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terça-feira, 14 de julho de 2020

Do Tratado sobre os Mistérios, de Santo Ambrósio, bispo

(Nn.12-16.19:SCh 25 bis,162-164)            (Séc. IV)

Tudo lhes acontecia em figura
A ti ensina o Apóstolo que todos os nossos pais estiveram debaixo da nuvem e todos atravessaram o mar e todos, conduzidos por Moisés, foram batizados na nuvem e no mar. Em seguida o mesmo Moisés diz no cântico: Enviaste teu espírito e o mar os cobriu. Nota que nesta passagem dos hebreus pelo mar já se prenuncia a figura do santo batismo, onde perece o egípcio, e liberta-se o hebreu. Não é isto o que diariamente o sacramento nos ensina, a saber, que a culpa é afogada, destruído o erro, e a santidade e toda inocência passam através dele?
Ouves que nossos pais estiveram debaixo da nuvem, a boa nuvem que refresca o ardor das paixões carnais, a boa nuvem que cobre com sua sombra aqueles que o Espírito Santo torna a visitar. Esta boa nuvem, em seguida, veio sobre a Virgem Maria e o poder do Altíssimo a envolveu com sua sombra, ao gerar a redenção do homem. Este milagre realizou-o Moisés em figura. Se, portanto, lá esteve o Espírito em figura, não estará aqui a realidade, já que a Escritura te diz que a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade nos vieram por Jesus Cristo?
Em Mara a fonte era amarga. Nela Moisés mergulhou um lenho e ela se tornou doce. A água, sem a proclamação da cruz do Senhor, não tem utilidade alguma para a futura salvação. Ao ser, porém, consagrada pelo salutar mistério da cruz, é usada no banho espiritual e no cálice da salvação. À semelhança daquela fonte em que Moisés, isto é, o Profeta, pôs o lenho, também nesta fonte o sacerdote proclama a cruz do Senhor e a água se faz doce para a graça.
Não creias apenas nos teus olhos corporais. Enxerga-se muito melhor o que não se vê, porque o que vemos é transitório, isto é terreno. No entanto, se vemos o que os olhos não alcançam, enxergamos com coração e a mente.
Por fim ensina-te o trecho do Livro dos Reis: Naaman era sírio, tinha a lepra e ninguém podia purificá-lo. Então disse-lhe uma menina escrava que em Israel havia um profeta, que o poderia curar da lepra. Tomando consigo ouro e prata, Naaman dirigiu-se ao rei de Israel. Conhecendo o rei o motivo da vinda, rasgou as vestes em sinal de luto e declarou que este pedido tão além do poder real era antes um pretexto para um ataque contra o reino. Mas Eliseu mandou dizer ao rei que lhe enviasse o sírio para que lhe fosse dado conhecer como Deus estava em Israel. Tendo ele chegado, o profeta fez-lhe saber que devia mergulhar sete vezes no rio Jordão. Naaman começou, então, a pensar que melhores eram as águas de sua pátria, onde muitas vezes mergulhara e nunca ficara limpo da lepra e quis voltar, sem obedecer à ordem do profeta. Mas, diante do conselho insistente de seus servos, enfim concordou em banhar-se e, limpo no mesmo momento, compreendeu que não era por virtude da água que se tornara purificado, mas pela graça.
Ora, Naaman duvidou antes de ser curado. Tu, porém, já estás são: não podes duvidar!

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF