OS FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO SÃO TOMÁS DE AQUINO
22/05/2025
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RS)
São Tomás de Aquino, ao refletir sobre os frutos do Espírito
Santo na Summa Theologiae (I-II, q. 70), nos oferece um ensinamento profundo e,
ao mesmo tempo, muito atual: os atos virtuosos, quando praticados com liberdade
e movidos pelo Espírito de Deus, não apenas cumprem um dever, mas trazem
alegria verdadeira e realização interior. Em outras palavras, vale a pena viver
o bem, não por medo de castigos, mas porque o bem gera sabor, paz e plenitude
para quem o pratica.
São Paulo, na Carta aos Gálatas (5,22-23), enumera os frutos
do Espírito: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,
longanimidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade. São
Tomás busca compreender o que esses frutos significam e como se manifestam na
vida cristã.
O primeiro ponto que ele explica é que esses frutos são atos
humanos inspirados pelo Espírito Santo, comparáveis aos frutos de uma árvore:
são resultado de um processo interior de crescimento e amadurecimento. Mas,
diferentemente dos frutos materiais, os frutos espirituais são agradáveis não
ao paladar, mas à alma. Eles proporcionam uma alegria pura e serena para quem
os pratica, pois são sinais de que a vida está bem ordenada, conforme o plano
de Deus.
São Tomás destaca que o termo “fruto” tem dois sentidos:
indica aquilo que o ser humano produz, mas também aquilo que saboreia, ou seja,
aquilo em que ele encontra realização e alegria. Assim, a prática do bem não é
apenas uma obrigação moral, mas um caminho de prazer espiritual. A pessoa
virtuosa se alegra no bem, porque nele encontra um gosto que nenhuma
experiência passageira consegue oferecer.
Ao comparar os frutos com as bem-aventuranças evangélicas,
São Tomás mostra que, embora ambas falem da felicidade, os frutos são mais
cotidianos, mais acessíveis. As bem-aventuranças apontam para a perfeição dos
santos, enquanto os frutos do Espírito estão ao alcance de todos os que, mesmo
em meio às lutas da vida, se deixam conduzir pela graça. Por isso, praticar a
paciência, a mansidão, a fidelidade, ou viver com alegria e caridade, já é
experimentar algo do céu aqui na terra.
São Tomás organiza os frutos de forma pedagógica: alguns
dizem respeito à vida interior (caridade, alegria, paz, paciência,
longanimidade); outros, à relação com o próximo (bondade, benignidade,
mansidão, fidelidade); e outros ainda ao modo como lidamos com nossos próprios
impulsos e com o mundo ao redor (modéstia, continência, castidade). É o
Espírito Santo quem vai ordenando todas essas dimensões da vida, tornando o ser
humano mais inteiro, mais livre e mais feliz.
Além disso, São Tomás explica que esses frutos se opõem às
chamadas “obras da carne”, como a inveja, a ira, a impureza ou a discórdia, que
desfiguram a vida humana. Os frutos do Espírito, ao contrário, elevam,
pacificam, dão sentido. Eles não são apenas mandamentos a serem seguidos, mas
sinais de que Deus está agindo em nós.
A doutrina tomista dos frutos do Espírito é, assim, uma
verdadeira pedagogia da felicidade cristã. Ela nos ensina que a vida virtuosa
não é um fardo, mas uma fonte de sabor e liberdade interior. Praticar o bem,
mesmo quando custa, torna o coração mais leve, o olhar mais luminoso, a vida
mais fecunda. Não se trata de buscar recompensas futuras, mas de já
experimentar, aqui e agora, os sinais da vida nova em Cristo.
Portanto, como bem conclui São Tomás, os frutos do Espírito
são atos bons que permanecem, porque nascem de uma vida conduzida por Deus.
Como árvores boas, somos chamados a produzir esses frutos — e, ao colhê-los,
descobrir que a alegria verdadeira nasce da fidelidade ao bem. Viver no
Espírito é, afinal, o que nos realiza plenamente!
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