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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Como conter a "birra" de um adulto

Aleteia
por Michael Rennier

Queremos que nossos filhos pequenos domestiquem suas raivas. Mas precisamos olhar para nossa própria vida emocional e fazer o mesmo.

Todos nós já tivemos aquele momento em que algo se quebra. Decepção, estresse ou raiva foram se acumulando e, de repente, não aguentamos mais. O que se segue é um acesso de raiva adulto. Ou seja: a famosa “birra” – comum nas crianças – também pode acometer um adulto.

De fato, já vi outras pessoas dando ataque de birra (ou raiva) e dizerem ou fazerem coisas horríveis. Nestes momentos, surgem palavras e ações das quais todos se arrependem imediatamente.

Quando se trata de ter acessos de raiva, as crianças recebem a maior parte da culpa. Nós, adultos emocionalmente maduros e perfeitamente racionais, fingimos que deixamos de lado as explosões infantis e superamos esse mau hábito de uma vez por todas. Se as crianças se apressassem e crescessem e fossem mais como adultos, pensamos, o mundo seria um lugar mais calmo.

Minha pergunta, então, é: por que vejo adultos tendo acessos de raiva o tempo todo? Por que me peguei no meio deles?

Como é a birra dos adultos

Bem, já não esperneio mais no supermercado quando quero uma barra de chocolate. Além disso, não choro para colocar os sapatos na hora de ir para a igreja. Eu também já não choro mais quando alguém abre meu pacote de iogurte. Nesse sentido, os adultos não fazem birras como as de crianças pequenas – mas estaríamos mentindo se disséssemos que deixamos os birras para trás.

Aprendemos a racionalizar nossas explosões. Mas estamos lidando com problemas adultos sérios. Então, de vez em quando, podemos explodir emocionalmente. Garanto-lhe, no entanto, que para uma criança as causas de seus acessos de raiva não são triviais. Elas estão respondendo à perda de controle e sentimentos de impotência.

Portanto, para elas, uma maneira de recuperar o controle é se recusar a calçar os sapatos, gritar ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo. As crianças estão aprendendo a lidar com a decepção e a administrar desejos não realizados. Uma tampa de iogurte pré-removida pode parecer insignificante, mas as emoções relacionadas a ela são sérias. Daí a intensidade da birra.

O ciclo da birra

Essas emoções, se não aprendermos a controlá-las, nos seguem até a idade adulta. A intensidade da birra permanece a mesma, mesmo que a expressão seja diferente. Um adulto pode gritar, usar palavrões, jogar objetos, aplicar o tratamento silencioso, desistir completamente ou se tornar excessivamente crítico. E o que é pior: nós, adultos, somos muito melhores em justificar nossas ações. Então, alegamos que o acesso de raiva é aceitável porque tivemos um dia difícil, estamos apenas sendo honestos e outras pessoas não deveriam nos julgar.

Isso inicia um ciclo de confronto em que a vítima da birra também perde a capacidade de ser racional e responde na mesma moeda.  Uma luta feroz, portanto, está se formando, do tipo que pode destruir um relacionamento para sempre. Tenho visto famílias dilaceradas por esse ciclo de feedback negativo. Eu vi amigos pararem de se falar para sempre por causa dos ataques de raiva.

Como controlar a raiva

Se as crianças podem aprender a conter seus acessos de raiva, nós também podemos.

Em primeiro lugar, precisamos admitir que perdemos o controle de nossas emoções de vez em quando. Tudo bem. O estresse faz isso. No entanto, viver em negação não vai ajudar.

Em segundo lugar, uma vez que entendemos que nossas emoções estão nos conduzindo por um caminho escuro, precisamos de disciplina para colocá-las sob controle – ou pelo menos deixar a crueza das emoções diminuir. Isso significa passar algum tempo sozinho.

Eu conheço muitas pessoas que acreditam que a melhor maneira de argumentar é começar e não parar até que seja resolvido, não importa quanto tempo leve ou quão intenso se torne. Eu não concordo com este conselho. Uma coisa é ser proativo e não deixar uma discussão apodrecer, mas outra coisa é sujeitarmos uns aos outros a acessos de raiva, pensando que liberar toda a força de nossa frustração irracional sobre outra pessoa é de alguma forma útil. É muito mais produtivo reservar algum espaço para recuperar a calma. Ninguém merece suportar o impacto da birra de outra pessoa.

Tudo tem limite

Enfim, é importante estabelecer limites. Não importa quanta turbulência interior uma pessoa esteja sentindo: não é certo expressá-la de certas maneiras. Em um furor emocional, é muito fácil dizer ou fazer coisas que não queremos. Mas essas palavras nunca podem ser apagadas, e causam danos a longo prazo.

Além disso, precisamos ter cuidado para não transferir nossa frustração injustamente para outras pessoas. Só porque tive um dia estressante no trabalho, não significa que posso ser terrível com minha esposa e filhos quando chegar em casa.

Temos acessos de raiva quando sentimos perda de controle. Ninguém entende, ninguém tem empatia, nunca vai melhorar. É uma ação de desespero. No ano passado, muitos adultos fizeram birra. De fato, isso aconteceu de forma privada, em público, coletivamente, nas redes sociais – em todo o lado.

Tivemos um ano particularmente desafiador, mas não podemos ter isso como desculpa.  Pelo contrário: ao invés de focar no negativo e ceder a mais acessos de raiva, vamos resolver assumir o controle de nosso próprio destino, ter empatia, amar uns aos outros e ter alegria!

Aleteia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF