores morais e não poderia julgá-los, pois fariam parte da esfera da subjetividade, e não da objetividade de uma razão limitada ao verificável, ao empírico e positivista. Tal mutilação da razão, que se limita ao constatável, ao empírico, ao verificável e ao falsificável segundo métodos materiais, destrói a política e, como disse o senador Cossiga, a reduz a uma ação puramente técnica, que deveria seguir simplesmente as correntes mais fortes do momento, submetendo-se, portanto, ao transitório e também a um ditame irracional. E aqui está a outra intenção do nosso documento: enquanto, de um lado, excluímos uma concepção teocrática e insistimos sobre a racionalidade da política, de outro, excluímos também um positivismo pelo qual a razão seria cega para os valores morais, e estamos convencidos de que a razão tem a capacidade de conhecer os grandes imperativos morais, os grandes valores que devem determinar todas as decisões concretas.

Nesse sentido, parece-me que suceda também um certo laço entre fé e política: ou seja, a fé pode iluminar a razão, pode sanar, curar uma razão doente. Não no sentido de que essa influência da fé transfira da razão para a fé o campo da política, mas no sentido de que restitui a razão a si mesma, ajuda a razão a ser ela mesma, sem aliená-la.

As indicações que aparecem em nossa Nota aos políticos católicos, a respeito dos valores que devem ser defendidos também contra as maiorias de um momento, não querem ser uma intromissão na política por parte da hierarquia. Mas querem ser uma necessária ajuda à razão, de modo a que sobretudo os políticos que têm fé possam, na discussão política, ajudar a evidenciar para todos e a tornar uma presença real e concreta os valores que devem governar a cada um na política. Obrigado.

Cardeal Joseph Ratzinger

Fonte: https://www.30giorni.it/

Laudato Si': Fortes apelos em uma década

Fortes apelos em uma década (Arquidiocese de BH)

FORTES APELOS EM UMA DÉCADA 

23/05/2025

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

A Carta Encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum, pérola do pontificado do Papa Francisco, completa dez anos e seus fortes, pertinentes, apelos continuam a reverberarem todo o mundo. Mas não são poucos os governantes que fazem ouvidos de mercador diante das advertências da Carta Encíclica,promulgada em 24 de maio de 2015. Indicações que exigem uma compreensão mais lúcida capaz de inspirarconversão no horizonte do que se entende por ecologia integral. Promessas e acordos até são estabelecidos para preservar a casa comum, mas prevalecem os interesses por um lucro egoísta, e busca-se um equivocado caminho para se encontrar o bem estar social. A Carta Encíclica Laudato Si’ continua, assim, muito atual, pois a sociedade precisa dialogar mais para encontrar formas de salvaguardar o planeta. Os debates não podem se restringir às cúpulas dos poderosos que não efetivam compromissos para enfrentar os desafios ambientais, delineando um futuro sombrio. 

Reconheça-se que o movimento ecológico já percorreu um caminho rico e longo em todo o mundo, alcançando conquistas relacionadas à conscientização. Mas as vitórias são insuficientes para consolidar novos estilos de vida e de organização social mais condizentes com os parâmetros de sustentabilidade. Diante da urgência de mudanças, muitos permanecem desinteressados em rever seus próprios hábitos. Há ainda a recusa explícita de poderosos diante de proposições lúcidas e pertinentes, negando o desafio ecológico e promovendo a indiferença em relação à devastação ambiental. Na solução dos problemas enfrentados pela humanidade, cegamente confiam apenas nas soluções técnicas. Por isso, o cuidado com o conjunto da Criação precisa se tornar, de modo crescente, uma atuação cidadã, envolvendo cada pessoa e todas as instituições. Sublinhe-se que cuidar do planeta é importante dimensão social que interpela também a prática da fé: os cristãos, certos de que o planeta é obra de seu Criador, Deus, devem cuidar da Criação. Não se pode continuar minimizando a complexidade da crise ecológica atual, consideradas as suas dimensões éticas e espirituais, conforme alerta a Carta Encíclica Laudato Si’. 

Percebe-se que há longo percurso educativo a ser trilhado. Mesmo assim, iniciativas que podem ajudar no percorrer deste itinerário, a exemplo da Campanha Junho Verde, compromisso governamental e legislativo brasileiro, encontram dificuldade para deslanchar. O Junho Verde, instituído a partir de contribuição da Igreja Católica, sob inspiração da Laudato Si, convoca a sociedade para a vivência de um processo educativo que permite vencer visões limitadas aos interesses de um lucro egoísta, com força para manipular decisões, aprovações e permissões, para beneficiar somente pequenos grupos, a partir da deterioração dos recursos naturais. A falta de educação ambiental desenha no horizonte uma dívida social emoldurada por uma relevante dívida ecológica. No lugar de avanços para o bem de todos, configuram-se privilégios oligárquicos. A insistência pertinente é buscar um novo estilo de vida que seja resposta adequada à crise climática e ecológica. 

A Carta Encíclica Laudato Si’, no seu décimo ano, permanece atual, pois suas indicações são contraponto à indiferença e à ignorância que justificam as ações em nome do acúmulo egoísta de bens. Diante da urgência para mudar hábitos e garantir um desenvolvimento sustentável, há resistência até mesmo de alguns que professam a fé cristã, desconsiderando que Deus é criador de todas as coisas e que tudo precisa ser tratado com o devido respeito, pois é obra do Criador. Sinal dessa desconsideração é a atitude de maravilhar-se diante das singularidades da obra de Deus e, ao mesmo tempo, não repudiar extrativismos predatórios do meio ambiente. A omissão diante da urgência de se preservar a natureza se desdobra em contínuas ameaças ao bem comum e no distanciamento de um desenvolvimento humano sustentável, integral. Por isso, deve-se qualificar o olhar que interpreta a realidade, para enxergar seus reais problemas e desafios.  

Abrir-se aos ensinamentos da Carta Encíclica pode levar a uma nova década mais proveitosa no que diz respeito à educação ambiental. Uma capacitação para que todos adotem nova lógica na regência da própria vida e das relações estabelecidas no planeta, a partir do paradigma da ecologia integral. Lógica com propriedades corretivas capazes de inspirar mais sustentabilidade e equilíbrio socioambiental. Sem o horizonte da ecologia integral, continuarão a ser alimentadas a desigualdade, as discriminações e exclusões. A força educativa da ecologia integral impulsiona e ilumina o princípio da subordinação da propriedade privada ao destino universal dos bens, asseverandoa função social de qualquer forma de propriedade privada. Ora, o rico e o pobre têm igual dignidade pois todos são igualmente filhos de Deus. Assim, o meio ambiente é, afirma a Carta Encíclica, um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade, responsabilidade de todos. 

Os apelos da Carta Encíclica Laudato Si’ precisam continuar a ecoar, sempre mais fortes, de modo a possibilitar o tratamento da raiz humana que leva à crise ecológica. Importa avaliar e reconfigurar o agir da humanidade no planeta, à luz de reflexões emolduradas pelo paradigma da ecologia integral. Ao celebrar uma década da Carta Encíclica Laudato Si’, renove-se o compromisso de acolher seus apelos, para que sejam alcançadas novas formas de desenvolvimento, em harmonia com o dever de se cuidar da casa comum. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

sexta-feira, 23 de maio de 2025

O sono faz bem ao corpo, mas pode prejudicar o espírito

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Aleksander Banka - publicado em 30/11/23

O sono é necessário para a nossa saúde, não há dúvida. No entanto, pode ser prejudicial à saúde da nossa alma.

Será que existe alguém que não gosta de dormir? Na verdade, dormir é algo muito prazeroso e saudável: descansa a mente, regenera o corpo e libera tensões mentais. A falta de sono altera muitas funções e processos biológicos do corpo humano.

É por isso que é tão importante dormir bem, e os distúrbios do sono são um problema sério. Em outras palavras: com o sono saudável, não há só um corpo, mas também um espírito são. 

O outro lado

Porém, o sono, embora bom e necessário por si só, às vezes pode esconder outra coisa: torna-se um lugar onde nos refugiamos de problemas que não podemos resolver ou que não queremos enfrentar. Depois refugiamo-nos no sono, um pouco como a proverbial avestruz que, em vez de enfrentar o perigo, finge não estar ali, enterrando a cabeça na areia. Às vezes, o sono também é uma manifestação de doença, como a sonolência que acompanha alguns casos de depressão.

Portanto, entre a vida ativa e o descanso, do qual o sono é parte essencial, deve haver uma harmonia bem compreendida. Para não perder esta harmonia, para que o sono - no bom sentido da palavra - sirva ao corpo, os professores cristãos da vida espiritual recomendavam vigílias. Tratava-se, portanto, de restringir periodicamente o sono e subordiná-lo a uma vontade que levasse a vigília orante num determinado período de tempo normalmente dedicado ao sono.

O objetivo de tal ação era a necessidade de dominar as necessidades do corpo e integrá-las a um determinado processo espiritual e, assim, integrar as diferentes esferas da personalidade humana em torno do valor supremo, que era o relacionamento com Deus. Porque é isso que pertence à essência do despertar espiritual.

"Eu durmo, mas meu coração está acordado"

No Evangelho de São Lucas, encontramos as seguintes palavras: "Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos digo: ele há de cingir-se, dar-lhes à mesa e os servirá” (Lucas 12,37). 

Pois, enquanto o sono faz bem ao corpo, o oposto ocorre com o espírito, significando uma espécie de letargia, indiferença e estagnação ou submissão direta às necessidades do corpo. Isto é, obviamente, uma metáfora. O espírito, entendido como a parte mais profunda da alma humana, o “lugar” imaterial de encontro com Deus, não necessita de sono, ao contrário do corpo.

Porém, quando está “adormecido” – voltado para o corpo, dominado pelas suas necessidades, imerso nos desejos materiais e nas paixões carnais – então o homem perde a sua perspectiva sobrenatural e a sua existência, a sua dimensão espiritual.

É por isso que Jesus nos convida a estar vigilantes, ainda mais: a estarmos espiritualmente despertos, para não perdermos o que há de mais precioso em nós: a nossa orientação para Deus e a nossa relação com Ele.

Se cuidarmos disto, se - na nossa vida espiritual - a vigília, entendida como uma relação constante, fiel e confiante com Deus, não for apenas um acontecimento aventureiro, mas uma parte permanente da nossa vida cotidiana, então poderemos dizer como a esposa do Cântico dos Cânticos: "Eu dormia, mas meu coração velava."

Fonte: https://pt.aleteia.org/2023/11/30/o-sono-faz-bem-ao-corpo-mas-pode-prejudicar-o-espirito

Novos corações serão criados: Matrimônio e celibato apostólico (1) – Parte II

Lanternas de papel (Opus Dei)

Novos corações serão criados: Matrimônio e celibato apostólico (1) – Parte II

Como amar a Cristo, uma pessoa viva a quem não vemos? E como amar os outros como Ele nos amou? No matrimônio e no celibato, o Espírito Santo transforma nossos sentidos para tornar nosso coração semelhante ao Dele.

22/05/2025

Um processo que conta com nossas fraquezas

Quando Jesus sobe ao céu e envia seu Espírito para, dessa forma, estar junto a cada um de nós, de um modo novo, “todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20), o que Ele queria nos entregar exatamente? O que Ele continua nos oferecendo? Jesus conhece nossas dificuldades para conhecê-lo e para amá-lo. “Não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas” (Hb 4,15), diz São Paulo. Jesus sabe que o desejo de comunhão que reside em nós foi ferido pelo pecado, que muitas vezes nos leva a agir às cegas, com expectativas falsas, com uma consciência equivocada de nosso próprio valor. E o Espírito Santo vem curar em todos, solteiros e casados, esse desejo de dar e receber amor. Deus vem facilitar que encontremos a verdadeira fonte da vida, que é Ele mesmo: “tem sede de que nós tenhamos sede dele”[12].

O Espírito enviado por Cristo vem resgatar a capacidade dos discípulos para conhecê-lo e amá-lo, às vezes até usando seus próprios pecados. Pedro, por exemplo, aprende que sua traição não tem a última palavra, e que aquilo não deve obscurecer sua visão ou seu coração. Jesus mesmo reacende sua vida, perguntando-lhe sobre o verdadeiro amor que está no fundo de seu coração, para lançá-lo novamente à missão: “Apascenta minhas ovelhas” (v. 17). A ressurreição de Cristo e o envio do Espírito Santo em Pentecostes nos lembram que podemos receber um fogo para conhecer e amar de modo novo, independentemente da nossa idade ou do que possa acontecer. Ernesto Cofiño[13], já com mais de cinquenta anos de idade, decidiu abrir-se mais intensamente a esse trabalho do Espírito Santo. Sua esposa percebeu que algo novo estava acontecendo e, talvez para encorajar esse impulso, disse a quem ajudava Ernesto espiritualmente: “Eu não sei o que vocês fizeram com meu marido (…) mas é uma maravilha!”[14]. Esta oferta do Senhor – esta graça – pode ser aproveitada por “todos os que tiverem um coração grande, ainda que tenham sido maiores as suas fraquezas”[15].

Força que podemos moldar junto de Deus

Uma vez cheios do Espírito Santo, o Senhor nos impulsiona à missão de modos variados. Envia Maria Madalena para anunciar aos apóstolos que ressuscitou; envia os apóstolos para proclamar o Evangelho ao mundo inteiro; Marta, Maria e Lázaro podem ser vistos como um modelo de acolhimento a Cristo em seu próprio lar. Assim, cada santo é uma expressão de amor, movida pelo amor de Deus. Essa maleabilidade ou flexibilidade da nossa capacidade de amar é uma característica natural do ser humano que o Senhor reforça. Graças à liberdade, não estamos necessariamente escravizados aos nossos impulsos, como a vida animal, mas somos capazes de escolher o que amar, quanto amar e como amar.

Nas pessoas casadas, essa flexibilidade permite moldar a vida matrimonial conforme as fases da vida. O amor experimentado no início do namoro adquire nuances diferentes ao longo do tempo, com a paternidade e a maternidade, e pode continuar a se desenvolver à medida que enfrentamos tempos de prosperidade e crise. Quando o amor de Deus está no centro desse projeto, o casamento encontra uma âncora e uma fonte inesgotável de amor e de vida. Tomás Alvira[16], já na maturidade, em uma conferência que ministrou para avós, refletiu sobre sua própria experiência e disse: “O que são setenta ou oitenta anos diante de uma eternidade? Nada. Diz-se que, comparado à eternidade, todo homem é sempre jovem (…). Um jovem de dezesseis ou dezoito anos, com músculos bem desenvolvidos, se sente jovem ao ajudar um idoso a se levantar ou a carregar um objeto pesado. Uma pessoa mais velha não tem os músculos fortes para realizar essas tarefas, mas pode ter um espírito firme, sentir-se jovem espiritualmente e ajudar os jovens, seus netos, abrindo-lhes caminhos e as melhores rotas que conhece por sua experiência”[17]. Assim, tanto uns como outros vão descobrindo a maneira de amar própria da sua idade, impulsionados pelo Espírito Santo, que conserva um amor sempre jovem, brotando do eterno e infinito coração de Deus.

A flexibilidade dessa força, desse amor, também se manifesta quando ele parece ser instável, ou seja, quando surge com vigor e não conseguimos direcioná-lo como gostaríamos. Vemos isso, por exemplo, nas infidelidades, assim como quem alimenta desejos mundanos ou em quem gera relações tóxicas ou abusivas. Esses casos costumam expressar um desejo descontrolado de amar e ser amado, mostrando até que ponto o pecado original enfraqueceu a condição humana. “Sinto-me capaz de todos os horrores e de todos os erros que as piores pessoas cometeram”[18], dizia São Josemaria. Por isso, podemos concluir com Santo Agostinho: “O homem é realmente um grande mistério (...) os cabelos são muito mais facilmente enumeráveis do que as afeições e sentimentos do coração”[19].

Contudo, a vida de Cristo nos lembra que a grandeza dessa força de amar pode não apenas ser resgatada, mas também moldada maravilhosamente pelo Espírito Santo. Isso se aplica até mesmo a situações em que uma tentativa de vida matrimonial fracassou ou a momentos de dificuldade especial. Vemos como o amor de Jesus acolhe com ternura a todos: crianças e idosos necessitados; fortalece os apóstolos jovens e os que parecem já ter uma vida estabelecida; oferece amizade aos que levarão a semente do Evangelho para longe de seu lar e aos que evangelizarão a partir de casa.

Ele também dedica muita atenção àqueles que o consideram adversário, fariseus, saduceus e mestres da lei, e até tenta atrair Judas Iscariotes até o fim. Em resumo, seu amor se dirige não apenas à sua família em Nazaré, a seus amigos próximos ou aos de sua região, mas a todo aquele que deseja se abrir ao amor de Deus, em qualquer circunstância: essa é sua família (cf. Mc 3,35).

Essa grande flexibilidade da capacidade de amar, que Cristo deseja que também surja em nós – sustentada, fortalecida e moldada pelo Espírito Santo –, é a que torna possível a grandeza tanto do matrimônio quanto do celibato, para casados e solteiros.

O fluxo de amor que brota no coração humano pode se direcionar tanto ao cônjuge e à própria família quanto se expandir – à imagem de Jesus – para a grande família do Senhor, vivendo como Ele mesmo viveu. O Espírito Santo habita essa flexibilidade da nossa capacidade de amar e eleva qualquer caminho humano.

Por isso, seguindo os ensinamentos de São Josemaria, o prelado do Opus Dei, Mons. Fernando Ocáriz, recorda que “o matrimônio é um ‘caminho divino na terra’”, e que, por sua vez, o celibato é “um chamado a uma especial identificação com Jesus Cristo, que também comporta, inclusive humanamente, mas sobretudo sobrenaturalmente, mais capacidade para querer bem a todo o mundo. Daí que o celibato, que não conta com a paternidade e a maternidade físicas, torne possível uma maternidade ou paternidade espirituais muito maiores”[20]. Por isso, pedimos na tradicional oração ao Espírito Santo: “Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado. E renovareis a face da terra”. Então, em quem vive o celibato, ou está casado, nos solteiros e viúvos, novos corações serão criados.

***

Com a ausência física de Cristo e com a efusão do Espírito Santo em Pentecostes, os apóstolos iniciavam uma etapa diferente. Tudo permanecia igual e, ao mesmo tempo, tudo mudava. Em certo sentido, a missão agora estava mais em suas mãos. Continuariam a fazer o mesmo, mas com uma autonomia especial. Esse fato demonstra até que ponto o Senhor valoriza e confia em nossa liberdade para continuar a buscá-Lo, compreender o caminho e decidir o rumo da nossa missão. Por isso, em qualquer caminho ao qual Deus nos chama, o crescimento como apóstolos passa por formar verdadeiramente um time com o Espírito Santo. Embora a felicidade na terra possa ser um pouco efêmera, a pessoa que vive no Espírito Santo mostra que, tanto nos sucessos quanto nos fracassos, o Senhor continua presente e nos atrai para si. Com sua graça, Ele transforma progressivamente nossos sentidos para evitar que nos acomodemos e para que descubramos o quanto deseja que cresçamos em seu amor, para depois abraçar-nos definitivamente no céu.

Gerard Jiménez Clopés e Andrés Cárdenas Matute

Tradução: Mônica Diez


[12] Santo Agostinho, De diversis quaestionibus octoginta tribus 64, 4. Citado no Catecismo da Igreja Católica, n. 2560.

[13] Ernesto Cofiño (1899-1991) foi um médico e pediatra guatemalteco, pioneiro na saúde infantil em seu país. Ele dedicou sua vida ao cuidado das crianças e ao ensino, influenciando, com sua vida cristã, diversas iniciativas sociais. Foi membro do Opus Dei e seu processo de beatificação está em andamento.

[14] José Luis Cofiño, José Miguel Cejas Arroyo, Ernesto Cofiño, Rialp, Madrid 2003, 122.

[15] São Josemaria, Instrucción, 1-IV-1934, n. 66. Citado em Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, vol. I, Quadrante.

[16] Tomás Alvira (1906-1992) foi um educador e cientista espanhol, doutor em Ciências e professor catedrático. Membro do Opus Dei, destacou-se pelo compromisso com a formação dos jovens e pelo exemplo de vida cristã no matrimônio e na família. Seu processo de beatificação está em andamento.

[17] Alfredo Méndiz, Tomás Alvira. Vida de un educador (1906-1992), Rialp, Madri 2023, 289-290.

[18] São Josemaria, Via Sacra, capítulo XIV.

[19] Santo Agostinho, As Confissões, Livro IV, XIV, 2.

[20] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 20 de outubro de 2020, n. 22. A citação interna é de São Josemaria, recolhida em Conversaciones, n. 92.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/novos-coracoes-serao-criados-matrimonio-e-celibato-apostolico-1/

“Temos necessidade de uma nova Rerum Novarum”

Padre Jorge Cunha, professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa - foto Radio Renascença  (Rui Saraiva - Porto)

O teólogo Jorge Cunha assinala a possibilidade de que no pontificado de Leão XIV seja produzido um texto orientador sobre a inteligência artificial no mundo do trabalho.

Rui Saraiva - Portugal

Analisando o novo Papa Leão XIV, o padre Jorge Cunha assinala a importância de um pronunciamento da Igreja com “um texto orientador acerca do trabalho humano, do trabalho confrontado com a inteligência artificial”.

Na segunda parte da entrevista conjunta à Rádio Renascença e Agência Ecclesia, o professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa afirma a “necessidade de uma nova Rerum Novarum”.

O sacerdote da diocese do Porto espera que Leão XIV seja sucessor de Leão XIII, “que é o homem da Igreja que se volta finalmente para observar aquilo que se passa à sua volta”.

Uma entrevista conduzida por Henrique Cunha da Rádio Renascença e Octávio Carmo da Agência Ecclesia.

O Papa americano terá mais força perante uma administração Trump?

O Papa americano vai ter força para isso, vai ter força para comunicar aos seus concidadãos e ao presidente da América. E, na minha opinião, o presidente da América tem um estilo. É um estilo, mas ele no fundo está em sintonia com a América profunda e a imagem que nós temos na Europa do presidente é um pouco distorcida, é a ideia que me dá. Ele não põe em causa as instituições, ele não põe em causa o funcionamento da democracia, a substituição do poder, o respeito pelos direitos dos cidadãos, nunca pôs isso em causa. Ele põe em causa algumas questões económicas, algumas distorções que nós temos, que são distorções, por exemplo, a respeito das diversidades, a respeito das questões fraturantes que nós temos hoje, que são pensadas com menos interioridade, com menos ética. Eu calculo que ele pode ter esse efeito benéfico e pode levar a América a desempenhar o seu papel de líder do mundo, de administração ao serviço da paz, de inovação da economia, de inovação da tecnologia, de construção de uma tecnologia que respeite e aproxime os seres humanos e não propriamente aquilo que tem sido até agora, portanto, de uma artificialização que põe em causa a nossa interioridade. O Papa é agostinho, Santo Agostinho é o inventor da interioridade, eu creio que ele vai dar esse contributo ao nosso mundo da tecnologia.

Leão XIII é ainda hoje uma referência do pensamento social católico com a sua ‘Rerum Novarum’. Num tempo de tantas novidades na esfera do trabalho e com o advento da inteligência artificial, é mesmo preciso um Leão XIV? 

É muito preciso um Leão XIV, que é sucessor de vários, não só do Leão XIII, para mim. Eu espero que ele seja sucessor do Leão Magno, aquele que enfrentou Átila, que seja até sucessor do Leão X, que foi o Papa do Renascimento e que seja também o sucessor do Leão XIII, que é o homem da Igreja que se volta finalmente para observar aquilo que se passa à sua volta.

Nós hoje temos necessidade de uma nova ‘Rerum Novarum’ e de uma nova encíclica sobre o trabalho humano. As inovações que estão a acontecer no trabalho humano são, por um lado, uma fonte de grande esperança para o nosso mundo. O robô vai-nos livrar de muita escravatura do trabalho produtivo, mas o robô pode-nos também parasitar a alma. O robô, quando aplicado à comunicação, quando aplicado à tomada de decisões, vai exigir de nós uma grande capacitação para sermos os inventores do robô, os planeadores do robô, os controladores do robô e, portanto, vamos precisar de uma grande educação moral, de uma grande educação espiritual para não nos perdermos nisso.

Eu espero muito que o Papa, que escolheu o nome de Leão, siga por diante e nos faça, por exemplo, um texto orientador acerca do trabalho humano, do trabalho confrontado com a inteligência artificial, da preservação da liberdade no tempo da comunicação avançada que nos substitui e nos facilita a vida, mas, por outro lado, que pode tomar conta de nós se nós não estivermos advertidos.

Portanto, nós precisamos de uma grande educação moral, precisamos de um crescimento em espiritualidade, precisamos de pensar de novo a questão da justiça, porque o robô vai substituir-nos na produção, nós vamos ter no futuro o problema da distribuição de riqueza no contexto novo. Temos um grande mundo à nossa frente e o Papa Leão vai ser capaz disso, não tenho dúvida disso, e que vai ter a força de um leão.

Ah, eu também gostava que ele fosse substituto de outro leão, que é o leão das ‘Crónicas de Nárnia’, que é um livrinho que diz respeito a toda a gente, que muita gente conhece, que é um livro de ficção, mas é uma ficção sobre a guerra e sobre as consequências da guerra, e que nos faz pensar que ao inverno da guerra que nós estamos a viver há de suceder a primavera. Há uma personagem leonina que é assimilada ao Cristo, que é o Cristo pacificador do mundo, o Cristo que nos anuncia continuamente a primavera. Espero que seja também sucessor do leão das ‘Crónicas de Nárnia’.

O novo Papa é um religioso que tem como referência espiritual Santo Agostinho, bispo do século IV e V, que inspirou muito o pensamento teológico da Igreja ao longo do século. Nesse sentido podemos esperar um perfil um bocadinho mais clássico, digamos assim, de Leão XIV nas suas intervenções?

Sim, eu espero que ele possa pôr no terreno essas velhas intuições do Santo Agostinho. O Santo Agostinho, como já dissemos, é o inventor da interioridade e da teologia a partir da nossa subjetividade, da assimilação interior do mistério de Cristo. Nesse sentido o Santo Agostinho escreveu as obras mais importantes do cristianismo, as “Confissões”, a “Cidade de Deus”, que são livros orientadores para todos os tempos.

Ele referiu-se logo ao Santo Agostinho, dizendo “eu venho de Santo Agostinho”. E se ele puder dar esse contributo ao nosso mundo será um contributo muitíssimo importante para que a Igreja se situe no seu lugar no coração, que já é uma dimensão que vem de trás. Nós somos do coração, nós não somos da força, nem da política da força, ele disse isso, nós somos do coração, somos da força da razão, somos da expansão das energias infinitas da nossa alma habitada por Cristo. E, portanto, eu espero muito dele nesse capítulo que possa inaugurar uma era com o melhor que tem o pensamento agostiniano. Uma era agostiniana no seu melhor.

O padre Jorge Cunha é professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa e sacerdote da diocese do Porto.

Neste início de pontificado destaquemos as palavras do Papa Leão na sua homilia de domingo passado na Praça de S. Pedro. Ditas com temor e tremor, apresentando-se como irmão para percorrer o caminho do amor de Deus.

“Fui escolhido sem qualquer mérito e, com temor e tremor, venho até vós como um irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria, percorrendo convosco o caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa única família. Amor e unidade: estas são as duas dimensões da missão confiada a Pedro por Jesus”, disse Leão XIV.

“Irmãos, irmãs, esta é a hora do amor!”, declarou o Papa.

Laudetur Iesus Christus

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF